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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.53 no.2 São Paulo Apr./June 2019

 

OUTRAS PALAVRAS

 

Bion e Winnicott: um diálogo a posteriori1

 

Bion and Winnicott: an a posteriori dialogue

 

Bion y Winnicott: un diálogo a posteriori

 

Bion et Winnicott: un dialogue a posteriori

 

 

Adriana SalvittiI; Luciana PiresII

IMembro filiado do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP). Psicóloga. Mestre, doutora e pós-doutora pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Membro associado do Instituto de Estudos Psicanalíticos de Ribeirão Preto e professora do curso de especialização em teorias e técnicas psicanalíticas
IIPsicanalista. Especialista em psicanálise com crianças, adolescentes e famílias pela Clínica Tavistock. Doutora pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Coordenadora do grupo Sustentar no Instituto Sedes Sapientiae. Autora do livro Do silêncio ao eco: autismo e clínica psicanalítica (2007)

Correspondência

 

 


RESUMO

Uma carta escrita por Winnicott a Bion em 1955 nos serviu de estímulo para colocar os autores em diálogo sobre dois temas levantados por Winnicott. O primeiro tema critica os efeitos do kleinismo nos analistas; o segundo discute o papel do ambiente e da interpretação no trabalho com psicóticos. Embora distintos, esses temas compartilham uma mesma questão, tratada por ambos os autores: o problema da comunicação na análise, e entre os analistas na transmissão da psicanálise. Considerando a questão da comunicação no contexto em que essa carta foi escrita, realizamos o entrecruzamento de textos de Bion e Winnicott para expor uma possibilidade de diálogo sobre o papel do grupo na transmissão psicanalítica e seus efeitos na formação. Igualmente, evidenciamos como poderiam ter debatido a clínica da psicose na década de 1950. Não há registro de resposta de Bion a Winnicott e eles pouco se mencionam. Porém, essa leitura nos permite mostrar como eles teriam se contraposto e respondido um ao outro.

Palavras-chave: formação psicanalítica, kleinismo, grupo, identificação projetiva, psicose, interpretação


ABSTRACT

A letter from Winnicott to Bion from 1955 is considered, in order to put the authors in conversation on two topics that were raised by Winnicott. The first topic is the criticism of the effects of Kleinian theory on psychoanalysts, and the second is the role of the environment and interpretation in working with psychotic patients. Though they are distinct, the two topics have an aspect in common: the problem of communication, both within the analytic setting and during the transmission of psychoanalytic theories. By intertwining of texts by Bion and Winnicott, we consider the context in which the 1955 letter was written and discuss the role that psychoanalytic groups have in the transmission of psychoanalysis, as well as their effect in psychoanalytic training. Similarly, we evidence how Bion and Winnicott could have debated the issue of analyzing psychotic patients, in the 1950s. There is no known replay made by Bion to Winnicott, and they hardly mention each other in their respective works. However, our reading renders a possibility to think how they might have responded to each other's ideas.

Keywords: psychoanalytic training, Kleinian theory, group, projective identification, psychosis, interpretation


RESUMEN

Una carta escrita por Winnicott a Bion en 1955 nos sirvió de estímulo para colocar a los autores en un diálogo sobre dos temas abordados por Winnicott. El primer tema critica los efectos del kleinismo en los analistas, el segundo discute el papel del ambiente y de la interpretación en el trabajo con psicóticos. Aunque distintos, estos temas comparten una misma cuestión, tratada por ambos autores: el problema de la comunicación en el análisis, y entre los analistas en la transmisión del psicoanálisis. Considerando la cuestión de la comunicación en el contexto en que esta carta fue escrita, realizamos el entrecruzamiento de textos de Bion y Winnicott para exponer una posibilidad de diálogo sobre el papel del grupo en la transmisión psicoanalítica, y sus efectos en la formación. Igualmente, evidenciamos cómo podrían haber debatido la clínica de la psicosis en la década de 1950. No hay registro de la respuesta de Bion a Winnicott y ellos se mencionan poco. Sin embargo, esta lectura nos permite mostrar cómo se habrían contrapuesto y respondido el uno al otro.

