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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.53 no.2 São Paulo Apr./June 2019

 

HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

 

Caminhos de um caso acompanhado por Charcot1: escrita, transferência e sexualidade no tratamento

 

Following on the trails of one of Charcot's patients: writing, transference and sexuality in clinical treatment

 

Caminos de un caso acompañado por Charcot: escrita, transferencia y sexualidad en el tratamiento

 

Chemins d'un cas accompagné par Charcot: écriture, transfert et sexualité dans le traitement

 

 

Elise Alves dos SantosI; Luiz Augusto M. CelesII; Cristina LindenmeyerIII

IPsicanalista. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília (PSICC-UNB), sob orientação de Luiz Augusto M. Celes e coorientação de Cristina Lindenmeyer em 2017-2018 (Universidade de Paris 7)
IIPsicanalista. Doutor em psicologia clínica. Pós-doutorados na Universidade Católica de Louvain (UCL), Bélgica; na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); e na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Pesquisador colaborador sênior do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura da Universidade de Brasília (PSICC-UNB)
IIIPsicanalista. Doutora em psicopatologia e psicanálise. Professora no Departamento de Estudos Psicanalíticos na UFR IHSS. Diretora de pesquisa no Centro de Pesquisa Psicanálise, Medicina e Sociedade da Universidade de Paris 7

Correspondência

 

 


RESUMO

O descobrimento de manuscritos inéditos de Jean-Martin Charcot no Hospital da Pitié-Salpêtrière, em Paris, é apresentado a partir da pulsão episte-mofílica da pesquisadora e dos bibliotecários da Biblioteca Charcot, caraterística da sexualidade infantil, fundamental para a pesquisa. A transcrição, tradução e escrita do caso é analisada com base nos conceitos freudianos de transferência e sexualidade e na relação transferencial da pesquisadora com Freud e Charcot. O caminho investigativo feito por Charcot envolve a histeria e acontecimentos traumáticos como hipótese etiológica da esclerose múltipla. O caminho feito pela paciente acompanhada por Charcot, marcado pela escrita, também é atravessado pela transferência e pela sexualidade. Os sintomas no corpo de Joséphine Leruth, diagnosticada com esclerose múltipla, apresentam melhora em razão da relação transferencial que foi estabelecendo com Charcot.

Palavras-chave: pesquisa, escrita, transferência, sexualidade


ABSTRACT

Unpublished manuscripts by Jean-Martin Charcot have been discovered at the Hôpital Pitié-Salpêtrière in Paris. This was due to the epistemophilic drive of the researcher and librarians at the Bibliothèque Charcot, which is a characteristic of childhood sexuality and is essential in scientific research. The transcription, translation, and writing of the case study is analyzed, in this paper, based on the Freudian concepts of transference and sexuality, as well as on the transference relationship between the researcher who found the manuscripts and the father of psychoanalysis and, in turn, Freud's relationship to his master, Charcot, the father of neurology. The investigative trail that Charcot pursued proposes that hysteria, as well as traumatic events, makes up the etiological basis for multiple sclerosis. Charcot's patient's trajectory, which is marked by her writings, is also effected by the transference relations she established and by her sexuality. The symptoms on Joséphhine Leruth's body - she who was diagnosed with MS - present with signs of amelioration, as a function of the transference relationship she had established with Charcot.

Keywords: research, writing, transference, sexuality


RESUMEN

El descubrimiento de manuscritos inéditos de Jean-Martin Charcot en el Hospital Pitié-Salpêtrière en París, que se presenta, tiene como base la pulsión epistemofílica de la investigadora y de los bibliotecarios de la Bibliothèque Charcot, característica de la sexualidad infantil, fundamental para la investigación. La transcripción, traducción y escritura del caso es analizada con base en los conceptos freudianos de transferencia y sexualidad y por la relación transferencial de la investigadora con el padre del psicoanálisis y con su maestro, Charcot, padre de la neurología. El camino investigativo seguido por Charcot involucra la histeria y acontecimientos traumáticos como hipótesis etiológicas de la esclerosis múltiple. El camino seguido por la paciente acompañada por Charcot, marcado por la escritura, también es atravesado por la transferencia y la sexualidad. Los síntomas en el cuerpo de Joséphhine Leruth, diagnosticada con EM presentan mejoras en función de la relación transferencial que se estableció con Charcot.

