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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.48 no.3 São Paulo set. 2014

 

ARTIGOS TEMÁTICOS: NARCISISMO

 

Narcisismo: segundo Heinz Kohut e a intersubjetividade

 

Narcissism: according to Heinz Kohut and intersubjectivity

 

Narcisismo: según Heinz Kohut y la intersubjetividad

 

 

Leticia Tavares Neves

Psicanalista membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ), membro fundador da Associação Brasileira para o Estudo da Psicologia Psicanalítica do Self (Abepps), membro filiado à International Association for Psychoanalytic Self Psychology (IAPSP)

Correspondência

 

 


RESUMO

O termo “narcisismo” serviu como adjetivo para a cultura na qual estamos inseridos, nos séculos XX e XXI, como sinônimo de superficialidade emocional, egolatría, arrogância, distanciamento afetivo, hedonismo etc. Estes discursos propiciaram uma abertura para nos questionarmos sobre o impacto das transformações sociais em nossas subjetividades. Porém, o que observamos foi o transbordamento da visão negativa e patológica do conceito aos processos culturais. Isto reforçou a visão moralista e discriminadora do termo. Neste texto, atendendo ao convite que me foi feito, escreverei sobre Heinz Kohut e sua conceituação do narcisismo, e acrescentarei as noções de contexto e de cocriação, adicionadas à psicologia psicanalítica do self pelos teóricos da intersubjetividade e da psicanálise relacional.

Palavras-chave: narcisismo; selfobjeto; transferências selfobjetais; intersubjetividade; contexto.


ABSTRACT

The term “narcissism” served as an adjective for the culture in which we operate, in the 20th and 21st centuries, as a synonym for emotional shallowness, egotism, arrogance, emotional detachment, hedonism, etc. These discourses have provided an opening for the questioning about the impact of social changes in our subjectivities. However, what we observed was the spillover of the negative and pathological view of the concept to cultural processes. This reinforced the moralistic and discriminatory view of the term. In this paper, complying to the invitation I was given, I will write about Heinz Kohut and his conceptualization of narcissism, adding the notions of context and of co-creation that were added to psychoanalytic self psychology by theorists of intersubjectivity and relational psychoanalysis.

Keywords: narcissism; selfobject; selfobject transferences; intersubjectivity; context.


RESUMEN

El término “narcisismo” sirvió como un adjetivo para la cultura en la cual estamos insertados, en los siglos XX y XXI, como sinónimo de superficialidad emocional, egoísmo, egolatría, desapego emocional, hedonismo, etc. Estos discursos han ofrecido una oportunidad para interrogarnos sobre el impacto de los cambios sociales en nuestras subjetividades. Sin embargo, lo que observamos fue la propagación de los puntos de vista negativos y patológicos del concepto hacia los procesos culturales. Esto reforzó la visión moralista y discriminatoria del término. En este trabajo, teniendo en cuenta la invitación que me fue hecha, escribiré sobre Heinz Kohut y su conceptualización del narcisismo, y añadiré las nociones de contexto y de co-creación que se agregaron a la psicología psicoanalítica del self por los teóricos de la intersubjetividad y del psicoanálisis relacional.

Palabras clave: el narcisismo; objeto del self; transferencias del objeto del self; intersubjetividad; contexto.


 

 

Introdução

Há cem anos, o mito do jovem encantado com seu reflexo nas águas tornou-se símbolo de um conceito que o imortalizou. Aquele jovem teve a má sorte de sofrer uma vingança da ninfa Eco, que não aceitou ter seu amor por ele rejeitado: foi condenado a amar o primeiro ser que visse. Apaixonou-se, assim, pela sua própria imagem refletida num lago e, por não conseguir se afastar das margens, definhou. Sua história o tornou famoso, porém pouco amado.

Narciso, para a psicanálise, foi um generoso espelho. É sempre fascinante e muito tentador usá-lo como metáfora. Muito já foi escrito sobre o tema, e isto favoreceu a forte impressão de familiaridade, de conhecido, de já sabido, que o mito nos sugere. No entanto, este saber é questionável, porque sua popularidade lhe trouxe a fama de patológico, regressivo, autocentrado; enfim, uma imagem negativa, tanto no senso comum quanto no mundo psicanalítico, com reduzido uso clínico, o que não significa que um “indivíduo narcísico” não seja de fácil visibilidade - e incômodo em suas relações.

