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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.51 no.3 São Paulo July/Sept. 2017

 

KEYNOTE PAPERS
50.º CONGRESSO IPA, BUENOS AIRES 2017

 

Intimidade: O dramático e o belo no encontro e desencontro com o outro1

 

Intimacy: the drama and the beauty in the match and mismatch with the other person

 

Intimidad: lo dramático y lo bello en el encuentro y el desencuentro con el otro

 

Intimité: le dramatique et le beau dans le fait de rencontrer et de ne pas rencontrer l'autre

 

 

Ruggero Levy

Membro efetivo e analista didata da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, SPPA

Correspondência

 

 


RESUMO

Partindo da ideia de que a vivência de intimidade é uma experiência emocional, o autor busca definir o que seria a intimidade na prática da psicanálise, como ela é construída na relação analítica, bem como os fatores que a possibilitam e aqueles que a impedem. O autor inicia fazendo considerações gerais a respeito da intimidade na vida, no ciclo vital e nas relações em geral. Chega à definição de que a vivência de intimidade é uma experiência emocional de contato consigo mesmo e com outro sujeito. A seguir foca no que seria a experiência de intimidade na relação analítica, entendendo que o encontro de dois sujeitos com suas subjetividades gera uma zona de turbulência emocional que, se tolerada, transformada simbolicamente e, portanto, pensada, pode levar a conhecer a intimidade das emoções de si mesmo e do outro. Assim, a emoção experimentada no contato com o outro sujeito é o elo entre os dois e aquilo que permite conhecer o que se passa no interior de si mesmo e daquele com quem estamos em contato. A seguir o autor propõe que poderíamos pensar em um gradiente de experiências íntimas, não sendo possível nos dois extremos, no polo do isolamento autista e naquele da fusão narcisista, a experiência de intimidade. Na zona intermediária haveria graus diversos de intimidades possíveis. O trabalho prossegue, e é descrito o que seriam os tempos da intimidade, buscando fazer, para fins teóricos, uma microscopia de como se desenvolve o processo de construção da intimidade na relação analítica e os obstáculos que encontra. Finalmente, são apresentadas vinhetas clínicas com o propósito de ilustrar o que seriam, para o autor, experiências de intimidade na relação analítica, as ansiedades mobilizadas e algumas defesas contra ela.

Palavras-chave: intimidade, relação analítica, simbolização, campo analítico


ABSTRACT

The author starts from the idea that intimacy is an emotional experience. His purposes are to define the meaning of intimacy in the psychoanalytic practice, the way intimacy is built in the psychoanalytical relationship, and to identify the factors that either facilitate or impede intimacy. The author begins with general considerations about intimacy in life, life cycle, and relationships in general. Living intimacy, he defines, is an emotional experience of being in touch with oneself and with another subject. He focuses on describing the experience of intimacy in the analytic relationship. According to him, the meeting between two subjects and their subjectivities creates an area of emotional turbulence. If this “turbulence” is tolerated, symbolically transformed, and therefore thought out, it may lead to know the intimacy of one's and the other person's emotions. This emotion, which one has experienced in being in contact with the other person, embodies the bond between the two of them. This emotion enables them to know what is happening within both oneself and the person with whom one is in contact. The author proposes a gradient of intimate experiences, which ranges from extremes of autistic isolation to narcissistic fusion. In both extremes, the experience of intimacy is impossible. Different degrees of potential intimacy may be found in the intermediate zone. In the following part of his study, the author describes the timing of intimacy. He closely examines, for theoretical purposes, the process of building intimacy in the psychoanalytic relationship and he identifies the obstacles to be overcome. Finally, clinical vignettes are presented to illustrate the way the author would characterize experiences of intimacy in the psychoanalytic relationship, the anxieties they trigger, and certain defenses against intimacy.

Keywords: intimacy, psychoanalytic relationship, symbolization, psychoanalytic field


RESUMEN

Partiendo de la idea de que la vivencia de la intimidad es una experiencia emocional, el autor busca definir qué sería la intimidad en la práctica del psicoanálisis, cómo se construye en la relación analítica, así como los factores que la hacen posible y aquellos que la impiden. El autor inicia con consideraciones generales sobre la intimidad en la vida, en el ciclo vital y en las relaciones de forma general. Llega a la definición de que la vivencia de la intimidad es una experiencia emocional de contacto con uno mismo, y con el otro sujeto. Luego se enfoca en lo que sería la experiencia de la intimidad en la relación analítica, entendiendo que el encuentro de dos sujetos con sus subjetividades genera una zona de turbulencia emocional que, si se tolera, transformada simbólicamente y, por lo tanto, pensada, puede llevar a conocer la intimidad de las emociones de sí mismo y del otro. De esta forma, la emoción que se siente en el contacto con el otro sujeto es el eslabón entre los dos y lo que le permite conocer lo que sucede en el interior de sí mismo y de aquel con el que estamos en contacto. A continuación el autor propone que podríamos pensar en un gradiente de experiencias íntimas, no siendo posible en los dos extremos, en el polo del aislamiento autista y en aquel de la fusión narcisista, la experiencia de intimidad. En la zona intermedia habría diversos grados de intimidades posibles. El trabajo prosigue y se describe lo que serían los tiempos de la intimidad, intentando realizar para fines teóricos una microscopía de cómo se desarrolla el proceso de construcción de la intimidad en la relación analítica y los obstáculos que encuentra. Finalmente se presentan algunos casos clínicos con el propósito de ilustrar lo que serían, para el autor, experiencias de intimidad en la relación analítica, las ansiedades movilizadas y algunas defensas con ella.