Palabras clave: investigación, escritura, transferencia, sexualidad


RÉSUMÉ

La découverte de manuscrits inédits de Jean-Martin Charcot dans l'Hôpital Pitié-Salpêtrière à Paris, présentée ici, s'est basée sur la pulsion épistémophilique, caractéristique de la sexualité infantile de la chercheuse et des bibliothécaires de la Bibliothèque Charcot, fondamentale pour la recherche. La transcription, la traduction et l'écriture du cas sont analysées à partir des concepts freudiens de transfert et de sexualité et de la relation transférentielle de la chercheuse avec le père de la psychanalyse et son maître, Charcot, père de la neurologie. La voie d'investigation de Charcot concerne l'hystérie et les événements traumatiques en tant qu'hypothèse étiologique de la sclérose en plaques. Le chemin emprunté par la patiente accompagnée par Charcot, marqué par l'écriture, est également traversé par le transfert et la sexualité. Les symptômes dans le corps de Joséphhine Leruth, diagnostiquée de la SP, montrent des améliorations en fonction de la relation de transfert qu'elle a peu à peu établie avec Charcot.

Mots-clés: recherche, écriture, transfert, sexualité


 

 

Jean-Martin Charcot2 estudou a histeria, desenhou um esquema do inconsciente e foi um dos "maiores médicos", com "toque de gênio" (Freud, 1893/1996a, p. 19), com quem Freud trabalhou em Paris, na Salpêtrière, antes de inventar a psicanálise. A par da enorme admiração de Freud por Charcot e de seu trabalho na Salpêtrière com as histéricas, ainda hoje o material produzido por Charcot suscita reflexões - afinal, estão entre os histéricos os que mais desenvolvem a disposição para a transferência (Pontalis, 1973).

Embora não fosse possível pensar em transferência na época do caso estudado, a escrita deste texto está embebida pela transferência e pela sexualidade. Sobre a experiência de pesquisa, Santos (2018) afirma que, desde que soube da oportunidade de morar em Paris, imaginava-se trabalhando na Salpêtrière. Como acontece com muitos psicanalistas, o desejo de "refazer" os passos do mestre ganhou força quando chegou aos arredores do hospital. O encontro com a Biblioteca Charcot e a apresentação dela pelo bibliotecário (Delaunay, 2017) foram determinantes para reacender a fantasia de trabalhar nos lugares por onde Freud passou.

A pulsão epistemofílica - que havia descoberto um "tesouro perdido" quando a pesquisadora soube dos dossiês escritos pela pena de Charcot -encontrou morada na Biblioteca Charcot. O poder da transferência nas relações interpessoais em um lugar de investimento libidinal, como é o trabalho, tem seu valor. O caminho percorrido foi o da aposta de que, descobrindo-se o que está por detrás da letra, do estilo de escrita e da língua do pai da neurologia, ainda há o que escutar e o que dizer aos pesquisadores do corpo e de seus sintomas.

Charcot era casado com uma mulher que tinha recebido uma valiosa herança, e sua clínica particular representava a maior parte de seus rendimentos. No entanto, sempre trabalhou na Salpêtrière - apesar da ínfima remuneração recebida -, tendo em vista seu interesse pela heterogeneidade dos casos que lá podia encontrar para pesquisar (Delaunay, 2017).

Este artigo pretende apresentar um caso acompanhado por Charcot, o da paciente Joséphine Leruth, que traz importantes elementos para a discussão psicanalítica: a escrita, a transferência e a sexualidade.

Charcot criou uma biblioteca para os internos da Salpêtrière em 1866. Em 1907, o filho de Charcot doou à Salpêtrière toda a biblioteca pessoal de seu pai, falecido em 1893. Atualmente, a biblioteca conta com 7.300 obras, 76 títulos de periódicos, coleções de teses, coleções temáticas e reimpressões (Delaunay, 2017; Garrabé, 2011).

O dossiê de que trata este artigo percorreu um longo caminho até ser encontrado. Quando a biblioteca funcionava em um dos andares do anfiteatro em que Charcot ministrava suas lições aos discípulos franceses e estrangeiros, ele já havia reunido uma coleção extraordinária de livros de história da medicina, textos publicados por ele ou por seus alunos, e valiosos manuscritos inéditos (Garrabé, 2011).

O prédio do antigo anfiteatro foi destruído e, em 1966, a biblioteca foi transferida para um prédio novo. Em 1985, a Biblioteca Charcot passou a fazer parte da Universidade Pierre e Marie Curie - Paris 6. Com essa nova mudança de local, agora para o Instituto do Cérebro e da Medula Espinhal, foram descobertas algumas caixas que continham folhas antigas, o que possibilitou o acesso de pesquisadores aos dossiês escritos por Charcot.

O interesse pela transcrição do material foi acolhido com atenção, prestatividade e acompanhamento personalizado. A perspectiva de um trabalho inédito motivou tanto a pesquisadora quanto os bibliotecários envolvidos. Observadas as orientações sobre os cuidados necessários e as condições de consulta para o manuseio do material, o trabalho com os dossiês em estado tão delicado e em vias de desfazimento começou a revelar histórias de fragilidade dos pacientes de Charcot.