O conceito de “narcisismo” foi descrito na psicanálise de variadas formas: perversão sexual, modelo de relação de objeto, estágio do desenvolvimento e autoestima. Para Sydney E. Pulver (1970/1986), esta diversidade de conceituações não favoreceu a clareza do conceito, que, em sua opinião, é mais semântica do que teórica, porque cada autor discute sobre diferentes fenômenos da condição humana: clínicos, genéticos ou em termos de relações objetais. A mudança de nomenclatura seria, em sua opinião, mais producente.

Na perspectiva da intersubjetividade (Stolorow, Donna Orange) e de outros (Pulver, Loewald), o conceito de narcisismo como catexia do self, baseado no ponto de vista econômico da metapsicologia freudiana, apresenta artificial dicotomia que exclui a mutualidade entre self e objeto, e pouco se aplica ao que se observa nos fenômenos clínicos. O investimento no próprio self não implica desinvestimento do outro, assim como o investimento no outro não implica desinvestimento de si mesmo. Necessariamente, não existe esta oposição. Observam-se clinicamente situações de grande investimento no outro como forma de lidar com a falta de coesão e a instabilidade no self, criando fortes laços de dependência.

Com base nas posições de Pulver, Stolorow reforça o emprego do narcisismo como função e o conceitua como “função de manter a coesão, a estabilidade e o colorido afetivo positivo da representação de self” (1986, p. 204).

O narcisismo como função de constituição, coesão e manutenção do self foi o eixo central da construção teórica de Heinz Kohut. Nesta base constituiu um corpo teórico com conceitos originais e uma técnica clínica - a psicologia psicanalítica do self.

Para falarmos da conceituação de narcisismo da psicologia psicanalítica do self, torna-se necessário sabermos um pouco sobre seu criador, Heinz Kohut, e a sua teoria.

 

Heinz Kohut e sua psicologia psicanalítica do self

Heinz Kohut nasceu em Viena, em 1913. Devido à Segunda Guerra Mundial, emigrou; foi para os Estados Unidos e fixou-se em Chicago, em 1940. Foi presidente da Associação Psicanalítica Americana, além de vice-presidente da Associação Psicanalítica Internacional (IPA) para a América do Norte. Devido ao seu grande interesse pelos textos de Freud e aos seminários que apresentava na Sociedade Psicanalítica de Chicago, era chamado de “Senhor Psicanálise”. Ele representou o que poderia ser chamado da terceira geração da psicanálise, assim como Winnicott e Lacan. Destacam-se no seu percurso o interesse pela metapsicologia freudiana, a ênfase nas questões narcísicas e a preocupação epistemológica com o método da coleta de dados em psicanálise, a empatia.

Publicou três livros, além de vários trabalhos. Seu primeiro livro, de 1971, foi Análise do self, em que expõe o conceito de selfobjeto como uma função psicológica fundamental ao self. O segundo, de 1977, A restauração do self, confere maior profundidade às transferências selfobjetais e apresenta uma nova definição para saúde emocional, um novo objetivo para o tratamento psicanalítico e sua final definição do conceito de self: “o self é uma unidade, coesiva no espaço e com duração no tempo, que é um centro de iniciativa e um recipiente de impressões” (Kohut, 1977/1988, p. 89). Seu último livro, Como cura a psicanálise?, devido a sua morte em 1981, ficou incompleto, tendo sido editado e publicado postumamente por Arnold Goldberg e Paul Stepansky em 1984; nele está descrito o processo psicanalítico da psicologia do self, sua compreensão e explicação; e às transferências selfobjetais é acrescentada a transferência selfobjetal gemelar, ou alter ego, que seria a busca de mutualidade, de semelhança essencial.

