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Revista Brasileira de Psicanálise

Print version ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.55 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2021

 

PLENÁRIAS DE VANCOUVER

 

O infantil1: suas múltiplas dimensões

 

The infantile: its multiple aspects

 

Lo infantil: sus múltiples dimensiones

 

L'infantile : ses multiples dimensions

 

 

Bernardo TanisI; Tradução Claudia Berliner

IPh.D. em psicologia clínica. Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e da Associação Psicanalítica Internacional (IPA). Presidente da SBPSP no período 2017-2020. São Paulo / bernardo.tanis@gmail.com

 

 


RESUMO

O objetivo deste texto é apresentar a importância fundamental do infantil para a clínica e a teoria psicanalíticas. O infantil pode ser apreendido na experiência psicanalítica como expressão princeps da realidade psíquica, da dimensão inconsciente da subjetividade humana. O infantil não concerne apenas aos analistas de crianças, pois não é assimilável à infância ou às fases de desenvolvimento. Diferente do infantilismo comportamental, o infantil obedece a uma sobredeterminação causal, não linear, de composição aberta ao acaso, ao incerto. Longe de ser uma memória fotográfica do passado ou de condutas infantis no adulto, o infantil aponta para os modos de registro e inscrição do que Freud chamou de Erlebnis, "vivência infantil". A tese nuclear é que, para o sujeito, na clínica psicanalítica e independentemente de preferências por um ou outro modelo teórico-clínico, estará sempre em jogo a eficácia dessas inscrições, sua metabolização e simbolização possível ou não, e sua força pulsional viva no presente. O infantil não emerge apenas como resistência ou testemunho do recalcamento da sexualidade infantil, mas como representante atual e vivo da busca por uma experiência criativa e reparadora (neogênese) do que não pôde ser experimentado como continuidade de ser, como expressão potencial, como impulso criativo, e que, por incapacidade ou inadequação do objeto primário, teve de ser recalcado ou clivado. Transformar a relação com o infantil não significa eliminá-lo, mas permitir um reordenamento, uma ressignificação para que o novo possa advir. Fonte de desilusão ou inspiração, nunca deixará de ser referência.

Palavras-chave: infantil, memória, temporalidade, sexualidade infantil, enquadre


ABSTRACT

This work aims at showing the extreme importance of the infantile for the psychoanalytical clinic and theory. The infantile may be grasped during the psychoanalytical experience as the princeps expression from psychic reality, from the unconscious of the human subjectivity. The infantile does not concern only children's analysts, as it is not connected to childhood or the development phases; which is different than childish behavior patterns. The infantile follows a casual predominance, non-linear, open to chance, to the doubtful. It is not about having a photographic memory about the past or an adult having childish behavior - the infantile shows what Freud called Erlebnis, "childish perception". The thesis is that, for the subject, the impact of these registrations, their metabolization and symbology, being possible or not, and their strength, is alive in the present, being the subject in a psychoanalytical clinic and not determining preferences for this or that theory-clinical model. The infantile does not emerge only as resistance or testimonial of repressed childhood sexuality, but also as current and vivid representation of the search for a creative and restorative (neogenesis) experience of what couldn't be experimented as the continuity of being, as expression of one's potential, as creative impulse that, due to inability or inadequacy of the primary object, had to be repressed or cleaved. Transforming the relation with the infantile does not mean eliminating it. It is about allowing a reorganization, redefinition, so that something new can arise from it. It can be source of disappointment or inspiration, but it will always be a reference.

Keywords: infantile, memory, temporality, child sexuality, frame


RESUMEN

El objetivo de este texto es presentar la importancia fundamental de lo infantil para la clínica y la teoría psicoanalíticas. Lo infantil puede ser aprehendido en la experiencia psicoanalítica como expresión prínceps de la realidad psíquica, de la dimensión inconsciente de la subjetividad humana. Lo infantil no atañe solo a los analistas de niños, pues no es asimilable a la infancia o las fases de desarrollo; diferente del infantilismo comportamental, lo infantil obedece a una sobredeterminación causal, no linear, de composición abierta al acaso, a lo incierto. Lejos de una memoria fotográfica del pasado o de conductas infantiles en el adulto, lo infantil apunta a los modos de registro e inscripción de lo que Freud llamó Erlebnis, "vivencia infantil". La tesis nuclear es que, para el sujeto, en la clínica psicoanalítica e independientemente de preferencias por este o aquel modelo teórico-clínico, estará siempre en juego la eficacia de estas inscripciones, su metabolización y simbolización posible o no, y su fuerza pulsional viva en el presente. Lo infantil no emerge solo como resistencia o testimonio de la represión de la sexualidad infantil, sino como representante actual y vivo de la búsqueda por una experiencia creativa y reparadora (neogénesis) de lo que no pudo ser experimentado como continuidad de ser, como expresión potencial, como impulso creativo y que, por incapacidad o inadecuación del objeto primario, debió ser reprimido o clivado. Transformar la relación con lo infantil no significa eliminarlo, sino permitir una reordenación, una resignificación para que lo nuevo pueda advenir. Fuente de desilusión o inspiración, nunca dejará de ser referencia.

