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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.54 no.4 São Paulo out./dez. 2020

 

DIÁLOGO

 

Rumo a uma forma revisada de pensamento e prática psicanalíticos: a evolução da teoria analítica da mente1

 

Toward a revised form of analytic thinking and practice: the evolution of analytic theory of mind

 

Hacia una forma revisada de pensamiento y práctica psicoanalíticos: la evolución de la teoría analítica de la mente

 

Vers une forme révisée de la pensée et de la pratique psychanalytiques : l'évolution de la théorie analytique de l'esprit

 

 

Thomas H. OgdenI; Tradução Fernanda Sofio

IPsicanalista e supervisor do Instituto Psicanalítico do Norte da Califórnia

Correspondência

 

 


RESUMO

O autor descreve o nascimento da psique conforme cinco teóricos da psicanálise: Freud, Klein, Fairbairn, Winnicott e Bion. Vê isso como fundamental para que possa evoluir uma nova e fértil forma de pensamento e clínica psicanalíticos. A concepção de mente apresentada por cada um desses autores se desenvolve: começa como aparelho para o pensamento (em Freud, Klein e Fairbairn) e torna-se um processo localizado na experiência (em Winnicott e Bion). O trabalho deles inaugura e transforma radicalmente tanto o pensamento daqueles que os precederam como dos que os sucederam. Ao contar essas "histórias" do surgimento da mente, e descrever esse conceito na obra de cada um daqueles teóricos, o autor oferece não apenas sua estrutura narrativa e esclarecimentos acerca do trabalho deles, mas também suas próprias interpretações e extensões dessas ideias.

Palavras-chave: aparelho mental, mente como processo, surgimento da mente, ser, tornar-se


ABSTRACT

The author describes the start of psyche according to five of the psychoanalytic theoreticians: Freud, Klein, Fairbairn, Winnicott and Bion. This is seen as fundamental so there can be a new and fruitful way of thinking and psychoanalytical clinic. The concept of mind presented by each of these authors is developed: it starts as means to the thoughts (Freud, Klein and Fairbairn) and becomes a process found in experience (Winnicott and Bion). Their work completely unveils and transforms both the way of thinking of those coming before them as well as those who came after them. When telling this 'stories' on the origin of the mind, and describing this concept from each of the work of these theoreticians, the author offers, not only his narrative and clarification on their work, but also his own interpretations and scope on these ideas.

Keywords: mental apparatus, mind as a process, mind origin, being, become


RESUMEN

El autor describe el nacimiento de la psique según cinco teóricos del psicoanálisis: Freud, Klein, Fairbairn, Winnicott y Bion. Considera fundamental para que pueda evolucionar una nueva y fértil forma de pensamiento y clínica psicoanalíticos. La concepción de la mente presentada por cada uno de esos autores se desarrolla: empieza como aparato para el pensamiento (en Freud, Klein y Fairbairn) y se convierte en un proceso situado en la experiencia (en Winnicott Bion). Ese trabajo inaugura y trasforma radicalmente tanto el pensamiento de aquellos que los precedieron como de los que los sucedieron. Al contar esas "historias" del origen de la mente, y describir ese concepto en la obra de cada uno de aquellos teóricos, el autor ofrece no solamente su estructura narrativa y explicaciones sobre su trabajo, sino también sus propias interpretaciones y extensiones de esas ideas.

Palabras clave: aparato mental, mente como proceso, surgimiento de la mente, ser, convertirse


RÉSUMÉ

L'auteur décrit la naissance de la psyché selon cinq théoriciens de la psychanalyse : Freud, Klein, Fairbairn, Winnicott et Bion. Il considère ce fait fondamental pour qu'une manière neuve et fertile de pensée et de clinique psychanalytiques puisse évoluer. La conception d'esprit présentée par chacun de ces auteurs se développe : elle commence comme un appareil pour la pensée (chez Freud, Klein et Fairbairn) et devient un processus situé dans l'expérience (chez Winnicott et Bion). Leur travail inaugure et transforme radicalement aussi bien la pensée de ceux que les ont précédés, que celle de ceux que les ont succédé. Lorsqu'il raconte ces « histoires » de l'apparition de l'esprit et décrive ce concept chez l'œuvre de chacun de ces théoriques, l'auteur offre non seulement sa structure narrative et les éclaircissements concernant leur travail, mais aussi ses propres interprétations et les extensions de ces idées.

Mots-clés: appareil psychique, esprit en tant que processus, naissance de l'esprit, être, devenir


 

 

Tenho considerado as obras de Freud, Klein, Fairbairn, Winnicott e Bion como instrumentais no que se refere ao surgimento da mente e à concepção da mente para o desenvolvimento de novas e geradoras sensibilidade e prática psicanalíticas.2 Neste ensaio, irei delinear, na obra desses autores, uma transformação do conceito de mente: inicialmente pensado como "aparelho mental"que possibilita processar a experiência (em Freud, Klein e Fairbairn), torna-se um processo que se dá no próprio ato de experimentar (em Winnicott e Bion). Essa evolução do pensamento pode ser tomada como o caminho percorrido pela noção de mente, de substantivo a verbo, processo que se encontra num perpétuo vir a ser.

Apresentarei um esboço de elementos das teorias de cada um desses pensadores, isto é, hipóteses ou histórias sobre o início da vida psíquica segundo cada um deles. Acrescento o termo histórias aos termos teorias e hipóteses porque ninguém, nem mesmo a mãe mais dedicada, sabe o que é estar dentro do psicossoma de um recém-nascido. Nos últimos anos, a observação de bebês nos trouxe a possibilidade de conhecer algo da experiência dessa mãe e desse bebê, mas não fazemos mais do que inferir e metaforizar sobre o que ocorre na vida interior do bebê. Ainda estamos na mesma posição da pessoa que nasce sem olhos e tenta imaginar o que é poder ver. A pessoa sem olhos pode usar seus outros sentidos e também criar metáforas acerca do que "deve ser" ver, mas tais técnicas não se somam de modo a permitir que a pessoa sem olhos tenha a experiência de ver.

Considero que o estudo das hipóteses de cada um desses teóricos sobre o surgimento da mente crie outra vantagem para o entendimento mais amplo do seu pensamento, incluindo a maneira como, segundo eles, a mente funciona em estágios posteriores da vida. E isso, por sua vez, lança luz sobre o que é ser humano.

Cada um desses teóricos tem mais de uma versão a respeito de tal gênese. Portanto, minha exposição necessariamente transmitirá apenas uma das versões sobre "o começo", o que de certa forma me torna um contador das histórias de cada um deles. Além disso, durante o meu percurso oferecerei as minhas interpretações e contribuições no que tange às ideias em discussão, algumas das quais acredito estarem implícitas nas obras de seus autores. Em outros casos, transmitirei elaborações minhas acerca de suas obras.