O ambiente psicanalítico em que Kohut estava imerso era composto pela hegemonia da psicologia do ego nas sociedades psicanalíticas norte-americanas e pelos ecos do anafreudismo e do kleinianismo, expressos, na maioria das vezes, numa clínica psicanalítica de regras fixas e de interpretações denunciativas das resistências e das culpas. Kohut se insurgiu contra esta postura ao se perceber sem recursos teóricos que o auxiliassem na escuta do que apreendeu em sua clínica. Observou que alguns dos seus pacientes manifestavam necessidades de formas específicas de relacionamento e as expunham através de aguda sensibilidade a críticas, labilidade de humor, apatia, queixas hipocondríacas. Embora expressas nas alterações emocionais e físicas, não eram apresentadas pelo analisando como foco de seus interesses; mostravam-se sintônicos com suas vivências e pouco acessíveis às interpretações psicanalíticas. Kohut declarou que, para entender esses pacientes, precisou superar suas próprias resistências a ser colocado e a se manter em uma “função impessoal”, bem como aceitar que as manifestações dos pacientes correspondiam à sua falta de compreensão daquilo que se apresentava em silêncio no setting analítico. Creditou ao narcisismo o que percebia como reação de proteção à autoestima e como (des)controle das tensões por parte dos analisandos e dele mesmo. Postulou, então, que emergem na relação analítica necessidades que representam falhas quanto ao atendimento no desenvolvimento do self. Denominou-as “distúrbios narcísicos da personalidade e do comportamento”. Considerou que as necessidades de espelhamento, idealização e semelhança essencial são básicas à constituição, coesão e manutenção do self. Essas necessidades, por não terem sido atendidas adequadamente no curso da vida de seus pacientes, mantiveram-se fixadas em formas arcaicas, em que não há discriminação eu/outro, e ressurgem na relação analítica. “Os distúrbios narcísicos são resultantes de deficiências nas estruturas narcísicas do self e não do conflito entre estruturas do psiquismo” (Siegel, 2005, p. 167).

Como princípio do desenvolvimento, teorizou que a criança vivencia seus cuidadores como objetos que devem cumprir funções específicas para a constituição e desenvolvimento do seu self. Seriam seus objetos do self denominados “selfobjetos”, os quais são vivenciados como parte do próprio corpo e mente. É esperado de um selfobjeto um atendimento incondicional, preferencial, sem que tenha sido preciso expressar verbalmente a necessidade - ser percebido em suas carências como confirmação da sua própria existência.

Na relação analítica, o analista é vivido pelo analisando como sendo uma extensão do seu próprio self, uma parte de si mesmo, um selfobjeto. Ele existe, primordialmente, como função. Através do seu entendimento, será possível favorecer a experiência selfobjetal de acolhimento às demandas narcísicas presentes. O processo analítico da escuta e atendimento a essas necessidades selfobjetais ocorre sem prazo ou forma predeterminada, nos movimentos de compreensão e explicação do psicanalista, e visa a propiciar ao analisando a internalização dessas funções exercidas pelo analista.

A escuta analítica tem como foco a manutenção da estabilidade e coesão do self do analisando; busca identificar os tipos de transferência selfobjetal que se instalam na relação analítica, o lugar que o analista ocupa como função selfobjetal. Prioritariamente, trabalha as inevitáveis rupturas da relação como importantes momentos para a elaboração das reações do analisando às falhas da empatia do analista. Para Kohut, os selfobjetos são necessários ao longo de toda a vida. A escuta empática é fundamental na teoria e na prática clínica. É um método de coleta de dados e percepção do analisando o mais próximo possível da sua visão de si mesmo e do mundo. Propicia a transformação do self em formas narcísicas menos vulneráveis à ausência de respostas imediatas e concretas por parte dos selfobjetos, favorecendo as buscas mais realistas e adequadas ao seu próprio self.

Kohut foi acusado pela comunidade psicanalítica de postular uma “psicologia do amor”, gratificadora dos desejos dos analisandos; isto ocorreu devido à leitura errônea dos seus textos e à atitude objetiva de alguns adeptos das suas ideias. Recorrendo aos seus textos, encontraremos um alerta técnico que assinala que as atitudes amigáveis e complacentes com pacientes com distúrbios narcísicos, assim como com pacientes neuróticos, ferem a autoestima do analisando; contribuem para reforçar o isolamento e a desconfiança - enfim, para as retraumatizações (Kohut, 1971/1974).

Ao escrever sua metapsicologia, Kohut manteve em seus textos o pensamento cartesiano: as dualidades, os conceitos universalizantes e a visão do tratamento psicanalítico baseado na linha de mão única do analista para o paciente. Mesmo dentro desta visão, acrescentou à sua teoria a percepção da influência do narcisismo do paciente no narcisismo do analista, a aceitação do discurso do paciente como uma verdade sobre ele mesmo e a introspecção e a empatia como única forma de pesquisa de dados na psicanálise. Estes pontos abriram espaço, nos anos 1980, para que os teóricos da intersubjetividade (como Robert D. Stolorow, George E. Atwood e Donna Orange) e os da psicanálise relacional (Stephen A. Mitchell, Jay R. Greenberg e Lewis Aron) deles se apropriassem e construíssem novos campos no pensamento psicanalítico.

