SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.50 issue2The concepts of trauma and regression in Sándor Ferenczi's work, and their possible articulations with the theoretical proposals of the Paris Psychosomatic SchoolHeterotopic corporealities: human assemblies and disassemblies in the Amerindian worlds and beyond author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.50 no.2 São Paulo Apr./June 2016

 

DIÁLOGO

 

Fantasia e pornografia: transformações do desejo em tempos atuais

 

Phantasy and pornography: transformations of desire in the present times

 

Fantasía y pornografía: transformaciones del deseo en tiempos actuales

 

 

Francesco Castellet y BallaràI; Tradução Tania Mara Zalcberg

IMembro da Società Psicoanalítica Italiana (SPI), em Roma, Itália

Correspondência

 

 


RESUMO

O autor abordará o fenômeno atual do sexo virtual, que cada vez mais faz parte da nossa sexualidade, em todas as idades, influenciando, moldando e sendo moldado por nossas fantasias sexuais. Ser capaz de criar uma relação analítica a dois em que esse tipo de estado mental autoerótico, com frequência dissociado, pudesse ser partilhado e colocado em palavras seria crucial para personalidades inibidas, retraídas e autísticas, mas é também importante como instrumento para investigar relações internas de objeto de nossos pacientes em geral.

Palavras-chave: pornografia; masturbação; fantasia; desejo; neurociência afetiva; teoria relacional e intersubjetivismo; trauma relacional precoce e dissociação.


ABSTRACT

The author will address the present day phenomena of virtual sex that is increasingly part of our sexuality at all ages, influencing and shaping and being shaped by our sexual fantasies. Being able to co-create an analytic relation where such an autoerotic often dissociated mental state could be shared and worded could be crucial for inhibited, retired, autistic personalities but it's also important as a tool to explore internal object relations of our patients in general.

Keywords: pornography; masturbation; fantasy; desire; affective neuroscience; relational theory and intersubjectivism; early relational trauma and dissociation.


RESUMEN

El autor abordará el fenómeno actual del sexo virtual que, cada vez más, forma parte de nuestra sexualidad, en todas las edades, influyendo, moldeando y siendo moldeado por nuestras fantasías sexuales. Ser capaz de crear una relación analítica a dos en la que este tipo de estado mental autoerótico, con frecuencia disociado, pudiera ser compartido y expresado con palabras sería crucial para personalidades inhibidas, retraídas y autísticas, pero es importante también como instrumento para investigar las relaciones internas de objeto de nuestros pacientes en general.

Palabras clave: pornografía; masturbación; fantasía; deseo; neurociencia afectiva; teoría relacional e intersubjetivismo; trauma relacional precoz y disociación.


 

 

Em última análise, o orgasmo exige momentos de inconsciência, experiência extremamente ameaçadora para quem tem profunda desconfiança. Experiências do início da vida [...] serão evocadas inevitavelmente durante a experiência sexual.

(Andrea Celenza)

Pietro Adamo (2004), reconhecido acadêmico italiano em estudos de mídia sobre pornografia, afirma: "A partir do momento da sua legitimação no mundo ocidental [...] no final dos anos 1960, a pornografia de massa tornou-se um fenômeno cultural e econômico sem comparação na modernidade recente" (p. 95).

Hoje em dia, a pornografia, definida, em termos gerais, como representação explícita de órgãos sexuais em estado de excitação, atos sexuais e orgasmos, participa tanto da nossa cultura popular que o termo voyeurismo está se tornando obsoleto, bem como sua contraparte, exibicionismo. Explorar a pornografia na Internet também faz parte da educação sexual de nossos adolescentes e de autoentretenimento/diversão em todas as idades, seja sexo solitário, seja de casal.

Além disso, os avanços técnicos em ciência da computação e a difusão de mídia social na Internet permitem que as fantasias eróticas pessoais e privadas do indivíduo sejam partilhadas com outros e/ou sejam representadas em pornografia na Internet. No momento, a virtualidade limita-se apenas aos canais perceptivos visuais e auditivos, mas, em futuro próximo, substitutos digitais de outros canais (cheiro, gosto e toque) provavelmente estarão disponíveis também, bem como a possibilidade de criar avatares/bonecos sexuais de estrelas pornô ou adaptados às nossas fantasias eróticas pessoais.

Assim, o vício ou dependência ao mundo virtual, no campo erótico/sensual/sexual, já uma poderosa realidade econômica e sociológica atual, ficará tão disseminado que os termos vício ou dependência provavelmente serão inadequados.

Na realidade, as mídias sociais estão mudando nosso mundo relacional também no que diz respeito a sexualidade e intimidade.

A masturbação é cada vez mais aceita como aspecto normal da sexualidade humana, em todas as idades.

Colarusso (2012), em seu abrangente artigo sobre a fantasia masturbatoria central (CMF), atualiza e amplia sua definição e uso a partir do conceito original de Laufer (1976), inicialmente limitado a adolescentes do sexo masculino e vinculado à resolução do complexo de Édipo na adolescência. Ao relatar seus estudos sobre CMF em pacientes do sexo masculino de todas as idades e sua modificação no curso do tratamento analítico, esse autor propõe que a fantasia masturbatória central começa durante os anos pré-edípicos e edípicos e se consolida na adolescência, mas permanece em processo de evolução contínua durante o ciclo vital. Além do mais, em nossa prática clínica, devemos considerá-la como conceito essencial para compreender processos psicodinâmicos normais e patológicos em pacientes adultos, do sexo masculino e feminino, independentemente de sua orientação sexual.

