SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.51 issue3The unhistoricizing effect of the trauma: an essay about the dimensions of psychic temporalityA Hungarian chapter of the history of psychoanalysis: The contributions of Ferenczi, Spitz, and Balint to the study of passive forms of mental illness author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.51 no.3 São Paulo July/Sept. 2017

 

OUTRAS PALAVRAS

 

Pas de deux

 

Pas de deux

 

Pas de deux

 

Pas de deux

 

 

Miguel Calmon du Pin e Almeida

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro (SBPRJ)

Correspondência

 

 


RESUMO

Nem todo desenvolvimento psíquico alcança suas formas mais elaboradas de vigência. Por vezes, o processo só se realiza aos pedaços, marcando o sujeito de forma particular. Partindo da consideração do traumatismo precoce, o trabalho articula três conceitos, a saber: homossexualidade primária, relação alérgica de objeto e culpabilidade primária.

Palavras-chave: homossexualidade primária, relação alérgica de objeto, culpabilidade primária


ABSTRACT

Not every psychic development reaches its most elaborated forms of being. Sometimes, the process is only partially implemented and it leaves a particular mark on the subject. Starting from the study of the precocious trauma, the author articulates three concepts, as follows: primary homosexuality, allergic relation of object, and primary culpability.

Keywords: primary homosexuality, allergic relation of object, primary culpability


RESUMEN

No todo el desarrollo psíquico alcanza su forma más elaborada de vigencia. A veces, ese proceso se realiza solamente por partes, marcando al sujeto de forma particular. Partiendo de la consideración del traumatismo precoz, este trabajo articula tres conceptos: homosexualidad primaria, relación alérgica de objeto y culpabilidad primaria.

Palabras clave: homosexualidad primaria, relación alérgica de objeto, culpabilidad primaria.


RÉSUMÉ

Ce n'est pas tout le développement psychique qui atteint ses formes les plus élaborées d'usage. Parfois, le processus ne se réalise que peu à peu, en marquant le sujet de façon singulière. En partant d'une réflexion sur le traumatisme précoce, ce travail articule trois concepts, à savoir: l'homosexualité primaire, la relation allergique d'objet et la culpabilité primaire.

Mots-clés: homosexualité primaire, relation allergique d'objet et culpabilité primaire


 

 

Tudo aqui é distância - lá era alento. Depois da primeira pátria, como parece a segunda incerta e sem abrigo! Bem-aventurada a pequena criatura que sempre permanece no seio que a criou; ó tu, mosca feliz, que saltas interiormente ainda mesmo nas núpcias: o ventre é tudo. (Rainer Maria Rilke, Elegias de Duíno)

Há certos versos que nos perseguem. Esses da “Oitava elegia” das Elegias de Duíno, de Raine Marie Rilke, são um exemplo. Desde que os li, eles retornam à minha mente em diferentes situações da vida. Acredito que os versos, ao se repetirem em nossas cabeças, nos colocam diante de alguma coisa que jamais se dá e que jamais se realiza por inteiro e, ao não se completarem, nos convocam a uma permanente reinterpretação.

Os versos trazem o espanto do poeta.

A que distância o poeta se refere de modo a justificar sua inveja, ó tu, mosca feliz? A qual distância o poeta nos envia? De que alento nos fala?

Deixo a cargo do poeta a inspiração para a história que quero lhes contar - a história de uma partida precária para a segunda pátria, para onde tudo parece incerto e sem abrigo; uma história de formas de existir em torno dos traumatismos precoces.

 

1. Compartilhamento afetivo

Se no que alcança quando repete o homem encontrasse tudo quanto necessita, ele estaria acabado, ou, ainda, sequer teria começado. No que se repete, o homem se reassegura do que é e se espanta e se abre para o que não é. No que se repete, o homem se reassegura do que não é e se espanta e se abre para o que é. Simultaneamente se reassegura do que tem e se espanta e se abre para o que não tem. Simultaneamente se reassegura do que não tem e se espanta e se abre para o que tem. A cada uma das vezes em que algo se repete, produz reconhecimento e diferenças, e é em torno da capacidade de se reconhecer e suportar as diferenças que um sujeito se constitui e inventa soluções criativas para si mesmo.

A história que pretendo lhes contar me estimula a colocar em diálogo três conjuntos de conceitos, primos entre si: a homossexualidade primária, a relação de objeto alérgica e a culpabilidade primária.

Antes de contar a história, porém, e para introduzir o que me parece central no desenrolar do caso, vou propor uma discussão trazida por René Roussillon sobre a compulsão à repetição na compreensão dos traumatismos precoces, uma vez que o autor confere às exigências da realidade da vida um estatuto mais forte do que aquele que costuma frequentar os trabalhos dos psicanalistas. Ao retirar essa compulsão da condição de complemento de oração, Roussillon confere às exigências da vida o estatuto de conceito.1

Em 1920, Freud estabelece a compulsão à repetição como um fundamento anterior ao princípio do prazer. Comentando essa afirmação em seu livro Le plaisir et la répétition (2001), Roussillon indica que ainda estamos longe de ter tirado todas as consequências e todas as implicações teóricas, clínicas e técnicas de Além do princípio do prazer. Tudo o que antecede a virada de 1920 se modifica a partir de então e propõe novos problemas. Duas dessas consequências são apontadas em seu texto: a inversão das relações do princípio do prazer e do princípio da realidade3 - o que insiste em ser repetido são as exigências da vida - e a necessidade de agregar ao conceito de realização alucinatória do desejo um fundo alucinatório do psiquismo, assim como sua implicação metapsicológica; dito em outros termos, o empenho em apresentar a maneira pela qual o psiquismo se constitui para transformar as alucinações primárias automáticas em representações psíquicas.

