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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.52 no.4 São Paulo out./dez. 2018

 

OUTRAS PALAVRAS

 

A mãe má: do filicídio ao matricídio psíquico

 

The bad mother: from filicide to mental matricide

 

La madre mala: del filicidio al matricidio psíquico

 

La mère méchante: du filicide au matricide psychique

 

 

Maria do Carmo Cintra de Almeida-Prado

Membro efetivo e docente da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ). Membro associado da Association Internationale de Psychanalyse de Couple et de Famille (AIPCF). Membro aderente da Académie de Psychanalyse Autour de l'OEuvre de Racamier. Membro associado do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (Ibap). Doutora em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Psicóloga do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) (1982-2018). Coordenadora dos setores de Psicodiagnóstico Diferencial (1982-2018) e de Terapia de Família (1990-2018) da Unidade Docente-Assistencial de Psiquiatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto/Uerj

Correspondência

 

 


RESUMO

Neste texto, a autora aborda fatores implicados no abuso sexual intrafamiliar infantojuvenil relacionados à psicodinâmica parental. Considerando o incesto uma questão essencialmente narcísica, mais do que sexual, trata da perversão e da perversão narcísica em seu vínculo com a paranoia e as associa com o regime psíquico e o padrão relacional ao qual a criança ou o adolescente vítima se vê submetido. Refere-se a consequências dessa situação para o psiquismo e a impasses particulares no tratamento psicanalítico dessas pessoas devido a aspectos perversos na transferência-contratransferência. É apresentada uma história contada 50 anos depois, a de Niki de Saint Phalle.

Palavras-chave: abuso sexual intrafamiliar, incesto, perversão narcísica, paranoia, crueldade


ABSTRACT

The author deals with factors associated with domestic sexual abuse of children and adolescents. These factors are related to parental psychodynamics. The author sees incest as an essentially narcissistic issue, rather than sexual. She discusses perversion and narcissistic perversion in their relationship with paranoia. She relates them to the mental regime and the relational pattern to which the child or adolescent victim is submitted. The author writes about the consequences of this situation to the victim's mind. She mentions some specific impasses in the psychoanalytic treatment of these people because of perverse aspects in transferencecountertransference. She brings the story of Niki de Saint Phalle, a story that was told 50 years later.

Keywords: domestic sexual abuse, incest, narcissistic perversion, paranoia, cruelty


RESUMEN

Se abordan factores implicados en el abuso sexual doméstico de niños y jóvenes relacionados con la psicodinámica de los padres. Concibiendo el incesto como una cuestión esencialmente narcisista, más que sexual, la autora discute la perversión y la perversión narcisista en su relación con la paranoia y las relaciona con sus psiquismos y el régimen relacional a los cuales el niño o adolescente víctima se ve sometido. Se refiere a las consecuencias de esta situación para su psique y las dificultades particulares en el tratamiento psicoanalítico de estas personas debido a los aspectos perversos en la transferencia-contratransferencia. Se presenta una historia contada 50 años más tarde, la de Niki de Saint Phalle.

Palabras clave: abuso sexual doméstico, incesto, perversión narcisista, paranoia, crueldad


RÉSUMÉ

On aborde des facteurs impliqués dans l'abus sexuel intrafamilial d'enfants et d'adolescents liés à la psychodynamique parentale. En voyant l'inceste comme une question essentiellement narcissique plutôt que sexuelle, l'auteur traite la perversion et la perversion narcissique dans leur relation avec la paranoïa et les relie au régime psychique et au modèle relationnel auquel l'enfant ou l'adolescente victime se voit soumis. On aborde les conséquences de cette situation pour sa psyché et les contraintes particulières dans le traitement psychanalytique de ces personnes dues à des aspects pervers dans le transfert-contre-transfert. On présente une histoire racontée 50 ans plus tard, celle de Niki de Saint Phalle.

Mots-clés: abus sexuels intrafamiliaux, inceste, perversion narcissique, paranoïa, cruauté


 

 

Neste artigo, considerando o abuso sexual intrafamiliar, abordamos o efeito sobre o psiquismo do(s) filho(s), ou de um em particular, da perversão e da crueldade presentes no psiquismo dos pais ou de seus substitutos, e os impasses decorrentes para tratar psicanaliticamente essas pessoas. Em face de situações sexualmente abusivas não é incomum, na assistência às vítimas, não haver o devido reconhecimento do que elas vivenciaram ou ainda vivenciam em família. Tal situação se coaduna com o desmentido e com o silêncio familiar, que sempre implicam recusa a saber e expectativa de que nada venha a ser investigado ou questionado vida afora, sobretudo quando o genitor ao qual foi feita a revelação, comumente a mãe, denega a criança, evita qualquer questionamento psíquico próprio e também nada deseja investigar. Anulada, a criança vive uma experiência análoga a uma tentativa de assassinato, a um filicidio psíquico, que se tornará fonte de cólera, a qual por sua vez fomentará o que pode ser denominado matricídio psíquico. Tais questões afetam a relação analisando-analista quando a especificidade dessas vivências não é levada em conta, o que pode tornar a experiência psicanalítica ineficaz, com repetição do mesmo, sem possibilidade de transformação.

