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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.48 no.4 São Paulo set./dez. 2014

 

COMENTÁRIOS SOBRE A ENTREVISTA

 

Será possível criar novos sons? Um comentário sobre a entrevista com Yolanda Gampel

 

Is it possible to create new sounds? A commentary on the interview with Yolanda Gampel

 

¿Será posible crear nuevos sonidos? Un comentario sobre la entrevista con Yolanda Gampel

 

 

Cláudio Laks Eizirik

Membro efetivo da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre (SPPA). Professor titular do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi presidente da Associação Internacional de Psicanálise (IPA)

Correspondência

 

 


RESUMO

O autor comenta uma entrevista de Yolanda Gampel, assinalando a relevância da escuta psicanalítica de vítimas de situações traumáticas extremas, destacando vários estudos e intervenções psicanalíticas que mostram a importância desta abordagem para a busca da simbolização e da men-talização possíveis.

Palavras-chave: violência; Holocausto; genocídio; intervenções psicanalíticas.


ABSTRACT

The author discusses an interview with Yolanda Gampel, stressing the relevance of analytical listening of victims of extreme traumatic situations, and highlighting and discussing several studies and psychoanalytic interventions that illustrate the importance of this approach in the search of possible mentalizations and symbolizations.

Keywords: violence; Holocaust; genocide; psychoanalytic interventions.


RESUMEN

El autor comenta una entrevista con Yolanda Gampel, subrayando la relevancia de la escucha psicoanalítica de víctimas de situaciones traumáticas extremas, enfatizando y discutiendo algunos estudios e intervenciones psicoanalíticas que muestran la importancia de este abordaje para la búsqueda de la mentalización y de la simbolización posibles.

Palabras clave: violencia; Holocausto; genocidio; intervenciones psicoanalíticas.


 

 

Conheci Yolanda Gampel em julho de 1993, no Hotel Sherlock Holmes, em Londres, na reunião de instalação da Casa de Delegados, um órgão criado sob a pressão dos presidentes das sociedades psicanalíticas das três regiões frente ao excessivo centralismo que na ocasião dominava a Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Sete presidentes de sociedades de cada região, portanto 21 pessoas, encontraram-se naquele dia pela primeira vez e, a partir de um certo caos e do amplo desconhecimento recíproco, foram capazes de estruturar, organizar e criar o modus operandi do novo órgão, cujo funcionamento trouxe um sopro renovador e contribuiu para as modificações sucessivas que foram transformando a IPA na instituição plenamente democrática e capaz de funcionar de modo eficiente e representativo dos dias atuais.

Desde logo, Yolanda se mostrou uma pessoa de grande lucidez e capacidade de articulação e participação; nos anos seguintes, nossos caminhos se cruzaram em vários momentos e latitudes e, além da afeição e da cordialidade, também pude acompanhar o desenvolvimento de sua carreira e de sua produção psicanalítica. Por todas essas razões e pela natureza do tema que sua entrevista aborda, tenho muita satisfação em comentá-la para a Revista Brasileira de Psicanálise.

Lendo e relendo o diálogo aqui transcrito, de imediato várias questões me parecem relevantes de serem formuladas, mesmo que algumas tenham um ranço de coisa antiga e ultrapassada (o que não impede que continuem vivas em muitas mentes analíticas): o que se encontra aqui é um trabalho analítico de fato? A psicanálise tem realmente algo de relevante a contribuir para estas situações que têm traumatizado o mundo e provocado continuamente crueldade e milhões de vítimas? O que podemos fazer em face de uma obstinada e recorrente onda de violência, atrocidades, assassinatos, corrupção, predomínio da irracionalidade e de graus crescentes de radicalização de todos os lados, e de uma aparente maré assustadora dos funda-mentalismos de todas as religiões e ideologias? Não seria uma pretensão de nossa parte querer participar ou mesmo agir num conjunto de conflitos e fenômenos que desafiam os políticos, os cientistas políticos, os antropólogos, os sociólogos, os formuladores da geopolítica?

