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Aletheia

Print version ISSN 1413-0394

Aletheia  no.19 Canoas June 2004

 

ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO

 

Intervenções psicossociais na comunidade de Canoas: uma proposta do curso de psicologia da ULBRA-Canoas

 

Psychosocial interventions in the community of Canoas: a proposal of the Psychology Course of the Lutheran University of Brazil

 

 

Maria Dolores Gobbi1; Sheila Gonçalves Câmara2; Mary Sandra Carlotto3; Antonieta Pepe Nakamura4

Universidade Luterana do Brasil (ULBRA/Canoas). Curso de Psicologia

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Um dos papéis mais importantes da Universidade, juntamente com o ensino e a produção de conhecimento, é sua inserção efetiva na comunidade mais ampla, especialmente, em sua comunidade de acolhida. A proposta da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, através do Curso de Psicologia é, justamente, desenvolver o binômio ensino-serviço, de maneira ampla, na comunidade de Canoas-Brasil, onde se insere.Todos os serviços oferecidos pelo curso (desde os de atuação clínica até os de atuação social-comunitária), subsidiados pelos laboratórios de ensino, estarão, agora, voltados para o atendimento integral da comunidade. Este artigo apresenta o projeto integrado do Curso de Psicologia ULBRA/Canoas, contemplando o compromisso permanente de integração universidade-comunidade. Muitas necessidades já foram identificadas, especialmente nas áreas carentes da cidade. As propostas de intervenção pontuais dos serviços são apresentadas por módulos, de acordo com os distintos grupos-alvo. O desenvolvimento da proposta contempla o princípio de parceria e colaboração com órgãos representativos do município, bem como com os moradores, desde a definição das necessidades e mapeamento de recursos, até a implementação dos programas.

Palavras-chave: Intervenção psicossocial, Universidade, Comunidade.


ABSTRACT

One of the University more important roles, together with the teaching and the knowledge production, is its effective insert in the wider community, especially, in its welcome community. The proposal of the Lutheran University of Brazil (ULBRA), through the Psychology Course is, exactly, develop the binomial teaching-service, of wide way, in the community of Canoas, where is inserted. All of the offered services by the course (since the ones of clinical performance even the ones of social-community performance), subsidized by the teaching laboratories, will be, now, directed to community’s integral assistance. This article presents the project integrated of the Psychology Course at the Campus Canoas, contemplating the engagement of permanent integration university - community. Many needs were already identified, especially in the city needy areas. The proposals for punctual intervention of services are presented by modules, according with the distinct groups-target. The proposal development contemplates the beginning of a partnership and collaboration with municipal district representative organs, as well as with the inhabitants, since the needs definition and identification of resources , until the programs implementation.

Keywords: Psychosocial intervention, University, Community.


 

 

Os objetivos e a área de atuação da Psicologia precisam, cada vez mais, distanciar-se da realidade dos consultórios e voltar-se para as necessidades de caráter psicossocial que abrangem nosso contexto.

Canoas, como a maioria das cidades que compõem a região metropolitana de Porto Alegre - RS, também apresenta cinturões de pobreza, onde o poder institucional enfraquece-se frente às demandas sociais de caráter macroestruturais.

Uma análise das necessidades emergentes, reveladas a partir dos levantamentos junto à Prefeitura e outras instâncias da comunidade organizada do município de Canoas, demonstra a presença de sintomas sociais, nos quais os diversos níveis relacionais dos indivíduos constituem-se em importantes áreas de atuação para a Psicologia.

Para tanto, nossa opção tem sido no sentido de uma abordagem ecológica das relações humanas. O Marco Ecológico é uma das grandes contribuições da Psicologia Social tanto no campo da pesquisa quanto da intervenção. A abordagem é sempre ampla e permite intervenções bem focalizadas. Com isso, a complexidade dos problemas pode ser contemplada e as possibilidades de novos projetos vão surgindo à medida que as intervenções vão sendo postas em prática (Musitu Ochoa & Castillo Montañes, 1992). A abordagem ecológico-contextual rompe com o paradigma positivista linear, de causalidade dos eventos e abre a possibilidade de um entendimento dos múltiplos fatores envolvidos em cada simples evento do cotidiano. Embora saibamos que as pessoas, em geral, vão representar suas necessidades a partir de aspectos do dia-a-dia, o entendimento ecológico permite que seja restabelecida a linha lógica entre essas contingências de vida e os aspectos de amplo espectro que afetam os indivíduos. Daí se dá a possibilidade de mudanças mais efetivas, através da inserção profunda e responsável dos sujeitos em sua realidade (Kelly & Westergaard, 1999).