À medida que foram novamente tocadas, lidas e transcritas, cada folha de papel ganhou vida. Essa experiência permitiu à pesquisadora concluir, até o término de seu estágio em Paris, em janeiro de 2018, a transcrição de cerca de 234 páginas referentes aos registros de 36 pacientes com esclerose múltipla (EM), acompanhados por Charcot e por alguns de seus colegas de trabalho entre 1859 e 1891.

 

O caso de Joséphine Leruth

O caso de Joséphine Leruth desperta interesse especial não só por permitir a discussão da transferência na clínica do adoecimento, mas também por Charcot ter iniciado os registros desse caso um ano antes de seu primeiro texto escrito sobre a histeria, 1865 (Swain, 1997).

A senhorita Joséphine Leruth, natural da cidade de Liège, diagnosticada com em cerebroespinhal, teve seu dossiê preenchido em 1864. Nele, Charcot registrou informações que podem levar a reflexões psicanalíticas acerca dos caminhos para o tratamento dessa paciente com esclerose múltipla. Como Joséphine não podia andar, Charcot ia ao seu encontro.

Em nota destacada do dossiê de Joséphine, Charcot registra uma experiência traumática vivida por ela cinco anos antes de sua admissão na Salpêtrière (26-27 anos de idade) - uma história misteriosa, sobre um homem que a teria sequestrado e estuprado, situação da qual teria decorrido uma possível gravidez. Essa história coincide com a idade do início de suas queixas relativas aos sintomas somáticos. A informação referente ao sequestro, ao estupro e à criança, ao que tudo indica, não foi dada por Joséphine.

Esse pequeno trecho, brevemente relatado em nota, foi particularmente difícil de ser decifrado, tendo em vista uma letra menos legível que a usual caligrafia de Charcot. As notas que ele fazia de casos já descritos com mais extensão nos dossiês têm a característica de serem nomeadas como "Notas" por ele mesmo, ou ainda de simplesmente iniciarem com o sobrenome do paciente. As notas do caso de Joséphine Leruth são referidas curiosamente como "Lembranças de Leruth".

Tal denominação reforça a suposição de que esse teria sido um caso importante para as lembranças de Charcot. Não há como dizer que tenha tido algum valor afetivo para ele, mas é o único caso em que há o registro de bilhetes, de uma paciente que usa a escrita para referir-se afetivamente ao "doutor Charcot".

Nesse sentido, uma transferência positiva de Joséphine Leruth em relação à figura do doutor Charcot vai ao encontro da referência de André (2013) à consideração freudiana de que, no fim de um tratamento analítico, a transferência tenha sido ela mesma abgetragen, palavra rara em alemão, utilizada por Freud com o sentido de algo que deve ser "usado". Partindo do princípio da transferência, Joséphine usa inconscientemente essa via para se dar a conhecer.

Charcot conta que o pai, a mãe e os irmãos da paciente gozavam de boa saúde. O pai havia morrido com 83 anos, de um "catarro pulmonar", e um tio era paralítico. Ela havia menstruado com 15 anos, e tinha menstruações abundantes e regulares.

Joséphine Leruth desfrutava de boa saúde até os 26 anos de idade. Era solteira. Antes de ser admitida na Salpêtrière, trabalhava como dirigente de uma pensão, o que nos faz supor uma rotina em que o trabalho compunha um lugar privilegiado de investimento libidinal. Sua entrada no hospital marca a saída de seu mundo. Numa época em que não existia telefone, numa região atravessada pela pobreza, o hospital se localizava em uma espécie de periferia, o 13.° distrito, recentemente anexado a Paris. A internação de Joséphine é marcada por perdas caraterizadas pela marginalização, sendo ela separada das pessoas e dos lugares aos quais estava ligada.

Com a idade de 31 anos, a paciente já não podia mais andar, mas "escrevia bem, ainda que com dificuldade". A partir dessa época, começou a ter dores de cabeça e frequentes cãibras nos membros inferiores (várias vezes por semana). Embora jamais tivesse tido um ataque de nervos, estava sujeita a experimentar a sensação de bola histérica. Foi ainda aos 31 anos que ela percebeu que o enfraquecimento das pernas tomou o lugar das cãibras, que desapareceram completamente. Na mesma época, o enfraquecimento também se manifestou nos membros superiores, embora menos pronunciado que nos membros inferiores, estando mais presente no lado esquerdo.

