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Revista Brasileira de Psicanálise

versión impresa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.50 no.1 São Paulo mar. 2016

 

EM PAUTA

 

Incidência da realidade social no trabalho analítico1,2

 

The social reality in psychoanalytic work

 

Incidencia de la realidad social en el trabajo analítico

 

 

Virgínia Leone Bicudo (in memoriam)

Formada pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, cofundadora da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), analista didata da SBPSP. Fundadora do Jornal de Psicanálisee do Grupo Psicanalítico de Brasília, onde fundou a Revista de Estudos Psicanalíticos alter

 

 


RESUMO

A realidade social se insere inevitavelmente na situação analítica através das personalidades do paciente e do analista. Entretanto, as posições de paciente e de analista são diametralmente opostas. Enquanto o primeiro revive suas experiências pretéritas no relacionamento com o analista, este se utiliza da técnica psicanalítica para obter um conhecimento sobre a realidade psíquica elaborada sob a influência de fatores míticos e místicos, ideológicos e doutrinários, científicos e tecnológicos, em suma, sob a influência de processos das estruturas sociais.

Palavras-chave: realidade social; personalidade; paciente; analista; estrutura social.


ABSTRACT

The social reality is necessarily inserted within the psychoanalytic situation by patient’s and psychoanalyst’s personalities. However, patient’s and psychoanalyst’s positions are diametrically opposites. While the patient revives his (or her) past experiences in the relationship with the analyst, the analyst uses the psychoanalytic technique in order to acquire a knowledge about the psychic reality which is built under the influence of mythic and mystic, ideological and doctrinaire, scientific and technological factors - in short, under the influence of processes of social structures.

Keywords: social reality; personality; patient; psychoanalyst; social structure.


RESUMEN

La realidad social se inserta inevitablemente en la situación analítica a través de las personalidades del paciente y del analista. Sin embargo, las posiciones del paciente y del analista son diametralmente opuestas. Mientras el primero revive sus experiencias pretéritas en la relación con el analista, este utiliza la técnica psicoanalítica para obtener un conocimiento sobre la realidad psíquica elaborada bajo la influencia de factores míticos y místicos, ideológicos y doctrinales, científicos y tecnológicos, en fin, bajo la influencia de procesos de las estructuras sociales.

Palabras clave: realidad social; personalidad; paciente; analista; estructura social.


 

 

1. Introdução

Nossa atenção dirige-se em primeiro lugar ao enunciado do tema - Incidência da realidade social no trabalho analítico -, o qual, tomado ao pé da letra, nos permitiria contestá-lo com duas frases: o trabalho analítico só pode acontecer em uma realidade social e, consequentemente, a incidência da realidade social no trabalho analítico seria de 100%, considerando-se ainda que o termo incidência sugere uma avaliação estatística e quantitativa. Entretanto, como a dúvida constante caracteriza a atitude científica, sempre aberta à crítica e à revisão das teorias e técnicas, mesmo tratando-se de fatos aparentemente evidentes, o tema em pauta é indicativo de que há uma problemática sob o aparente óbvio do enunciado. Em termos gerais, a problemática que o tema nos sugere pertence ao campo da interação entre os processos sociais e os processos psíquicos, tema, aliás, há muito focalizado por psicanalistas, sociólogos e antropólogos. Abordaremos o problema em pauta sob dois aspectos: a realidade social levada para o trabalho analítico pelo paciente; a realidade social levada para a situação analítica pelo analista.

 

2. A realidade social do paciente no trabalho analítico

Processos sociais

Para que a discussão se promova dentro do mesmo universo de pensamento, achamos necessário conceituar a realidade social de acordo com a terminologia sociológica. A sociologia nos oferece conhecimentos a respeito de como "os indivíduos humanos, separados no espaço e capazes de existirem biologicamente apartados, combinam-se em unidades maiores capazes de ação conjugada, e de como estas unidades maiores se desintegram em suas partes originárias" (Pierson, 1949).

Os processos de integração, de mudança e de desintegração sociais operam em função de distâncias que podem ser toleráveis ou intoleráveis, segundo a relação satisfação-frustração de necessidades vitais e individuais e de exigências grupais. A estrutura social, resultante da experiência de viver juntos, define o status e os papéis dos componentes do grupo social. Os modos de sentir, de pensar e de reagir são institucionalizados como maneira certa de ser e concretizados nos mores, nos mitos e nos folkways, no costume e no hábito, nas sanções sociais e na lei escrita, no preconceito e nas ideologias. A transmissão de todo o acervo de produtos sociais ao recém-chegado (recém-nascido ou imigrante) faz-se através dos processos de socialização e de assimilação, que atuam por meio de expectativas de comportamento apresentadas sob a forma de padrões de comportamento. O aspecto integrativo do processo social está ligado às expectativas de comportamento, as quais, introjetadas, possibilitam a ação conjugada. A transmissão da herança social, através de expectativas de comportamento, é efetuada primariamente pela família, em contatos íntimos, emocionais e constantes, podendo-se caracterizar as atitudes inadequadas em expressões de rejeição, de superproteção ou de ambivalência. Por sua vez, a criança não recebe herança social passivamente, mas reage emocionalmente e reelabora psiquicamente o que lhe é transmitido. Nesse aspecto do processo social se encontra um fator de mudança social e de ajustamento ou de distúrbio mental funcional. A realidade social, portanto, constitui parte integrante da personalidade.

Os mores são constituídos pelos costumes considerados absolutamente essenciais e invioláveis, de caráter sagrado indiscutível, e são mantidos com tenacidade. Constituem o cerne da vida grupal, proporcionando às pessoas um meio de convívio, sem precisar continuamente refletir e tomar decisões a respeito de seu comportamento. A proibição do incesto e de relações sexuais com menores são exemplos de mores vigentes em nossa sociedade. O tabu da virgindade vem gradativamente perdendo o caráter de inviolável; o "não matarás" é um mandamento que também está perdendo força, observando-se, por exemplo, o terrorismo, a tortura, o esquadrão da morte. A transgressão dos folkways, categorizados pelos costumes seculares, acarreta apenas sanções satíricas. Assim, por exemplo, a indissolubilidade do vínculo matrimonial é por uns vivenciada como moree por outros é substituída pelo divórcio, pelo desquite e pela deserção. As exigências de respeito aos costumes e aos hábitos são menos rígidas, e por isso estes são mais suscetíveis a variações. A moda constitui um exemplo de expressão da variabilidade do costume em nossa sociedade, podendo-se atualmente observá-la na moda unissex, na minissaia, no short, no cabeludo.

Os processos sociais parecem estabelecer uma dinâmica hierárquica, através da qual as sociedades rurais isoladas podem ser classificadas pelo predomínio da cultura de folkway de um povo pré-letrado, guiado predominantemente pelo costume cristalizado, apresentando o máximo de estabilidade social e individual e um mínimo de mudança e de desorganização sociais e individuais; no extremo oposto, encontram-se as sociedades civilizadas, constituídas de indivíduos letrados, com alto grau de mobilidade e de comunicação, nas quais o costume não controla os hábitos, a alteração de status e de papéis é fácil, o surto de novos problemas é frequente, e alto o índice de mudança e de desorganização sociais e individuais.