Palabras clave: intimidad, relación analítica, simbolización, campo analítico


RÉSUMÉ

En partant de l'idée que le vécu d'intimité est une expérience émotionnel, l'auteur cherche à définir ce que serait l'intimité dans la pratique de la psychanalyse, comment elle est construite dans son apport analytique, bien comme les facteurs qui la rendent possible et ceux que l'empêchent. L'auteur commence en faisant d'observations générales à propos de l'intimité dans la vie, dans le cycle vital et dans les rapports en général. Il arrive à la définition de que le vécu d'intimité est une expérience d'intimité de contact avec soi-même et avec l'autre sujet. Après, il s'arrête dans ce que serait l'expérience d'intimité dans le rapport analytique, en comprenant que la rencontre de deux sujets et leurs subjectivités crée une zone de turbulence émotionnelle qui, si l'on la tolère, transformée symboliquement et, donc, pensée, peut emmener à connaître ce qui se passe dedans soi-même et de celui avec qui on est en contact. Ensuite, l'auteur propose que nous pourrions penser à un gradient d'expériences intimes, qui n'est pas possible dans les deux extrêmes, au pôle de l'isolement autiste et dans ce de la fusion narcissique, l'expérience d'intimité. Dans la zone intermédiaire il y aurait des différents degrés possibles d'intimité. Le travail se poursuit et on décrit ce qui seraient les temps de l'intimité, en cherchant à faire, dans des buts théoriques, une microscopie de comment se développe le processus de construction de l'intimité dans le rapport analytique, les anxiétés mobilisées et certaines défenses contre celleci.

Mots-clés: intimité, rapport analytique, symbolisation, champ analytique


 

 

Embora nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente da experiência.

(Kant, 1787/1999, p. 53)

 

Introdução

Agradeço o convite a estar neste lugar privilegiado para poder expor minhas ideias a propósito desse tema tão relevante à psicanálise. A ipa e seu Comitê de Programa não poderiam escolher tema mais apropriado, pela sua centralidade na vida do homem, na cultura e na psicanálise. Focarei, entretanto, minha abordagem no significado psicanalítico da experiência de intimidade, sua metapsicologia, sua clínica, bem como as defesas contra ela, apenas tangenciando - embora não ignorando - a questão cultural.

Meu pensamento psicanalítico é fortemente baseado em Freud, Klein, Bion, Meltzer e Winnicott, e tenho muita gratidão a autores contemporâneos como Ferro, Ogden, Civitarese, Barros e Barros, Hartke, Aisenstein, Cassorla, Levine e Ithier, que marcaram profundamente minha forma de trabalhar e teorizar em psicanálise. Eles, certamente, estarão no background das ideias que exporei aqui, quando não forem citados explicitamente. Gratidão enorme também a meus pacientes e meus analistas, com quem realmente aprendi o que é a psicanálise.

Estudar e escrever sobre intimidade em psicanálise nos situa no que há, talvez, de mais humano, pois desde que saímos do ventre materno, experiência maior de habitar e compartir o corpo de outro, na verdade, buscamos pelo resto da vida o aconchego tranquilizador de um vínculo íntimo com outro ser humano, percurso descrito de modo belíssimo por Eizirik (2016). Ou seja, a busca - ou a fuga, na patologia - de vínculos íntimos perpassa a vida do homem, pois, como disse Bion, “o ser humano é um animal que depende de um par” (1978/1980, p. 95).

Ao longo dessa procura, por todo o ciclo vital, o corpo, sem dúvida, desempenha um papel central nas experiências de intimidade. Além de habitar o corpo materno durante a gestação, ao nascer, o sujeito humano segue compartindo a intimidade do corpo da mãe, alimenta-se dele e nele. Ademais, primitivamente, a mãe ajuda o bebê a conhecer o seu próprio corpo e construir uma imagem deste e de si como sujeito, ou seja, ajuda-o a iniciar um contato íntimo consigo mesmo. Na adolescência, a familiaridade e a intimidade com o próprio corpo têm que ser reconstruídas, assim como na velhice, quando o corpo se fragiliza e inevitavelmente se deteriora. No tocante à sexualidade, na adolescência e na vida adulta, o corpo novamente assume papel essencial na busca da intimidade sexual entre os amantes, entre os casais, na busca do prazer, do aconchego e da procriação. Penso que o ciclo se encerra quando se invertem as posições, e os filhos, com gratidão, auxiliam os velhos pais, até mesmo com os cuidados corporais: tornam-se pais e mães de seus pais.

A vivência de intimidade é uma experiência emocional. Acho que escrever sobre isso nos enquadra na vertente psicanalítica que tem se proposto a estudar a emocionalidade humana. Entendendo que a emoção indica o sentido inicial da experiência com o objeto e que o significado é construído através de um longo processo de simbolização que implica continência e transformação simbólica desde os elementos simbólicos mais primitivos até os mais abstratos, passando pela linguagem.

Faço um parêntese. A mente humana é talvez um dos sistemas mais complexos do universo, e, para apreendê-la, a psicanálise, em seus cerca de 120 anos de existência, criou vários modelos teóricos, na tentativa de dar conta de tamanha complexidade. Possivelmente, nenhum deles, isoladamente, consegue abarcar o universo da mente do homem. Identificarmo-nos mais com um deles não quer dizer que invalidemos os outros, e acredito até mesmo que na prática psicanalítica podemos transitar por vários deles, dependendo da situação clínica. Por meio de ilustrações clínicas, espero poder mostrar com clareza como eu penso e trabalho a intimidade na sessão.

Bion pôs a experiência emocional, a emocionalidade humana, e sua simbolização no cerne da expansão da mente. Se, para Freud, a expansão do psiquismo era impulsionada pela libido, Klein atrelou a locomotiva do desenvolvimento ao sadismo (Petot, 1991). Mas eis que chega Bion e afirma que as experiências emocionais amorosas (Love) ou agressivas (Hate) só conduzirão à expansão da mente se estiverem subordinadas a K (Knowledge), ou seja, se puderem ser conhecidas, pensadas (Bion, 1962; 1965; Hartke, 2007; Levy, 2012b; 2015; Rocha Barros, 2002; Rocha Barros e Rocha Barros, 2008), elevando K quase ao status de uma pulsão. A consequência dessa abordagem foi que, embora se considere que as pulsões de vida e de morte e suas fantasias inconscientes derivadas permaneçam como pano de fundo, a atenção passou a centrar-se nas emoções vividas no encontro com o objeto, nas relações com os objetos e seus destinos.

O que é feito com a emoção? Ela é contida e simbolizada? Ela é evacuada? Seu significado é falseado? É simbolizada, e posteriormente seu símbolo é atacado e destruído?