Dois ou três anos depois, com a vista um pouco enfraquecida, ela começa a ter dores na cintura e visão dupla (diplopia), e os objetos vacilam e giram diante de seus olhos. Em 24 de setembro de 1864, é admitida na Salpêtrière, data que marca sua separação da família, residente na Bélgica. Os membros inferiores não se movimentavam mais. Aos 33 anos, já estava confinada à cama. Charcot refere-se a seus pacientes como doentes:

A doente escreve com dificuldade, não pode costurar, mas ela diz que é por causa de sua visão. A sensibilidade está bem conservada nos membros superiores e inferiores. A visão ainda está bem conservada. A doente pode ler fechando o olho direito, que está menos enfraquecido. Atualmente, a doente se queixa de dor na cabeça com peso depois da refeição. É sobretudo nesse momento que se apresentam os problemas da visão. ... Não tem dores nos membros. Dor nos rins. Algumas tonturas e vertigens. Inteligência perfeitamente sã, fala um pouco lenta, mas clara e bem articulada. Nada no peito nem no coração. Apetite um pouco diminuído. Constipação habitual. No entanto, a doente pode ir ao banheiro normalmente. Às vezes retenção de urina, às vezes urina involuntária. Menstruações regulares até sua entrada3 na Salpêtrière. Desde sua entrada, as regras vieram somente em 26 de dezembro.

É de supor que Charcot, investigando a coordenação motora fina de Joséphine, tenha solicitado a ela que escrevesse em pedaços de papel. Em 9 de maio de 1865, em letra tremida, quase ilegível, Joséphine escreve: "Eu estou na Salpêtrière desde 20 de setembro de 1864".

A partir de então, Charcot vai acompanhá-la, registrando suas observações durante o próximo ano, até a morte de Joséphine em 17 de junho de 1866. A sexualidade, cuja etimologia é designada também pela palavra acompanhar (Chabert, 2013), evidencia a ordenação da dinâmica da vida de Joséphine, que, reclusa no hospital, tem os dias marcados pela separação. Ela encontra, porém, na presença de Charcot uma via de acompanhamento das mais preciosas. Charcot olhou Joséphine repetidas vezes, até que ela começou a falar por si mesma. Mais tarde, Freud (1914/1996c) reconheceu a importância desse conselho de Charcot para seu aprendizado.

Em 24 de junho de 1865, Joséphine recebe seu segundo tratamento: pílulas diárias de nitrato de prata. No dia 26 de junho, ela diz que as pílulas lhe causaram agitação e tontura, mas, como as regras tinham vindo nesse dia, Charcot se questiona se o efeito é devido às pílulas. De nossa parte, podemos nos perguntar se esse e outros efeitos em seu corpo aconteceram também em razão da presença de Charcot. Em 27 de junho, Charcot registra que as tonturas aumentaram. No dia 28, as tonturas já haviam diminuído bem. No dia 30, teve cãibras nas pernas, não muito dolorosas, durante a noite. De manhã, ela estava em seu estado ordinário.

Em 2 de julho, ela teve fortes "sacudidas na perna direita à noite e na perna esquerda de manhã". Nesse dia, Charcot ofereceu o próprio dossiê para Joséphine escrever algo. Há duas palavras aparentemente, uma começando com a letra E e a outra com a letra J. Ambas ilegíveis. De alguma forma, Joséphine teve a chance de inscrever algo da ordem de sua produção no material de trabalho de Charcot.

Em 24 de julho, a "doente" percebe que sua constipação intestinal melhorou. O tremor não se modificou; a escrita é sempre ruim. O beliscar da pele do pé leva a movimentos reflexos bem pronunciados em toda a extensão dos membros inferiores, que são agitados de sobressalto.

Nesse momento, Charcot decide administrar um terceiro tratamento, dessa vez com quatro pílulas por dia. Em 9 de agosto de 1865, ele solicita novamente que ela escreva em seu dossiê (documento de Charcot sobre Joséphine). Passo a pensar que agora essas folhas pertencem aos dois. A princípio, ela escreve a lápis, com a letra ainda muito tremida, mas bem menos que na vez passada, seu primeiro nome abreviado e seu nome de família, "J. Leruth", e depois mais duas vezes, aparentemente de caneta, seu primeiro nome, "Joséphine Joséphine". Enquanto fica registrada para Joséphine essa experiência de escrita do próprio nome, Charcot segue com sua descrição:

A doente continua a tomar quatro pílulas. Ela quase não sente mais sobressaltos nos membros inferiores quando toma essas pílulas. Existe sob vários relatos uma melhora evidente. Primeiro vemos que a escrita está menos ruim. A doente confessa menos tremores. Ela agora segura a urina, mas sua cama ainda se molha. Ela fica menos constipada. ... Parece ter menos embaraço na fala, menos tremor nas mãos, e adquiriu: 1. Alguns movimentos do pé direito, abdução e adução. Dobra um pouco o joelho, mas ainda não pode tirar o calcanhar da cama. 2. Alguns movimentos de lateralidade do pé esquerdo, os quais não existiam. Não pode definitivamente mover o joelho esquerdo. 3. Não tem cócegas na planta do pé direito. Movimentos reflexos convulsivos como em toda a extensão do membro. Exageração convulsiva (espécie de tremor) de todos os movimentos que ela executa espontaneamente. À esquerda, alguns movimentos reflexos dos músculos da perna e do pé esquerdo. Esses movimentos reflexos à direita e à esquerda se prolongam um pouco depois da excitação. A doente diz ser mais sensível quando fazemos cócegas.