Ele também ressalta que esse tema é pouco investigado e elaborado de forma ativa durante a formação psicanalítica, em primeiro lugar, e na prática analítica habitual, depois, dentro da nossa comunidade, apesar da sua utilidade.

Especialmente em casos de transtornos graves de personalidade, ele afirma que "a investigação das fantasias masturbatórias de indivíduos sujeitos a tais experiências é crucial para compreender sua psicodinâmica e possivelmente na prevenção de delitos sexuais" (Colarusso, 2012, p. 943).

Portanto, a questão real sobre masturbação tornou-se o nível/quantidade de imersão e adição ao mundo virtual de pornografia ou fantasias pornográficas vs. relações reais.

Sigmund Freud (1900/1953a, 1908/1959, 1911/1958), no decorrer dos seus escritos, continuou a indagar a respeito do status complexo de Phantasie, em alemão, ou fantasy, em inglês.

Tendo em mente que, em alemão, esse termo significa imaginar, Freud considera que a fantasia está estreitamente vinculada a desejo, independentemente da sua natureza consciente ou inconsciente. Fantasia é uma narrativa visual ou roteiro em que o sujeito está sempre presente, não só como observador, mas como participante ativo, em que se ativam defesas e ocorrem dinâmicas complexas e transformações (Laplanche & Pontalis, 1967). Por exemplo, apenas para mencionar um deles, a inversão de papéis é muito comum, como observamos frequentemente em devaneios. Segundo Freud, tanto o devaneio quanto o sonho noturno partilham a mesma natureza e objetivo fundamental de representação de desejo e realização por meio da alucinação visual da experiência de satisfação.

Assim, podemos considerar as fantasias masturbatórias, de modo semelhante ao devaneio, como um tipo de pensamento (icônico) que, conforme a proposição de Hartmann (1939), pode funcionar como "preparação para a realidade e pode conduzir a um domínio melhor dela. Fantasia pode satisfazer uma função sintética ou ligar provisoriamente nossas necessidades e objetivos com maneiras possíveis de realizá-los" (p. 18).

A excitação sexual com certeza é gerada por fantasias (narrativas ou roteiros) que

nascem e se cultivam em cada mente imatura durante o início e o meio da infância e evolvem para fantasias masturbatórias singulares na adolescência. Essas fantasias masturbatórias, por sua vez, tornam-se a base sobre a qual se encena a tarefa socialmente adaptativa da relação sexual. (Shapiro, 2008, p. 123)

Podemos definir o trauma relacionai inicial (ERT) como a não confirmação do estado de self do bebê pela figura de apego, geralmente genitor ou cuidador, isto é, a não confirmação do estado afetivo interno do bebê em busca de validação na relação com um adulto significativo (Bara-don, 2010). O trauma relacional inicial não recuperado de forma crônica pelos cuidadores leva à dissociação crônica como principal mecanismo de defesa e subsequentemente à tendência a desenvolver psicopatologias graves na adolescência ou na vida adulta, que incluem transtornos dissociativos de identidade, transtornos de estresse pós-traumático, transtornos psicóticos, transtornos alimentares, abuso de substâncias e alcoolismo, transtornos somatoformes e transtornos sociopáticos e borderline de personalidade (Schore, 2010).

Essas consequências psicopatológicas do ERT explicam-se pelo fato de que, ao final do primeiro ano de vida, o hemisfério direito do cérebro imprime, na memória implícita processual inconsciente, expectativas processuais da disponibilidade dos outros durante o estresse, que são vivencia-das de forma carregada afetivamente, cognição encarnada ("intuição") que é muito potente em orientar o comportamento (Schore, 2010, p. 28).

As fantasias masturbatórias são uma das "narrativas" mais privadas, certamente baseadas em "intuição", que podemos explorar, como psicanalistas, para compreender experiências relacionais iniciais e seus resultados com frequência traumáticos. A psicanálise, com seu método peculiar de investigação da mente humana em uma relação dual e emocionalmente íntima, tem uma longa tradição de pesquisa no campo da fantasia erótica da mente humana, durante todo o ciclo vital, que é o motor da excitação sexual por trás da masturbação e da sexualidade com um parceiro.

O que sabemos sobre as origens das fantasias masturbatórias?

De acordo com a neurociência afetiva contemporânea (Panksepp & Biven, 2012), o desejo sexual constitui um sistema afetivo primário separado com seu circuito específico diferente em seres humanos do sexo masculino e feminino.

No nível psicobiológico, há diferenças específicas e marcadas entre os dois sexos e é possível toda uma gama de variabilidade que inclui transgêneros, homossexualidade, bissexualidade, mas também mente masculina em corpos femininos e indivíduos com cromossomos xy e características de corpo feminino e mentes masculinas típicas.

