SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.51 número2Clínica psicanalítica contemporânea: psicanálise de pacientes em trânsitoFreud, história e memória índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.51 no.2 São Paulo abr./jun. 2017

 

OUTRAS PALAVRAS

 

Vivências de abuso sexual incestuoso: traduções possíveis1

 

Experiences of incestuous abuse: possible translations

 

Vivencias de abuso sexual incestuoso: posibles traducciones

 

Les vécues des viols incestueux: des traductions possibles

 

 

Mariane Zanella FerreiraI; Gustavo Adolfo Ramos Mello NetoII

IMestre em psicologia pela Universidade Estadual de Maringá. Professora na graduação em psicologia da Faculdade de Jandaia do Sul
IIDoutor em psicologia pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado na Universidade de Paris 7. Professor na graduação, no mestrado e no doutorado em psicologia da Universidade Estadual de Maringá

Correspondência

 

 


RESUMO

Propõe-se, neste artigo, a discussão de algumas possibilidades de tradução da vivência de abuso sexual incestuoso a partir da análise da autobiografia L' amore dipapà: una storia vera, escrita e publicada por Pola Kinski, que vivenciou abusos sexuais cometidos pelo pai, o ator Klaus Kinski, desde a infância até a juventude. Trata-se de um estudo que se insere em uma pesquisa maior, cujo objetivo é examinar o trauma e a neurose traumática depois de Freud, sob a perspectiva teórica da teoria da sedução generalizada de Laplanche. Com base nos pressupostos dessa teoria, são discutidas as características das mensagens veiculadas em uma situação de abuso sexual incestuoso, assim como as possibilidades de tradução/recalcamento dos enigmas associados a essas mensagens. A análise da narrativa permite pensar possíveis destinos para o excesso do pulsional desligado que invade o psiquismo na situação traumática, cuja tradução nunca é completa.

Palavras-chave: psicanálise, teoria da sedução generalizada, abuso sexual, incesto, trauma


ABSTRACT

This paper's purpose is to discuss some possible translations of experiencing incestuous sexual abuse. To this end, the authors study the autobiography L'amore di papà: una storia vera, written and published by Pola Kinski, who was sexually abused by her father, the actor Klaus Kinski, from her childhood to her youth. This paper is part of an ampler research whose purpose is to study trauma and traumatic neurosis after Freud, by looking at them from the perspective of the general theory of seduction, by Laplanche. Given these theoretical assumptions, the authors analyze the features of the messages conveyed in a situation of incestuous abuse. They also discuss the possibilities of translating/repressing the enigmas that are associated with these messages. The narrative analysis enables the authors to think about possible destinations for the instinctual excess, which is disconnected and invades the psyche in the traumatic situation. Therefore, the traumatic situation is never completely translated.

Keywords: psychoanalysis, general theory of seduction, sexual abuse, incest, trauma


RESUMEN

Se propone, en este artículo, la discusión de algunas posibilidades de traducción de la vivencia de abuso sexual incestuoso a partir del análisis de la autobiografía L'amore di papà: una storia vera, escrita y publicada por Pola Kinski, que sufrió abusos sexuales de la mano de su padre, el actor Klaus Kinski, desde la infancia hasta la juventud. Se trata de un estudio incluido en una investigación mayor, cuyo objetivo es el estudio del trauma y de la neurosis traumática después de Freud, bajo la perspectiva teórica de la teoría de la seducción generalizada de Laplanche. A partir de los presupuestos de esta teoría, son discutidas las características de los mensajes vehiculados en una situación de abuso sexual incestuoso, así como las posibilidades de traducción/represión de los enigmas asociados a estos mensajes. El análisis de la narrativa permite pensar posibles destinos para el exceso del pulsional apagado que invade el psiquismo en la situación traumática, cuya traducción nunca es completa.

Palabras clave: psicoanálisis, teoría de la seducción generalizada, abuso sexual, incesto, trauma


RÉSUMÉ

Sur cet article on propose la discussion de quelques possibilités de traduction de viol sexuel incestueux à partir de l'analyse de l'autobiographie L'amore di papà: una storia vera, écrite et publiée par Pola Kinski, qui a vécu des viols sexuels commis par son père, l'acteur Klaus Kinski, depuis son enfance jusqu'à sa jeunesse. Il s'agit d'une étude qui s'inscrit dans une recherche plus large dont l'objectif est l'étude du trauma et de la névrose traumatique après Freud, sous la perspective théorique de la théorie de la séduction généralisée de Laplanche. Suivant les présupposés de cette théorie on discute les caractéristiques des messages véhiculés dans une situation de viol sexuel incestueux, ainsi que les possibilités de traduction/refoulement des énigmes associés à ces messages. L'analyse du récit permet de réfléchir sur les destinées possibles de l'excès du pulsionnel effacé qui envahis le psychisme dans la situation traumatique dont la traduction n'est jamais accomplie.