Um sistema social começa a desintegrar-se quando as soluções anteriormente alcançadas para o convívio não mais se ajustam à situação e dão lugar a descontentamentos amplamente espalhados. Nesses descontentamentos se encontram a força que dinamiza as revoluções e os movimentos de reformas sociais. Os estudos sociológicos referentes aos processos sociais de desintegração têm concentrado suas pesquisas sobre mores, folkways, preconceitos, bias3 e, mais recentemente, sobre ideologias.

Doutrina, ideologia, ciência

Os sociólogos têm colocado ênfase em pesquisas sobre preconceito e ideologia, em razão de que essas categorias de fatos sociais se tornaram proeminentes nos processos sociais. Os preconceitos e as ideologias cristalizam-se em estereotipias culturais, isto é, em crenças e ideias para justificar a conduta em relação a uma categoria, com base em preconceito-amor ou em preconceito-ódio (Hollitscher, 1950).

Focalizando a doutrina da ideologia, Hollitscher (1950) refere que

alguns estudiosos encontram sua origem no passado, com Francis Bacon (1620), o qual apontou o crônico erro e a distorção subjacentes aos "ídolos" prevalentes das tribos. Marx e Engels (1846) usaram o termo ideologia para especificamente referir as crenças elaboradas e promulgadas pela classe capitalista, a fim de justificar sua posição favorecida na sociedade. Influenciado por Marx e Engels, o movimento chamado sociologia do conhecimento (Mannheim, 1936) tem se concernido com toda ideologia tendente a derivar e justificar um corpo de valores determinados por considerações irracionais ou quase racionais. É interessante notar que, nos dias presentes, o uso do termo está perdendo o sabor de hipocrisia. Quando Marx jamais teria chamado o comunismo de ideologia, hoje é habitual assim denominá-lo. Falamos mesmo de ideologia democrática e cristã sem implicação derrogatória.

Devido à observação de que frequentemente encontramos na literatura psicanalítica e científica, em geral, o emprego arbitrário dos termos ideologia, doutrina e teoria da psicanálise, achamos necessário atender à definição dos termos.4

A sociologia define ideologia como um sistema de pensamentos, que podem ser lógicos ou errôneos; quando objeto de estudo científico, as indagações se dirigem para a pesquisa das causas e dos mecanismos de sua produção, sem os objetivos de acreditá-la ou desacreditá-la (Hollitscher, 1950). Doutrina é a teoria que nunca foi posta à prova. É teoria em que se tem fé, é dogma. O crente de determinada doutrina pensa que aquilo que deveria acontecer no mundo real, segundo sua doutrina, tem de acontecer, e, se não acontecer, o indivíduo emprega todas as suas energias para que aconteça (Pierson, 1949). Teoria é uma hipótese que foi posta à prova e provou ser válida, ao menos em determinadas circunstâncias. Tornou-se aceita pelos estudiosos dentro do mesmo universo de comunicação e continuará a ser aceita enquanto representar o conhecimento que se tem da natureza e do comportamento do fenômeno em questão. Quando não descrever com precisão tudo aquilo que se conhece sobre o fenômeno, terá que ser modificada ou substituída por nova hipótese, a fim de abranger os novos conhecimentos (Pierson, 1949).

Referindo-se às relações entre ciência, ideologia e utopia, Armando Ferrari pronuncia-se nos seguintes termos:

O problema da ideologia poderia ser esclarecido se introduzirmos a conceituação de Mannheim (1958), a qual nos possibilita uma nova dimensão conforme o esquema: considerando como ponto de partida a realidade social, poderiamos escalonar a ciência, a ideologia e a utopia. No nivel da praxe, a meu ver, existem interrelações entre as categorias ciência-ideologia, o mesmo podendo ser dito a respeito de ideologia-utopia. Esses pontos de intersecção são muito significativos. A ciência operando em uma determinada realidade social pode ser utilizada para vários fins, entre outros, o da ideologia total (social) da mesma sociedade. Trabalhando nesse contexto, o cientista deve sofrer certas pressões ideológicas totais, que poderiam caracterizar sua conduta de maneira peculiar, resultante do conflito entre as exigências opostas atinentes à ciência e à ideologia total. A ideologia total é um dado que permeia toda a realidade social, e portanto é indissociável, da qual o cientista não pode subtrair-se, mas da qual se protege utilizando-se do método científico e assim diminuindo a área de influência da ideologia.

O caráter de crença subjacente nos pensamentos ideológicos e nos doutrinários os distingue do pensamento científico, este baseado em hipóteses testadas e teorias sistematizadas, mantido sob a atitude de dúvida, sujeito a revisões e reformulações em função de novas evidências. Como ciência pura, a psicanálise não comporta os pensamentos ideológicos e os doutrinários, não lhe cabendo, portanto, a denominação de ideologia ou de doutrina. Uma ideologia ou uma doutrina são objeto de estudo da ciência. Ao estudar um sistema ideológico de pensamento, diz Hollitscher (1950), "o cientista examina as causas sociais que conduzem à produção e ao consumo de dito sistema". Podemos falar de uma ideologia psicanalítica, que deve ser objeto de estudo por parte de psicanalistas e sociólogos, e que é constituída por um sistema de pensamentos obtidos da psicanálise, mas com o fim de preservá-los ou refutá-los, sem pesquisa, mas com tenacidade emocional.

Estivemos discorrendo sobre alguns conceitos sociológicos tendo em vista focalizar a atenção dos psicanalistas sobre os processos sociais que entram na elaboração da realidade social. A personalidade é largamente determinada por fatores sociais, e é através dela que o paciente leva para o trabalho analítico a realidade social, dentro da qual se moldou e em função da qual vive. Seus anseios e suas angústias, o que espera da análise e o que não espera estão baseados nos mores, nos ideais, nas frustrações e nas reivindicações, manifestos em seus padrões de comportamento, em seu modo de sentir, de reagir, e nas ideologias individuais e sociais que fervorosamente defende. Até que ponto os processos sociais de organização e desorganização social não somente modificam o comportamento, mas também a organização psíquica é pergunta que o sociólogo se propõe, e responde afirmando que a sociologia não possui técnica para penetrar na intimidade da mente dos seus pesquisados. A técnica psicanalítica, tendo acesso aos níveis inconscientes, poderá trazer contribuição para esclarecimentos sobre a interação entre processos sociais e processos psíquicos.