Na realidade, mentes e corpos em uma única pessoa podem ser incongruentes e dissonantes, o que surge plenamente à vista com a puberdade na adolescência.

O problema é que, no nível corporal, o gênero sexual normalmente é evidente em si (pênis ou vulva), enquanto no nível mental não o é, apesar de o aspecto crucial estar na mente/cérebro.

Por exemplo, é bem conhecido que a exposição a extremo nível de estresse, a estrogênio e a poluentes no ambiente durante o último trimestre de gestação pode produzir bebês com o sexo da mente e o do corpo opostos, já que a sexualização como gênero do cérebro ocorre durante esse período e segue um trajeto diferente com hormônios diferentes comparado ao do corpo.

Contudo, a bissexualidade originária, postulada por Sigmund Freud (1905/1953b) em seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, está ganhando uma fundação biológica que apoia uma visão muito mais aberta sobre identidades e escolhas sexuais, ao extremo de se considerar heterossexual ou homossexual apenas indivíduos que são mais exceção do que regra, e, o que é mais importante, a identidade de gênero é determinada pela densidade de receptores cerebrais de testosterona que se fixa no recém-nascido e depois não é passível de modificação pela educação ou psicoterapia.

Assim, a identidade de gênero não é culturalmente determinada, mas pode ser culturalmente distorcida.

Na verdade, fatores culturais e históricos influenciam as narrativas pessoais eróticas ou fantasias masturbatórias que os adolescentes e depois adultos criam para dar apoio à excitação. A cultura muda constantemente o que vivenciamos como excitante, especialmente no nível da linguagem e da moda corporal.

Todavia, alguns padrões constantes em fantasias sexuais foram descritos por pesquisadores (Masters & Schwartz, 1984), tais como substituição do parceiro estabelecido, encontros sexuais forçados, sexo grupal, imagética sádica, mas também memórias de experiências sexuais passadas. Essas fantasias são comuns a homens e mulheres hetero e homossexuais.

Na puberdade, as fantasias masturbatórias sob a influência do aumento hormonal tornam-se mais intensas e focadas em penetração e suas formas ativa e passiva para ambos os sexos.

Idealmente, no início das relações eróticas de adolescentes e de adultos, o fato de o casal partilhar fantasias conscientes permite excitação sexual e intimidade mais francas, ao reduzir a vergonha, a culpa e a ansiedade vinculadas à manutenção secreta das próprias fantasias eróticas e as profundas necessidades emocionais por trás.

Isso fica especialmente evidente no caso de adolescentes gays que, como primeiro passo, precisam aceitar suas fantasias homoeróticas como as condições dominantes para a excitação. Nesse caso, explorar pornografia gay pode ter um papel fundamental (Lemma, 2015).

 

Psicanálise clínica de fantasias masturbatórias

Aprofundando o trajeto para as raízes das fantasias masturbatórias na prática clínica, estudiosos da psicanálise investigaram os vínculos entre as vicissitudes relacionais do bebê e o desenvolvimento do auto e do heteroerotismo.

Segundo o psicanalista francês René Roussillon, uma das questões mais problemáticas da adolescência é a integração de Eros, desejo sexual (amor apaixonado) e orgasmo sexual na vida psíquica.

A partir de um ponto de vista intrapsíquico, ele propõe diferenciar duas modalidades eróticas que precisam ser integradas ao mínimo de conflitualidade.

A primeira dirige-se ao outro/objeto, aceita a dependência e tenta reduzir seu impacto por meio da posse, comunicação e assim por diante.

A outra desenvolve capacidades autoeróticas por meio da representação interna do objeto e tenta recuperar as qualidades que a idealização heteroerótica precedente deu ao objeto desejado.

Na verdade, a dependência ao outro só é tolerável se não for forte demais; então o sujeito desenvolverá o autoerotismo para lutar contra ela e para relativizá-la.

A tolerância ao autoerotismo é essencial se presumirmos o equilíbrio conflituoso e necessário entre amor e ódio (ambivalência), heteroerotismo e autoerotismo e, finalmente, entre autoerotismo e culpa, quando consideramos que para os objetos primários é inaceitável a paixão ou o ódio expresso em fantasias autoeróticas e ocorre a interiorização deles como superego sádico.

No campo teórico de pesquisa de bebês e neurociência afetiva, essa situação de conflito com os objetos parentais é vista como secundária e descrita em termos de deficit/falta de sintonia na relação com o cuidador, que leva a conflitos internos (identificação com o agressor e dinâmica de self falso-verdadeiro) e dificuldades relacionais com outros em um estágio subsequente.

Em nossa população clínica, trabalhamos, com frequência, com personalidades narcísicas e borderline em que a masturbação e a pornografia podem representar uma compensação parcial importante e não enfrentamento das frustrações inevitáveis vinculadas ao encontro com o outro, outro que atua como limite para as fantasias onipotentes estimuladas como compensação para os sentimentos inconscientes de impotência e desespero devido a traumas relacionais iniciais.