Sigo Meltzer e colaboradores (1986), dizendo que o desafio da psicanálise é transformar a relação analítica, inicialmente contratual, numa relação íntima. Para eles, a vida humana transcorre em basicamente três tipos de relações: as ocasionais, as contratuais e as íntimas. Nas duas primeiras, funcionamos em um modo operativo, adaptativo, protomental, mecânico, em que realizamos atividades para as quais treinamos, e as repetimos de um modo automático. Nas relações íntimas a situação é diferente. São relações em que existem experiências emocionais que poderão levar à expansão da mente, ao crescimento mental, por meio de um longo trabalho de continência e simbolização das emoções em curso. Deveremos, entretanto, conceituar o que são os momentos realmente íntimos na relação analítica, no campo relacional que aí se gera (Baranger e Baranger, 1969b; Ogden, 1994), pois, como veremos, nem todos eles serão de experiências de intimidade da dupla.

Antes de prosseguir, quero esclarecer que, quando me refiro à relação analítica, entendo que aí ficam englobados o conceito de transferência concebido por Freud (1912), como reminiscências do passado e fruto das identificações (Freud, 1923), e o conceito de transferência proposto por Klein (1952), como externalização do mundo interno. Nela estão abrangidos também os conceitos de contratransferência tais como foram pensados por Heimann (1949) e Racker (1960). Mas penso que os conceitos de campo analítico (Baranger e Baranger, 1969b) e de terceiro intersubjetivo (Ogden, 1994) acrescentam e englobam a noção de que as vivências transferenciais e contratrans-ferenciais de uma determinada dupla analítica geram algo novo, a fantasia de campo compartilhada e o terceiro analítico.

Ademais, espero poder discorrer sobre essa experiência tão subjetiva, tão íntima, sem perder sua riqueza e sutileza, incorrendo num tecnicismo empobrecedor. Também me proponho a enfrentar, dentro do possível, a inevitável pobreza das palavras para descrever situações emocionais complexas e profundas.

 

Intimidade e a dimensão estética da psicanálise

Enquanto escutava o arquiteto, paisagista e poeta Paul Andreu (2016) falar sobre a relação entre a luz e os materiais numa obra arquitetônica, no Congresso de Psicanalistas de Língua Francesa de 2016, lembrava-me da relação analítica. Ele dizia que é necessário haver uma “dansidade” entre eles, uma possibilidade de a luz e os materiais dançarem um com o outro, de interagirem, de se interpenetrarem, para que dali possa sair algo vivo. Também recordei a relação com nossos pacientes, quando Andreu, ao falar de seu processo criativo, destacava a importância da dimensão temporal, de deixar-se inundar, submergir e, de repente, descobrir que algo emerge; “a verdade está ali”, dizia ele (Andreu, 2016). É o que se passa na relação analítica. Precisaremos ter essa “dansidade” com nossos pacientes, ter uma interação viva, deixar-nos submergir na experiência emocional com eles, num estado mental mais próximo do onírico que do processo secundário, acolhendo suas comunicações, de todos os tipos, para então emergir graças a nossa função Intimidade: o dramático e o belo no encontro e desencontro com o outro analítica, para que nasça algo vivo, uma nova compreensão que diferencie os dois participantes da dupla analítica (Ithier & Levy, 2013).

A obra de Bion (1962; 1963; 1965; 1970) justamente versa sobre o processo de conhecer a “verdade” das emoções vividas nos vínculos humanos, nos quais a emoção é o elemento de ligação. Como fazer contato e conhecer (K) o que se passa na própria mente ou na mente do outro? Como nasce um novo pensamento a partir da experiência emocional vivida no vínculo com o outro? Como aproximar-se da “verdade” do outro ou de si mesmo? Verdade aqui sendo entendida como enigma, iminência de revelação (Ungar, 2000).

Íntimo provém do latim intimus, que é o superlativo de dentro, ou seja, o mais dentro possível. Intimidade, então, é ter contato com o interior de si ou do outro. Bion fala em “tornar-se o outro”, no sentido de ser o mais próximo possível da sua experiência emocional, e não “ser o outro”, perder sua identidade (Grotstein, 2005a). E retratou o fenômeno da intimidade, consigo mesmo ou com o outro, como jamais havia sido feito. Tornou a psicanálise uma prática sobre a obtenção e a experiência da intimidade (Grotstein, 2005b, p. 325).

Outra contribuição essencial de Bion (1962) ao entendimento de como se processam as trocas intersubjetivas foi modificar o seminal conceito de identificação projetiva de Melanie Klein (1946). Ele dá um salto teórico fantástico em relação à conceituação de Klein quando descreve a identificação projetiva realista, com finalidades comunicativas. Ou seja, o bebê e o ser humano em geral podem comunicar ao outro suas emoções, projetando-as inconscientemente dentro deste, sem cindir-se demasiadamente.

A descrição e conceituação do processo de comunicação de emoções brutas via identificação projetiva, acolhimento e transformação simbólica destas pelo objeto tiveram um efeito revolucionário na psicanálise, pois ele tem várias implicações. A primeira é que a subjetividade do bebê é constituída e/ou sofre uma ampliação pela mediação da subjetividade materna e de suas funções psíquicas, assim como a subjetividade emergente da mãe é constituída pela do novo bebê. A segunda, diretamente relacionada à primeira, é que o objeto adquire um novo estatuto, passa-se a considerar que ele realiza funções constituindo e ampliando a subjetividade do sujeito. A terceira - juntamente com as contribuições winnicottianas que abordarei depois - é que lança a psicanálise definitivamente no paradigma da complexidade (Prigogine, 1996; Morin, 1996).

Isso também terá consequência no modo pelo qual se entenderá a intimidade no processo analítico, pois podemos dizer que, assim como a mãe tem acesso à vivência subjetiva íntima do bebê e possibilita a este “conhecer” a si próprio, o analista poderá compartilhar a experiência emocional com seu paciente, conhecê-la e ajudá-lo a conhecer-se, abrindo todo um novo caminho na psicanálise, sua dimensão intersubjetiva, inaugurando um novo modelo psicanalítico, o transformativo (Ogden, 2012b; Ferro, 1998; Levine, 2012; 2016), em que a noção de campo analítico do casal Baranger (1969a; 1969b), ampliada por Ogden (1994; 2005), Ferro (1998), Cassorla (2010) e outros, ganhou um espaço central.

Winnicott também traz contribuições essenciais para a compreensão da constituição do sujeito na relação intersubjetiva com o outro, abordando-a com base na dinâmica de presença/ausência do outro (Winnicott, 1967).