Síntese

A família tem papel preponderante no processo de socialização da criança, por atuar através de um contato íntimo, emocional e contínuo durante a infância, isto é, no período de maior plasticidade física e psíquica do ser humano. A transmissão da herança social (mores, mitos, folkways,costumes, hábitos, crenças, linguagem, significados culturais, ideologias) faz-se por meio de expectativas de comportamento, as quais introjetadas permitem a ação conjugada do grupo. A realidade social assimilada pela criança e pelo imigrante passa a constituir parte integrante da personalidade, definindo-se os status e os papéis dentro da estrutura social. Os processos sociais de integração, mudança e desintegração refletem-se na vida mental sob a forma de integração psíquica, conflito e distúrbio mental.

A realidade social comporta elementos que permeiam todas as camadas sociais, e que são considerados essenciais e invioláveis para a vida grupal, enquanto outros elementos apresentam variações em função das ideologias individuais e subgrupais.

Na situação analítica, o paciente encontra o ambiente propício para apresentar-se portador da realidade social que assimilou e da realidade social em que vive.

Tornando-se proeminentes nos processos sociais, as ideologias têm sido objeto de estudos sociológicos e psicanalíticos. Definidas como sistemas de pensamentos tendentes a justificar um corpo de valores, as ideologias podem ser classificadas em individuais, quando correspondem somente às necessidades psíquicas de seu portador, e sociais, quando correspondem ao consenso de grupos sociais. Frequentemente encontramos, na literatura psicanalítica e científica em geral, o emprego arbitrário dos termos ideologia, doutrina e teoria para categorizar a psicanálise. Constituída por um corpo de teorias obtidas pela aplicação da técnica psicanalítica, a psicanálise distingue-se da doutrina (conhecimento baseado em dogmas) e da ideologia (conhecimento derivado de crenças ou da ciência e mantido para o fim de estabelecer coerência entre o comportamento e a realidade social).

A personalidade, sendo resultante da interação de processos biopsicossociais, coloca o analista sob a contingência de, ao mesmo tempo que participa da realidade social, desta ter que abstrair-se quando em situação analítica.

 

3. A realidade social do analista na situação analítica

Conforme descrevemos na seção anterior, os processos sociais determinam as estruturas da realidade social, na qual, via de regra, o paciente e o analista tiveram suas personalidades moldadas e da qual ambos participam. Do paciente é esperado que, em situação de análise, mencione tudo quanto ocorrer em seu pensamento. Por meio da associação livre de ideias, ele revive, em transferência, suas angústias e seus conflitos atuais. Para o analista em trabalho, seu reviver será contraproducente. Ao contrário, o analista deve utilizar-se de um splitting que lhe possibilite separar-se de sua realidade social, da qual compartilha em outros papéis que não o de psicanalista, e que incluem seus preconceitos, idiossincrasias, preferências, suas ideologias religiosas, raciais, políticas e pseudocientíficas. Deve ainda desenvolver, durante o tratamento analítico, a percepção sobre as emanações do inconsciente, em função de conflitos infantis não solucionados, para ser capaz de certo grau de autoanálise ou, pelo menos, autocontrole.

Toda pesquisa científica requer do pesquisador qualidades e qualificações técnicas desenvolvidas em longos anos de cursos de especialização. Os pesquisadores cujo objeto de estudo é a pessoa confrontam-se com sérios problemas de ordem metodológica. O fato de pesquisado e pesquisador pertencerem à mesma categoria (seres humanos) traz ao psicanalista a vantagem de poder colocar-se na situação do paciente para poder entendê-lo. Por outro lado, porém, a familiaridade com os problemas humanos tem a desvantagem das limitações da escotomização, das estereotipias e dos envolvimentos emocionais. Para proteger-se dos aspectos limitadores da falta de insight e dos envolvimentos emocionais, além do recurso ao splitting, o analista procura reduzir ao mínimo o número de variáveis que introduz na situação analítica - por exemplo, o quanto possível não se dando a conhecer como pessoa.

Apresentamos algumas considerações sobre as premissas básicas da técnica psicanalítica (associação livre de ideias, do lado do paciente, e abstenções do analista concernido com a interpretação calcada sobre a transferência) sob a pressuposição de que tais premissas constituem o universo comum aos psicanalistas. Procuramos até aqui tecer reflexões gerais sobre questões implícitas no enunciado do tema, tentando responder às seguintes perguntas: Como ser humano, pode o psicanalista desprender-se de sua realidade social? Que aspectos de sua realidade inevitavelmente estão presentes em seu trabalho? Que aspectos de sua realidade social são incontroláveis? Como, porém, o aspecto que mais polêmica tem desenvolvido entre os psicanalistas se refere à ideologia, reservamos as páginas seguintes para focalizar o analista em face de problemas ideológicos.

No intento de incluir o pensamento representativo dos psicanalistas em geral, solicitamos aos colegas da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo que nos enviassem seus pontos de vista sobre o tema em apreciação, no que fomos atendidos por Armando Ferrari, Luiz Miller de Paiva e Gecel Szterling. Não havendo tempo hábil para proceder da mesma forma com as Sociedades sediadas fora de São Paulo, recorremos a consulta bibliográfica, e para esse fim Eduardo Kalina nos enviou cópias de trabalhos que foram assunto de um simpósio na Associação Psicanalítica Argentina.

O psicanalista frente a problemas de categoria ideológica

As ideologias políticosociais tornaram-se proeminentes nos processos sociais, fato que despertou a atenção dos sociólogos e, mais recentemente, a dos psicanalistas. Como objeto de pesquisa, o estudo da ideologia refere-se à pesquisa de pensamento (certo ou errado), para justificar a conduta em relação a uma categoria de fatos. O pensamento científico distingue-se do pensamento ideológico na medida em que é baseado em um corpo sistematizado de teorias e hipóteses, mantidas em função de renovações constantes impostas por novas pesquisas, enquanto o pensamento ideológico (certo ou errado) é tenazmente defendido em função de preconceito-amor e preconceito-ódio, ou, em outras palavras, em função de fusões patológicas ou adequadas entre impulsos de vida e de morte.

O ser humano está sujeito às injunções de não poder erradicar de si as fantasias inconscientes e de, em certo grau, inevitavelmente transformar o conhecimento científico em pensamento ideológico. Quando, por exemplo, afirmamos que a abordagem técnica de um paciente sob intenso narcisismo e impulsos destrutivos consiste em formular uma interpretação que incentive o ego a retomar contato com seus sentimentos de autoestima, não estaremos sendo movidos por uma ideologia a respeito de valores referentes à vida e à morte?

A fim de proteger-se da própria realidade psíquica e social, o pesquisador utiliza-se do método científico, duvidando e pesquisando mesmo sobre fatos evidentes e aplicando uma técnica que, o quanto possível, lhe possibilite isolar psiquicamente seus desejos e preconceitos, suas crenças e ideologias, assim deixando a mente livre para a formulação do pensamento científico.