Ao escrever este artigo, durante alguns anos, comecei com a hipótese de que as histórias do surgimento da mente em cada um desses cinco teóricos poderiam ser vistas como respostas à pergunta "Qual é o problema para o qual o surgimento da psique é uma solução?". Isso mostrou-se útil para as obras de Freud, Klein e Fairbairn, mas não para as concepções de surgimento da mente nem para o conceito de mente em Winnicott e Bion. Em decorrência, sensibilizei-me em relação a uma mudança radical no pensamento analítico, cujas raízes estão nas obras de Freud, Klein e Fairbairn, e que se concretizou nas obras de Winnicott e Bion. A evolução dessa mudança no pensamento analítico é o cerne deste artigo.

 

Freud

A concepção de Freud sobre o nascimento da mente é uma espécie de colagem que ele criou ao longo de mais de quatro décadas. As partes coladas não foram conectadas em ordem cronológica. Na verdade, a concepção de Freud do estado mais inicial da psique, que ele chamou de sentimento oceânico (1930/1961a, p. 54),3 é uma ideia e um termo apresentados a ele por seu amigo Romain Rolland, numa carta de 1927.

Em O mal-estar na civilização, Freud adotou o termo sentimento oceânico para descrever o estado psíquico mais primitivo: "um sentimento de vinculação indissolúvel, de comunhão com todo o mundo exterior" (1930/1961a, p. 65).

Conforme o ego vai se diferenciando do mundo externo, ele retém um "vestígio" do sentimento oceânico como estado de fundo:

No início, o eu [ego]4 abarca tudo, depois separa de si um mundo externo. Nosso atual sentimento do eu é, portanto, apenas o vestígio atrofiado de um sentimento muito mais abrangente - sim, todo-abrangente -, que correspondia a uma mais íntima ligação do eu com o mundo em torno ... [a]s mesm[a]s com que meu amigo ilustra o sentimento "oceânico". (p. 68)

Aqui, Freud emprega o termo eu (p. 67) (das Ich é melhor traduzido por "o eu", não por "o ego"), mas não oferece uma definição dele. Em vez disso, por meio de uso bastante extraordinário da linguagem, indiretamente estabelece transformações de "eu-dade" [I-ness] (subjetividade) à medida que ocorrem no desenvolvimento, após o estado-sentimento "oceânico" "abrangente":

O bebê lactante ainda não separa seu eu de um mundo exterior, como a fonte das sensações que lhe sobrevêm. Aprende a fazê-lo aos poucos, em resposta a estímulos diversos. Deve impressioná-lo muito que várias das fontes de excitação, em que depois reconhecerá órgãos de seu corpo, possam enviar-lhe sensações a qualquer momento, enquanto outras - entre elas a mais desejada, o peito materno - furtam-se temporariamente a ele, e são trazidas apenas por um grito requisitando ajuda. É assim que ao eu se contrapõe inicialmente um "objeto", como algo que se acha "fora" e somente através de uma ação particular é obrigado a aparecer. (pp. 66-67)

Aqui, Freud está descrevendo o surgimento do sujeito. Com o "nascimento" de um objeto ("algo que se acha 'fora'"), dá-se, no mesmo momento, o nascimento do sujeito: não pode haver objeto separado ("não eu") na ausência de um sujeito ("eu") que o experiencie; e não pode haver um sujeito ("eu") sem um objeto a ser encontrado e experienciado como "não eu".

Ao desenvolver uma concepção do próximo "passo", ou aspecto, no nascimento da mente, Freud retoma uma linha de pensamento apresentada por ele quase 20 anos antes, em "Formulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico": a ideia de que o ego é incapaz de ter sucesso e alcançar o prazer, ou evitar a dor, e de que ele "alucina o atendimento de suas necessidades internas" (1911/1958, pp. 219-220). Por exemplo, ao operar exclusivamente à base do princípio do prazer, alucinações de alimentos desejados não satisfazem a fome. Esse é o ímpeto para que o ego comece a operar com base tanto no princípio do prazer como no princípio da realidade, entrando em relações objetais com objetos externos reais:

Um outro incentivo para que o eu se desprenda da massa de sensações, para que reconheça um "fora", um mundo exterior, é dado pelas frequentes, variadas, inevitáveis sensações de dor e desprazer que, em sua ilimitada vigência, o princípio do prazer busca eliminar e evitar. ... Chega-se ao procedimento que permite, pela orientação intencional da atividade dos sentidos e ação muscular apropriada, distinguir entre o que é interior - pertencente ao eu - e o que é exterior - oriundo de um mundo externo. (Freud, 1930/1961a, p. 67)

Conforme se vê nas passagens que acabo de citar, é por meio das sensações corporais que o ego (o eu) nasce: "Ele é, sobretudo, um eu do corpo" (Freud, 1923/1961b, p. 26).

O conjunto precedente de ideias sobre o que, para Freud, são os estados mais primitivos da mente serve de pano de fundo para sua concepção de formação e elaboração da mente consciente e inconsciente. A mente primordial se depara com os efeitos perturbadores da pressão instintiva que emana do corpo e deve reagir a eles; o instinto, para Freud, é "uma medida do trabalho imposto à psique por sua ligação com o corpo" (1915/1957b, p. 122). O surgimento desse "aparelho mental" (Freud, 1900/1953a) toma a forma do desenvolvimento da capacidade de criar "representante[s] psíquico[s]" (Freud, 1915/1957b, p. 122) de instinto - primeiro, principalmente o instinto sexual (Freud, 1905/1953b). Ou seja, a mente é uma estrutura, um "aparelho mental", para o processamento da experiência corporal derivada do instinto, através da criação de representações psíquicas dessa experiência.

A criação de representantes psíquicos e derivados do instinto sexual (pensamentos, sentimentos, fantasias e impulsos) produz seus próprios problemas, como o fato de que muitas fantasias e impulsos são inaceitáveis, assustadores, vergonhosos, aterrorizantes, excessivos, e assim por diante. Esse conjunto de problemas emocionais desemboca na criação de uma divisão da consciência humana que separa e conecta os aspectos inconscientes e conscientes/pré-conscientes da mente. O conceito de mente inconsciente dinâmica refere-se necessariamente a uma concepção da mente inconsciente e consciente que opera com base em princípios diferentes - o princípio do prazer e o princípio da realidade, respectivamente (Freud, 1911/1958). Nem a ideia de mente inconsciente nem a de mente consciente têm sentido isoladamente: cada uma cria, mantém e nega a outra (Ogden, 1992). Esta pode ser a contribuição mais importante de Freud para o desenvolvimento de uma psicologia geral: "Se fosse preciso concentrar numa palavra a descoberta freudiana, seria incontestavelmente a palavra inconsciente" (Laplanche & Pontalis, 1967/1973, p. 474).