Entendemos, dessa forma, indivíduo e ambiente como uma unidade de funcionamento, ou seja, que as alterações em um ou outro terão influências no sistema como um todo. É nesse sentido que nos baseamos em um entendimento ecológico para o desenvolvimento das ações integradas. A idéia central é sempre capacitar pessoas para que desenvolvam as habilidades necessárias para a otimização dos recursos disponíveis (Bronfenbrenner, 1979/1996).

Uma das melhores alternativas para a Psicologia nesse campo é, sem dúvida, a abordagem em redes. Nas redes, a atuação direciona-se à ativação dos recursos disponíveis e abertura de canais de cooperação. Assim, a comunidade é compreendida como uma unidade social, onde recursos formais e informais se entrecruzam.

É preciso considerar que as redes estão em funcionamento e visam ao equilíbrio. Mas a idéia central não consiste em adaptar os indivíduos, pura e simplesmente ao ambiente ou às circunstâncias em que se insere. Ao contrário, aproxima-se muito mais de uma tentativa de mudança desse meio, através da inserção dos indivíduos, a fim de que se encontre um certo nível de equilíbrio entre a saúde do indivíduo e da sociedade que ele constrói e que lhe abarca. Vê-se, pois, que as questões primordiais se dão no sentido de avaliar as condições desse meio e as formas possíveis de mudança estrutural e funcional que otimizem a qualidade de vida individual e social (Blanch, 1990, Sarriera, 1998).

A identificação de recursos fundamentais, assim como sua qualidade de funcionamento, são os norteadores para a implementação das ações. Mas esse processo requer a disponibilidade de um trabalho cooperativo.

Ao nos inserimos na realidade de outras pessoas ou contextos, já estamos interferindo e modificando essa realidade. O termo intervenção é utilizado para definir estes processos. Cabe, entretanto, ressaltar que a intervenção psicossocial não corresponde a um processo unidirecional que se origina dos interesses do pesquisador. Ao contrário, as intervenções psicossociais que realizamos no campo da Psicologia dizem respeito a um aporte de conhecimento e metodologia para a realização das capacidades dos sujeitos com os quais trabalhamos. Acreditamos que estamos trabalhando com seres humanos autônomos, extremamente capazes de reverter suas dificuldades e modificar suas condições de vida (Sarriera, 2000).

Esse processo de intervenção se inicia com a inserção efetiva do ‘interventor’ na comunidade, ou seja, no processo de negociação do contrato e estabelecimento da relação interventor-sistema social. A negociação inicial baseia-se fundamentalmente na construção de um vínculo, que se configurará por uma parceria, na qual comunidade e interventor têm igualdade de importância no processo. Ao interventor cabe assistir e colaborar com a comunidade nos aspectos técnicos, substantivos e metodológicos. E, nesse sentido, deve fomentar a participação comunitária, que é o ponto-chave da intervenção que assegura a aplicação do programa. Desde o início deve haver participação daqueles nos quais o programa vai ser aplicado.

Na prática isso se define como o compartilhamento do controle entre interventor e comunidade, onde se tenta equiparar o grau de compatibilidade de interesse do interventor e da comunidade (Montero, 1994).

De acordo com Sánchez-Vidal (1991), existem diversos níveis de intervenção possíveis. Alguns deles podem ser definidos através de estratégias: centradas nas pessoas, quando visam eliminar os déficits e aumentar a competência social e adaptativa do indivíduo; centradas em pequenos grupos, quando se considera que os problemas sociais são causados não por deficiências dos indivíduos, mas sim pelas relações interpessoais entre eles; centradas nas organizações, quando se entende que as causas dos problemas sociais estão na incapacidade das organizações sociais de prestar serviços e transmitir os valores e normas sociais em conseqüência da deficiência de sua estrutura e funcionamento; e, por fim, as centradas nas instituições e na comunidade, quando o nível de abordagem está nas instituições e na ideologia política social vigente. Nesses casos a indicação costuma ser a criação de instituições paralelas.

Quanto à classificação das intervenções por objetivos ou funções, temos seis categorias principais: prestação de serviço, como é o caso das intervenções nas crises, terapias breves e trabalho reeducativo escolar; desenvolvimento de recursos humanos, no sentido do desenvolvimento de potenciais da pessoa ou comunidade em questão através de métodos psicossociais apropriados; prevenção, quando o enfoque direciona-se à educação e promoção da saúde e bem-estar psicológico das pessoas em um ambiente específico, considerando suas especificidades ambientais; reconstrução social-comunitária, quando o objetivo centra-se na organização de apoio social e redes de apoio e nas comunidades; transformação social-comunitária, no sentido de uma modificação significativa da estrutura social básica com efeitos abrangentes sobre os indivíduos e grupos; e, modificação dos sistemas sociais existentes, objetivando desenvolver aspectos potencialmente mobilizáveis para que os sistemas sociais e comunidades cumpram apropriadamente suas funções (Sánchez-Vidal, 1991).

