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Revista Brasileira de Psicanálise

versão impressa ISSN 0486-641X

Rev. bras. psicanál vol.55 no.3 São Paulo jul./set. 2021

 

EDITORIAL

 

Impasses

 

 

Claudio Castelo Filho

Editor. São Paulo / claudiocasteloeditor@rbp.org.br

 

 

Foi com satisfação que recebemos uma considerável quantidade de artigos a respeito do tema Impasses. Nem todos puderam ser selecionados por conta do espaço disponível para publicação e, também, por não estarem em conformidade com as normas da RBP. Muitos tinham extensa e minuciosa descrição de situações clínicas que, a despeito de serem potencialmente interessantes, entraram em conflito com o imperativo de preservar os pacientes e sua confidencialidade. É importante deixar muito claro para nossos colaboradores esta questão: o material clínico tem de ser suficientemente distorcido para evitar ao máximo qualquer chance de identificação, seja por terceiros, seja pelo próprio paciente. Outras vezes nos vimos em situações difíceis, ao nos depararmos com trabalhos de colegas que certamente têm larga experiência e capacidade clínica, mas cuja expressão escrita não reflete o que gostariam de comunicar, tanto na forma quanto na articulação das ideias. Quando se trata de números temáticos, não há tempo suficiente para que trabalhos que necessitam de extensas modificações retornem aos seus autores, a fim de serem revistos e reencaminhados para nós. Somente o são aqueles que demandam ajustes menores.

Todos os trabalhos submetidos à RBP são avaliados de forma completamente anônima, tanto pelos pareceristas quanto pela Comissão de Avaliação, que recebe os diferentes pareceres para a formação de uma decisão final. A única informação disponível ao editor e à editora associada é a origem do artigo, de modo a evitar que ele seja avaliado por colegas de quem o produziu. Portanto, o intuito é sempre achar pareceristas familiarizados com a linha de pensamento do autor, mas fora do território ou da Sociedade a que ele pertence. A revelação da autoria só acontece depois do parecer final, para o editor, a editora associada e a coordenadora da Comissão de Avaliação, na hora de serem encaminhadas as cartas de aceitação, aceitação com modificações ou grandes reformas, ou recusa.

Temos ressentido a falta de submissão de artigos que venham de fora do eixo São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Curitiba e Porto Alegre, a despeito das inúmeras vezes que solicitamos maior participação de colaboradores de todo o país. Esperamos que cheguem para os próximos volumes.

Neste número, praticamente constituído apenas por artigos temáticos e por um não temático, já aprovado na gestão anterior, contamos com um pequeno artigo de Durval Marcondes, publicado quando a RBP completava 10 anos de existência oficial, depois de décadas da publicação de sua antecessora nos anos 1920. A republicação dessa página está relacionada ao aniversário de 70 anos da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, da qual Durval foi fundador. Não poderíamos deixar passar essa efeméride sem uma publicação que a contemplasse, pois a SBPSP é a matriz de toda a psicanálise e as sociedades de psicanálise que se difundiram pelo país. Dessa maneira, convidamos sua atual presidente, a Dra. Carmen C. Mion, para uma entrevista, na qual nos fala de sua trajetória no caminho da psicanálise, sua relação com a SBPSP, e a história dessa instituição desde os primórdios, com o contato de Durval com Freud e sua obra nas primeiras décadas do século XX, seus pioneiros, a chegada da primeira analista didata vinda da Europa (Adelheid Koch), sua filiação oficial à ipa há sete décadas, sua evolução, o momento atual e o porvir.

Logo depois temos um instigante artigo de Giuseppe Civitarese sobre sua proposta de um reverie somático (com base na ideia de reverie de Bion). Na sequência estão os trabalhos temáticos. O primeiro é de autoria de Roosevelt Cassorla, que coincidentemente tem uma proposta muito próxima, mas não idêntica, à de Civitarese. Desses textos podemos extrair várias ideias enriquecedoras e produtivas.

Os trabalhos seguintes tratam da questão dos impasses de diversos ângulos: na própria escrita ou no que um artigo científico se propõe a transmitir, como poderemos ver no desafiador texto de Estanislau A. da Silva Filho; nas inusitadas e desnorteantes situações de setting que surgiram no trabalho online com adolescentes durante a pandemia, descritas por Alessandra Stocche; no âmbito das características de personalidade e da intensidade das pulsões em um caso clínico abordado por Maria Cristina Possatto; nas áreas de impenetrabilidade mental discutidas por Maria Inês Baccarin; no paradoxo da transferência durante o atendimento feito pela analista grávida, Olívia Lucchini; e, por fim, nas entrevistas iniciais, assunto do trabalho de Clara Kislanov da Costa.

O artigo não temático de Adriana Barbosa Pereira faz uma articulação entre psicanálise, arte e as profundezas das intensidades pulsionais, tendo como base Além do princípio do prazer, de Freud.

Na seção "História da psicanálise" temos um estimulante artigo de Luiz Eduardo Prado, nosso editor internacional em Paris, sobre as controvérsias/impasses entre Anna Freud e Melanie Klein, e sobre algo significativo que elas teriam em comum em meio às turbulências, que não era evidente.

Esperamos que tenham uma leitura tão enriquecedora quanto a que os artigos aqui publicados nos proporcionaram.

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