Mots-clés: psychanalyse, théorie de la séduction généralisée, viol sexuel, inceste


 

 

Este artigo surge no âmbito de uma pesquisa maior, cujo objetivo é o estudo de textos produzidos sobre o trauma e a neurose traumática depois de Freud. O que se propõe aqui é abordar um dos temas dessa pesquisa, o abuso sexual incestuoso vivenciado entre pai e filha. Vamos fazê-lo a partir de uma autobiografia: Lamore di papà: una storia vera (2013), de Pola Kinski.2 A autora vivenciou abusos sexuais cometidos pelo pai desde os 5 até os 19 anos de idade. Nossa escolha por esse texto se deve a duas razões: a primeira diz respeito a não querermos publicar casos de pacientes; a segunda, à qualidade do material subjetivo contido no livro em questão, constituindo uma fonte bem rica a partir da qual podemos pensar as vicissitudes do trauma de abuso sexual incestuoso.

O abuso sexual pode ser definido, de forma bastante ampla, como "todo relacionamento interpessoal no qual a sexualidade é veiculada sem o consentimento válido de uma das pessoas envolvidas" (Faiman, 2011, p. 27). Para Faiman, o caráter incestuoso acrescenta gravidade ao abuso, devido à função que os pais exercem no universo psíquico e nas fantasias edípicas dos filhos. Assim, o abuso sexual incestuoso é aqui compreendido como uma situação traumática, cujos efeitos podem ser conhecidos e traduzidos no après-coup.

Com base na teoria da sedução generalizada (TSG), de Jean Laplanche, nos propomos a discutir algumas possibilidades de tradução dessa vivência a partir da narrativa autobiográfica de Pola. Para empreender essa investigação, aceitamos de Green (1971/1994) a ideia de tomar o texto como se fosse o discurso do paciente, lendo-o de maneira flutuante, como se faz mais propriamente na análise.

O testemunho aqui analisado é entendido por nós como um resultado da tradução da mensagem do outro, do outro da infância, atuada na forma de abuso. O conceito de tradução, bastante caro a Laplanche, adquire valor central no desenrolar de sua teoria e é, a nosso ver, fundamental para a compreensão da elaboração do trauma. É o processo de tradução/recalcamento que permite a simbolização, a ligação do excesso traumático. É esse processo que nos interessa aqui. A partir dele, podemos investigar os possíveis destinos conferidos ao trauma.

Começamos com a teoria de Laplanche acerca do trauma da sedução originária, cuja tradução resulta na constituição da tópica psíquica, para então pensarmos as especificidades do trauma do abuso sexual incestuoso. Depois, mergulhamos na análise da narrativa de Pola, dando destaque aos aspectos relacionados à tradução do trauma por ela vivenciado.

Vamos à sedução originária.

 

Sedução, trauma e constituição psíquica

Laplanche (1987/1992a) não se nega a pensar um início para o indivíduo psíquico, explicando a constituição psíquica em geral a partir do que chama de sedução originária. Esse ponto inicial, que denomina situação antropológica fundamental, diz respeito ao encontro - não necessariamente um único encontro - da criança que chega ao mundo com o adulto que já está aí e, por várias razões, "possui" um inconsciente. Tal encontro é também um desencontro, na medida em que a criança, confrontada com o mundo adulto, se vê invadida por um excesso que não tem condições de conter. Esse excesso advém do inconsciente do adulto, que se manifesta em sua relação com a criança. Ou seja, a criança diante do adulto excita-o, desperta sua sexualidade infantil recalcada, de modo que o adulto passa a enviar à criança mensagens pré-conscientes-conscientes carregadas de significações sexuais inconscientes.

Esses elementos inconscientes e sexuais da linguagem do adulto parasitam as mensagens que ele destina à criança, tornando-as enigmáticas não apenas para ela como para si. Tais elementos, denominados por Laplanche (1987/1992a) significantes enigmáticos, contemplam, segundo Martinez, Mello Neto e Lima, "o que Freud supôs como mais traumático na vida infantil: a cena originária, a diferença de gêneros, o nascimento de um outro filho, de forma a demonstrar que a sedução originária não estaria presa, exclusivamente, ao abuso sexual" (2007, p. 136).

Essa situação em que o bebê se encontra logo que nasce é claramente assimétrica. Enquanto o adulto "tem", pois, um psiquismo constituído, a criança só conta com recursos adaptativos, autoconservativos, e é com eles que ela lida com as mensagens sexuais enigmáticas que lhe chegam. Vista assim, a criança está em uma posição passiva diante do adulto, principalmente diante de sua sexualidade transbordante. Para Laplanche, "a passividade está toda inteira na inadequação para simbolizar o que ocorre em nós vindo da parte do outro" (1988, p. 90).

É por essa inadequação da criança, por essa impossibilidade de processar inteiramente o que lhe chega do outro, que as mensagens veiculadas mediante os gestos de cuidado, comprometidas pela sexualidade infantil do adulto, são excessivas, traumáticas. Assim, em um primeiro momento, a criança permanece passiva diante delas, mas o enigma que carregam já está implantado em seu psiquismo e passa a excitá-lo a partir de dentro, demandando, em um segundo tempo, tradução.

Para traduzir essas mensagens, a criança lança mão dos elementos denominados por Martens (2007) de assistentes de tradução. Trata-se de um conjunto de mensagens presente na cultura, que Laplanche (2003) entende fazer parte do universo do mito-simbólico, composto de códigos e esquemas narrativos pré-formados, que funcionam como organizadores dos conteúdos do inconsciente. Laplanche (2011b) inclui aí os sistemas simbólicos de parentesco e a proibição do incesto, elementos representacionais auxiliares na ligação da sexualidade infantil, polimórfica e perversa.