Falar de um traumatismo real pode levar a crer que haveria um fictício ou falso, mas desconsiderá-lo seria não compreender sua extensão e seus efeitos, que por sua natureza e intensidade são devastadores. Retoma-se a velha polêmica entre o fato objetivável e a atividade fantasiosa, e parece-nos que o erro é opô-los como excludentes, quando deveriam ser considerados complementares: a brutalidade traumática, com seu efeito devastador, que reforça a vivência de desamparo, e a atividade psíquica associada ao trauma e ao que se passa depois. Quando o fato em si não é levado em conta pelo psicanalista, que efeito isso tem para o analisando, sobretudo ao se considerarem os processos intersubjetivos em andamento entre eles durante as sessões, os quais criam um campo intersubjetivo único e exclusivo?

Argumenta-se que o que realmente importa é a realidade psíquica, conforme vivenciada pelo sujeito. É verdade: ela conta e muito. Mas não haverá diferença quando ele de fato tiver sido abusado e/ou negligenciado de formas diversas e se visto obrigado a conviver com essas experiências em sua memória, sem que elas fossem compartilhadas com o devido crédito, de modo que pudessem ser simbolizadas e elaboradas? Afinal, há coisas da ordem do inimaginável para uma criança, sobretudo quando de pouca idade. Por exemplo, um colar tailandés introduzido pelo pai no ânus do filho, ou uma escova de engraxar sapatos introduzida por um tio materno na vagina da sobrinha, ambas as crianças estando então com 4 anos de idade. Pode-se considerar que um adulto que chegue ao consultório relatando fatos semelhantes, aos quais tenha sido submetido na infância, os tenha fantasiado e os conte como realidade vivida. É possível, mas será regra? Não o sendo, que efeito terá sobre seu psiquismo apresentar sua experiência para o psicanalista quando este não dá o devido crédito à realidade dos fatos? E quando se trata de atendimento infantojuvenil? Haverá algum efeito no desenrolar do tratamento caso o psicanalista dê ou não crédito a tais relatos como experiências realmente vividas? Cremos que sim, porque a experiência da vítima é muito complexa e envolve perversão.

O menino ao qual nos referimos antes teve duas hemorragias anais na escola, mas foi através de um desenho que fez do Patolino em sessão diagnostica, em cujo bumbum foram introduzidas bolas, que sua história começou a ser contada, provocando descrédito a profissionais psicólogos e assistentes sociais, justamente do Judiciário! Afinal, o pai era doutor em sua área, e o tio paterno, procurador da justiça. Como era possível? Já a menina teve um sangramento intenso, que requereu internação num centro de tratamento intensivo por dois meses - apesar da brutalidade inegável com que fora tratada, a pessoa que retinha sua guarda, a avó materna, comentou tratar-se de um “cortinho” e que nem graxa havia sido encontrada dentro dela. O encaminhamento da criança se dera pelo Judiciário para saber se havia condições de o tio materno - o abusador - retornar à casa e ao convívio com a menina. Nessas circunstâncias não se estavam levando em conta as condições psíquicas do abusador nem as do meio familiar, e não se estavam considerando os riscos reais aos quais a criança poderia estar exposta em decorrência de tal retorno. Nem todas as situações que nos chegam são tão brutais e mobilizantes como essas, mas sempre causam muito desconforto, e o assombro pode avizinhar-se ao descrédito. Daí à denegação, a distância é curta.

 

A dinâmica familiar perversa

Há inúmeras possibilidades de arranjo familiar envolvendo situações de abuso sexual intrafamiliar. Abordamos uma delas, talvez a mais comum, como recurso para serem pensados certos elementos. Trata-se da situação de pai ou padrasto abusador de filha ou enteada, digamos de 7 a 11 anos. A criança pode se calar por diversos motivos, mas aquela que ainda tem uma relação de confiança com a mãe fala-lhe a respeito; esta comenta com o companheiro, que desmente tudo; ela então desmente a criança, e a confiança se perde. Tratando-se de um padrasto, digamos que o pai biológico seja ausente ou visto pela criança como inacessível, e portanto fica sem saber de nada. A situação abusiva perdura. Mas o que está em jogo?