O conceito freudiano de repressão é intrínseco à sua concepção de mente consciente e inconsciente: "A teoria da repressão é o pilar em que repousa o edifício da psicanálise" (Freud, 1914/1957a, p. 16). Repressão é a função psíquica que cria e preserva a separação e a comunicação entre os aspectos conscientes/pré-conscientes e inconscientes da mente. Sem repressão, não há mente inconsciente (ou consciente). Assim, a criação de psique para Freud é a "solução" do problema - que começa no início da infância - de poderosos instintos animais (particularmente, o instinto sexual), instintos esses que são tão perturbadores que um "aparelho mental" precisa ser desenvolvido para lidar com as representações psíquicas do instinto sexual.

Neste ponto da discussão da visão de Freud sobre a criação de mente, acrescento minha própria interpretação de seus escritos. O aparelho mental criado como resposta à pressão instintiva nos protege de nós mesmos (de nossos assustadores e inaceitáveis impulsos e fantasias) e, ao mesmo tempo, preserva partes banidas de nós mesmos. A repressão envia para o exílio aspectos de nós mesmos, ao mesmo tempo que mantém esses aspectos próximos de nós, nunca completamente silenciados, lembrando-nos continuamente de aspectos deserdados de quem somos, lembrando-nos de quem temos medo de ser. Na verdade, estamos "nos enterrando vivos" no inconsciente reprimido, e esses aspectos enterrados do eu estão continuamente "batendo à porta" da barreira da repressão - trata-se da sempre presente ameaça e promessa do "retorno do reprimido" (Freud, 1915/1957c, p. 154).

A repressão, assim concebida, cria e preserva uma forma de consciência dividida porém unitária, na qual renegamos aspectos de nós mesmos e os relegamos ao domínio do inconsciente. O inconsciente psicanalítico é um aspecto misterioso de nós mesmos - nunca completamente compreensível, tornando-se "conhecido" apenas em sua forma "refletida" nos sonhos, sintomas, lapsos verbais, criações artísticas, e assim por diante.

Por meio de nossa dupla consciência, parece que "conseguimos as duas coisas" [we get to have it both ways] - parece que conseguimos a coexistência entre o que tememos e o que abraçamos, o que mantém uma tensão dialética. Entretanto, seria a meu ver impreciso dizer que conseguimos as duas coisas, porque, pelo uso da repressão, figurativamente nos enterramos vivos. A repressão, enquanto preserva inconscientemente o que é demais de nós mesmos para suportarmos, também nos exaure, cortando-nos de nós mesmos. Tornamo-nos menos plenamente nós mesmos. Dessa perspectiva, eu diria que o esforço em ajudar um paciente a restabelecer a si próprio para si mesmo é o objetivo terapêutico da psicanálise. Freud (1900/1953a) quase sempre apontava ser o objetivo da psicanálise tornar consciente o inconsciente (e disponibilizá-lo para o processo secundário do pensamento), o que eu redefiniria da seguinte maneira: o objetivo terapêutico da psicanálise é "retornar com segurança" ao paciente aspectos de si mesmo que foram enterrados vivos e que ainda não morreram.

 

Klein

Se para Freud o mundo psíquico começa com um gemido - "um sentimento de vinculação indissolúvel, de comunhão com todo o mundo exterior" -, para Klein a criação da mente começa com um estrondo. "O ego existe e funciona desde o nascimento" (Klein, 1963/1975f, p. 300) e imediatamente enfrenta um problema emocional urgente.

A compreensão de Klein (1952/1975b, p. 57) sobre a natureza do problema com o qual o ego deve se haver "ab initio" diferencia-se nitidamente do entendimento de Freud (1905/1953b, 1940/1964) acerca das primeiras ansiedades, aquelas que envolvem os representantes psíquicos do instinto sexual e que, segundo Freud, não entram em ação logo no início da vida.

Klein afirma:

Difiro, no entanto, de Freud, na medida em que proponho a hipótese de que a causa primária da ansiedade é o medo de aniquilação, de morte, que surge do trabalho interno da pulsão de morte [death instinct]. ... O medo primordial de ser aniquilado força o ego a agir e engendra as primeiras defesas. (1952/1975b, p. 57)

O primeiro problema emocional que o bebê enfrenta, segundo Klein, deriva da ação do instinto de morte. E o mais primitivo desenvolvimento da mente ocorre conforme o ego é forçado a "agir", respondendo às ansiedades suscitadas pelo instinto de morte. A "ação" tomada pelo ego primordial é a de criar "fantasias inconscientes" (Klein, 1952/1975b), que são por natureza "pré-verbais": "Tudo isso é sentido pelo bebê de um modo muito mais primitivo do que a linguagem pode expressar" (Klein, 1957/1975a, p. 180, nota 1). Por exemplo, fantasia é a forma pela qual o significado é atribuído ao conflito entre, de um lado, sentimentos e impulsos agressivos "extremos e poderosos" (Klein, 1952/1975g, p. 64), derivados do instinto de morte, e, de outro lado, sentimentos amorosos - e "libidinais" (Klein, 1952/1975g, p. 62) - em relação à mãe, derivados do instinto de vida.

A ideia de que a fantasia é a resposta do ego ao "medo primordial de ser aniquilado" é uma contribuição extraordinária para o conceito psicanalítico de surgimento da mente e para o conceito de mente: fantasia é a forma pela qual todo sentido inconsciente é vivenciado, representado e estruturado.

O mundo interno do bebê - a mente inconsciente - é o mundo da fantasia relacionada ao objeto. Em outras palavras, a totalidade da mente inconsciente toma a forma de relações de objeto internas fantasiadas (Klein, 1934/1958). Por exemplo, o sentimento de inveja é "a mais antiga externalização direta do instinto de morte" (Segal, 1964, p. 40), existe no mundo interno como relação fantasiada entre objetos internos. A inveja é um dos principais vínculos emocionais entre a criança e "o seio nutridor ... [que nas fantasias da criança] possui tudo o que [ela] deseja e que tem um fluxo ilimitado de leite e amor que guarda para sua própria gratificação" (Klein, 1957/1975a, p. 183) Entretanto, essa "solução" (a criação de uma estrutura narrativa experimentada sob a forma de fantasia inconsciente) também produz um problema. O fato de que o seio é ao mesmo tempo fonte de leite e de amor que sustenta a vida do bebê faz dele um objeto perigoso, a ser atacado na fantasia. O ego deve, então, tomar ação mais defensiva, criando uma clivagem do seio fantasiado como seio bom e seio mau. Isso permite ao bebê amar com segurança o seio bom e odiar o mau. Portanto, as defesas também são fantasias relacionadas a objetos (Isaacs, 1952; Klein, 1957/1975a).