Para Bleichmar (1993/1994), é a própria mãe da sedução originária que oferece elementos para a ligação do excesso dessa sedução. A mãe - ou, podemos pensar, o adulto - exerce a função de um "duplo comutador", ou seja, ao mesmo tempo que seduz a criança de forma traumática, também acolhe esse excesso a partir de seu próprio narcisismo. Segundo Carvalho (2001), isso se deve à dimensão amorosa que recobre as mensagens sexuais do adulto, permitindo que a criança forme a imagem de um eu que ajudará a conter as mensagens excessivas e a elaborá-las.

As primeiras traduções empreendidas pelo infante dão origem à cisão psíquica, porque, como são sempre imperfeitas, deixam restos não traduzidos de mensagens, que fundam o inconsciente recalcado e passam a atuar como objetos-fonte da pulsão (Laplanche, 1987/1992a). Esses objetos-fonte permanecem como corpos estranhos no interior do psiquismo, que constantemente impulsionam o sujeito a novas traduções. Segundo Laplanche (1988), aquilo que é passivamente registrado nas origens corresponde a uma mensagem em si mesma ignorada, por isso nunca traduzível em sua completude. Trata-se, pois, do recalcado. Esse último

é apenas o eco, o resíduo, desse intraduzível interno à própria mensagem. É a transcendência da situação originária - essa relação da criança a um adulto que significa o que ela não sabe - que será traduzida, transportada, transferida com mais ou menos resíduos, mas jamais reduzida. (Laplanche, 1988, p. 94)

A tradução é um processo permanente. As mensagens são traduzidas, destraduzidas e retraduzidas por meio da temporalização, que "pressupõe algo já-traduzido anterior, mas também algo por-traduzir primordial, que chamamos inconsciente" (Laplanche, 1992/1996, p. 80). O processo tradutivo só ocorre après-coup, a partir de um constante movimento que possibilita ao homem temporalizar-se, narrar-se a si mesmo de forma temporal, isto é, historicizar-se. A tradução permite a metabolização da mensagem, que, ao ser transformada por esse processo, deixa de ser externa ao psiquismo e se integra a um pré-consciente mais rico (Laplanche, 2003). Assim, o sujeito torna o enigma do outro algo pertencente a si, embora sempre sobrem restos não metabolizados.

Esse é o processo "normal" a partir do qual as mensagens da sedução originária são traduzidas e integradas ao psiquismo. Falaremos agora das características das mensagens presentes no abuso sexual incestuoso e de suas possibilidades de tradução.

 

Sedução, trauma e invasão psíquica

Laplanche (2011b) diferencia a iniciativa sexual contida nas mensagens enigmáticas que o adulto envia à criança, na sedução originária, da agressão sexual criminosa. Ele recorre à ideia de que a sexualidade infantil - que não reconhece as diferenças sexuais, é móvel em sua finalidade e objeto e não visa à satisfação, mas à excitação - se manifesta no adulto de maneira mais intensa na presença de uma criança, sendo essa sexualidade a que atua na situação de abuso. O autor define o crime sexual como uma violência sexual cometida em uma relação assimétrica, caracterizada por uma posição de domínio, por alguém que é tomado por sua própria sexualidade infantil, especialmente em seu aspecto sádico.

Como já foi dito, na situação originária as mensagens enigmáticas enviadas pelo adulto à criança também derivam de sua sexualidade infantil recalcada. Nesse sentido, o que diferencia as mensagens originárias daquelas veiculadas no abuso sexual? A partir das ideias de Laplanche (2011a), podemos compreender que as primeiras são mensagens pré-conscientes-conscientes, comprometidas por um retorno do recalcado, correspondendo a um conteúdo parcialmente traduzido, ou melhor, ao que restou não traduzido das mensagens que o adulto teve de traduzir de sua própria situação originária. As segundas, no entanto, provêm do enclave psíquico, de onde toda elaboração foi excluída, compreendendo uma atuação perversa, psicopática ou psicótica, de forma que o que predomina na situação de abuso é uma violência não ligada, característica da pulsão sexual de morte.3

O inconsciente encravado (enclavé) seria o mais primitivo de nosso psiquismo, estaria associado à parte não neurótica presente em todo ser humano, sendo composto das mensagens que não passaram por nenhum processo de tradução. A partir do processo tradutivo, a mensagem é integrada ao pré-consciente, ao passo que seus restos não traduzidos são recalcados, dando corpo ao inconsciente (dito recalcado). Ocorre, porém, que nem todas as mensagens passam por esse processo. Quando há um fracasso na tradução, as mensagens não encontram meios de simbolização e permanecem no inconsciente encravado (Laplanche, 2003).

A formação do inconsciente recalcado e dos objetos-fonte da pulsão é associada por Laplanche (2003) à implantação das mensagens, que seria algo apenas neurótico ou normal; as mensagens encravadas, por sua vez, não foram implantadas, mas intrometidas com violência. Na intromissão, a tradução da mensagem fracassa radicalmente, o que mantém a mensagem em estado bruto no psiquismo.