No filme Ela (2013), comédia dramática romântica norte-americana, escrita, dirigida e produzida por Spike Jonze, Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) desenvolve uma relação amorosa apaixonada por Samantha (Scarlett Johansson), sistema operacional inteligente de computador personificado por uma sensual voz feminina. Na verdade, Samantha seduz centenas de usuários ao mesmo tempo, em uma espécie de romance virtual inteiramente baseado em sua presença virtual sedutora, constante e cuidadosa de forma sobre-humana.

O cenário representado em Ela não está muito distante do que tratamos em nossa clínica, especialmente com nerds de computador, viciados em pornografia e mundos virtuais como forma de contornar suas dificuldades relacionais.

Ao mesmo tempo, em outras situações clínicas e da vida cotidiana, a pornografia como fantasia e sexo solitário é também um jeito de lidar com frustrações relacionais e, com frequência, de se adaptar a realidades duras e, às vezes, imodificáveis, tais como solidão, encarceramento, doenças, limitações físicas, incompreensões conjugais, deficit, e assim por diante.

Com certeza, "o estudo da cultura visual permitiria que os psicanalistas reconsiderassem a importância do papel desempenhado pela visão, fantasia visual e representação icônica nas primeiras fases da construção do self e o significado mais amplo da vergonha na vida cotidiana" (Pajaczkowska & Ward, 2008, p. 2).

 

A masturbação e seus dissabores: "A pornografia diz respeito a fantasia"

Se navegarmos em um dos inúmeros sites pornográficos da web, poderemos ter uma ideia geral ou explorar em detalhes como que um imenso catálogo de fantasias sexuais humanas divididas por todas as possíveis variações legais ou quase ilegais, que também constitui uma atualização impressionante da pesquisa sobre as fantasias eróticas antes citadas.

É passível ainda de se considerar como uma espécie de descrição do que pode estimular a excitação sexual de uma pessoa, desde "pornografia" suave e romântica a perversões radicais/bizarras, ou seja, as muitas faces de Eros (McDougall, 1995), o alfabeto da paixão erótica, mas, em minha opinião, também uma espécie de mapeamento de nossos mundos internos relacionais.

Do ponto de vista clínico, sugiro que a sexualidade fantasiada e atuada na masturbação estaria em contato mais próximo e exprimiria claramente a maneira pela qual nossos objetos internos/múltiplos selves se relacionam uns com os outros. É uma espécie de compilação onírica (principalmente por meio de roteiros visuais) de nossas memórias relacionais iniciais, especialmente as traumáticas.

Geralmente a masturbação ocorre em estado mental de dissociação e equivale a atuações [acting outs] em que os selves dissociados, peculiares a cada indivíduo, podem se expressar, em roteiros eróticos que, com frequência, são elaborações em posição de inversão de papéis (Stoller, 1975) dos traumas relacionais iniciais.

Por exemplo, as fantasias sadomasoquistas podem ser relativas ao poder de um genitor rígido, ao passo que, em outros casos, o medo de rejeição, de não ter apoio, está por trás do impulso de se masturbar vendo pornografia, "realizando" virtualmente a fantasia de entrar no corpo de uma mulher, de que ela o sustente com prazer, deseje e não rejeite.

É possível argumentar (Stoller ensina) que os traumas relacionais iniciais são sexualizados/erotizados, de forma secundária, a seguir e após o desenvolvimento das gônadas na adolescência.

Consequentemente, os roteiros pornográficos que possamos encontrar, explorando fantasias masturbatorias e escolhas eletivas de material pornográfico, em nossos pacientes, poderiam revelar dificuldades relacionais iniciais reconhecíveis em seu íntimo.

Ao ficarmos excitados ou estimulados sexualmente por uma sequência particular em um filme ou imagem pornográfica, o que se ativa dentro de nós? Por que escolhemos aquele gesto corporal, posição, som ou expressão mímica particular? Os órgãos sexuais são sempre excitantes per se? Qual o papel da beleza em tudo isso?

Com certeza, partilhamos com outros mamíferos uma linguagem corporal comum que expressa o desejo (tal como o reflexo de lordose); mas também é muito humano, e talvez especificamente humano, que a excitação sexual esteja ligada a fantasias cada vez mais complexas com a idade, a experiência e a liberdade interna. No entanto, são muito comuns fantasias de posse, de submissão e de poder: o assim chamado sadomasoquismo normal (Celenza, 2014).

Por exemplo, o sexo oral pode concretizar a fantasia de tomar posse do corpo do outro, em um rito canibalesco a ser compreendido como forma de se alimentar dos fluidos corporais mais preciosos do outro.

O corpo do outro excitado por "mim" é o alimento narcísico mais precioso. Alimento-me dele; seu prazer me valoriza.

Talvez, a insistência em close-ups genitais, ao limite do tédio, na pornografia seja uma tentativa de evitar focar rostos, nossa mais sofisticada expressão emocional.

Emoções verdadeiras são tão temidas quanto desejadas em indivíduos dissociados traumatizados, e o canal não verbal de mímica é especialmente potente em nós desde as primeiríssimas horas de vida extrauterina (Stern, 1985).

A etimologia de desire (desejo) também é útil para compreender o vínculo possível entre trauma relacional inicial e fantasias eróticas.