Fantasiar - a "solução" principal que os bebês encontram para o problema de suas primeiras angústias - representa uma transformação revolucionária na concepção freudiana de inconsciente. Klein postula que, desde o início da vida, diferenciam-se consciente e inconsciente, e que as fantasias inconscientes constituem a totalidade do conteúdo e da estrutura do inconsciente do bebê, o que, por sua vez, afeta poderosamente o desenvolvimento do pensamento e das maneiras de se relacionar com objetos externos:

Fantasias e sentimentos sobre o estado do objeto interno influenciam vitalmente a estrutura do ego. ... É em fantasia que o bebê cinde o objeto e o self; porém, o efeito dessa fantasia é bastante real, porque leva a sentimentos e relações (e, mais tarde, processos de pensamento) ficarem, de fato, isolados uns dos outros [grifo meu]. (Klein, 1946/1975c, p. 6)

Desde o início da vida psíquica ocorre a cisão eu-objeto na fantasia, mas os efeitos da fantasia são "muito reais", na medida em que levam relações de objeto internas e externas a "ficarem, de fato, isoladas umas das outras". Quanto ao mundo interno, o inconsciente se altera em sua estrutura, uma vez que os conjuntos de relações de objeto são separados de outros conjuntos de relações de objeto na fantasia. "E, mais tarde," não apenas as relações internas e externas de objeto se desconectam emocionalmente, mas também os diferentes aspectos do pensamento ("processos de pensamento") "ficam, de fato, isolados uns dos outros". Se, por exemplo, os processos primário e secundário são "desligados", o brincar, o sonho, o aprendizado e o pensamento criativo se tornam severamente limitados ou se extinguem por completo. Além disso, é muito difícil manter a integridade do ego (o sentido de quem somos, eu acrescentaria). Klein, no artigo "Sobre a identificação" (1955/1975d), descreve o esgotamento e, por fim, a morte da psique quando a identificação projetiva é excessiva.

Uma parte fundamental da concepção de Klein sobre o surgimento da mente, que ocorre ao nascer, é sua crença de que a maneira como o bebê vai se virando no mundo é determinada, em grande medida, pela força inata do instinto de morte em relação ao instinto de vida.

A força do ego - refletindo o estado de fusão entre as duas pulsões [instincts] - é, creio, constitucionalmente determinada. Quando, na fusão, predomina a pulsão de vida [life instinct] - o que implica uma ascendência da capacidade de amar - o ego é relativamente forte, e mais capaz de suportar a ansiedade suscitada pela pulsão de morte [death instinct] e de contrabalançá-la. (1958/1975e, pp. 238-239)

É claro que o inverso também é verdade: se o instinto de morte for mais forte do que o instinto de vida, o ego será relativamente fraco e menos capaz de "suportar a ansiedade suscitada pela pulsão de morte [death instinct] e de contrabalançá-la". Consequentemente, estará mais propenso a desenvolver estruturas defensivas patológicas ou uma estrutura psíquica fragmentada.

A ideia de Klein de que o inconsciente é estruturado pela fantasia é bastante diferente do modelo estrutural de Freud (1923/1961b), que concebe a mente como estruturada em id, ego e superego, um comitê metafórico em que o ego tenta administrar o aspecto impulsivo do eu (o id) e o aspecto julgador do eu (o superego), em seus esforços para lidar de forma realista com a realidade externa e assim obter o máximo de prazer e satisfação da vida no mundo externo real. Klein continua a usar o termo ego, mas com um sentido bastante diferente daquele dado por Freud. Na obra de Klein, o ego ("o eu"), que está presente do nascimento em diante, é tanto criador da fantasia inconsciente como uma figura fantasiada - e as fantasias constituem tanto representantes psíquicos do instinto de morte quanto defesas geradas em resposta aos temores de aniquilação "suscitados pelo trabalho do instinto de morte".

 

Fairbairn

A concepção de Fairbairn sobre o nascimento da mente é tão radicalmente diferente da de Klein, quanto a de Klein é diferente da de Freud. Para Fairbairn, o problema emocional mais difícil que o bebê enfrenta no início da vida, e o ímpeto para a criação da mente inconsciente e consciente, é sua experiência da mãe como sendo, ao mesmo tempo, amorosa e não amorosa - "insatisfatória" (Fairbairn, 1940/1952b, p. 13). Esse "problema" é melhor chamado de catástrofe, porque a sobrevivência psíquica e física do bebê depende de sua habilidade para lidar com isso. Essa crise emocional é um aspecto universal da relação inicial com a mãe (real), mas difere muito em intensidade dependendo de fatores constitucionais e da qualidade da forma do cuidado da mãe para com o bebê (Fairbairn, 1944/1952a, 1940/1952b). O fato de Fairbairn entender que a relação com a mãe real está desde o nascimento no âmago da criação da mente e da preservação da sanidade e da vida física do indivíduo foi, na época em que ele publicou esses textos, nada menos que uma contribuição transformadora do conceito psicanalítico de criação da mente consciente e inconsciente.

Para Fairbairn, a experiência do bebê de se sentir inamável por sua mãe real gera nele sentimentos de "vergonha", "inutilidade", "mendicância" e "impotência" (1944/1952a, p. 113). E,

em um nível ainda mais profundo (ou em um estágio anterior), a experiência do bebê é de, por assim dizer, explodir de forma ineficaz e ser completamente esvaziado de libido [amor]. É, portanto, uma experiência de desintegração e de morte psíquica iminente. ... Se ... ele expressa uma necessidade libidinal, é ameaçado com a perda de sua libido (que para ele constitui sua própria bondade) e finalmente com a perda da estrutura do ego que constitui ele mesmo. (p. 113)

Note-se que Fairbairn usa o termo ego - que "está presente desde o nascimento" (Fairbairn, 1963, p. 224) - para se referir não apenas à totalidade da mente consciente e inconsciente, mas também à personalidade como um todo ("ele mesmo"), incluindo os estados subjetivos do indivíduo.

Para Fairbairn, a resposta psíquica do bebê ao sentimento de não ser amado é o surgimento de uma mente criada pela "internalização" da parte insatisfatória da relação com a mãe. A palavra internalização é reinventada por Fairbairn (assim como Freud reinventou a palavra inconsciente e Klein reinventou a palavra fantasia). A internalização deixa de ser uma fantasia introjetiva, como é para Klein e Freud. Quando Fairbairn utiliza o conceito de internalização em relação ao aspecto inicial insatisfatório da relação com a mãe, ele está se referindo a uma mudança estrutural na mente do bebê. Partes do "ego" - que entendo ser sinônimo de self na obra de Fairbairn - são clivadas [split-off] do corpo principal do ego/self e reprimidas. Essas partes reprimidas do ego/self estabelecem relações de objeto de fato (não fantasiadas) para replicar aspectos da relação insatisfatória com o real objeto externo mãe. Os objetos internos são reais, não fantasiados, no sentido de que são, cada um por si, capazes de pensar, sentir e se relacionar enquanto interagem com outros aspectos do ego/self (Fairbairn, 1944/1952a; Ogden, 2010).