Laplanche (2011a) destaca que a mensagem comprometida com a sexualidade infantil do adulto pode ter dois destinos quando chega à criança: (1) permanecer encravada, não simbolizada, não traduzida; (2) após um período de espera, ser traduzida, deixando um resíduo inconsciente reprimido. A mensagem atuada, habitada sem distância pelo sexual infantil, no entanto, é violenta e inassimilável, ficando de forma permanente no enclave inconsciente. Contudo,

mesmo em um abuso sexual aberto cometido por um adulto contra uma criança - digamos um estupro - o único fio psicanalítico é a parte que resta para o enigmático. Um adulto pode infligir os piores ultrajes a uma criança, o único ponto por onde isso se fantasia, em algo tão cru e tão aberto, é sempre e apesar de tudo no que resta mais-além: do lado da criança: "O que ele quer de mim?"; e do lado do adulto: "O que isso quer de mim, como é que eu pude fazer isso, como isso pôde acontecer comigo?". (Laplanche, 1993/1997, p. 59)

Assim, independentemente da crueza da mensagem, ela sempre veicula algo de enigmático, e esse enigma demandará tradução. Mas o que torna o enigma da mensagem intrometida tão difícil de traduzir?

Gammelgaard (2014), autora que trabalha com pacientes ditos borderline, muitos dos quais foram abusados sexualmente na infância, cita Scarfone (2002) para afirmar que, nesses traumas, embora haja a transmissão de significantes enigmáticos pelo adulto, não há soluções de compromisso, sendo que a violência está na transmissão por intromissão. Não há soluções possíveis para essas mensagens, pois a proibição da tradução está contida no próprio enigma da mensagem. É nesse sentido que Laplanche (1992/1996) fala em um imperativo: deves traduzir porque é intraduzível; embora exija tradução, a mensagem não se transmuda em nada senão nela mesma.

Para compreender os destinos possíveis do trauma, além das características das mensagens, é preciso atentar para o fato de que os casos de abuso sexual intrafamiliar são frequentemente silenciados, transformados em segredos, e desse modo a criança não recebe suporte da família e do meio social (Oliveira, 2012). Ora, na medida em que a tradução só é possível pelo suporte de um outro, que forneça elementos de ajuda a essa tradução, o trauma resultante do abuso proibido de ser revelado tende a ficar intraduzido.

Na ausência de elaboração psíquica, Laplanche (2011a) considera ser possível uma transmissão do enclave de geração em geração. No entanto, o autor afirma que, mesmo quando essa transmissão ocorre, nunca é de forma mecânica e linear, pois as vicissitudes de um trauma são sempre individuais, particulares. Do mesmo modo, sempre há a possibilidade de nova tradução de um conteúdo encravado, transformando as mensagens do outro em narrativa, mesmo em seus aspectos sexuais mais enigmáticos.

A análise da narrativa autobiográfica que faremos a seguir objetiva ilustrar as possibilidades de tradução encontradas por Pola diante da vivência de abuso sexual incestuoso. Ora, antes de tudo, é preciso dizer que a própria narrativa pode ser compreendida como uma tentativa de elaboração/tradução do excesso advindo do pulsional desligado que invade o psiquismo na situação traumática. Mas sabemos que a escrita também pode reatualizar o trauma, pois, de acordo com Rodrigues e Martinez (2014), para que novas traduções possam ser propostas, é preciso destraduzir as antigas, o que pode expor novamente o psiquismo ao pulsional desligado.

Vamos, pois, à narrativa escolhida.

L'amore di papà: a vida de Pola

Os pais de Pola se divorciaram quando ela tinha apenas 3 anos. Quando sua mãe se casou novamente e se mudou com ela para a casa do marido, Pola passou a ter ciúmes da mãe, o que se agravou com o nascimento do irmão, para o qual se voltaram todas as atenções.

Sempre que o pai a visitava, trazia um presente diferente, cobria-a de beijos e dizia palavras amorosas. Em um desses encontros, quando tinha apenas 5 anos, o pai levou-a ao hotel onde estava hospedado em Mônaco, deitou-se com ela e começou a beijá-la, despindo-a lentamente:

Estou nua diante dele. Seus lábios tremem, ele sopra seu hálito quente na minha pele e me puxa para ele na cama. Estou com frio e estou com medo. Eu tento escapar, mas ele me prende em um aperto de aço. Passa a língua no meu peito, em seguida na barriga, e separa minhas coxas com a cabeça. Abro a boca para gritar, mas da minha garganta não sai nenhum som. Sua língua torna-se mais insistente, mais brutal, dói. Eu permaneço imóvel. Sua respiração torna-se mais dura e ele geme alto. Eu me sinto mal. Tudo se torna escuro e silencioso. Meu corpo está entorpecido, eu estou morta. (Kinski, 2013, pp. 74-75)

Após o ato sexual, o pai a vestiu apressadamente e a levou para a casa da mãe com a orientação de não contar nada a ninguém, sob o risco de ele ser preso. Como tinha apenas 5 anos, é possível supor que Pola não pudesse atribuir um caráter sexual à cena vivida. No entanto, certamente suspeita de algo a partir de suas experiências anteriores: a curiosidade acerca das horas que a mãe passava trancada no quarto com o padrasto, rindo e gritando; as possíveis teorias acerca do nascimento do irmão; a respiração ofegante do pai, a proximidade excessiva e a nudez. Pode-se cogitar que Pola já suspeitasse do caráter proibido daquela cena, e por isso tentou evitar a investida sexual do pai - proibição que se confirmou com o pedido paterno de sigilo.