Palabras clave: infantil, memoria, temporalidad, sexualidad infantil, encuadre


RÉSUMÉ

L'objectif de ce texte, c'est de présenter l'importance fondamentale de l'infantile pour la clinique et la théorie psychanalytique. L'infantile peut être appréhendé dans l'expérience psychanalytique en tant que l'expression princeps de la réalité psychique, de la dimension inconsciente de la subjectivité humaine. L'infantile ne concerne pas seulement les analystes d'enfants, car ce n'est pas assimilable à l'enfance ou aux phases de développement ; contrairement à l'infantilisme comportemental, l'infantile obéit à une surdétermination causale, non linéaire, de composition ouverte au hasard, à l'incertain. L'infantile désigne les manières d'enregistrement et d'inscription de ce que Freud a appelé Erlebnis, « vécu infantile », bien qu'il ne soit pas une mémoire photographique du passé ou de conduites infantiles chez l'adulte. La thèse nucléaire, c'est que, pour le sujet, dans la clinique psychanalytique et indépendamment de préférences par l'un ou l'autre modèle théorique-clinique, il sera toujours en jeu l'efficace de ces inscriptions, sa métabolisation et symbolisation possible ou non, et sa force pulsionnelle vivante à présent. L'infantile n'émerge pas seulement en tant que résistance ou témoin du refoulement de la sexualité infantile, mais en tant que représentant actuel et vivant de la quête d'une expérience créative et réparatrice (néogenèse) de ce qui ne peut pas être expérimenté comme une continuité d'être, comme une expression potentielle, comme une impulsion créative et qui, par incapacité ou inadéquation de l'objet primaire, a dû être refoulé ou clivé. Transformer le rapport avec l'infantile ne signifie pas l'éliminer, mais permettre un reclassement, une resignification pour que le nouveau puisse advenir. Toute en étant une source de désillusion ou d'inspiration, il ne laissera jamais d'être une référence.

Mots-clés: infantile, mémoire, temporalité, sexualité infantile, cadre


 

 

O que é a originalidade? É ver qualquer coisa que ainda não tem nome e que, por isso, não pode ainda ser mencionada, embora esteja mesmo à frente dos olhos de toda a gente. A maioria das pessoas não consegue ver aquilo que não tem um nome. As pessoas originais são as que já deram (ou têm capacidade para dar) nome às coisas.

Friedrich Nietzsche, A gaia ciência

O infantil, em toda a sua riqueza e complexidade, é uma dessas coisas a que Freud deu nome. É uma das principais descobertas freudianas e, como nos diz Virginia Ungar no convite para este congresso, afirmação com que concordo plenamente, "sem a noção do infantil, a psicanálise simplesmente não existiria".

O infantil é marca identificatória do humano; todos os psicanalistas nos ocupamos dessa dimensão psíquica e com ela lidamos. O infantil não compete apenas aos analistas de crianças, pois não é assimilável à infância ou às fases de desenvolvimento. Diferente do infantilismo comportamental, o infantil -sempre sexual na perspectiva freudiana apresentada nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (Freud, 1905/1992) - pode ser apreendido na experiência psicanalítica como expressão princeps da realidade psíquica, da dimensão inconsciente da subjetividade humana. As importantes contribuições de gerações de analistas pós-freudianos enriqueceram nossa compreensão do infantil e a complexidade de formas e conteúdos por meio dos quais se faz presente em nossa clínica o impacto do infantil do paciente na contratransferência.

O infantil obedece a uma sobredeterminação causal, não linear, de composição aberta ao acaso, ao incerto. Longe de ser uma memória fotográfica do passado ou de condutas infantis no adulto, o infantil aponta para os modos de registro e de inscrição do que Freud chamou de Erlebnis, "vivência infantil".

A tese nuclear é que, para o sujeito, na clínica psicanalítica e independentemente de preferências por um ou outro modelo teórico-clínico, estará sempre em jogo a eficácia dessas inscrições, sua metabolização e simbolização possível ou não, e sua força pulsional viva no presente. Nisso reside a vigência da matriz freudiana fundadora de nosso campo.

O infantil é atual, como tão bem formulou Scarfone (2014) em seu belo relatório apresentado no Congresso de Psicanalistas de Língua Francesa (cplf). O infantil se revela e se expressa como um manancial criativo ancorado na dimensão pulsional sublimatória e transicional, dando lugar à construção da experiência cultural e simbólica; também é fonte de sofrimento e mal-estar vinculados às feridas que dão testemunho do encontro com o outro, ao traumático e à pressão da compulsão à repetição. Herdeiro das vicissitudes de uma trama edípica singular, expressa-se também na neurose infantil presente no campo transferencial.

Como lhes apresentar, em um breve texto, uma noção que está entranhada na clínica e na teoria psicanalíticas, multifacetada, que marca a origem e o destino do sujeito? Presente desde as primeiras teorizações freudianas, desde as lembranças encobridoras, passando por sua presença nos sonhos bem como na sexualidade infantil, vinculada à teoria da neurose, é objeto de recalcamento que dá corpo e existência à neurose de transferência, mostrando sua presença viva no presente. Essa noção foi enriquecida pelas contribuições pós-freudianas, por uma maior aproximação dos tempos do infans, as experiências anteriores à aquisição da linguagem (Ferenczi, Klein, Winnicott, Bion, Lacan), ganhando complexidade cada vez maior a partir do reconhecimento da dimensão traumático-pulsional das vivências dos primeiros tempos de nossa existência.

Para lhes transmitir melhor, principalmente para nossos leitores mais jovens, gostaria de ilustrar isso com uma feliz imagem que o escritor Italo Calvino põe como epígrafe em seu belo livro As cidades invisíveis. Quando ardilosamente indagado pelo poderoso Kublai Khan sobre qual pedra sustenta uma ponte, Marco Polo responde que o importante não é esta ou aquela pedra, mas a curva do arco que formam. Diz então Khan: "Por que falar das pedras? Só o arco me interessa". Ao que Marco Polo responde sabiamente: "Sem pedras, o arco não existe" (1972/2013, p. 96). O infantil é arco epedra.

A noção de infantil pode ser compreendida em sua dimensão psicanalítica partindo das originais e complexas perspectivas da psicanálise sobre a memória e a temporalidade, bem como sobre a potência do sexual infantil em seu contexto vincular da constelação edípica e pré-edípica.

Nas últimas décadas, a justificada ênfase dada ao estudo do irrepresentável, da figurabilidade, do pictograma e do arcaico, assim como aos estudos da relação mãe-bebê e da observação de bebês, aproximou o infantil de uma perspectiva de desenvolvimento, de processos contínuos, e acercou a noção de infantil da infância. Isso, como destaca Green, contribuiu para ofuscar a dimensão original do infantil freudiano, sua singularidade heterocrônica e sua diferença com uma psicologia do desenvolvimento. Voltaremos mais adiante a esse importante tema com uma reflexão mais detalhada.