A internalização do aspecto insatisfatório da relação com a mãe é o ímpeto para a criação e a estruturação da mente inconsciente. Com a formação de uma mente inconsciente, dá-se, por definição, a formação de uma mente consciente e uma barreira à repressão que regula o movimento de conteúdo emocional (pensamentos e sentimentos) entre as duas. Fairbairn (1944/1952a, 1940/1952b) vê a repressão como uma função do ego inconsciente, que é uma expressão da raiva do bebê contra a mãe insatisfatória por reduzi-lo a um "mendigo" "impotente" (1944/1952a, p. 113).

Para Fairbairn (1944/1952a), a mente reprimida e inconsciente criada dessa maneira se estrutura sob a forma de relações de objeto internas viciantes e em pares entre 1) um aspecto do ego/self que anseia infinitamente pelo amor de um objeto interno estimulante, que jamais retribuirá esse amor, e 2) um aspecto do ego que tenta incessantemente ganhar o amor de um objeto interno rejeitado.

Esse objeto interno mundo é um "sistema fechado" (Fairbairn, 1958, p. 385) no qual, me parece, a principal força motriz é o insaciável (fútil) esforço de transformar os objetos internos maus (tantalizantes e rejeitadores) em objetos internos bons (amorosos) (Ogden 2010). A única saída desse sistema fechado é redirecionar laços libidinosos de objetos internos (cindidos do ego/self) para objetos externos reais. Essa transformação dos vínculos viciados de objetos internos em vínculos amorosos com objetos externos reais é o último passo, jamais completado, na formação da mente consciente saudável (que está empenhada em relacionar-se e internalizar os aspectos admirados e amados dos objetos externos reais) e da mente inconsciente (que está tomada por vínculos viciados entre objetos internos).5

Em resumo, Fairbairn introduziu uma mudança radical na concepção de surgimento da mente. Na perspectiva de Klein, e em menor grau na de Freud, a pressão do instinto (o instinto de morte e o instinto sexual, respectivamente) apresenta ao bebê, desde cedo, "um problema" que força o ego "a agir" (Klein, 1952/1975b, p. 57) - ou seja, a elaborar a mente consciente e a inconsciente, e a criar a estrutura de cada uma. Por sua vez, Fairbairn concebeu "o problema" enfrentado pelo bebê como uma ameaça de morte psíquica em consequência de sua experiência do aspecto não amoroso do objeto externo mãe. A "solução" para o problema é a formação de um mundo inconsciente interno estruturado por vínculos viciados entre aspectos cindidos do ego/self.

 

Winnicott

Ao passar da questão da gênese da psique segundo Freud, Klein e Fairbairn para as ideias de Winnicott sobre o mesmo assunto, tenho a sensação de estar entrando em um domínio inteiramente novo. Winnicott promoveu uma transformação revolucionária na psicanálise, não apenas ao repensar as origens psíquicas como também ao introduzir uma forma de pensamento analítico - "pensamento ontológico" (Ogden, 2019) - que vinha sendo um aspecto da teoria e da prática psicanalíticas, mas que não havia sido elaborada, descrita ou praticada como o foi por Winnicott.

Ao estudar o conceito de Winnicott sobre a vida mais inicial do bebê, somos imediatamente confrontados com um paradoxo "segundo o qual 'a mente não existe realmente como uma entidade'" (1949/1965c, p. 243). Para Winnicott, a entidade que existe desde o início é o psicossoma, caracterizado por psique e soma como duas inseparáveis partes de um todo:

A mente não existe enquanto entidade no esquema individual das coisas, sempre que o esquema corporal ou psicossoma desse indivíduo tenha evoluído satisfatoriamente desde os estágios mais primitivos. A mente, então, será apenas um caso especial do funcionamento do psicossoma. (p. 244)

Quando a mãe está

tantalizante ... o funcionamento mental [do bebê] passa a existir por si mesmo, praticamente substituindo a mãe boa e tornando-a desnecessária. ... a psique é "seduzida" para transformar-se nessa mente, rompendo o relacionamento íntimo que anteriormente existia entre ela e o soma. Disto resulta uma psique-mente, um fenômeno patológico. (pp. 246-247)

Portanto, a questão da criação da "mente" na obra de Winnicott deve ser repensada, uma vez que a "mente" (a "psique-mente") é uma entidade patológica. O psicossoma é primário: é a condição com que nasce o bebê (sendo cuidado pela mãe-ambiente).

Ao desenvolver suas ideias a respeito da relação da psique com o soma, Winnicott faz o que para mim é uma declaração espantosa sobre o psicossoma e as origens da experiência do self:

Eis aqui um corpo, sendo que a psique e o soma não devem ser distinguidos um do outro, exceto quanto à direção desde a qual estivermos olhando. É possível olhar para o desenvolvimento do corpo ou da mente. Suponho que a palavra psique, aqui, significa elaboração imaginária [imaginative] dos elementos, sentimentos e funções somáticos, ou seja, da vitalidade física. (p. 244)

A parte final desse trecho sempre me apanha de surpresa. Imagino que as palavras serão "vitalidade psíquica", não "vitalidade física". Mas é precisamente isso que Winnicott está dizendo. "A palavra psique, aqui, significa" elaborar criativamente as peças, os sentimentos e as funções do soma. E eu acrescentaria: suponho que a palavra soma confira fisicalidade às funções psíquicas de pensar, sentir, brincar, imaginar e fantasiar - em suma, de vitalidade psíquica. Isso, penso eu, é o que Winnicott quis dizer no trecho "a psique e o soma não devem ser distinguidos um do outro, exceto quanto à direção desde a qual estivermos olhando".

Winnicott concebe psique e soma de forma nova para o pensamento psicanalítico. Define-os não como substantivos, mas como verbos. A psique deixa de ser um aparelho mental, um intermediário para o processamento da experiência vivida. Ela é, para Winnicott, a experiência de elaborar imaginativamente o soma, criando assim vitalidade física. E, olhando para o psicossoma de outra "direção", o soma é a experiência de conferir fisicalidade à experiência psíquica, criando vitalidade psíquica. A psique deixa de ser uma resposta defensiva às pressões corporais (instintivas) (como em Freud e Klein) ou à relação insatisfatória com a mãe (Fairbairn); ao contrário, a psique, "no início", segundo Winnicott, é o próprio ato de elaborar de forma imaginativa o soma, criando assim "vitalidade física" (p. 244).