Palabras clave: formación psicoanalítica, kleinismo, grupo, identificación proyectiva, psicosis, interpretación


RÉSUMÉ

Une lettre écrite par Winnicott à Bion en 1955 nous a encouragé à mettre ces deux auteurs en dialogue sur deux thèmes soulevés par Winnicott. Le premier thème critique les effets du kleinisme sur les analystes , le second discute le rôle de l'environnement et de l'interprétation dans le travail avec des psychotiques. Bien que distincts, ces thèmes partagent une même question traitée par les deux auteurs: le problème de la communication dans l'analyse, et entre les analystes dans la transmission de la psychanalyse. Considérant la question de la communication dans le contexte dans lequel cette lettre a été écrite, nous avons fait l'entrecroisement de textes de Bion et de Winnicott pour exposer une possibilité de dialogue sur le rôle du groupe dans la transmission psychanalytique, et ses effets dans la formation. Nous avons également mis en évidence la manière dont ils auraient pu débattre la clinique de la psychose dans les années 1950. Il n'y a pas de réponse connue de Bion à Winnicott et ils ne se mentionnent guère. Pourtant, cette lecture nous permet de montrer comment ils se seraient opposés et ce que l'un aurait répondu à l'autre.

Mots-clés: formation psychanalytique, kleinisme, groupe, identification projective, psychose, interprétation


 

 

Notas sobre uma carta de Winnicott a Bion

Em 7 de outubro de 1955, marcado pela apresentação oral do trabalho de Bion "Diferenciação entre a personalidade psicótica e a personalidade não psicótica" (1957),2 Winnicott escreve a ele uma carta. Seu intuito era dar continuidade às observações que havia feito sobre o caso clínico de Bion, bem como criticar o ambiente em que se deu a reunião científica na Sociedade Britânica de Psicanálise.

Naquela noite, segundo Winnicott, o debate ficara prejudicado em razão da proteção que os kleinianos pareciam fazer a seus trabalhos e da linguagem com que as ideias foram expostas. A seu ver, a repetição insistente de conceitos dava à comunicação dos kleinianos um caráter de catequese e gerava tédio nos analistas que não pertenciam ao grupo de Melanie Klein. Afora essas críticas, Winnicott comenta o material clínico de Bion à luz de suas teorias sobre o desenvolvimento emocional primitivo. O caso pediria, de acordo com ele, uma interpretação sobre as falhas na comunicação da mãe com o paciente, o que diferia da abordagem desenvolvida por Bion.

Em várias das cartas escritas a membros da Sociedade Britânica, Winnicott mostrou preocupação com os destinos dessa instituição, decorrentes dos desdobramentos políticos do fim das Controvérsias (1941-1944), o que resultou na divisão do corpo societário entre o grupo kleiniano e o annafreudiano. Em carta de 1954, endereçada a Anna Freud e Melanie Klein, por exemplo, Winnicott deixara clara sua posição de repúdio ao clima de adesão sectária que se seguiu ao desfecho das Controvérsias (Rodman, 1987). A carta a Bion de 1955 faz uma aposta no mesmo sentido. Nota-se, porém, que Bion é poupado, ambiguamente, das objeções de Winnicott.

Na dimensão político-institucional, ele reconhecia em Bion uma importante liderança e uma força de personalidade que, no entanto, poderia prejudicar o percurso de Bion na instituição. Incitava-o a emergir do grupo de Klein a fim de dialogar com todas as correntes daquela Sociedade. Naqueles anos ambos se tornariam presidentes da Sociedade Britânica: Winnicott em 1956 e em 1965, e Bion em 1962.

Na dimensão da prática clínica, Winnicott considerou o trabalho de Bion "Diferenciação.. ." provocante e difícil, mas honesto na tentativa de transmissão. Para Winnicott, o material clínico pedia uma interpretação sobre a comunicação que apontasse a falha original do ambiente em responder às necessidades precoces do paciente. Bion, por sua vez, focalizava as características da personalidade do esquizofrênico que impediam a comunicação entre as partes psicótica e não psicótica. Contudo, o artigo também é precursor de conceitos que ressaltam a função do objeto externo como promotor de continência e metabolização das identificações projetivas.

