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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.54 no.4 São Paulo out./dez. 2020

 

OUTRAS PALAVRAS

 

Trieb

 

Trieb

 

Trieb

 

Trieb

 

 

Eduardo Zaidan

Membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Mestre em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)

Correspondência

 

 


RESUMO

Duas leituras principais se apresentam sobre o Trieb. Uma delas entende o Trieb como somático. A outra, que este artigo defende, compreende o Trieb como um representante psíquico de estímulos somáticos. Este artigo diferencia três conceitos utilizados por Freud: Instinkt, Reiz e Trieb. Trieb é um conceito-limite, o que não significa que esteja no limite entre o somático e o psíquico. Os Triebe não estão presentes no nascimento, apenas os instintos, que serão pervertidos pelos primeiros. A gênese da sexualidade exige um trabalho psíquico e se dá a partir do apoio. "O pequeno Hans" é utilizado para exemplificar essa posição.

Palavras-chave: pulsão, Freud, Laplanche


ABSTRACT

There are two main conceptions regarding Trieb. The first one understands Trieb as somatic. The other one, which is defended in this article, understands Trieb as a psychical representative of somatic stimuli. It is necessary to differentiate three concepts used by Freud: Instinkt, Reiz and Trieb. Trieb is a limit-concept, which does not mean that Trieb is at the limit between the somatic and the psychical. Triebe is not present at birth, only the instincts, which are perverted by the first ones. The genesis of sexuality requires psychical work and can only be understood though the concept of anaclisis. Little Hans's case is used to exemplify this position.

Keywords: drive, Freud, Laplanche


RESUMEN

Dos lecturas principales se presentan sobre el Trieb. Una de ellas entiende el Trieb como somático. La otra, que defiende este artículo, entiende el Trieb como un representante psíquico de los estímulos somáticos. Este artículo diferencia tres conceptos utilizados por Freud: Instinkt, Reiz y Trieb. Trieb es un concepto-límite, lo que no significa que esté en el límite entre lo somático y lo psíquico. Los Triebe no están presentes al nacer, solo instintos, que serán pervertidos por los primeros. La génesis de la sexualidad requiere un trabajo psíquico y se basa en el apoyo. Se usa el pequeño Hans para ejemplificar esta posición.

Palabras clave: pulsión, Freud, Laplanche


RÉSUMÉ

Deux lectures principales sont présentées concernant le Trieb. L'une d'elles comprend le Trieb comme somatique. L'autre, que cet article défend, comprend le Trieb comme un représentant psychique des stimuli somatiques. Cet article distingue trois concepts utilisés par Freud : Instinkt, Reiz et Trieb. Celui-ci est un concept limite, ce qui ne veut pas dire qu'il est à la limite entre le somatique et le psychique. Les Triebe ne sont pas présents à la naissance, on n'y retrouve que les instincts, qui seront pervertis par les premiers. La genèse de la sexualité exige un travail psychique et repose sur l'étayage. Le petit Hans est utilisé pour illustrer cette position.

Mots-clés: pulsion, Freud, Laplanche


 

 

Uma das leituras consagradas sobre o Trieb é que este consiste em "uma força constante de natureza biológica que emana de fontes orgânicas" (Laplanche & Leclaire, 1966/1981, p. 285). Desse ponto de vista, o Trieb não é psíquico, apenas a Vorstellungsrepräsentanz, representante representativo, por intermédio da qual essa energia biológica adentra a vida psíquica.

Outras passagens do texto freudiano levam para a conclusão contrária, pois nelas Freud não estabelece uma diferença entre Trieb e psychische Repräsentanz, representante psíquico.

Para Strachey predomina o primeiro ponto de vista, especialmente nos textos tardios de Freud, mas com uma ressalva: "Talvez a contradição seja apenas aparente, e a solução se encontre precisamente na própria ambiguidade do conceito - um conceito-limite entre o físico e o mental" (1957, p. 113).

O posicionamento de Laplanche e Pontalis, no verbete representante psíquico do Vocabulário da psicanálise (1967/2016), é mais complexo. Primeiro, dizem que o ponto de vista da Standard edition de reconhecer uma evolução no pensamento freudiano em direção a uma leitura da pulsão como somática não lhes parece aceitável. O vínculo do somático com o psíquico não seria concebido sob o modo de paralelismo ou causalidade, mas seria semelhante à relação entre um delegado e seu mandante. Assim, formulam a hipótese de que a diferença é somente verbal. Quando Freud designa a modificação somática como Trieb, nomeia o representante psíquico como Vorstellungsrepräsentanz, representante representativo. E quando designa a modificação somática como Reiz, estímulo, então é o Trieb que é nomeado como representante psíquico.