Dizendo-se influenciado por Lacan, Winnicott (1967) assevera a importância do outro, da mãe inicialmente, na constituição do sujeito. Afirma que o precursor do espelho é o rosto da mãe. Com muita riqueza, comenta que o bebê, quando olha o rosto da mãe, vê a si mesmo. A ponto de o autor inglês cunhar a frase lapidar “quando olho, sou visto; logo existo” (p. 157). A mãe que consegue “olhar” o bebê fica se parecendo com o que ela vê ali. A sensação do bebê ganha significado no rosto da mãe. É neste interjogo, de mostrar-se e ser visto, que se constrói a imagem que o sujeito tem de si e que será a “verdade” a respeito de si mesmo. Ou seja, nas relações humanas íntimas nos vemos, encontramos a nossa “verdade” no rosto dos outros. Winnicott ainda complementa afirmando que os bebês cujas mães não conseguem olhá-los olham para a mãe e não veem a si mesmos. Vemos aqui o quanto Winnicott, juntamente com Bion, também traz contribuições importantes, pensando a psicanálise desde a complexidade da constituição do ser humano. Junto às contribuições desses autores ingleses, que lançaram bases metapsicológicas sólidas para a dimensão intersubjetiva da psicanálise, a teoria do campo analítico enunciada pelo casal Baranger (1969a; 1969b) consubstanciou ainda mais a compreensão do que se passa quando dois sujeitos com suas subjetividades encontram-se na sala de análise.

Ogden (1994) enriquece essa concepção winnicottiana dizendo que, quando a criança se vê no rosto da mãe, cria-se uma dinâmica de existir/não existir em que a mãe, ao mesmo tempo em que reconhece e se identifica com o estado interno do bebê, desaparece e permite ao bebê ver-se como um Outro. O bebê põe-se no lugar da mãe e vê a si mesmo como um Outro.

Como estamos vendo, o contato e a aproximação de duas subjetividades através de um vínculo carregado de emoções é um processo complexo e paradoxal. De um lado, existem as trocas acima descritas, vias de comunicação entre dois sujeitos, mas, simultaneamente, é necessário também conviver com a ideia de que, em última análise, o interior do outro é intangível, inacessível, a ponto de Meltzer (1971) afirmar: “A enorme solidão solipsista de que sofre o ser humano reside na impossibilidade de saber - realmente sentir - as emoções de outro ser humano” (p. 186). Apenas podemos, com muito esforço, conjecturar (Meltzer, 1988), fazer contato por meio de nossa rêverie ou nossa intuição (Bion, 1962; 1965; Ogden, 2005; Ferro, 1995; 1998; Civitarese, 2014; 2015), nossa empatia (Bolognini, 2008; 2016), nosso trabalho em duplo (Botella e Botella, 2002), abrindo nossa mente para tentar acolher algo da subjetividade do outro.

André Green (1975) - junto com o casal Botella (2002) e Roussillon (2013), entre outros psicanalistas franceses -, já desde os anos 70, também se inseria na corrente psicanalítica que visava compreender o processo de crescimento psíquico com base nas trocas entre paciente e analista. Em 1975, por exemplo, escreveu textualmente: “o objeto analítico real não está do lado do paciente nem do analista, mas no encontro destas comunicações, no espaço potencial que está entre as duas, limitado pelo enquadre, que se interrompe a cada separação e se reconstitui em cada reencontro” (p. 54). Infelizmente, por uma questão de tempo e espaço, não poderei me estender em considerações sobre esses ricos aportes.

Mas, voltando à importância da emoção no encontro com o outro e sua centralidade na tarefa do conhecimento, Meltzer, em vários trabalhos (1971; 1988; Meltzer et al., 1986), descreve o encanto, o deslumbramento, nessa aproximação, mas também o temor e a angústia. Considera que o contato com o objeto é uma experiência estética, na medida em que seu sentido, sua natureza, é indicado pelas intensas emoções e sensações que desperta, e não pela razão.

Um lindo bebê comum olha intrigado, fascinado, seduzido e encantado para a sua linda mãe comum. Paixão e sensualidade transpiram de ambos os lados desta relação. Ele, o bebê, o príncipe, é olhado com amor, medo, irritação, sensualidade e mistério pela sua majestosa mãe. E ela, a grande fada, da mesma forma, é olhada, admirada, temida, desejada, amada, odiada, pelo maravilhoso bebê comum, encantado com sua beleza - no sentido de que esta o inunda de sensações e bombardeia sua sensorialidade -, mas intrigado pelo mistério de seu interior inapreensível pelos sentidos (Meltzer, 1988). Este é o conflito estético.

Meltzer situa o conflito estético como ponto de partida do desenvolvimento, postulando que ele se mantém assim, ao longo da vida, como um elemento imprescindível ao crescimento mental. Neste vértice, o pensamento criativo constitui-se no esforço para dar representação simbólica à intensa experiência emocional desencadeada pela presença do “outro” e pelo enigmático de seu interior intangível. A presença do objeto e seu mistério põem a mente a trabalhar, a criar formas simbólicas que representem algo da experiência emocional. Ou seja, este duplo elemento, presença intensamente rica em estímulos sensoriais, por isso bela, arrebatadora, e em mistério, pelo caráter inalcançável, inatingível, do interior do objeto, é essencial ao desenvolvimento da imaginação especulativa, do pensamento criativo. Essa seria uma função poética de nosso inconsciente (Meltzer et al., 1986; Civitarese, 2014), na medida em que cria imagens, quando possível, que contenham a emoção do encontro com o outro. Ou, então, se esta emoção é insuportável, poderá ser evacuada da mente por meio da ação, da identificação projetiva defensiva ou nas alucinações.

A situação analítica tem a virtude de prover um território para a expressão da linguagem da emocionalidade vivenciada pela dupla numa relação íntima. A convergência do material onírico com a experiência emocional direta na transferência e o processo de construção-reconstrução das relações passadas desafiam o paciente e o analista a encontrar formas verbais precisas que descrevam a experiência de compreender e ser compreendido (Meltzer, 1971). E esta possibilidade de ter consciência de si mesmo e da experiência que está sendo compartida depende em grande parte da sinceridade que o sujeito é capaz de ter, de aceitar, conter e reconhecer a emoção que está sendo vivida. Evidentemente, isto também se passa na mente do analista. A possibilidade de conscientizar-se da experiência emocional em curso na sessão depende de sua abertura mental a acolher as emoções compartilhadas, sua capacidade continente e sua sinceridade. Dependerá também de seu cansaço, tipo de transferência, stress pessoal etc. (Meltzer, 1971).

