SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.52 issue2Demasiado... Demasiado pouco... Duas reminiscências da dimensão traumática nas sessões psicanalíticasCastration complex in times of new configurations author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.52 no.2 São Paulo Apr./June 2018

 

OUTRAS PALAVRAS

 

Breve ensaio sobre a mentira

 

A short essay on lying

 

Breve ensayo sobre la mentira

 

Un bref essai sur le mensonge

 

 

Roosevelt M. S. Cassorla

Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e do Grupo de Estudos Psicanalíticos de Campinas (GEPCampinas). Professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Correspondência

 

 


RESUMO

Neste texto, aborda-se a mentira a partir do estudo de obras literárias, mitos, situações sociais e da clínica psicanalítica. Propõe-se uma classificação das mentiras utilizando o continuum narcisismo ↔ social-ismo. Discutem-se, em particular, a mentira narcísica e a mentira perversa, levantando-se hipóteses sobre sua dinâmica e suas funções nos grupos e na sociedade. Vinhetas clínicas mostram como a mentira consciente se articula com outras defesas, constituindo-se organizações narcísicas perversas, que buscam desumanizar o objeto e destruir a percepção da alteridade. As organizações defensivas protegem da desestruturação psicótica e da revivência de traumas primitivos. O sentimento de não existência é substituído por uma fachada de excitação perversa e fruição sádica. Objetos mentirosos, fraudulentos, suspeitos, não confiáveis revelam-se nas tramas encenadas no campo analítico. Conluios perversos entre os membros da dupla analítica podem não ser identificados, eventualmente ativando condutas não éticas do analista.

Palavras-chave: mentira, perversão, organizações narcísicas, conluios perversos, campo analítico, enactment


ABSTRACT

Based on studies of literary work, myths, social situations, and psychoanalytic practice, the author discusses lie. He proposes a classification of lies that uses the continuum of narcissism ↔ social-ism. The author writes especially about narcissistic lies and perverse lies, and he formulates hypothesis about their dynamics and functions in both groups and society. Clinical vignettes demonstrate how conscious lie relates to other defenses in order to form perverse narcissistic organizations which attempt to dehumanize the object and destroy the perception of alterity. Defensive organizations protect against psychotic disruption and against the revival of primary traumas. The feeling of not existing is replaced by a facade of perverse excitement and sadistic fruition. Objects, which are liars and fraudulent, suspicious, not reliable, show up in the storylines performed in the psychoanalytic field. A perverse collusion between the members of the analytic pair may not be identified, which may lead to an unethical behavior of the analyst.

Keywords: lie, perversion, narcissistic organizations, perverse collusion, analytic field, enactment


RESUMEN

Se discute la mentira a partir del estudio de obras literarias, mitos, situaciones sociales y de la clínica psicoanalítica. Se propone una clasificación de las mentiras utilizando el continuum narcisismo ↔ social-ismo. Se discuten, en particular, la mentira narcisista y la mentira perversa, efectuando hipótesis sobre su dinámica y funciones en los grupos y en la sociedad. Casos clínicos muestran como la mentira consciente se articula con otras defensas, constituyendo organizaciones narcisistas perversas que deshumanizan el objeto y destruyen la percepción de alteridad. Las organizaciones defensivas protegen de desestructuración psicótica y de revivir traumas primitivos. El sentimiento de inexistencia se sustituye por una fachada de excitación perversa y fruición sádica. Objetos mentirosos, fraudulentos, sospechosos, no confiables, se muestran en las tramas escenificadas en el campo analítico. Trucos perversos entre los miembros del par analítico pueden identificarse, activando eventualmente conductas no éticas del analista.

Palabras clave: mentira, perversión, organizaciones narcisistas, trucos perversos, campo analítico, enactment


RÉSUMÉ

Le mensonge est analysé ayant pour base l'étude d'oeuvres littéraires, de mythes, de situations sociales et de la clinique psychanalytique. On propose une classification des mensonges en employant le continuum narcissisme ↔ social-isme. On discute, en particulier, le mensonge narcissique et le mensonge pervers, en faisant des hypothèses sur sa dynamique et ses fonctions dans les groupes et la société. Des vignettes cliniques démontrent comment le mensonge s'articule avec d'autres défenses en créant des organisations narcissiques perverses qui cherchent à déshumaniser l'objet et à détruire la perception de l'altérité. Les organisations défensives protègent de la déstructuration psychotique et de la reviviscence de traumas primitifs. Le sentiment de non-existence est remplacé par une façade d'excitation perverse et de jouissance sadique. Des objets mensongers, frauduleux, suspects, pas fiables se révèlent dans les trames mises en scène dans le champs analytique. Des complots pervers entre les membres du duo analytique peuvent ne pas être identifiés, en activant éventuellement des conduites de l'analyste qui ne sont pas éthiques.

Mots-clés: mensonge, perversion, organisations narcissiques, complots pervers, champ analytique, enactment


 

 

O objetivo deste texto é refletir sobre fatores que contribuem para que a mentira se manifeste, tanto na sociedade como no campo analítico. A reflexão visa, também, mostrar de que maneira fatos sociais podem servir-nos de modelos úteis na clínica.

A mentira faz parte de complexos subterfúgios defensivos que o indivíduo utiliza para deformar e fraudar o contato com a realidade. O mentiroso sabe qual é a verdade e necessita ser capaz de pensá-la para, em seguida, poder cobri-la com um manto de mentiras (Bion, 1970/1973; Meltzer, 1990). A mentira, por ser dirigida ao outro, deve ser crível, isto é, ter certa congruência com a verdade (Meltzer, 1983).