A criança sabe que está dizendo a verdade e que o abusador está mentindo. O abusador sabe que está mentindo, que a criança está dizendo a verdade e que ela sabe que ele está mentindo. Ambos sabem que a mãe se engana, seja por não lhe ser conveniente admitir a verdade, por motivos variados, seja por refugiar-se em uma parte de sua mente sem meios de pensar, seja ainda por sua própria perversão em conluio. A vida familiar segue como se nada tivesse ocorrido e, do exterior, a família não necessariamente será percebida como disfuncional, embora tudo permaneça acontecendo, porque situações de abuso sexual intrafamiliar tendem a continuar quando a criança é desmentida. Mais ainda: ela passa por mentirosa quando diz a verdade, vendo-se desqualificada e desmoralizada, vivendo um verdadeiro escárnio, enquanto quem mente passa por verdadeiro e mesmo injustiçado por acusações descabidas e impertinentes. Assim, o abusador é defendido e a vítima é acusada. Tudo se perverte. Consideramos tal experiência um filicídio psíquico.

A família perversa se articula em duas facetas: uma, a das aparências externas, em que se consideram a adaptação social e a adequação às regras; a outra, a da realidade familiar, em que os valores próprios ao ser humano socialmente ajustado se veem desconsiderados e subvertidos. Vive-se, assim, em dois mundos. Apesar de a dinâmica perversa vazar de diversos modos nas relações estabelecidas com o entorno, já que implica um regime psíquico, uma forma de pensamento e um padrão de relacionamento, ela ainda assim nem sempre é facilmente reconhecida.

O domínio privilegiado da perversão é a ação relacional, caracterizada por passagens ao ato por meio de comportamentos manipulatórios, que promovem desestabilização nos demais, familiares ou não, através da confusão e da angústia induzidas em decorrência de denegações, cisões e identificações projetivas. A alteridade é negada, e os contatos se caracterizam por posturas invasivas, que se alternam com outras, caracteristicamente sedutoras e/ou dominadoras. A relação de submissão-dominação assim se impõe, mesclada pelas perversões sexual e narcísica.

A perversão narcísica é apresentada por Racamier (1987, 1989) como o avesso da esquizofrenia, sendo definida como uma organização durável ou transitória caracterizada pela necessidade, pela capacidade e pelo prazer de se pôr ao abrigo de conflitos internos, em particular do luto, fazendo-se valer à custa do meio, de um objeto manipulado como utensílio, cuja existência em si não é negada, mas é vista como não tendo valor próprio. O autor identifica nela uma manobra antidepressiva em relação com a perversidade; assinala que se trata de uma perversão moral, que não necessariamente implica perversão sexual, embora também não a descarte. Sua origem está na mútua sedução narcísica mãe-bebê que se veja eternizada como meio de escape das vicissitudes pulsionais de ambivalência e da conflitiva edipiana. Ao perpetuar-se, ela reforça o ant'édipo1 mal temperado e desemboca no incesto ou no incestual, que corresponde a seus equivalentes. Racamier entende que o incesto, mais do que sexual, é uma questão narcísica.

A fantasia prevalente do perverso narcísico pode ser enunciada nestes termos: “A criança-desde-sempre-e-para-sempre-irresistível” (Defontaine, 2003, p. 55). O perverso narcísico, assim como o perverso sexual, nunca pôde renunciar à sedução narcísica e ver-se confrontado com a angústia de castração. O pensamento perverso se caracteriza pela pobreza, assim como pela evitação da verdade, já que apenas os fins contam.

Famílias que se articulam a partir da conjuntura dominação-submissão parecem buscar eternizar uma sedução narcísica mútua, e são pautadas pelo ant'édipo mal temperado e pelo incestual, quando não pelo incesto consumado (Racamier, 1989, 1995). Caracterizam-se pela evitação do trabalho psíquico, sobretudo no que diz respeito ao luto, e pela indiferenciação entre os seres, os sexos e as gerações. Nessa condição, as figuras parentais carecem de maturidade psíquica e compõem com o(s) filho(s) mais um grupo indiferenciado do que uma família propriamente dita, pautada justamente pela alteridade e pelo reconhecimento das diferenças. Tal situação pode recrudescer ainda mais ao envolver desejos parentais inconfessáveis diante do(s) filho(s) em crescimento (Almeida-Prado, 2015).

 

Cólera e crueldade

Talvez o mais chocante para uma criança vítima seja o fato de sua mãe se mostrar indiferente ou não acreditar nela ao fazer a revelação e, em decorrência, não protegê-la, quando ela está dizendo a verdade sobre a situação de abuso sexual intrafamiliar. A mãe em conluio perverso com o abusador é uma mãe má. Se a princípio, aparentemente, tudo continua a seguir, mesmo que de maneira confusa, como se nada tivesse acontecido ou permanecesse acontecendo, com o tempo surgirão disfunções que podem se dar em diferentes campos, mas que são sempre muito debilitantes, quando não francamente destrutivas. A tragédia se amplia, pois em decorrência do filicídio psíquico surge o matricídio psíquico pelo supereu cruel, com o objeto primário muito danificado e permanentemente atacado, o que acarreta uma dificuldade particular de se proteger. Assim, dão-se exposições a situações de risco, atentados contra si mesmo, contra o próprio corpo, levando em seu rastro ataques a talentos, oportunidades e possibilidades de desenvolvimento pessoal e de uma vida mais plena.