De acordo com as premissas da técnica psicanalítica, por meio da associação livre de ideias, o paciente leva para a situação analítica sua realidade social, passada e presente, em versão individual, isto é, psiquicamente reelaborada. De outro lado, é exigido do analista abster-se de incluir na situação analítica a própria realidade social, pois inevitavelmente também foi submetido aos processos de interação entre o social e o psíquico, por meio dos quais se desenvolve a natureza humana. Sua formação nos cursos de psicanálise visa, sobretudo, torná-lo um indivíduo diferenciado quanto às capacidades de insight, de tolerar angústia, de ser continente de identificações projetivas, de reparação e de ter, pelo menos, autocontrole sobre os próprios preconceitos e as suas ideologias. Entretanto, se podemos indicar algumas das qualidades desejáveis para as funções do psicanalista, não podemos afirmar que a formação psicanalítica torne alguém totalmente consciente sobre o universo inconsciente.

Baranger (1971) define a ideologia:

Todo o sistema de ideias abstratas (conscientes e inconscientes) cuja função é dar conta da realidade e da ação do homem sobre essa realidade, abarcando tanto os conhecimentos científicos quanto os sistemas filosóficos ou religiosos, as concepções éticas, estéticas e políticas.

Concordamos em parte com a definição de Baranger, pois destacamos alguns aspectos da distinção entre ideologia individual e ideologia social (total). Embora ambas tenham a função de integrar as fantasias inconscientes e as relações de objeto em um mundo mais ou menos coerente, os processos de interação diferem quanto a ausência ou existência de reconhecimento social. Se a função da ideologia é alcançar coerência e integração entre as realidades internas e externas, o conceito de ideologia não cabe no conceito de ciência,cujo objetivo é obter conhecimento sobre as leis psíquicas do inconsciente e os mecanismos operantes naquela função, mesmo quando a pesquisa concluísse que determinado conceito ideológico é científico. Por essa razão, consideramos impróprio o termo ideologia científica, impropriedade que pode trazer confusão. Ainda há a consideração de que ideologia é termo que pertence à terminologia sociológica, o que implica que a psicanálise poderá contribuir para o estudo psicológico profundo de um fato socialmente elaborado e grupalmente aceito e/ou rejeitado, sem, porém, excluir a dimensão sociológica. O conceito de racionalização, pondera Hollitscher (1950),

parece proporcionar a contrapartida psicológica ao conceito sociológico de ideologia,pois ambos lançam luz sobre os sistemas de ideias e opiniões. Assim, a validez das opiniões depende da perspectiva das pessoas que as sustentam - perspectiva de ordem sociológica no caso das ideologias, e de ordem psicológica no caso das racionalizações. [...] Afirmava-se que o processo da racionalização era o mecanismo que conduzia à formação de ideologias. A psicanálise nos tem familiarizado com o fato de que muitas das razões que os indivíduos alegam para explicar seus pensamentos e ações são tão somente pretextos que se manifestam quando o verdadeiro motivo operante não pode tornar-se consciente. A racionalização serve para preencher a lacuna que deixa em nossa argumentação a omissão do motivo inconsciente. A função da psicanálise não é a de estabelecer a correção de uma racionalização inadequada, mas a de analisar o mecanismo que a fez surgir. [...] Ao se considerar ideológico um sistema de pensamento, significa que estão sendo examinadas as causas sociais que conduzem à produção e ao consumo de dito sistema.5

O momento histórico caracteriza-se por mudanças sociais ocorrendo intensa e rapidamente, em consequência da industrialização e do desenvolvimento tecnológico, transferindo-se a ênfase das ideologias religiosas para as ideologias de classe social e de etnias. Em circunstâncias em que a crise social, consequente ao obsoletismo do modo de ser, reforçou as ideologias sociopolíticas, o cientista humanista passou a centralizar suas pesquisas sobre os aspectos mais proeminentes do processo de desintegração social e individual. Em que extensão mudanças de estrutura social podem modificar a estrutura psíquica? O psicanalista poderá contribuir para responder a indagações dessa ordem na medida em que se conservar pesquisador na relação com o assunto pertinente, na medida em que não for emocionalmente dominado pela invasão dos conflitos ideológicos externos ou trazidos pelo paciente, e, portanto, na medida em que permanecer lidando com o problema psicanaliticamente. Em outras palavras, em situação analítica, o analista não é religioso, agnóstico, político ou apolítico, racista ou antirracista - ele é pesquisador.6

As críticas dirigidas contra a psicanálise - psicanálise em crise, psicanálise de torre de marfim, psicanálise omissa frente a uma conjuntura social - exigem a atenção do analista em relação a seu status e seus papéis sociais. A nosso ver, há uma confusão consequente à indiscriminação entre os papéis do psicanalista pesquisador e do psicanalista aplicador da ciência, e não diferenciação da psicanálise como ciência pura, distinta da psicanálise como ciência aplicada, e psicanálise transformada em ideologia. Como ciência pura, a psicanálise tem o objetivo de estudar e de pesquisar sobre o inconsciente, e é quando é criticada como ciência omissa. Como ciência aplicada, tem por fim aplicar a técnica e o conhecimento em benefício do indivíduo e da coletividade.

O conhecimento alcançado pela técnica psicanalítica é colocado à disposição da cultura, a qual o incorpora ou o repele, parcial ou totalmente, em função da estrutura sociocultural. Assim, conceitos sobre a sexualidade infantil divulgados por Freud, que na época foram vivamente repelidos, hoje estão socialmente assimilados e aculturados. Enquanto o objetivo da ciência pura consiste na aplicação da técnica psicanalítica para fins de pesquisa e de ensino, a psicanálise aplicada procura desenvolver meios de tornar seus conhecimentos utilizáveis em nível interdisciplinar e em nível sociocultural. Quando o analista está trabalhando nesses tipos de aplicação, está fora da situação analítica e, portanto, utilizando-se de outras técnicas.

Uma das áreas de divergência entre os psicanalistas refere-se à aplicação da psicanálise à psicoterapia de grupo. Considerando que os mecanismos psíquicos, a transferência e a resistência não operam somente na relação bipessoal da situação analítica, mantemos o ponto de vista de que a técnica psicanalítica pode adaptar-se à análise de grupo, isto é, a análise de pessoas interagindo com o analista e, concomitantemente, dispondo de outros componentes do grupo para continente da transferência e das identificações projetivas.

Achamos oportuno reproduzir o pensamento de Roheim (1950) a respeito da relação entre a psicanálise e a antropologia:

Um indivíduo não existe no vácuo, e num senso o indivíduo é tanto uma abstração quanto o é a sociedade. Se dizemos, portanto, que a psicologia do indivíduo é, até certo ponto, condicionada pela sociedade, é também verdade que a sociedade é condicionada pelo aparelho psicológico, mais ambiente e mais história. [...] Todo progresso de crescimento e de desenvolvimento do homem pode ser visto sob o ângulo de mudança de condições sob as quais a adaptação tem lugar e de mudança de métodos usados para preencher as exigências da realidade. Mesmo aquelas defesas que não são primariamente dirigidas para o mundo exterior, acerca de obstar impulsos instintivos, todas ao mesmo tempo modificam as atitudes do indivíduo para com a realidade. [...] Esperamos que aquilo que a análise nos tem ensinado sobre as dialéticas de comportamento racional e irracional nos possa ser útil como modelo para o entendimento e o tratamento do fenômeno social em larga escala.