Esse enfoque, que põe a emoção no centro - e como elo - da experiência subjetiva entre dois sujeitos e o inconsciente com a tarefa poética de construir imagens prenhes de significado que traduzam essa emocionalidade, constitui a dimensão estética da psicanálise, como foi tão bem descrito por Virginia Ungar (2000), no trabalho em que propõe o modelo estético da psicanálise.

 

É possível definir um gradiente de intimidade?

Na tentativa de uma precisão maior para caracterizar as experiências de intimidade, talvez se pudesse definir um espectro de experiências de relações de objeto - e mesmo da relação consigo mesmo - que iriam de um extremo, que seria um sujeito em um estado mental de isolamento autista, a outro extremo, de um estado mental de fusão narcisista, passando por um gradiente de experiências íntimas. Proponho o seguinte diagrama, inspirado em Meltzer e Bion:

Isolamento autista ↔ ... Intimidade ... ↔ Fusão narcisista

Sugiro com este diagrama, com suas flechas bidirecionais, que há uma oscilação dinâmica entre essas várias posições e que nas relações humanas transitamos por estados mentais em que estaremos mais ou menos disponíveis para relacionamentos íntimos e também que poderemos ter graus diferentes de intimidade com o outro e com nós mesmos. O que não impede que também em situações de patologia possa-se passar, por exemplo, diretamente de um estado de fusão narcisista a um desmantelamento autista, dependendo da ansiedade e das defesas contra ela.

Como dizia Bion, o encontro de duas subjetividades provoca uma tempestade de emoções que fazem uma exigência de trabalho enorme à mente. O leque de emoções é quase infinito: paixão, amor, ódio, desejo erótico, desejo de conhecer, inveja, medo, culpa, ansiedade de separação, medo à rejeição, desprezo, atração, repulsa, admiração, e assim poderiamos seguir tentando nomear ad infinitum. As defesas contra as emoções intoleráveis podem distribuir-se no mesmo espectro ilustrado no diagrama acima. Podem ir desde as defesas autistas, e a desmentalização consequente (Korbivcher, 2001; Civitarese, 2015), até os estados narcisistas, com suas relações de objetos onipotentes e narcisistas, em que o sujeito, por meio da identificação projetiva intrusiva, apropria-se do outro, ou o utiliza para evacuar seus aspectos indesejáveis (Meltzer, 1973; 1992; Rosenfeld, 1987). Tanto num extremo como no outro, os limites do self são borrados ou perdidos, a noção de alterida-de é perdida, bem como a possibilidade de ter experiências de intimidade. Poderiamos também supor que, para poder ter uma relação intima consigo mesmo, conhecer seu próprio interior, o sujeito não pode estar num estado de funcionamento mental em que predominem as defesas autistas, nem aquelas projetivas, pois tanto umas como outras impedem o contato do sujeito com sua vida emocional.

Para haver uma genuina experiência de intimidade numa relação de objeto, parece ser necessário que a dupla, além de sinceridade para com as emoções vividas, mantenha os limites do self e a noção de alteridade (Minerbo, 1993), e que o senso de identidade não tenha sido demasiadamente afetado. As variações na intimidade não têm a ver com a intensidade da dor psiquica, mas com o grau em que ela é aceita (Meltzer, 1971). Desde a perspectiva do conflito estético, se poderia definir intimidade como a capacidade de tolerar a turbulência decorrente da presença do objeto, sem evadir-se do contato autisticamente, nem se fundir onipotentemente, por meio de identificações projetivas e intrusivas.

O problema é que no encontro analitico, inicialmente pelo menos, o analista depara com pacientes que, para defender-se do sofrimento, entregaram-se às organizações narcisistas, ou estão com identificações patológicas. O desafio será descobrir como transformar esse encontro em um encontro intimo. Será necessário que o par analitico tenha coragem suficiente para enfrentar a dor psiquica inevitável quando a dupla se propõe a um contato intimo e sincero. A análise é um processo de descobrimento, impulsionado pelo inconsciente do paciente, mas também pelo nosso. Contamos com o auxilio de nossos objetos internos, todos aqueles com quem tivemos relações profundas, nossos objetos originais, nossos analistas, supervisores, pacientes e também com o método e o setting analítico internalizados, com as nossas teorias, e nos entregamos a eles acreditando que nos ajudarão quando necessitarmos.

Também para nós, entretanto, em muitos momentos, o intenso contato emocional da análise poderá ser penoso, fazendo com que também resistamos a ele. Se tivermos a disponibilidade, a coragem e a sinceridade necessárias, num estado mental próximo ao onírico, com base na experiência emocional consciente e inconsciente com o paciente, é possível que sejam sentidas intuições ou que, no inconsciente do analista, se apresentem as imagens, ou as metáforas, ou as palavras que melhor contenham a experiência emocional vivida, ou que ele tenha de as produzir oniricamente por meio de sua capacidade de sonhar. E é aí que está, eu creio, a criatividade do psicanalista.

 

Os tempos da intimidade

Como vimos, o encontro íntimo pautado pela emoção entre dois sujeitos é um fenômeno rico, complexo e constituinte do homem. Gostaria agora de ampliar um pouco a lupa com que estamos descrevendo a experiência de intimidade no campo analítico, pois sugiro que podemos tentar acompanhar, apenas para fins de estudo, os tempos em que ela se desenvolve - na prática, o processo é muito mais complexo e inefável.

A experiência íntima consigo mesmo poderá ser assustadora, pois, de um lado, aproxima o sujeito do vazio infinito, desconhecido, de seu inconsciente (Bion, 1965), e, de outro, no caso da experiência analítica, põe-no, muitas vezes, em contato com desejos e fantasias projetadas, reprimidas, deslocadas, recusadas, processos defensivos já extensamente descritos por Freud, Klein e inúmeros autores psicanalíticos. Assim, o sujeito resiste a ser ele mesmo, viver a sua realidade última, chamada de O por Bion (1965).