 

Narcisismo segundo Heinz Kohut

Espelho e eco

No seu texto “Formas e transformações do narcisismo”, publicado em 1966, Heinz Kohut expõe sua teoria sobre o narcisismo de forma sistemática, para fundamentar suas observações clínicas e seu visível interesse neste aspecto da condição humana. Para conceituar o narcisismo, Kohut criou um sistema de ideias semelhante a uma metapsicologia e tornou inevitável sua comparação à metapsicologia freudiana, muitas vezes feita por ele mesmo. Sua redação dificultou a assimilação e o uso do conceito no espaço clínico.

Ele inicia o texto observando sobre o forte estigma que o termo tem para as pessoas e sugere que seu uso indevido se relaciona com o grande valor que a sociedade confere à cultura do altruísmo. Argumenta que esta influência na clínica ameaça direcionar o psicanalista a buscar substituir “a posição narcísica do paciente pela do amor objetal, em detrimento [...] de um narcisismo transformado” (Kohut, 1966/1984a, p. 7).

Ao focar o narcisismo, lança a questão da dimensão das relações objetais nas transferências neuróticas para o âmbito exclusivo de Freud e sua metapsicologia. Postula “duas linhas evolutivas separadas e nitidamente independentes: uma que leva do autoerotismo, passando pelo narcisismo, ao amor objetal; outra que leva do autoerotismo, passando pelo narcisismo, a formas mais elevadas e transformações do narcisismo” (Kohut, 1971/1974, p. 186).

O narcisismo, segundo Kohut, não é patológico, não é uma etapa do desenvolvimento, não exige renúncia em favor do amor objetal. Ele o define, baseado em Hartmann (1950), como “investimento libidinal do self”. O narcisismo se constituiria na tentativa do bebê de restaurar seu estado de perfeição perdido no contato com o ambiente. O “bebê tenta lidar com as perturbações através da criação de novos sistemas de perfeição” (Kohut, 1966/1984a, p. 10).

A partir do narcisismo primário, o narcisismo se formará pela configuração imago parental idealizada, objeto onipotente, e pela configuração self grandioso, termos escolhidos para representar suas ideias sobre seu mito da criação do sujeito.

Estes “sistemas” são desdobramentos dos aspectos originais, ainda não diferenciados, de onipotência e perfeição do bebê e, segundo Kohut, compõem as configurações narcísicas. O bebê cria dois novos sistemas: um, o self narcísico, chamado mais tarde de self grandioso, em que vivencia uma grandiosidade intrínseca a si mesmo - sendo a imperfeição o não eu; e o outro, a imago parental idealizada, que restaura a perfeição investindo o cuidador com o poder e a perfeição absolutos, dos quais dependem sua coesão.

A internalização dos objetos perdidos segue o modelo freudiano do texto “Luto e melancolia” (Freud, 1917[1915]/1974a). Perdas, no texto de Kohut, correspondem aos acontecimentos traumáticos e situações inevitáveis da condição humana, assim como qualquer falha no atendimento às necessidades básicas. “Cada falha detectada [...] conduz a uma correspondente preservação interna da qualidade externamente perdida do objeto” (Kohut, 1966/1984a, p. 12).

As configurações narcísicas que constituem o narcisismo são responsáveis pelo futuro estabelecimento das ambições e dos ideais. As ambições resultam de um sistema infantil de fantasias grandiosas. As crianças se exibem saudavelmente em busca de olhares que confirmem sua grandeza e perfeição, sua existência. O olhar almejado é convocado apenas para presenciar o exibicionismo infantil. Isto lhe permitirá a reintegração ao seu self deste investimento. Os ideais são constituídos pela configuração imago parental idealizada, conjunto de internalizações dos atributos que amamos, admiramos, imitamos e procuramos para dar vigor e importância ao self. A criança buscará investir sua idealização em um outro para se sentir parte dessa grandeza, e a possibilidade de sua gradativa desidealização lhe permitirá internalizar as funções antes exercidas pelo selfobjeto idealizado.

Seu modelo clínico tem a configuração de uma só direção - do analista para o analisando. O analista se coloca como selfobjeto do analisando, com a função de entender as necessidades básicas que são mobilizadas na transferência narcísica, “responder empaticamente à sua exibição narcísica e fornecer-lhe suplemento narcísico aprovando-a e funcionando como espelho e eco” (Kohut, 1968/1984b, p. 64). Isso significa que a presença do analista deverá ser especular, confirmadora, validadora da existência do analisando.