Em seu trabalho "Comentarios sobre la ideología psicoanalítica", Garbarino (1971) apresenta cinco características da "ideologia psicanalítica", as quais desejamos comentar no intuito de enfatizar que tais características, enquanto ideológicas, não se referem à psicanálise na categoria de ciência. A valoração da sexualidade é a primeira característica ideológica considerada pelo autor. A respeito, desejamos destacar o fato de que o conhecimento científico alcançado pela psicanálise não consiste em valorar ou desvalorar a sexualidade, senão em pôr em evidência os caracteres sexuais e as etapas de desenvolvimento. Na assimilação sociocultural do conhecimento científico obtido pela psicanálise, surgiram as ideologias de valoração positiva ou negativa, de ética e de outras formas de usar ou repelir as contribuições da ciência pura. Em qualquer campo do conhecimento, a ciência pura é desinteressada dos aspectos pragmáticos da ética, da religião, dos preconceitos etc. À guisa de ilustração, podemos citar o invento das pílulas anticoncepcionais, que em si não é moral ou imoral, mas amoral, e seu uso regulado por princípios religiosos, éticos e pela lei, de acordo com processos socioculturais.

Na segunda característica, Garbarino considerou as relações entre os sexos afirmando que a psicanálise reconhece à mulher o direito de emancipar-se da tutela do homem, em consequência da superação da valoração narcísica do pênis. O próprio autor localiza a causa da emancipação da mulher em função de um processo sociocultural de superação da valoração narcísica do pênis, isto é, da assimilação de um conhecimento divulgado pelo analista, e portanto não devido ao reconhecimento da psicanálise na forma de direito. O status e os papéis da mulher na sociedade são determinados pela estrutura social.

A terceira característica ideológica apresentada por Garbarino refere-se à aceitação da inveja e da destrutividade por parte do analista. Essa aceitação é decorrente de insight e de integração psíquica, em cuja base se desenvolve uma ideologia sobre a inveja e a destrutividade. Se evidências quanto à inveja e a impulsos destrutivos como constituintes da natureza humana são alcançadas pela técnica psicanalítica, esta entretanto não estabelece o destino sociocultural do novo conhecimento; enquanto ciência aplicada pode influir, ainda sem determinismo, nos métodos educacionais, na legislação criminológica, e assim por diante.

A quarta característica sublinha o ideal de autenticidade da "ideologia psicanalítica". Segundo nossa posição, consideramos o ideal de autenticidade como atitude característica da mente do cientista, treinada para a aplicação do método científico.

Finalmente, Garbarino indaga "se a psicanálise é uma ideologia reacionária ou burguesa". Baseada em teorias e hipóteses de trabalho a serem testadas, os adjetivos de reacionária ou burguesa não cabem como atributos da psicanálise; porém, se estivermos concernidos com pensamentos ideológicos, a teoria psicanalítica pode ser reformulada em conceitos de ideologia reacionária, burguesa ou revolucionária - a revolução que se estendeu e vem se estendendo na mudança do costume, sem possibilidade de controle científico ou antecipação de como será amanhã; a revolução que se estendeu ao campo da educação e da moral depende não somente da incorporação cultural de conhecimentos psicanalíticos, mas também de processos sociais que escapam a qualquer espécie de determinismo científico. Assim como existe uma evolução no sentido de uma ideologia favorável à psicanálise, existe também uma ideologia desfavorável, que se utiliza de conhecimento científico para fins destrutivos. Reelaborada ideologicamente, a psicanálise pode ser utilizada tanto para progresso como para regressão. As ideologias desenvolvem-se em função de estruturas sociais e espelham-se em condutas significativas.7

Bion (1971) tem se preocupado em equipar o analista de recursos para protegê-lo do risco de estar sob o engano de produzir pensamento ideológico e usá-lo como pensamento científico. A fim de averiguar a qualidade de suas interpretações, organizou uma grade para classificar em categorias o material do paciente e as interpretações psicanalíticas. As categorias abrangem desde a formulação do pensamento mais rudimentar até a científica.

Abordando o problema do analista dentro da realidade social que o rodeia, Gilberte R. de García Reinoso (1971) coloca as seguintes questões: se sua atividade profissional se desenvolve livremente em um mundo perturbado, ou se sua liberdade é uma suposta liberdade; se não é isolamento, em consequência do mundo que o rodeia, e, se assim for, é produto de sua responsabilidade, isto é, esse isolamento é um papel ativo a serviço da ordem estabelecida. Quanto ao aspecto técnico, a autora assinala a importância de situar a teoria e a prática psicanalíticas em seu contexto real social, exemplificando com a situação em que aderir ou não aderir são formas de incluir o papel político. A autora nos lembra um aspecto de relevante importância, quando a realidade externa se impõe ao analista pressionando-o, seja para dar uma contribuição que não tem, seja para obstar a contribuição que pode fazer. É obvio que a liberdade profissional, distinta da liberdade para pensar cientificamente, em regimes totalitários, pode ser tolhida. O que, porém, é incompatível com a atitude científica é o analista enganar-se, acreditando que aderindo ou rejeitando uma greve estaria preservando sua liberdade de pensamento. Se realmente estiver internamente livre, enquanto não houver sanções sociais proibitivas, prosseguirá trabalhando conforme os requisitos técnicos, mantendo seus esquemas de atendimento segundo as necessidades de cada caso. Assim, por exemplo, embora os horários de trabalho sejam costumeiramente adaptados ao calendário geral, o analista pode organizá-los de acordo com a realidade exigida pela situação de trabalho.8

A orientação técnica que preconiza ao analista abster-se de incluir na situação analítica sua realidade social ideológica não implica alienação social. Esse isolamento, analogamente, corresponderia à assepsia que o cirurgião deve observar em função de um fato que independe de suas ideologias. Se a abstenção do analista é assepsia prejudicial à ciência analítica, que se indiquem, de modo objetivo, os inconvenientes técnicos e se definam as novas premissas. Os argumentos de que a técnica analítica aliena o analista seriam válidos para toda a pesquisa realizada até o presente, visto que o analista sempre se eximiu de incluir na situação analítica sua realidade social referente a pontos de vista pessoais, preconceitos, ideologia religiosa etc.9

O papel do analista enfrentando os problemas sociais da época atual, afirma Grinberg (1970), "para uns encerra o perigo de afastar-se da situação analítica, e para outros é contribuição indispensável da psicanálise, pois ideias e teorias novas permitem novas abordagens e suscitam interrogações". A nosso ver, as duas posições mencionadas por Grinberg são adequadas desde que sejam consideradas dentro de seus respectivos contextos, isto é, o trabalho do analista quando em situação analítica e seu trabalho quando fora daquela situação.

