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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.53 no.3 São Paulo July/Sept. 2019

 

OUTRAS PALAVRAS
TRABALHOS PREMIADOS DO XXVII CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICANÁLISE

 

Face a face com nenhum, disperso em múltiplos: confidências de uma analista em contato com estados primitivos de mente1

 

Face to face with no-one, dispersed in multiples: confidences from an analyst in touch with the primitive states of the mind

 

Cara a cara con ninguno, disperso en múltiples: confidencias de una analista en contacto con estados primitivos de mente

 

Face à personne, éparpillé sur des multiples Confidences d'une analyste en contact avec les états primitifs de l'esprit

 

 

Maria Luiza Soares Ferreira Borges

Membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Ribeirão Preto (SBPRP)

Correspondência

 

 


RESUMO

Neste artigo, a autora trata de sua experiência clínica com Moscarda, paciente nomeado com base na obra de Luigi Pirandello. Esse nome é utilizado por aludir à intensidade do contato do analista com pacientes que apresentam fortes traços psicóticos. No caso abordado, a aproximação com o estranho no paciente, na analista e na dupla foi um estímulo à reflexão sobre os desafios do analista em sua mente, para desenvolver sua função alfa e mantê-la operante, e sobre a importância do trabalho de working toward, a fim de alcançar a mente primitiva do paciente e acessar e desenvolver a função alfa dele a partir da experiência emocional do analista.

Palavras-chave: estranho, função alfa, partes psicóticas da mente, mente primitiva, working toward


ABSTRACT

In this article the author talks about her clinical experience with Moscarda, a patient named based on Luigi Pirandello's work. This name is used as it refers to the intense contact between the analyst and the patients who show strong psychotic traces. In the case discussed, the closeness to the strange from the patient, to the analyst and both, was brought for critical thinking on the challenges the analyst has in her mind, in order to develop its alpha function and keep it working, as well as on the relevance of the working toward, in order to reach the patient's primitive mind and access and develop his alpha function from the analyst's emotional experience.

Keywords: strange, alpha function, psychotic parts of the mind, primitive mind, working toward


RESUMEN

En este artículo, la autora aborda su experiencia clínica con Moscarda, paciente nombrado con base en la obra de Luigi Pirandello. Este nombre se utiliza para hacer alusión a la intensidad del contacto del analista con pacientes que presentan fuertes rasgos psicóticos. En el caso abordado, la aproximación con lo extraño en el paciente, en la analista y el dúo fue un estímulo a la reflexión sobre los desafíos del analista en su mente, para desarrollar su función alfa y mantenerla operativa, y sobre la importancia del trabajo de working toward, con el objetivo de alcanzar la mente primitiva del paciente y acceder y desarrollar su función alfa a partir de la experiencia emocional del analista.

Palabras clave: extraño, función alfa, partes psicóticas de la mente, mente primitiva, working toward


RÉSUMÉ

Dans cet article l'auteur aborde son expérience clinique avec Moscarda, un patient dont le nom a son origine dans l'oeuvre de Luigi Pirandello. Il est employé pour faire allusion à l'intensité du contact de l'analyste avec les patients qui présentent d'importants traits psychotiques. Dans le cas évoqué, la proximité à l'étrange, qui concerne soit le patient, soit l'analyste soit les deux, a été un stimulus à la réflexion sur les défis de l'analyste dans son esprit, pour développer sa fonction alpha et la maintenir en activité et, encore, sur l'importance du travail de working toward, afin d'atteindre l'esprit primitif du patient et d'accéder et développer la fonction alpha de ce dernier, qui se fonde sur l'expérience émotionnelle de l'analyste.

Mots-clés: étrange, fonction alpha, parties psychotiques de l'esprit, esprit primitif, working toward


 

 

Constituir um ser humano, um nós, é trabalho que não dá férias nem concede descanso: haverá paredes frágeis, cálculos malfeitos, rachaduras. Quem sabe um pedaço que vai desabar.

LYA LUFT, Perdas e ganhos

 

Aprendiz de Luigi Pirandello

O desafio do trabalho analítico nos põe face a face com a complexidade da mente humana, nossa mente e a mente de nosso cliente paciente, e a gama de vivências que podem emergir desse contato. Não sabemos o que vamos encontrar pela frente - se haverá muito a sustentar, a conter, a transformar. Que recursos psíquicos temos, enquanto analistas, para mergulhar nessa experiência? Escolho Moscarda como pseudônimo para o paciente - personagem principal de um rico e intenso contato - que me estimulou a pensar sobre o desafio de enfrentar o estranho, complexo e enigmático mundo psíquico, a partir do contato com uma mente primitiva, com forte predomínio de áreas psicóticas. O nome remete a Vitangelo Moscarda, protagonista da obra Um, nenhum e cem mil (1926/2015), de Luigi Pirandello. As angústias existenciais do personagem Moscarda muito se assemelham e ressoam as angústias do paciente que acompanhei, as quais foram se apresentando e tomando forma no decorrer do trabalho analítico.