Se o que se repete está além do princípio do prazer, o trabalho de reconstrução - e, logo, de subjetivação - do nó de realidade histórica não subjetivado passa para o primeiro plano. Ainda que o sujeito, ele mesmo, reconheça que algo falta, o que está negativizado corresponde ao não vivido subjetivamente, isto é, àquilo a que se chega por retraimento das experiências do sujeito como condição de possibilidade para o que adveio. Como assumimos que é através da interação com o meio ambiente que um sujeito se constitui - o que implica dizer que ele não está dado desde o princípio -, a ênfase se reparte agora entre essa realidade histórica não subjetivada e as questões relativas à pulsionalidade, ou seja, entre o interpsíquico e o intrapsíquico.

Acompanhemos Roussillon:

de um lado, que uma das características essenciais das zonas traumáticas é a confusão entre a parte de si e a parte das respostas do meio ambiente aos movimentos do sujeito; de outro lado, que a reação primeira e fundamental do sujeito confrontado com os estados traumáticos não é expulsar os traços de si mesmo, mas, bem ao contrário, assimilar-se a eles como se fossem provenientes dele próprio, tentar ligá-los narcisicamente. É outra maneira de pensar a hipótese freudiana do masoquismo originário e do automovimento que ela comporta. A expulsão ou a projeção somente operam em um segundo tempo. (pp. 10-11)

Isso significa que a realidade psíquica de um sujeito não se constrói apenas por intermédio das moções pulsionais, mas também pela interação com as exigências da vida e pelas respostas do meio ambiente oferecidas à criança em seu esforço de ligar narcisicamente o que não é si mesmo. A função do masoquismo originário se traduz, desse modo, na capacidade de revestir os incômodos deixados pelas exigências da vida no indivíduo, pelos movimentos pulsionais e pelas marcas concretas das respostas parentais, de modo a ligá-los narcisicamente e fazer crer que tudo provém do si mesmo. Expulsar o mau, ou projetá-lo, só depois. Dito com mais ênfase, na realidade psíquica que o sujeito constrói e carrega consigo, as marcas das exigências da vida, as falhas do seu meio ambiente, acidentais e/ou estruturais, assim como seus efeitos traumáticos e as soluções de que o sujeito lançou mão para resolvê-las, estão, mesmo que provisoriamente, presentes.

Isso serve e se aplica até mesmo à concepção da cena primária: não é suficiente tomar apenas a dimensão fantasmática da cena proposta pela pulsionalidade da criança; é necessário também considerar como o encontro dos pais se inscreve no psiquismo da criança.

Desse modo, nós nos encontramos diante da necessidade de acolher essas marcas não subjetivadas como um esboço de psiquismo que antecede o princípio do prazer - o que Roussillon chama de fundo alucinatório do psiquismo -, e também acolher toda a transformação que a partir de então sofrem: das exigências da realidade ao princípio do prazer; do princípio do prazer ao princípio da realidade; e do princípio da realidade à realidade das exigências.

As exigências da vida, para viger, requerem que os indivíduos sejam dotados de condições para suportar seu fluxo e sua pressão. O mental será produzido para tanto, ou seja, para suportar e transformar o fluxo e a pressão das exigências da vida em vida de representação psíquica.

Mesmo que inata, e ainda assim ancorada na sensorialidade, encontramos certo consenso de que a primeira ligação não nos seja dada. Por não nos ser simplesmente dada, pode se estabelecer de formas múltiplas, infinitas, sendo algumas delas precárias o suficiente para fazer balançar o estabelecimento das bases em que a dita normalidade se edifica.

A primeira dependência é uma imposição das exigências da realidade da vida - a primeira pátria sobre a qual nos fala Rilke -, aquela que requer que já estejamos prontos antes de nascer para o mundo, prontos no sentido de capacitados em potencial para suportar e responder a tais exigências. Portanto, e a rigor, nenhum de nós habita ou jamais habitou subjetivamente a primeira pátria, a não ser retrospectivamente. Sua presença é pressuposta a partir da segunda pátria, como uma negatividade, isto é, algo deve ter existido ali como condição de possibilidade de toda partida. O mesmo não se verifica na segunda dependência, no salto para a segunda pátria, aquela em que o ventre não é tudo. A segunda pátria, permitam-me estender a metáfora, trará marcada a maneira como a primeira dependência foi suportada, apreendida e vivida subjetivamente pelo bebê.