O ódio à mãe real costuma ser imenso, e o que desconcerta não é tanto não poder reencontrar o objeto, mas a incapacidade de se pôr à procura dele. Privado de uma mãe protetora, o sujeito se vê entregue a seu ódio interior, privado do amor dela e do seu amor por ela. Desdobramentos favoráveis ou não dependerão da idade da criança e do suporte ambiental que ainda exista, suporte esse que costuma silenciar sobre o ocorrido, tirando-lhe toda via de elaboração. No entanto, não importa a idade, a criança se verá às voltas com uma desordem interna completa e uma imensa cólera, cuja expressão é um apelo por aceitação, compreensão, compartilhamento e consolação.

A criança vítima de abuso sexual intrafamiliar, e que é desmentida, se sente vítima de uma enorme injustiça e nunca mais se sentirá como as outras crianças. A sexualidade entrou muito cedo em sua vida e de forma perversa. Sua cólera poderá parecer incompreensível a seu meio e mesmo a seu psicanalista, caso ela venha a procurá-lo quando adulta. No fundo, é à mãe que essa cólera se dirige, por tê-la desmentido e por tê-la abandonado. Muitas vezes se faz necessário um longo percurso para que haja tal reconhecimento, inclusive por parte do psicanalista.

Minerbo (2015) relaciona a crueldade do supereu a núcleos paranoicos dos pais e assinala que tal análise passa necessariamente por uma teoria a respeito de sua constituição: se numa das acepções freudianas ele é o herdeiro do complexo de Édipo, em outra resulta da identificação do eu com a sombra do objeto, sendo uma instância que tem suas raízes no isso e sua força derivada da pulsão de morte. Freud (1923/1976) qualificou-o como severo ou cruel. Minerbo afirma que as características dele são psicóticas e que, em vez de atacar e desqualificar o sujeito por algo que ele tenha feito, desqualifica, ataca e destrói o que ele é, o que implica uma manobra perversa (Caillot, 2003). Há, portanto, uma relação entre perversão narcísica, núcleos paranoicos e supereu cruel. Minerbo considera que os aspectos não metabolizáveis do objeto dizem respeito a seu núcleo paranoico, com o que concordamos plenamente. Apenas propomos detalhar em que consistem esses aspectos no sistema paranoico. Para isso, recorremos a Racamier (1992).

Segundo esse autor, a noção de perversão narcísica se situa, por um lado, numa encruzilhada, entre o intrapsíquico e o interativo, entre a patologia narcísica individual e a familiar, e, por outro lado, numa extremidade, a da trajetória entre psicose e perversão. A seu ver, a paranoia deveria figurar em melhor posição no que diz respeito à perversão narcísica, porque ela é seu florão. Racamier assinala ter sido ela que lhe mostrou os caminhos tortuosos, porém poderosos, que conduzem da angústia depressiva (ou sua ameaça) à edificação do sistema paranoico; é ela que permite de modo flagrante reconhecer as vias que vão da psicose à perversidade.

Argumenta que a paranoia deva ser compreendida como um sistema que corresponde a um combate defensivo contra dois tipos de angústia: a paranoide, concernente à dissolução pessoal, à diluição de ser, e a depressiva, relativa ao luto e à perda de objeto. Racamier resume tal situação em duas palavras, afirmando que o sistema paranoico é ao mesmo tempo antiparanoide e antidepressivo. Se no primeiro caso a angústia é mais rígida e fria, no segundo se apresenta mais fluida e vibrante. A isso se juntam fenômenos de depressão expulsada, que tão facilmente, mesmo irresistivelmente, no entender do autor, desembocam na paranoia.

O sistema paranoico, diz Racamier, se apresenta em estado de esboços incompletos e fugazes, de formações manifestas, vivas e lábeis, conduzidas por uma depressão mascarada, porém oprimente, ou então de organizações fixas, frias, firmes, rígidas, duráveis, até mesmo desenraizáveis. Essas organizações pendem seja para a vertente do delírio, mais manifesto, pautado pelo masoquismo, seja para a vertente do caráter, mais insidioso, pautado pelo ódio. No primeiro caso, acontecem mais produções; no segundo, atuações. Tal caráter é bem conhecido por seu orgulho, sua rigidez, sua desconfiança.