O trabalho desenvolvido por Yolanda Gampel e outros psicanalistas nas últimas décadas constitui uma resposta eloquente a essas dúvidas e mesmo a uma certa crítica que possa ser formulada acerca de o que constitui de fato uma atividade psicanalítica. De minha parte, desde logo quero esclarecer que não compartilho da divisão entre a chamada psicanálise pura e a aplicada, pois considero que um analista continua mantendo sua identidade essencial quando se embrenha em outras áreas de ação, que vão além das paredes de seu consultório, como bem lembra Janine Puget. O trabalho de Yolanda com os filhos dos sobreviventes do Holocausto, ou com os que viveram a Intifada, se caracteriza pela manutenção de uma escuta analítica e de uma busca constante de entendimento dos significados inconscientes das experiências traumáticas vividas.

Neste sentido, ela está em boa companhia.

Em vários momentos de sua obra, Freud debruçou-se sobre situações relevantes da cultura e propôs sucessivas interpretações e reconstruções que, ainda hoje, nos ajudam a refletir sobre a horda primitiva e o assassinato do pai, os mecanismos grupais e a estruturação de massas artificiais, como o exército e a Igreja, a inevitável repressão que torna possível a vida civilizada, os formidáveis mecanismos de defesa que subjazem à criação dos deuses e à manutenção do poder e da influência das várias religiões, as obscuras e controvertidas circunstâncias da origem de Moisés e de sua formulação do monoteísmo.

Mas sem dúvida é em suas reflexões para os tempos de guerra e de morte (1915/1974) e em sua correspondência com Einstein (1932/2010) que encontramos uma abordagem mais direta das razões da guerra. Descrevendo a dualidade pulsional e enfatizando a força da pul-são destrutiva, Freud destaca que,

quando os homens são incitados à guerra, neles há toda uma série de motivos a responder afirmativamente, nobres e baixos, alguns abertamente declarados, outros silenciados. [...] O prazer na agressão e na destruição é certamente um deles; as inúmeras crueldades que vemos na história e na vida cotidiana confirmam sua existência e sua força. A mescla desses impulsos destrutivos com outros, eróticos e ideais, facilita naturalmente sua satisfação. Às vezes temos a impressão, ao saber de atos cruéis acontecidos na História, de que os motivos ideais só teriam servido como pretextos para os apetites destrutivos; outras vezes, como no caso das atrocidades da Santa Inquisição, por exemplo, achamos que os motivos ideais se impuseram à consciência, enquanto os destrutivos lhes trouxeram um reforço inconsciente. As duas coisas são possíveis. (Freud, 1932/2010, p. 428)

No final de sua carta, Freud, embora não parecendo muito confiante no futuro da civilização, afirma que tudo o que contribui para a evolução cultural também trabalha contra a guerra.

Oitenta e cinco anos depois da formulação da hipótese da pulsão de morte, Green (2007) destaca que uma série de eventos que Freud não testemunhou serviu de triste confirmação a uma ideia nascida de seu pressentimento: o Holocausto, os campos de reeducação soviéticos, a devastação produzida pela bomba atômica na Ásia, o destino dos que se opunham ao regime de Pol Pot no Camboja. Deve-se a esse autor uma sucessão de trabalhos em que analisa o mal e a destrutividade, num dos quais (Green, 1988) descreve o Holocausto como a forma mais acabada e completa do mal, um mal que nasce da desobjetalização em razão da pulsão de morte. O sadismo impressiona menos que a eficiência do rendimento, e a crueldade parece menos terrível que o ardor da ordem e da limpeza no processo de eliminação das vítimas. Ou seja, o mal é insensível à dor do outro, ignora seu sofrimento; procura antes aumentá-lo, desta forma ilustrando suas raízes narcísicas.

Hannah Arendt (2006) destaca, a partir de outra perspectiva, mas com similar acuidade, que os campos de extermínio serviram (e servem, bastando acompanhar as decapitações de reféns exibidas pela internet) à crença fundamental do totalitarismo: tudo é possível. Mostra que os campos funcionavam (e seus sucedâneos de hoje funcionam) não só para a eliminação das pessoas e a degradação dos seres humanos mas também para a horrível experiência que consiste em eliminar a espontaneidade como expressão da conduta humana e transformar a personalidade numa simples coisa. Com isto, diz Arendt, cria-se uma sociedade em que não se tenta mudar os seres humanos mas sim destruí-los, na qual a banalidade da noção de que o homem é o lobo do homem se concretiza de maneira cabal.