Se os analistas têm modelos metapsicológicos que operam como teorizações sobre o psíquico, estes estão em correspondência com o que entendem explícita ou implicitamente por infantil. Da mesma forma, a transferência mantém um vínculo de pertinência com o conjunto de emergentes que o infantil possibilita ou determina. Não me refiro aqui à transferência exclusivamente como clichê repetitivo de uma forma predeterminada, leitura simplista muitas vezes feita para propor a modernidade de novas modalidades de compreender a situação analítica, mas como o elemento central de um magma pulsional inconsciente, mais ou menos estruturado, que impacta e modela o campo da

Bernardo Tanis relação analítica. O infantil aparece como encruzilhada inconsciente incontrolável de qualquer processo analítico, pela qual é indispensável transitar.

Dada sua vinculação com a história e as Erlebnisse individuais, o infantil foi objeto de leituras reducionistas, tratado como resquício positivista, representante de ideias que proporiam a recuperação ou reconstrução de um passado histórico "tal como foi", rotulando-se o modelo freudiano como se este fosse a arqueologia de uma matéria morta, e ignorando-se seu presente vivo na situação analítica, como tão belamente nos mostrou Florence Guignard (1994), destacando a vigência do infantil no adulto e na maior ou menor elaboração do infantil no analista.

Nos diferentes continentes, surgiram leituras intrigantes e provocadoras. Por exemplo, o desafiador livro A construção do espaço analítico, de Serge Viderman, psicanalista francês que trabalha de modo extremamente interessante e não menos polêmico o lugar da história e da reconstrução em análise. Diz o autor:

Pode-se perguntar ... se será legítimo falar de uma história do sujeito, uma vez que ela só se revela dentro de uma situação e um enfoque tão específicos (situação analítica e campo transferencial) que é possível, com razão, questionar a objetividade das construções. ... Devemos admitir ... que, na realidade psíquica a que o espaço analítico nos faz ter acesso, a história dá lugar ao mito, e a realidade dos acontecimentos históricos à projeção pulsional. (1970/1990, p. 23)

Deixo essa provocação para a reflexão de vocês, mas esclareço que minha leitura do infantil acompanha, nesse ponto, Jean Laplanche, quando diz: "Ornamentar a fantasia com o belo nome de mito não muda em nada, a meu ver, o cerne do problema: a efetividade do originário infantil" (1987/1992, p. 167). Laplanche nos ajuda a abandonar aporias ou polêmicas para colocar o foco do debate clínico no que parece ser o potencial estruturante, e ao mesmo tempo traumático pulsional, do encontro com o outro.

Hoje, este importante congresso retoma, 40 anos depois, à luz dos avanços na clínica atual e das transformações na cultura, o convite que Jean-Bertrand Pontalis fez em 1979, em sua prestigiosa revista Nouvelle Revue de Psychanalyse, a uma investigação do infantil. O que parecia óbvio merecia ser revisitado: uma interrogação radical sobre a infância e o infantil.

Motivado por minha experiência clínica e minhas indagações, escrevi, em 1993, uma tese dedicada a uma extensa investigação sobre o tema, intitulada Memória e temporalidade: sobre o infantil em psicanálise, publicada posteriormente em livro (Tanis, 1995). Em 1994, a Revue Française de Psychanalyse lançava um número especial, Lenfant dans l'adulte, um convite à reflexão sobre o infantil no adulto, com interessantíssimos trabalhos, entre eles os de Brusset (1994) e de Guignard (1994).

Aprendemos muito com Melanie Klein (1975) e sua profunda penetração no universo inconsciente infantil, a riqueza da fantasia inconsciente e a dinâmica dos primeiros tempos da constelação edípica, bem como as angústias e defesas dos primeiros tempos da formação do eu. Também aprendemos com os analisandos não neuróticos; não conseguimos conceber o nascimento do eu sem ser em um vínculo com o outro, como os vários modelos pós-freudianos destacam: confusão de línguas (Ferenczi, 1933/1949), holding e transicionalidade (Winnicott, 1965, 1971/1975b), reverie (Bion, 1967, 1962/1991), implantação de significantes enigmáticos (Laplanche, 1987/1992, 2007/2014b), trauma narcísico-identitário (Roussillon, 1999), intersubjetividades (Mitchel & Aron, 1999), teorias vinculares (Berenstein & Puget, 1997). Esses modelos manifestam e desenvolvem ideias particulares sobre o modo como compreendem o intersubjetivo: alguns enfocam a intersubjetividade desde uma perspectiva dual; outros destacam na intersubjetividade uma dimensão de tercei-ridade, como Green (1995, 2003), que contempla necessariamente a dimensão terceira edípica, assim como a estrutura triádica do signo, tal como formulada por Charles Peirce (1991).

O infantil emerge como essa memória ativa e atual multifacetada de um Erlebnis infantil marcado pelo encontro pulsional com o próprio corpo (autoerotismo) e o do outro, e que, como nos diria Green, se apresenta para a psique assumindo desde as formas mais elaboradas de representação até aquelas de maior expressividade afetiva e menor representação simbólica. Ao longo de sua obra, Freud desenvolveu um gradiente de objetos psíquicos e de múltiplas formas de inscrição e memória, desde as lembranças encobridoras, a amnésia dos primeiros anos de vida, passando pelo agieren transferencial, até a compulsão à repetição do traumático não representado.

O infantil é uma trama complexa marcada pelo recalque do sexual infantil; outras vezes se infiltra pelas gretas do traumático, o desmentido, e retorna em forma de ato ou, segundo mais recentemente disse Roussillon (1999) ao estudar o trauma narcísico-identitário, como retorno do cindido através de ligações não simbólicas que estão na origem de adições, compulsões, somatizações e demais patologias não neuróticas.

Embora haja diferenças na maneira de compreender o lugar do outro (também do Outro) e a intersubjetividade nas distintas teorizações, com consequências para o exercício da clínica, é indiscutível que a situação analítica é concebida como um campo de forças intersubjetivas (Baranger & Baranger, 2008) indissociável da presença inconsciente infantil de ambos os integrantes da dupla, que conserva, no entanto, do meu ponto de vista, a assimetria dos

Bernardo Tanis lugares. O impacto do infantil com toda a sua carga pulsional ordena o campo e é gerador de efeitos contratransferenciais no analista.