Nesse contexto, o objetivo do trabalho analítico, da interpretação, é auxiliá-lo a tornar-se ele mesmo. Poder-se-ia dizer que, quando o paciente pode tornar-se ele mesmo, ele está podendo ter uma experiência de intimidade consigo mesmo, de contato íntimo consigo próprio. Esta experiência emocional, justamente por ser intolerável, muitas vezes não está simbolizada ou está fracamente simbolizada, cindida e expulsa da mente, ou por identificação projetiva, ou por atuações com finalidades evacuativas (Levy, 2012a; Ruggiero, 2007) , ou no soma (Bion, 1962; Aisenstein, 2004; 2009), ou então no alucinatório (Bion, 1962; Ithier, 2016).

No campo analítico, entretanto, essa experiência emocional intolerável ao paciente num primeiro momento, para ser conhecida, compreendida e posteriormente elaborada (Rocha Barros, 2002; Rocha Barros e Rocha Barros, 2008) , precisa existir, evoluir, em algum continente, como foi tão bem descrito por Ogden em vários trabalhos (1994; 2005) e também por Ferro (1998; 2011), entre outros. Se o analista estiver disponível e puder contê-la, a emoção recusada pelo paciente, mas presente no campo, ou identificada projetivamente no analista, poderá evoluir nele, analista. Ele se tornará a emoção do paciente, ou aquela gerada no campo pelo encontro dos dois, o que permitirá conhecê-la intimamente. Neste momento, talvez possamos dizer que o analista está tendo uma experiência de intimidade com algum aspecto do self do paciente. Sugiro que este poderia ser um momento do processo de intimidade.

Como ilustrarei a seguir, o analista, ao acolher as identificações projetivas do paciente, vivencia até certo ponto uma negação da sua própria individualidade, como se deixasse de ser ele naquele momento, para “tornar-se” aquilo que o paciente não está podendo ser naquele instante.

Espera-se, no entanto, que num segundo tempo da intimidade o analista possa recuperar a si mesmo, recuperar a sua capacidade de pensar, sua função analítica, e transformar aquela experiência numa compreensão que será um “objeto analítico” (Ogden, 1994, p. 86), um portador de sentido psicanalítico produzido intersubjetivamente. Muitas vezes, entretanto, o analista é simplesmente acionado pelas identificações projetivas a funcionar de uma determinada forma, perdendo sua capacidade de rêverie e transformação em alfa, podendo até, em algumas situações, depender do paciente para recuperá-la, como creio que essa situação na análise de Bob ilustra.

Numa de suas sessões, Bob, um paciente bastante competitivo e oposicionista, relatava-me o quanto ele e sua família constituíam um grupo espetacular, superior às outras famílias. Eram todos maravilhosos! Aquilo me irritava, me parecia pernóstico, exibicionista, estavam criando uma situação “como se”, e eu pensava pobres filhos... Pois bem, quando me dei conta, eu estava discorrendo sobre o desenvolvimento infantil, necessidades das crianças etc., desde a minha experiência de atendimento de crianças e adolescentes, com uma vivência do tipo vou botá-lo no seu lugar! No outro dia, Bob, que se refere a mim como “senhor”, embora tenha quase a minha idade - o que não é comum no Brasil -, me traz o seguinte sonho: sonhei com o Senhor (eu fiquei na dúvida se se referia a mim ou se tinha sonhado com Deus, o Senhor), com a sessão de análise. Eu o via através de sua sombra projetada na parede. Eu via que o Sr. tirava a sua roupa de analista e botava uma roupa de homem comum e me dizia: Bob, agora chega, vamos terminar com esta situação! Eu sabia que o Sr. se referia à minha briga crônica com meu irmão e que o Sr. achava que eu, por birra, não queria terminar. Mas ao mesmo tempo ficava assustado, achando que o que o Sr. queria terminar era a análise. O paciente faz várias associações, mas, para o que nos interessa hoje, entendi que Bob pudera sonhar o que fora atuado por mim no dia anterior: eu havia deixado de ser seu analista, havia abandonado a atitude analítica, e ele sentira isso como um abandono, uma desistência de analisá-lo em função de seu oposicionismo. Na verdade, em vez de acolher e transformar suas identificações projetivas, atuei na sessão esse conjunto de emoções brutas que invadiam nosso campo relacionai, competindo com ele e me mostrando cheio de “saber”, certamente um enactment (Cassorla, 2004; 2014). Naquele momento, eu havia perdido o meu setting interno, que pôde ser restaurado por meio da rêverie de Bob e sua compreensão por mim, e foi ele quem pôde sonhar as emoções brutas do vínculo.

Indo adiante na descrição da experiência de intimidade, sugiro ainda um novo momento, pois, caso julgue que o paciente já tenha condições de conter essa parte do self projetada, o analista poderá interpretá-la para que o paciente possa vivê-la e recuperar parte de sua subjetividade que esteve perdida.

Imagino ainda uma outra situação na construção da experiência de intimidade, pois, dependendo de como transcorre o trabalho da dupla, caso sigam evoluindo na experiência emocional presente no campo analítico, conhecendo sobre ela e vivendo-a, sem identificações projetivas excessivas, poderão talvez viver uma experiência de intimidade compartilhada. Essa talvez seja o que se poderia chamar de “verdadeira experiência íntima” - se é que podemos nos dar essa liberdade de linguagem -, porque estão os dois sujeitos, separados, com seu senso de alteridade preservado, cada um sendo ele mesmo, mas compartilhando uma experiência emocional presente no campo analítico.

Ocorre-me que poderá existir um tempo a mais na experiência de intimidade, que eu chamaria de intimidade diferida... Após o analista ter acolhido emoções, fantasias ou pensamentos selvagens (Bion, 1997) por meio de sua rêverie, permitido sua evolução dentro de si mesmo e até podendo ter chegado à sua compreensão, ou seja, ter tido um contato íntimo com a subjetividade de seu paciente, quando interpretá-los? Quando o paciente terá um continente para reintrojetá-los? Em outro trabalho (Levy, 2012a), também estudei a necessidade de, muitas vezes, criar andaimes ao pensar, ajudar o paciente a construir uma rede simbólica continente, que possa receber de volta aspectos evacuados sem desestruturar-se, podendo, finalmente, ter intimidade com aspectos seus insuportáveis. A possibilidade de espera foi um dos desenvolvimentos mais valiosos da psicanálise contemporânea, podemos esperar o tempo do paciente, quando ele poderá pensar e acolher pensamentos antes impensáveis.