Ao finalizar a carta, Winnicott se desculpa por ter tratado de dois assuntos completamente distintos, "um deles muito interessante, que é a discussão científica do material clínico de psicóticos, e o outro, o irritante tema do comportamento do grupo" (Rodman, 1987, p. 92). Embora esses dois assuntos sejam distintos entre si, consideramos que ambos convergem para o tema da comunicação. Um deles refere-se à comunicação e a suas falhas na prática clínica; o outro, ao controvertido campo da comunicação nas discussões científicas, que afeta a transmissão da psicanálise. Assim, Winnicott apontava de modo sintético para a complexidade própria do campo intersubjetivo e tocava de modo preciso em interesses caros a Bion.

 

A relação entre o indivíduo e o grupo no campo de formação do analista

Em 1955, quando Winnicott escreve a carta a Bion, ele já era um analista de renome e publicara textos bastante originais (Winnicott, 1945/1975d, 1947/1975a, 1953). Na época, Bion era conhecido por suas teorias sobre grupos e despontava como um dos principais colaboradores de Melanie Klein na compreensão da psicose. Enquanto Bion recém concluíra sua análise com Klein, que durou de 1945 a 1953, Winnicott, que fora supervisionado por ela entre 1935 e 1940, seguia um caminho próprio. Ou seja, Bion estava em relativa continuidade com o grupo kleiniano, e Winnicott se encontrava em posição de maior independência.

No entanto, foi no solo comum da tradição kleiniana que tanto Bion quanto Winnicott criaram um modo próprio de teorização e de prática clínica, associado a uma reflexão sobre o tornar-se analista. E ambos, em um momento ou outro de suas obras, dedicaram-se a discutir os efeitos da institucionalização da linguagem e do pensamento psicanalítico na formação do analista.3 No que concerne a Bion, as dificuldades de diálogo científico presentes na Sociedade Britânica colaboraram para sua invenção de uma linguagem teórica inspirada na matemática (Bion, 1962/1991). Contudo, uma crítica explícita ao establishment psicanalítico, articulada a suas concepções sobre grupos, foi apresentada somente na década de 1970, após sua emigração de Londres para Los Angeles (Bion, 1970/2006).

Quanto a Winnicott, já no fim da década de 1940 ele propôs uma aproximação entre suas teorias e suas observações sobre a influência daquele ambiente institucional no analista. Em 1948, mesmo ano em que Bion publicava suas experiências com grupos (1948/2014, 1948a, 1948b), Winnicott apresentou à Sociedade Britânica o trabalho "A reparação relativa à defesa organizada da mãe contra a depressão" (1948/1975e). Partindo de suas compreensões sobre a relação mãe-bebê, ampliou-as a fim de abarcar os efeitos do kleinismo nos analistas, inseridos no que para ele seria um ambiente materno-institucional aprisionante. A força dessas considerações levou Aguayo (2002) a tomar o texto de 1948 como o "manifesto de libertação" de Winnicott em relação às teorias de Klein.

Nesse artigo de 1948, Winnicott fala sobre pacientes que nunca puderam elaborar a culpa, em razão da depressão das mães. Identificados a elas, tais pacientes estariam sujeitos a uma falsa reparação, reeditada na transferência com o analista. Winnicott desfila então uma série de exemplos clínicos do que podemos genericamente chamar de pacientes bons alunos, cuja posição subjetiva parece ser a de animar seus analistas. Assim, alerta para um dado clínico que, mais adiante em sua obra, desembocará na noção de falso self (Winnicott, 1960/1965b, 1963/1965a).

A qualidade da relação entre o paciente e o ânimo de sua mãe é usada no artigo para estabelecer uma comparação com o grupo institucional do analista em formação. Conforme veremos na citação a seguir, ao pensar sobre essas relações primordiais com um ambiente grupal, Winnicott parece fazer alusão a autores como Bion, que investigavam a natureza primitiva das experiências de grupo, também vinculáveis à dimensão institucional (Sutherland, 1992). Winnicott afirma:

Aqueles que trabalham com grupos preocupam-se com essa relação do paciente com a disposição ambiental. Em alguns casos, pode-se fazer uma comparação valiosa entre o estado emocional do grupo, sobre o qual o paciente tem algum controle, e o estado emocional de sua mãe, quando o paciente era um bebê e sobre o qual ele não tinha controle algum; quando bebê, podia apenas aceitar a disposição materna e ser enredado pelas defesas contradepressivas. Em outros casos, o estado emocional do grupo não pode ser adentrado por um de seus membros em razão da forte necessidade de se defender ou lutar por sua própria individualidade. (1948/1975e, p. 94)