Relatos e reflexões sobre a experiência de viver e de escapar desses infernos podem ser acompanhados através da obra de autores como Primo Levi, Jorge Semprún, Elie Wiesel, Imre Kertész, e de incontáveis filmes que abordam diferentes perspectivas do Holocausto (Eizirik, 2012).

Qual pode ser a atitude de um psicanalista, ou de grupos de psicanalistas, ou de instituições psicanalíticas, frente ao mal e à destrutividade?

Como vimos em Freud e em Green, tudo o que contribui para a evolução da cultura faz parte de uma cruzada internacional em favor da razão e contra o monstro cego da irracionalidade, tão vivo hoje como sempre. Alguns exemplos recentes mostram como psicanalistas de diferentes latitudes e instituições têm enfrentado esse problema.

A partir de 1992, um grupo de analistas alemães e israelenses iniciou uma atividade conjunta, sob o patrocínio das respectivas sociedades, para discutir as experiências vividas durante e como consequência do Holocausto, em ambos os países e em suas respectivas culturas. Utilizando técnicas de discussão em grupo, relatos, depoimentos e troca livre de impressões e sentimentos, uma série de temas foi sendo desenvolvida, como a impossibilidade do luto, o desejo de vingança, a culpa e a vergonha, os traumas não elaboráveis, os sentimentos de traição, o perigo e o medo de uma falsa reconciliação, e as possibilidades de mudança e de transformação. A premissa em que essas conferências se basearam foi a de que o trabalho a ser feito, tanto pelos indivíduos como pelos grupos, só poderia ser efetivo se realizado na presença do outro, que é a contrapartida do peso ou da carga, ou do ódio ou da culpa, de cada um. Cada grupo, seja o de judeus, seja o de alemães, discutia, expressava e procurava elaborar seus sentimentos, ansiedades e fantasias na presença do outro grupo e, após isto, ocorriam as trocas entre os dois grandes grupos.

Um dos resultados desse ambicioso projeto ocorreu em Berlim, em 2007, no comovente Congresso da IPA, através de reuniões em grande grupo intituladas "Estando em Berlim", nas quais analistas judeus e alemães relataram e discutiram suas experiências e possibilidades de enfrentar, compartilhar e conviver dentro de si e com os demais colegas o que havia sido vivido e continuava presente em seus corações e mentes. Um relato dessa corajosa experiência e de seus resultados positivos é um livro significativamente intitulado Alimentado com lágrimas, envenenado com leite (Erlich, Erlich-Ginor & Beland, 2009).

Entrevistando sobreviventes do Holocausto e crianças que sobreviveram ao genocídio em Ruanda, em 1994, Suzanne Kaplan produziu um testemunho e propôs uma aproximação teórica para entender melhor a traumatização extrema e a regulação do afeto. Destacou em especial a importância da criação de um espaço mental para todos os tipos de pensamento para as crianças traumatizadas. A elaboração dos sentimentos de vingança pode mudar a autoimagem da vítima e também sua atitude frente ao mundo em sua volta. Sugere que a obtenção de um estado mental em que a pessoa se sinta mais livre em relação ao passado necessita de um momento de colocar em palavras o ódio e o sentimento de humilhação, de modo a desenvolver uma imagem do que foi vivido e, assim, simbolizar os eventos. O processo de mentalização pode mudar a autoimagem e as atitudes, pois a simbolização é necessária para diminuir comportamentos que produzem ansiedade. Segundo Kaplan, experiências traumáticas do passado são recuperadas não como lembranças, no sentido usual da palavra, mas como afetos que invadem o presente, como também aponta Yolanda Gampel na entrevista. Assim, tais afetos parecem contar a história das experiências traumáticas do passado. Kaplan ainda destaca que há duas formas de ligação: a ligação do trauma e a ligação geracional. Esta se constitui na possibilidade de resiliência, mas precisa de uma sociedade em que predominem uma ordem estável e um sistema que possa ser confiável. Alguma reconciliação possível está em geral associada com transformações nos relacionamentos que vão além de apenas poder viver em conjunto, sendo um longo processo, que leva provavelmente várias gerações (Kaplan, 2008).