Todo esse processo de construção da experiência íntima consigo mesmo e da possibilidade de tê-la com o outro é típico e só pode ocorrer na sala de análise. Em outras situações da vida, o sujeito ou tem experiências íntimas e enriquece seu mundo psíquico, ou não as tem, e segue empobrecido. A relação analítica, com sua necessária alta densidade emocional, é que pode utilizar a necessidade e o temor à experiência íntima para fins de tratamento do paciente.

Evidentemente, a descrição dos tempos da intimidade que fiz acima é possível apenas para fins teóricos, acadêmicos, pois, como veremos no caso clínico, a vivência de tudo isso é muito mais complexa, misteriosa e inefável, sendo muita coisa compreendida apenas no après coup. No calor da sessão analítica somos guiados pela intuição e iluminados pelos conceitos que carregamos conosco, e ambos são necessários e imprescindíveis.

 

Mônica, o horror à intimidade

Eu e Mônica vivíamos intensos afetos no campo analítico, brutos, que eram ali despejados, evacuados, à espera de alguma simbolização para serem inseridos na cadeia simbólica (Levy, 2012b).

A turbulência emocional provocada pelo nosso encontro manifestava-se constantemente em Mônica. Uma parte neurótica da personalidade simbolizava as experiências emocionais transbordantes do campo analítico, e outra parte destruía esse conhecimento por referir-se a situações impensáveis. Por meio de dois sonhos procurarei ilustrar o que estou comentando. “Eu me via pequena agachada e brincando na rua. Parecia até que eu estava de fraldas. Ao meu lado havia um muro que não era completamente fechado. Era daqueles muros em que há buracos entre os tijolos. Através dos orifícios passavam reflexos de luz, e eu via que do outro lado do muro tinha uma igreja que parecia ser linda. Eu me aproximava do muro, maravilhada, para ver a igreja através dele. Subitamente, vinha algo como uma nuvem em direção ao muro, e era a imagem de uma bruxa que atravessava os orifícios do muro. Eu me apavorava e acordava.” Entre outras coisas, simbolizava seu conflito estético vivido em sua relação comigo: ao perceber-me como um objeto que atraía a sua curiosidade e que lhe parecia belo (Meltzer, 1988) - no sentido de despertar intensas emoções -, horrorizava-se, pois passava a me sentir como um objeto invasivo, incontrolável e assustador. Nossa intimidade lhe era absolutamente terrifican-te. Defendia-se dela como podia. Faltava às sessões, silenciava durante muito tempo quando estava comigo ou “desmontava” o que eu lhe oferecia em termos de entendimento, tal como aparece no seguinte sonho: “eu tinha ganhado uma bicicleta. Só que, em vez de andar na bicicleta, eu a desmontava. Depois eu tentava montar de novo e não conseguia mais”. Entendemos, eu e Mônica, que essa era uma atividade mental sua, muito ativa e presente, em que, em vez de utilizar o que eu lhe dizia para “andar” para a frente, desmontava em pequenos pedaços que não serviam mais para andar/pensar. Como diria Bion (1959), aquilo-que-liga era atacado e ficavam pedaços desmantelados, sem significado. Fazia isso não por alguma destrutividade especial, mas pelo horror que vivenciava ao aproximar-se de mim enquanto objeto estético (Meltzer, 1988). Com seu mundo interno provocado pela interpretação, não tolerava a intimidade entre nós, nem com ela mesma.

Esse horror à aproximação foi gradualmente adquirindo outra forma. Por sua atitude no divã, pernas e braços sempre cruzados, sua tensão, seu rechaço e por minha contratransferência de surpreender-me às vezes, nas suas sessões, com fantasias eróticas bizarras, absolutamente estranhas para mim e incongruentes com o clima da sessão, comecei a imaginar que essas fantasias que me habitavam ali, na sala de análise, poderiam pertencer à subjetividade de Mônica e indicar que ela pudesse ter sido vítima de algum abuso, experiência traumática à espera de uma melhor simbolização. Novamente minha vivência subjetiva era constituída provavelmente pela de Mônica, ao mesmo tempo que a dela, na sessão, pela minha presença, como será evidenciado a seguir. Embora não tivesse registro consciente de uma experiência de abuso sexual, este tema seguidamente estava presente no campo, seja por fantasias minhas, seja por sonhos de Mônica, ou de ambos.

Estive ausente uma semana em função de viagem, e, no meu retorno, inicia a sessão dizendo que estava irritada, brigava comigo e queria que eu fizesse o mesmo com ela. Digo que a reaproximação comigo lhe é difícil, prefere brigar e gostaria que eu correspondesse, para poder ir embora de uma vez e, então, se aliviar de ter que estar próxima de mim e dela mesma, do que se passa em seu interior. Penso que minha ausência e a minha presença provocavam-lhe raiva e desejo de brigar comigo por perceber a sua dependência, na minha ausência, e temor, na minha presença, pelo receio de sofrer algum tipo de abuso, ou intrusão, como creio que o sonho abaixo ilustra.

Muda o tom de voz, está mais cálido e mais próximo.

“Eu estava falando com a Maria, a psiquiatra (colega com quem se tratou anteriormente), no consultório dela, e ela parecia que estava ocupada com outras coisas e não me dava atenção. Eu estava desesperada porque eu também não me lembrava por que eu estava ali, o que tinha me levado até aquele tratamento. O ambiente era muito depressivo, escuro. Depois eu passava para outra sala, e entrava um médico que poderia ser tu, porque ele era meio careca. Eu estava deitada numa mesa, e ele me olhando do meu lado. Parecia que ele ia me abusar. Eu dizia que ele não poderia fazer aquilo, que eu ia morrer, e eu tinha dois filhos que iam ficar desamparados. Eu estava desesperada.” A paciente está muito emocionada e chora ao me contar este sonho. “Daí parecia que ele morria, caía em cima de mim, e eu não conseguia me livrar, porque ele era muito pesado.”