À medida que o masoquismo originário se constitui e assim contém a destrutividade do indivíduo - masoquismo guardião da vida (Rosemberg, 1991) -, a maneira como a primeira ligação primordial se dá e se inscreve subjetivamente determina a qualidade do prazer experimentado e ajuda na instauração da processualidade da série prazer/desprazer.

As ligações mais precoces - em que sujeito e objeto ainda não se constituíram, nem suas funções e relações foram conhecidas em sua singularidade - nos oferecem problemas mais difíceis de serem enfrentados. Nesse contexto, o observador enfrenta dificuldades maiores por não encontrar, nos objetos e nas suas relações, condições objetivas, estáveis e esquematizáveis de investigação, como nos mostra Pierre Marty em “As dificuldades narcísicas do observador diante do problema psicossomático” (1952).

Claude Smadja nos apresentou, no recente 2.° Coloquio de Psicossomática Psicanalítica Rio-Paris (2013), uma boa síntese do trabalho de Marty: “Para Marty, com base nas teses de Lacan sobre o estádio do espelho, uma realidade só será admitida narcisicamente pelo observador se ela for ao mesmo tempo visível, conceitualmente esquematizável e protegida contra qualquer influência destruidora”. Conclui sua argumentação afirmando que nosso objeto, a coisa psicossomática, não responde a nenhuma dessas exigências, isto é, não é visível, nem esquematizável, nem livre de influências destruidoras.

Não vemos qualquer contradição ou problema em estender a conclusão de Smadja sobre a coisa psicossomática à coisa das primeiras ligações, aquelas em que corpo e mente se descobrem e se encontram.

Das exigências da realidade da vida ao princípio do prazer, do princípio do prazer ao princípio da realidade, do princípio da realidade à realidade dos princípios - um complexo jogo é requerido para a constituição e o estabelecimento das funções próprias a cada uma dessas passagens. Interditos vários, encontros e desencontros construídos de identidade e diferença, funcionam como barreiras de paraexcitação, permitindo que o fluxo e a pressão da realidade se deem segundo as capacidades de contenção e transformação de cada indivíduo.

Seguindo observações feitas pelos terapeutas da primeira infância, Daniel Stern em particular, Roussillon (2004) nomeia de balé os movimentos de reconhecimento e estranhamento que se passam entre a mãe e o bebê. Mais do que estados fusionais, ele nos adverte para a coreografia emocional feita de aproximação e distanciamento, de encontros e desencontros, implicando simetrias e assimetrias, constantes ajustamentos de um processo relacional que se deixa modificar em virtude da qualidade da experiência de compartilhamento afetivo (Parat, 1995). O sujeito se vê no objeto na condição de ser visto pelo objeto. Sob essa condição, um compartilhamento afetivo pode acontecer. Algo de dentro é reconhecido por algo de fora, e assim, nesse balé, constituem-se o dentro e o fora, o sujeito e o objeto. É sob a chancela de tal compartilhamento afetivo que a vivência da dependência primitiva pode ser tolerada, isto é, sob a condição de a superposição dos investimentos objetais e dos investimentos no si mesmo encontrar no investimento de objeto algo que reflita e corresponda aos próprios estados do sujeito, mesmo que de modo aproximado, e aproximado quer dizer não exatamente como um espelho. Ao chamar a atenção para o balé que constitui o dentro e o fora, o si mesmo e o outro, o corpo e a mente, Roussillon nos adverte para aquilo que se passa diante do fracasso dessa coreografia corporal, apontando aí o começo das falhas narcísicas presentes nos traumas precoces, em que as patologias psicossomáticas estabelecerão suas primeiras bases.

Roussillon (2004) aponta quatro movimentos para que o compartilhamento afetivo se realize em tal balé: a imitação, a antecipação, a adequação da resposta do objeto e a jubilação.

A imitação, em que o espelho é mais espelho, corresponde à capacidade do bebê de

reproduzir as mímicas observadas no rosto do outro, de sua mãe, muito cedo investido, identificado e discriminado. ... A hipótese clínica é que, graças à imitação corporal, uma primeira forma de empatia das sensações e dos estados do outro se tornou possível. (p. 432)

A antecipação diz respeito a uma exigência para o balé: a criança precisa antecipar o movimento seguinte para poder dançar, ou seja, ter a ilusão do controle do objeto. A performance da mãe requer que ela esteja em contato com seus movimentos para se deixar perceber e acompanhar. A adequação das respostas da mãe às exigências de antecipação do bebê é aqui necessária: se a mãe em seu exercício não puder ser previsível e, com isso, ultrapassar a capacidade de a criança segui-la, não permitirá que seus movimentos sejam antecipados, e o balé fracassará; na situação inversa, porém, o bebê poderá se apropriar do ritmo das experiências e, consequentemente, antecipá-las. Cito Roussillon:

Os bebês são efetivamente dotados de uma capacidade de observar, organizar, decompor e, portanto, conceber o ritmo dos movimentos ou das percepções do outro. É o ritmo, primeiro nível de organização de uma forma de temporalidade, que torna possível certa previsibilidade da mãe e de seus movimentos. O ritmo define uma sequência, permite antecipar um seguimento, observar uma regularidade e, portanto, prever a sequência seguinte. (p. 432)

A jubilação, termo tomado emprestado do estádio do espelho de Lacan, descreve a experiência em que tal coreografia encontra sua realização e que, ao ser atingida, “produz um afeto de êxtase, um afeto de prazer estético, um afeto para o qual o termo jubilação me parece ser o mais apropriado” (p. 433).