No romance de Pirandello, Moscarda é um desajustado, um homem confuso entre sua vida subjetiva e sua vida social, alguém introspectivo, tido como o esquisito, o estranho, e que muito cedo precisou "ver-se vivendo". Aos 28 anos, olhando-se no espelho - algo bastante metafórico, no sentido de observar-se, conhecer-se e sentir-se um, único, integrado -, é tomado por um sentimento de estranhamento e ruptura. Procura então uma referência para suas percepções no olhar da esposa. Diante do comentário dela de que sempre percebera nele o nariz torto e as sobrancelhas arqueadas, desnuda-se a fragilidade de seu ego, presa ao olhar do outro. Através desse episódio, Moscarda se dá conta de seu desconhecimento de si mesmo e do intenso sentimento de inexistência. Começa a observar-se: os olhos, o nariz, a boca, sua feiura, seus defeitos externos e internos - novamente, a metáfora de se observar a fim de se descobrir em meio a tantos personagens que lhe são atribuídos. Vê-se em face da dispersão, entre o nome que lhe deram e a pessoa que sente ser. Deparase com o fato de nunca ter tido uma imagem consistente de si - como se não pudesse integrar os vários aspectos de si mesmo, projetados então nos outros. Descobre o estranho (Freud, 1919/1974a) em si próprio.

O Vitangelo Moscarda da obra literária passa a ter um propósito: descompor as imagens que faziam dele. Esta pode ser uma das funções de um processo analítico bem acompanhado: colocar-se à disposição do assombro, do enigmático. A história de Moscarda alude à precariedade trágica humana, com a qual o trabalho analítico nos põe em contato, no exercício de descobrir os vários eus, o estranho em nós, tarefa árdua, delicada e dolorosa, capaz de suscitar emoções intensas, de fazer eclodir momentos disruptivos, de levar ao organizar-se e ao desorganizar-se. No decorrer do processo, a função alfa (Bion, 1962), quando operante, pode ir dando sentido e abrindo a mente para o pensar. Isso sugere que, tanto no personagem da obra literária quanto no paciente que utilizo para abordar essa experiência, tal função não estava operante ou era muito precária. No trabalho analítico, não sabemos se a função alfa de nossos pacientes, a princípio, está operante e em quais situações nossa função alfa também pode falhar - não sabemos o que vamos encontrar pela frente. Nossa fé no método e na faculdade do humano de buscar desenvolvimento apesar das vicissitudes da vida é o que nos move. A capacidade negativa2 nos permite a receptividade analítica, para acolher o que surge e procurar considerar e compreender as experiências e os sentidos que se desdobram no caminho.

 

O estranho no espelho

Moscarda, um homem com idade em torno dos 35 anos, procurou-me alguns meses depois de se separar da esposa. Encontrava-se deprimido, profundamente desvitalizado. Estava sob licença médica do trabalho, sendo acompanhado por um psiquiatra, com o diagnóstico de bipolaridade. Já havia passado por vários tipos de tratamento psicológico e terapias diversas. Vinha cheio de jargões sobrecarregados de sentido, que eu percebia serem palavras às quais ele se apegava na tentativa de dar contorno ao que vivia, sem no entanto estabelecer contato com o que elas representavam. Segundo a descrição de Bion (1962), as palavras funcionavam como uma musculatura para desembaraçar a personalidade dos pensamentos. Moscarda buscava, de modo desesperado e desenfreado, uma série de ocupações, como ginásticas, corridas, dietas, cursos e especializações, sempre me dizendo que precisava "manter a agenda em ordem". A mim, isso parecia uma tentativa frenética de segurar-se para não entrar em contato, minimamente, com a dor mental e com o profundo vazio existencial; uma procura por ações que o fizessem sentir-se inteiro; uma descarga motora, substituindo o trabalho mental de pensar suas emoções e frustrações e de lidar com elas. Embora estivesse cheio de atividades, não tinha energia vital para dar continuidade a nenhuma delas, sendo tomado por uma intensa desvitalização, que aparecia sob a forma de sono intenso ou moleza nas pernas.

A capacidade de continência, discernimento e elaboração das percepções e emoções era mínima e fugaz. O olhar-se no espelho sempre fora de uma angústia aterrorizante. De acordo com ele, aos 17 anos teve seu primeiro episódio de depressão grave e uma forte vivência disruptiva. O comentário de um colega de escola sobre seus olhos grandes desencadeou nele uma questão de autoimagem. Sentiu-se feio, "o feio da família", tendo pensamentos suicidas e crises de despersonalização. Qualquer comentário sobre sua aparência o fazia sentir o aspecto indicado de forma concreta, crua e cruel, como se o comentário se devesse ora aos olhos grandes, ora ao nariz largo, ora aos cabelos estranhos, ora aos lábios que não tinham determinado tamanho e proporção.