Devido ao excesso da mensagem veiculada pelo pai na cena de sedução e ao caráter proibido dessa cena, nesse momento, podemos falar da instauração de uma mensagem potencialmente traumática, cujos efeitos só podem ser conhecidos no après-coup.

Pola visitava o pai constantemente e, em sua casa, o pai aproveitava todos os momentos em que ficavam a sós para cometer novos abusos. Mesmo contra a sua vontade, o pai a obrigava a participar dos jogos sexuais. Ela sentia medo, depois sentia nojo, dele e de si mesma. Quando Pola se recusava a ter relações sexuais, o pai dizia que aquela era a coisa mais bonita do mundo, que era normal que os pais fizessem aquilo com as filhas. Se as palavras bonitas não eram suficientes para convencê-la, ele se irritava e saía do quarto esbravejando. Mas depois voltava a procurá-la, e ela sempre cedia às suas investidas. Ela submetia-se aos abusos paternos para receber afeto, mas a culpa que sentia pelo que faziam, e possivelmente pelo seu próprio desejo, a angustiava.

Pola relata o que acontecia após as relações sexuais, quando se via sozinha: "corro para o banheiro, agarro com as mãos o vaso sanitário e vomito, vomito até não ter nem mesmo suco gástrico. Vomito até a inconsciência. Eu preciso expulsar toda a minha culpa" (p. 115). Além do sentido óbvio do vomitar como uma forma de livrar-se da culpa que sentia, vomitar também pode ser pensado como uma tentativa de expulsar de dentro de si o excesso do sexual desligado que a invadiu. O vômito é expressão do conteúdo recalcado, dos restos não traduzidos que, enquanto objetos-fonte da pulsão, constantemente demandam do eu um trabalho tradutivo. Há conflito o tempo todo, e isso leva a pensar em algo neurótico. Na falta de traduções mais elaboradas, a saída é por meio do sintoma, que satisfaz ao mesmo tempo a defesa e o desejo, a culpa e o gozo.

O pai fez Pola jurar que jamais deixaria alguém tocá-la como ele a tocava. Ele exigia que ela aprendesse a andar de salto alto e comprava para ela lingeries e roupas sensuais, sexualizando o corpo da filha. Se alguém a olhava com desejo, ele se enraivecia e a culpava pelo desejo do outro, como se ela estivesse se insinuando, agindo como uma prostituta. Ele de fato prostituía a filha, usava seu corpo quando desejava, pagando por seu silêncio com roupas, presentes e dinheiro, mas queria exclusividade.

Com 14 anos, Pola teve sua primeira experiência sexual com outro parceiro que não o pai, um rapaz com o dobro da sua idade. Usando roupa provocante e salto alto, Pola seduziu-o, mentiu para ele a idade e aceitou seu convite para sair. No carro, o rapaz beijou-lhe o pescoço e os seios e fez com que ela lhe fizesse sexo oral. Depois disso, voltaram para casa sem trocar uma palavra.

Aqui, embora na posição de sedutora, Pola não estava no domínio da situação, como imaginava. Colocou-se novamente em uma situação de abuso, uma situação assimétrica, na qual ocupou o papel daquele que desconhecia o que se passava, o passivo. O rapaz, já adulto, viu nela a possibilidade de satisfação de seu desejo. O único prazer que importava era o dele. Ela lhe fez sexo oral e, depois que ele gozou, não havia mais nada a ser dito. O modelo de relação continuava sendo o do abuso, única forma pela qual Pola recebia afeto.4

Depois de um tempo, Pola passou a aceitar os abusos paternos aparentemente sem muita resistência. Em troca, ele lhe dava ainda mais presentes e dinheiro. O pai submetia Pola a várias sessões de exposição de seu corpo. Comprava lingeries sensuais e pedia para que ela desfilasse cada uma das peças, enquanto ele a assistia, sentado na cama. Ou a vestia e maquiava como uma prostituta e pedia que posasse para longas sessões de fotos sensuais. Quando tinha relações sexuais com ela, queria que dissesse em voz alta que gostava dele e que o que ele fazia a excitava.

Somente aos 19 anos Pola conseguiu pôr fim aos abusos paternos. Ao descrever a última relação sexual que teve com o pai, ela afirma que, ao terminar, o pai se levantou da cama e foi até a janela, e o que ela viu foi um velho. Nessa mesma noite, já longe do pai, acordou com o lençol molhado. A enurese noturna, reação infantil ante o abuso, é um sintoma que pode ser entendido como a satisfação masturbatoria do desejo incestuoso. O gozo que ela não pôde sentir durante o ato sexual apareceu na noite após o abuso, mas então a culpa novamente recaiu sobre ela. Transtornada, ela procurou a mãe para contar o que o pai fazia com ela desde a infância. O que motivou essa revelação?

Acreditamos que as experiências vivenciadas por Pola em uma viagem que antecedeu a última relação sexual que teve com o pai exerceram um papel importante aí. Podemos fazer uma clara associação entre a situação em que Pola foi assediada por um homem mais velho e, tomada pelo medo e pelo asco, fugiu e a última relação sexual que teve com o pai, em que ao terminar este se levantou da cama e o que ela viu foi um velho. Pola fugiu da casa do pai tal como fugiu do carro do "velho". Teria ela finalmente se dado conta de que os abusos do pai feriam a barreira intergeracional que fundamenta a proibição do incesto?