O que chama minha atenção nas considerações de Roussillon é a abertura exigida na relação com o paciente para a construção de uma boa experiência em comum, um solo comum em que os acontecimentos poderiam ser referidos às mais simples orientações: dentro/fora, em cima/embaixo, morto/vivo. Para a construção desse solo comum, a prosódia nos é requerida. As encenações que fazemos quando brincamos com as crianças marcam, como em uma partitura, o lugar em que a ênfase deve ser dada, estabelecendo diferenças entre tonalidades afetivas e, com isso, as condições para nomear os sentimentos. Na análise, há pequenos momentos em que imaginar o paciente assim como se imaginar no lugar do paciente cria as bases para as identificações. Todas essas operações, a saber, a imitação, a necessidade de antecipação, a adequação das respostas do objeto e, por fim, a jubilação, permitem que um compartilhamento afetivo se produza, criando as condições de tolerância à percepção das diferenças e as condições para a pulsão poder se fixar, estabelecer seus campos, suas redes e seus ritmos.

Quando a coreografia corporal reassegura o reconhecimento do indivíduo pelo objeto e dá base de sustentação para que a percepção das diferenças seja tolerada, a criança é capaz de metaforizar o que não pôde alcançar e, a partir daí, procurar meios propriamente psíquicos para realizar os desejos que não pôde consumar em ato. Segundo Roussillon, a criança inventará, no sentido criativo da palavra, soluções intrapsíquicas ao impasse em sua vida de relações com a família.

Jean-Luc Nancy, em seu livro O intruso (2010), nos fez ver a analogia entre as operações necessárias para a admissão de um outro em mim, de modo a permitir que um sujeito exista, e as exigências requeridas para que um transplante de coração seja bem-sucedido. Para um transplante de órgão ser bem-sucedido, a resistência imunológica do indivíduo tem de ser reduzida; caso contrário, o próprio organismo rejeitará o órgão transplantado. Nancy faz do transplante uma metáfora para nos falar da necessidade de uma diminuição da resistência identitária no processo de reconhecimento da presença do outro em mim. Uma tal diminuição da imunidade identitária só se torna possível se sustentada por um compartilhamento afetivo.

Nesse balé, a mãe precisa se apresentar idêntica e diferente do bebê ao mesmo tempo: idêntica, para que o bebê possa se reconhecer; diferente, para não ser o bebê e, assim, impedi-lo de se descobrir. Essa ambiguidade essencial põe em evidência a necessidade de construir uma ligação e, se possível, um encontro - um encontro com um outro semelhante, e semelhante quer dizer ao mesmo tempo idêntico e diferente. Um duplo, um outro percebido em seu movimento de espelho de si mesmo. Cito Roussillon: “Um duplo deve ser suficientemente o mesmo para ser um duplo de si, mas deve ser também suficientemente outro para não ser o si mesmo” (2004, p. 430). A relação com um outro semelhante, a percepção de que o outro é ao menos em parte um mesmo do si mesmo, o prazer de reconhecer no outro essa similitude, essa identificação primordial (com um outro que em parte é um mesmo, em parte não o é), está no fundamento do sentido social e das relações sociais.

A percepção dessa primeira diferença entre o eu e o outro, esse afeto da diferença, é o que caracterizará e definirá a homossexualidade primária.

 

2. Homossexualidade primária

Francisco quer continuar a conversa sobre o ciúme que sente de seu filho e de sua mulher. Entende que é um absurdo querer os dois só para si e não admitir que outras pessoas de suas famílias de origem participem da vida do casal. Ainda assim, vive um impasse: se, por um lado, insiste em não se deixar influenciar por nada nem ninguém, corre o risco de perder o filho e a mulher, pois o cúmulo do ciúme se expressaria em não permitir que eles existam; se, por outro lado, cede, crê que se transforma em um nada e se anula. Se faz o luto e “perde” o filho e a mulher, deixando-os existir, abre mão de uma parte do objeto nele, ou seja, perde uma parte de si mesmo (Roussillon, 2010). Ele sabe disso, mas não consegue sair do impasse. Pela transferência, temos conseguido furar, mesmo que fugazmente, esse bloqueio, e Francisco aceita discutir o assunto comigo. Ele ri quando se dá conta de seus absurdos, mas não pode ceder. Para quem ele perde? Quem ganha quando ele perde? Ele responde: “Os outros, a família da minha mulher, meus amigos, os que estão à minha volta” e ri. Percebe que, mantendo-se assim, crescer é impossível; mudar, no sentido de amadurecer, é impossível. Tudo é perda - perda de si. Como tolerar a presença de um outro dentro dele, sem que sua virilidade, sem que sua identidade, seja ameaçada?