Ao concluir sua argumentação, García Reinoso (1971), indaga se o terapeuta isola ou reintegra os indivíduos na sociedade, e, se os reintegra, o que é sua meta - se é uma reintegração que seja "conscientificação" de seus aspectos agressivos, reconexão com aspectos intoleráveis da realidade e questionamento radical. Parece-nos que essa pergunta inclui uma confusão entre a abstenção do analista e a abstenção do paciente, quando, ao contrário de alienar, a abstenção do analista visa prover ambiente para que o paciente possa expressar-se o mais livremente possível. A colocação da autora nos lembra a luta do paciente para mudar as atitudes do analista de acordo com seus desejos, propósitos e fantasias, queixando-se continuamente de que o analista se mantém estranho e distante. De fato, o analista não isola nem integra o paciente na sociedade, pois sua meta é desenvolver insight, do qual o paciente fará o uso que lhe aprouver: se integrando, isolando ou combatendo sua sociedade são assuntos que transcendem aos objetivos do psicanalista. Se a integração do paciente na sociedade for meta do psicanalista, sua técnica deverá ser reformulada.

Segundo ponto de vista de Gitelson (1965),

a psicanálise enfrenta um período da história caracterizado por angústia, pela ameaça das máquinas calculadoras, pelos líderes ou pelas técnicas políticas que tentam controlar os povos. O psicanalista sente-se tentado a abandonar a exclusividade e o isolamento característicos de seu trabalho; busca, então, a cooperação interdisciplinar e participa em movimentos de massa e em associações populares para sentir-se protegido, e assim se perde a identidade funcional da psicanálise. [...] A prática analítica é um trabalho solitário, que exige uma enorme capacidade para tolerá-la. [...] podemos ter essa capacidade para tolerar as incertezas aguardando os resultados, em lugar de desejar e buscar soluções onipotentes.

De forma sistemática, Money-Kyrle (1944) situa o problema do analista frente à realidade social: "A psicanálise entra para o quadro das ciências aplicadas quando tenta estabelecer o que é verdadeiramente o bem-estar do homem." O mesmo autor transfere o problema ético do plano filosófico para o científico, considerando que a filosofia tem a tarefa preliminar de colocar problemas novos à ciência, cabendo a esta respondê-los. A técnica psicanalítica, ainda citando o mesmo autor, permite ampliar os limites do consciente, abrindo para a psicanálise a questão: como são afetadas nossa moral e nossa política na medida em que nos tornamos mais conscientes?

Áreas institucionais do psicanalista: Sociedade de Psicanálise, Instituto e Associação de Candidatos

Partindo do fato de que (1) toda sociedade é constituída de indivíduos associados por objetivos comuns, (2) reagindo às expectativas de comportamento definidas em padrões, (3) as quais se organizam em estruturas funcionais através de status, de papéis e da institucionalização dos modos de sentir, pensar e reagir - a interação psíquica de cada membro da sociedade é tão significativa quanto a estrutura em que se definem o status, os papéis e as leis estatutárias para seu funcionamento.

Atentando-se para a realidade de que as Sociedades de Psicanálise congregam associados com status e papéis de graduados em psicanálise e, portanto, com objetivos de classe, enquanto os Institutos reúnem elementos com status de docente e discente para os fins de formação de novos analistas, o caráter de organização psicanalítica híbrida vem se acentuando. Historicamente vem ocorrendo com a psicanálise o mesmo que se deu em todo o campo da ciência. Para não irmos até a classificação positivista de Comte, entre nós é fato conhecido que os institutos biológicos e de higiene diferenciaram-se da faculdade de medicina, os últimos posteriormente organizando-se em faculdade de higiene. A previsão de que os Institutos de Psicanálise virão a se constituir em instituto independente ou em faculdade para a formação de psicanalistas foi apresentada por Luiz Galvão (1966), em trabalho no qual discute o programa e a profissionalização do psicanalista, e por David Ramos (1967), considerando a psicanálise uma ciência equidistante da medicina e da psicologia.

A psicanálise não podia ter se desenvolvido de outra forma, isto é, reunindo em um só organismo a Sociedade e o Instituto. Entretanto, tendo alcançado o status de ciência, é tempo de nos indagarmos sobre as vantagens e desvantagens de ser mantida a hibridez, quando cada vez mais se acentuam as diferenciações de funções e objetivos.10

No que tange ao indivíduo, o problema de maior significação refere-se às questões de seleção e formação. Como estes aspectos vêm sendo objeto de estudo e tema de congressos, concentramos nossa atenção sobre os pontos de interação entre indivíduo, Sociedade, Instituto e Associação de Candidatos. Focalizando um aspecto perturbador dentro das Sociedades e dos Institutos, Marie Langer (1971) aborda o problema das divisões em subgrupos rivais, que contém o perigo do perfeccionismo e da organização de sociedade de líderes.

No âmbito das Sociedades de Psicanálise e dos Institutos, verificam-se conflitos desenvolvidos em função de pensamento ideológico, como entre aqueles que restringem o campo da psicanálise à relação bipessoal do "setting analítico" e, no extremo oposto, aqueles que propõem incluir as ideologias do analista na situação analítica. Outro exemplo da inclusão perturbadora da realidade social pertinente ao analista didata encontra-se quando se estabelecem relações sociais e íntimas entre analistas da comissão de ensino e candidatos. Nessa situação, o analista didata está sujeito a receber de seu paciente "alusões" referentes a seus pares, com os quais também priva socialmente, criando-se, de certo modo, a mesma dificuldade em manter a situação analítica "asséptica", em cidades de pequena população.

Por outro lado, o setting analítico pode contaminar os settings institucionais e, nesse caso, os candidatos terão de enfrentar abstenções necessárias dentro da situação analítica, mas que estendidas para fora dela obstam o desenvolvimento do ensino e impedem o crescimento da Sociedade analítica.11

Os candidatos do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise em São Paulo organizaram-se em uma Associação. Esta experiência tem se mostrado útil em vários aspectos referentes ao ensino e às relações entre os corpos docente e discente.12

As pressões da realidade social

A teoria psicanalítica transformada em pensamento ideológico poderá concretizar-se tanto em pensamentos favoráveis quanto em pensamentos desfavoráveis à aceitação do conhecimento científico. O psicanalista não escapa dessa realidade, da realidade social que define o status, em larga escala, pela valorização do prestígio do "poder" e do fator econômico. Consequentemente, sua clínica particular é, em grande parte, selecionada em termos de recursos econômicos do paciente. Focalizando a solução de conflitos do psicanalista com a realidade social, Abadi (1971a) coloca "o porvir da psicanálise na dependência da integração que os analistas alcançam entre vida e trabalho".

