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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.51 no.2 São Paulo Apr./June 2017

 

PROJETOS E PESQUISAS

 

Pensamento Psicanalítico Latino-Americano (PPL)

 

Psychoanalytic Thinking in Latin America (PPL)

 

Pensamiento Psicoanalítico Latinoamericano (PPL)

 

Pensé psychanalytique latino-américaine (PPL)

 

 

Jean Marc TauszikI; Osvaldo CanosaII; Denise Salomão GoldfajnIII

IPsicanalista, membro associado da Sociedade Psicanalítica de Caracas (SPC) e coordenador-chefe do PPL
IIMembro associado da Associação Psicanalítica Argentina (APA) e coordenador-sul do PPL
IIIMembro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ) e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e coordenadora-centro do PPL

Correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo descreve o desenvolvimento do projeto Pensamento Psicanalítico Latino-Americano, destinado a investigar os percursos e a difusão do pensamento psicanalítico na América Latina a partir da produção de seus próprios pensadores. Com apoio da Federação Psicanalítica Latino-Americana, o projeto criou diferentes atividades descritas no artigo. Entre elas, a edição de uma coleção de artigos destinada a divulgar obras de psicanalistas latino-americanos, dispositivos de pesquisa denominados PPL-Lab e a organização de uma plataforma digital, PPL-Web, que estará disponível em breve.

Palavras-chave: psicanálise, psicanálise latino-americana, pensamento psicanalítico, dispositivos de pesquisa, plataforma digital


ABSTRACT

The present article describes the development of the project Psychoanalytic Thinking in Latin America. The project goal is to investigate the pathways and diffusion of psychoanalytic thinking in Latin America, from the perspective of its own thinkers. With support from Fepal, the project has created different activities, among them, a collection of articles about Latin American psychoanalysts, produced by psychoanalysts, a research dispositive called PPL-Lab and the organization of a digital platform known as PPL-Web, which will be available soon.

Keywords: psychoanalysis, Latin American psychoanalysis, psychoanalytic thinking, research apparatus, digital platform


RESUMEN

El presente artículo describe el desarrollo del proyecto Pensamiento Psicoanalítico Latinoamericano destinado a investigar los aportes y la difusión del pensamiento psicoanalítico en América Latina a partir de la producción de sus propios pensadores. Con el apoyo de la Federación Psicoanalítica Latinoamericana, el proyecto creó diferentes actividades que se describen en el artículo. Entre ellas, la edición de una colección de artículos destinados a divulgar la obra de psicoanalistas latinoamericanos, la creación de dispositivos de investigación denominados PPL-Lab y la creación de PPL-Web, una plataforma digital que estará disponible en breve.

Palabras clave: psicoanálisis, psicoanálisis latinoamericano, pensamiento psicoanalítico, dispositivos de investigación, plataforma digital


RÉSUMÉ

Cet article décrit le développement du projet Pensé Psychanalytique Latino-Américaine qui a pour but l'investigation du parcours et de la diffusion de la pensé psychanalytique latino-américaine à partir de la production de ses propres penseurs. Appuyé par la Fédération psychanalytique latino-américaine, ce projet a créé différentes activités décrites sur l'article. Parmi ces activités, l'édition d'une collection d'articles destinés à diffuser des oeuvres de psychanalystes latino-américains, des dispositifs de recherche appelés PPL-Lab et l'organisation d'une plateforme numérique, PPL-Web, qui sera bientôt disponible.

Mots-clés: psychanalyse, psychanalyse latino-américaine, pensée psychanalytique, dispositifs de recherche, plateforme numérique


 

 

O projeto Pensamento Psicanalítico Latino-Americano (PPL) consiste em traçar um percurso sobre a difusão da psicanálise na América Latina, principalmente através de seus pensadores, em processo contínuo de criar e recriar a psicanálise que praticamos em nossos países.

Em 2010, um conselho consultivo foi criado para orientar o projeto. Entre os primeiros membros do conselho, reunimos psicanalistas experientes nas áreas de ensino acadêmico, organização institucional e processo editorial, como Abel Fainstein (Argentina), Marcelo Viñar (Uruguai), Cláudio Eizirik (Brasil) e Serapio Marcano (Venezuela). Com a colaboração desse conselho, foi feito um inventário preliminar de autores latino-americanos que, com suas publicações, ajudaram a difundir e desenvolver a psicanálise a partir de países como Brasil, Argentina, Colômbia, Venezuela, Peru, Chile, Uruguai, Panamá e México, países marcados pela proximidade geográfica e pela diversidade cultural. Foi elaborada uma primeira compilação com 120 nomes, desde os pioneiros até pensadores contemporâneos, cujas ideias são parte da nossa prática psicanalítica. O projeto inicial visava um trabalho extenso, completo e cuidadoso para a publicação de uma coleção de livros sobre a produção psicanalítica local, privilegiando o pensamento com sujeito: os pensadores.