Charcot tocava a paciente para saber de seu estado clínico. No trecho citado, notamos que o trabalho de investigação dele no corpo da paciente trazia mudanças na sensibilidade de Joséphine. Na sequência, aparecem quatro pedaços de papel colados no dossiê, escritos por ela em primeira pessoa, presentificando seu direcionamento ao doutor Charcot: "10 de agosto de 1865. Eu sou muito grata4 ao senhor doutor por toda a melhora que ele me deu até o presente. J. Leruth".

Joséphine recorre a uma metonimia para referir-se diretamente a Charcot como o responsável por sua melhora. Parece não haver diferenciação entre o tratamento dado por ele e sua própria figura. Um processo transfe-rencial estava se desenvolvendo com Charcot: "Eu não estou contente comigo hoje porque estou tremendo mais, mas está fazendo muito calor esses dias, e essa é a única causa de minha agitação. J. Leruth. 6 de setembro de 1865".

O relato de Joséphine indica uma projeção massiva do que pode haver de mau em si própria para as condições externas a ela e a Charcot. Se seu corpo manifesta tremores que a descontentam, não pode ser devido ao tratamento que recebe de seu bem-amado. É tanta sua convicção de que Charcot é o grande responsável por sua melhora que, alguns dias depois, pode agradecê-lo novamente e ainda mais: "Hoje estou um pouco melhor. Eu tremo menos e sou mais e mais agradecida ao senhor Charcot. Joséphine Leruth. 13 de setembro de 1865".

Joséphine parece querer dar provas de sua melhora: invoca uma mensagem que escreveu para a mãe a fim de mostrar que sua luta pela melhora deve-se a Charcot, que por sua vez tem lutado para torná-la melhor depois de três anos de tratamento:

É verdadeiramente prodigioso ver o progresso que estou fazendo, porque depois de três anos minha escrita se tornou bastante ilegível e, na quinta passada, minha mãe ficou encantada de poder ler algumas palavras que eu escrevi. Também sou muito agradecida ao senhor Charcot pela melhora que sinto agora. Joséphine Leruth. 16 de outubro de 1865.

Mesmo o último bilhete de Joséphine afixado no dossiê, datado de cinco meses antes de sua morte, é de agradecimento pelas dores a menos que pôde sentir:

Há cerca de dois meses, meu estado é quase o mesmo, mas meus rins me fazem menos mal e, quando estou sentada, eu quase não tenho dores, coisa que me faz infinitamente feliz, porque eles me faziam muito mal, e como o senhor Charcot, o único que trouxe o melhor que eu sinto. Eu agradeço bem sinceramente. Joséphine Leruth. 7 de janeiro de 1866.

Em 9 de abril, Charcot anota a prescrição do quarto tratamento para Joséphine, que passou a tomar seis pílulas de nitrato de prata. No dia 26, ela teria tido uma espécie de delirium e egofonia.5 No dia 27, entre outros informes (ilegíveis), Charcot informa que a doente se queixa da barriga, vomita e tem febre. Seu rosto está alterado. Ela apresenta uma dificuldade maior na fala, manchas roxas no rosto e pele quente e sudoreica. No dia 28: "O derrame pleural direito, que parece ter aumentado ontem à noite, diminuiu notavelmente esta manhã. Estado geral melhor".

Em junho de 1866, Charcot observa que uma escara enorme se produziu no sacro e, logo a seguir, informa: "A doente se enfraqueceu progressivamente e sucumbiu, num estado tanático, espécie de esturpor não hipnoide. Nós infelizmente não examinamos sua urina nos últimos tempos de sua vida. Morte em 17 de junho de 1866".