O status social da psicanálise varia em função das ideologias favoráveis e desfavoráveis. As ideologias favoráveis à psicanálise frequentemente adquirem um significado idealizado, como aquele que atribui ao psicanalista poderes mágicos de "cura" e de penetração na mente dos indivíduos. Uma das consequências da idealização se faz sentir no número de profissionais que se intitulam psicanalistas sem formação em cursos reconhecidos de psicanálise, ou com formação em cursos "proliferado-res" de analistas em seis meses ou mais, porém sempre inadequados para o preparo essencial da personalidade e aplicação da técnica de abordagem do inconsciente. As ideologias desfavoráveis manifestam-se por várias formas de denegrir a ciência, encontrando-se, entre outras, a afirmação de que "a psicanálise já era", que o analisando se torna para sempre dependente do analista.

O status social da psicanálise não é afetado somente pelo leigo em psicanálise, mas também pelas ideologias do próprio analista. Assim, a profissionalização do psicanalista, que se torna cada vez mais urgente, inclusive por fatores sociais, encontra barreiras tanto no consenso social como entre os próprios psicanalistas. Para focalizar um aspecto controvertido, citamos Abadi (1971b):

A submissão do analista restringe a psicanálise a seu aspecto médico, negando-lhe a amplitude que tem como ciência antropológica. Os psicanalistas agrupam-se em associações que adquirem rasgos esotéricos e, portanto, a magia adquire uma importância relevante como técnica defensiva frente à atuação paranoide. Como organismo vivo, a psicanálise deve abrir-se (influenciar e deixar-se influenciar) para o mundo, recebendo os estímulos dos progressos científicos e das mudanças sociais.

Em São Paulo, o Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise está aberto para a formação de psicanalistas com graduação universitária não somente em medicina, graças à mentalidade realmente universitária de Durval Marcondes, pioneiro no desenvolvimento da psicanálise na América Latina.

A América Latina conta com mais uma Sociedade na qual, em seus dispositivos estatutários, a formação do psicanalista não é considerada como especialização médica, desta vez, graças à mentalidade científica dos psicanalistas Willy e Madeleine Baranger, que formaram a Associação Psicanalítica do Uruguai.

 

4. Síntese e conclusões

Discorremos sobre alguns conceitos sociológicos tendo por fim focalizar os processos sociais na elaboração da realidade social. Através da personalidade, em parte organizada em função dos processos socio-culturais, o paciente e o analista levam para a situação analítica a realidade social dentro da qual se moldaram e em função da qual vivem. Entretanto, se ao paciente o setting oferece condições para "abrir-se", não apenas relatando mas vivenciando a experiência analítica, do psicanalista em trabalho é esperado que se abstenha de reviver, na relação com o paciente, seus modos peculiares e pessoais de "ser". É óbvio que, como ser social, a objetividade do analista é delimitada pela amplitude do insight que o ser humano pode atingir. As premissas da técnica psicanalítica habilitam o psicanalista a se propor a tarefa de, o quanto possível, evidenciar os elementos primitivos de natureza psíquica subjacentes às elaborações de processos psicossociais.

Para colocar a discussão dentro do mesmo universo, achamos necessário definir os termos ideologia, doutrina e ciência,assim discriminando o que significamos quando nos referimos à psicanálise ideológica, doutrinária ou científica.

Como objeto de investigação, os estudos sociológicos e psicanalíticos da ideologia referem-se à pesquisa sobre as causas e os mecanismos que produzem um sistema de pensamento (certo ou errado, racional ou irracional) para justificar a conduta em relação a uma categoria de fatos. O relatório centraliza suas considerações sobre a ideologia total, como parte da realidade social, que atualmente se tornou proeminente nos aspectos político-econômicos.

Se é impossível ao psicanalista erradicar de si a própria realidade social e psíquica, o método científico instrumentado pela técnica psicanalítica constitui o recurso de redução das variáveis interferentes no setting analítico. Atendendo ao fato de que as Sociedades de Psicanálise e os Institutos de Psicanálise cada vez mais se distanciam em termos de status e de papéis respectivos, consideramos como perspectiva de futuro próximo o desmembramento do organismo que acentuadamente vem desenvolvendo as características de entidade híbrida. Em correspondência a uma "conscientificação", surge uma nova área institucional, com a organização da Associação de Candidatos. Finalmente, consideramos a pressão social sob a forma de ideologias favoráveis e desfavoráveis influindo sobre o status,os papéis e as ideologias do psicanalista, tornando inadiável uma tomada de posição para a legislação da profissão, fundamentada em critérios que reconheçam a quem por direito legítimo cabe intitular-se psicanalista.

Na discussão do relatório em reunião da Sociedade Brasileira de Psicanálise, os colegas concordaram com o esquema e com a abordagem dele. Os aspectos focalizados durante a discussão foram os seguintes:13

■ O problema da ideologia poderia ser esclarecido utilizando-se o conceito de ideologia global para compor o esquema: tendo como ponto de partida a realidade social, poderíamos escalonar a ciência, a ideologia e a utopia, esta última prescindindo de qualquer aspecto da realidade;

■ Foram apresentadas sugestões para que se ampliasse o aspecto referente ao processo analítico, focalizando a experiência no setting analítico, a qual só acontece naquele dado momento e da qual os conhecimentos gerais são inferidos. O elemento constante é a atitude do analista. O analista que aceita o critério de cura funciona como preposto da sociedade e não "permitirá" mudança social sem questionamento. Um estudo cronológico da obra de Freud poria em evidência que o trabalho do mestre foi marcado pelos acontecimentos históricos da época em que viveu, fato que mais uma vez enfatiza as interrelações nas duas direções - do psíquico para o social e deste para aquele;

■ Indagações foram apresentadas nas seguintes formulações: se a ideia de transformar o Instituto de Psicanálise em faculdade não é utópica; se para a aplicação da psicanálise ao grupo não é exigido o treinamento específico;

■ Ao lado das sugestões para uma abordagem mais concentrada no processo analítico, foram feitas sugestões para uma abordagem mais ampla sobre as ideologias político-econômicas incidindo sobre a prática analítica, quando o analista não percebe contradições entre sua ética e a ética do poder econômico;

■ O psicanalista está sempre trabalhando com ideologias, porém é na ciência aplicada que os conhecimentos são utilizados para resolver problemas práticos, e é quando mais sofre as demandas da sociedade. A psicanálise aplicada leva à profissionalização. A volta para a "análise descobrimento" se faz nos Institutos, formando pesquisadores e analistas didatas.

 

Notas

1 Trabalho original publicado em 1972: Revista Brasileira de Psicanálise, 6(3-4),282-305.

2 Relatório. Tema oficial do ix Congresso Latino-Americano, Caracas, julho de 1972.

3 Termo técnico da metodologia e da epistemologia, refere-se à distorção da realidade devido à contínua participação do observador no que está observando e por ter ele participado de uma só cultura e sociedade, em uma só época, e por ser esta experiência limitada, em grande parte, aos grupos de que ele participa e também aos acontecimentos de sua vida (Pierson, 1949).