DESIRE (desejo): vem do francês antigo desirer, que veio do latim desiderare, "desejar", "querer"; o sentido original possivelmente era "aguarde o que os astros trarão"; da frase de sidere, "dos astros"; de sidus e sideris (genitivo), "corpo celeste", "astro", "constelação". siderado: atordoado, atônito, estupefato. sideraçãq: estar siderado ou atordoado.

(www.wordinfo.info/unit/3601/ip:6/il:S)

Seguindo Winnicott (1969), a falta de investimento narcísico no bebê pelas figuras parentais ou sua perversão (o bebê é meu, eu o crio para minhas necessidades e ele não pode se diferenciar de mim) impede o desenvolvimento do self (self verdadeiro), que é deslocado a uma distância sideral (siderado) do sistema solar da consciência e do ego pela estratégia de sobrevivência do falso self.

Nesses casos, com frequência, o self verdadeiro é vivido como um estranho ameaçador, paradoxalmente, uma aproximação semelhante a um cometa de tempos em tempos.

Desejo sexual encarnado, Eros, é um modo de o self verdadeiro poder estar vivo, expressando novamente suas necessidades e contornando o falso self, cujo acesso à sexualidade é rígido e superegoico, raramente ou jamais orgástico.

Em Eros, sendo possuído por ele, o self verdadeiro floresce procurando o espelhamento libidinal, o desejo original do outro que faltou no início da vida mental: o outro me dessidera, então renasço.

Podemos dizer que, no nível de coesão, estrutura e manutenção do self, a sensualidade como contato/sustentação corporal (ser sustentado nos braços dos pais) antes da puberdade e a sensualidade/sexualidade após têm papel fundamental com respeito a autoestima e valor, empatia e assertividade.

Esse papel do desenvolvimento poderia ser mais bem compreendido se considerarmos que a sensualidade e a sexualidade são como dois lados da mesma moeda, assim como apego e sexualidade não são dois sistemas motivacionais separados (Panksepp & Biven, 2012; Ogden, Minton & Pain, 2006), mas, ao contrário, ganham força um do outro e, no desenvolvimento, um segue o outro.

Além do mais, sexualidade é um termo recente, datando do início do positivismo no século XIX (Foucault, 1984), e dá a sensação de classificação, escola de medicina, do corpo separado da mente. Lichtenberg (2008) também separa sexualidade de sensualidade, mas reserva o primeiro para comportamentos ligados a traumas relacionais.

Para nós, do ponto de vista clínico, é mais proveitoso utilizar o termo "sensualidade, que está mais próximo da intencionalidade do erotismo e de suas radiações estéticas e encarnadas" (Sissa, 2003, p. 7).

A sensualidade, estreitamente ligada às experiências de vida do indivíduo, tem uma evolução, um desenvolvimento peculiar para cada pessoa e, portanto, muda com o tempo. Na antiga cultura greco-romana, Giulia Sissa, professora de história dos clássicos e ciências políticas da ucla, escreve: "Eros não é um repertório de atos sexuais possíveis, mas de desejo que se origina do corpo" (2003, p. 8).

De acordo com Andrea Celenza (2014), podemos considerar as fantasias sexuais como área transicional do brincar e da experimentação do desejo do indivíduo.

Sexualidade e sensualidade consistem em relações íntimas em que os principais instrumentos de comunicação são pré-verbais e, portanto, aqui "superfície" corresponde aos estágios iniciais mais profundos e originários da nossa mente, pertencentes realmente até mesmo ao estágio fetal do desenvolvimento humano, tal como relata Panksepp (Panksepp & Biven, 2012).

Visto que "o sistema de ação de apego parece ser o sistema fundante para o da sexualidade" (Ogden et al., 2006, p. 120), tato e a seguir a pele são respectivamente o canal perceptivo e o órgão sensorial por meio dos quais o corpo interage e finalmente "se funde" com o outro.

Paladar, olfato e audição não são menos essenciais no apego bem como na sexualidade/sensualidade e fusão, demonstrando ainda mais suas profundas interconexões de acordo com a neurociência afetiva.

 

Limites do ego/self e a necessidade de preencher o vazio interno (com o desejo do outro)

Sexo diz respeito à fusão com outro corpo-mente, e fusão sempre se refere ao desejo e medo de mudar o próprio self ilusoriamente autônomo, mas essencialmente relacional e construído a dois.

Os limites entre eu e o outro ficam indistintos na sensualidade/sexualidade, o que atinge o ápice durante o orgasmo, mas o nível de indistinção depende das emoções vivenciadas e da qualidade e franqueza da relação. Quanto mais íntima se tornar a relação, mais indistintos os limites.

Na realidade, como o self é uma "ficção" construída a dois, o outro sempre tem um papel crucial nisso. A começar com o famoso lema de Donald W. Winnicott (1965): o bebê não existe sem mãe; nos primeiros estágios da vida psíquica, essa dependência constitutiva da presença psíquica do outro no íntimo do nosso senso de estar vivo, de existir, literalmente, pode explicar a função que o autoerotismo tem como atividade integradora do self, como atividade continente do self diante da ausência externa (do outro, o outro significativo).