A proposta editorial era uma compilação em formato de enciclopédia. Cada autor selecionado corresponderia a um verbete. Sobre esse autor, um outro autor e psicanalista convidado escreveria um artigo abrangente, incluindo uma biografia comentada e um ensaio crítico sobre as contribuições do autor resenhado. Com esse material, seria publicado também um artigo representativo da obra do referido autor e sua respectiva bibliografia. A ideia do projeto era trazer o pensamento como uma atividade itinerante e em constante produção, mantendo um diálogo dinâmico entre autores. Editorialmente, tratava-se de uma compilação extensa que exigiria um grande financiamento e uma distribuição multinacional, razões que inviabilizaram que o projeto se materializasse através da publicação impressa. A alternativa ao problema foi criar uma publicação digital. Uma mudança de paradigma especialmente desafiadora para nós, psicanalistas, representando uma polarização conhecida entre o tradicional e o inovador. Afinal, qual psicanalista não cultua seus livros como objeto totêmico? Com a elaboração do luto pelo objeto totêmico perdido, abrimos espaço para discutir as possibilidades que o formato digital permitiria, entre elas: democratizar o conteúdo, tornando-o acessível a qualquer usuário, atualizar a entrada de autores cuja produção continua a se desenvolver e adicionar novos psicanalistas. A desmaterialização do livro abriu espaço para uma forma mais dinâmica, flexível e permeável de pesquisa, produzindo conhecimento articulado, entre a pesquisa de campo e o texto impresso. Assim, os verbetes tornaram-se entradas e uma plataforma web passou a ser construída - plataforma em que essa informação terá um espaço expansível e livre para circular em diferentes formatos, tanto através de fóruns de discussão eletrônicos como de seminários on-line, abrindo possibilidades para diferentes experiências. Para facilitar a circulação e o intercâmbio, criamos laboratórios (PPL-Lab), apresentações em congressos, seminários e jornadas de pesquisa ampliada, gerando resultados que retroalimentam a pesquisa e criam novas linhas de investigação.

Em 2012, no congresso da Federação Psicanalítica Latino-Americana (Fepal) em São Paulo, Stefano Bolognini (Itália), Cláudio Eizirik e Marcelo Viñar fizeram parte de nosso primeiro painel. Nesse congresso, conseguimos o apoio institucional da Fepal para seguir trabalhando no projeto. Sob a presidência de Fernando Orduz na Fepal, obtivemos financiamento institucional e partimos para a elaboração de nosso site, que começará a funcionar em meados de 2017. Em nossa plataforma digital, publicaremos os resultados de nossos laboratórios e as entradas sobre nossos pensadores periodicamente. De forma interativa, lançaremos, a partir dessas publicações, jornadas de trabalho, estimulando o diálogo entre pensadores e psicanálise. Esperamos criar possibilidades de reflexão e conhecimento para aqueles que se interessarem em saber mais sobre como pensamos, escrevemos e falamos a psicanálise.

No último congresso da Fepal, em Cartagena (2016), a primeira versão do site foi exibida em um telão. Compartilhamos com o público as primeiras 16 entradas que constarão de nosso site, ainda em fase experimental. São elas: Janine Puget, Celes Cárcamo, Durval Marcondes, Mariam Alizade, Cláudio Eizirik, Juan Pablo Jiménez, Jaime Szpilka, Leopold Nosek, Fanny Szkolnik, Antonio García, Héctor Garbarino, Antonio Muniz de Rezende, Fidias Cesio, Roosevelt Cassorla, Luis Kancyper e Jaime Lutenberg.

Também em Cartagena discutimos os resultados do nosso primeiro PPL-Lab, em que 28 analistas de diferentes Sociedades responderam às seguintes perguntas: existe uma prática psicanalítica própria da América Latina? É possível distinguir a psicanálise praticada em nossa região da psicanálise que se pratica na Europa e na América do Norte? Qual é a especificidade da clínica psicanalítica latino-americana? É possível pensar a condição latino-americana como um eixo que atravesse a teoria, a prática, a clínica, as instituições e a transmissão em psicanálise?