4 Larousse du XXe siècle (1928): "Idéologie (de idée et du gr. logos, discours). Science des idées. Système qui considère les idées prises en elles-mêmes, abstraction faite de toute métaphysique. Système d’idées constituant une doctrine politique ou sociale e qui inspire les actes d’un gouvernement ou d’un parti. En mauv. part. Doctrine qui prône un ideal irréalisable; paroles ou conduite inspirées par une telle doctrine." "John Locke, philosophe anglais, 1632-1704. Dans ¡’Essais sur l’entendement humain, Locke a pour but de detérminer les limites de l’entendement humain, et de faire voir devant quelles questions il doit s’arrêter. Il refute, dans un premier livre, la thèse des idées innées, qui, sous prétexte d’innéisme, laisse place à l’arbitraire de l’inspiration personnelle. Puis il étudie les materiaux de nos connaissances, qui sont les idées de sensations, ou qualités perçues par les sens, et les idées de réflexion, ou idées de facultés de notre âme; il suit de cette analyse que nous ne pouvons avoir aucune idée des substances ou essences de choses." Dictionary of Britannic World Language: "Ideology:1. The ideas or kind of thinking characteristic of an individual or groups, specifically the ideas and objectives that influence a whole group or national culture, shaping especially their political and social procedure: German ideology. 2. The science that treats of the evolution of human ideas (ideo+logy)..

5 Referindo-se à posição da psicanálise na abordagem das ideologias, Caruso (1971) considera-a "meio para a crítica das ideologias e meio para captar as próprias racionalizações ideologicamente condicionadas. O analista não tem que tomar posição frente a seus pacientes com respeito a questões do modelo social; deve fazer psicanálise e socioanálise".

6 A objetividade do analista, afirma Etchegoyen (1971), "pode também estar perturbada a partir de seus compromissos ideológicos. É este um campo de perturbação que deve ser isolado da neurose de contratransferência, porque coloca problemas que devem ser resolvidos não só pela investigação psicanalítica, mas também pela sociologia. O problema técnico se configura quando o analisando se acredita endoutrinado pelo analista. Definimos a ideologia como um processo de distorção que o interesse impõe ao pensamento". Enviando-nos seu ponto de vista, Luiz Miller de Paiva enunciou-o nos seguintes termos: "O analista não deve sair de sua posição interpretativa diante da realidade social. Sendo a psicanálise ciência do inconsciente, deve o analista mostrar ao paciente o que se passa no seu inconsciente em face da realidade político-social. Ao lado da realidade política, temos a situação atual de liberdade sexual. As jovens que usam da liberdade sexual como pretexto para agredir os pais ou os preconceitos estão sobre a ação do tanatismo. Contudo, por amor amadurecido, a atividade genital em moça solteira pode ser interpretada pelo analista como fator libídico e, portanto, progressista em nossa cultura..

7 Distinguindo entre pensamento científico e pensamento ideológico, León e Rebeca Grinberg (1971) definem com clareza e precisão: "De nossa parte, pensamos que a análise é uma teoria científica que se 'ideologiza’ 11 em sua prática. [...] A ideologia deveria ser 'conscien-tificada’ pelo analista e instrumentada teoricamente. Um analista sem ideologias, como sem contratransferência, seria um robô. [...] Tomemos o termo ideologiaem sua acepção mais corrente, como um modo de ver o mundo, em função de uma convicção sociopolítica valorativa das estruturas socioeconómicas e de seus conflitos, porém que, a nosso juízo, incluem em cada indivíduo fantasias inconscientes específicas..

8 Ulloa (1971) refere-se a esse problema: "Em certo 12 momento, configura-se que um número considerado mínimo de sessões semanais garante que um tratamento é psicanalítico, e abaixo desse número é só psicoterapia. O problema não é colocado sobre a norma técnica, mas sobre o caráter de normas acerca das quais existe o palpável 'sentimento’ de que, do ponto de vista oficial da instituição, o não cumprimento constitui uma transgressão..

9 Pronunciando-se sobre a inclusão, na situação analítica, da realidade político-ideológica, Gecel Szterling expressa-se nos seguintes termos: "Dificilmente o psicanalista pode deixar de ter uma ideologia política, pois seria um alienado em um campo com o qual lida diariamente. Entretanto, sou contra a politização da psicanálise, pois o trabalho analítico deve manter-se o mais estritamente possível no setting analítico, seja qual for a realidade social. De algum outro modo, porém, terá possibilidade para dar contribuição no campo social, seja individualmente, seja através de ambulatórios, de programas de ensino e de higiene mental..

10  Fernando Ulloa (1971) coloca o problema da contaminação de settings institucionais: "O acordo e o setting em que se dá a relação analista-analisando constituem um sistema artificial legitimamente estabelecido para o fim de possibilitar o êxito de determinados objetivos. [...] As disposições que regulam a fronteira da relação analista-analisando tendem a adquirir um alto valor normativo, chegando a gerar ou a refletir-se nas normas que organizam a associação nas quais os analistas estabelecem institucionalmente suas relações. É nessa passagem que o que é artifício técnico legítimo na situação analítica pode gerar uma arbitrária regulamentação das relações institucionais. [...] As disposições que integram o setting analítico tendem a perder o significado de valiosos instrumentos técnicos, que possibilitam o processo analítico, e começam a adquirir uma qualidade ritualística administrativa."

11 David Ramos (1970), ponderando sobre o futuro da psicanálise, conclui: "A psicanálise sofre atualmente um processo crítico de contestação. Os psicanalistas têm a obrigação de localizar os pontos fundamentais da crítica e da contestação através da autocrítica, a fim de fazer um levantamento de suas responsabilidades na referida crise. Dado que não se pode separar o método da personalidade do analista, conclui-se que a crise é do psicanalista, e quem está sendo contestado é ele. A contestação do método é consequência."

12 Do relatório da Diretoria do Centro de Estudos de Psicanálise Luiz Vizzoni, Associação dos Candidatos do Instituto de Psicanálise de São Paulo, destacamos: "Todos sabemos que não foi um ano fácil: mal-entendidos, falta de informações, distorções, ansiedades características de todas as situações novas e modificadoras nos levaram a atravessar diversas crises, que vemos hoje terem sido de 'evolução’. Temos a impressão de estarmos saindo fortalecidos em nosso amadurecimento pessoal e profissional, bem como em nossa integração como entidade e com o Instituto ao qual pertencemos. Sem otimismo exagerado, temos a firme impressão de que a nova diretoria a ser eleita encontrará um clima propício para um trabalho mais sistemático e organizado que contribua cada vez mais para que a formação dos novos psicanalistas se caracterize por um processo de convívio dialético, com evolução constante de todos os seus participantes, e se afaste cada vez mais de um modelo unidirecional em que programas prefixados são transmitidos e aceitos estaticamente" (W. Kenzler, dezembro de 1971).

13 As intervenções foram feitas pelos colegas Armando Ferrari, Mário Yahn, David Ramos, Gecel Szterling, Judith Andreucci e Laertes Ferrão. Os comentários de Amazonas Alves Lima, candidata do Instituto, nos foram enviados por escrito.

 

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