Nossa hipótese é que essas ideias de Winnicott estão em diálogo com aquelas que estavam sendo debatidas por Bion. Nos trabalhos sobre grupos publicados a partir de 1948, Bion afirma que todo indivíduo é sensível à situação emocional de seu grupo e ao lugar que é levado a ocupar nele. Junto com a reunião voluntária na qual os indivíduos se organizam em um "grupo de trabalho", haveria também uma mentalidade do grupo formada pela cooperação automática e anônima, com o compartilhamento inconsciente de crenças a respeito do grupo e de seus membros. Bion (1952) nomeou essas crenças supostos básicos e, mais tarde, articulou-as ao conceito de identificação projetiva de Melanie Klein.

Segundo Bion (1949, 1961/2004), contra essa adesão involuntária, o indivíduo pode reagir delimitando muito fortemente sua singularidade, porém ao preço de não aprender nada sobre sua experiência. Nota-se que essa ideia tem ressonância com a observação de Winnicott no fragmento citado, relativa ao paciente que defende sua individualidade e não adentra o estado emocional do grupo.

Passagens como essa poderiam figurar entre os exemplos, assinalados por Hinshelwood (2015), dos debates nos quais Winnicott e Bion deveriam ter se engajado, mas não o fizeram. Incluímos entre esses debates as conclusões de Winnicott, apresentadas em 1948, a respeito de como a formação dos analistas seria afetada pelo ambiente institucional e pelo modo como as teorias, particularmente as kleinianas, eram transmitidas.

No campo de formação, o analista poderia fazer um movimento semelhante ao dos pacientes mencionados por Winnicott (1948/1975e), recusando ou aderindo muito prontamente a ideias sem que elas tivessem adquirido um significado pessoal. Isso leva Winnicott a formular uma pergunta crucial: "Será que foi devidamente reconhecida a necessidade de que tudo seja descoberto de novo por cada analista?" (p. 95). Em outras palavras, para a garantia do processo criador é importante que, ao construir sua teoria e sua clínica, cada psicanalista seja movido por suas próprias questões e pelas de seus pacientes.

A preocupação com a qualidade da transmissão é retomada na carta a Bion de 1955 quando Winnicott menciona a frequência e a insistência com que os termos identificação projetiva, inveja e objeto interno eram usados nas comunicações científicas. Ele diz: "Sinto que a Sociedade fica terrivelmente entediada com a propaganda de termos". E completa: "Eu acredito e espero que você participe da tentativa que devemos fazer ... de deixar para trás essas tendências desagregadoras, que têm a natureza de uma propaganda de músicas-tema" (Rodman, 1987, p. 92). Acreditamos que Bion concordaria com Winnicott nesse aspecto, uma vez que seu estilo de escrita e muitos de seus termos retiram de maneira deliberada a familiaridade que temos com a linguagem, evitando justamente esse efeito narcotizante sobre o pensamento (Salvitti, 2016).

Levando em conta o texto de Winnicott de 1948, escrito num momento delicado da história da psicanálise, consideramos que ele denunciava o risco de que gerações de psicanalistas fossem arregimentadas para reparar a depressão da mãe - no caso, a figura institucional de Melanie Klein, que saíra ferida de todo o processo das Controvérsias. Alertava, assim, para a necessidade de nomear a depressão da mãe a fim de que o futuro da psicanálise não saísse comprometido em sua originalidade. Ao fazer essa denúncia, o autor abria caminho para sua própria construção original, pois foi a partir da redação e da exposição de textos como esse que Winnicott se desvencilhou da pressão que recaía sobre os analistas da Sociedade Britânica para que defendessem e cuidassem da continuidade da obra de Melanie Klein.

Na leitura de Winnicott, a mãe deprimida, em sua fragilidade, inibe a agressividade criativa do bebê, que sem ela fica condenado a aderir-se à superfície materna, num esforço de reparação da mãe que viola sua originalidade de bebê. Este fica então impossibilitado de exercer o que o autor denomina de amor impiedoso. Desse modo, no contexto da criação em psicanálise, é imprescindível que seja permitido a cada analista exercer um amor impiedoso com relação às produções precedentes, mordendo-as e despedaçando-as conforme se faça necessário.