A mentira difere da falsidade. A primeira transforma a verdade propositalmente. Já o pensamento falso decorre de falhas de percepção ou raciocínio, sem que haja intenção de fraudar. A percepção de que o Sol gira em torno da Terra resulta em um pensamento falso. O inquisidor que sabe que Galileu está certo (a Terra gira em torno do Sol) mente para condená-lo por heresia.

Toda observação (ou pensamento), por ser sempre incompleta, contém certo grau de falsidade. Isso é evidente no campo analítico, em que a dupla nunca atingirá a verdade última, incognoscível. Apenas os delirantes e os místicos supõem ter acesso a ela.

O mentiroso habitual diferencia verdade e mentira. Como veremos adiante, essa diferenciação pode estar prejudicada nos fenômenos psicóticos.

 

Borges e a infâmia

A psicanálise aplicada pode ajudar-nos a pensar sobre fatos que encontramos na clínica. Jorge Luis Borges mente para o leitor no título de seu conto "O impostor inverossímil Tom Castro" (1935/1982), que será resumido e, portanto, falsificado.

Em 1854, morre Roger Tichborne, herdeiro de uma família inglesa, ao afundar o navio que o levava de volta a Liverpool. Sua mãe, Lady Tichborne, recusa-se a acreditar na desgraça e publica desolados anúncios nos jornais.

Um desses avisos é visto por Bogle, um negro que vivia em Sydney e que "tinha uma ... condição: a súbita ideia genial" (p. 28), mas que vivia assombrado pelo terror de ser atropelado.

Arthur Orton, amigo de Bogle, era um pobre homem, de uma idiota tranquilidade, que se tornara marinheiro. Não morreu de fome devido a sua confusa jovialidade e seu permanente sorriso. Desertou no Chile e foi adotado por uma família Castro.

Castro/Orton, estando em Sydney, conheceu o monumental Bogle ao ver um homem aterrorizado, que vacilava em atravessar a rua. Ao dar-lhe o braço, o "pateta Orton" (p. 29) travou contato com seu futuro protetor.

Diante do triste anúncio de Lady Tichborne, a ideia genial de Bogle é fazer Orton passar-se por Roger. O projeto, diz Borges, era de um engenho insensato: Roger e Orton eram opostos em aparência e inteligência. Bogle sabia que um fac-símile de Roger seria impossível. As similitudes conseguidas destacariam as diferenças. O convencimento seria facilitado pela renúncia às parecenças. Os 14 anos que se haviam passado e o desejo da mãe de ter o filho vivo facilitavam o plano.

Dessa forma, Lady Tichborne recebe uma carta de Orton/Bogle. Orton, para fundamentar sua identidade, invoca a prova de sinais no peito e um episódio da infância. Emocionada, Lady Tichborne lembra-se dos sinais inexistentes e do fato mentiroso. Ao ver Orton, reconhece-o instantaneamente como seu filho. Em seguida, devolve-lhe as cartas que Roger lhe havia enviado do Brasil. Agora a dupla tem como documentar-se em relação ao fantasma de Roger.

Mãe feliz, filho apócrifo e conspiradores recompensados encerrariam a história não fosse a morte de Lady Tichborne. Os parentes, certos da fraude, apresentam uma queixa. Mas Orton é apoiado por credores que querem receber dinheiro de Roger.

Uma nova ideia faz Bogle enviar cartas mentirosas, assinadas por jesuítas, que acusam Roger de impostura. As pessoas bondosas tomam o fato como conspiração dos religiosos. No processo, 100 testemunhas afirmam que o acusado é Tichborne, incluindo companheiros de exército. E uma mãe não se enganaria. Dessa forma, a invenção da conspiração fez a verdade, ardilosamente, parecer mentira.1

Bogle acaba morrendo atropelado, conforme previra. Orton perde seu guru e aniquila-se. Continua a mentir com pouco entusiasmo e contradições disparatadas. É condenado. Na prisão, torna-se querido - era seu ofício. Seu comportamento o livra antes. Percorre o país fazendo conferências em que se declara ora inocente, ora culpado, aquilo que o público quer ouvir.

Os conluios descritos envolvem um mentiroso consciente e uma vítima que deseja, de alguma forma, ser fraudada. Devem ser diferenciados de conluios inconscientes, enactments crônicos (Cassorla, 2016a), ainda que possam coexistir. Adiante voltaremos aos personagens dessa história.

 

Tipos de mentira

Tomemos o gradiente narcisismo ↔ social-ismo (Bion, 1992). Na área do socialismo, encontramos a mentira altruísta (autoacusação para salvar a vida de outro, por exemplo), a piedosa (mascara verdades insuportáveis) e a protetora (defende uma pessoa, um grupo ou um ideal). No lado narcísico do gradiente, vemos a mentira autoprotetora (afasta o objeto intrusivo e retém o objeto necessário), a narcísica (controla o objeto atacando a alteridade) e a perversa (usufrui do engano e do sofrimento). Aspectos perversos podem imiscuir-se nas demais mentiras, incluindo a mentira política, estudada por Leitão (2000).2

A mentira perversa é o mote de Otelo (1622/2000), de Shakespeare. Iago faz Otelo acreditar que a esposa, Desdêmona, o trai com Cássio. Iago está ressentido com ambos por motivos políticos. Enciumado, Otelo mata Desdêmona e se mata ao descobrir a mentira.

