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Revista Brasileira de Psicanálise

versión impresa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.53 no.1 São Paulo ene./mar. 2019

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Marina Massi

Editora

Correspondência

 

 

O outro se domina, mas sofre humilhação e é assim que o ódio nasce.
ALBERT CAMUS

A Revista Brasileira de Psicanálise é a mais antiga publicação psicanalítica do país e, sem dúvida, faz parte do grupo das melhores publicações que temos na área da psicanálise. São duas realidades a exigir uma grande responsabilidade do editor e de toda a equipe, na sustentação de um projeto editorial de alta qualidade científica, que ao mesmo tempo torne claros os compromissos éticos da psicanálise com questões relevantes sobre a subjetividade dos indivíduos, os laços e as instituições sociais.

Fizemos os números Política I e II com o intuito de contribuir para o pensamento e o diálogo sobre manifestações psíquicas advindas de processos políticos e sociais que nos afetam em todas as esferas cotidianas, das relações íntimas à vida pública. Acreditamos que, para a história da revista, esses números marcam uma valiosa contribuição ao campo psicanalítico brasileiro, bem como fincam a posição da RBP de não se alienar dos acontecimentos e fenômenos sociais, nos quais estamos inseridos enquanto analistas, convocados a refletir, a analisar e a romper os enredamentos do conflito social, na busca de elaboração e transformação.

A discussão da equipe editorial se encaminhou no sentido de nos mantermos sintonizados com os conflitos psíquicos, sociais e políticos que enfrentamos no Brasil e também em outros países. Havia um anseio na equipe de colaborar com o debate dessas questões através da nossa matéria-prima -o inconsciente. Foi assim que o tema Ódio nasceu e amadureceu entre nós, dando título a este número da RBP.

Ao leitor que queira se aprofundar no assunto, vale lembrar três textos que não se encontram neste número, mas que merecem constar de uma bibliografia pertinente ao tema: "O ódio pede passagem" (2014), de Joel Birman, que contextualiza a diferença entre raiva e ódio e traça uma linha que vai dos gregos à modernidade; "O ódio e a destrutividade na metapsicologia freudiana" (2001), de Luís Carlos Menezes, que refaz o percurso de Freud de modo perspicaz e sofisticado, indagando qual seria a natureza pulsional do ódio; e "The psychical and social roots of hate" (1999/2007), de Cornelius Castoriadis. Esses textos têm a profundidade metapsicológica e a abrangência necessária para compor uma base ao que este número sobre o ódio tentará trazer, com as marcas das questões do atual momento histórico, social e cultural.

Neste número, atendendo à nossa carta-convite, o ódio é considerado em múltiplas perspectivas por nossos colaboradores, mas sempre tendo em vista a dimensão psicanalítica. Tratado como conceito que extrapola o âmbito individual, o ódio requer um objeto - subjetivo ou objetivo - sobre o qual possa despejar sua força destrutiva. Assim, a figura do outro assume um papel importante: o outro como suporte do ódio; o outro cujo olhar nos constrange ou mesmo nos constitui; o outro que põe em cena, além do sujeito, o ancestral, a descendência, o grupo e inclusive a figura do analista diante do paciente.

Na condição de fenômeno do humano, o ódio atrai o interesse de áreas como a psicanálise, a sociologia, a psicologia, a literatura, a filosofia e a política. Os trabalhos recebidos de alguma forma mesclam esses saberes, enriquecendo a reflexão sobre o tema. Esperamos que esse conjunto de textos que a equipe editorial organizou contribua para os diálogos tão atuais a respeito do ódio.

Para finalizar este breve editorial, gostaria de fazer dois apontamentos. O primeiro se refere às seções "Outras palavras" (tema livre), "História da psicanálise" e "Projetos e pesquisas", permanentemente abertas ao recebimento de artigos não relacionados à temática do número. Os colegas estão convidados a colaborar com essas seções sempre que desejarem. Mandem seus artigos endereçados a uma dessas três seções, e eles serão avaliados, pelo método duplo-cego, para a seção pertinente. Contamos com sua colaboração.

O segundo ponto é a criação da coeditoria internacional na RBP. Gostaria de apresentar os dois novos colaboradores da RBP, com a função de ampliar o diálogo entre a psicanálise produzida em outros continentes (EUA e Europa) e a psicanálise brasileira, que a RBP procura identificar e publicar. Fernanda Sofio,1 em Nova York, e Luiz Eduardo Prado,2 em Paris, passam a fazer parte de nossa equipe ampliada. Desejo que essa parceria seja frutífera de lá para cá e de cá para lá, uma vez que o mundo parece ter ficado menor, com as distâncias mais curtas, devido às novas tecnologias. Bem-vindos, ambos, à RBP.

Desejamos a todos uma boa leitura.

 

 

Referências

Birman, J. (2014). O ódio pede passagem. Percurso, 52,169-170.         [ Links ]

Castoriadis, C. (2007). The psychical and social roots of hate. In C. Castoriadis, Figures of the thinkable (H. Arnold, Trad., pp. 153-164). California: Stanford University Press. (Trabalho original publicado em 1999)        [ Links ]

Menezes, L. C. (2001). O ódio e a destrutividade na metapsicologia freudiana. In L. C. Menezes, Fundamentos de uma clínica freudiana (pp. 145-155). São Paulo: Casa do Psicólogo.         [ Links ]

 

 

Correspondência:
Marina Massi
marinamassieditora@rbp.org.br

 

 

1 Psicanalista. Doutora em psicologia social pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em psicologia clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Autora dos livros Literacura e Psicanálise na UTI.
2 Psicanalista. Professor emérito de psicopatologia. Escritor e tradutor. Universidade de Paris 7 - Denis Diderot.

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