As folhas soltas com as "Lembranças de Leruth" têm uma caligrafia muito difícil de decifrar.6 Percebemos que tais lembranças especificavam sintomas relativos aos tremores das mãos, situações em que o corpo de Joséphine tremia, a forma como ela escandia as palavras com a fala embaraçada, embora não tivesse nenhum traço de afasia. Charcot deu nota à "inteligência perfeita" dela, ao modo como havia emagrecido e como se movimentava, à dificuldade com que flexionava os músculos, considerando a resistência, a rigidez e as contraturas, e a suas reações ao calor e ao frio. Ele desenhou as pernas da "doente", falou das cócegas nos pés e verificou a ausência de estrabismo. O dossiê de Joséphine termina com anotações sobre sua autópsia - descrições do cérebro e da medula com observações e localização das placas de esclerose em três desenhos.

Joséphine foi vista e tocada pelo médico Charcot, o qual parece ter sido transferido pela paciente para um lugar de pai cuidadoso, que pôde erotizar seu corpo pela simples rotina de conhecer e tratar sua doença. A transferência no tratamento incidiu na sexualidade do corpo doente de Joséphine.

 

Considerações sobre o tratamento

Joséphine teve seu primeiro tratamento em 1863, no Hospital Charité, prescrito pelo médico Pierre Adolphe Piorry: eletricidade e estricnina.7 Ela apresenta uma melhora passageira, que dura um mês, permitindo-lhe sustentar-se sobre suas pernas e dar alguns passos. No ano seguinte, recebe o tratamento de pílulas de nitrato de prata prescrito por Charcot.

Os estudos neurológicos atuais concordam que os sintomas somáticos não poderiam ter sido curados pela medicação administrada, pois esta não tem efeito para o tratamento médico da esclerose múltipla. Freud (1905[1904]/1996d) afirmou que certas doenças, e muito particularmente as psiconeuroses, são muito mais acessíveis às influências anímicas do que qualquer outra medicação. Era a personalidade de Charcot que, de algum modo, em sua presença de cuidador, na transferência, exercia uma influência psíquica em relação às manifestações somáticas apresentadas por Joséphine.

Joséphine lutou pela sua paz à sua maneira: viveu a reclusão na Salpêtrière sempre na expectativa desejosa de melhorar. Ela perdia e recuperava movimentos; submetia-se aos tratamentos medicamentosos, aderia a eles e reclamava de seus efeitos; era colaborativa com todos os procedimentos que lhe eram propostos; se alegrava ou se entristecia à medida que os sintomas sumiam ou reapareciam; na época de seus últimos tratamentos, criava explicações para sua piora ou melhora - o calor, o único responsável pela piora, e Charcot, pela melhora.

Ainda sob influência de Charcot, Freud questionava até que ponto a influência psíquica desempenha um papel em tratamentos aparentemente físicos: "Assim, por exemplo, as contraturas podem ser curadas quando se consegue efetuar um transfert por meio de um ímã. Repetindo-se os transferts, a contratura torna-se mais débil e, afinal, desaparece" (1888/1996b, p. 93).

É curioso Freud utilizar a palavra transferência nessa ocasião - embora ela ainda não pudesse ser entendida sob a luz dos ensaios para uma teoria da sexualidade -, pois a operação física repetida para atenuar sintomas somáticos parecem ter sido justamente as aparições de Charcot no acompanhamento de Joséphine, cuja presença repetida transforma-se em uma operação de tratamento de seu corpo-psiquismo, ainda que voltada para a investigação de sintomas somáticos. Metaforicamente como um ímã, Charcot, em seu polo positivo, é atraído pelo desejo de descobrir um tratamento, burilar um diagnóstico, e Joséphine, em seu polo negativo, é atraída pelo desejo de que Charcot, sendo seu curador, a livre de sua doença ou atenue seus sintomas.

A transferência enquanto conceito psicanalítico ainda não existia na época de Charcot, mas sua pulsão epistemofílica e seu interesse no caso de Joséphine Leruth foi o que provavelmente levou essa mulher a assumir um papel de "pacífica lutadora" diante de sua doença e a encontrar uma espécie de tratamento que, segundo ela própria, a fez melhorar de seus sintomas.

Joséphine Leruth atribuiu a melhora das contraturas à relação com seu médico, como se ele fosse um suporte de investimento libidinal suficiente para sua mão tornar-se hábil novamente para escrever cartas à mãe. Chamamos a atenção para os registros feitos pela paciente, que começou escrevendo unicamente seu nome e depois o assinava ao término das mensagens que passou a redigir.

Com Charcot, Joséphine nomeia seu estado geral com suas expressões peculiares, com nomes que ela escolhe em função de sua avaliação, de seu poder, de sua presença, de sua força, de sua ausência ou de seu desgate. Uma situação que deve ter se iniciado como avaliação de motricidade fina parece ter ganhado um lugar que favoreceu a possibilidade da paciente de registrar seu nome próprio, bem como de escrever com suas palavras observações reveladoras do desejo de comunicar-se com a mãe, agradecer Charcot e responsabilizá-lo pela melhora de seus sintomas. A própria relação com a vida, seu corpo e seus desejos de cura começou a surgir quando ela escrevia, fosse a pedido de Charcot, fosse por iniciativa própria. Não há como chegar a uma conclusão acerca dessa iniciativa pelos registros do caso.