A autocontinência por meio da masturbação (e as fantasias por detrás) começa, normalmente, no primeiro ano de vida, para enfrentar leves feridas narcísicas iniciais e/ou abandono relativo, e é fisiológica: o objeto ausente é alucinado (transformado virtualmente) em objeto desejante, e mais tarde, na adolescência e na vida adulta, basicamente os mesmos roteiros/fantasias se repetem em quase todas as variantes, com a inversão final comum da recusa à aceitação, da solidão para estar junto, da humilhação ao triunfo (Stoller, 1975).

Dessa maneira, as agonias primitivas despertadas pela ausência/perda temida do objeto são mantidas à distância.

Em casos mais graves de rejeição e abandono real, a masturbação pode estar totalmente ausente ou ser compulsiva. Nos meus casos clínicos de adultos, as frustrações e medos de ser rejeitado e não sustentado, e então cair interminavelmente, estão por trás do impulso a se masturbar, "realizando" virtualmente, em estado de dissociação, a fantasia de entrar no corpo de outro, o corpo da mãe, e ser sustentado com desejo: o outro que (me) deseja é o continente bom de quem é possível nascer de novo.

Pornografia é exibir desejo para acender o desejo do espectador. O rosto, os movimentos corporais e gestos dos atores pornôs precisam expressar desejo ou paixão erótica (da ternura ao excesso de desejo).

É tudo falso? E/ou como em atuação: há algo no meio: é preciso sentir para atuar? O que poderíamos dizer ao ver a ereção do pênis ou a umidade vaginal nesses casos? Sabemos que não podem ser fingidas, pois não estão sob controle voluntário; assim, os atores precisam estar sexualmente excitados sempre, ao menos os homens, ou precisam usar drogas. Mas por quem e por quais fantasias?

Desejo é disponibilidade corporal como continente e conteúdo: "Vou tomá-lo em meus braços/dentro do meu corpo", mas também: "Quero ser sustentado/possuído".

O estímulo mais excitante é o orgasmo mostrado no rosto da atriz/ator (a ruborização do prazer no rosto) e/ou a ejaculação real de esperma, que não pode ser fingida por ser um reflexo do sistema nervoso autônomo, uma reação corporal involuntária: verdadeira como o corpo é verdadeiro - portanto, confiável!

Voltamos, então, à necessidade mais básica de uma base segura, um porto seguro, alguém confiável por ter prazer de me ter dentro de si.

Resumindo, eu poderia propor o seguinte esquema focado nos canais visual e acústico de percepção que a pornografia mais ativa no espectador.

O espectador está em estado mental dissociado/regressivo e procura "consolo" para seu mal-estar interno. Mais exatamente, uma imagem ou fantasma, roteiro, cenário a ser usado para regular seus estados emocionais internos. Podemos dizer, seguindo Bromberg (2008), que o espectador excitado de pornografia "não tem uma fantasia inconsciente, mas é a fantasia inconsciente" (p. 169).

Como a competência do recém-nascido em linguagem não verbal e sua dependência da mímica do rosto do cuidador para regulação a dois, recíproca, do mundo interno/fisiológico, o adulto, ao desfrutar pornografia, escrutina a mímica e gestos dos modelos pornô em busca da exibição involuntária do mundo interno deles, para autorregulação do seu estado emocional interno por meio da exposição revelada de prazer erótico/orgasmo.

Testemunhar (e se identificar com o agente e com quem sofre a ação) o orgasmo do outro é um mecanismo regulatório do senso interno de valor e mérito.

A ereção do pênis e a ereção do clitóris/mamilos ou a lubrificação da vagina são expressões involuntárias do estado interno de excitação - prazer de se relacionar -, de desejo pelo outro, que o espectador necessita.

A confiança ou melhor a desconfiança/descrença no desejo/amor do outro é consequentemente contradita e revertida.

No cerne do mundo interno do usuário de pornografia, encontram-se comumente fantasias de ação e admiração/reconhecimento (o desejo do outro), mas também de vingança versus abandono, negligência, ou humilhação, mortificação.

Na verdade, toda a gama de afetos humanos pode ser sexualizada/erotizada.

A sexualização/erotização da vergonha, por exemplo, transforma-a em exibicionismo, com a sensação de triunfo sobre o agressor (o cuidador sem sintonia), tal como Stoller ressaltou em trabalho seminal (1975, 1985, 1991).

É importante lembrar que, dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Freud, 1905/19530) até hoje, a definição de perversão mudou muito, com estreitamento da sua aplicação - que, para Freud, incluía até homossexualidade. Por exemplo, sexo oral e anal hoje são considerados variantes normais de sexualidade. Além disso, aqui, não abordo comportamentos perversos per se, mas fantasias, e gostaria de citar a definição esclarecedora e atualizada de perversão de Richards (2003), em que a agressão sexualizada é o tema central:

Os atributos definitórios de perversão são:

(1) valorizar um cenário específico, animal, objeto inanimado ou parte de uma pessoa mais do que a felicidade ou aprovação da outra pessoa; (2) compulsão; (3) prazer sexual e prazer na descarga de agressão; (4) vergonha e grandiosidade concomitantes; e (5) coerção disfarçada de amor. É possível atribuir quaisquer desses atributos a desejos e proibições específicos tal como se podem atribuir sintomas neuróticos a seus antecedentes em desejos e proibições da infância. Todos eles, combinados em um único comportamento valorizado então acima do sexo com uma pessoa amada, constituem uma perversão. (p. 1201)

 

Conclusões

Pornografia e masturbação aproximam e tomam uma distância segura do desejado, ansiado, mas também temido, por ser potencialmente traumático, outro.