De fato, ela já sabia que o que o pai fazia com ela era proibido. Mas até então esse era o único modelo de relação amorosa que tinha, pela via do abuso. No entanto, nessa mesma viagem em que foi assediada por um "velho", Pola também conheceu um rapaz mais jovem, que se mostrou apaixonado por ela. Com isso, ela se dá conta de que pode ser amada e que amor não é apenas sexo. A partir do contraste entre o amor ingênuo de um adolescente e o amor abusivo do pai, ela não pôde mais sustentar sua relação com ele como natural. Ela assume o sentimento de horror ante os abusos paternos e posiciona-se diante deles. Ela faz novas traduções, que fortalecem seu eu e permitem estabelecer algum julgamento em torno da "única" forma de amor que conhecia.

Ao contar para a mãe sobre a relação incestuosa que mantinha com o pai, Pola introduz um terceiro na relação, que representa o limite social da proibição do incesto. A princípio, Pola manteve contato com o pai. Ele lhe telefonava e exigia que ela fosse vê-lo, mas ela inventava desculpas. Após um desses telefonemas, escreveu uma carta ao pai que dizia: "Eu estou muito doente. Cheguei ao limite. A partir de agora, você me verá apenas como sua filha, não como seu brinquedo sexual. Não me toque novamente. Nunca mais!" (p. 297). O pai nunca respondeu, e eles nunca falaram sobre isso.

Quando introduz o terceiro nessa relação até então dual, Pola revela o que torna a relação proibida e, a partir daí, não pode voltar atrás. É como se precisasse do limite imposto do exterior, já que lhe faltavam os limites internos. Quando finalmente colocou em palavras compartilhadas o que vivenciou com o pai, Pola permitiu novas vias autoteorizantes para tentar traduzir e recalcar os abusos sofridos, assim como pôde contar com os assistentes de tradução que a mãe e o padrasto lhe destinaram, sobretudo aqueles recebidos através de apoio e afeto, que compreendem a dimensão amorosa apontada por Carvalho (2001), pela qual o eu pode se fortalecer para lidar com o excesso que o ataca.

Pola conseguiu ordenar melhor a vida psíquica, de forma que o sexual do pai não invadia mais os estudos e o trabalho, por exemplo. Contudo, ela ainda sentia os efeitos da vivência dos vários anos de abuso, sentia muito medo da morte e de ser punida.

 

Para concluir: o trauma e suas traduções

Desde o início, as mensagens que Pola recebeu do pai foram ambivalentes, pois, embora ele tratasse as relações sexuais entre pai e filha como a coisa mais natural do mundo, não permitia que ela falasse nada "daquilo" com ninguém e temia ser preso caso fosse descoberto. Essas são mensagens intrometidas, devido à sua violência, mas não podem ser caracterizadas como um imperativo, pois dão margem a questionamentos. Talvez, mesmo sem perceber, o pai tenha dado elementos para Pola ir traduzindo as mensagens excessivas que lhe enviava, justamente pela franca contradição com suas palavras.

Assim, Pola foi realizando traduções ao longo dos anos, que podem ser percebidas a partir do aparecimento de sintomas associados à situação de abuso. O principal deles é o vômito, que ocorria sempre após as relações sexuais que tinha com o pai ou com estranhos. A promiscuidade sexual também pode ser pensada como um sintoma associado ao abuso, pois, como vimos, colocar-se na posição daquele que seduz pode ser uma tradução da mensagem sexual do outro, traduzindo a sedução em sedução, sem com isso sair da posição passiva.

Quando finalmente Pola põe fim aos abusos, também é por meio da tradução que o faz. Ao vivenciar um encadeamento de cenas sucessivas - assédio de um homem mais velho, paixão de um rapaz mais jovem e relação sexual com o pai percebido como velho -, ela pôde traduzir efetivamente a relação que mantinha com o pai como proibida pela barreira das gerações. A partir dessa tradução, ela pôde enfim assumir o horror que sentia diante do pai, embora o desejo que em contrapartida também sentia a atormentasse. O episódio da enurese noturna surge, assim, como a manifestação do desejo sexual que Pola efetivamente sentia ante sua relação incestuosa com o pai, e por isso ela é tomada pela culpa.

Ela precisa estabelecer um limite outro, externo, introduzindo um terceiro para que possa renunciar à relação incestuosa com o pai. Diante de seu desejo e da possibilidade real de realização por meio do desejo do pai, a única saída de Pola é reconhecer a proibição para um outro, que possa funcionar como barreira externa àquilo que não está bem delimitado internamente. É essa barreira externa que permite que, no après-coup, ela organize sua vida psíquica e estabeleça os limites necessários para que o sexual desligado do pai não tome conta de seu psiquismo, impedindo que haja espaço para investir em outras coisas.