O sistema paranoico afeta de forma coerente a relação e o pensamento. O objeto é mantido a uma distância fixa por conta da desconfiança e do temor da perda de si. O paranoico se vê então adicto ao ódio e ao social. Quanto ao pensamento, o impreciso é afastado, a fantasia evacuada, o sonho apagado, reinando a lógica implacável, ainda que absurda, pois propulsionada pela recusa. Por fim, para que o sistema paranoico chegue a termo, é preciso que ele seja erotizado, afirma Racamier, e analidade e sadismo aí estão como adubo de dominação e tortura. O autor considera que entre perversão narcísica “simples” e caráter paranoico a diferença está na espessura e no peso das atividades de recusa: reforçando-se a parte de recusa, a porta se abre para a paranoia.

Vimos a que correspondem os aspectos não metabolizados do objeto no que diz respeito aos núcleos paranoicos, nas vertentes delirante e caracterial, e como se relacionam diretamente com a perversão narcísica: pela via paranoide, tais aspectos envolvem defesas contra a angústia de deixar de ser; pela via do luto, implicam defesas contra a angústia depressiva. É importante ter em mente que, no que se refere ao caráter, a organização paranoica, rígida e pautada pelo ódio, arma ciladas através de manobras perversas, que visam dominação-submissão e que pretendem alcançar um estado psíquico sem conflitos. A criança vítima de abuso sexual intrafamiliar está exposta a esse regime psíquico e ao padrão relacional decorrente. Ela representa uma ameaça ao narcisismo dos pais. Desqualificada e atacada no que é, aviltada e encolerizada, ela se verá exposta à crueldade de seu supereu.

 

Perversões na transferência-contratransferência

Quando a psicanálise enfatiza a elaboração do luto como medida de maturidade emocional decorrente do desenvolvimento psíquico, relativo à condição do bebê de dar-se conta de que seus sentimentos ambivalentes de amor e ódio dizem respeito a uma pessoa total, ela o faz a partir da perspectiva intrapsíquica. Assim, para o bebê, não se trata mais de uma pessoa “boa” amada e de uma pessoa “má” odiada, originalmente a mãe que alimenta e, posteriormente, outras figuras equivalentes e significativas para a criança e para o adulto que ela se tornará. Dessa situação resulta uma preocupação pelo objeto por conta dos estragos que lhe tenham sido feitos através do ódio - e tais estragos podem continuar a acontecer no mundo interno do sujeito pela vida afora -, o que também acarreta culpa e dor. O trabalho psicanalítico considera que, quanto mais for reconhecida a destrutividade de uma pessoa, mais poderão vir a ser mobilizados recursos reparatórios. A reparação dos objetos internos danificados é vista como a mais importante fonte de crescimento psíquico e de criatividade.

Nessa perspectiva intrapsíquica, realçam-se as fantasias do sujeito para com o objeto e, mesmo que se leve em consideração um meio insuficientemente bom ou francamente insatisfatório, é como se o objeto real não contasse, sendo ele sempre concebido como decorrente de identificações projetivas hostis e destrutivas, carregadas de ódio, nele enfiadas. Seriam então deformações derivadas do próprio mundo interno do sujeito. No entanto, ao considerar uma perspectiva intersubjetiva, nós nos perguntamos: e quando o objeto tiver sido, ou permanecer sendo, realmente odioso e destrutivo para o sujeito, de modo repetitivo e de diferentes formas ao longo de sua existência?

Enriquez (1993a) destaca os efeitos malignos que o psiquismo comprometido de uma figura parental psicótica tem sobre a mente de um de seus filhos, do mesmo sexo que ela. A criança se vê enredada nas tramas delirantes parentais num momento de seu desenvolvimento em que depende dos pais, em que tem poucos recursos para discriminar o entendimento de mundo profundamente perturbado que lhe é apresentado pelo genitor adoecido. Em outro trabalho, Enriquez (1993b) se refere à incidência do delírio parental sobre os descendentes, promotora de confusão e de danos decorrentes da idealização e da recusa - a seu ver, os piores inimigos da memória, do desejo de investigação e do questionamento psíquico.

Investigar e questionar também estão comprometidos quando a realidade nem é totalmente aceita, nem é totalmente recusada (Steiner, 1996). Ao tratar da divisão do eu no processo de defesa, Freud (1940[1938]/1975) demonstra que, diante de duas circunstâncias em princípio excludentes entre si, é possível simultaneamente reconhecer e negar a realidade da castração através do deslocamento e da clivagem do eu, coadunando-se assim o desejo e a realidade. Steiner observa que, embora esse tipo de mecanismo tenha sido abordado primeiramente nas perversões, e seja de fato bastante importante nessas condições, parece ser uma reação muito mais geral com relação a uma parte da realidade difícil de ser aceita - como pode ser aquela envolvendo violência e trauma.