Logo em seguida a essa formulação - que na opinião de Souza (2010, p. 139) non è vero, nem ben trovato, porque Freud mantém Vorstellungsrepräsentanz, representante representativo, para designar o representante psíquico, enquanto contrapõe Reiz, o propriamente somático, ao Trieb, que é psíquico - Laplanche e Pontalis (1967/2016, p. 412) se contradizem, pois concluem que o ponto de vista mais rigoroso é aquele segundo o qual a pulsão, considerada como somática, delega representantes psíquicos. Ora, Laplanche e Pontalis não terminam por concordar com Strachey?

A hipótese de Laplanche (1968/2008, pp. 33-34), interpretando Freud com Freud, é que ocorreu um esquecimento, no sentido do recalque, da leitura da gênese da sexualidade ou da pulsão tal como se encontra nos Três ensaios, sendo substituída pela teoria do isso, que tende a situar a pulsão no campo natural e biológico.

Neste artigo, defenderemos que o Trieb é psíquico. Faremos um recorte da teoria freudiana e reservaremos a análise da segunda topologia para outro artigo. Sustentaremos que o Trieb freudiano requer a noção de trabalho psíquico e apresentaremos a importância do apoio na compreensão da gênese da sexualidade. Finalmente, analisaremos um fragmento clínico de "O pequeno Hans".

 

O ponto de vista econômico

Em 1894, em "As neuropsicoses de defesa", Freud introduz a sua hipótese econômica:

Nas funções psíquicas cabe distinguir algo (quantidade de afeto, soma de excitação) que possui todas as propriedades de uma quantidade - embora não tenhamos meios de medi-la -, algo que é suscetível a aumento, diminuição, deslocamento e descarga, e que se difunde pelos traços mnêmicos das representações como o faria uma carga elétrica na superfície dos corpos. (1894/1991, p. 61)

Desde o princípio, está presente a oposição entre neurônio e quantidade, ou, na linguagem clínica, entre representação e afeto, correspondendo o neurônio estritamente à representação, e a quantidade ao afeto. A experiência clínica com as neuroses ensina que existe uma independência entre a representação e o afeto, o que é atestado pelo mecanismo do deslocamento (Laplanche, 1970/2006c, p. 90).

Entretanto, o afeto não tem apenas um aspecto quantitativo, mas também um aspecto qualitativo. Ou, se quisermos colocar em termos linguísticos, se a representação corresponde ao significante, e o afeto ao significado, devemos considerar que o afeto também assume o valor de representação ou de significante (Laplanche, 1980/2006a, pp. 19-20).

É por essa razão que, desde os Estudos sobre a histeria, Freud insiste que não é suficiente recuperar através da hipnose a representação recalcada. O tratamento, já naquela época, exigia um trabalho psíquico, a ab-reação do afeto reprimido. É necessário verbalizar o afeto: "Recordar sem afeto é quase sempre ineficaz" (Breuer & Freud, 1893/2016, p. 23).

Ao afirmar que os histéricos sofrem de reminiscências e que seus sintomas são símbolos mnêmicos, Freud (1910/2013a, pp. 231-232) também ressalta que, embora não se recordem das vivências dolorosas, se prendem afetivamente a elas. O afeto, por conseguinte, assume valor de símbolo. Em Inibição, sintoma e angústia (1926/2014b, p. 23), Freud mantém essa posição, uma vez que argumenta que os próprios estados afetivos são despertados como símbolos mnêmicos.

Conclui-se que o afeto, para além de ser um processo de descarga, tem uma dimensão qualitativa, que é seu aspecto subjetivo, o que sinaliza um trabalho psíquico. Mas um trabalho psíquico sobre o quê?

No Manuscrito e, sobre a origem da angústia, Freud afirma que a excitação endógena se intensifica até alcançar um limiar. Após superar esse limiar, a excitação pode ser empregada psiquicamente, visto que pode entrar em relação com o grupo sexual psíquico. Essa excitação deve passar por uma psychische Verarbeitung, processamento psíquico, para se transformar num afeto sexual, que é um equivalente da libido psíquica (Masson, 1985, p. 80). Não há dúvidas de que a energia que circula pelas representações, oferecendo o suporte energético das formações do inconsciente, é uma energia psíquica. Podemos, inclusive, nomeá-la - é o desejo.