O mito de Fedra e Hipólito (Brandão, 1992) é também dominado pela perversidade vingativa. O jovem Hipólito optara pela castidade. Fedra, sua madrasta, apaixona-se pelo enteado. Rejeitada por Hipólito, Fedra se suicida, não sem antes deixar uma carta em que o acusa de tê-la seduzido. Hipólito morre devido à maldição de seu pai, Teseu, que acreditou na carta de Fedra.

Os mitos estão repletos de situações similares, em que amantes desprezadas se vingam através de mentiras. Essas configurações são nomeadas motivo Putifar (Brandão, 1992), pela similaridade com uma situação bíblica: a mulher de Putifar, chefe da guarda do Faraó, tenta seduzir José, o qual, por rejeitá-la, é injustamente acusado. É certo que o motivo Putifar se amplia para outras configurações, incluindo pacientes e seus/suas psicanalistas.

 

Especulando sobre fatores subjacentes

Comparemos os três relatos apresentados. Orton e Bogle apenas desejam apossar-se de bens materiais. O eventual abuso emocional é um efeito colateral. Suas mentiras são, portanto, narcísicas, ainda que por vezes mascaradas como piedosas. Já Iago, Fedra e a mulher de Putifar envolvem os demais por meio de mentiras perversas, que os farão sadicamente fruir da vingança.

Bogle utiliza suas ideias geniais para controlar o outro. A defesa nar-císica, no entanto, é instável, e a ameaça de morte - fantasiada como atropelamento - está sempre presente. A previsão autodestrutiva se realiza. Dessimbiotizado de Bogle, Orton se desespera, fica desamparado. Ambas as situações indicam a busca de escudos protetores, defesas narcísicas contra o terror do aniquilamento.

O suicídio de Otelo e de Fedra pode ser compreendido de forma similar. Iago, invejosamente desesperado, recruta Otelo para que se torne um prolongamento de si mesmo. Otelo se deixa dominar pelas mentiras de Iago, revelando uma fragilidade narcísica. Cai em si após ter assassinado Desdêmona. Não suportando a culpa, ele se mata. Possivelmente, fantasia o reencontro com a amada no outro mundo. Fedra é uma mulher ambiciosa, que não suporta a frustração. Por isso, ataca invejosamente a alteridade. Mata-se diante da não realização de seu desejo, confrontando com violência o homem que não o realizou. Ao mesmo tempo, a morte visa reencontrar a plenitude, fantasiada no pós-morte.

 

No campo social

Como vimos, a percepção da alteridade frustrante, derivando em ódio e inveja, constitui um importante fator subjacente às mentiras narcísicas e perversas. Em situações sociais, uma pessoa ou um grupo narcísico podem deformar a verdade mediante sofisticadas táticas de convencimento, sem que as vítimas o percebam. Fanatismo, guerras e terrorismo sempre incluem mentiras como justificativas.

O estudo do caso Escola Base nos ajuda a compreender a conexão entre erro de percepção, mentira e perversidade. Em 1994, duas mães denunciam atos sexuais praticados contra seus filhos menores numa escola de São Paulo, a Escola Base. A polícia e a imprensa trazem dados confirmatórios, que revoltam a população. Anos depois, os acusados são inocentados, ao se descobrirem erros crassos nas supostas provas e perícias.

Nesse momento, tomei consciência de fatos que vivenciara durante a acusação e que não soubera valorizar. Uma repórter de TV perguntava a uma criança de 4 anos: "Sua professora deitou em cima de você?". A criança olhava pasmada para a câmera e não respondia. Outra pergunta: "Ela te dava beijos?". A criança acenava que sim, com a cabeça. Sentia-me constrangido, mas recusava a percepção da óbvia indução das respostas. Estava obnubilado pelas "certezas" divulgadas massivamente pela imprensa. Uma mentira repetida mil vezes se torna verdade, nos ensinou o nazista Goebbels.

A situação mostra como é fácil induzir emocionalmente grupos sociais, fazendo-os perder a capacidade crítica. No exemplo descrito, a ativação de aspectos perversos possivelmente ampliou os fenômenos de massa.

O estudo do contágio emocional foi abordado por Freud (1921/2013b) ao referir-se às multidões que se deixam manipular por líderes perversos, o que leva a atos não pensados. Bion (1961/2001) descreve os supostos básicos que atacam a capacidade de pensar do grupo e nos alerta para o entorpecimento da mente, que pode tomar como realidade o produto de identificações projetivas massivas. Em outro texto (Bion, 1958/1967), ele descreve a estupidez que, juntamente com a arrogância e a curiosidade mórbida, surge quando o analista se aproxima de fatos traumáticos. Em grupos psicanalíticos, encontramos essas mesmas situações (Cassorla, 2013).

Klemperer (2009) estudou como o uso emotivo da linguagem, pelo nazismo, deformava a verdade. No clássico 1984 (1949/2009), Orwell descreve a novilíngua, que tem a mesma função. Em 2016, o Dicionário Oxford escolheu pós-verdade - a mentira induzida emocionalmente - como a palavra do ano.