O infantil se veicula na associação livre, na transferência sobre o analista, no enquadre e na transferência sobre a linguagem; pode adotar forma de ato e os fenômenos de enactment recíprocos.

Voltando à ponte, às pedras e ao arco, vou tomar, na segunda parte de minha exposição, alguns elementos, sempre parciais, que considero matrizes para aprofundar o debate em torno do infantil:

• memória, temporalidade e história;

• o infantil, o sexual e as questões de gênero;

• o dispositivo analítico, a transferência e as condições de simbolização;

• o infantil e a criatividade.

 

Memória, temporalidade e história

As indagações sobre a temporalidade constituem um mosaico de recomposições múltiplas e sempre abertas. A noção de tempo tem um papel fundamental como elemento instituinte da subjetividade, já que alberga e acolhe o vivencial como possibilidade narrativa e criativa do eu e da cultura. Um dos principais eixos de nossa matriz subjetiva é atravessado pelo infantil, pelos tempos de inscrição, pela atemporalidade do inconsciente e sua vigência atual.

Nos últimos anos foram publicados vários trabalhos interessantes, apresentados em congressos e debates sobre o tema. Menciono apenas alguns autores, como Azevedo (2011), Birksted-Breen (2003), Dahl (2011), Faimberg (1985, 1996), Green (2000, 2008), Perelberg (2007) e Tanis (1995, 2011). Para André Green - que em seu texto "Tempo e memória" (1990/2002) já destacava a necessidade de se aprofundar na compreensão dos processos de memória e temporalidade, como demonstram outros trabalhos (Green, 2000, 2008) - a temporalidade sempre foi uma preocupação, até os últimos anos de sua vida.

Em sua dimensão instituinte, permite indagar sobre as formas que o infantil assume na subjetividade contemporânea, quando o tempo se acelera e comprime, se esvazia de sentido histórico na sociedade de consumo generalizado e nos impõe um presente perpétuo, raiz de um vazio que dá lugar a compulsões e adições.

Com a pandemia, vivemos, perplexos, um congelamento do tempo, uma hipertrofia do presente, que nos condenou a um passado nostálgico e tornou impossível sonhar um futuro. Reconhecemos em nossas clínicas o desamparo e a incerteza, e sua ressonância com aspectos infantis nas singulares configurações que a pandemia despertou.

O imaginário cultural da humanidade sempre esteve povoado de mitos, lendas e histórias sobre a origem: a origem do universo, da cultura, do homem, dos sexos. A fantasia sobre a origem, sobre os começos, expressa o gesto fundacional do humano e da cultura, tal como Freud tentou descrever em Totem e tabu (1913/1991b) e na ideia de Urphantasien. O recurso mítico demonstra, desde os alvores da humanidade, a necessidade de construir uma narrativa individual e coletiva em torno do mistério que envolve a origem. No entanto, não esqueçamos que Freud escreve sobre a importância inicial do ato.

O famoso escritor israelense Amós Oz analisa, na introdução de um pequeno mas fascinante livro, E a história começa, 10 inícios de contos e romances de grandes autores da literatura universal: Kafka, Gógol, García Márquez, Tchekhov, Agnon, entre outros. Oz se pergunta: "Mas, o que é, em última análise, um começo? É possível que exista, em teoria, um começo conveniente a qualquer história que seja? Não existe sempre, sem exceção, um latente 'começo antes do começo'?" (1999/2007, p. 17).

Existe, sem dúvida, uma tendência da psique a um ordenamento temporal, um antes e um depois, que obedece a uma cronologia. Cronos; tempo circular grego, e também judaico-cristão linear, que fala de um começo (origem) mítico e um destino. De fato, seja na utopia nostálgica de uma origem perdida, seja na utopia messiânica de uma totalização ou completude prometida, a crença básica continua sendo a mesma: havia ou haverá um perfeito agora como residência privilegiada do ser. Por isso, as duas orientações podem confluir em uma experiência circular e cíclica do tempo, e contribuem para uma perspectiva imaginária sobre o tempo e as crianças.

A flecha do tempo é inexorável para nossa consciência, nosso corpo e nossa vida. Na medida em que a heterogeneidade dos objetos psíquicos se faz presente na transferência - que, teorizada desde Freud, corresponderá também a uma heterocronia (Green, 2000), ou seja, a uma complexa rede mnemónica irredutível a uma única modalidade de funcionamento temporal -, as diferenças nos regimes temporais dos processos primários e secundários, o modelo regressivo do sonho, o après-coup e a dimensão pulsional que obedece ao desejo e à compulsão de repetir são modalidades que, a partir da psicanálise, questionam a ideia do tempo vivido como continuidade subjetiva.

Examinemos as principais perspectivas. Por um lado, temos aquelas que se centram no processo, na continuidade temporal, em um desenvolvimento progressivo que pode ter sido interrompido ou congelado. Dominantes no desenvolvimento da psicanálise inglesa, reconhecem um ordenamento evolutivo da psique, processos de estancamento que, por meio da intervenção analítica, poderiam recuperar o livre fluxo da circulação temporal. Embora existam diferenças entre os autores ingleses mais destacados (por exemplo, entre Klein, Bion e Winnicott), temos a impressão de que a ideia de desenvolvimento e continuidade temporal ocupa um espaço importante para todos.

Por outro lado, há enfoques que se centram no instante, na descontinuidade e na ruptura na constituição da temporalidade e em um reordenamento posterior (après-coup). O segundo modelo toma como premissa central a inovadora ideia freudiana de nachtraglich, traduzida por Lacan, em 1945, por après-coup, e retomada com grande ênfase por Laplanche, que contribuiu para transformá-la em marca da psicanálise francesa. Esse mecanismo não deve ser confundido com uma fantasia retrospectiva. Caracterizando-o sinteticamente, é um reordenamento a posteriori do potencial inscrito em T1 a partir de um segundo momento T2; mantém um vínculo com as primeiras ideias sobre os dois tempos do trauma já esboçadas no "Projeto para uma psicologia científica" (Freud, 1950 [1895]/1991a).