O encontro com uma mente tão primitiva é bastante intenso. Muitas vezes, parecia-me um menino sedento de informações e de um olhar que lhe desse entorno, sustentação e existência (Valino, 2011). Aos poucos, pelo trabalho analítico, pudemos ir nos aproximando e desmistificando a ideia concreta e precária vinda de sua mente primitiva. Não conseguia relativizar, minimizar, observar-se com clareza e dar contexto ao que observava. Desde então, o olhar- se no espelho passou a ser de uma angústia desestabilizadora. Havia um cerimonial ligado a esse olhar que se repetia no início de cada sessão: ele ia ao banheiro do consultório para olhar-se no espelho durante alguns minutos, ocupando o tempo que estaria comigo. Ao fitar-se no espelho, em casa ou no consultório, ocorria que ora não se via, ora se via com um defeito - no nariz, nos lábios, na testa ou nos cabelos. Parecia-me sequestrado pela sensação de inexistência. Algumas vezes, pensava-o como um Narciso às avessas, condenado a se ver sempre deformado, aos pedaços. Semelhante aos autorretratos de Francis Bacon, Moscarda se descrevia de maneira disforme.

Em muitos momentos, sua tensão o fazia adquirir uma feição de "louco", que de certa forma ele percebia e identificava como seu aspecto feio. Penso que confundia a ligeira percepção de sua precariedade mental com feiura. Eu por minha vez percebia que, apesar da precariedade, havia um Moscarda em intensa procura. Buscava-se em seus rituais no espelho, procurava freneticamente uma namorada - tentativa de encontrar uma companhia viva (Alvarez, 1994) -, perscrutava uma identidade profissional nos cursos, assim como investigava uma identidade corporal nas inúmeras atividades físicas que iniciava sem conseguir dar continuidade. Esse era seu modo de observação de si mesmo e do mundo, uma busca ávida, concreta, aderida e sem reflexão. Ele me contava que também fazia essas deformações de percepção da imagem com pessoas mais próximas, "defeitos" que notava e que aos poucos o levavam a afastar-se e a isolar-se - fenômeno que Bion (1959/1984a) denominava ataques ao elo de ligação.

Esses aspectos nos falam da precariedade ou da ausência de sua função alfa. Moscarda mostra como a falha da função alfa o levou a indiscriminações entre a percepção interna e a externa, entre as qualidades psíquicas e as físicas. Sua incapacidade de discriminar as percepções transformava elementos que poderiam ser sonhantes em elementos concretos (elementos beta), úteis apenas para evacuações. Suas projeções ocorriam tanto nas imagens de si mesmo vistas no espelho quanto nas pessoas com quem procurava estabelecer vínculos - esposa, filho, amigos, namoradas -, correspondendo ao que Bion diz:

A falta de capacidade para o pensamento implica, portanto, dupla falha. Deve-se à ausência de elementos alfa e à falta de aparelho para usar os elementos alfa existentes. A dupla falha se torna significativa, na psicanálise do psicótico, quando o paciente restabelece sua função alfa, e portanto sua capacidade para sonhar, e permanece todavia incapaz para pensar. Recorre, por conseguinte, à identificação projetiva como mecanismo para lidar com os pensamentos. (Bion, 1962, p. 85)

 

Confidências do espelho: os estranhos

Numa sessão dos primeiros meses de trabalho, quando Moscarda entra na sala de análise, noto que está bem-vestido e com o cabelo cortado de forma diferente. Ele diz sentir-se mais animado, o que percebo no clima emocional de sua chegada. Conta que teve um sonho: "Essa noite tive um sonho cheio de significados e até meio constrangedor". Em seguida, questiona-me sobre sua aparência, se eu havia notado que ele estava melhor. Observá-lo fisicamente tem uma função importante para Moscarda - ser visto é ser encontrado.3

MOSCARDA: Você viu que eu fiz um novo corte? Sugestão do meu irmão. Eu até arrumei com gel. O cabeleireiro me ensinou. Mas continuo com aquela coisa de olhar no espelho. Minha mãe até me falou que eu preciso lhe dizer o tempo que eu fico olhando no espelho.

Sei que fica bastante tempo, perdido num cerimonial, sequestrado pelo sentimento de desintegração e inexistência.

ANALISTA: Qual o problema de olhar-se no espelho? [Vou dando sustentação/assoalho para que Moscarda possa pensar-se.]

MOSCARDA: É aquela coisa de ficar olhando o nariz, a boca, o cabelo...

ANALISTA: E o que você tem visto?

MOSCARDA: Agora está diferente. Eu tenho conseguido olhar o rosto todo. Não estou ficando preso só num ponto. Mas não tenho gostado do que vejo.

Penso que olhar o rosto todo seja evidência de uma pequena evolução em sua capacidade de perceber-se e integrar aspectos de si mesmo.