Os níveis de intervenção, assim como as estratégias a serem utilizadas vão depender do objetivo central das ações, além das possibilidades existentes. A implementação da intervenção também estará atrelada ao comprometimento da comunidade junto aos órgãos interventores, nesse caso, o Curso de Psicologia ULBRA/Canoas. O trabalho é conjunto, de maneira que as avaliações acerca da efetividade das intervenções também serão avaliadas, no decorrer e no final das mesmas, através de indicadores relevantes tanto para a comunidade como para o interventor.

Os resultados, portanto, não objetivam unicamente alcançar fins acadêmicos. Nesse campo, a efetividade de uma intervenção será definida através dos ajustes necessários em seu decorrer, assim como os resultados obtidos pelos participantes na comunidade.

Um dos indicadores mais decisivos será quando na saída dos interventores, o processo siga sendo implementado pelos participantes da comunidade. No trabalho em redes, a presença do interventor é temporária, mas os efeitos tendem a ser duradouros, contando com a própria capacidade de auto-regulação das redes sociais.

O objetivo central sempre será o de enfocar as crenças e práticas através das quais é possível obter algum nível de mudança interpessoal, organizacional e comunitária. Bracht e Kingsbury (em Beeker, Guenther-Grey & Raj, 1998) definem organização comunitária como “um processo planejado para utilizar as estruturas sociocomunitárias e qualquer recurso disponível para alcançar as metas comunitárias, definidas por seus representantes e consistentes com os valores locais” (p. 67).

No campo da saúde a participação ativa dos cidadãos constitui-se em um foco fundamental. Nesse sentido, parte-se da saúde como inserida nas esferas culturais, geográficas, econômicas e políticas. O objetivo último, dessa forma, é promover saúde através da assunção de controle dos próprios sujeitos e grupos sobre sua saúde, da mesma forma que visa ao controle da comunidade sobre a definição de seus problemas, necessidades e recursos, bem como sua qualidade de vida .

Alguns focos principais levantados dizem respeito às seguintes populações: crianças e adolescentes, mulheres, desempregados, idosos e pessoas ou grupos em situação de vulnerabilidade social. Estes grupos, definidos teoricamente como minorias sociais (Gonçalves & Silva, 1995), apresentam conflitos e disfunções em termos das relações que estabelecem desde seus grupos primários como a família, até as relações mais amplas, de caráter sociocomunitário.

Nessas relações perpassam uma série de emoções, cognições sociais e condutas que, uma vez trabalhadas adequadamente, com a diminuição de sua configuração negativa e potenciação de sua dimensão positiva, podem vir a constituir-se em importantes recursos para uma inserção social mais adequada e saudável.

Através de seus laboratórios, o curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA, tem desenvolvido uma série de recursos que poderão ser aplicados por intermédio dos serviços oferecidos de maneira a contemplar diversas frentes de trabalho. Para cada uma delas foi elaborada uma intervenção específica, baseada em conhecimentos teóricos e a já conhecida inserção da universidade em seu entorno.

O programa, desta forma, abarca as diversas áreas da Psicologia e propõe-se a um binômio de ensino-aprendizagem para os alunos do curso, bem como para a comunidade de Canoas.

O conhecimento não se produz apenas no seio da universidade e tampouco está voltado unicamente para fins teóricos. Por outro lado, não se presta a uma atuação unicamente prática. O conhecimento é uma construção conjunta, na qual saberes diferentes encontram-se e conjugam-se visando a um benefício global.

Nesse sentido, o curso de Psicologia ULBRA-Canoas não pode afastar-se da realidade na qual se insere. A integração entre universidade, espaço privilegiado do conhecimento científico e tecnológico e a comunidade, tem sido, historicamente, uma das formas mais eficazes de atuação ética e comprometida para a construção de propostas inovadoras no campo da ciência e para as mudanças em prol de uma melhor qualidade de vida. De acordo com Ortega y Gasset (1998), seguindo o princípio da ‘economia’, a universidade deve primar por enfrentar as contingências como elas realmente são e não utopicamente.

Este programa, portanto, parte de uma análise global de necessidades normativas e percebidas (Montero, 1994) pela população como áreas deficitárias, nas quais os Serviços de Psicologia têm a oportunidade de inserir-se de forma efetiva, como facilitadores do desenvolvimento comunitário. Integra interesses e necessidades emergentes da Universidade, do Setor Público, do Poder Judiciário e de outras instâncias da comunidade organizada do município de Canoas. Também encerra a possibilidade de articular graduação, pós-graduação, pesquisa e extensão em uma formação acadêmica cidadã, preocupada em reduzir as distâncias entre o mundo científico e as necessidades de desenvolvimento social.