O que dá ao afeto o seu caráter psíquico, qualitativo, é esse processamento psíquico que permite que a excitação circule por representações. Quando a excitação se intensifica, supera o limiar que pode despertar um afeto sexual, mas por diversas razões há uma insuficiência na ligação psíquica, ela é descarregada na forma de angústia.

A angústia, em outras palavras, é um afeto desligado da cadeia representativa. Então, é pura quantidade, não tem qualidade. A angústia1 é descarregada quando, por falta de condições psíquicas, o afeto sexual não se constitui, ou não conserva sua qualidade.

Percebe-se que é necessário que ocorra um salto do biológico para o psíquico, mas esse salto não está absolutamente garantido de antemão, pois supõe-se que os estímulos endógenos sejam "gerados continuamente e que só periodicamente se tornem estímulos psíquicos" (Freud, 1950[1895]/2003, p. 194).

Os Reize, estímulos somáticos, precisam alcançar certa intensidade e se ligar2 aos grupos sexuais psíquicos através de um processamento psíquico, transformando-se em estímulos psíquicos, Triebe, o que nem sempre é possível em função de uma pobreza simbólica. Nesse ponto se esboça o trabalho do objeto: oferecer o suporte simbólico para a psiquização do corpo.

No Projeto (Freud, 1950[1895]/2003, pp. 195-196), também se observa de que maneira os processos de descarga tomam, na relação com o objeto, um sentido comunicativo, o que confere aos afetos um valor significante. Com o aumento da excitação, o bebê procurará alcançar a satisfação através de alterações internas, como a expressão de emoções, gritos e a inervação vascular. Todavia, essa eliminação motora não resulta em alívio, porque o estímulo endógeno permanece. É necessária uma ajuda externa, um indivíduo experiente atento ao estado da criança. A partir do trabalho do objeto, a descarga motora se transforma em comunicação, ou seja, se insere no terreno intersubjetivo, na linguagem.

 

Um conceito-limite

Em seguida ao seu famoso parágrafo epistemológico, Freud escreve: "Um conceito básico assim convencional, provisoriamente ainda um tanto obscuro, mas que não podemos dispensar na psicologia, é o de Triebes". Enquanto Trieb é um dos conceitos fundamentais da psicologia, Reiz, estímulo, é um conceito da fisiologia. Freud prossegue: "o Trieb é um Reiz [estímulo] para a psique" (1915/2010d, p. 53).

Pouco depois, Freud define o Trieb:

Nos aparece como um conceito-limite entre o somático e o psíquico, como o psychischer Repräsentant [representante psíquico] dos Reize [estímulos] oriundos do interior do corpo e que atingem a alma, como uma medida do trabalho imposto à psique por sua ligação com o corpo. (p. 57)

Essa definição do Trieb como Grenzbegriff, conceito-limite, já tinha aparecido anteriormente em "O caso Schreber": "Percebemos o Trieb como o conceito-limite entre o somático e o psíquico, nele vemos o psychischen Repräsentanten [representante psíquico] de poderes orgânicos" (Freud, 1911/2010f, p. 98).

Uma citação semelhante aparece na edição de 1915 dos Três ensaios: "Por Trieb não podemos entender, primeiramente, outra coisa senão a psychische Repräsentanz [representante psíquico] de uma innersomatischen Reizquelle [fonte endossomática de estímulos] que não para de fluir". Assim, conclui Freud, Trieb é um dos conceitos na demarcação (Abgrenzung)3 entre o psíquico e o físico (Körperlichen).4 O Trieb deve ser considerado apenas como medida da exigência de trabalho à psique (Freud, 1905/2016, pp. 66-67).

Em nenhum momento surge ambiguidade sobre a fonte biológica do Trieb, cujo estudo não pertence à psicologia, o que reserva, de um ponto de vista epistemológico, o psíquico como objeto exclusivo da psicologia. E é justamente por isso que Freud define que o Trieb, este sim objeto da psicologia, é psíquico: "Por fonte do Triebes se compreende o processo somático num órgão ou parte do corpo, cujo Reiz [estímulo] é representado na psique pelo Trieb" (Freud, 1915/2010d, p. 59).