ANALISTA: Então, a questão não é o fato de olhar-se no espelho, mas o que você faz em sua cabeça daquilo que vê.

MOSCARDA: Eu não tenho gostado do meu sorriso. Esta parte aqui da minha boca fica dura. Eu não consigo soltar o meu sorriso. Acho que eu preciso fazer umas sessões de fono, para trabalhar o meu sorriso.

Nesse trecho, podemos ver como sua capacidade de auto-observação e de contato consigo mesmo é tênue. Faz transformações para algo concreto e logo desvia para algum procedimento a ser realizado. Dessa forma, não sustenta a própria observação.

Convido-o a falar, ali na sala de análise, acerca do que está percebendo de si mesmo e do que poderia estar enrijecendo sua feição. Saindo de seu pensamento concreto, Moscarda solta uma risada. Eu sinalizo sua risada e sua espontaneidade. Ele prossegue: "Acho que não sei ser espontâneo. Não sei se é isso que estou procurando nas namoradas pela Internet... " Fica pensativo. Aqui há um vislumbre de contato com a dor mental, mas que não é sustentado. Ele então me conta o sonho.

Sonhou que, chegando à sessão de análise, viu uma bicicleta estacionada do lado de fora, a qual ele reconheceu como a bicicleta antiga de seu pai. Essa bicicleta tem uma conotação afetiva, remetendo a um período feliz de sua infância. Ao vê-la, sente um estranhamento, uma inquietação. Quando entra na sala de espera, vê o pai saindo de meu consultório e despedindo-se com um beijo em meu rosto. Ele estranha a atitude do pai e observa que este ia me envolver pela cintura, como se fosse me abraçar. Nesse momento, estranha mais ainda a atitude do pai e o percebe alterado. Explica-me que o pai é bipolar e que, quando está alterado, os olhos ficam estranhos, como se ele estivesse bêbado. Ao percebê-lo assim, no sonho, chama-o e leva-o embora.

Sente-se constrangido por ter tido tal sonho. Numa postura de observação e continência, pergunto-lhe o que havia pensado sobre esse sonho.

MOSCARDA: Antes eu achava que sonho era premonitório. Aí fiquei pensando que meu pai não anda muito bem, anda quieto, e depois dessa fase vem a mania. Ando mais preocupado com ele. Depois, isso de beijar seu rosto e parecer querer te dar um abraço é meio constrangedor.

ANALISTA: E por que seria?

MOSCARDA: Porque ele nem te conhece. Parecia muito íntimo.

ANALISTA: Íntimo como um casal?

MOSCARDA: [Rindo, como se tivesse sido descoberto.] Por isso eupercebi no sonho que ele estava alterado.

Opto por referir-me inicialmente a seu pai, e não diretamente a questões transferenciais, por não percebê-lo preparado para esse contato. No sonho, parecia que o pai de Moscarda confundia intimidade emocional com intimidade física. Talvez fosse este o temor de MOSCARDA: confundir intimidade física com intimidade emocional. Ele diz: "Eu vivo confundindo as coisas. Eu nunca consegui ter intimidade em meu casamento, porque sempre apareciam os defeitos físicos em minha cabeça. Será que é por isso que vivo procurando namoradas na Internet, bem distantes?"

No ritual de se olhar no espelho antes de entrar na sala de análise, Moscarda já evidenciava que conseguia ver-se minimamente integrado (a face inteira, e não seus componentes isolados), utilizando isso para recompor-se, reorganizar-se e tentar integrar-se. A função analítica no contato com ele perpassava pela função especular e pelo desenvolvimento da função alfa.

Pude ir notando que a busca desenfreada por mulheres na Internet, mencionada no fim da sessão descrita (e que foi material de muitas outras sessões), referia-se provavelmente à busca pelo olhar vivo da mãe, que lhe permitisse o sentimento de existência. Sobre esse sentimento, Winnicott propõe: "Sentir-se real é mais do que existir; é descobrir um modo de existir como si mesmo e ter um eu (self) para o qual retirar-se, para relaxamento" (1967/1975, p. 161).

Em sua história pessoal, Moscarda nasceu logo após o falecimento de um irmão. Segundo ele, a mãe estava deprimida, e o pai fazia acompanhamento psiquiátrico devido a sua bipolaridade; descrevia-o como alguém muito frágil emocionalmente e com pouquíssimas condições de pensar. Esses são os objetos primários de Moscarda, frágeis e debilitados em sua capacidade para pensar. Conjecturei que a falha da função especular da mãe pode ter provocado nele o que Winnicott denominou desenvolvimento prematuro do ego. Por sua precariedade em diferenciar-se da mãe e aprender com essa experiência a observar-se e a observar o mundo, ainda se sentia preso à busca por um olhar que o fizesse encontrar-se consigo mesmo.