Atualmente vivemos, em grande parte do mundo, um recrudescimento dos preconceitos de todo tipo. Em última instância, um ataque à alteridade. As mentiras narcísicas e perversas têm sido usadas em profusão para convencer e recrutar pessoas, que passam a apoiar grupos terroristas, racistas, homofóbicos etc. Ataca-se tudo aquilo que abale o fanatismo narcísico, com a mesma violência mortífera que abordamos antes.3

 

A sedução perversa

O recrutamento de mentes se faz mais poderoso quando ocorre a sedução perversa. Os sedutores perversos se apresentam como pessoas muito agradáveis, disponíveis e, eventualmente, poderosas. Sua solicitude imobiliza o outro. As vítimas preferenciais estão em busca de figuras idealizadas, que supostamente as completarão. Sentem-se envaidecidas por despertar a atenção de pessoas tão plenas. Podem constituir-se agrupamentos de pessoas estupidificadas, que homenageiam seu "deus" infalível, por vezes líder ideológico, religioso ou "científico". Como vimos, a vítima se funde, narcisicamente, ao algoz idealizado. Este, por sua vez, precisa da vítima para suprir sua vaidade. Na verdade, a empatia mentirosa esconde o ódio e a inveja. A sedução faz a vítima submeter-se prazerosamente sem que perceba a deterioração de sua capacidade de pensar.

O mentiroso mantém a mentira mesmo quando é desmascarado. Bion nos lembra que "a mentira não se restringe ao domínio do pensamento, mas tem sua contrapartida no domínio do ser; é possível ser uma mentira, e isso impede estar de acordo com o" (1970/1973, p. 114). Nosso saudoso colega Rubem Alves dizia o mesmo: "Mentia tanto que a mentira grudou em sua face" (comunicação pessoal, 1998).4

Se a mentira é descoberta e não pode mais ser mantida, a organização defensiva se desarticula. Os aspectos psicóticos, antes controlados, se manifestam com violência. Acabam a simpatia e a disponibilidade. Questionamentos são tomados como traições. Projetivamente, os outros são os mentirosos. Os denunciantes, de maneira vingativa, são ameaçados e prejudicados. A fúria narcísica pode avançar para a tortura mental e física e o assassinato.

A vítima, em contrapartida, pode não suportar a desidealização brusca e continuar acreditando no mentiroso. Em algumas situações, o sedutor pode ser "perdoado" ou ganhar "novas chances". Ingenuamente, considera-se que através dessas reparações maníacas a maldade será aplacada.

Outras vezes, o sedutor vence pelo medo e/ou pelo cansaço. O grupo cede a suas demandas perversas imaginando que poderá neutralizá-las ou, pelo menos, manter sua vitalidade em outras áreas. O auge da perversão grupal e institucional ocorre quando essas personalidades são indicadas (ou eleitas) para cargos em que têm poder de julgar os demais.

Configurações histeroides podem associar-se às características perversas. O analista, quando atende pacientes que contam ter sido "seduzidos" por analistas anteriores, sabe que poderá ser a próxima vítima das difamações. Ao contrário de Fedra, o mentiroso rejeitado não se suicida, pois as defesas são rearticuladas.

Personalidades perversas podem constituir conluios inconscientes de idealização/sedução mútua com o analista, sem que este o perceba. A idealização alterna-se com a dominação/submissão, estabelecendo-se enactments crônicos.5

 

Buscando outras pistas

Como vimos, não é difícil compreender a mentira maldosa quando ela é função de ressentimento, ciúme e inveja consequentes à tomada de consciência da alteridade. Pela mentira, o outro é controlado ou reduzido a "nada". Dessa forma, o mentiroso fantasia a completude narcísica. Branca de Neve tem que morrer para a madrasta ser a mais bela.

Como os ataques são feitos nas sombras, dissimulados e covardes, impõe-se um complexo modelo sádico-anal (Green, 2010), que se vale de fofocas, intrigas, difamações, postagens e cartas anônimas. Quando os ataques não abalam a vítima, a inveja se torna insuportável e a fúria narcísica explode através de violência manifesta.

Resumindo, estamos diante de organizações narcísicas cuja função é atacar a triangulação edípica. Não raro as condutas podem ser justificadas por meio da ideologização. Quando o mal se torna um bem, a perversidade se torna aceitável e necessária. É um bem "obedecer a ordens", declarou Eichmann, o criminoso nazista, a quem Hannah Arendt (1999) considerou um pobre coitado. O conceito arendtiano de banalidade do mal mostra que o mal "não tem profundidade nem dimensão demoníaca, mas pode proliferar e devastar o mundo inteiro ... porque se espalha como um fungo sobre a superfície da Terra, desafiando ... o pensamento e a compreensão" (Lafer, 2017, p. A2).

 

No campo analítico

Quando as configurações descritas se escondem no campo analítico, surge a questão: um mentiroso é analisável (Bion, 1970/1973; O'Shaughnessy, 1990)? Penso que o "bom" mentiroso não será descoberto, podendo tornar-se um "melhor mentiroso". O mentiroso "mediano" ou o "mau" mentiroso permitem que alguma verdade assome.

Recordemos que o analista não tem contato com a realidade externa, somente com as transformações que o paciente traz para o campo analítico. Essas transformações (sonhos e não-sonhos) se manifestam no aqui e agora e são necessariamente falsas (Cassorla, 2017a). Podem também ser mentirosas.

Sabemos que vivências emocionais são transmitidas pela variação da intensidade vocal, pelo timbre, pelas pausas, pelos tons, como atos de fala, linguagem performativa (Austin, 1990; Franco Filho, 2000). O mentiroso sabe usar a música que acompanha as palavras - melíflua, sedutora, indignada e/ou ameaçadora - para induzir o interlocutor a acreditar no que diz. O silêncio, o desafio e a tendência a polemizar fazem parte da indução (Etchegoyen, 1987), que em última instância visa destruir a função analítica (Joseph, 1971/1992).