É difícil tratar da violência e do trauma e, por conseguinte, o analista pode apresentar certo descrédito diante de analisandos vitimados e traumatizados, em particular quanto a situações de abuso sexual intrafamiliar na infância, sobretudo a respeito de toda uma área da realidade que ele, analista, considere inaceitável ou inconcebível. Isso favorece a retirada para um tipo de zona fronteiriça, na qual a realidade nem é completamente negada, nem é completamente aceita. Nessas circunstâncias, a experiência do analisando se vê desrepresentada e distorcida, o que terá efeito sobre os desdobramentos de sua análise.

Ao referir-se a caminhos possíveis para o trabalho do analista com o supereu cruel, Minerbo (2015) afirma que interpretações e manejos devem ocorrer no campo transferencial-contratransferencial, a partir do que se passe entre analisando e analista. Nessa perspectiva, justamente, o analista não é apenas uma tela de projeção de questões intrapsíquicas do analisando, já que participa, com sua subjetividade, da construção do campo psicanalítico que compartilha com o analisando. Minerbo diz que a transferência - ao que acrescentamos a própria evolução do tratamento - dependerá de como o analista reagirá a ela.

A pessoa vítima de abuso sexual intrafamiliar na infância será particularmente suscetível a qualquer dúvida sobre a veracidade de sua experiência, e qualquer intervenção que contradiga os fatos terá um efeito retraumatizante, incrementará vivências de humilhação e ódio, bem como a reação terapêutica negativa, e promoverá impasses muito sofridos para o analisando no processo psicanalítico.

A tarefa do psicanalista é exigente porque o que mais comumente se observa na contratransferência são a humilhação e o ódio. Se ele tratar o analisando na transferência privilegiando a perspectiva intrapsíquica, evitará tais sentimentos, mas estará se recusando a considerar o que aconteceu com o analisando, pois compreenderá seus relatos como decorrentes de identificações projetivas promotoras de situações imaginárias e de objetos distorcidos. Haverá então outra confusão de línguas, dessa vez entre a teoria e a técnica em que ele se encontra imerso e o relato dos fatos apresentado pelo analisando. Mergulhado em seu referencial teórico, o analista não vê o analisando, mas a concepção que faz dele em sua mente a partir da fundamentação que privilegia, tratando-se, portanto, de uma perspectiva totalmente narcísica.

Dessa forma, o desejo de investigação fica condicionado e o questionamento psíquico se restringe, inclusive o do próprio psicanalista. O enquadre psicanalítico passa então, ele mesmo, a encobrir o que precisaria ser revelado e reconhecido (Bleger, 1967/1977), impedindo ao analisando uma experiência verdadeira de poder compartilhar de forma que se sinta compreendido, no que diz respeito à dimensão de seu vivido, às experiências violentas pelas quais tenha realmente passado, para que haja condições de elaboração, transformação e superação, ainda que tenha de viver com essas recordações para o resto de seus dias.

 

Uma história contada 50 anos depois

Foi apenas 50 anos depois que a artista plástica francesa Niki de Saint Phalle, nascida em 1930 e falecida em 2002, decidiu revelar seu segredo num livro intitulado justamente Mon secret, escrito em forma de carta para sua filha Laura. Saint Phalle observa que escreveu esse livro a princípio para si mesma, na tentativa de se livrar do drama que teve papel tão determinante em sua vida. Ela afirma ser uma pessoa que escapou da morte e que sentia enfim a necessidade de deixar falar a menininha dentro de si. Diz que o texto é o grito desesperado dessa menininha (Morineau, 2014).

Saint Phalle se refere ao pai como um homem idealista, que defendia uma liberdade racial e religiosa absoluta, credo compartilhado por ela ao longo da vida. As coisas ficaram ruins quando seus seios começaram a despontar e seus quadris a tomar forma. Ela se tornou o objeto do desejo dele de exercer um poder total sobre ela. Diz que todo o amor que tinha por ele se transformou em ódio e que sentia ter sido assassinada.

Segundo Saint Phalle, os abusos se iniciaram quando ela estava com 11 anos e ele com 35. Um dia, de forma súbita, as mãos dele começaram a explorar seu corpo de uma maneira totalmente nova para ela. Viu-se tomada por angústia, prazer e medo. O pai lhe dizia para não se mexer, e ela obedecia como um autômato. Então ela se soltou com violência e pontapés e saiu correndo. No entanto, muitas cenas desse tipo se repetiram nessa mesma época.

Afirma que ele tinha sobre ela o terrível poder do adulto sobre a criança. Ela podia se debater, mas ele era mais forte. O pai, um católico fervoroso, se tornou objeto de ódio. O mundo mostrava-lhe toda a sua hipocrisia. Concluía que tudo o que lhe era ensinado era falso e que ela precisaria se reconstruir fora do contexto familiar, para além da sociedade.