A história misteriosa de sequestro e estupro, com suspeita de gravidez decorrente desse evento, foi deixada de lado por Leruth, não podendo ser assumida em primeira pessoa. Joséphine não estava familiarizada com esse tipo de enunciação, nem havia sido despertada para ele; não pôde dizer. Mais uma vez, Charcot utiliza-se das palavras fundamentais mistério e desgosto para referir-se a esse acontecimento, que ele também deixa de lado. Somente em confissões privadas Charcot poderia assumir que casos como esse deviam ser considerados à luz de que "é sempre a coisa sexual, sempre... sempre... sempre" (Freud, 1914/1996c, p. 24).

O reconhecimento da coisa sexual por Charcot não foi acompanhado de um dizer compromissado. Ele não pôde esposar a ideia da sexualidade com todos os seus deveres e dificuldades, como Freud o faria a posteriori. Charcot transmitiu um conhecimento a Freud que nem ele próprio tinha. O surgimento da transferência pela via da sexualidade, no caso de Joséphine, apresentou-se pela afeição a Charcot.

Aulagnier (2016), por outro lado, nos ajuda a perceber que algumas das "falas" nos escritos de Charcot fazem existir "coisas" pela enunciação e pelo efeito de emoção, de surpresa, que elas provocam. Joséphine carateriza seu desempenho como "prodigioso". Ela está afetada por isso, ela realmente melhora.

Nas Leçons sur les maladies du système nerveux (1872-1873), Charcot reproduz a imagem da escrita de Joséphine Léruth (figura 13, p. 201) e a compara em dois momentos, maio e outubro de 1865, para mostrar o progresso feito pela paciente, atribuído ao tratamento prescrito de nitrato de prata. Charcot defende que é uma especificidade da em os tremores acontecerem apenas em ocasiões de movimento intencional de certa extensão, quando a doente, por exemplo, leva o copo cheio de água até a boca. Os tremores cessam assim que os músculos são deixados em repouso completo. Charcot observa:

Com base nas espécimes que possuímos, é muito difícil formar uma opinião acerca das características da escrita dos doentes com esclerose múltipla. O mais frequente, por outro lado, é nós observarmos os doentes numa época avançada de sua afecção; então, é quase impossível obter outra coisa que não rabiscos sem significação, de forma que não temos termos de comparação. (1872-1873, p. 202)

Charcot tinha outros materiais, escritos por outros pacientes, mas os de Joséphine foram os únicos encontrados que permitiram uma comparação, a qual ele não apresentou em suas lições. Esse talvez seja o único caso em que Charcot promoveu, sem o saber, um lugar da paciente em seu tratamento, favorecido por meio da escrita. Fazer Joséphine escrever era um recurso, ainda que usado para outro fim, atravessado pela transferência.

Essa possibilidade de expressão parece fazer a jovem Joséphine sair do "nada" do anonimato do Hospício para Mulheres Velhas - antigo nome da Salpêtrière - para voltar a ser "tudo" para a mãe ao poder escrever a ela, e engoda Charcot colocando-o na posição daquele que é o único responsável por sua melhora, o "tudo" de bom para sua recuperação, para quem ela também poderia ser a prodigiosa paciente. Ela parece ficar, segundo Lebrun (2004), em um "entre-dois", entre Charcot e a mãe, às voltas com o desejo de curar-se de sua condição de rigidez, tremor, abandono à própria fraqueza e imobilidade. Escrevendo, Joséphine não era esclerosada, no sentido de não enrijecida; ela podia lidar de outra maneira com sua condição, que envolvia certamente muitas perdas.

Em breves momentos, ao escavar o vazio pela escrita, desenhando formas e letras, Charcot propicia a investigação da coisidade da coisa (Rivera, 2007) do corpo adoecido, que reside justamente no vazio que ele contém e que não se reduz à aparência imaginária que ele traçou. O corpo vai se prestando a uma modelagem dada pelos espaços de histórias contadas, arranjos entre palavras e imagens que vão se projetando.

A clínica de Charcot conta a pré-história do que anos depois será nomeado por Freud como sexualidade e transferência. A leitura psicanalítica do caso de Joséphine só pôde ser feita em um tempo distante mais de um século de seu autor. Casos como esse, registrados por Charcot, tiveram de aguardar o interesse de uma pesquisadora com experiência na clínica psicanalítica do adoecimento neurológico autoimune para receber um novo tratamento, cuja condição de interpretação somente a distância temporal e a transferência com a história da psicanálise puderam favorecer.

