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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.48 no.2 São Paulo Apr./June 2014

 

LANÇAMENTOS

 

Atendimento psicanalítico do autismo

 

 

Fátima Maria Vieira Batistelli
Maria Lucia Gomes de Amorim (e cols.)
São Paulo: Zagodoni, 2014, 176p.

Esta obra, volume da Série Prática Clínica, coordenada por Isabel Cristina Gomes, apresenta as atuais contribuições trazidas pela psicanálise para a compreensão do quadro descrito por Leo Kanner, em 1943, do Autismo Infantil Precoce (atualmente denominado de Transtorno do Espectro do Autismo pelo DSM-V), caracterizado como um distúrbio do contato afetivo. Oferece também descrições do atendimento realizado a tais crianças e seus familiares. As autoras assumem a possibilidade de múltipla causalidade para esses casos e dedicam-se à investigação deles sob o vértice da psicanálise, acreditando que esta se mostra capaz de trabalhar com tais crianças alçando-as à dimensão do humano e do social. Partindo do interesse no atendimento a bebês junto a seus pais, com suas primeiras e difusas ansiedades, e utilizando-se dos sinais sutis de estranhamento nesses vínculos iniciais, além de contribuir para a prevenção no âmbito primário de saúde, buscam desenvolver a dimensão de subjetividade desses pacientes. Trazendo a experiência de vários psicanalistas em suas práticas clínicas, esta obra não abre mão de apresentar as considerações teóricas pertinentes para sustentar as referidas práticas. Deste modo, podemos aprender com artigos de Alicia Beatriz Dorado de Lisondo, Fátima Maria Vieira Batistelli, Maria Cecília Pereira da Silva, Marisa Helena Leite Monteiro, Maria Lucia Gomes de Amorim, Maria 'lhereza de Barros França, Mariângela Mendes de Almeida e Regina Elisabeth Lordello Coimbra.

 

A batalha do autismo: da clínica à política

 

 

Éric Laurent
Claudia Berliner (trad.)
Rio de Janeiro: Zahar, 2014, 221p.

Neste livro, Éric Laurent (integrante da École de la Cause Freudienne, docente da seção clínica do Departamento de Psicanálise da Universidade de Paris VIII) nos apresenta a polêmica a respeito da identificação e do diagnóstico do autismo, chamando a atenção para os depoimentos de pais de pacientes com autismo acerca de seus obstáculos cotidianos. Laurent nos alerta, especialmente, para o tratamento do autismo que opõe partidários da linha cientificista e defensores da abordagem relacional inspirada na psicanálise. Baseado em sua longa experiência clínica e consistente elaboração teórica, o autor discute todas as "batalhas" envolvidas nesse tema. Inicialmente, oferece um quadro de seis décadas da psicanálise do autismo, por meio do diálogo desenvolvido por psicanalistas, pais e sujeitos autistas, os quais também hoje participam do debate. A seguir, mostra as diferenças, por vezes radicais, nos modos de compreender e tratar o autismo. Instigado por uma espécie de campanha midiática destinada a concentrar todo o atendimento a esses casos em protocolos de reeducação comportamental, o autor questiona o que chama de atual "surto de autismo" e o próprio sistema dsm (catálogo de sintomas e doenças). Rejeita a noção de que o autismo seja um transtorno puramente cognitivo, bem como a busca de uma solução única para ele e o caráter reducionista, autoritário, dessa abordagem. Apoiando-se na ideia de diversidade para a compreensão do autismo, coloca em evidência os desafios sociais que estão em jogo e formula pontos de referência essenciais para a prática psicanalítica no tratamento dos autistas.

 

A vida em análise: histórias de amor, mentiras, sofrimento e transformação

 

 

Stephen Grosz
Maria Luiza X. de A. Borges (trad.)
Rio de Janeiro: Zahar, 2013, 207p.

Esta obra peculiar traz aos leitores, especialmente àqueles que praticam a psicanálise, uma profunda, agradável e instigante narrativa de histórias de vida, que tratam de amor, mentiras, tristezas, luto e mudanças, vividas e descortinadas a partir do trabalho analítico. É ao mesmo tempo a história de um psicanalista, Stephen Grosz (docente no Institute of Psychoanalysis e na University College London), que investigou em seus últimos 25 anos de prática clínica os sentimentos encobertos sob os comportamentos mais desconcertantes que seus pacientes lhe apresentavam. Destacando fatos marcantes de sua clínica, tecendo um enredo comovente de cada paciente, apresentando 31 casos, o autor, com a devida clareza e sensibilidade, desmonta a intricada rede de angústias dominante em cada um, fazendo com que simultaneamente se revele seu delicado trabalho como analista. Grosz assinala que, por poderem estar atolados em sua própria história, envoltos por impulsos e escolhas equivocados, todos os seres humanos podem se sentir aprisionados a coisas que sentem ou pensam. Por isso mesmo, todos podem se identificar com essas curtas e aparentemente simples narrativas, que desvelam a complexidade da alma humana. O que mais ressalta neste livro é o efeito de podermos compreender a nós mesmos, nossos descaminhos e nossas transformações, lendo sobre a vida de outras pessoas, quando temos a oportunidade de entrar em seus cotidianos. Há aqui uma ampla descrição de casos humanos a destacar o que imobiliza e o que transforma nossas vidas.

 

O que é loucura?
Delírio e sanidade na vida cotidiana

 

 

Darían Leader
Vera Ribeiro (trad.)
Rio de Janeiro: Zahar, 2013, 398p.