Em "A repressão" (1915/2010g), Freud retorna a uma temática desenvolvida em "O caso Schreber" (1911/2010f, pp. 89-90): as fases do recalque. Primeiro, há a fixação, que precede e é condição do recalque. A segunda fase é a eigentliche Verdrängung ou nachdrängen, o recalque propriamente dito ou pós-recalque. Por fim, há o fracasso do recalque e o retorno do recalcado.

A fixação corresponde à Urverdrängung, o recalque originário, que consiste em negar, à psychischen (Vorstellungs-) Repräsentanz do Triebes, representante psíquico (representativo) da pulsão, o acesso ao consciente (Freud, 1915/2010g, pp. 85-86). A diferença entre o recalque originário e o recalque propriamente dito é que, nesse último, o recalcado exerce uma força de atração, o que necessariamente pressupõe o originário. No originário ainda não há separação entre pré-consciente e inconsciente, de maneira que o único mecanismo do recalque originário é o contrainvestimento, o que possibilita a instalação do inconsciente (Freud, 1915/2010c, p. 120).

No artigo "A repressão" há um parágrafo importante:

Em nossa discussão tratamos, até o momento, do recalque de uma Triebrepräsentanz [representante da pulsão], entendendo por isso uma representação ou grupo de representações investido de um determinado montante de energia psíquica (libido, interesse) a partir do Trieb. A observação clínica nos leva agora a decompor o que até então aprendemos como uma unidade, pois nos mostra que é preciso considerar, além da representação, uma outra coisa que representa o Trieb, e o fato de que ela experimenta um destino do recalque que pode ser inteiramente diverso do da representação. Para designar esse outro elemento da psychischen Repräsentanz [representante psíquico] já se encontra estabelecido o termo de montante afetivo; ele corresponde ao Triebe, na medida em que se desligou da representação e acha expressão, proporcional à sua quantidade, em processos que são percebidos como afetos. De agora em diante, ao descrever um caso de recalque, teremos de acompanhar separadamente aquilo em que resultou a representação, devido ao recalque, e o que veio a ser da Triebenergie [energia pulsional] que a ela se ligava. (Freud, 1915/2010g, pp. 91-92)

Portanto, deve-se decompor a Triebrepräsentanz ou psychischen Repräsentanz, representante da pulsão ou representante psíquico, na Vorstellungsrepräsentanz, representante representativo, e no representante afetivo. Observa-se nessa passagem uma equivalência entre a Triebenergie e o montante afetivo, o que prova que a energia pulsional é psíquica.

É necessário, brevemente, determo-nos na questão terminológica. Diferentemente de Vorstellung, representação ou ideia, Repräsentant tem o significado de representante, de delegado, significado que o primeiro conceito não tem. A posição defendida por Laplanche (1970/2006c, p. 26) é que o modelo utilizado por Freud para esclarecer a relação do somático com a psique baseia-se na metáfora de uma delegação. A questão é: o Trieb é somático e busca representantes psíquicos, ou é um representante psíquico de estímulos somáticos?

Strachey, Laplanche e Pontalis concordam que a leitura mais rigorosa é a que sustenta que o Trieb, na verdade, é somático e busca representantes psíquicos. Strachey tenta solucionar essa questão relembrando a ambiguidade do conceito - afinal de contas, é um conceito-limite. Não obstante, por conceito-limite não entendemos que o Trieb se encontre entre o somático e o psíquico, o que Freud jamais disse, mas que é um conceito de demarcação que traça os limites entre o psíquico e o físico. A discussão é de natureza epistemológica, porque se trata da demarcação do próprio objeto da psicanálise.

No entanto, vejamos, de qualquer maneira, por que adotam essa leitura.

A passagem decisiva para caracterizar o Trieb como somático se encontra na terceira seção de "O inconsciente":

Um Trieb não pode jamais se tornar objeto da consciência, apenas a representação que o representa.5 Mas também no inconsciente ele não pode ser representado senão pela representação. Se o Trieb não se prendesse a uma representação ou não aparecesse como um estado afetivo, nada poderíamos saber sobre ele. Mas se, no entanto, falamos de uma Triebregung [moção pulsional] inconsciente ou uma Triebregung [moção pulsional] recalcada, trata-se de uma inócua negligência de expressão. Só podemos estar nos referindo a uma Triebregung [moção pulsional] cuja Vorstellungsrepräsentanz [representante representativo] é inconsciente, pois outra coisa não poderia entrar em consideração. (Freud, 1915/2010c, pp. 114-115)

Uma das principais leituras desse trecho é que o Trieb não está em nenhum lugar da vida psíquica, não é sobre ele que incide o recalque; não é nem consciente nem inconsciente. O Trieb só entraria no circuito da vida psíquica através da mediação da Vorstellungsrepräsentanz (Laplanche & Leclaire, 1966/1981, p. 289).