A criança irá gradualmente integrando estas experiências às organizações do seu self, o qual se constituirá de acordo com a adequação ou não do ambiente às suas necessidades. No caso de graves falhas, as configurações narcísicas se manterão na sua condição arcaica original, o que resultará num self vulnerável e com tendência à fragmentação.

Formas e transformações do narcisismo

Na segunda parte do texto, Kohut apresenta sua ideia de que algumas aquisições do self se relacionam com o narcisismo. São elas: criatividade, capacidade de empatia, capacidade de enfrentar sua própria finitude, senso de humor e sabedoria. O alcance e desenvolvimento destas capacidades “ajudam o homem a obter o domínio sobre as exigências do self narcísico, isto é, a tolerar o reconhecimento da sua limitação original e mesmo o reconhecimento do seu fim inevitável” (Kohut, 1966/1984a, p. 30).

 

Narcisismo do psicanalista

Sua teoria, escrita principalmente nos anos 1960 e 1970, foi concebida ainda dentro do modelo de pensamento modernista, evolucionista, e descreve o fenômeno humano em termos de desenvolvimento, do arcaico ao maduro, dicotômico e universal. Contudo, Kohut trouxe de forma inovadora a inserção do narcisismo do psicanalista na relação clínica (1966/1984a), e foi mais longe ao descrever a reação do psicanalista às mobilizações das transferências narcísicas dos analisandos. Sua técnica, baseada na empatia, valoriza a escuta do que é manifesto, teoria do paciente sobre si mesmo, e amplia a escuta dos conteúdos latentes tanto do paciente quanto do analista. Este reconhecimento coloca o analisando na mesma condição que o analista - ambos têm self, narcisismo em constante transformação e necessidades de relações selfobjetais por toda a sua vida.

O analista transforma-se, na relação analítica, em um selfobjeto, funcionando como uma parte do self do analisando, com funções de objeto específicas das necessidades básicas de espelhamento, idealização e alter ego - com a função de criar condições ao entendimento destas e à sua internalização gradual às estruturas do self.

O manejo das transferências narcísicas é um desafio ao narcisismo do analista. Podemos considerar alguns pontos relevantes que dificultam ao psicanalista retirar-se do modelo idealizado de superioridade, de isenção das questões narcísicas do seu paciente, de negação das suas possibilidades de falhar e de não aceitação das suas necessidades de gratificação. As dificuldades surgem devido à reativação das demandas narcísicas que mobilizam o narcisismo do analista.

A seguir, a reação do analista a cada transferência selfobjetal: idealizadora, especular e gemelar.

Transferência idealizadora: a reativação da imago parental idealizada na situação analítica tem a capacidade de regular suas tensões, de gerar calma e integração dos impulsos quando atendida adequadamente pelo analista. Ela se expressa através da idealização das funções de poder e saber do analista, e não por sua pessoa ou por qualidades pessoais. A demanda narcísica do analisando de ser vivido como parte de um ser perfeito e onisciente, de variadas formas, pode provocar no analista a remobilização de suas fantasias reprimidas de grandiosidade, seu self grandioso, e quanto menos transformado for seu narcisismo, mais reativo ele será na situação analítica. O analista, por temor à suposta agressividade subliminar à idealização, tende a deslocar o foco para fora da dimensão narcísica da transferência e o arrastar em busca de recursos objetivos teóricos, interpretações prematuras, falas veladamente denunciativas da inadequação do analisando ou uma postura de distanciamento afetivo.

Transferência especular: a reativação do self grandioso na situação analítica exige que o analista sirva de espelho e eco à exibição do analisando. Estas vivências possibilitam ao analisando a estabilidade da sua autoestima, o controle do comportamento e o desfrute do seu corpo e mente. Como extensão do self do analisando, o analista vive pouco espaço de expressão neste tipo de transferência, o que ameaça conduzi-lo a vivências de não existência no processo. Isto pode ser gerador, na contratransferência, de tédio, sono, interpretações intrusivas ou pedagógicas. O narcisismo afetado do analista pode se manifestar através de fantasias de fracasso, afastamento ou desistência do paciente e desvitalização no trabalho analítico. No caso do fracasso ao acolhimento das manifestações exibicionistas, o analisando alternará o medo permanente da perda do objeto com vivências de constrangimento, vergonha e/ou hipocondria.