Ambos, avant-coup e après-coup, estão presentes tanto na clínica como no pensamento freudianos.

Gostaria de destacar um terceiro registro, relacionado com os dois anteriores, mas que tem sua especificidade: a introdução do evento (o acontecimento) e do atual como elemento temporal. Inspiro-me em Bleichmar (2006), Puget (2005) e Scarfone (2014) e em minha própria experiência clínica.

Esse é o tempo de Aion, tempo de abertura para o desconhecido (Puget, 2005). Está inscrito indelevelmente no impacto do encontro com outro, que abre as possibilidades de alteridade e criação, mas que também possui um potencial traumático vinculado ao sofrimento do contato com o imprevisto, que pode ser fonte de alienação, de submissão masoquista a um narcisismo destrutivo. É abertura para o campo da transferência e suas vicissitudes.

Nesse momento em que se abrem novas perspectivas, perdem-se referências do passado, surge a incerteza, o medo do desconhecido.

Aqui, memória, temporalidade e o infantil manifestam sua potência transformadora na cena analítica.

A revolução copernicana na história consiste, em [Walter] Benjamin, em passar do ponto de vista do passado como fato objetivo ao do passado como fato de memória, ou seja, como fato em movimento, fato tanto psíquico quanto material. A novidade radical dessa concepção ... da história é que ela não parte dos fatos passados em si mesmos (uma ilusão teórica), mas do movimento que os recorda e os constrói no saber presente do historiador. (Didi-Huberman, 2006/2011, p. 155)

Estamos aqui claramente numa perspectiva psicanalítica da relação dos tempos e da forma como se articulam. Para a psicanálise de inspiração freudiana,

a memória, em toda a sua complexidade, conserva a capacidade de resgatar o tempo da história. Não como um tempo passado, mas como um tempo inscrito nas entranhas do presente. Alude à força sísmica de um infantil que se nega a ser esquecido, e se apresenta ante a consciência como a Esfinge ante Édipo. (Tanis, 1995, p. 63)

No entanto, para que o tempo de diferentes escalas inerentes à constituição do psíquico e as diferentes expressões do sofrimento humano possam encontrar seu lugar no contexto analítico, as alternâncias entre presença e ausência serão determinantes, assim como o tempo de espera, corolário da experiência de fenômenos de ilusão e transicionalidade no contexto da relação psicanalítica.

O processo de constituição do psiquismo e da personalidade é percebido, cada vez mais, como um processo heterogêneo de temporalização, representação e simbolização no qual se articulam o par pulsão-objeto, o intrapsíquico e o intersubjetivo. Mas também temos de reconhecer outro vértice suplementar aos anteriores, a atualidade do tempo histórico de um mundo em mutação, no momento do desenvolvimento econômico, social e cultural em que vivemos. Ao falar do contemporâneo, Agamben (2009) denuncia a ilusão de estar em uníssono com seu tempo, numa aproximação da sensação de opacidade constitutiva. Considero uma importante tarefa para a psicanálise atual investigar, desde a clínica psicanalítica, a incidência desse quarto eixo.

 

O infantil, o sexual e as questões de gênero

Foi Freud que, em seus três ensaios sobre a sexualidade infantil, escritos em 1905, apresentou a sexualidade infantil, um conceito inovador que alude ao polimorfismo do desejo sexual, questionando os pontos de vista de sua época, que viam na variedade do exercício da sexualidade o fruto de uma doença ou uma degeneração.

Nesse sentido, Freud estabelece a diferença entre a pulsão sexual e o instinto. Seu corolário é que, para os humanos, o objeto de satisfação da pulsão sexual é contingente e não preestabelecido. Isso inclui a disposição bissexual de todos nós. Faz-se imperativo aqui destacar que, evidentemente, utilizando um vocabulário de sua época, Freud reconhece o impacto da cultura modelando a natureza. Dessa perspectiva, tanto o sexual infantil como a sexualidade adulta estarão intrínsecamente vinculados aos imaginários epocais, assim como à influência do outro, seja nos processos de libidinização do infans, seja nos processos identifi-catórios, na trama edípica e na formação das instâncias ideais - instâncias que, como bem descreve Freud em relação ao narcisismo e ao supereu, não estariam desvinculadas da dimensão pulsional infantil que as constitui.

Diz Laplanche: "O sexual é múltiplo, polimorfo. Descoberta fundamental de Freud, encontra seu fundamento no recalcamento, no inconsciente, na fantasia. É o objeto da psicanálise" (2007/2014a, p. 153). O sexual é o recalcado, e é recalcado por ser sexual, matriz fundadora do desejo infantil.

Se, por um lado, a emergência de um funcionamento neurótico com seus recalcamentos, regressões e pontos de fixação mostra certa fluidez das figuras da sexualidade infantil, por outro, o desafio da clínica a partir da segunda tópica freudiana, a inclusão da pulsão de morte e, posteriormente, a clínica dos casos-limite nos mostram a importância de uma reorganização après-coup, no processo analítico, de uma sexualidade infantil, cujo prazer visa liberar-se de uma coexcitação libidinal mortífera.

A inclusão das questões de gênero no debate sobre a sexualidade no campo da cultura nas últimas décadas produziu um deslocamento e uma interrogação renovada em torno do campo da sexualidade, do sexo e do gênero na clínica psicanalítica, e levou a acaloradas discussões sobre nossas referências teóricas e intervenções clínicas. Esse deslocamento nos leva a dar uma atenção necessária às dimensões identificatórias e ao lugar da cultura na construção da sexualidade humana, já presente em Freud, como assinalamos anteriormente.

Em sua versão freudiana, o infantil estaria vinculado mais à fantasia que ao objeto e, portanto, seria autoerótico, regido pela fantasia, pelo inconsciente. Por outro lado, os estudos de gênero também desempenharam um papel na expansão da compreensão dos papéis e das características sociais atribuídos ao que chamamos de homem e mulher, em termos de certos contextos históricos, políticos e culturais. Essa investigação inclui a dimensão político-histórica dos lugares negativos atribuídos à mulher e questiona a ideia de identidade feminina que teria como referente o masculino. Ademais, teve grande importância na despatologização do homoerotismo.