As anotações de Charcot não costuravam suas suspeitas acerca da sexualidade humana. Ele tateava o escuro dos objetos à luz de sua curiosidade persistente. Mantinha-se acompanhado de sua própria curiosidade infantil, curiosidade essa necessária para todo pesquisador. Seguia anotando, desenhando, acumulando uma série de apontamentos relativos aos corpos adoecidos que investigava, sem demarcar a diferença entre vivos e mortos, sem introduzir a agulha da medicina no tecido psíquico opaco que passou a enxergar ao longo do tempo, com a suspeita da "coisa sexual".

Tanto a saúde psíquica como a doença devem-se ao corpo pulsional, corpo da sexualidade infantil (Lindenmeyer, 2012). A sexualidade designa, além do primado da genitalidade, uma série de excitações e de atividades presentes desde a infância, seu lugar de nascimento (André, 2015). Como o inconsciente, a sexualidade infantil não respeita nada, toca em tudo, alimenta-se com todo tipo de lenha, corre o risco de destruir o que a estimula, sente prazer tanto em desmantelar quanto em inventar formas inéditas, pois ela não tem idade, ignora o tempo, choca-se com nossos conformismos, com nossa censura, com nosso bem-comportado equilíbrio.

Todas as atividades humanas, sem exceção, são suscetíveis de excitar a sexualidade infantil, que é polimorfa, que em outras palavras não sabe o que quer, definitivamente sem fim. Pela via da transferência, Joséphine parece ter tido sua sexualidade excitada por Charcot, no sentido de que pôde satisfazer, durante o tratamento, o furor investigations de Charcot com seu próprio furor curandis. O poder de transformação da sexualidade infantil investe não somente os orifícios; todo o corpo participa da construção do fantasma (ou fantasia).

Ainda que sem o recurso das interpretações, a relação de Charcot com Joséphine é prova viva de uma das primeiras descobertas da psicanálise: o desenvolvimento na paciente de sentimentos vivos de apego como ajuda positiva no tratamento (Klauber, 1973). Assim, se para cada um, seu cérebro (Ansermet & Magistretti, 2011), é preciso lembrar que cada indivíduo tem sua própria sexualidade, seu próprio corpo-psiquismo. Então, para cada um, seu jeito de adoecer e melhorar, com a potência que a transferência pode oferecer em uma relação de tratamento.

 

Referências

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Correspondência:
Elise Alves dos Santos
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Luiz Augusto M. Celes
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Cristina Lindenmeyer
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cristina.lindenmeyer@wanadoo.fr

Recebido em 19/11/2018
Aceito em 6/5/2019

 

 

1 Artigo derivado do estágio doutoral da autora Elise Alves dos Santos na Universidade de Paris 7, sob orientação de Luiz Augusto M. Celes (Universidade de Brasília) e coorientação de Cristina Lindenmeyer (Universidade de Paris 7). Agradecimentos às instituições apoiadoras citadas e, pela revisão textual, a Alexandre de Castro Oliveira.
2 Considerado pai da neurologia, também alcançou fama no terreno da psiquiatria na segunda metade do século XIX. Foi um dos maiores clínicos e professores de medicina da Europa.
3 A internação numa instituição hospitalar resultava, na maioria das vezes, em separação da família e das ocupações. Os pacientes de Charcot, via de regra, experimentavam a perda da referência de sua vida cotidiana, o que coincidia com diversas manifestações, entre elas a desregulação menstrual e a aparição de novas sintomatologias.
4 Joséphine utilizou o verbo obliger, que em francês carrega uma significação mais próxima da ideia de sentir-se em obrigação com a pessoa que a favoreceu. A noção de sentir-se obrigada é mais forte do que a de sentir-se agradecida, que vem do verbo remercier. Na tradução, porém, optei por grata ou agradecida (em outros momentos). Uma hipersensibilidade moral na utilização do termo obligée para referir-se à gratidão parece remeter à nostalgia em relação à figura paterna, com as vozes do superego alimentando a ideia de um pai super-herói ou supererotizado e "obrigando" a paciente a ser eternamente grata ou obrigada para com ele. A descrição de uma hipersensibilidade moral também está presente em outros casos de Charcot.
5 Ressonância aumentada da voz, com som anasalado, quando os pulmões são auscultados.
6 Tanto pela pesquisadora, que já estava habituada com a letra de Charcot, quanto pelo bibliotecário responsável pela Biblioteca Charcot.
7 Alcaloide tóxico extraído da noz-vômica, que provoca contrações e, em seguida, paralisia. Em pequenas doses, é estimulante nervoso e tônico.

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