Na realidade, apaixonar-se profundamente poderia ser uma experiência de cunho psicótico de quase abolição dos limites self/outro; sexualidade/sensualidade também podem expor a risco semelhante por ambas serem extroversões/exposições do núcleo frágil da nossa necessária, mas ilusória, identidade (Bromberg, 1998).

Momentos de união/fusão, poderíamos dizer.

Consequentemente, o self em si é um paradoxo, já que somos feitos por e de outros.

A mãe1 de Dimen (2014) poderia ser reescrita "meu outro", como o "outro" necessário que cria (encontra e forma) paradoxalmente meu "próprio" self.

Ao usar pornografia, o processo de exteriorização, concretização do objeto desejado provoca o esgotamento ainda maior do reservatório interno de bondade confortante (identificações de objeto bom), uma vez que o estado masturbatório dissociado, quase alucinatório, não satisfaz nossa fome de confirmações pré-verbais de corpo a corpo interpessoal, apenas a aumenta - como o efeito da miragem num deserto relacional.

Se o corpo é o veículo de nossas mais profundas e originais emoções, o enfoque no corpo, na escuta e no contato corporal (comunicações não verbais, corpo a corpo) é um fator transformador fundamental em cada sessão analítica.

O corpo, nesse tipo de contato com o corpo do outro, torna-se novamente o corpo do bebê em contato com o corpo do cuidador: a fonte primária de confiança, segurança e alimento narcísico, que pode se transformar em paixão erótica.

Quando a relação com o cuidador se perverte no sentido de que a falta de sintonia com as necessidades básicas do bebê é regra e não exceção, o corpo do cuidador torna-se a fonte primária de desconfiança/traição e de traumas relacionais iniciais que permanecem criptografados no corpo e encenados [enacted] também na masturbação - por meio do uso de roteiros pornográficos particulares característicos de cada indivíduo. "A partir dessa perspectiva, a sexualidade pode ser mais compreendida como reflexo da história inicial de apego do que simplesmente um conjunto de pulsões instintivas" (Levy, 2008, p. 264).

Paradoxalmente, o setting analítico, com suas limitações reais de contato corporal, mas também com sua alta frequência de sessões e intimidade emocional (tal como devanear juntos durante as sessões), é um amplificador poderoso de emoções expressas no corpo.

Portanto, é crucial não só o que dizemos, mas como dizemos, com que emoções corporais/encarnadas (Celenza, 2014).

Refiro-me, por exemplo, aos silêncios ruidosos, às vezes ensurdecedores, provocados por fantasmas mudos ou ressonâncias internas em ambos os participantes do encontro analítico.

Uma troca de olhar ao entrar e sair da consulta, gestos que se assemelham a dança ao entrar ou sair, visões, cheiros... tudo que perpassa os corpos, corpo a corpo, pode aquecer ou esfriar a sessão. Basicamente, a transferência ali está, acima ou abaixo das comunicações verbais e do já conhecido.

Quando, na intimidade da relação analítica construída a dois, o analista fica sexualmente excitado, pela primeira vez, após anos, por algo que floresce a partir do paciente, o analista precisa enfocar seu próprio corpo que ecoa ao corpo do paciente.

Feminilidade ou masculinidade (Desejo-Eros) brotam muitas vezes de formas sutis, mas os corpos notam imediatamente e precisamos escutá-los para poder dar-lhes as boas-vindas e apoiar seu desenvolvimento em direção ao mundo dos outros por meio da linguagem falada, como sua própria língua encarnada, ainda que falada.

As relações mais íntimas e transformadoras envolvem partilhar emoções iniciais da vida do tipo de apego bebê-cuidador (ternura, nostalgia etc.), que realiza o paradoxo do surgimento do corpo-mente de alguém unido com outra mente encarnada. Para a sexualidade desabrochar totalmente, necessita sensualidade, como a flor necessita das suas raízes no solo.

Um lema africano diz: É mais íntimo dormir junto com uma mulher do que fazer amor com ela, pois, no primeiro caso, seus sonhos também serão fundidos.