Essa posição se ancora também no desenvolvimento da noção do isso, com a segunda topologia, assim como em um artigo de 1926 chamado "Psicanálise": "Originalmente estas forças são todas da natureza de Triebe, ou seja, de origem orgânica, caracterizadas por enorme capacidade somática (compulsão à repetição), e acham sua psychische Vertretung [representante psíquico] em representações investidas de afeto" (Freud, 1926/2014c, p. 315).

Em nossa opinião é importante diferenciar Instinkt, Reiz e Trieb. Laplanche e Pontalis resgatam a noção de apoio justamente para afirmar que a pulsão sexual não é natural, caso contrário perderíamos um dos pilares da teoria das pulsões de Freud: a total separação entre a pulsão e o seu objeto. De que maneira é possível sustentar o polimorfismo da sexualidade infantil, o autoerotismo e o apoio, e reconhecer, ao mesmo tempo, que a pulsão é somática?

É preciso supor que no nascimento está presente somente o instinto, que será pervertido pela pulsão. Ou seja, só há pulsão na medida em que ocorre a fixação ao representante psíquico no recalque originário. O recalque originário, então, é o tempo da inscrição da pulsão no aparelho psíquico.

Em Inibição, sintoma e angústia, Freud retorna ao mecanismo do recalque originário: "É perfeitamente plausível que fatores quantitativos, como a intensidade muito grande da excitação e a ruptura da proteção contra estímulos, sejam as causas imediatas dos recalques originários" (1926/2014b, p. 24). Logo, os recalques originários operam no sentido de ligar psiquicamente uma energia que produz uma efração traumática no aparelho psíquico. Essa energia encontra uma inscrição no aparelho psíquico através de uma psychische Repräsentanz, representante psíquico. Esse é o trabalho imposto à psique pelo corpo. Mas é um trabalho que se dá numa relação intersubjetiva. Lembrem que a proteção contra estímulos existe apenas quanto aos estímulos externos. É um outro que, originalmente, invade o aparelho psíquico de maneira traumática, mobilizando o recalque originário. O Trieb é despertado pelo outro.

 

O apoio

Uma noção central da primeira teoria das pulsões de Freud é a Anlehnung,6 apoio. Nos Três ensaios (1905/2016, pp. 85-91), Freud afirma que, no início, a sexualidade se apoia nas funções de conservação da vida, nas funções vitais do organismo. Portanto, no princípio as pulsões sexuais se apoiam nas pulsões do eu ou de autoconservação, para somente depois se tornarem independentes delas (Freud, 1914/2010e, pp. 31-32).

Ora, a seguinte questão se faz necessária: a conservação da vida, a necessidade de alimento, as funções vitais do corpo merecem ser caracterizadas como pulsões? Com razão, Laplanche (1970/2006c, p. 31) argumenta que as pulsões do eu ou de autoconservação são, na verdade, instintos.7 Se a atividade sexual se apoia na autoconservação, então há, por conseguinte, um apoio da pulsão sexual no instinto.

Em plena vigência da primeira teoria das pulsões, os elementos da pulsão - a pressão (Drang), a meta (Ziel), o objeto (Objekt) e a fonte (Quelle) (Freud, 1915/2010d, p. 57) - se aplicam tanto às pulsões sexuais como aos instintos do eu ou de autoconservação. Por exemplo: no instinto de nutrição há uma pressão, a fome; há uma meta, a saciação da fome pela alimentação; há um objeto, o leite; e há uma fonte, o sistema digestivo (Laplanche, 1970/2006c, p. 32).

É preciso supor que, antes do tempo da sexualidade, haja o tempo da autoconservação. A satisfação da necessidade de nutrição produz um efeito marginal (Nebenwirkung), a excitação sexual, que adquire autonomia em relação às funções vitais (Freud, 1905/2016, pp. 117-118; 1924/2011a, p. 190).