Aos 20 anos, mordiscava tanto o lábio superior que se criou uma deformidade - uma maneira, diz ela, de deixar sua vergonha estampada na cara. Readquiriu um rosto normal após se submeter a uma cirurgia corretiva bastante dolorosa, depois da qual passou a atacar outras partes do corpo para dar vazão a suas pulsões agressivas. Ocorreram então escarificações, tentativas de suicídio, depreciações pessoais, sinais de pertencer a um mundo fora da lei (Raimbault, Ayoun & Massardier, 2005).

Costumava carregar na bolsa facas de cozinha, lâminas de navalha e um pequeno revólver. Fuzis passaram a ser utilizados em suas obras, e ela se sentia vingada ao atirar nelas com uma arma de verdade. Dispunha sob certas telas bolsas de tinta e atirava nelas como se fosse no pai, em verde, vermelho, azul e amarelo. Ela se perguntava se ele, ao vê-la fazendo isso, nunca chegou a pensar que era nele que ela atirava.

Passou por uma internação psiquiátrica e 10 sessões de eletrochoque. Antes de ter alta, recebeu uma carta do pai na qual lhe perguntava se ela se lembrava de que, com 11 anos, ele tinha tentado torná-la sua amante. Não se lembrava, mas recordava-se de um pai elegante, que buscava seduzir as amigas da mãe e até mesmo as empregadas.

Ao mostrar essa carta ao psiquiatra, ele acendeu um fósforo e a queimou, dizendo que o pai dela estava louco, que nada havia acontecido, que ele inventava. Era impossível. Um homem de seu meio e com sua educação, religioso, não faria tal coisa. Ela observa que o médico era pai de família, com filhas de sua idade, e que se recusava a acreditar na violação. Era o ponto de vista da época, perspectiva que perdura... O psiquiatra escreveu ao pai dela dizendo que, se ele continuasse a lhe enviar cartas, ela terminaria seus dias num asilo. Aconselhou-o a se tratar, porque ele era vítima de fantasias perigosas.

Para além de seu corpo, foi sobre suas obras que Saint Phalle exprimiu a violência interior induzida pelo incesto. Transportada para a obra, a agressividade começou a escoar. Diz que, devido à depressão, a descida à loucura foi a experiência mais terrificante de sua vida, assolada que estava por inúmeros conflitos e por se sentir ameaçada. Afirma que dessa experiência de desintegração e obscuridade, de toda essa imundície, brotou ouro. Do caos veio a ordem, e ela saiu do hospital psiquiátrico artista.

Nunca fez as pazes com o pai e, após a morte dele, filmou Daddy, que lhe permitiu dar vazão a sua cólera e a suas fantasias. Contudo, em vez de apaziguá-la, esse filme deslanchou uma depressão. Pouco depois, a mãe lhe confessou saber de tudo - o marido lhe havia contado. Afirmou que tinha desejado se atirar pela janela, mas não o fez, nem protegeu a filha.

A família de Niki de Saint Phalle era muito adoecida e disfuncional: pai incestuoso, mãe não protetora em conluio perverso com ele, filha desamparada. Podemos considerar que estavam em jogo núcleos paranoicos no casal parental, e é inegável a crueldade do supereu com a qual Saint Phalle se via às voltas. Levando em conta seu comportamento autoquírico e as tentativas de suicídio, o que será que pensavam os profissionais que a assistiam? Que compreensão tinham de seu comportamento autodestrutivo, já que desconheciam o incesto? De qualquer forma, mesmo quando ele veio à tona, foi considerado impossível e descartado.

O sofrimento pelo qual ela passou foi atroz, com as transgressões familiares e as recorrentes situações violentas advindas de seu interior, com ataques a seu rosto lindo, deformando-o, a seu corpo harmonioso, escarificando-o, e a sua vida, com as tentativas de suicídio. Na verdade, ela escapou da morte muitas vezes.

Num documentário sobre sua vida e obra (Artracaille, 2014), Niki de Saint Phalle afirma ter sido muito inteligente de sua parte não ter contado nada do que se passou consigo a ninguém, porque ninguém acreditaria nela: “Mon silence était une stratégie de survie” [Meu silêncio era uma estratégia de sobrevivência].

 

Considerações finais

Na assistência a pessoas vítimas de abuso sexual na infância, pode-se argumentar que o tratamento não deve se limitar ao fato abusivo em si, mas considerar o que tiver se passado antes. Isso nos parece óbvio, mas tal consideração será forçosamente marcada pela escuta que o analista venha a lhe dar. É preciso levar em conta não apenas o que possa ter acontecido antes, mas também o tratamento dado depois de o fato abusivo ter se tornado conhecido, estando aí a verdadeira potencialidade da circunstância traumática.