Esse fator, que parece ser importante nas mentes que sofreram falhas no contato primordial mãe-bebê, ressurgiu no trabalho analítico, demandando da analista uma postura viva e pensante. O encontro analítico era para Moscarda a possibilidade de ser visto. A busca por cuidados com sua imagem, ao contarme sobre os cabelos, em meu entender, precisava ser reconhecida como sinal de sua existência. Procurei lidar com o ritual de olhar-se no espelho como abertura/recurso para ver-se como um todo e transformar percepção em apercepção (Winnicott, 1967/1975).

À medida que falava nas sessões sobre o que observava ao ver-se no espelho, abríamos espaço para ele refletir sobre si mesmo e sobre os sentidos que poderiam ter suas observações, as quais, com o tempo, iam ganhando qualidade de auto-observações. Aos poucos, observar-se adquiriu o status de olhar-se não só externamente, mas também internamente, alcançando sua capacidade de se emocionar, de perscrutar o ambiente, de se perceber envolvido - como diz Rilke, de exercitar o músculo do coração:

O trabalho de ver está feito.

Agora exercite o músculo do coração

Nas imagens guardadas dentro de você, pois você

As subjugou apenas: mas não as compreende.

Olhe, homem interior, olhe para sua dama interior,

ela tão duramente conquistada

de mil naturezas, ela

o ser até agora apenas

conquistado, nunca amado ainda.

(Rilke, 1981, p. 49, citado por Britton, 2003, p. 222)

Na época, o sonho não foi interpretado da maneira como Freud fazia (decodificando); nem mesmo alguns aspectos transferenciais puderam ser revelados, embora servissem de material para pensarmos e fazermos aproximações com o que Moscarda era capaz de perceber. Assim, o contato emocional pôde ir se estabelecendo na sala de análise, e ele pôde buscar compreender suas observações e decodificá-las.

O sonho que Moscarda relatou na sessão parecia conter uma configuração edípica. O aspecto "pai bipolar" de sua personalidade - que viera para a análise e em sua mente fizera dupla com a analista, precisando ele tomar cuidado para não se equivocar - revelou o Moscarda que temia confundir intimidade física com intimidade emocional. Esta, por sua vez, começou a ser construída quando ele pôde narrar seu sonho e falar de seu constrangimento. A sensação de estranhamento em relação ao pai, a quem ele percebeu como se estivesse fora de si (bêbado), talvez evocasse sua tentativa de observar o humor dos pais através do olhar, uma espécie de escaneamento do ambiente.

O que é necessário desenvolvermos enquanto analistas para estarmos com pacientes em estados mentais primitivos? No início do trabalho, e durante muito tempo, eu procurei não fazer interpretações transferenciais, por sentir que a mente de Moscarda não conseguiria compreendê-las. Eu tomava em consideração o que era dito e o que me tocava do contato com ele, e procurava digerir isso primeiro em minha mente, de maneira semelhante ao que Alvarez (2012a) denomina trabalho em direção a (working toward). O trabalho central era entender e comunicar estados mentais em níveis muito básicos.

O Moscarda precário buscava encontrar nas garotas o olhar de acolhimento não encontrado no olhar da mãe. Com isso, não discriminava suas percepções. Julgava o que captava, ora pela visão das fotos que as moças lhe enviavam pelo celular, ora pela leitura do que lhe escreviam via WhatsApp, e tirava conclusões precipitadas com base em suas expectativas fantasiosas e transformações. Confundia sensorialidade com aspectos mentais e, assim, cometia atos impensados, investindo em relacionamentos com mulheres que mal conhecia. Havia uma compulsão4 a repetir o ato de buscar, pela imagem de mulheres ideais, aquela que pudesse lhe dar ânimo/vitalidade. No entanto, a cada busca impensada e atuada, ocorria-lhe uma nova decepção. Não conseguia se envolver minimamente com a frustração, a fim de pensar sobre ela (posição depressiva). Logo procurava outra mulher, de modo viciado, através de sites de relacionamento, o que resultava na reedição de situações de não poder ver nem ser visto. Como diz Godoy (2019), talvez buscasse a estesia como forma de resolver o conflito estético vivido com a mãe, procurando avidamente algo externo para superar as falhas do objeto inicial, vivendo sob a égide das imitações e aderências por não suportar o enigma e a incerteza. Enquanto analista, cabia a mim, por meio da função analítica, tolerar as incertezas e os enigmas, emprestando minha mente transitoriamente.

 

Confidências de uma analista trabalhando

Como o leitor pôde perceber, o trabalho analítico com Moscarda configura um trabalho com uma mente muito primitiva e precária. Eu me via em constante desafio. Muitas vezes, fui levada a áreas de ação e precisei conversar com ele sobre fatos reais, como o uso da medicação psiquiátrica e o que efetivamente estava fazendo com o dinheiro que ganhava; tive de ver fotos que ele me mostrava pelo celular, de garotas que buscava em sites de relacionamento, e pesquisar com ele o que procurava nesses contatos. Dessa forma, eu me aproximava de sua maneira de se observar, percebia suas estratégias para lidar com a emoção e podia alcançar sua mente primitiva.