O trabalho com mentirosos faz o analista participar de tramas conscientes e inconscientes, nas quais se incluem aspectos sedutores, manipuladores, transgressores. O analista se identifica com esses aspectos, ao mesmo tempo que toma distância para significá-los. Nem sempre essa distância é possível. Mesmo profissionais especializados em criminosos podem deixar-se enganar. São numerosas as terapeutas que se apaixonam por criminosos psicopatas que atendem. Welldon (2012) estuda a situação de Lord Longford, que por 15 anos defendeu uma sabida assassina de crianças, com quem se envolvera emocionalmente.

Rosenfeld (1987) conta situações vividas na análise com Caroline, uma psiquiatra que desejava conhecer-se melhor. Durante o tratamento, interessou-se em tratar viciados em drogas e ficou feliz quando foi nomeada diretora de uma clínica especializada. Caroline mostrava a Rosenfeld como o trabalho com viciados a mobilizava.

Rosenfeld se percebeu preocupado quando Caroline foi interrogada pela polícia sobre prescrição criminosa de drogas. Ela, porém, o convenceu de sua inocência fazendo-o acreditar que se tratava de difamação invejosa. Pouco tempo depois, Caroline foi presa por vender receitas para viciados por altas quantias. Seu advogado queria que Rosenfeld a ajudasse considerando-a esquizofrênica. Ao mesmo tempo, Caroline lhe escrevia, da prisão, dizendo ser sadia e inocente.

Na prisão, Caroline tentou contratar alguém que matasse seu substituto na direção da clínica, a quem ela acusava de tê-la colocado nessa situação. Caroline foi condenada por tentativa de assassinato, e somente após esse fato as autoridades diagnosticaram esquizofrenia. Rosenfeld descreve a cisão entre a parte sadia ("médica especialmente desvelada e bem-sucedida") e a parte criminosa, em que a mentira patológica é "tão completa que o analista se deixa levar e não sabe que o paciente está mentindo para ele. Com Caroline, nunca se tinha a impressão de que ela estava mentindo" (p. 170).

Portanto, quando ocorre uma cisão profunda do ego, a mentira perde o contato com a verdade, e o paciente acredita na mentira como se verdade fosse.

Quando aspectos perversos do analista são ativados por aspectos similares do paciente pode ocorrer de o analista comportar-se de forma que seria considerada antiética por uma personalidade não perturbada. Aproximamo-nos do que será descrito, adiante, como efeito Orton.

Uma colega me conta, assustada, do risco suicida de sua nova paciente. Trata-se de uma jovem que mente para a mãe sobre o namorado e mente para o namorado sobre a mãe. Percebo que a colega se mostra muito compreensiva com a paciente, considerando-a vítima de uma situação difícil, pela qual não tem responsabilidade. Quando me diz que a paciente havia planejado matar a mãe fraudando um medicamento e que em seguida se mataria, me chama a atenção a dissociação entre o impacto da ameaça e o tom desafetado do relato. Sou informado ainda de que a paciente havia roubado os medicamentos necessários para o ato.

Ao levantarmos a hipótese de que a paciente poderia estar mentindo, a colega se lembra de situações que mostravam subterfúgios perversos encenados pela paciente durante as primeiras entrevistas. A colega se surpreende por não ter se dado conta desses fatos. Na sessão seguinte, a paciente conta haver descoberto que a mãe estava tendo um caso com seu namorado. A analista não sabe se é verdade ou mentira. O que não deixa dúvidas é a externalização de objetos confusos e confusionantes, que fazem a analista duvidar do que ouve e observa e de sua capacidade analítica. Pouco depois, a paciente abandona o tratamento, porque vai "mudar de cidade".

Em outra situação clínica, estou ouvindo Kátia, uma adolescente que atendera inicialmente em surto psicótico, quando percebo um relato contraditório. Ao confrontá-la, dou-me conta de que a verdade parcial encobre uma grande mentira. Descoberta, Kátia me diz, num relato triunfante, que está envolvida com um traficante e que voltara a usar drogas. Sinto-me irritado e lhe digo, sem pensar, que é impossível continuar o tratamento, porque a análise lida com verdades. Percebo que me ouve, interessada. Ao vê-la assustada, noto que, pela primeira vez, me parece humana.

O trabalho com Kátia me fez perceber que, naquele momento, tomá-vamos consciência de aspectos escondidos na trama inconsciente encenada no campo analítico. Uma parte de Kátia estava identificada com um objeto perverso, que me controlava. Ao mesmo tempo, ela desejava ardentemente que eu me libertasse desse domínio. A descoberta das mentiras nos fez correr dois riscos: 1) reviver traumas primitivos escondidos atrás das mentiras; 2) acentuar o vínculo sadomasoquista. Minha conduta (impensada) promoveu uma terceira alternativa: a emergência atenuada de aspectos primitivos, possíveis de serem significados.