Para melhor compreender o que penso estar implicado nesse impasse, sigamos por um tempo as pegadas de Evelyne Kestemberg, autora que formulou o conceito de homossexualidade primária. De acordo com Kestemberg (Chauvet & Chauvet, 1994), a pulsão ganharia seu status na homossexualidade primária assim que os investimentos pulsionais se fizessem capazes de reconhecer a diferença entre sujeito e objeto. Isso significa dizer: um momento em que um objeto e um sujeito se investem um ao outro, e não uma confusão na unidade da identificação primária. A homossexualidade primária, também chamada de afeto da diferença, descreve o afeto que expressa a primeira marca desse momento de diferenciação entre sujeito e objeto e, logo, a necessidade de se investirem mutuamente: um sujeito verá um objeto na medida em que for visto por ele. Há um descobrimento simultâneo e mútuo de um e outro. É impossível um sem o outro: onde houver um, haverá o outro. Indecidivelmente.

Toda a trama envolvida no desenvolvimento do conceito se faz em torno das maneiras como esse descobrimento se inscreve no sujeito, modelando diferentes modos de existência para o sujeito e para o objeto. Por exemplo, se onde houver sujeito não puder existir objeto, como me parece acontecer na história de Francisco, um impasse marcará toda forma de relação.

Uma vez que se presta para descrever um momento fugaz, em que as marcas dessa primeira percepção da diferença entre sujeito e objeto se estabelecem, Kestemberg destaca o valor heurístico do conceito e o define como um tempo metapsicológico entre a identificação primária e as identificações secundárias; mais ainda: segundo a autora, distinta igualmente da identificação primária, da identificação narcísica e, evidentemente, da identificação histérica, a homossexualidade primária é uma noção complexa e rica que abre para uma melhor compreensão da organização da sexualidade infantil.

A homossexualidade primária dirá algo acerca dos primeiros processos identificatórios, isto é, algo acerca da maneira como o objeto, o outro, será recebido e, logo, concebido, assim que salte da sua condição de indiferenciação. As marcas da “surpresa” desse momento de revelação estarão presentes nas formas de recepção do objeto, do outro.

A homossexualidade primária, ao não se estabelecer em condições de permitir a Francisco transitar entre o eu e o outro, deixa-o siderando entre um e outro, sem que consiga descobrir lugares de encontros e desencontros para si mesmo e para os outros. Tudo é perda de si.

Ainda na esteira das possibilidades que essa surpresa reserva, por vezes, ao contrário da sequência clínica de Francisco, deparamos com pacientes nos quais tudo parece aceitação. Aparentam ser, num primeiro momento, os pacientes ideais: em nada nos contrariam, são capazes de perceber com a maior rapidez tudo quanto o analista deseja e se apressam em atendê-lo. Neles tudo parece se encaixar, e são fonte infinita de satisfação. Marty considerou-os a partir do conceito de relação de objeto alérgica.

 

3. Relação de objeto alérgica

Em 1957, Marty expôs, na Sociedade Psicanalítica de Paris, “A relação de objeto alérgica” (1958/2006). Nesse trabalho, o autor propunha um tipo de relação que caracteriza

os asmáticos e os eczematosos; encontra-se também, menos notadamente visível, mas de forma regular, nos doentes que sofrem de febre do feno, coriza espasmódica, edema de Quinke ou urticária habitual; pode-se encontrá-lo, enfim, nos enxaquecosos, se bem que escondido entre os componentes próprios dos mecanismos das cefaleias. (p. 7)

Marty acrescenta à sua reflexão que “podemos fazer um diagnóstico válido de alergia com a existência apenas da relação de objeto característica, mesmo sem o conhecimento de acidentes somáticos específicos” (pp. 7-8). Ou seja, o paciente alérgico não necessita ter uma alergia para caracterizar uma relação de objeto alérgica. Isso se deve aos processos que regem seu funcionamento mental.

Afirmar com Marty que “a alergia só existe em relação a alguma coisa” me parece um bom começo. Definir um modo de funcionamento mental que se caracteriza por uma tentativa constante de se aproximar do objeto não parece dizer muito. Mas, se acrescentamos a isso que “um alérgico não tem senão um só desejo, único e capital: aproximar-se o mais possível do objeto até se confundir com ele” (p. 8), talvez consideremos estar diante de algo diferente.

A necessidade e a urgência de se aproximar do objeto até se confundir com ele, que caracteriza e define a relação de objeto alérgica, se dão por intermédio de um processo que Marty descreve em dois movimentos: o primeiro consiste na apreensão do objeto; o segundo, na adaptação desse objeto.

A apreensão do objeto se faz através de uma identificação intensa, imediata e sem limites do sujeito a seu objeto, “uma confusão sem nuance” (p. 8), sem qualquer profundidade. Trata-se de reassegurar que sujeito e objeto se correspondem inteiramente. Marty nos remete a objetos-hóspedes, no duplo sentido de que “o sujeito habita o objeto da mesma maneira que é habitado por ele” (p. 9).