A vivência da criança de não acolhimento (críticas, correções, exaltações irrealistas, hipo ou hiperestimulações) às suas espontâneas exibições tem como efeito experiências de negação da sua própria existência e tende a se reencenar em situações de exposição diante dos olhares do mundo e de si mesmo. As futuras exibições podem suscitar desde um leve rubor até a ameaça de desintegração do self.

Ambição e exibicionismo são aspectos da condição humana que não fazem parte das teorias psicanalíticas. Ao incluí-las, Kohut retirou o preconceito e a inadequação que a cultura lhes conferia e ampliou a importância do olhar. O olhar do selfobjeto unifica o self, valida-o, e lhe dá a possibilidade de viver a ilusão narcísica da perfeição e a vivência gradativa do tornar-se sujeito de si mesmo.

Transferência gemelar: acrescentada em 1984, é um desdobramento da transferência especular, uma forma menos arcaica do self grandioso. Nesta transferência selfobjetal, o analista é apreendido de maneira mais discriminada, suas características ou qualidades são percebidas de forma mais realística; contudo, o paciente vive a si mesmo como sendo análogo ao analista, busca na relação experiências de mutualidade, de semelhança essencial. A tentativa de ser visto como semelhante pode impactar o analista cujo narcisismo não permita uma vivência de similaridade - por entender que deve manter a hierarquia na relação ou por não suportar esta proximidade.

Em resumo, Kohut sugere, como postura técnica no processo de elaboração e integração das estruturas narcísicas ao self, a superação das resistências contra a manifestação das transferências tanto do analisando quanto do analista, e a manutenção das transferências ativadas. Esta dinâmica mobiliza no paciente uma ameaça de traumatização e a busca por gratificações infantis imediatas. Cabe ao analista o entendimento das mobilizações narcísicas, as interpretações transferenciais e as reconstruções genéticas. Kohut afirma: “sem ser gratificada em sua forma infantil, a psique é forçada a criar novas estruturas que transformam e elaboram a necessidade infantil ao longo de linhas inibidas” (1971/1974, p. 169).

O analista constantemente mobilizado na situação analítica precisa contar com o seu narcisismo como função de suporte e integração das demandas dos seus analisandos, assim como das suas. Pensar-se como selfobjeto e outro na construção da relação com seu paciente passa pela via obrigatória de perceber o paciente nas suas condições de selfobjeto e outro frente a ele, analista. Objeto onipotente, espelho e eco necessários a este processo dinâmico e contínuo.

Contudo, sob o ponto de vista intersubjetivo, esta é uma face unidirecional da relação analítica. O analisando não é unicamente entendido/atendido pelo selfobjeto analista. Segundo Lachmann, “o processo de transformação é bidirecional e cocriado pelo terapeuta e pelo analisando”. Assim, as formas do narcisismo (empatia, humor, criatividade, reconhecimento da transitoriedade e sabedoria) não seriam objetivos finais da relação analítica, como colocado por Kohut, mas parte do processo, em constante movimento e coconstruído pela dupla. Na interação, o que se transforma é o afeto e não o narcisismo, estado do self ou experiência do self (Lachmann, 2006).

 

Narcisismo no início do século XXI

Neste ponto, para prosseguirmos, precisamos ir além de Kohut e entrar no campo intersubjetivo e relacional. As noções de contexto e de cocriação foram acrescentadas à psicologia psicanalítica do self pelos teóricos da intersubjetividade1 e da psicanálise relacional.2 Na visão contextualizada dos fenômenos humanos, podemos evitar as ideias absolutistas sem cair numa generalização que dilui o sujeito. Desta forma, entendemos que todo fenômeno humano se dá numa matriz relacional, num interjogo de influências múltiplas e recíprocas.

Loewald (1951/2000) reafirma estas ideias considerando que a mente é um fenômeno fundamentalmente temporal, construído de acordo com princípios variáveis em diferentes pontos no tempo. É interativa e só cresce e se sustenta em interdependência com outras mentes. Inicialmente, nos distinguimos numa matriz relacional, social e linguística.

Em consonância com este contextualismo, Stolorow e Atwood creem que o mundo subjetivo dos teóricos psicanalíticos influencia as suas concepções das experiências humanas, e suas teorias expressam esses contextos. Não é possível entender a experiência humana fora do contexto em que ela se constituiu. Isto é irredutível na condição humana.