No decorrer do processo, percebo que Kátia pertence a uma família orgulhosa de ter um comportamento hipócrita, na qual, por várias gerações, falsas capas éticas esconderam constantes transgressões. Kátia se identifica com esses objetos vivendo uma falsa vida excitante. Ao mesmo tempo que busca objetos vivos verdadeiros, duvida da realidade deles. Transferencialmente, os aspectos perversos fazem parte de uma configuração defensiva envolvendo objetos distantes, cruéis e fraudulentos, nos quais Kátia procura, inutilmente, confiança verdadeira. Comportamentos autodestrutivos (drogas, direção perigosa, sexo sem cuidados) revelam, simultaneamente, triunfo, autopunição e desesperados pedidos de ajuda.6

Em outro texto (Cassorla, 2013), trato do poder contagioso da mentira, como observado num grupo de estudos quando uma analista contou sobre uma paciente que se vitimizava através de mentiras. A analista e o grupo se identificaram com a paciente sem se dar conta da fraude. Em determinado momento, o grupo passou a sentir-se incomodado, mas sem ter clareza sobre os fatores envolvidos. Somente mais tarde se percebeu que a paciente, sutilmente, deixava pistas para a identificação das mentiras. O estudo posterior mostrou que a paciente projetava um objeto controlador dentro da analista. Entretanto, em área paralela, aproveitava o trabalho analítico para dar significado a traumas precoces. Enquanto introjetava um objeto confiável, a paciente arriscou deixar-se descobrir a fim de verificar se a analista poderia ser realmente verdadeira.

Quando um analista acredita piamente em fatos contados pelo paciente, ignorando que não tem acesso à realidade externa, estamos diante de um conluio devido à deficiência da função analítica. Quando o analista relata esses fatos para além da sala de análise, estamos diante de situações éticas graves. Quando a configuração envolve difamações mentirosas, estamos diante de uma configuração perversa nomeada efeito Orton (Cassorla, 2008). A estupidez do analista lembra a estupidez de Orton, e sua sujeição às mentiras do paciente lembra a relação simbiótica entre Orton e Bogle.

No efeito Orton, a maldade é consciente e proposital. Conluios inconscientes (enactments) podem coexistir. A discriminação entre ambos é necessária em processos éticos e judiciais.

 

As situações traumáticas

Como visto, a mentira visa retomar relações duais. Essa retomada indica a necessidade de tamponar, em fantasia, situações primitivas vivenciadas como traumáticas. Não poderemos, neste texto, efetuar seu estudo minucioso. Outros autores vêm encontrando fatos congruentes com as vinhetas apresentadas, ainda que sua manifestação seja variada.

Entre nós, Marques (2007) mostra que o pensamento perverso substitui a impossibilidade de dar significado a experiências emocionais vivenciadas com objetos primários que odeiam a vida. A criança não se sente existente como ser humano; sente-se antes ludibriada e ignorada, cruelmente manipulada, vivendo como apêndice de algum outro. Impossibilitada de relações íntimas, ela as substitui por relações em que fachadas de elementos degradados se apresentam como substitutos do pensamento. O resultado é uma pseudovida inanimada, fetichizada, que ganha atributos de onisciência e onipotência. O indivíduo sente-se existente apenas a partir dessas estratégias, em que estão contidos - simultaneamente - o momento em que se perdeu a si mesmo e o único em que se reconhece.

O'Shaughnessy (1990) estuda um mentiroso habitual identificado com um objeto que fingia ser continente, mas que na verdade era distante. O paciente imaginava que a suposta honestidade da analista era uma fachada. A analista, por sua vez, sentia-se enganada e não tinha certeza se estava sendo ou não enganada. O paciente "adaptava-se" ao que se esperava dele. Ao mesmo tempo, invadia a mente da analista e sentia-se poderoso por deixá-la confusa e insegura. A idealização narcísica da destrutividade sedutora era acompanhada por um conluio sadomasoquista erotizado. A excitação servia para evitar temor e culpa, mas também envolvia o desejo de ser descoberto e punido.

Bollas (1987/1992) descreve um mentiroso psicopata que o envolveu num plano homicida sem que ele (Bollas) conseguisse saber se era verdadeiro ou mentiroso. A função da mentira era vivenciar um sentimento de triunfo, e o autor a atribui a fantasias que o bebê cria para suprir vazios decorrentes da ausência de experiências com os pais. A mentira compulsiva torna-se uma nova realidade essencial para a existência; a pessoa manipula o objeto para gerar a ilusão de vida sendo vivida. Na transferência, enquanto recria os traumas que sofreu com os objetos parentais, mente para contrapor-se à presença sinistra do objeto primário.

Rimano (2017) descreve uma paciente consciente de sua mentira e ao mesmo tempo presa inconscientemente num autoengano, mantendo cindida a marca de uma experiência primitiva, não simbolizável, que é a única com valor de verdade. A paciente inventa histórias que fornecem pistas sobre suas configurações objetais. A mentira torna-se uma forma excitante de repetição e defesa. Nessas situações, os pacientes observam ativamente como o "outro" não os detecta em sua mentira, isto é, os ignora. Simultaneamente, excitados com a fraude, buscam controlar o objeto não confiável ou fugir dele.

As vinhetas e as observações apresentadas vão na mesma direção das reflexões de Ogden (1997), que considera a perversão uma forma de extrair vida de experiências vivenciadas como mortas (deadness). A destruição da percepção da experiência de morte psicológica é alcançada através de tramas intersubjetivas excitantes, erotizadas e, eventualmente, perigosas, no intuito de sentir-se vivo.

As situações estudadas mostram que as tramas manifestadas no campo analítico incluem traumas primitivos e defesas contra esses mesmos traumas. As áreas simbólicas que trabalham o conteúdo das mentiras se superpõem a áreas traumatizadas, não simbolizadas. Mais importantes que o conteúdo das mentiras são as funções que exercem na relação com o outro. Nessas situações, podem revelar-se aspectos caracterológicos não simbolizados.