No ano de 1948, Bion começou a publicar o resultado de suas investigações sobre grupos, mas não as utilizou para discutir a Sociedade Britânica de Psicanálise, tal como fez Winnicott no mesmo ano e em tantas de suas cartas. As ideias presentes no texto de Winnicott de 1948 evocam de modo impreciso as observações de Bion sobre grupos, servindo estas mais como estímulo para a elaboração de sua posição crítica com base em seus achados clínicos e em sua vivência institucional. Enquanto Winnicott discute os efeitos das ansiedades depressivas, Bion, ao revisitar suas descobertas nos anos seguintes, pensa as relações entre os indivíduos e a liderança de grupo a partir das ansiedades depressivas e esquizoparanoides e da identificação projetiva - conceito, aliás, que Winnicott questiona. É a partir dessas ansiedades que os entraves ao conhecimento nos grupos e ao uso do método científico em psicanálise deveriam ser pensados (Bion, 1961/2004). No que se refere à formação, podemos considerar que todo analista deveria desenvolver uma percepção da qualidade emocional de seu pertencimento institucional, de sua contribuição para a mentalidade de grupo e das ansiedades às quais estaria respondendo.

No entanto, Bion tomou um caminho distante do corpo a corpo realizado por Winnicott em suas cartas e críticas à conduta dos grupos. Apenas na década de 1970 ele discorreu sobre as configurações emocionais que impediam os analistas de pensar a respeito de suas discordâncias e concordâncias e de incorporar ideias novas ao grupo. Bion diz: "A controvérsia é o gérmen de onde brota o desenvolvimento, mas ela precisa ser uma confrontação genuína, e não um bate-boca inútil" (1970/2006, p. 67). Nesse caso, as disputas diriam respeito mais à filiação a um grupo do que ao campo teórico e à atitude mental adotada pelo analista.

Em aparente consonância com os escritos tardios de Bion, na maioria das cartas que Winnicott dirigiu aos psicanalistas da Sociedade Britânica nos anos de 1940 e 1950, assistimos à defesa de um espaço para a construção de um pensamento analítico na arquitetura institucional, a fim de que os conceitos possam ser vivamente criados. Para cada psicanalista gestar sua clínica e sua teoria, Winnicott considerava necessário um ambiente institucional que comportasse suficiente maleabilidade. A afirmação ética sobre a importância de um ambiente suficientemente maleável para que o self - seja da mãe, do bebê ou do psicanalista - venha a se constituir coaduna-se com sua metáfora do rosto materno, que combina maleabilidade e entrega feitas em doses suficientes.

Winnicott (1967/1975c) alertava contra rostos por demais ocupados com suas próprias problemáticas a ponto de não poderem se oferecer como suporte às marcas do filho (Pires, 2009). É isso que ele parecia ver acontecer no campo da construção e discussão teórica inglesa nas décadas de 1940 e 1950: rostos e mentes por demais ocupados na defesa do legado kleiniano.

 

Interpretações e comunicações na cena clínica

Na mesma carta em que Winnicott tece suas críticas ao kleinismo, ele faz a seguinte observação a Bion acerca do trabalho "Diferenciação entre a personalidade psicótica e a personalidade não psicótica":

Gostaria de dar continuidade ao que eu havia começado a lhe dizer quando tomei parte na discussão. Parece-me que o material que você descreveu clamava por uma interpretação sobre comunicação. É verdade que as interpretações que você fez muito provavelmente estavam corretas no momento, mas caso se viole a cena relatada tomando-a em abstrato, algo que é sempre perigoso fazer, eu di-ria que, se um paciente meu deitasse no divã, movendo-se de lá para cá, como o seu, e então dissesse: "Eu deveria ter telefonado para minha mãe", eu saberia que ele estava falando sobre comunicação e sobre sua incapacidade em se comunicar. (Rodman, 1987, p. 91)

Um pouco adiante, Winnicott acrescenta: "Você verá que, de acordo com meu ponto de vista, você estava falando sobre o ambiente, embora tenha dito que não o faria" (p. 91).