Cem anos atrás, Freud escreveu seu artigo sobre o narcisismo com os olhos no mundo psíquico e o apresentou com elementos do contexto em que estava inserido. A psicanálise foi criada na ordem social balizada pelo positivismo e pelo patriarcado. Neste regime, a transmissão e a manutenção da lei e das formas de controle sobre as instituições e os corpos eram garantidas pelo Pai - o masculino como elemento organizador das subjetividades. Observa-se nos textos freudianos o reflexo da cultura dessa época, o ideal fálico expresso na base das suas ideias, principalmente sobre o feminino, um grande exemplo de ser narcísico.

As mulheres, especialmente se forem belas ao crescerem, desenvolvem certo autocontentamento que as compensa pelas restrições sociais que lhes são impostas em sua escolha objetal. Rigorosamente falando, tais mulheres amam apenas a si mesmas, com uma intensidade comparável à do amor do homem por elas. Sua necessidade não se acha na direção de amar, mas de serem amadas; e o homem que preencher essa condição cairá em suas boas graças. (Freud, 1914/1974b, p. 105)

A mulher foi descrita na teoria psicanalítica como o reflexo produzido pela organização social predominante, a masculina. O feminino, nesse contexto, se organizou como o produto da conjunção das normas sociais e constitutivas sob o domínio dos ideais patriarcais, sendo reforçado pela aproximação do feminino ao sagrado, o ideal religioso da Mãe de Deus. Neste contexto, o feminino se cristalizou como sinônimo de fragilidade, passividade, sacrifício e dor.

Jessica Benjamin e Nancy Chodorow, psicanalistas feministas, recolocam esta questão. Elas apresentam agudas críticas ao lugar em que a psicanálise colocou a Mulher. Pontuam que a psicanálise, ao se nomear universal, está incrustada no modelo de sujeito masculino e objeto feminino. O Homem da psicanálise foi esculpido com os ideais da sociedade moderna e patriarcal. Este modelo reflete a imagem da Mulher como invejosa, narcisista e amputada dos seus reais atributos. Sua sexualidade foi teorizada sob a organização de um único sexo, o pênis/falo, e esta ausência a marcou como inferior ou enigmática. Entretanto, uma saída lhe foi concedida e reforçada pelas teorias das relações de objeto, o lugar da mãe, mas uma mãe no escopo do feminino do patriarcado. Sob esta visão, é descrita como objeto - objeto das pulsões infantis e realizadora das necessidades do bebê. Assim, o desenvolvimento do psiquismo infantil ficou determinado pelo sucesso ou fracasso deste objeto. A concepção da mãe unicamente como objeto sustentador favorece o esmaecimento ou a negação da diferença do outro como objeto e do outro como sujeito. Este foco exclusivo teve o efeito de negar a mulher como sujeito, como centro das suas próprias iniciativas, e reforçou um pensamento que responsabiliza a mãe pelo adoecimento psíquico infantil. Beebe e Lachmann (2002) enfatizam que a capacidade do bebê de conhecer a mãe como um sujeito é parte importante do seu desenvolvimento, e que a mãe é dependente deste reconhecimento para, gradativamente, numa regulação mútua, discriminar-se e favorecer a discriminação do bebê nesta relação. Este é um processo longo e complexo, não apenas de reconhecimento e restauração do self mas acrescido do sentido de descoberta do outro e de si mesmo. Para os intersubjetivistas, ater-se à mãe como elemento exclusivo, ou a qualquer outro cuidador, é uma reificação dos postulados psicanalíticos e exclui o ambiente onde outros componentes estão incluídos.

Privilegio o contexto da mulher porque os modelos narcísicos que vemos na nossa cultura, em sua maioria, têm forte ligação com o mundo feminino e o infantil: vaidade, atenção fixa à aparência, culto ao corpo, autoexaltação, necessidade de aprovação, superficialidade emocional etc. Annie Reich (1960/1986) entende que estes modelos narcísicos seriam padrões femininos para lidar com a ferida narcísica imposta pela união ao ideal fálico. A mulher engrandeceria este ideal na tentativa de adaptar-se ao modelo masculino e restaurar a autoestima e o dano à sua representação de self. O que Freud postulou como condição inerente à mulher, essa autora refuta como sendo sua capacidade de manter-se num contexto inóspito a sua existência como sujeito e de sobreviver a ele.