Winnicott está reinventando a palavra vitalidade, assim como Freud reinventou a palavra inconsciente, Klein reinventou a palavra fantasia e Fairbairn reinventou a palavra internalização. A criação da experiência que combina vitalidade física e vitalidade psíquica é o que define o nascimento do psicossoma - um nascimento que só pode ocorrer em um "ambiente ... que se adapta ativamente às necessidades do recém-criado psicossoma" (p. 245).

Para Winnicott, o pano de fundo essencial para tudo o que o bebê vive (inclusive a realização da vitalidade psíquica e somática) é o papel da mãe real. Mesmo antes do nascimento do bebê, a mãe entra em um estado de "preocupação materna primária" (Winnicott, 1956/1965d), um estado de ser no qual ela não é mais, em grande medida, uma pessoa separada do bebê, "o bebê ... é parte dela mesma" (Winnicott, 1953/1971c, p. 12). Sob quaisquer outras circunstâncias, o estado de ser da mãe, conforme ela se prepara para o nascimento do bebê, e nos primeiros dias após o nascimento, seria considerado "uma doença" (1956/1965d, p. 302). Assim que o bebê nasce, a mãe, nesse estado, "poderá ... sentir-se no lugar do bebê" (p. 304), de tal forma que o bebê é capaz de viver ininterruptamente o estado de "continuar a ser" (Winnicott, 1949/1965c, p. 245) - frase sem sujeito que indica a experiência de estar vivo, sem ainda ser sujeito do bebê. Eis onde se inicia a experiência de estar vivo.

Implícita na discussão do trabalho de Winnicott está a noção de que o nascimento do bebê não é sinônimo de o bebê avivar-se. As ideias de Winnicott sobre a vitalidade psíquica e somática foram apresentadas no artigo de 1949 intitulado "A mente e sua relação com o psicossoma". Quatro anos mais tarde, ele publicou o que a meu ver é seu artigo mais importante, "Objetos transicionais e fenômenos transicionais". Nesse texto (publicado pela primeira vez em 1953 e revisado em 1971), ele não apenas elaborou a ideia de primazia da qualidade de vitalidade na experiência humana; também introduziu novos conceitos, uma nova linguagem e uma nova forma de pensar sobre a experiência humana, os quais simplesmente não existiam antes na psicanálise (embora Winnicott fosse o primeiro a dizer que ele não poderia ter desenvolvido suas ideias na ausência do pensamento analítico que o precedeu). Ele o fez, a meu ver, sem causar alarde.

No artigo "Objetos transicionais e fenômenos transicionais", Winnicott introduziu a ideia de "área intermediária" da experimentação:

Desde o nascimento ... o ser humano está envolvido com o problema da relação entre aquilo que é objetivamente percebido e aquilo que é subjetivamente concebido e, na solução desse problema, não existe saúde para o ser humano que não tenha sido iniciado suficientemente bem pela mãe. A área intermediária a que me refiro é a área que é concedida ao bebê, entre a criatividade primária [em que o bebê experiencia o objeto como se o tivesse criado de forma exata (just right)] e a percepção objetiva baseada no teste de realidade [em que o bebê experiencia o objeto como descoberta]. Os fenômenos transicionais representam os primeiros estádios do uso da ilusão, sem os quais não existe significado para o ser humano na ideia de uma relação com um objeto que é por outros percebido como externo a esse ser. (1953/1971c, p. 11)

Sem capacidade de gerar essa área intermediária da experiência, "não existe significado para o ser humano ... [em] relação com ... [o objeto mundo] externo". Então, pode-se dizer que há um segundo início da vitalidade psíquica e corporal (o primeiro ocorre no estado de continuar a ser sem sujeito). Quando o bebê entra na área intermediária de experimentação, começa a experimentar o mundo tanto como criação e descoberta quanto como "vivo e real" (Winnicott, 1953/1971c, p. 9) - e ao mesmo tempo como nenhuma das alternativas. A área intermediária dos fenômenos transicionais, "que existe (mas não pode existir)" (Winnicott, 1971b, p. 107), é uma área paradoxal, em que o objeto não é um objeto interno nem um objeto externo, que "jamais está sob o controle mágico, como o objeto interno, nem tampouco fora de controle, como a mãe real", e que nem o bebê "concebeu", nem "lhe foi apresentado" a partir do mundo externo (Winnicott, 1953/1971c, pp. 10 e 12). E o bebê é e não é sujeito separado dos objetos entendidos por observadores como externos ao bebê. Esses paradoxos devem ser "aceito[s], tolerado[s] e respeitado[s]", não solucionados, pois "o preço disso [dessa solução] é a perda do valor do próprio paradoxo" (Winnicott, 1971a, p. XII).

O estado de ser gerado na área intermediária é o início do que "é sentido pelo indivíduo como formando o cerne do eu imaginário" (Winnicott, 1949/1965c, p. 244), o início do "lugar em que vivemos" (Winnicott, 1971b, p. 104), o lugar de onde realmente chegamos à vida de um jeito que tem "toda a sensação de ser real" (Winnicott, 1963/1965a, p. 184).

As questões que tenho levantado em Freud, Klein e Fairbairn a respeito do nascimento da mente devem ser repensadas e reformuladas para nos aproximarmos de Winnicott. Para ele, a questão deixa de ser "Como conceber o surgimento da mente?", e torna-se "Como o bebê ganha vida, e como tem suas primeiras experiências de vitalidade física e psíquica?".

Seria omitir uma dimensão essencial do conceito de Winnicott do início da vida e do início da mente não mencionar o fato de que seu conhecimento desse início derivou, em grande medida, de sua experiência como pediatra, que coloriu fortemente sua maneira de estar na presença de mães e filhos e escrever sobre eles, assim como coloriu sua conceptualização dos estágios iniciais da vida humana.

Concebendo uma conversa imaginária com uma mãe de recém-nascido, Winnicott escreveu:

[Você] terá certamente uma curiosa impressão dele [seu bebê] quando ele lhe for entregue apenas para que você o amamente. Nessa ocasião, ele é um feixe de descontentamento, um ser humano, sem dúvida, mas com leões e tigres à solta dentro dele. E estará quase certamente assustado por seus próprios sentimentos. Se ninguém lhe explicou tudo isso, você poderá ficar igualmente assustada. (1964, p. 23)

Em outro artigo, Winnicott diz:

A mãe deve ser capaz de tolerar o sentimento de ódio contra o bebê sem fazer nada a esse respeito. ... O ponto mais interessante a respeito da mãe é sua capacidade de ser tão agredida e sentir tanto ódio por seu bebê sem vingar-se dele, e sua aptidão para esperar por recompensas que podem vir ou não muito mais tarde. (1947/1965b, p. 202)

Cito essas linhas e lembro algo que James Grotstein me contou depois de cerca de 30 anos de amizade: ele disse que o inglês era sua segunda língua. Fiquei atônito. Em todo o tempo que nos conhecíamos, nunca tinha mencionado isso! Perguntei qual fora sua primeira língua, e ele respondeu: "A língua dos bebês" [baby talk].