Ao abordar o desenvolvimento da esquizofrenia em seu texto, Bion mencionou a importância do ambiente, sem contudo discorrer sobre o sentido do termo. Ao enumerar quais seriam as precondições para o surgimento dos mecanismos psicóticos, ele disse: "há o ambiente, que não discutirei neste momento, e a personalidade" (1957, p. 266). Interessava-lhe descrever as características da personalidade do esquizofrênico, cujos mecanismos psíquicos e fantasias onipotentes levariam a uma diferenciação inconciliável entre uma parte psicótica e outra não psicótica.

Podemos imaginar o impacto que esse movimento de concomitante reconhecimento e exclusão teve num autor cuja obra sempre versou sobre a importância do ambiente no desenvolvimento psíquico. A breve menção de Bion ao termo ambiente certamente fisgou a escuta de Winnicott, uma vez que esse é um dos pontos cruciais de sua diferença em relação à abordagem kleiniana.

Ao contrário de Winnicott, Bion considerava a existência de um ego rudimentar desde os primórdios, que lidaria com os estímulos externos e internos por meio de projeções e introjeções. Quanto ao termo ambiente, não encontramos uma definição precisa em sua obra. Ora surge como sinônimo de realidade externa, ora corresponde ao seio e, mais especificamente, à personalidade da mãe e sua vida emocional (Bion, 2000).

Para Winnicott, no contexto das primeiras relações mãe-bebê, não existe uma separação entre o sujeito e o objeto. Dessa forma, não se aplicariam as oposições entre dentro e fora, implícitas no conceito de projeção. Aliás, é com base nessa ressalva que Winnicott questiona o termo kleiniano identificação projetiva, pois a ideia de identificação per se implicaria, em suas palavras, uma relação entre "pessoas totais", o que não seria o caso nesses momentos precoces.

No campo da prática clínica, a discussão proposta por Winnicott na carta parece ser sobre a interpretação adequada a ser dada ao paciente. Essa é uma preocupação que atravessa toda a sua obra: a da interpretação suficientemente boa. Os comentários de Winnicott sobre a interpretação focalizam a seguinte situação narrada por Bion: o paciente deita-se no divã e, após uma série de movimentos tortuosos e atrapalhados, diz ao analista que não esperava que algo pudesse ser feito nesse dia e que, em vez de estar ali, deveria ter ligado para sua mãe. Bion tece então a seguinte leitura:

"Eu devia ter telefonado para minha mãe" poderia significar que essa falha sua estava sendo castigada, e a punição, o fato de ele ficar inteiramente incapacitado de fazer análise. Também significava que a mãe, sim, saberia o que fazer - ela poderia extrair associações dele ou interpretações de mim; coisa que dependia do que a mãe significava para ele, mas quanto a isso eu realmente estava no escuro [itálico nosso]. (Bion, 1957, p. 271)

Ali onde Bion diz permanecer no escuro, Winnicott é incitado a contribuir. A seu ver, uma mãe em estado de devoção materna seria capaz de entender o que os movimentos do corpo do paciente queriam comunicar e, naquele momento, analista e paciente estavam vivendo a falha dessa possibilidade. Quando o paciente se ressente de não ter telefonado para a mãe, esse ato, por si mesmo, anularia a sutileza das primeiras comunicações, pois ao ligar para alguém o concebemos fora e distante de nós. Estamos nos referindo à noção de comunicações sutis entre a mãe e o bebê. Essas comunicações se dizem sutis porque se apoiam no paradoxo de que devem acontecer sem dar notícia de sua existência. Em outras palavras, essas comunicações pertencem ao campo da ilusão, campo no qual o bebê concebe a mãe como objeto subjetivo, e portanto elas não são percebidas como provenientes de (nem como dirigidas a) outra pessoa, separada do bebê.

