HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

Ontem e hoje¹

Durval Marcondes

Durval Marcondes (in memoriam). Médico formado pela Faculdade de Medicina de São Paulo, membro fundador da Sociedade Brasileira de Psicanálise, diretor presidente do Conselho Editorial da Revista Brasileira de Psicanálise de 1928 até 1968

Em carta que me enviou em 1926 (há meio século, portanto), Freud se refere ao meu propósito de despertar o interesse de meus patrícios para a Psicanálise, que ele chama de "nossa jovem ciência" ("unsere junge Wissenschaft") . Na verdade, ela, então, era ainda jovem e muita coisa veio a mudar no decurso do tempo. Por obra de seu criador e de seus discípulos, a Psicanálise cresceu e foi se tornando gradativamente adulta. Hoje alcança a plena maturidade.

Naturalmente, isto se deu também aqui, em nossa pátria. De mal compreendida tentativa de reforma científica, a princípio ridicularizada e escarnecida, ela veio gradativamente se desenvolvendo e, algumas décadas depois, firmou-se finalmente como revolução vitoriosa no campo da Psicologia e da Psiquiatria, com reflexos em todas as atividades que se ocupam do trato humano em geral. Um dos momentos decisivos nesse processo de crescimento foi a concomitante criação da Associação Brasileira de Psicanálise e desta Revista, que viria a ser seu órgão oficial.

Com o presente número, a Revista inicia o décimo ano de sua publicação. Está hoje consolidada e traduz a atual firmeza do movimento psicanalítico brasileiro. O exame comparativo dos trabalhos psicanalíticos de 1926 e do atual conteúdo de nossa Revista mostra a imensa conquista desde então realizada. Também aqui a "jovem" se tornou definitivamente adulta.

É meu desejo que a nossa publicação se aprimore cada vez mais e continue desempenhando o papel que lhe cabe na expressão do progresso científico da Psicanálise no Brasil. Para quem viveu ambas as épocas - a da juventude psicanalítica e a dá sua maturidade traduzida nas páginas desta Revista - a transformação realizada constitui uma grande e emocionante satisfação.

1 Trabalho original publicado em 1976: Revista Brasileira de Psicanálise, 10(1),31.