 

À guisa de conclusões

Corremos o risco de reducionismo se esquecermos que uma mentira consciente pode ser apenas a parte manifesta de complexas configurações inconscientes. A mentira, a dissimulação, a sedução perversa e as configurações a elas associadas constituem-se em defesas contra a desestruturação psicótica, a revivência de traumas precoces, a sensação de não existência, como um palimpsesto que esconde múltiplos traumas.

Vimos que o mentiroso habitual convive com a verdade e a mentira e sabe disso. A comunicação entre ambas pode perder-se quando ocorre cisão do ego, acompanhada de recusa ou desmentida da percepção da castração (Freud, 1927/2013a), da diferença entre os sexos e entre as gerações (Chasseguet-Smirgel, 1991).

As tramas perversas buscam transgredir limites e normas. O mal e a mentira são vistos como superiores às normas, ao bem e à verdade. Corrompe-se a criatividade, e a fertilidade é esterilizada. Erotizam-se a "intrusão e o domínio de mentes e/ou corpos para o benefício do intruso" (Tizón, 2015, p. 64). O objeto, fetichizado, não é considerado humano.

Os aspectos estudados remetem a complexos processos em que a vida é atacada e substituída por uma pseudovida excitante. No extremo da perversão e da perversidade, o objeto, testemunho da verdade, tem que desaparecer sem que exista culpa. As terríveis palavras de Green descrevem parte do resultado da destruição anal invejosa, que termina na desobjetalização:

Você não existe. ... Eu não preciso nem mesmo fechar as narinas para me proteger dos cheiros fétidos que de você emanam, porque não sinto mais nada que vem de você. Cheirar o que você emite, ver o que você me dá a ver ou escutar o que você deixa ouvir seria admitir implicitamente a sua existência. Ora, você não a tem. Você não chega a ser nem uma merda. Você é um monte de cinzas, poeira. E sua morte é retroativa. Você existiu somente por acidente, uma falha na humanidade que deve ser reabsorvida. Você não pode tampouco se tornar objeto de memória, culto ou lembrança. O luto do qual você se tornaria objeto lhe daria uma existência retroativa. Portanto, esse luto não pode realizar-se. (2010, p. 118)

Curiosamente, o algoz conversa com o objeto inexistente...

O processo descrito não ocorreu somente no nazismo (em que os outros foram reduzidos a cinzas), nas ditaduras (com casos de desaparecidos políticos) etc.; também acontece na violência de nossas ruas, grupos e instituições.

Mães, pais, professores, religiosos, ideólogos e governantes desenvolvem formas de induzir emoções, tanto para o bem quanto para o mal. A mentira perversa é utilizada para enganar, corromper, dominar, controlar e manipular. Seu estudo deve levar em conta aspectos moralísticos, que impedem ou dificultam a apreciação isenta. Mas, se recusássemos a percepção da maldade e de suas consequências, seríamos também mentirosos perversos.

Nossa compreensão do desumano deixa a desejar. Diante dele, nós nos sentimos perplexos, horrorizados e impotentes. Se ficarmos à sua mercê, correremos o impressionante risco de, ingenuamente, imaginar que podemos combater o desumano através de mais desumanidade. O ideal é "indagar a maldade com sua própria lógica, para que, a partir da denúncia de suas falsas premissas, ela possa vir a se desfazer ou ... ser colocada em evidência quando tenta se camuflar" (Chuster, Soares & Trachtenberg, 2014, p. 119).

 

Referências

Arendt, H. (1999). Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal (J. R. Siqueira, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

Austin, J. L. (1990). Quando dizer é fazer (D. M. de Souza Filho, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Bion, W. R. (1967). On arrogance. In W. R. Bion, Second thoughts: selected papers on psychoanalysis (pp. 110-119). London: Heinemann. (Trabalho original publicado em 1958)        [ Links ]

Bion, W. R. (1973). Atenção e interpretação (C. H. P. Affonso, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1970)        [ Links ]

Bion, W. R. (1992). Cogitations. London: Karnac.         [ Links ]

Bion, W. R. (2001). Experiences in groups. London: Routledge. (Trabalho original publicado em 1961)        [ Links ]

Bollas, C. (1992). A sombra do objeto (R. M. Bergallo, Trad.). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1987)        [ Links ]

Borges, J. L. (1982). O impostor inverossímil Tom Castro. In J. L. Borges, História universal da infâmia (J. Bento, Trad., pp. 27-36). Lisboa: Assírio & Alvim. (Trabalho original publicado em 1935)        [ Links ]

Brandão, J. S. (1992). Mitologia grega (Vol. 3). Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2008). Identificação precoce de obstruções do campo analítico: a pessoa real do analista e o efeito Orton. Trabalho apresentado no 27.° Congresso Latino-Americano de Psicanálise, Santiago.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2013). When the analyst becomes stupid: an attempt to understand enactment using Bion's theory of thinking. The Psychoanalytic Quarterly, 82,323-360.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2015). A análise didática como enactment institucional: comentário ao trabalho de Luiz Meyer. Trabalho apresentado no 25.° Congresso Brasileiro de Psicanálise, São Paulo.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2016a). O psicanalista, o teatro dos sonhos e a clínica do enactment. São Paulo: Blucher; Karnac.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2016b). Stupidity in the analytic field: vicissitudes of the detachment process in adolescence. The International Journal of Psychoanalysis, 98, 371-391.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2017a). The dreaming field. In S. M. Katz, R. M. S. Cassorla & G. Civitarese (Orgs.), Advances in contemporary psychoanalytic field theory (pp. 91-112). New York: Routledge.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2017b). Por uma formação analítica suficientemente má. In E. Pryzant (Org.), Construções v: morte e vida: fronteiras deformação no Brasil (pp. 35-48). Fortaleza: Associação Brasileira de Candidatos.         [ Links ]