Na riqueza de suas observações, Marty comparte conosco, seus leitores, um exemplo de sua clínica:

Uma paciente me dizia: “Eu amo ser acariciada”. Depois, acrescentava: “É por isso, sem dúvida, que eu amo os gatos”. Eu lhe fiz ver que, nessas condições, ela amava sobretudo acariciar. Ela me respondeu então: “Sim, mas os gatos se esfregam e nos acariciam enquanto os acariciamos”. Aí ainda o movimento identificatório maciço englobava a projeção. (p. 9)

O mesmo se dá no contato dos pacientes alérgicos com seus analistas: cada manifestação do analista é rapidamente adotada, e, “por assim dizer, o paciente se banha na personalidade de seu interlocutor e se compraz visivelmente nisso” (p. 9). Parafraseando a vinheta clínica: ao ser acariciado, o analista se coça e acaricia o paciente, que com isso se compraz.

Ao sabor das circunstâncias e com muita rapidez, o sujeito alérgico apreende seu objeto. Ao mesmo tempo, acrescenta Marty, ao sabor das rupturas, tudo se transforma com a mesma rapidez quando o objeto é desinvestido e abandonado em favor de um novo objeto-hóspede.

Em contrapartida, a adaptação do objeto é um movimento mais lento, prolongado e mais complexo e delicado, em que “as dificuldades, as distâncias efetivas que aparecem entre o sujeito e o objeto, tendem a ser progressivamente apagadas” (p. 10). Trata-se de uma adaptação do objeto, na medida em que consiste em apagar no sujeito e no objeto qualquer traço que os diferencie, como se fosse possível sustentar e manter o momento da identificação primeira. Esse apossamento se dá em dois tempos: no primeiro, há uma interpenetração progressiva entre sujeito e objeto, buscando aquele ser apenas um com este; no segundo tempo, somando os processos de identificação aos mecanismos de projeção, o sujeito considera as qualidades reconhecidas no objeto como sendo suas,2 e vice-versa.

Quanto tratamos dos processos envolvidos na identificação, a separação do bom e do mau objeto desempenha um papel importante, qual seja: o sujeito quer se identificar com o bom objeto e rejeitar o mau. Aí reside um elemento fundamental para a distinção entre o conceito que Marty nos traz e todas as demais formas de apropriação dos objetos. Acompanhemos Marty neste trecho;

Nosso doente alérgico não está nisso aí. Todas as discriminações do bom e do mau objeto lhe importam pouco. O que ele quer é ser apenas um com o outro, e pouco importam o que ele é e o que o outro é, pouco lhe importam o bom e o mau, uma vez que ele não tem mesmo um sentimento muito profundo. (p. 11)

Marty apresenta-nos um exemplo esclarecedor, mais uma vez recolhido de sua clínica:

Vejam as estarrecedoras palavras de uma doente: “Se eu por acaso jogasse cartas, eu abaixaria logo meu jogo diante de mim. Os outros jogariam com o meu jogo como eles quisessem. Eu não precisaria nem mesmo estar lá. Isso me evitaria ter na cabeça tudo o que se passa”, (p. 11)

A paciente dispõe tudo o que possui para que o outro retire de seu “jogo” o que ele julgar necessário para compor a cena que ele desejar. À paciente cabe apenas apresentar suas cartas para o outro jogar. A responsabilidade pelo que delas for feito não lhe diz respeito. O exemplo deixa claro como a paciente procura satisfazer seu desejo de interpenetração com os objetos (não discriminando parceiros e adversários) sem que qualquer iniciativa parta dela - ela conta apenas com a iniciativa dos objetos. Dizendo com mais ênfase: o que funciona como elemento de sedução para o analista - a quem é oferecido e, logo, permitido ler sem disfarces todo o jogo - é a ausência de medo diante da possibilidade do mau objeto; o paciente age como se tal possibilidade não existisse. Seduzido, o analista - objeto-hóspede - tende a considerar que, para tal paciente, tudo o que vem dele é bom, daí decorrendo a ausência de medo.

Nesse momento de sedução e idilio, duas situações distintas podem intervir e acabar com o jogo, disparando processos regressivos que agem com a mesma rapidez e violência com que a apreensão do objeto se deu, desadaptando no sujeito e no objeto o que estava adaptado. O primeiro acontecimento se dá assim que o objeto é capaz de um movimento que o sujeito não consegue imitar, logo repetir, e portanto antecipar e se rejubilar. Na coreografia corporal, sujeito e objeto se desencontram, e o compartilhamento afetivo que poderia tornar tolerável a separação entre eles não ocorre. Aquém do objeto, o sujeito mergulha na desilusão - melancólica? - por “não poder superar imediatamente a falha que acaba de ser destacada entre seu objeto e ele” (p. 15).

O segundo acontecimento, a que darei maior destaque por corresponder ao mais próprio dos fracassos no funcionamento do sujeito alérgico, “produz-se logo que se evidenciam as incompatibilidades entre dois objetos igualmente investidos” (p. 15). A plasticidade das identificações não é suficiente, e o sujeito não suporta estar identificado a dois objetos igualmente investidos alergicamente e que se contradizem entre si. À custa de muito sacrifício e esforço, o paciente alérgico consegue manter a coesão de sua identificação com os objetos-hóspedes, ao se relacionar com cada um deles isolada e separadamente. Cito Marty:

O sujeito é assim verdadeiramente rasgado. ... O sujeito pode ser um ou o outro objeto, ele era mesmo um e o outro. Mas, se um e o outro revelam uma incompatibilidade maior entre si, é ele, sujeito, que se torna incompatível com ele mesmo e que é assim dilacerado em sua dupla identificação. (p. 15)

Na presença desses acontecimentos e do processo regressivo que eles disparam, o idilio da primeira identificação desaparece e cede lugar ao incômodo, que permanecerá na relação com o analista ao longo de todo o tratamento.