Nos Três ensaios (1905/2016, pp. 142-143), no capítulo elementar sobre a descoberta do objeto, Freud afirma que há uma primeiríssima satisfação sexual vinculada à ingestão do alimento. Depois, o objeto é perdido, talvez na época em que a criança pode formar uma representação total da mãe. É nesse momento, no momento da perda do objeto, que a pulsão sexual se torna autoerótica. O autoerotismo não é originário, já que é ao se desligar da função biológica que a pulsão sexual se torna autoerótica (Freud, 1923/2011b, p. 289).

A passagem do biológico para o psíquico é exposta de maneira clara em A interpretação dos sonhos (Freud, 1900/2019, pp. 617-618). Primeiro, há as exigências da vida sob a forma das necessidades físicas. A vivência de satisfação anula o estímulo (Reiz) interior. A imagem mnêmica do outro que possibilitou a satisfação fica associada à necessidade. Quando a necessidade retorna, uma moção (Regung) psíquica, o desejo, reinveste essa imagem mnêmica para reproduzir a situação da primeira satisfação. É evidente a diferença entre a necessidade biológica, presente desde o princípio, e o desejo, moção psíquica que anseia não o objeto da necessidade, mas a situação intersubjetiva em que se deu a satisfação.

Originalmente, a pulsão sexual não está ligada ao objeto, é independente dele (Freud, 1905/2016, p. 38; 1915/2010d, p. 58), o que pode ser resumido na expressão: o objeto da pulsão sexual é contingente. Ao configurar o nascimento da pulsão apoiado no instinto se combate a ideia de uma sexualidade endógena, natural, uma vez que se assegura a origem infantil e intersubjetiva da pulsão.

Ou seja, a sexualidade nasce como perversão do instinto, como desvio das funções biológicas. O desejo não é natural, visto que tem como premissa a vivência de satisfação, que desperta, anima o desejo. Enquanto a montagem instintiva está presente no nascimento, a sexualidade percorre os trilhos instalados por uma relação intersubjetiva.

Para compreender a gênese da sexualidade deve-se levar em conta estas duas dimensões: a perversão do instinto pela pulsão e o retorno autoerótico dos processos vitais pela fantasia (Laplanche, 1970/2006c, p. 79).

Há que se considerar, adicionalmente, a importância do outro para o despertar da sexualidade. Trata-se, então, da teoria da sedução de Freud, que nunca foi completamente abandonada, porque a mãe, segundo Freud, é uma sedutora, uma vez que, nos cuidados relativos à higiene do bebê, produz excitações que despertam a pulsão sexual do filho. Desse ponto de vista, as zonas erógenas não são predestinadas biologicamente, mas estão em uma localização que favorece o apoio da sexualidade em outras funções do corpo (Freud, 1905/2016, pp. 91 e 144). As zonas erógenas são zonas de troca, zonas dos cuidados parentais, onde se focalizam suas fantasias, especialmente as maternas (Laplanche, 1970/2006c, pp. 40-41).

A fantasia não é o representante psíquico das pulsões. Os Triebe não se confundem com os Reize, do campo da biologia. O Trieb é psíquico, pois não tem o mesmo objeto e meta que o instinto. Não há Trieb fora do universo simbólico.

Isso pode ser exemplificado pela alucinação, que não é uma alucinação da satisfação, mas uma satisfação pela alucinação, já que não se trata de uma descarga pura, a saciação de uma necessidade através da alucinação (Laplanche, 1970/2006c, pp. 111-112). O objeto da alucinação primitiva não é o objeto real que sacia um instinto frustrado. O objeto da pulsão oral certamente não é o leite. Melanie Klein não se refere a leite bom e leite mau, evidentemente porque o objeto interno cindido não é o objeto de um instinto, mas o objeto da pulsão, a fantasia do seio (Laplanche, 1970/2006c, p. 35).

Da mesma maneira, a meta da pulsão oral não é a alimentação, mas a incorporação. O canibalismo da fase oral se situa em um campo da fantasia, de relações objetais e de identificação com o objeto (Laplanche, 1970/2006c, p. 36).

Não faz sentido falar em Trieb antes do desvio do instinto e do retorno autoerótico pela fantasia. O Trieb é psíquico. Situá-lo no corpo é biologizá-lo, é confundi-lo com os estímulos e os instintos.

 

"O pequeno Hans"

Em "Sobre as teorias sexuais infantis" e "O pequeno Hans", Freud afirma que são as excitações no pênis que abrem o caminho para a investigação da existência da vagina: "Ligados a essa excitação estão ímpetos [Antriebe] que a criança não sabe interpretar, obscuros impulsos [Impulse] a fazer algo violento, a penetrar, destroçar, abrir um buraco em algum lugar" (1908/2015b, p. 402).