Os modelos narcísicos, em grande parte, são expressões subjetivas da grandiosidade e da idealização incorporadas aos padrões construídos pela própria cultura. Originalmente, não são patológicos, não são defesas contra a exterioridade. O narcisismo como investimento no self não tem qualidade de bom ou mau - ele assim se configura de acordo com os contextos em que está inserido. O não reconhecimento do outro às demandas de acolhimento se dá pela recusa ou pela falta de condições de ser transformado em objeto de atendimento; isto propicia a desilusão com o outro. A desilusão ou retraumatização não permite o processo de desidealização necessário para a transformação das configurações narcísicas. Como o foco dos modelos narcísicos da cultura se forma em torno da grandiosidade e da idealização, o encontro, que é uma necessidade básica para a vitalização do self, tende a tornar-se efêmero, descartável. Assim, o retorno a si mesmo não é uma defesa nem um ataque ao outro externo, mas o caminho possível para a manutenção da própria sobrevivência.

 

Comentários finais

Revisitar as categorias usadas por Kohut para definir seus pacientes com base no narcisismo me levou a contextualizá-lo em seu tempo e espaço. Quando seus livros foram escritos, nos anos 1970, na psicanálise americana preponderava a psicologia do ego. A sociedade americana expunha seu way of life ao mundo; vivia sérias questões políticas e econômicas devidas à Guerra Fria, à crise da Organização dos Países Exportadores de Petróleo OPEP, à derrota no Vietnã, à renúncia de Richard Nixon provocada pelo escândalo Watergate. O modelo econômico baseado no consumo estava a todo vapor. Neste mesmo contexto, Christopher Lasch lecionava, escrevia seus livros e refletia criticamente sobre a sociedade americana. Para escrever seu mais importante e famoso livro, A cultura do narcisismo (1979/1983), utilizou conceitos kohutianos para fundamentar psicanaliticamente suas ideias. Descreveu os americanos como Kohut descreveu seus pacientes com distúrbios narcísicos. Ambos perceberam o mesmo objeto e sobre ele conceituaram. Porém, fizeram usos distintos das mesmas observações. Lasch generalizou a cultura e descreveu-a como patológica e reativa às transformações sociais. Kohut, com um olhar mais esperançoso, positivou o conceito e criou uma teoria e técnica para seu entendimento e transformação, localizando a gênese dos distúrbios narcísicos nas quebras empáticas das experiências selfobjetais. Como a base da sua clínica foi unidirecional, do selfobjeto para o paciente, não inseriu esses distúrbios no contexto em que emergiam, mas elaborou possibilidades clínicas que, hoje atualizadas, permitem a esperança no vir a ser.

Concluo que o termo “narcisismo” serviu como adjetivo para a cultura na qual estamos inseridos, nos séculos XX e XXI, como sinônimo de superficialidade emocional, egolatría, arrogância, distanciamento afetivo, hedonismo etc. Estes discursos propiciaram uma abertura para nos questionarmos sobre o impacto das transformações sociais em nossas subjetividades. Porém, o que observamos foi o transbordamento da visão negativa e patológica do conceito para a cultura em geral. Isto reforçou a postura moralista, discriminadora, e pouco ofereceu de abertura para a compreensão de sua origem, causa e formas de lidar com a questão. Essas narrativas difundidas sobre o narcisismo descrevem uma generalização acerca do tempo presente como tendo um futuro duvidoso, transparecendo nelas um lamento por um tempo passado em que a cultura não era “do narcisismo” ou “do espetáculo” - um tempo em que os limites e controles sociais eram mais definidos e que permitia a ilusão da garantia do encontro. Hoje, o encontro com o outro, cada vez mais indefinido em suas possibilidades, se dá no campo da incerteza.

 

Referências

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Correspondência:
Leticia Tavares Neves
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Recebido em 7.08.2014
Aceito em 22.08.2014

 

 

1 Tem como foco a interseção de diferentes mundos subjetivos organizados que interagem de forma recíproca, estabelecendo um sistema ou campo relacional/intersubjetivo. É uma teoria de processos (Stolorow, Brandchaft & Atwood, 1987).
2 Postula que o desenvolvimento psicológico normal e patológico, a transferência e a ação terapêutica, todos emergem dentro de sistemas interativos relacionais e são afetados por estes (Gordon et al., 1998).

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