Um dos pontos que mais me agradam no trabalho de Marty diz respeito à riqueza de suas observações clínicas. Ele nos adverte para o fato de que, diante da necessidade de o paciente alérgico procurar intensamente agradar a qualquer um, a condução de sua análise deve tomar em consideração a necessidade de mostrar

progressivamente ao paciente, através de suas fixações, os movimentos de redução de seu universo a essa fusão com os diversos objetos, em particular na transferência com o analista. O fato de mostrar ao doente que ele existe de um lado e que o analista existe de outro é recebido como uma verdadeira agressão ... pois assim o objeto se mostrará incompatível para a fusão. (pp. 28-29)

 

4. Culpabilidade primária

Na parte final do trabalho que acompanhamos aqui, Marty afirma:

Não nos aprofundaremos hoje sobre essas vias cujos pontos de partida ainda são - como já dissemos - hipotéticos demais. Mas existe sem dúvida uma fixação precoce, cuja importância e intensidade podem desempenhar uma função de primeiro plano no estabelecimento, em determinado indivíduo, desse sistema de relação de objeto. (p. 26)

Sua conclusão - sem dúvida, uma fixação precoce existe - me estimulou a considerar a seguinte hipótese: podemos supor que uma fixação precoce exista em razão da maneira como a homossexualidade primária se inscreveu e que isso esteja na base da relação de objeto alérgica?

Uma vez que nos pacientes alérgicos as tendências homossexuais estão quase sempre bem marcadas - marcadas em relação ao desejo de tornar-se apenas um com o objeto (por definição, heterossexual, no sentido de que todo objeto é outro) -, como poderiamos pensar o modo como a homossexualidade primária se inscreve em tais pacientes?

Tornar-se um com o objeto não é privilégio dos pacientes alérgicos. Neles, o que se diferencia é a experiência de julgarem que apenas vivem por intermédio dos outros, como se somente existissem nos outros, pelos outros, ao passo que no funcionamento mental dos neuróticos a separação se faz progressiva e incessantemente ao longo da existência. O que nos pacientes alérgicos é fixação, nos demais pacientes neuróticos é processualidade. Algo impede o reconhecimento do outro enquanto tal, impede a surpresa de sua revelação como tal. Nos pacientes alérgicos, a surpresa se faz pavor e o fusionamento se faz defesa contra o dilaceramento. A presença do outro é disruptiva, não produz balé nem compartilhamento afetivo; quando muito, produz isso de modo bastante precário para exigir que a coesão da identificação do sujeito se mantenha pela adesão ao objeto. Daí a vivência de que, sem o objeto, o sujeito não existe.

Gostaria de fazer intervir em nossa discussão outro conceito formulado por Roussillon a propósito das interações que estão em jogo na diferenciação entre eu e não eu. Apesar de não ter a pretensão de desenvolvê-lo neste trabalho, creio que possa nos ajudar a pensar as falhas precoces. Refiro-me ao conceito de culpabilidade primária.

Nas considerações que Marty tece sobre os pacientes alérgicos, há uma pista da interrelação possível entre seus modos de funcionamento:

Vemos então que o ego alérgico é um ego teoricamente muito fraco, cuja principal atividade é a “adaptação” dos objetos. Parece não ter existência própria, é inconsistente; seu valor essencial está no valor dos objetos encontrados e investidos. “Estou sempre no lugar dos outros”, nos dizia um paciente, “e assim nunca posso aceitar causar-lhes nenhum mal”, (p. 14)

Podemos pensar que a culpabilidade primária diz respeito ao fracasso da experiência de jubilação, coroamento do compartilhamento afetivo resultante do balé, como proposto por Roussillon. Diante da vivência subjetiva de ter falhado no pas de deux com a mãe, a culpabilidade se incumbe de inverter os vetores e os sinais dessa operação que resultou em fracasso, levando o sujeito a experimentar uma jubilação pelo avesso.

Vejamos como esse movimento pode se dar, nas palavras de Roussillon e Jacques Press.