Quanto a Bion, o texto é centrado no uso massivo de identificações projetivas a partir de cisões no ego. O paciente considera as interpretações como erradas e invasivas, devendo ser rejeitadas. A realidade apresentada pela interpretação fere sua onipotência, e ele se vê confrontado com uma situação aterrorizante. Em trabalhos posteriores, Bion (1959/1993) dirá que falta a esses pacientes a oportunidade de usar a identificação projetiva como veículo de comunicação; falta também um objeto externo capaz de sustentar as identificações projetivas e dar a elas significado. É esse objeto falho e inadequado que se presentificaria na descrição do caso. Em Cogitações (2000), Bion aponta a existência de ansiedade, ódio ou apatia desse objeto, compondo o ambiente no qual a personalidade psicótica é gestada. Em "Diferenciação...", Bion estava, portanto, a caminho de compreender melhor o que a mãe poderia significar. Sem ainda conceituar a reverie e a relação continente-contido, são elas que estariam operando no caso clínico quando, num momento já avançado da análise, Bion passou a enxergar nos gestos do paciente e em falas aparentemente desconexas uma comunicação primitiva. O telefonema se torna, então, a tentativa do paciente de contatar o analista para retomar sua capacidade de ver e falar que havia sido depositada no analista. Essas mudanças permitiram o estabelecimento da comunicação até então impossível entre as partes psicótica e não psicótica da personalidade.

À luz do diálogo entre Winnicott e Bion, consideramos o desenvolvimento das ideias de Bion sobre comunicação uma resposta às observações de Winnicott registradas em sua carta. Recentemente, Hinshelwood (2018) realizou uma leitura semelhante, propondo que "Diferenciação..." responderia a um texto anterior de Winnicott (1954/1975b). Hinshelwood especula que os trabalhos de Bion dessa época parecem inseridos numa estratégia para indicar como a abordagem kleiniana seria um modo mais adequado de conceber aquilo que Winnicott desenvolvia em seu próprio estilo e linguagem.

De todo modo, o enfoque dado por Bion em "Diferenciação..." ilustra a profunda distinção entre os autores. Inspirado pela concepção de identificação projetiva, Bion fala a respeito de partes cindidas do paciente colocadas no analista, ali onde Winnicott não conceberia duas pessoas separadas, e sim a união paciente-analista numa área de ilusão que incluio campo interno e externo do paciente. Do ponto de vista técnico, Winnicott entende que a onipotência do paciente deveria ser sustentada pelo analista, em estado de ilusão.

Aqui, cabe assinalar outro ponto divergente no diálogo entre os autores, quando, na carta, Winnicott reconhece o mesmo movimento de colaboração entre as personalidades psicótica e não psicótica (ou parte neurótica) que identificou haver entre o falso e o verdadeiro self. Winnicott diz a Bion:

Estou muito interessado em seu desenvolvimento do tema da parte neurótica da personalidade, que por assim dizer traz a parte psicótica para a análise ..., e ao qual eu me referi na linguagem do falso self escondendo o verdadeiro self e, eventualmente, permitindo que o self verdadeiro surja para análise. (Rodman, 1987, p. 93)

Muito embora exista uma observação comum dos autores sobre a colaboração que pode haver entre a personalidade psicótica e a não psicótica, e entre um falso e um verdadeiro self, entendemos que essa convergência guarda relevantes distanciamentos conceituais. A formação de um falso self e de um verdadeiro self dependerá da qualidade primitiva da relação mãe-bebê, sendo esta anterior a uma organização defensiva do ego contra impulsos do id (Winnicott, 1960/1965b). Bion, por sua vez, examina a natureza da personalidade psicótica e da não psicótica com base em aspectos constitutivos da esquizofrenia e nas diferentes qualidades da identificação projetiva.

As interpretações de Bion em "Diferenciação." visavam dar notícia ao paciente de uma vida de fantasia que se encontrava cindida e cristalizada em dimensões de pura violência. Elas marcam toda uma diferença em relação à concepção de Winnicott sobre a interpretação e seu alerta de que o analista não deve ultrapassar o paciente. Para Winnicott, as interpretações kleinianas corriam o risco de antecipar o que o paciente ainda não teria configurado por conta própria, quebrando assim o necessário estado de ilusão no qual a interpretação é encontrada/criada pelo paciente.

É digno de nota que a interpretação alternativa proposta na carta por Winnicott, para o caso hipotético de ser ele, e não Bion, o analista na sessão, tem um caráter deveras explicativo, o que não condiz, na forma, com o clima sutil que ele entende ser necessário. Isso nos faz conjecturar que talvez essa interpretação tenha em Bion seu interlocutor primeiro. Ou seja, para Winnicott, uma mãe devotada seria capaz de entender os movimentos do paciente, e a incapacidade do analista em assim o fazer, vivida transferencialmente ali na sessão, traz à tona a falha original do ambiente. Como ressaltamos antes, Bion e Winnicott discordavam quanto ao potencial clínico do conceito de identificação projetiva na ligação entre paciente e analista, e esse posicionamento teria impedido Winnicott de validar os importantes resultados clínicos alcançados por Bion.