Passando para uma expressão contemporânea da destrutividade, o terror e o terrorismo, um conjunto de ensaios psicanalíticos foi publicado sob o título sugestivo de Violência ou diálogo? (Varvin & Volkan, 2003). Foi o resultado de um grupo de trabalho da IPA, constituído logo após o ataque às Torres Gêmeas, em setembro de 2001. Temas como a definição do terrorismo, o papel da religião, do gênero e de processos políticos e sociais como a globalização, perspectivas psicanalíticas sobre conceitos como vitimização, desumanização e representações mentais da história, o funcionamento da mente terrorista e as consequências dos eventos traumáticos, tanto em nível individual como coletivo, a transmissão transge-racional do trauma constituem o conteúdo resumido dessa contribuição psicanalítica para entender um dos desafios que mais ameaçam o mundo contemporâneo.

Uma das perguntas feitas a Yolanda Gampel menciona um comitê da IPA, criado em 2005 e coordenado por Janine Puget, que refletiu e apresentou trabalhos sobre o tema do preconceito, a partir de várias experiências em diferentes regiões, unindo conceitos psica-nalíticos e de outros saberes.

Ou seja: há uma atitude de psicanalistas e de sua associação maior frente à violência e suas várias expressões, com contribuições relevantes, como as que mencionei, e outras, que não cabem no espaço deste comentário. Penso que tal atitude não significa necessariamente um ativismo político ou uma militância no sentido usual do termo, mas sim uma postura de enfrentar tais temas com nossas armas, que são as armas psicanalíticas, e que não são menos relevantes que quaisquer outras.

E, com isto, volto à entrevista de Yolanda Gampel. Em seu relato, ela nos mostra sua própria evolução, desde um estado de desconhecimento da cultura em que tais horrores ocorreram até uma compreensão dela através da escuta que foi desenvolvendo - primeiro, dos que lhe negavam acesso, pois reagiam ao que lhes parecia sua ingenuidade ou incapacidade de ouvir -, o lento estabelecimento de um método de trabalho que guarda semelhança com algumas experiências acima relatadas. Yolanda nos diz que todos queriam contar sua história e que passaram a procurá-la, pois agora ela se dispunha a ouvir. Ouvir como? Com a escuta psicanalítica, que não julga, que não se alia incondicionalmente nem condena, mas que busca entender. A relevância psicanalítica e social bem como a importância do trabalho de Yolanda no meio universitário em que trabalhava merecem não só admiração como reconhecimento. A exposição de sua experiência e a descrição de seus originais conceitos de objeto tesourizado, núcleo radioativo e identificação radioativa constituem contribuições psicanalíticas relevantes para entender a natureza dessas vivências com a crueldade e a des-trutividade humanas (Gampel, 2001).

Uma passagem de sua entrevista que me chamou particularmente a atenção foi o relato clínico da situação envolvendo a paciente ultrarreligiosa. Aqui vemos a analista clínica em ação, partindo de situações sociais desafiadoras, da natureza de um meio religioso primitivo e opressor em que a paciente vivia, das observações desta sobre o advogado de árabes saindo da sessão, e traduzindo para dentro do campo analítico as ansiedades paranoides da paciente e de seu manejo transferencial; ficam evidentes aqui as ansiedades e sentimentos da própria analista, seu modo de se posicionar em um momento da sessão ("Foi um judeu que matou Rabin") e logo sua capacidade de trabalhar analiticamente, integrando todas essas circunstâncias de uma forma que ajuda a paciente a encontrar algum insight possível.

Há um momento da entrevista em que Yolanda nos fala da retraumatização e da importância de o analista que escuta se tornar parte da situação, de alguma forma reunindo passado, presente e futuro, sendo o outro que ouve e, de alguma forma, se alia ao paciente em seu trabalho de busca de dar significado ou transformar em palavras afetos avassaladores que invadem a mente, como também descreve Kaplan. Yolanda destaca dois pontos: o fato de o Holocausto não ser apenas um evento que produziu um trauma, ou traumas, conforme as situações traumáticas que conhecemos, mas algo único, não representável, e que deixou cicatrizes na alma que são incuráveis. Sem dúvida, situações de genocídio, como em Ruanda, ou outras que continuamos testemunhando podem produzir efeitos devastadores semelhantes.