A violência sexual intrafamiliar contra crianças revela um grave adoecimento familiar e indica a insuficiência de seus cuidados e de sua proteção. Trata-se de pais muito adoecidos psiquicamente, articulados de forma complementar e recíproca, de modo que nenhuma assistência ou atitude protetora é dada à criança após a revelação, o que faz com que se mantenha a situação abusiva em conluio parental. A criança, desqualificada, sente-se humilhada, fomentando-se a cólera, muitas vezes mascarada por vivências depressivas e culpa.

A convivência em tais famílias envolve desde sempre - portanto, sem antes nem depois - minitraumas, os quais permeiam o quotidiano de forma cumulativa, através de manobras perversas que falseiam a verdade, geram confusão e angústia, além de ataques ao corpo e à intimidade física e psíquica da criança, vivenciados como filicídio, já que se trata de atentados a sua pessoa. Entendemos que ela fica exposta ao prazer de conspurcar, estragar, danificar sua pessoa, diretamente relacionado ao de subjugar e dominar. É desta forma que o sujeito perverso se vê ao abrigo de um sentimento de nulidade, de uma falta de estima de si (Caillot, 2003), diríamos de uma falta a ser: à custa de outro.

O incesto, referido como assassinato psíquico, implica que a vítima se veja às voltas com objetos internos assassinos, relacionados a pessoas que atentaram contra sua integridade física e sua vida psíquica. Não havendo reconhecimento desse fato por parte do psicanalista, ele deixa de investigar e questionar, prevalece o não saber, e a vítima fica mais uma vez exposta à crueldade de seu supereu a partir de núcleos paranoicos, não apenas de seus pais, mas também do psicanalista.

Quando a preocupação depressiva pelo dano feito ao outro não é suficientemente desenvolvida nos membros de uma família pautada pela violência sexual intrafamiliar, particularmente no que se refere às figuras parentais, há o risco de surgirem severas ansiedades paranoides futuras, dizendo respeito à dissolução pessoal, à perda de ser. O ciclo de conflitos transgeracionais tenderá, então, a se repetir: núcleos paranoicos nos pais, supereu cruel nos filhos, sem que haja transformação, elaboração e superação.

A nosso ver, o analisando vítima de abuso sexual na infância não deve ser tratado como neurótico. Há inúmeras subversões em sua história, a partir de uma família ant'edípica que se opõe ferozmente ao complexo de Édipo, que não tolera a verdade nem a diferença, que evita assim a todo custo a alteridade e o sofrimento psíquico inerente ao próprio crescimento. A verdade não conta, processos de pensamento são subvertidos e comprometidos, e dessa forma prevalecem o agir e o fazer-agir. Essas famílias se caracterizam, portanto, pela passagem ao ato, próprio à dinâmica perversa, através de manobras confusogênicas, ansiogênicas e de sedução mentirosa.

A passagem ao ato diz respeito tanto à evitação da elaboração psíquica de certas questões, como separação, depressão, dependência e sentimento de insuficiência, quanto à tentativa de encontrar-lhes uma solução mágica. Esta torna necessária uma inscrição na realidade externa, com valor equivalente a gestos e palavras mágicas, destinados a alcançar resultados, como acreditar estar imune a conflitos, acreditar na inversão geracional ou no falso como verdadeiro (Caillot, 2003). Eterniza-se a sedução narcísica e subvertem-se a cena primária e a castração.

Como vemos, há complicadores expressivos na história da pessoa vítima de abuso sexual intrafamiliar, a começar por uma família incestuosa ou incestual, de qualquer forma violenta e perturbadora, uma vez que transgressora e disruptiva. Numa família perversa, vive-se em dois mundos: o da aparência e o real, que por sua vez é mascarado e camuflado. A clivagem permeia, assim, a vida em todos os momentos. Ao não ser dado crédito à vivência do analisando, repete-se sua experiência de viver em dois mundos: aquele no qual o psicanalista acredita em que estejam, inclusive quanto ao andamento do processo psicanalítico, e o outro, tornado então inacessível, no qual se encontra o analisando, mais uma vez vendo-se desmentido e incomunicável, já que incompreendido. Repete-se o horror, reativam-se o ódio e o supereu cruel. Perverte-se completamente a análise.

 

Referências

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Correspondência:
Maria do Carmo Cintra de Almeida-Prado
Avenida Rainha Elizabeth da Bélgica, 650, ap. 702
22081-042 Rio de Janeiro, RJ
Tel.: 21 99352-0566
cintradealmeidaprado@yahoo.com.br

Recebido em 20/9/2017
Aceito em 23/10/2018

 

 

1 Em francês, antoedipe comporta a noção de ante, “que antecede”, e anti, “que se opõe”. Optamos por ant'édipo para que esses dois aspectos fiquem claramente contemplados.

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