Os delegados PPL estão presentes em todos os países que constituem a Fepal, instrumentados para compartilhar nosso projeto em atividades desenvolvidas nos departamentos científicos de cada instituição. Desde abril de 2017, estamos disponíveis para apresentar o primeiro PPL-Lab, denominado "Existe um pensamento psicanalítico latino-americano?", nas Sociedades, Grupos e Núcleos da Federação Brasileira de Psicanálise (Febrapsi), ampliando a experiência que publicaremos na PPL-Web.

Em 2017, vamos inaugurar um novo PPL-Lab, intitulado "Psicanálise brasileira/brasilidade na psicanálise", dedicado especificamente à produção e difusão da psicanálise no Brasil. A primeira fase dessa pesquisa busca investigar as vicissitudes, características e filigranas que constituem a prática psica-nalítica no Brasil. Perguntamos: a brasilidade se apresenta ou não no pensamento e na clínica nossa de cada dia? Os resultados dessa primeira fase serão apresentados no congresso da Febrapsi em Fortaleza, em novembro de 2017. A partir de enunciados que surgirem desse laboratório, cotejaremos na produção autoral brasileira as interseções que atravessam os discursos e produzem especificidade clínica.

Em uma fase subsequente, os resultados obtidos no Brasil serão também difundidos em jornadas, seminários e cursos para o público hispano-parlante em atividades conjuntas promovidas pelo PPL, Febrapsi e Fepal. Será uma oportunidade de abrir pesquisas entre diferenças, complexidades e, quem sabe, algumas perplexidades.

A Febrapsi,1 juntamente com a Fepal, vem abrindo espaço para que nos debrucemos sobre as nuances entre a psicanálise praticada, escrita e falada no Brasil e a psicanálise praticada, escrita e falada por hispanoparlantes da América Latina.

Simultaneamente, um outro PPL-Lab será criado e se chamará "Vigência de Racker". Buscaremos desenvolver uma releitura contemporânea desse autor, que vem sendo redescoberto por colegas da Europa, América do Norte e América Latina.

Hoje temos cerca de 300 colegas envolvidos em diferentes níveis nesse projeto. Há um consenso entre os que participam que, mesmo sendo um projeto regional, o PPL vai além da psicanálise na América Latina, criando possibilidades enriquecedoras para um diálogo internacional. Entendemos que a América Latina tem um percurso importante para o pensamento psicanalítico, que merece ser problematizado, posto em questão, submetido a crítica, contribuindo para o intercâmbio de uma prática globalizada, plural e interativa. Procuramos principalmente oferecer oportunidades de pensar e produzir conhecimento em psicanálise com base na criatividade do espírito da descoberta. Criamos experiências em que colegas, vizinhos de diversas origens, podem discutir e propor ideias a partir de dispositivos gerados pelo PPL para esse fim. Buscamos produzir conteúdos descritivos, problematizando a construção identitária que usualmente tende a prescrever modelos e estabelecer polaridades entre experiências locais e experiências estrangeiras.

Vamos aprendendo que nossas atividades desempenham uma função heurística; os resultados que tivemos no primeiro PPL-Lab vão iluminar os próximos laboratórios: temos padrões idiossincráticos na forma como estudamos Freud? Temos influências políticas e econômicas próprias que trazem variações técnicas para nossa disciplina? Que impacto a psicanálise tem em nossa esfera social? Temos marcas regionais? Produzimos produtos de culturas particulares? Essas e outras perguntas nos levam a pensar sobre uma indagação essencial, que todo e qualquer psicanalista algum dia e em algum lugar poderia também formular: o que aprendemos de nossa experiência como psicanalistas?

Gostaríamos de somar vozes, experiências e sobretudo pessoas a esse projeto. Convidamos todos a participar.

 

 

Correspondência:
Jean Marc Tauszik
Avenida Suapre, Lomas de Monte Bello
Caracas, Venezuela jmtauszik@hotmail.com

Osvaldo Canosa
Sáenz 110, 3° piso, depto. B
Lomas de Zamora, Argentina
osvaldocanosa@yahoo.com.ar

Denise Salomão Goldfajn
Avenida Brigadeiro Faria Lima, 1826, conj. 813
01451-001 São Paulo, SP
dsgoldfajn@gmail.com

Contato com o PPL: ppl.fepal@gmail.com

Recebido em 31.05.2017
Aceito em 19.06.2017

 

 

1 Gostaríamos de agradecer a Daniel Delouya, Ney Marinho e Regina Esteves pelo apoio a essas atividades.

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