Chasseguet-Smirgel, J. (1991). Ética e estética da perversão (V. Jacques, Trad.). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Chuster, A., Soares, G. & Trachtenberg, R. (2014). IV R. Bion: a obra complexa. Porto Alegre: Sulina.         [ Links ]

Etchegoyen, R. H. (1987). Perversão da transferência. In R. H. Etchegoyen, Fundamentos da técnica psicanalítica (C. G. Fernandes, Trad., pp. 99-105). Porto Alegre: Artes Médicas.         [ Links ]

Franco Filho, O. M. (2000). Quando o analista é alvo da magia de seu paciente: considerações sobre a comunicação inconsciente de estado mental do paciente ao analista. Revista Brasileira de Psicanálise, 34,687-709.         [ Links ]

Freud, S. (1976). Os chistes e sua relação com o inconsciente. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (J. Salomão, Trad., Vol. 8, pp. 5-155). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1905)        [ Links ]

Freud, S. (2013a). O fetichismo. In S. Freud, Obras completas (P. C. de Souza, Trad., Vol. 17, pp. 302-310). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1927)        [ Links ]

Freud, S (2013b). Psicologia das massas e análise do eu. In S. Freud, Obras completas (P. C. de Souza, Trad., Vol. 15, pp. 13-113). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1921)        [ Links ]

Green, A. (2010). El pensamiento clínico (C. E. Consigli, Trad.). Buenos Aires: Amorrortu.         [ Links ]

Joseph, B. (1992). Uma contribuição clínica para a análise de uma perversão. In B. Joseph, Equilíbrio psíquico e mudança psíquica: artigos selecionados de Betty Joseph (B. H. Mandelbaum, Trad., pp. 63-77). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1971)        [ Links ]

Klemperer, V. (2009). lti: a linguagem do Terceiro Reich (M. B. P. Oelsner, Trad.). São Paulo: Contraponto.         [ Links ]

Lafer, C. (2017, 20 de novembro). Hannah Arendt, 110 anos. O Estado de S. Paulo, p. A2.         [ Links ]

Leitão, V. M. (2000). A paranoia do soberano: uma incursão na alma da política. Petrópolis: Vozes.         [ Links ]

Lemma, A. (2005). The many faces of lying. The International Journal of Psychoanalysis, 86,737-753.         [ Links ]

Marques, M. (2007). A perversão nossa de cada dia. Revista Brasileira de Psicanálise, 41(2),149-167.         [ Links ]

Meltzer, D. (1983). Dream-life. Reading: Clunie Press.         [ Links ]

Meltzer, D. (1990). Metapsicología ampliada (D. San Juan, Trad.). Buenos Aires: Spatia.         [ Links ]

Meyer, L. (2015). A análise didática como enactment institucional. Trabalho apresentado no 25.° Congresso Brasileiro de Psicanálise, São Paulo.         [ Links ]

Ogden, T. H. (1997). O sujeito perverso da análise. Revista da Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, 4(3),487-509.         [ Links ]

Orwell, G. (2009). 1984 (H. Jahn & A. Hubner, Trads.). São Paulo: Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1949)        [ Links ]

O'Shaughnessy, E. (1990). Can a liar be psychoanalyzed? The International Journal of Psychoanalysis, 71,187-195.         [ Links ]

Rimano, V. (2017). La mentira en la intimidad del espacio analítico. Texto não publicado.         [ Links ]

Rosenfeld, H. (1987). Impasse and interpretation. New York: Tavistock.         [ Links ]

Shakespeare, W. (2000). Otelo, el moro de Venecia. In W. Shakespeare, Obras completas (L. Astrana Marín, Trad., pp. 361-431). Madrid: Aguilar. (Trabalho original publicado em 1622)        [ Links ]

Tizón, J. L. (2015). Psicopatología del poder: un ensayo sobre la perversión y la corrupción. Barcelona: Herder.         [ Links ]

Welldon, E. (2012). A transferência perversa e a vinculação maligna. Berggasse 19,3,19-36.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Roosevelt M. S. Cassorla
Av. Francisco Glicério, 2331, sala 24
13023-101 Campinas, SP
roocassorla@gmail.com

Recebido em 14/12/2016
Aceito em 28/3/2018

 

 

1 Freud (1905/1976) conta, como chiste, o diálogo: - Para onde você vai? - Para Cracóvia. - Se V. me diz que vai a Cracóvia é para que eu pense que v. vai a Lemberg. Por que mente para mim?
2 Lemma (2005) propõe a mentira sádica (para controlar e humilhar o objeto) e a mentira de autoconservação (para atrair um objeto distante ou defender-se de um objeto invasivo).
3 Agora estão em voga as fake news, que deformam a verdade na Internet.
4 Rubem Alves foi teólogo, filósofo, escritor e psicanalista, membro da SBPSP.
5 Cassorla (2015, 2017b) e Meyer (2015) estudam possíveis conluios perversos envolvendo a formação analítica.
6 Detalhes desse caso encontram-se em Cassorla (2016b).

Creative Commons License