Quando o paciente projeta elementos betas para dentro da mente do analista (antes de eles serem trabalhados pela função alfa do analista), ele produz no analista uma contratransferência cuja marca é a perda de sua habilidade de pensar criticamente sobre o elemento beta projetado. Essa é uma espécie de deterioração intelectual no analista com que estamos todos familiarizados, e da qual nos tornamos cientes através da experiência de fazer uma interpretação após um trabalho considerável e então, tendo-a feito, ver que ela é tão óbvia que não podemos compreender por que não era óbvia para nós desde o começo. (Caper, 1997, pp. 150-151)

Alvarez (2012b), referindo-se a seu trabalho com pacientes que apresentam deficit ou incapacidade do objeto interno, diz que eles parecem experimentar a relação de objeto primária com um objeto desinteressante, desvalorizado (ou não valorizado), sentido como sem utilidade. Ela afirma perceber nesses pacientes não apenas egos frágeis, mas deficit no senso de self e experiências emocionais com objetos mortos ou vazios.

Minha hipótese é que Moscarda sofrera esse deficit devido a falhas nas experiências primárias com a mãe, a qual, deprimida pela perda de um filho anterior, pode ter falhado em sua função alfa nos primeiros contatos com ele ainda bebê. Em muitas ocasiões, o trabalho com Moscarda consistia em nomear e descrever experiências vividas. Às vezes, era necessário estabelecer pausas, paradas para olhar, sentir e nomear experiências antes mesmo de descrevê-las.

Bion (1965/2004) fala do trabalho para conter as projeções e transformá-las de insustentáveis em sustentáveis. Com Moscarda, frequentemente eu me via movida por um sentimento de urgência que me impelia à ação, o que obstaculizava minha capacidade para pensar. Em muitos momentos, como uma mãe ou um pai atentos, eu me preocupava com suas atuações, que o faziam envolver-se com garotas de programa e contrair inúmeras dívidas. Numa de nossas sessões, por exemplo, me vi pegando um pedaço de papel e anotando para ele, em forma de lista, as inúmeras atividades que ele desejava fazer, entre elas as dívidas que precisava pagar e para as quais não conseguia se organizar. Na sala de análise, eu era convocada a viver o impacto das experiências para, depois de digeri-las e pensá-las, auxiliá-lo a desenvolver condições de contenção, observação e discriminação.

O ato de anotar num papel a lista de "tarefas" a que ele se referira não pode ser simplesmente chamado de acting da analista. A meu ver, funcionou como um anteparo para conter o impacto de suas comunicações, a fim de dar uma pausa em minha mente para pensá-las. O papel-mente-continente permitiu a Moscarda aliviar-se do peso das sensações insustentáveis e indigestas, que eram então vividas temporariamente por mim. Dessa forma, aos poucos, no processo analítico, após construirmos uma vinculação que perdurava, ele pôde ir permitindo-se desenvolver condições de pensar seus pensamentos. Formavam-se, assim, os gérmens do pensamento.

Freud (1911/1974b) já considerava a importância da tolerância à frustração para o desenvolvimento do pensar e do senso de realidade. Ele fala da grande frustração do bebê ao deparar-se com a verdade de não ser o centro do universo nem o único foco de interesse da mãe. Moscarda trazia para as sessões suas inúmeras dificuldades em lidar com separações e diferenças. Talvez tenha vivido deprivações/frustrações muito precocemente, num momento em que precisaria viver o estado de ilusão primária e o processo de desilusão de forma gradativa (Winnicott, 1960/1990).

Bion (1959/1984a) enfatiza a ligação entre a frustração e o processo de aprender a pensar. Seguindo Freud, ele diz que o aprender com a experiência depende da escolha entre as técnicas para evitar frustração, fugindo dela ou modificando-a. De acordo com Bion, a tolerância à frustração possibilita a aquisição do senso de realidade. Para Moscarda, a frustração estava associada ao vazio, e por isso rapidamente buscava substitutos.5 O desafio era vivido primeiro por mim, no impacto daquilo que ele relatava viver, para aos poucos ele poder ver-se vivendo. O fragmento de sessão a seguir ilustra isso.

Moscarda chega alguns minutos atrasado e se dirige ao banheiro, em seu cerimonial costumeiro. Ao encaminhar-se para a sala de análise, diz: "Estava lá na minha batalha com a imagem". Comenta estar sentindo-se melhor com a própria imagem, embora o olhar-se no espelho seja muito difícil. Acolho sua fala e o convido a olharmos juntos o que ele observou na aparência e também o que sente ao observar-se, suas emoções, seus temores e suas angústias.