 

Nota

1 NT: jogo de palavras difícil de traduzir - Dimen's "(m) other" poderia ser reescrita "my other".

 

Referências

Adamo, P. (2004). Il porno di massa: percorsi dell'hard contemporáneo. Milano: Cortina.         [ Links ]

Baradon, T. (Ed.) (2010). Relational trauma in infancy: psychoanalytic, attachment and neuropsychological contribution to parent-infant psychotherapy. London; New York: Routledge.         [ Links ]

Bromberg, P. (1998). Standing in the spaces: essays on clinical process, trauma, and dissociation. Hillsdale, NY: Analytic Press.         [ Links ]

Bromberg, P. M. (2008). Shrinking the tsunami: affect regulation, dissociation, and the shadow of the flood. Contemporary Psychoanalysis, 44,329-350.         [ Links ]

Celenza, A. (2014). Erotic revelations: clinical applications and perverse scenarios. New York; London: Routledge.         [ Links ]

Colarusso, C. A. (2012). The central masturbation fantasy in heterosexual males across the life cycle: masturbation fantasies across the normality-pathology spectrum. Journal of the American Psychoanalytic Association, 60(5),917-948.         [ Links ]

Dimen, M. (2014). Sexuality, intimacy, power. London; New York: Routledge.         [ Links ]

Foucault, M. (1984). L'usage des plaisirs. Paris: Gallimard.         [ Links ]

Freud S. (1953a). The interpretation of dreams. In S. Freud, The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (J. Strachey, Trad., Vols. 4-5). London: Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1900)        [ Links ]

Freud, S. (1953b). Three essays on sexuality. In S. Freud, The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (J. Strachey, Trad., Vol. 7, pp. 125-243). London: Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1905)        [ Links ]

Freud S. (1958). Formulation on the two principles of mental functioning. In S. Freud, The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (J. Strachey, Trad., Vol. 12, pp. 213-226). London: Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1911)        [ Links ]

Freud S. (1959). Hysterical phantasies and their relation to bisexuality. In S. Freud, The standard edition of the complete psychological works of Sigmund Freud (J. Strachey, Trad., Vol. 9, pp. 155-166). London: Hogarth Press. (Trabalho original publicado em 1908)        [ Links ]

Hartmann, H. (1939). Ego psychology and the problem of adaptation. New York: International University Press.         [ Links ]

Jonze, S. (Dir.). (2013). Her [Movie]. USA: Warner Bros. Pictures.         [ Links ]

Laplanche, J. & Pontalis, J.-B. (1967). Vocabulaire de la psychanalyse. Paris: Presses Universitaires de France.         [ Links ]

Laufer, M. (1976). The central masturbation fantasy, the final sexual organization, and adolescence. Psychoanalytic Study of the Child, 31,297-316.         [ Links ]

Lemma, A. (2015). Psychoanalysis in times of technoculture: some reflections on the fate of the body in virtual space. The International Journal of Psychoanalysis, 96,569-582.         [ Links ]

Levy, L. (2008). Behind closed doors: sexual excitement as a re-enactment of trauma. Attachment: New Directions in Psychotherapy and Relational Psychoanalysis, 2,257-268        [ Links ]

Lichtenberg, J. (2008). Sensuality and sexuality across the divide of shame. New York: The Analytic Press.         [ Links ]

Masters, W. & Schwartz M. (1984). The Masters and Johnson treatment program for dissatisfied homosexual men. American Journal of Psychiatry, 141,143-150.         [ Links ]

McDougall, J. (1995). The many faces of Eros. New York: Norton.         [ Links ]

Ogden, P., Minton, K. & Pain, C. (2006). Trauma and the body: a sensorimotor approach to psychotherapy. New York; London: W.W. Norton & Company.         [ Links ]

Pajaczkowska C. & Ward, I. (2008). Shame and sexuality: psychoanalysis and visual culture. London: Routledge.         [ Links ]

Panksepp, J. & Biven, L. (2012). The archeology of the mind: neuroevolutionary origins of human emotions. New York: W. W. Norton & Company.         [ Links ]

Richards, A. K. (2003). A fresh look at perversion. Journal of the American Psychoanalytic Association, 51,1199-1217.         [ Links ]

Schore, A. N. (2010). Relational trauma and the developing right brain: the neurobiology of broken attachment bonds. In T. Baradon (Ed.), Relational trauma in infancy: psychoanalytic, attachment and neuropsychological contribution to parent-infant psychotherapy (pp. 19-47). London; New York: Routledge.         [ Links ]

Sissa, G. (2003). Eros tiranno: sessualità e sensualità nel mondo antico. Roma: Laterza.         [ Links ]

Shapiro, T. (2008). Masturbation, sexuality, and adaptation: normalization in adolescence. Journal of the American Psychoanalytic Association, 56,123-146.         [ Links ]

Stern, D. (1985). The interpersonal world of the infant: a view from psychoanalysis and developmental psychology. New York: Basic Books.         [ Links ]

Stoller, R. (1975). Perversion: the erotic form of hatred. New York: Pantheon Books.         [ Links ]

Stoller, R. (1985). Observing the erotic imagination. New Haven: Yale University Press.         [ Links ]

Stoller, R. (1991). Porn: myths for the twentieth century. New Haven: Yale University Press.         [ Links ]

Winnicott, D. W. (1965). The maturational processes and the facilitating environment. London: The Hogarth Press; The Institute of Psychoanalysis.         [ Links ]

Winnicott, D. W. (1969). The use of an object and relating through identifications. In D. W. Winnicott, Playing and reality (pp. 101-112). Middlesex, UK: Penguin.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Francesco Castellet y Ballarà
Via delle Fornaci, 48
00165 Roma, Itália
francesco.castelletyballara@fastwebnet.it

Recebido em 28.04.2016
Aceito em 12.05.2016

Creative Commons License