Diz-me que não associa nada. Vem-me a imagem de uma criança com um adulto sobre ela, e ela sem forças para se livrar. Lembro-me de minha ausência na semana anterior. Pergunto-lhe se não lhe ocorre que os sonhos possam estar ligados com a minha ausência da semana anterior. Diz que não sabe. “Como estariam ligados?” Sugiro que talvez a sensação que não a escutei na semana passada, que estava ocupado com outras coisas, não lhe dando atenção. Mas que parece que conseguiría admitir a minha falta, se eu fosse mulher, a Maria, mas, quando se imagina próxima de mim, como homem, parece que retorna o temor e o desespero de ser abusada por mim. E me mostra o ambiente depressivo e pesado que estes sentimentos criam dentro dela. Mônica chora e diz: “até quando vão se repetir estes sonhos que não acrescentam nada!!!”

R: Acrescentam... Ocorreram-me duas ideias sobre o homem caído sobre ti...

P: Ele caía? Já nem me lembro o que te contei.

R: É tão pesado, que esqueces. Lembro-lhe o sonho.

P: É, foi isso, mas a imagem dele caindo não é tão clara, mas era o que acontecia.

R: A imagem que me ocorreu é de uma criança tendo um adulto sobre si, que lhe é muito pesado... Ou que essa foi a forma de me mostrares o quanto estes sentimentos são pesados para ti...

P: Não vai adiantar nada analisar isso, só aumenta o meu sofrimento. Está quase gritando, ao mesmo tempo irritada e desesperada.

Digo-lhe que fica desesperada, pois lhe parece que estar próxima de mim e das pessoas só vai fazê-la sofrer. Por isto se afasta e quer afastar a todos de si.

P: Eu afasto todos de mim.

Fica em silêncio, pensativa.

Creio que esses fragmentos de sessão ilustram o quanto o tema da intimidade perpassava a análise de Mônica, como acredito que ocorra em todas as análises. A aproximação comigo enquanto seu analista recriava uma situação traumática em que a intimidade analítica era vivida com horror. Fantasias e sentimentos seus ou eram violentamente reprimidos, ou projetados, ou seus símbolos destruídos, ou seu aparelho de pensar atacado. Eu compartilhava muitas destas emoções, as vivia na sessão. Mas, ao mesmo tempo, apesar de suas faltas e brigas comigo, ela ansiava a temida proximidade, pois necessitava de um objeto apaziguador, confiável, continente e transformador de toda essa gama de emoções turbulentas e insuportáveis.

Sua evolução foi até a produção do seguinte sonho:

M - Sonhei que tinha adormecido na sessão e que tu pacientemente ficavas sentado atrás de mim, esperando que eu acordasse. Foi muito curioso, porque quando eu acordava o sentimento era muito bom, me parecia que tinhas ficado me protegendo.

Senti-me profundamente emocionado, comovido e com um sentimento de intensa felicidade. Ela estava finalmente “despertando” do “sono” que a impedia de “me ver” como alguém que cuidava dela! Finalmente podíamos viver uma nova experiência de intimidade, e podia perceber-me como um objeto bom, cuidador, sem atacar sua percepção, seus pensamentos e seu aparelho de pensar, depois de sete anos de análise. Voltando ao conflito estético de Meltzer, podia ver-me agora não como a Belle Dame sans Mercy, mas sim como um objeto respeitoso e cuidador. “Dormia a meu lado”, intimamente, um sono tranquilo e reparador. Podíamos estar próximos e íntimos sem tanta angústia de violência e intrusão.

 

Comentários finais

Creio que as notas que transcrevo a seguir, tomadas assim que encerrei uma sessão com outra paciente, alguns anos atrás, ilustram as emoções que compartilhamos com nossos pacientes nos momentos de intimidade de uma análise. Momentos não tão comuns num tratamento analítico, mas de enorme prazer quando os atingimos, talvez pelo fato de novamente nos sentirmos tão próximos a outro ser humano, o prazer do paradoxo de “estar em um com, mas separado” (Winnicott, 1958).

Terminei a sessão com lágrimas nos olhos pela emoção, pois havíamos chegado a experiências emocionais intensas analisando sua relação com a irmã. A verdade é bela, como diz Meltzer, inspirado nos poetas ingleses? Trazia sempre uma imagem da irmã como uma pessoa arrogante, esnobe, vaidosa. Mas agora se descortinava outra visão dela: uma pessoa sofrida, marcada pelo abandono precoce que tivera dos pais, pois fora enviada para ser criada por outra família durante muitos anos. E nós dois, eu e minha paciente, víamos, emocionados, a nova visão de sua irmã, que emergia criativamente através de um sonho que me trouxe e do nosso trabalho na sessão. Compartíamos a emoção de construir uma nova e bela imagem da irmã. Bela porque nos parecia mais verdadeira que a anterior. Estávamos emocionados não só pela nova imagem que construímos de sua irmã, mas pela beleza do trabalho analítico capaz de tamanha fertilidade.”

Essa possibilidade de viver a emoção junto com o paciente é o que nos permite ter acesso à sua intimidade e à nossa, de uma forma encarnada, com corpo e mente integrados numa unidade indissociável, e permite aflorar uma vivência de verdade e de beleza, fora de parâmetros exclusivamente racionais, constituindo-se numa verdadeira experiência estética. Pela intensidade da vivência emocional, entretanto, e a necessária anulação de nossa identidade em algum momento desse processo, com todo o trabalho psíquico que exige de nós, frequentemente nos defendemos dessa experiência e conduzimos o processo analítico, infelizmente, de modo pouco inspirado e mais próximo do pensar do que do sentir. Bion (1965) diria que estamos trabalhando mais na perspectiva de conhecer sobre do que tornar-se, resultando assim em um trabalho menos rico e belo do que poderia ser; mas, felizmente, muitas vezes isso não ocorre, quando toleramos a experiência de intimidade emocional.

 

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Correspondência:
Ruggero Levy
Rua Carvalho Monteiro, 234/501 90470-100 Porto Alegre, RS
Tel.: 51 3332-9009
ruggerolevy@gmail.com

Recebido em 14.06.2017
Aceito em 28.06.2017

 

 

1 O autor detém os direitos autorais deste artigo, que é de sua responsabilidade como palestrante do Congresso Buenos Aires IPA, sob o título Intimacy, que ocorreu de 25 a 29 de julho de 2017.

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