Moscarda relata ter se sentido mais inteiro ao sair da sessão anterior, mas que no dia seguinte, não conseguindo se envolver nos estudos e nas relações, buscara o site de relacionamento de forma intensa. Ao perceber-se nesse processo, havia tentado recuar, mas não conseguira. Aponto seus movimentos, o de se observar com dificuldade de estabelecer vínculos e o de procurar avidamente por contato no site de relacionamento como estratégia para manter-se na ilusão.

Ele começa a contar que, ao utilizar o cartão de crédito para os gastos com as garotas, percebeu que estava bloqueado. A partir desse pequeno contato com a frustração, surge na sessão um movimento de observação das inúmeras dívidas que vinha fazendo. Menciona débitos com convênios, medicamentos, a análise, entre outros, mas diz que mesmo assim gostaria de gastar com as garotas do site. Nesse momento, capto a angústia dele e sinto-me com o peso da dívida - estando também concretamente sem receber os honorários, que eram sempre pagos em dia e passaram a ser quitados com atraso.

MOSCARDA: É, mas é uma coisa sem controle. É como se eu precisasse muito entrar no site, precisasse ver e sair com garotas pra me sentir vivo.

ANALISTA: Tem um Moscarda que acredita que pra se sentir vivo precisa do olhar, por exemplo, de uma mulher. Ainda não conheceu outras formas de se sentir vivo, como a de cuidar de si, das finanças.

Aqui confidencio como foi reverberando essa experiência. Nesse ponto da sessão, vem a minha mente uma série de fotos da Pietà, de Michelangelo, em que o fotógrafo, Robert Hupka, a retrata dos mais variados ângulos.6 Ocorre-me que este pode ser o desejo de Moscarda: encontrar uma mulher que o contenha plenamente. Vou guardando essas associações e tentando elaborá-las para lhe dizer algo. A escultura me remete ao modelo do seio inexaurível (Klein, 1946/1991b), idealização de ser plenamente acolhido e sustentado, que talvez seja a apreensão em minha mente da aspiração de Moscarda pela mulher ideal que o tornaria vivo - idealização baseada em sua voracidade e avidez, um desejo infantil e ilimitado de gratificação.

Segundo Klein (1952/1991a, 1935/1996a), a idealização é uma tentativa de desenvolvimento, de proteção contra a desintegração. A falha na função especular da mãe poderia ter incrementado a voracidade de Moscarda? Ao falar das garotas-namoradas, parece referir-se ao ideal de ego projetado na figura idealizada (relações de objeto esquizoides). Quando trata de sua premência em sentir-se vivo, mobiliza-me a pensar em algo muito perturbador, em que prevalece a necessidade de ação, e não o pensamento (Bion, 1992/2000). Procurei mostrar a ele o clima emocional de urgência que o levava a agir de forma prematura e a rapidamente aderir-se a imagens visuais.

Grotstein utiliza o conceito "acordo de Pietà" como um aspecto particular do espectro continente-conteúdo de Bion:

O "acordo de Pietà" é o acordo sugerido (inconscientemente, não declarado) entre o bebê e sua mãe, no qual o bebê concorda em fazer seu melhor para sobreviver e progredir se a mãe concordar em assegurar o bebê contra dor, sofrimento ou perigo desnecessário. O aspecto da identificação projetiva envolve uma série de expectativas da parte do analisando, de que o analista deveria (substitutivamente) experimentar a tristeza e a culpa por toda a dor que o analisando sofreu, passada e presente, e que deveria tomar a responsabilidade de remover a dor e sua fonte. (2000/2003, p. 310)

A impressão que eu tinha com Moscarda era que, como analista em minha função continente, eu deveria sustentar sua dor, vivê-la por ele, de forma tal que ele pudesse sobreviver. Moscarda vivia agindo sem pensar, pelo temor do contato com sua catástrofe psicológica, buscando a "verdade", como aponta Bion (1957/1984b), com curiosidade, arrogância e estupidez. A capacidade para pensar era sentida como catastroficamente aterrorizante, algo que o levaria a tristezas profundas e desvitalizações, pois favoreceria o contato com debilidades e com estragos feitos em sua vida financeira e em seus vínculos. Muitas vezes, o trabalho analítico parecia um contínuo recomeçar, as frustrações eram várias, e a sensação de que o trabalho psíquico não ocorrera ou fora desfeito por sua capacidade de negar as próprias percepções e por seu ódio à realidade era muito frequente.

 

Contendo confidências e sendo modelo para pensar e viver áreas de dor

Creio que esta seja a condição de trabalho com mentes muito restritas: como diz Grotstein, "viver a dor do paciente por procuração" (2000/2003, p. 311). Na mente de Moscarda, parecia que encontrar uma mulher que contivesse o aspecto de vivência primordial do olhar da mãe (substituindo a falha primordial) o retomaria, de forma onipotente e mágica, de seu estado de não existência e de ausência de vitalidade, a ponto de não precisar mais da análise. Nosso trabalho analítico consistia em eu ser continente para sua dor, para que ele pudesse, aos poucos, entrar em contato com ela e aprender, transformando-a em recurso. Em alguns períodos da análise, via-me funcionando como se eu fosse a consciência dele.