 

Bion

Assim como ao abordar Winnicott em relação à questão da gênese psíquica e ao conceito de mente, ao me aproximar da obra de Bion encontro uma forma de pensar radicalmente nova. Bion descreve a gênese psíquica por duas vias que diferem não apenas conceitualmente, mas também pelo modo como contou "suas histórias". Parece-me que uma grande mudança em sua forma de pensar se iniciou com Elementos de psicanálise (1963) e foi mais detalhada nos trabalhos que se seguiram. A "história" que eu vou contar é minha versão da história de Bion sobre as circunstâncias do início da vida psíquica. Vou tentar contar essa história de maneira a captar a tensão generativa entre o trabalho do "Bion inicial" (pré-1963) e o do "Bion tardio" (1963-1979).

Para o "Bion inicial", desde o início da vida o bebê é bombardeado com impressões sensoriais cruas vividas como sensação "de estar morrendo" (Bion, 1962b, p. 116), que tomo como sentimento de aniquilação iminente:

A personalidade do bebê não é capaz de, por si só, fazer uso dos dados sensoriais [impressões de sentido bruto que Bion chama de elementos beta]; tendo, porém, de evacuar esses elementos na mãe, confiando em que ela faça o que quer que tenha de ser feito para transformá-los, de modo que se tornem adequados ao emprego, por parte do bebê, como elementos alfa [pensamentos rudimentares que podem se ligar no processo de pensar e sonhar]. (p. 116)

Bion continua:

A capacidade de reverie da mãe é o órgão receptor da colheita de sensações que o bebê, através de [sua vivência emocional] consciente, experimenta em relação a si mesmo. ... Dá-se um desenvolvimento normal se a relação entre o bebê e o seio permitir que o bebê projete, na mãe, a sensação, digamos, de ele estar morrendo; e que o bebê reintrojete essa sensação, após a permanência no seio ter feito com que ela se torne suportável para a sua psique. (p. 116)

Assim, de início, numa relação mãe-bebê sadia, a "capacidade de reverie" da mãe, seu sonhar a experiência do bebê, transforma pensamentos e sentimentos que ainda não são pensáveis para o bebê numa forma em que seu "aparelho" mental rudimentar e inato (p. 117) é capaz de utilizar no processo de pensar e de sonhar. (Sonhar, para Bion, é sinônimo de trabalho psicológico inconsciente, nosso modo mais rico de pensar.) Porém,

se a projeção não for aceita pela mãe, o bebê sente que se retirou da sensação dele, de estar morrendo, o significado que esta possui. Consequentemente, reintrojeta não um medo de morrer, agora tolerável, mas um pavor indefinível, sem nome. ... A consciência rudimentar não consegue suportar a carga nela depositada. O estabelecimento, interno, de um objeto-que-rejeita-a-identificação-projetiva significa que, em lugar de um objeto [interno] compreensivo, o bebê fica com um objeto[interno]-que-não-entende-propositadamente. (pp. 116-117)

As circunstâncias do início da vida, para o "Bion inicial", envolvem duas pessoas (que não são vivenciadas como duas pessoas) vivendo/sonhando experiências juntas. Deve-se considerar que o trabalho da mãe em estado de reverie receptiva é altamente exigente, e inclui ser habitada pela "violência da emoção" do bebê (Bion, 1962a, p. 10).

Parece-me que a descrição de Poe de um certo tipo de pensamento - "pensamentos não pensados que são as almas dos pensamentos" (1848/1992, p. 80) - captura a essência paradoxal do conceito de Bion de "impressões sensoriais cruas" (a forma imediata e não processada pela qual registramos impressões da experiência emocional). Essas impressões de sentido são "não pensadas", na medida em que não podem ser vinculadas ao processo do pensamento - são dados sensoriais brutos ainda a serem organizados. Ao mesmo tempo, são "as almas dos pensamentos", na medida em que são a única conexão direta com nossa experiência vivida e, como tal, são o núcleo vivo (a "alma") de cada pensamento e sentimento que resulta do processamento dos dados brutos. As impressões sensoriais do bebê são tudo o que ele tem da experiência de estar vivo, o que continua a ser o caso ao longo da vida.

No início, porém, o bebê é inundado por dados sensoriais derivados de sua experiência emocional vivida: "a consciência rudimentar não consegue suportar a carga nela depositada", o que não dá ao bebê outra alternativa além de "evacuar" os dados sensoriais dentro da mãe. A mãe, em estado de reverie ativamente receptiva, vive com o bebê o que ele não consegue pensar/experienciar por conta própria. Essa experiência da mãe e do bebê vivendo algo juntos cria condições emocionais em que os dados sensoriais brutos podem ser alterados de tal forma que o bebê pense e sinta sua experiência por si próprio.

Mas quando a mãe e o bebê não são capazes de transformar os dados brutos sensoriais do bebê, seus "pensamentos não pensados" são despojados do significado que tinham. Essa experiência com a mãe é internalizada, enquanto parte do bebê ataca seu próprio processo de pensamento.

No início de sua obra, o pensamento de Bion caracteriza-se pela abordagem hermenêutica6 - por exemplo, na forma como ele concebe a mãe e o bebê trabalhando/vivendo/sonhando juntos, tornando pensamentos e sentimentos impensáveis em utilizáveis pelo aparelho de pensamento do bebê. (A ideia de que o papel da mãe na reverie é viver uma experiência com o bebê é como eu entendo o que ocorre na reverie materna precoce, mas acho que isso está implícito no trabalho inicial de Bion.)

O pensamento de Bion sobre o surgimento da mente, em suas primeiras obras, tem semelhanças com o de Freud, Klein e Fairbairn, no que diz respeito à noção de o pensamento inicial do bebê ser a "solução" (Bion, 1962a, p. 80) para um problema. Para Bion, o problema a ser solucionado são pensamentos impensáveis: desde o início, "o pensar passa a existir para dar conta dos pensamentos [impensáveis]" (Bion, 1962b, p. 29).

A teoria de surgimento da mente no "Bion tardio" é bem diferente das ideias que estão em seu trabalho inicial, embora não as contrarie. O "Bion tardio" é um pensador que fundamentalmente se preocupa mais com os assuntos relativos a ser e tornar-se no momento presente, e não com as questões de saber e compreender (Ogden, 2019). Seu artigo "Notas sobre memória e desejo" é algo como um manifesto sobre esse assunto. Ele instrui o psicanalista: "Obedeça às seguintes regras: 1) Memória: Não se recorde de sessões passadas; ... 2) Desejos: ... Não se deve permitir que desejos de resultados, de 'cura' ou mesmo de compreensão proliferem [na mente do analista]" (1967/2013, p. 137).