Desde a psicanálise, podemos argumentar que o caminho da psicos-sexualidade é um movimento complexo de montagens e ressignificações, de articulações originadas em diferentes setores da vida psíquica e corporal, com uma forte incidência cultural e ideológica que convida a investigar o que podemos chamar de constituição de identidade sexual e de gênero. Laplanche (2007/2014a) insiste na importância de incorporar o debate sobre gênero a nosso campo; afirma que o gênero seria atribuído através de uma designação. Designação indica a prioridade do outro no processo identificatório - processo que não é pontual, não se limita a um único ato.

Cabe mencionar que os debates sobre gênero (motivados pelas obras de Monique Wittig, Gayle Rubin, Judith Butler e recentemente Paul Preciado) impulsionaram em psicanálise uma necessidade de maior investigação a respeito de noções centrais, como é o caso das noções de diversidade e diferença. Podemos pensar que a primeira obedece à temática dos gêneros e suas cambiantes formas e características culturais e epocais, ao passo que na segunda a diferença opera simbolicamente no campo do real e exige uma complexa operação simbólica que implica o reconhecimento da alteridade, a diferença de gerações e a diferença dos sexos em jogo numa trama edípica e na formação das instâncias ideais. Esses são aspectos extremamente relevantes em relação ao infantil e ao que entendemos por acesso ao simbólico.

Leticia Glocer Fiorini (2015) argumenta que o reconhecimento da diferença e seu correlato - ter acesso ao mundo simbólico - não podem ser atribuídos apenas ao reconhecimento da diferença no contexto da sexualidade binária. É relevante para um debate em torno do infantil a ideia de anterioridade do gênero em relação ao sexo - que transtorna os hábitos de pensamento rotineiros, os quais põem o biológico antes do social -, anterioridade da designação em relação à simbolização. Isso coloca na ordem do dia o tema das primeiras identificações.

Por outro lado, Jacques André, num amplo e crítico estudo, argumenta:

A anatomia imaginária é o destino, o sexo psíquico sempre prevalecerá sobre o sexo anatômico. ... Até aí, pode-se estar de acordo com o construtivismo das teorias de gênero de que o corpo, o sexo, não escapa da atividade simbólica e que ele não nos é acessível aquém da ordem de representação. O momento delicado é quando a teoria se converte em ideologia, quando o performativo acaba se convencendo da magia de seu próprio poder e a linguagem se acredita sozinha no mundo. (2019, pp. 26-27)

Como vemos, no campo da teoria, o assunto é complexo. Sabemos que a clínica é nossa bússola, mas para que ela não nos indique sempre a mesma direção, como um dado viciado, teremos de estar atentos aos debates da época. Não é necessária a fusão com o epocal, mas acho que ajuda a manter nossa escuta viva e atual, livre de preconceitos.

Não posso, neste momento, me estender sobre esse tema de extrema atualidade clínica e teórica. Assinalo apenas a necessidade de dar importância ao debate sobre os múltiplos campos em que as questões da diferença e do simbólico se organizam, questões relevantes para pensar o infantil na psicanálise contemporânea.

 

O dispositivo analítico, a transferência e as condições de simbolização

A cena analítica pode conter as condições espaçotemporais que contemplam simbolicamente os espaços e tempos de nossa existência e de nossa psique. Em outras palavras, esperamos criar as melhores condições para acolher e escutar o infantil e o sofrimentos subjetivo em nossos dias. O interrogante e o desafio estão alojados na fronteira entre clínica e teoria.

O potencial infantil pulsa na situação de transferência, um pulsar que se atualizará para nós, analistas, tanto na experiência transferencial em configurações neuróticas como em seu potencial traumático-pulsional da vivência inscrita não metabolizada que domina a compulsão à repetição e angústias impensáveis.

A clínica atual nos situa fora de territórios seguros. Se quisermos ser fiéis a uma ética psicanalítica que não se ajuste ao normativo, que se afaste do paradigma cognitivo-comportamental, teremos de enfrentar os desafios de trabalhar em áreas mais desconhecidas, nos confins e nas arestas da subjetividade, onde nem sempre chegam os mapas náuticos. Teremos de lidar com os efeitos de nossa presença e ausência: as distâncias se encurtam entre analista e analisando. O domínio do verbal encontra seus limites nas angústias indizíveis que operam em atos. Nesses casos, identifico um risco de situações de análise interminável devido à dimensão de captura numa trama dual, dominada pela indiscriminação do afeto-representação. Trata-se, talvez, de uma gestão das condições espaçotemporais do enquadre, do uso das palavras e do silêncio, para que, uma vez que ambos habitem o espaço da ilusão, o trabalho do negativo (Green, 2006) possa se realizar. Winnicott (1971/1975a) já assinalou o caminho que implica manejar (handling) o enquadre e o lugar do brincar, da ação, quando nem tudo pode ser representado, e Bleger (1967) identificou o enquadre como o depositário dos aspectos psicóticos da personalidade.

Green propõe uma dupla perspectiva para o enquadre: uma matriz ativa, o núcleo da ação analítica, e uma configuração externa e variável (presencial, em divã, número de sessões, trabalho em instituições) como matriz protetora.

Contudo, de que se trata quando falamos do enquadre interno do analista? Alizade (2002), em uma interessante reflexão, nos convida a pensar que talvez a institucionalização da psicanálise e o medo da contaminação por fatores oriundos de outras disciplinas produziram um controle excessivo sobre o que se convencionou chamar de enquadre. Essa ênfase excessiva no aspecto externo do enquadre parece ter definido um enquadre tipo. Por isso, propõe a ideia de um marco interno implícito na regra da associação livre, a regulação dos processos psíquicos que emanam das configurações internas do analista, a capacidade de empatia e permeabilidade do analista, seu próprio inconsciente e o desenvolvimento de sua capacidade criativa na arte de tratar. Trabalhar com e em silêncio, com a condição não formalizável dos afetos. A esse marco interno, o autor dá um estatuto teórico-vivencial, em que o analista pode encontrar uma espécie de espontaneidade que flutua livremente.