Assim, como analista, eu precisava enfrentar o impacto de ver-me como uma mente primitiva e restrita, experimentando viver muito próxima a áreas de ação, fazendo o trabalho de working toward. Entrando em contato com partes não pensantes de meu paciente, eu fazia contato com o que ele vivia, e sustentando minha capacidade de auto-observação, eu procurava manter a função analítica. O desafio do trabalho era favorecer um ambiente continente e confiável sem ser inesgotável, me envolver com ele e perceber as manobras das partes psicóticas de sua personalidade sem perder a capacidade de observação e pensamento. Diante de estados mentais primitivos, protomentais, precisamos exercitar pelo menos uma centelha de função alfa no paciente (Bion, 1985/2017).

 

Abrindo os olhos para o estranho que habita em nós

À medida que o trabalho analítico se processava num contínuo recomeçar, surgiam pequenas evidências do contato de Moscarda com o estranho em si mesmo - o contato com a própria imagem começava a ganhar certa integração. Em vez de ver-se parcialmente, olho, boca e nariz, via-se agora como um todo, embora sentindo-se feio ou "amarrotado". Aqui o ver-se o remetia a áreas dolorosas, e então surgia material para eu ajudá-lo a discriminar a confusão que fazia entre a feiura estética e a feiura que evocava um estado de desorganização psíquica, despersonalização e precariedade em lidar com as percepções.

Seu olhar, antes sem brilho e espantado, passou a expressar emoções como alegria, tristeza e leveza. Seus cerimoniais e rituais primitivos, de olhar-se no espelho antes das sessões, reduziram em frequência e duração. Sua feição enrijecida, quase muscular, começou a mudar e a ganhar flexibilidade e expressividade. Pequenas nuances de continência de dor mental foram surgindo, ao poder entristecer-se, ao preocupar-se com os gastos e ao nomear certos estados mentais nos quais conseguia, afinal, observar-se vivendo.

Durante alguns anos, o trabalho analítico teve a função de sustentação, de modo que Moscarda não se mantivesse predominantemente em áreas de ataque ao conhecimento e aos elos de ligação. A função continente do contato analítico ajudava-o a não ruir e se desintegrar e a não se tornar um paciente institucionalizado.

Assim, aos poucos, pudemos propiciar condições para a integração de alguns aspectos de sua personalidade, tornando-o mais verdadeiro. Devido a suas inúmeras atuações, precisou interromper o trabalho por estar muito endividado. No entanto, mantém contato esporádico pelo WhatsApp, informando-me que muitas de nossas conversas o têm ajudado a se cuidar. Numa de suas mensagens, enviou-me uma foto, uma espécie de autorretrato em que aparece sorrindo e cuidando de animais, dando-me evidências de que sua autopercepção, antes bastante distorcida, ganhara um jeito próprio, mais integrado, e que um vínculo benigno permaneceu. O estranho agora se evidenciava um pouco mais sustentado, acolhido e cuidado.

 

Referências

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Correspondência:
Maria Luiza Soares Ferreira Borges
Rua Rio Preto, 599
38408-388 Uberlândia, MG
mluizasborges.psi@gmail.com

Recebido em 24/6/2019
Aceito em 12/7/2019

 

 

1 Texto vencedor do Prêmio João Bosco Calábria Oliveira, conferido durante o XXVII Congresso Brasileiro de Psicanálise, realizado em Belo Horizonte (MG), de 19 a 22 de junho de 2019.
2 Inspirado numa carta de John Keats ao irmão, Bion utiliza o termo capacidade negativa para referir-se ao fato de "um homem ser capaz de permanecer em meio a incertezas, mistérios e dúvidas, sem ter que alcançar nervosamente nenhum fato e razão" (Bion, 1970/2006, p. 125).
3 "Ao olhar, sou visto; então, existo. Agora tenho como olhar e ver. Agora olho com criatividade, e o que apercebo também percebo. Mas é bem verdade que procuro não ver aquilo que não está lá para ser visto, a menos que esteja exausto" (Winnicott, 1967/1975, p. 157).
4 "Um aspecto típico da atitude de um indivíduo hipomaníaco em relação a pessoas, princípios e eventos em geral é que ele tem tendências a fazer avaliações exageradas: admiração excessiva (idealização) ou desprezo (desvalorização). A isso se soma a tendência de ver tudo em larga escala, de pensar em números grandes, tudo em harmonia com a grandeza de sua onipotência, através da qual se defende do medo de perder o único objeto que é insubstituível: a mãe pela qual no fundo ainda está de luto" (Klein, 1940/1996b, p. 395).
5 "O substituto é aquilo que não pode satisfazer sem destruir a capacidade para discriminar o real do falso" (Bion, 1992/2000, p. 308).
6 Ver www.la-pieta.org/_page_/gallery/photorama.

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