A partir do entendimento de que todas as formas de loucura são resultado de conflitos internos - portanto, encontrando nelas alguma razão -, o autor relativiza a ideia do que habitualmente se designa como "doença mental". Defende a noção da existência de uma loucura silenciosa, admitindo que muitos de nós temos vidas interiores que não são sãs, embora permitam um funcionamento aparentemente normal no mundo cotidiano; sem que pareçamos uma ameaça à sociedade ou a nós mesmos, o autor questiona qual a diferença entre ser louco e ficar louco. Darian Leader (membro do Centro de Análise e Pesquisa Freudianas e do Colégio de Psicanalistas do Reino Unido), que exerce sua prática psicanalítica em Londres e é um dos responsáveis pela popularização da obra de Lacan, é conhecido pela capacidade de falar de temas da psicanálise a um público amplo, sempre reavaliando aquilo que se define como desvios da "normalidade", bem como seus tratamentos. Deste modo, apresenta alguns casos famosos de pessoas que teriam sucumbido à loucura, como Daniel Paul Schreber, respeitado juiz conhecido por seus talentos dedutivos, que veio a ser objeto de famoso trabalho psicanalítico de Freud por conta de suas alterações mentais; Ernst Wagner, pacato professor primário que assassinou toda a família e diversos moradores de seu vilarejo, e que mantinha um diário secreto revelador de seus delírios paranoicos; e do dr. Harold Shipman, que assassinou de mais de 250 pessoas sem que esposa, colegas ou pacientes suspeitassem de sua normalidade. Os casos são apresentados como forma de defender a importância de se escutar com cuidado o paciente e respeitar seu mundo mental. Combatendo os atuais tratamentos de desordem mental, com sintomas rotulados, medicamentos e contato cada vez mais breve e superficial com os pacientes, o autor afirma a possibilidade de que o terapeuta encontre a lógica por trás do discurso dos "loucos" a ponto de ajudá-los no trabalho de refazer suas vidas.

 

O tronco e os ramos: estudos de história da psicanálise

 

 

Renato Mezan
São Paulo: Companhia das Letras, 2014, 623p.

Autor celebrado em todos os meios psicanalíticos, Renato Mezan, com profundo conhecimento sedimentado em anos de ensino e de experiência clínica, nos apresenta um trabalho de grande fôlego, que investiga os entrelaçamentos vinculares entre as diversas escolas da psicanálise e as originais descobertas de Freud. Ao assumir uma perspectiva histórica que promove a reunião e a constituição do conhecimento, o autor põe-se à parte de partidarismos que adotariam certa corrente como verdade absoluta, cujas consequências seriam o dogmatismo e a intolerância. Familiarizado com a teoria e a clínica psicanalíticas, escreve com erudição e clareza determinantes, e desenvolve o caminho pela história da psicanálise como uma viagem pela cultura ocidental, buscando responder quais as relações entre o pensamento de Freud e o de seus sucessores. Textos fundamentais de Freud, cartas trocadas por ele com Ferenczi, Abraham, Jung, Fliess, além de evoluções desse tronco de pensamento freudiano presentes nos trabalhos de Winnicott, Klein, Bion e Lacan são objeto da instigante análise feita pelo autor. As vertentes conceitual, histórica e epistemológica são articuladas nas três partes do livro. Percorrendo inicialmente o modelo freudiano e suas relações com as escolas posteriores, passando a seguir pela heroica época da invenção da psicanálise - retratada no filme de John Huston, Freud, além da alma (com roteiro de Sartre) -, na qual se aprofunda em leitura rigorosa de textos como "A piada e sua relação com o inconsciente" e "Fragmento da análise de um caso de histeria", para finalmente desenhar uma perspectiva dos desafios da psicanálise, que deve enfrentar a questão de seu "caráter científico", o autor, ligado à história e à atualidade, não deixa de ver lugar para a psicanálise, ainda que existam meios químicos que possam aliviar certos transtornos psíquicos, pois compreender a vida psíquica e nela o sentido de sintomas que são construídos para lidar com os desafios da existência continua sendo central para o desenvolvimento da compreensão do homem e para o tratamento de seus sofrimentos.

 

Psicanálise entrevista (Vol. 1)

 

 

Mara Selaibe
Andréa Carvalho (Orgs.)
São Paulo: Estação Liberdade, 2014, 392p.

Neste livro, primeiro de uma série de dois volumes, os leitores da psicanálise serão presenteados com uma longa lista de entrevistas realizadas pela revista Percurso, do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, durante os últimos 25 anos. Destacam-se a criteriosa escolha dos entrevistados e a cuidadosa preparação das questões a eles dirigidas, caracterizando um método de trabalho no qual são revelados qualidade de pesquisa e profundo interesse no conhecimento e desenvolvimento do pensamento psicanalítico. Podemos presenciar o testemunho vivo de autores reconhecidos que indicam seus impulsos por explorar limites do entendimento psicanalítico, fazendo a psicanálise evoluir por campos além do que o até então previsto pelas teorias e metodologias clínicas consolidadas. Observamos o longo e árduo caminho trilhado pela revista Percurso no enfrentamento das resistências à psicanálise, seja no que diz respeito à falta de crítica ao se aderir a sistemas teórico-clínicos estabelecidos, seja no que diz respeito ao descarte de todas as novas e diferentes maneiras de pensar e praticar a psicanálise. Nessas entrevistas, coloca-se em evidência a capacidade de pensar por si mesmo, fazendo com que possamos nos sentir bem acompanhados em nossas inquietações sobre a prática e as teorias que utilizamos em nosso trabalho, obrigando-nos a desenvolver e fazer evoluir o conhecimento sobre o psiquismo. Podemos nos deleitar com as entrevistas de Pontalis, Green, Laplanche, Oury, Le Guen, McDougall, Kernberg, Melsohn, Rodrigué, Zygouris, Schneider, Viñar, Katz, Birman, Freire Costa, Alonso, Lins e Rouanet.

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