Yolanda Gampel apresenta o nome do projeto de um colega palestino, nome que poderíamos transformar em pergunta: "Como tratar o ódio de uns contra os outros, vivido pelas crianças de Gaza e de Israel, e prepará-las para o futuro"?

Em outubro de 2006, em comemoração aos 150 anos do nascimento de Freud, o Comitê da IPA nas Nações Unidas, então coordenado por Afaf Mahfuz, organizou uma atividade de um dia, na ONU, tendo como tema "Aproximações da prevenção da transmissão intergeracional e transgeracional da guerra, do ódio e da violência". Várias organizações não governamentais e comitês da ONU participaram, e uma frutífera discussão foi desenvolvida. Em uma das manifestações daquele dia (Eizirik, 2006), foi enfatizada a importância de ações urgentes direcionadas às crianças e suas famílias, em situações em que confrontos armados e violência produzem e estimulam o ódio e sua transmissão através das gerações. Destaque especial deveria ser dado à necessidade de ouvir o outro, o estranho, o diferente, que logo pode se transformar no inimigo que deve ser destruído.

Um exemplo dessa busca por ouvir o outro foi dado pela fundação Barenboim-Said, fundada pelo maestro Daniel Barenboim e pelo pensador Edward Said, que constituíram uma orquestra em que jovens israelenses e palestinos tocam juntos e, através da música, procuram ouvir uns aos outros, desta maneira buscando produzir novos sons, diferentes do ruído ensurdecedor dos foguetes, das bombas, das declarações cheias de ódio, de preconceito e de intolerância, dos canhões e dos gritos de dor, de sofrimento e de morte.1

O trabalho de Yolanda Gampel e os de inúmeros outros analistas, alguns citados neste texto, constituem uma eloquente evidência do poder da palavra, da escuta, da busca da razão, da não aceitação das dissociações e das projeções, em especial a partir de algumas lideranças políticas aferradas a discursos fascistas e fundamentalistas, que se alimentam mutuamente e criam uma mentalidade de que nenhuma solução é possível e de que apenas o ódio e a destruição do outro, ou dos outros, é a solução a ser repetida compulsivamente.

Ouvindo a experiência de Yolanda Gampel e dos que acreditam no poder da escuta e da palavra, que são afinal as armas psicanalíticas por excelência, fico com a renovada convicção de que é possível criar novos sons, por mais sombrios que possam ser os tempos e algumas mentes que os habitam.

 

Referências

Arendt, H. (2006). As origens do totalitarismo (R. Raposo, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

Eizirik, C. L. (2006). Abordagens da transmissão intergeracional da guerra, ódio e violência: uma perspectiva psicanalítica. Jornal do Centro de Estudos Luís Guedes, 17(59),4-5.         [ Links ]

Eizirik, C. L. (2012). À propos du mal et de la destructivité. In B. Chervet, Hommage a André Green (pp. 157-163). Paris: Societé Psychanalytique de Paris.         [ Links ]

Erlich, H. S., Erlich-Ginor, M. & Beland, H. (2009). Fed with tears, poisoned with milk. Giessen: Psychosozial-Verlag.         [ Links ]

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Freud, S. (2010). Por que a guerra? (Carta a Einstein, 1932). In S. Freud, Obras completas (P. C. de Souza, Trad., Vol. 18, pp. 417-435). São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

Gampel, Y. (2001). Group psychology, society, and masses: working with the victims of social violence. In E. S. Person (Ed.), On Freud's "Group Psychology and the Analysis of the Ego" (pp. 129-153). London: The Analytic Press.         [ Links ]

Green, A. (1988). Pourquoi le mal? Nouvelle Revue de Psychanalyse, 38,239-261.         [ Links ]

Green, A. (2007). Pourquoi les pulsions de destruction ou de mort? Paris: Éditions du Panamá         [ Links ].

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Varvin, S. & Volkan, V. D. (2003). Violence or dialogue? Psychoanalytical insights on terror and terrorism. London: The International Psychoanalytical Association.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Cláudio Laks Eizirik
Rua Marquês do Pombal, 783/307
90540-001 Porto Alegre, RS
Tel: 51 3224-4364
ceizirik.ez@terra.com.br

Recebido em 26.11.2014
Aceito em 10.12.2014

 

 

1 A situação atual desta experiência pode ser verificada no site da fundação: www.daniel-barenboim-stiftung.org.

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