Considero que possa ser útil trabalhar com a ideia de dispositivo analítico, que me parece mais elástica e rica do que a ideia de setting ou enquadre, em função de nossa clínica atual, na qual o infantil se estende para outras direções. Seria demasiado extenso desenvolver um pensamento a esse respeito neste trabalho, mas deixarei algumas ideias como sugestão para os leitores, estabelecendo um diálogo com reflexões de René Roussillon (2005) e a perspectiva que estou apresentando em torno do infantil.

Roussillon dedica alguns capítulos do Manual da prática clínica em psicologia e psicopatologia (2012) para esclarecer sua perspectiva do dispositivo analisante: ao mesmo tempo que o dispositivo tem a função de produzir objetos simbólicos - assim como outros dispositivos da cultura -, sua singularidade está em permitir uma apropriação subjetiva das representações e figuras produzidas. Para que isso ocorra, três funções do dispositivo são imprescindíveis: o acolhimento ou continência, a identificação de signos indiciais no encontro e a capacidade de metaforização.

Contudo, ao levar em consideração o infantil em toda a sua complexidade e força atual por meio da psicanálise contemporânea, os analistas, com o risco de cercear ou desmentir aspectos da subjetividade, se sentirão muitas vezes levados a alterar as condições do dispositivo para assim atender à primeira dimensão dele: acolher o mal-estar e o sofrimento em um contexto em que estes possam se expressar.

Foi o que todos vivemos durante este ano de pandemia, apesar do fato de que muitos analistas já vinham trabalhando não só em atendimento remoto, mas também em diferentes variações do enquadre, principalmente quando -a partir de uma concepção ampliada pela investigação clínica nas últimas décadas e desde Green (1975) - o modelo clássico do sonho que mais se adaptava ao modelo do enquadre clássico foi cedendo lugar ao modelo do jogo/ato, no qual a ação não é concebida apenas como defesa (acting), mas também como modalidade de comunicação e expressão de uma dimensão traumática pulsional com precárias ligações não simbólicas.

Vale dizer que, se o enquadre clássico se adaptava bem ao modelo de simbolização do sonhar, a ideia do dispositivo pode conter de modo ampliado a dimensão do ato e do jogo, tão presentes em uma clínica com analisandos não neuróticos.

 

O infantil e a criatividade

Uma das conquistas da análise é a possibilidade de transformar um sentimento negativo de solidão, marcas de certas configurações do infantil, em uma experiência na qual a solidão se manifesta como fundamento da

Bernardo Tanis singularidade e como capacidade de se voltar para o outro. O infantil pode conter em si uma reserva potencial, resistência frente às forças de um narcisismo negativo que favorece a desconexão.

Quando falamos de transformação e criação, surge a ideia freudiana de sublimação, noção sobre a qual vários analistas já expressaram as dificuldades teóricas que representa.

A teoria da sublimação envolve, em suas diferentes versões - tanto na primeira, conservando sua energia, mas mudando a finalidade e o objeto da pulsão (Freud, 1908/1986b), quanto na segunda, centrada no domínio de Eros (Freud, 1930/1986a) -, um movimento para produzir objetos culturais que geralmente podem ser compartilhados. Vale dizer que a cultura ocupa um lugar central nos destinos da sublimação. Podemos assinalar que essas produções têm um valor simbólico que lhes permite ser compartilhadas e desfrutadas por outros.

Trabalhando com meus analisandos, me dei conta de que essa capacidade simbólica e criativa era, de início, extremamente deficiente. O interesse principal estava nos aspectos narcisistas ou fusionais da existência. O mundo, o espaço cultural, só tinha sido utilizado como um grande supermercado para o consumo ou a oferta de bens.

A perspectiva de Winnicott do espaço potencial e dos fenômenos transicionais nos ajuda a compreender o surgimento das primeiras mediações simbólicas com esses pacientes - houve uma emergência criativa no contexto da análise, uma transformação em relação ao infantil e um nascimento ou reapropriação de áreas da personalidade que, até então, não pareciam existir pela força de clivagens defensivas impostas.

Se Winnicott nos diz que a análise se desenrola na intersecção entre duas áreas de jogo, a do analista e a do analisando, podemos indicar outra metáfora que fala da solidão compartilhada. Destacamos a importância do outro na constituição do infantil. Há uma tensão entre o eu incipiente e o objeto, sobre a qual se aloja a noção de objeto-trauma de Green. Todo o nosso percurso mostrou a importância desse outro na perspectiva contemporânea sobre o infantil. No lugar desse outro, o analista pode às vezes abrir uma brecha, a qual, quando não é vivida como vazio ou intrusão, abre por sua vez uma nova relação com a alteridade.

Quando se trabalha com processos de simbolização e criação, o processo analítico não só torna consciente o inconsciente, mas produz experiências culturais sem precedentes. Jurandir Freire Costa, comentando a contribuição de Winnicott para as ideias de cultura e manejo do mal-estar, afirma:

Ao falar da "localização da experiência cultural no psiquismo", ele realça o que parece ser, ao mesmo tempo, trivial e inusitado. A cultura não é algo exterior ao "substrato" do sujeito e tampouco é o outro da pulsão. Do mesmo modo, seu objetivo primordial não é vetar o acesso das pulsões à vida mental consciente ou à realidade. A cultura é o lugar onde o simbólico e o pulsional interagem. É parte integrante da subjetividade, seja a título de regras gerais de pensamento, desejos e julgamentos, seja a título de meio onde a pulsão encontra os objetos de satisfação e se defronta com as manifestações pulsionais do outro. As pulsões, em particular as pulsões criativas, precisam do "jogo", do "brincar" ou da área intermediária para não se tornarem um pântano de águas paradas, fadadas ao desaparecimento pela evaporação. (2000, p. 24)

Muitos analisandos tinham despojado a cultura, o social, de um espaço de criação, um espaço lúdico e potencial. Resulta que, em grande medida, como ilustram os itens anteriores, em certos aspectos as culturas das grandes cidades globalizadas também perderam essas características, favorecendo assim essa alienação do outro. O infantil, quando é acolhido pelo dispositivo analítico em presença viva de um analista com o qual o jogo transicional pode ocorrer, favorece a emergência do criativo da vida, onde o pulsional e o cultural se entrelaçam e expressam criativamente um potencial silenciado em outros contextos.