A carta que escreve ao pai, colocando um término definitivo na relação dos dois, também é uma tradução, ainda mais elaborada do que a revelação que fez à mãe. A partir dela, Pola dá um desfecho à história que vivenciava desde os 5 anos de idade, e podemos pensar que, pela primeira vez, ela é ativa diante do pai. No entanto, esse desfecho não é propriamente o fim, já que ela ainda mantém contato com o pai. Antes de mandar a carta, Pola solicita que o pai lhe envie dinheiro - pagamento antecipado de um serviço que nunca prestará, já que não será mais a prostituta do pai. Talvez essa fosse uma dívida que deixaria em aberto com ele.

Pola relata que temia que, depois da carta que escreveu ao pai, ele desejasse vingança e a procurasse para fazer-lhe mal. Teme ou deseja? Talvez Pola deseje reencontrar o pai, seja para ele lhe cobrar a dívida, seja para ela lhe cobrar a resposta para a sua carta, que o pai nunca deu.

Quando se casa e tem filhos, Pola ainda apresenta alguns sintomas que, segundo ela, só cessam quando conta ao marido sobre a relação incestuosa que teve com o pai. Ela segue carreira de atriz, mas só aceita os papéis nos quais o marido é autorizado a acompanhá-la nas filmagens. O que isso poderia significar? Essa seria, quem sabe, sua forma de evitar que ocorram outros abusos. É possível que imaginariamente tema encontrar o pai, já que este era um ator - como se, mesmo depois de adulta, ainda fosse uma menininha incapaz de defender-se sozinha, precisando, para isso, da intervenção de um adulto que a ame e proteja, um adulto que evite novos abusos, mas que também a proteja contra seu próprio desejo de transgredir as barreiras do incesto. Talvez o marido ocupe aí o papel da referência transferencial positiva que Pola foi capaz de construir, assemelhando-se ao terapeuta, ou ao pai que, embora sexual e enigmático, estabelece limites e permite que as traduções sejam feitas.

Pola escreveu sua autobiografia mais de 40 anos após o término dos abusos, e nela percebemos muitos traços das traduções que foram feitas ao longo do tempo. Mas o fato de ter escrito sobre o trauma depois de todos esses anos nos intriga. Por que escrever e por que nesse momento?

Ela não fala no livro sobre os motivos que a levaram a escrever, mas podemos pensar que demorou muito para que Pola conseguisse se colocar no lugar de vítima da situação incestuosa que vivenciou. Identificar-se como vítima talvez fosse necessário para livrar-se da culpa, assumindo para si e para o mundo que o culpado foi na verdade o pai, o adulto. Mas, para contar ao mundo uma vivência como essa, é preciso ter fortemente internalizado o sentimento de inocência, especialmente no caso de Pola, cujo relacionamento incestuoso se prolongou até a idade de 19 anos, quando ela certamente não era mais uma criança indefesa. Como justificar essa demora em revelar os abusos sem falar da ambivalência, do medo e do desejo que se misturavam na relação?

Por outro lado, revelar em forma de livro os abusos paternos é também vingar-se do pai pelo que ele lhe fez, degradando a imagem do pai famoso. Vingar-se, porém, pode ter dois sentidos aí: vingar-se pelos abusos e pelos anos de infância e adolescência que o pai lhe roubou; ou vingar-se por ele tê-la seduzido e depois a abandonado, deixando que ela seguisse sua vida longe dele. De qualquer forma, a escrita do livro eterniza a relação dos dois, mantém a história viva, gravada em preto no branco. Independentemente do que Pola sente em relação ao pai, esse sentimento ainda está muito vivo. Isso talvez se deva ao fato de o pai ter morrido sem nunca lhe ter dado uma explicação ou uma resposta, deixando para ela um enigma a traduzir, que se presentifica na ausência do morto.

Essa hipótese do enigma deixado pelo pai ganha força quando analisamos a forma como Pola termina sua narrativa. O último fato por ela narrado é a morte do pai, diante da qual afirma não ter sentido nada. Talvez o último capítulo do livro pudesse ser sua introdução, na qual a autora falaria sobre os motivos que a levaram a escrever. O fim aparece aí como o começo, que podemos pensar ser o começo do processo tradutivo. A morte do pai, enquanto enigma, assim como sua ausência, que atua como presença massiva do não dito, do não elaborado, impulsionam Pola ao trabalho de ligação e elaboração do excesso, que pode culminar em traduções mais complexas. A questão: "Que diria ele?"5 adquire aí força ainda maior, pois não é somente o luto que precisa ser elaborado, mas também, e principalmente, o excesso resultante da sedução traumática, sobre a qual o pai nunca falou.

A necessidade de escrever pode ser também associada à exigência de tradução que a parte irredutível da mensagem acarreta. Embora muitas traduções tenham sido feitas ao longo dos anos, sempre resta algo primordial a traduzir.