Nesse voo ficcional em que embarcamos, nessa reconstrução a posteriori de um trecho da história da psicanálise, imaginamos quais ressonâncias foram produzidas quando Winnicott ouviu Bion dizer:

Lamentavelmente, tive que excluir material surpreendente e dramático, porque incluí-lo sem incluir uma massa esmagadora de descrição da análise diária, rotineira, com sua carga de pura incompreensibilidade, erro, e assim por diante, produziria um quadro inteiramente enganador. (1957, p. 273)

Com o objetivo de evitar um cenário enganoso do que é um processo analítico, Bion exclui da narrativa outros insights e intervenções de efeito. Sabemos que esse processo é feito não só de encontros e entendimentos, mas também de muita incompreensão e erro. É isso que Bion parece afirmar nessa passagem - afirmativa de peso no que tange à transmissão da psicanálise, pois cuida dos riscos que uma apresentação idealizadora da clínica produziria. Sugerimos que é em observações como essa que repousa a admiração expressa de Winnicott pela honestidade da exposição clínica de Bion.

Para finalizar, o reconhecimento de Bion da massa esmagadora de pura incompreensibilidade e erro que compõe as longas horas analíticas nos remete a um tipo de relação de objeto sem foco nem figurabilidade, que faz parte da dimensão de espera que a proposta winnicottiana do manejo analítico comporta. Mais para o final de sua obra e vida, Winnicott afirma que, muitas vezes ao longo de sua carreira, perdeu a oportunidade de ficar quieto como analista, no aguardo da insurgência criativa do paciente.

 

Considerações finais

Neste trabalho, partimos dos dois pontos de ancoragem estabelecidos por Winnicott no debate com Bion em 1955. Em primeiro lugar, uma posição crítica com relação ao desenho institucional da Sociedade Britânica na época Adriana Salvitti e Luciana Pires e a seus efeitos sobre a transmissão. Em segundo lugar, uma reflexão acerca da falha do ambiente e de como as questões psicóticas deveriam ser interpretadas.

Winnicott desaprovava abertamente o kleinismo, embora reconhecesse a excelência e a importância do trabalho de Melanie Klein. Bion, por sua vez, considerava-se kleiniano, ao mesmo tempo que desenvolvia um pensamento original e descolado dessa tradição. Em um momento ou outro de suas obras, ambos criticaram abertamente os sectarismos grupais e as cristalizações da linguagem, que tanto empobrecem a criação e a expansão de ideias.

Mais do que fazer uma análise comparativa de conceitos específicos, mostramos haver no entrecruzamento de certos textos dos autores uma alusão a ideias de um em relação ao outro, indicando pontos de diálogo em que as referências são tênues e indiretas. Essa leitura intertextual é parte de um esforço que vem sendo feito na atualidade por diferentes autores, visando estabelecer uma comunicação fértil entre grupos e escolas de pensamento historicamente antagônicos (Abram & Hinshelwood, 2018; Aguayo & Lundgren, 2018).

A despeito de não existir nenhum registro de resposta de Bion à carta de Winnicott, e de haver um notável silêncio nas menções e citações de um autor ao outro, mostramos como eles reagiram a desafios clínicos e institucionais semelhantes de um modo singular e distinto, mas revelador de ressonâncias insuspeitadas.

 

Referências

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Correspondência:
Adriana Salvitti
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Recebido em 18/10/2018
Aceito em 6/5/2019

 

 

1 A primeira autora agradece o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
2 O texto foi apresentado em 1955 e publicado em 1957. Não há registro da primeira versão nos arquivos da Sociedade Britânica, mas consideramos que Winnicott estava familiarizado com essas ideias. Parte delas foi discutida por Bion em "Desenvolvimento do pensamento esquizofrênico", no congresso da Associação Psicanalítica Internacional (ipa), em julho de 1955.
3 Figueiredo (2017) aponta que a tradição kleiniana não é suficiente para explicar as convergências
e divergências entre Winnicott e Bion. A herança de Ferenczi em Winnicott, mas não em Bion, embasaria diferenças importantes em suas formas de compreender o adoecimento psíquico.

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