Ao postular um “núcleo de culpa primária ... não ambivalente e [que] repousa numa confusão primária eu-não eu”, Roussillon liga essa forma de culpa a um fracasso das primeiras relações, que aprisiona o eu nascente num dilema: submeter-se ao objeto e, consequentemente, sentir-se anulado, ou manter a indiferenciação em relação ao objeto, tendo como resultado a confusão. Desse impasse decorre

um sentimento de mal-estar . com o qual o sujeito se identifica. No lugar da forma matricial da ilusão narcísica primária - “Eu sou o seio” -, instaura-se uma ilusão negativa que dá origem ao núcleo de culpa primária - “Eu sou o mal”. (Roussillon, 1999, p. 83, citado por Press, 2011, p. 58)

Jacques Press sugere que tais pacientes devem pensar assim:

“Se o objeto é tão frágil que devo sacrificar-lhe minha pulsionalidade, pelo menos esse sacrifício não será em vão - meu próprio apagamento será a garantia de sua sobrevivência”. Um passo a mais, passo secundário no sentido de que vem depois, mas não menos importante: “Se sou a garantia da sobrevivência do objeto, então eu o tenho sob meu domínio, ele depende totalmente de mim”; mas também: “Torno-o imortal e torno-me assim imortal, ambos escapando da temporalidade e das limitações humanas”. (2011, p. 54)

Estamos, portanto, diante de um modo de relação com o objeto em que o sujeito crê ter de mantê-lo à distância para poder desenvolver um tipo de relação em que ambos sobrevivam. A distância protege o objeto e a si mesmo, indistintamente, indistinguivelmente.

Qual o papel que a culpabilidade primária desempenha no estabelecimento desses traumatismos precoces e como pode estar presente nos processos associados à relação de objeto alérgica?

Penso que, em razão do modo como a homossexualidade primária se organizou em certo indivíduo, encontramos ou o desejo de se colar e se confundir com o objeto, e aliviar assim o pavor do dilaceramento de si (relação de objeto alérgica), ou, diante da força pulsional do sujeito, o medo de destruir o objeto, pela impossibilidade de controlar todo o balé, instalando para si a ilusão negativa: “Eu sou o mal”.

São formas de existir que encenam a precariedade com que a passagem da primeira pátria à segunda foi vivida, deixando um rastro de sintomas sem sujeito, uma sintomatologia branca, à espera de um encontro em que possa se representar e, na melhor das hipóteses, construir um solo em que suas experiências sejam subjetivadas.

 

Referências

Almeida, M. C. du P. e. (2007). Repetição e compulsão à repetição. Trabalho apresentado em simpósio promovido pela Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.         [ Links ]

Chauvet, E. & Chauvet, J.-L. (1994). D'un certain commerce avec lobjet. Paris: Centre de Psychanalyse Evelyne et Jean Kestemberg.         [ Links ]

Marty, P. (1952). Les difficultés narcissiques de l'observateur devant le problème psychosomatique. Revue Française de Psychanalyse, 3,339-357.         [ Links ]

Marty, P. (2006). La relation objectale allergique. Revue Française de Psychosomatique, 29,7-30. (Trabalho original publicado em 1958)        [ Links ]

Nancy, J.-L. (2010). L'intrus. Paris: Galilée.         [ Links ]

Parat, C. (1995). L'affect partagé. Paris: PUF.         [ Links ]

Press, J. (2011). Culpabilité primaire, défense maniaque de comportement et rêverie diurne. Revue Française de Psychosomatique, 39,51-65.         [ Links ]

Rosemberg, B. (1991). Masochisme mortifère et masochisme gardien de la vie. Paris: PUF.         [ Links ]

Roussillon, R. (2001). Le plaisir et la répétition. Dunod: Paris.         [ Links ]

Roussillon, R. (2004). La dépendance primitive et l'homosexualité primaire “en double”. Revue Française de Psychanalyse, 68(2),421-439.

Roussillon, R. (2010). The deconstruction of primary narcissism. The International Journal of Psychoanalysis, 91,821-837.         [ Links ]

Smadja, C. (2013). La naissance de la psychosomatique. Trabalho apresentado no 2.° Colóquio de Psicossomática Psicanalítica Rio-Paris, Rio de Janeiro.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Miguel Calmon du Pin e Almeida
Avenida Ataulfo de Paiva, 341, sala 709
22440-032 Rio de Janeiro, RJ
mcalmon.trp@terra.com.br

Recebido em 22.08.2014
Aceito em 01.04.2015

 

 

1 Reproduzo parte do trabalho “Repetição e compulsão à repetição” (Almeida, 2007).
2 “Quando se exerce a compulsão à repetição, é o princípio da realidade que prima 'objetivamente'. ... Instaura-se potencialmente o primado de um princípio de realidade psíquica, que porventura será secundariamente transformado em princípio do prazer e depois retransformado em princípio de realidade do prazer. Não nos sentiremos, pois, surpresos de que a teoria do inconsciente sofra ela também uma mutação (1923). No fundo do psiquismo opera o id, governado pela compulsão à repetição, primeira forma de inconsciente. Em seguida, o psiquismo ganha, sobre esse fundo, pelo trabalho de subjetivação - o eu-objeto vai se tornar em parte um eu-sujeito, que tenta reassegurar secundariamente o primado do princípio do prazer graças às representações psíquicas e ao trabalho de simbolização -, outro tipo de inconsciente (inconsciente secundário), que testemunha o que dentro da história pôde receber a marca do princípio do prazer, e enfim uma parte pré-consciente, para o que pôde ser representado e transformado em princípio de realidade do prazer. Aqui ainda a tópica psíquica se encontra potencialmente um degrau abaixo de seu lugar” (Roussillon, 2001, pp. 60-61).
3 Ah, estes franceses que teimam em não falar inglês! Não seria mais fácil dizer identificação projetiva?

Creative Commons License