 

Referências

Bleichmar, S. (1994). A fundação do inconsciente: destinos da pulsão, destinos do sujeito (K. B. Behr, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas Sul. (Trabalho original publicado em 1993)        [ Links ]

Carvalho, M. T. de M. (2001). Transtornos da memória e fracasso do recalcamento na clínica psicanalítica da criança. Psyché, 5(8),37-56.         [ Links ]

Faiman, C. J. S. (2011). Abuso sexual em família: a violência do incesto à luz da psicanálise. São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

Gammelgaard, J. (2014, julho). Seduction and the problem of translation in the context of sexual abuse. Trabalho apresentado em Seduction at the Beginning: the Work of Jean Laplanche, Cerisy-la-Salle, França.         [ Links ]

Green, A. (1994). O desligamento. In A. Green, O desligamento: psicanálise, antropologia e literatura (I. Cubric, Trad., pp. 11-35). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1971)        [ Links ]

Kinski, P. (2013). L.amore di papà: una storia vera (A. Ricci, Trad.). Roma: Newton Compton.         [ Links ]

Laplanche, J. (1988). Teoria da sedução generalizada e outros ensaios (D. Vasconcellos, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Laplanche, J. (1992a). Novos fundamentos para a psicanálise (C. Berliner, Trad.). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1987)        [ Links ]

Laplanche, J. (1992b). Le temps et l'autre. In J. Laplanche, La révolution copernicienne inachevée: travaux 1967-1992 (pp. 359-384). Paris: Aubier.         [ Links ]

Laplanche, J. (1996). Temporalidad y traducción: para un retrabajo de la filosofía del tiempo. In J. Laplanche, La prioridad del otro en psicoanálisis (S. Bleichmar, Trad., pp. 65-84). Buenos Aires: Amorrortu. (Trabalho original publicado em 1992)        [ Links ]

Laplanche, J. (1997). Freud e a sexualidade: o desvio biologizante (L. Magalhães, Trad.). Rio de Janeiro: Zahar. (Trabalho original publicado em 1993)        [ Links ]

Laplanche, J. (2003). Três acepções da palavra inconsciente no quadro da teoria da sedução generalizada. Revista de Psicanálise, 10(3),403-418.         [ Links ]

Laplanche, J. (2011a). Incest and infantile sexuality. In J. Laplanche, Freud and the sexual: essays 2000-2006 (J. Fletcher, J. House & N. Ray, Trads., pp. 285-302). New York: International Psychoanalytic Books.         [ Links ]

Laplanche, J. (2011b). Sexual crime. In J. Laplanche, Freud and the sexual: essays 2000-2006 (J. Fletcher, J. House & N. Ray, Trads., pp. 139-158). New York: International Psychoanalytic Books.         [ Links ]

Martens, F. (2007, fevereiro). Para una validación socio-clínica de la teoría de la seducción generalizada. ¿Una contribución de los pedófilos belgas? Alter, 3. Recuperado em 1.° maio 2017, de https://revistaalter.com/revista/para-una-validacion-socio-clinica-de-la-teoria-de-la-seduccion-generalizada/767/.         [ Links ]

Martinez, V. C. V., Mello Neto, G. A. R. & Lima, M. C. F. (2007, junho). Histeria, trauma e sedução: "o que lhe fizeram pobre criança" (um Freud covarde?). Estilos da Clínica, 12(22),122-141.         [ Links ]

Oliveira, A. C. de. (2012). Abuso sexual intrafamiliar de crianças e a família como totalidade. O Social em Questão, 15(28),233-262.         [ Links ]

Ramos, G. A. (2008). Histeria e psicanálise depois de Freud. Campinas: Unicamp.         [ Links ]

Rodrigues, G. M. & Martinez, V. V. (2014, dezembro). A narrativa testemunhal e o enredamento do traumático no psiquismo. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, 17(4),858-871.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Mariane Zanella Ferreira
Rua Mandaguari, 152, ap. 101
87020-230 Maringá, PR
Tel.: 44 3346-4562 44 9843-5304
mariane_mzf@hotmail.com

Gustavo Adolfo Ramos Mello Neto
Rua Professor Ney Marques, 21
87020-300 Maringá, PR
Tel.: 44 3031-4326 44 9106-9847
garmneto@gmail.com

Recebido em 27.08.2015
Aceito em 19.01.2016

 

 

1 Artigo inspirado na dissertação de mestrado Sedução, trauma e tradução nas vivências de abuso sexual incestuoso: psicanálise e literatura de testemunho (Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Estadual de Maringá), da primeira autora, bolsista da Capes, sob orientação do segundo autor.
2 Originalmente publicada em 2013, na Alemanha, sob o título Kindermund, a autobiografia de Pola Kinski teve grande repercussão, especialmente pelo fato de seu pai, Klaus Kinski, ser muito conhecido e reconhecido por seu trabalho como ator.
3 Para Laplanche (1987/1992a), toda pulsão é sexual. Enquanto a pulsão sexual de vida compreende os aspectos ligados da pulsão, a pulsão sexual de morte diz respeito aos aspectos desligados, parciais.
4 Ramos interpreta a sedução histérica como uma tradução do enigma do outro: "É como se se pusesse na posição passiva, que é a originária, mas fazendo cumprir a sedução, que foi a prerrogativa do outro na situação primitiva" (2008, p. 291). No caso de Pola, a passividade da situação originária se atualiza na situação de abuso, de forma que colocar-se no lugar da sedutora (passiva) é fazer cumprir não só a sedução originária, mas também a sedução paterna atuada no abuso. Ela assume esse lugar com os homens que seduz e também com o pai, o qual seduz e pelo qual é seduzida, sem nunca assumir uma posição propriamente ativa.
5 "Não há luto sem a questão: 'Que diria ele?', 'Que teria dito?', sem o arrependimento ou o remorso de não ter podido dialogar o suficiente, de ouvir o que o outro tinha a dizer" (Laplanche, 1992b, p. 379).

Creative Commons License