Hans supunha que o pai e o "faz-pipi" deviam ter algo a ver com a origem dos bebês: "Devia ser um ato violento o que era praticado com a mãe, um destroçamento, um ato de abrir, de penetrar num espaço fechado, para cuja realização o garoto podia sentir dentro de si o impulso [Impuls]" (Freud, 1909/2015a, p. 269).

Contudo, sua investigação esbarrou em uma impossibilidade:

Mas, embora estivesse a caminho de postular a existência da vagina a partir das sensações de seu pênis, ele não conseguia solucionar o mistério, pois em seu conhecimento não havia algo como o que o faz-pipi necessitava; pelo contrário, a convicção de que a mamãe possuía um faz-pipi como o seu atrapalhava a solução. (pp. 269-270)

O que se observa nas crianças são teorias sexuais que se organizam inclusive em detrimento das sensações corporais e da anatomia. Estas não bastam para explicar o conteúdo das fantasias infantis, porque existe uma matriz simbólica nessas fantasias que transcende as sensações - é o caso da teoria fálica. Se no lugar da vagina se enxerga um órgão castrado, então se trata, evidentemente, de uma anatomia fantástica.

Por matriz simbólica, deve-se ter em mente as fantasias originárias (Urphantasien). Freud supõe uma transmissão filogenética dessas fantasias. O que propõem Laplanche e Pontalis (1967/2016, p. 159), no lugar de uma transmissão filogenética hereditária, é compreender as fantasias originárias como tendo um caráter estruturante, a priori.

Em "O Homem dos Ratos", por exemplo, sobre o complexo nuclear das neuroses, Freud (1909/2013b, p. 70) afirma que existem fantasias que contêm um conteúdo uniforme, e parece que importa pouco a contribuição das vivências reais.

Freud supõe, em "O Homem dos Lobos", a existência de "esquemas filogeneticamente herdados, que, à maneira de 'categorias' filosóficas, tratam da colocação das impressões recebidas na vida" (1918/2010b, pp. 157-158). Existe, portanto, um esquema hereditário, que produz uma remodelação das vivências na fantasia.

Em "O pequeno Hans", Freud menciona um "complexo de tomada de posse da mãe". Para "esse algo inapreensível", Hans buscava representantes visuais (bildliche Vertretungen). Encontra-se, nesse ponto, a analogia com "O Homem dos Lobos". Apesar da alusão a "fantasias simbólicas do coito", estas não tinham um conteúdo predefinido, consistiam apenas em "uma vaga noção do que poderia fazer com a mãe", e "não é nada secundário que nelas o pai seja cúmplice" (Freud, 1909/2015a, p. 257).

O fundamental, em "O pequeno Hans", não é algum tipo de intuição do coito, porque isso romperia com uma das premissas da teoria das pulsões de Freud:

Assumir a teoria da fantasia significava assumir que a pulsão sexual produz, por si mesma, seus objetos (como assumem claramente os kleinianos, que levam a teoria da fantasia às suas consequências lógicas). Mas isso significa destruir totalmente a teoria da sexualidade elaborada por Freud, que tem como um de seus pilares básicos a ideia de uma total separação entre a pulsão e o objeto da pulsão. (Monzani, 1991, pp. 100-101)

O que está em jogo na fantasia simbólica do coito é que Hans se depara com uma cena de exclusão e uma interdição: "Eu quero fazer algo com a mamãe, algo proibido, não sei bem o quê, mas você também faz" (Freud, 1909/2015a, p. 257). Essas fantasias simbólicas do coito não são expressões psíquicas de um instinto reprodutor, mas estão vinculadas ao complexo nuclear das neuroses - é a triangulação edípica que, estruturalmente, se apresenta.

No caso clínico, uma passagem ilustra a necessidade de Hans de que o pai ocupasse seu lugar estrutural:

"Por que você acha que estou aborrecido com você?", interrompeu-me nesse ponto o pai, "já lhe bati ou xinguei alguma vez?". "Ah, sim, você já me bateu", corrigiu Hans. "Isso não é verdade. Quando foi?" "Hoje de manhã", disse o pequeno, e o pai se lembrou de que Hans lhe havia esbarrado inesperadamente com a cabeça no estômago, ao que ele lhe dera um golpe com a mão, como que num reflexo. (Freud, 1909/2015a, p. 166)

Enquanto o pai tenta convencer Hans da "realidade", insistindo que não sente raiva do filho (Freud, 1909/2015a, p. 213), Freud fundamenta, para além das contingências, a preeminência da estrutura, das fantasias originárias (Laplanche, 1980/2006a, p. 86).