E mais adiante nesse artigo: "O psicanalista deve esforçar-se por alcançar um estado mental tal que a cada sessão ele sinta que nunca viu o paciente antes. Se ele sente que viu, está tratando o paciente errado" (p. 138). Nosso desejo reflexivo de reviver o passado (talvez a fim de "acertar" dessa vez) ou de nos imaginarmos no futuro (que se baseia na fantasia onipotente de que temos o poder de prever e controlar o que vai acontecer) nos afasta da realidade do momento presente, o único momento no qual o indivíduo (o paciente, o analista, o bebê) é, e está surgindo.

A convicção de saber ou vir a saber a respeito da realidade é falaz por não ser ela algo de que se possa saber. É impossível saber sobre a realidade, como o é cantar batatas; cultivam-se, colhem-se ou se comem, mas não se cantam batatas. A realidade só pode ser "sida": requer-se um verbo "ser" transitivo, para usá-lo na relação com o termo "realidade". (Bion, 1965, p. 148)

A própria escrita, nessa passagem, cria para o leitor uma oportunidade de experimentar estar vivo em ideias, humor e criatividade na experiência de leitura. Para que seja uma experiência real de leitura, o leitor deve tornar-se a realidade da leitura da obra escrita. Educação, psicanálise e ser mãe ou pai são, demasiadas vezes, exercícios de conhecimento, ao contrário de experiências de se tornar a realidade da leitura ou de "'ser tornado' o que é 'real'" (Bion, 1965, p. 148) na sessão analítica.

Em outras palavras, para o "Bion tardio", tornar-se vivo (e isso inclui tornar-se vivo para a própria experiência ao nascer) é o ato de tornar-se a realidade do momento que se vive de forma tão livre quanto possível do que se pensa que vai acontecer ou do que se deseja que estivesse acontecendo, pois esses desejos entorpecem os sentidos, matam a vivacidade e a realidade do que está ocorrendo naquele momento. Cada novo pensamento, cada "cesura" (Bion, 1976, p. 296), incluindo a cesura de nascimento, cada experiência de alegria, surpresa, turbulência emocional, tumulto ou colapso, é uma oportunidade de viver a realidade de forma renovada.

Bion, em seus últimos escritos, vê o nascimento como uma das cesuras mais dramáticas da vida de cada indivíduo. Além disso, como todas as outras cesuras, trata-se de uma oportunidade de viver a realidade de uma maneira renovada, turbulenta e com vivacidade única. O nascimento é vivido inevitavelmente como "excessivo". Requer algum grau de repressão, e "a repressão é uma espécie de morte". Entretanto, apesar da inevitável repressão, o nascimento é a abertura da vida em algo tão novo como, "no início do Livro Terceiro [do Paraíso perdido de Milton], a invocação à Luz, 'Resgatado do infinito vazio e sem forma'" (Bion, 1976, p. 296).

Dessa perspectiva, o bebê não nasce simplesmente sem forma e precisando da ajuda de uma mãe que o organize e que "contenha" (Bion, 1962a, 1970) sua experiência, como ocorre ao bebê do "Bion inicial". Eu acrescentaria que, embora Bion nunca descreva dessa maneira, o bebê é "um inocente", no melhor sentido da palavra. Ou seja, não está sobrecarregado como estará em breve com o "entendimento" que têm os adultos. Dada a relativa liberdade do bebê dos "entendimentos", sua forma de viver/tornar-se é nova, imediata e vívida (se for ajudado por sua mãe com relação a seus "pensamentos impensáveis", como descrito no trabalho do "Bion inicial"). Mas a experiência do bebê ao nascer é tão turbulenta e angustiante que o leva, às vezes, a recorrer à repressão, "um tipo de morte".

Essa concepção do surgimento da mente, que enfatiza a necessidade de não saber, de não compreender, mas em vez disso de tornar-se a realidade do que está ocorrendo, acrescenta uma nova dimensão ao entendimento do surgimento da mente encontrado no trabalho inicial de Bion, embora não substitua esse trabalho anterior. Ao contrário, ela mantém-se em tensão dialética com o texto mais linear (hermenêutico).

 

Comentário final

As histórias do surgimento da mente segundo Freud, Klein, Fairbairn, Winnicott e Bion incorporam conceitos de mente, conforme articulei. Tracei certo movimento no conceito psicanalítico de mente, desde quando entendido como aparelho para o pensamento e para lidar com pressões internas e externas (nas obras de Freud, Klein e Fairbairn) até quando se tornou um conceito de mente como processo, experiência que se propaga ao se estar vivo e até o momento presente (nas obras de Winnicott e Bion). Essa evolução no pensamento analítico é parte de uma nova e vital etapa do desenvolvimento da psicanálise, na qual a ênfase no pensamento e na prática epistemológicos (que tem a ver com conhecer e compreender) está se transformando em ênfase no pensamento e na prática ontológicos (que tem a ver com ser e tornar-se).

 

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Correspondência:
Thomas H. Ogden
306 Laurel Street
São Francisco, CA 94118
thomas.ogdenmd@gmail.com

Recebido em 6/1/2021
Aceito em 13/1/2021

 

 

1 Trabalho original publicado em 2020: The Psychoanalytic Quarterly, 89(2),219-243. https://doi.org/fpqv
2 Para uma discussão sobre a crescente mudança de ênfase em psicanálise de uma abordagem epistemológica (que tem a ver com conhecimento e compreensão) para uma abordagem ontológica (que tem a ver com experiências de ser e de tornar-se), cf. Ogden (2019).
3 NT: as traduções consultadas para as citações estão indicadas entre colchetes na seção de referências, ao lado das edições consultadas por Ogden.
4 NT: a Edição standard, citada por Ogden, emprega o termo ego, não eu. Já a edição brasileira traduzida por Paulo César de Souza, utilizada aqui, emprega o termo eu, que Ogden considera a melhor tradução.
5 Essa concepção da mente vê-se refletida na técnica clínica de Fairbairn (1958). Por exemplo, ele rejeitou o uso do divã e, em vez disso, sentava-se à sua mesa, enquanto o paciente sentava em uma cadeira olhando ligeiramente em direção contrária a Fairbairn (embora o objeto sempre estivesse dentro do campo de visão, se o paciente desejasse vê-lo).
6 Estou usando o termo hermenêutica para me referir a um método de interpretação no qual parte de um texto ou uma situação é entendida em relação ao todo, e o todo é entendido em relação à parte, passando-se assim por confusão e apreensão provisória e, por fim, alcançando-se um entendimento mais profundo - ver Habermas (1971) e Ricoeur (1981) sobre psicanálise terapêutica como um processo hermenêutico. A interpretação hermenêutica é dialógica, mas essencialmente de natureza linear.

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