 

A modo de conclusão: o infantil "à flor da pele"

Nossa exposição destacou que o que interessa ao psicanalista hoje não é um infantil fático, de fatos, mas um infantil vivo, em movimento, que possa dar lugar a uma historicização simbolizante, que aponte para o novo, para a neogênese, recuperando duas noções centrais do pensamento clínico freudiano em relação ao tempo, o après-coup e o apoio (Anhelung), nas quais o par pulsão-objeto se entrelaça irrevogavelmente aos acontecimentos.

O que chamamos, então, de capacidade de historicização obedece ao corolário dos processos de simbolização que estará ligado a complexos mecanismos psíquicos nomeados por vários autores: a retranscrição do traço, o processamento psíquico dos "signos de percepção", produto de experiências traumáticas não metabolizáveis (Laplanche, 1988), a figurabilidade (Botella & Botella, 2001), a transformação do vivido inscrito na experiência.

Mencionamos várias vezes a inscrição da "vivência" (Erlebnis) porque acreditamos que sua comparação com a ideia de "experiência" (Erfahrung) nos ajuda. Mantenho os termos em alemão, já que se referem ao uso freudiano e também à caracterização que deles faz Walter Benjamin, o que considero ser significativo para nosso campo. Erfahrung contém a raiz farhen, que alude ao movimento de cruzar, viajar. Estamos no território da sedimentação narrativa,

Bernardo Tanis a partir da acumulação temporal e geracional de tradições que se atualizam em mitos, lendas e provérbios, e que conectam gerações. Tem uma dimensão imaginária, mas isso serve como contexto e suporte para uma dimensão simbólica. Erlebnis, em contrapartida, se refere mais ao instante, à experiência individual singular, menos conectada com a comunidade de homens. Como situar o infantil nessa dialética da vivência e da experiência, desde a perspectiva psicanalítica atual e o tempo que nos toca viver? Muitos de nossos analisandos relataram vivências, sensações, fantasias e pensamentos intoleráveis em função da pandemia de covid-19.

A dimensão temporal se viu totalmente eclipsada pelo atual, presente absoluto. Incerteza com respeito ao amanhã, o passado que vai se tornando longínquo; o presente reina, absoluto, como acontecimento difícil de ser metabolizado.

Não deixa de evocar condições primordiais da constituição subjetiva, anteriores ao nascimento do pensamento e dominadas pela urgência da necessidade. Percebemos as ressonâncias com o infantil e sua atualização "à flor da pele". Os sonhos se intensificaram. Muitas vezes nos pareciam uma espécie de trabalho de mineração, de recuperação de recursos de outros tempos para lidar com os desafios de uma atualidade devastadora. Sonhamos para poder metabolizar, representar, para fortalecer o que poderiam ser anticorpos psíquicos com os quais enfrentar o tóxico de uma experiência avassaladora e ameaçadora.

Os cenários do isolamento social colocaram em jogo o lugar que ocupamos como analistas diante de situações regressivas que envolviam intensas angústias ante momentos de solidão ou, por vezes, de presença invasiva e insuportável do outro. Estamos mais em contato com nós mesmos, com nosso corpo, nossas fantasias. Para alguns, essa situação de privação da presença de outros pode ter sido redutora de ansiedades fóbicas e funcionado como refúgio temporário, mas, para outros, pode ter intensificado angústias paranoides, claustrofóbicas.

O estado de emergência e incerteza se aloja como perplexidade, que em alguns analisandos pode gerar efeitos desestruturantes, até chegar a questionar os pilares que sustentam a representação de si. Na medida em que a confiança é um dos elementos que contribuem para aplacar o sentimento de desamparo constitutivo, quando ela se vê ameaçada por diferentes motivos e instâncias sociais - família, escola, trabalho, governo; negligência, incapacidade, desconsideração, autoritarismo -, são mobilizados aspectos traumáticos do infantil, o que produz sentimentos de impotência, revolta ou submissão ao agressor. São efeitos ante uma condição passiva que possui o potencial de reativar, por sua vez, efeitos residuais do encontro com o outro.

A análise tem o potencial de conectar o indivíduo com sua história e com a história das gerações que o precederam, com a cultura a que pertence,

ampliando e ressignificando o campo de Erlebnis, restaurando ou instituindo um tempo coletivo, simbólico, no qual o novo e o velho obedecerão não a uma lógica de submissão ou subordinação, mas a um movimento crítico.

Isso pode ser devido a uma terceira percepção do tempo no contexto da análise: Kairós, tempo justo, tempo que dá sentido, tempo de vertigem, mas de reordenamento da subjetividade, ganhando assim o estatuto de Erfahrung (experiência) compartilhada.

A partir dessa perspectiva o infantil não emerge apenas como repetição ou resistência, mas também como convite para a busca de uma experiência criativa e reparadora (neogênese) do que não pôde ser experimentado como continuidade de ser, como expressão potencial do self, como impulso criativo, e que, por incapacidade ou inadequação do objeto primário, teve de ser recalcado ou clivado.

Transformar a relação com o infantil não significa eliminá-lo, mas permitir um reordenamento, uma ressignificação para que o novo possa advir. Fonte de desilusão ou inspiração, nunca deixará de ser referência.

 

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1 O autor detém os direitos autorais deste artigo, que é de sua responsabilidade como palestrante do Lii Congresso Internacional de Psicanálise, da Associação Psicanalítica Internacional (IPA), sob o título O infantil: suas múltiplas dimensões, a ser realizado em Vancouver, Canadá, de 21 a 24 de julho de 2021, com registro disponível no sitewww.ipa.world/vancouver.

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