A fobia de Hans não é um deslocamento do medo pelo pai real, mas é uma suplência por um pai que não joga a função que lhe é atribuída pela estrutura do complexo de Édipo (Laplanche, 1980/2006a, pp. 88-89).

É nesse sentido que Freud utiliza o termo Instinkt, instinto, se referindo a formações psíquicas herdadas no núcleo do inconsciente (Freud, 1915/2010c, p. 138). Essas formações psíquicas herdadas são as fantasias originárias. Esses instintos, como Freud os designa, não possibilitam confundir o Trieb nem com o instinto dos animais nem com os Reize, estímulos.

No Manuscrito n, Freud se pergunta se é possível que os impulsos (Impulse) derivem de fantasias (Masson, 1985, p. 250). Segundo Laplanche e Pontalis (1964/2002, p. 83), Freud não busca a solução para o problema da fantasia numa tese biológica. Pelo contrário, ele faz o jogo pulsional depender de estruturas antecedentes da fantasia. Com essa leitura, combate-se o extravio (fourvoiement) biologizante da sexualidade.

 

Referências

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Correspondência:
Eduardo Zaidan
Avenida Brigadeiro Faria Lima, 1616, conj. 1003
05426-200 São Paulo, SP
Tel.: 11 98914-7528
zaidaneduardo@yahoo.com.br

Recebido em 14/7/2020
Aceito em 15/12/2020

 

 

1 Há uma diferença entre a angústia nas neuroses atuais e nas psiconeuroses. Na histeria é uma excitação psíquica que tomou o caminho errado em direção ao somático, enquanto na neurose de angústia é uma excitação física que nunca ingressou no psíquico. Na neurose de angústia há um deficit nos afetos sexuais, na libido psíquica. Nas psiconeuroses, o afeto, perdendo sua ligação com a representação por causa do recalque, é como que degradado, transformando-se em angústia. É por essa razão que a "moeda corrente universal" dos afetos é a angústia (Freud, 1917/2014a, p. 534). A oposição entre duas angústias é mantida em Inibição, sintoma e angústia (Freud, 1926/2014b, pp. 71-87).
2 Permanece, ao longo de toda a obra freudiana, a importância da noção de Bindung, ligação. Com Além do princípio do prazer (Freud, 1920/2010a) se constata, inclusive, que a Bindung é a tarefa mais primordial do aparelho psíquico, anterior à instalação do princípio do prazer.
3 Forma substantivada do verbo abgrenz, que significa "demarcar", "delimitar". O verbo é composto pelo adjetivo Grenz, que significa "limite", "fronteira". É esse adjetivo que, junto com Begriff, conceito, forma o conceito-limite ou conceito fronteiriço.
4 Adjetivo formado a partir de Körper, "corpo". Freud opõe o corporal, no sentido de corpo físico, ao anímico (Seelischen) ou psíquico.
5 Essa passagem é utilizada por Laplanche e Pontalis (1967/2016, p. 414) para criticar a tradução lacaniana de Vorstellungsrepräsentanz por représentant de la représentation, o que implicaria que o que representa a pulsão não é uma representação, mas outra coisa. É por isso que a tradução por representante da representação está equivocada, sendo preferível representante de representação, representante representativo ou representante-representação.
6 Forma substantivada do verbo lehnen, que corresponde ao verbo inglês to lean. Sua conotação é o aproveitamento de um suporte anterior. O termo foi, por assim dizer, recalcado na tradução da Standard edition, apenas aparecendo como conceito em "Introdução ao narcisismo", em que se traduziu Anlehnungstypus der Objektwahl por anaclitc type of object-choise, escolha anaclítica de objeto.
7 Esse é mais um ponto em que Laplanche (1993/2006b, p. 22) critica Lacan (1966, p. 834), já que esse último afirma que Freud jamais escreveu instinto na sua obra, o que é um desconhecimento da obra freudiana, porque não só Freud utiliza o termo Instinkt com um sentido bastante específico como designa Selbsterhaltungstriebe, pulsões de autoconservação, funções vitais que se encontram no terreno instintivo.

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