 

O Projeto

Como objetivo geral, o projeto de ações integradas do Curso de Psicologia visa construir uma rede de compromisso social, articulada a partir da idéia-mobilizadora: “Intervenções psicossociais na comunidade de Canoas”.

Esse objetivo se operacionalizará através de: a) efetivação de intervenções para minimizar problemas psicossociais que impedem o desenvolvimento humano integral, a saúde e a qualidade de vida da comunidade, através de um processo contínuo e dinâmico; b) promoção da inclusão social através de um conjunto de ações integradas, levando ao exercício da cidadania e à melhoria da qualidade de vida; c) prestação de atendimento a indivíduos, grupos e famílias em situação de vulnerabilidade social, caracterizada pela falta de acesso a direitos básicos e por conflitos relacionais em espaços da comunidade; d) reforço da participação da comunidade no diagnóstico, planejamento, avaliação e monitoramento das ações realizadas, utilizando metodologias participativas e inserindo-se nas instâncias comunitárias de discussão das questões emergentes; e) estimulação da ação multidisciplinar, através da parceria com outros cursos de graduação e pós-graduação da ULBRA; f) potencialização dos campos de prática, estágios e pesquisas do curso de Psicologia com as reais demandas sociais, atribuindo ao campo acadêmico o necessário caráter de compromisso social, bem como possibilitando aos alunos a formação de uma postura ética e uma formação adequada à realidade; e, g) construção de conhecimento e respostas inovadoras no campo da ciência que possam ser sistematizadas e compartilhada.

 

A Execução

A proposta constitui-se de intervenções psicossociais planejadas que serão, desde as centradas no indivíduo até as centradas diretamente na comunidade, passando pelas organizações e instituições que já são parceiras, configurando o mapa das redes sociais das comunidades de baixa renda no município de Canoas. Ocorrerão em parceria com o Setor Público, Poder Judiciário, INSS (Unidade Canoas) e outras instâncias da comunidade organizada deste município, como a União de Associações de Moradores de Canoas, através de projetos conjuntos. Serão tecnicamente executadas pelos alunos do curso de Psicologia (graduação e pós-graduação).

O curso terá representantes em contínuo contato com as entidades representativas da comunidade, participando das metodologias de diagnóstico local e de planejamentos participativos que demandarão a elaboração de novos projetos, os quais podem ser remetidos a diferentes áreas da Psicologia.

A partir da idéia-mobilizadora do projeto serão mantidas várias atividades comunitárias já em andamento no curso, e outras poderão ser acrescidas a partir do processo de compartilhamento de interpretações e sentidos, e da realização de ações articuladas pelos parceiros.

A cada semestre acadêmico os objetivos e metas dos projetos serão avaliados pelo coordenador das atividades comunitárias do curso de Psicologia junto com os parceiros.

Etapas de execução

O projeto de intervenção do curso de Psicologia, por sua amplitude, prevê sua implantação em etapas, conforme segue abaixo.

Etapa 1. Levantamento de necessidades da comunidade de Canoas

Foi realizado, em conjunto com a comunidade de Canoas, um levantamento preliminar de necessidades. Esse levantamento, apresentado no quadro a seguir, norteia as ações propostas na Etapa.4.

 

 

Etapa 2. Estabelecimento de parcerias com a comunidade

As parcerias visam integrar a rede social da cidade, de forma a potencializar os recursos existentes. Algumas delas já estão consolidadas, enquanto outras estão na fase de tratativas.

- PODER JUDICIÁRIO / FÓRUM DE CANOAS, através do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (NAVIV)

- INSS – Unidade Canoas, através do Serviço de apoio qualificação ao trabalhador pertencente ao Programa de Reabilitação Profissional, executado pelo SPPOT (Serviços e Pesquisa em Psicologia Organizacional e do Trabalho)

- Escolas Estaduais do Município, através do Programa de Orientação Profissional para o Primeiro Emprego, executado pelo SPPOT (Serviços e Pesquisa em Psicologia Organizacional e do Trabalho)

- Prefeitura Municipal de Canoas:

Projeto Ações Integrativas Comunitárias da Secretaria Municipal de Saúde

Programas junto às Escolas Públicas de Canoas, CAPS Saúde Mental, Unidade de Saúde da Mulher, Serviço de Atenção Alimentar, e Secretaria de Assistência Social, Cidadania e Trabalho (SMASCIT).

Etapa 3. Levantamento de recursos do curso de Psicologia para atendimento das demandas comunitárias

Como programas vinculados ao setor de extensão, os serviços do Curso de Psicologia contemplam as áreas de Psicologia Clínica e da Saúde, Hospitalar, Escolar, Organizacional e do Trabalho.

O curso de Psicologia mantém de forma permanente os seguintes serviços e laboratórios voltados para as necessidades e demandas da comunidade:

a) Serviços

Clínica Escola. Oferece atividades de promoção e prevenção da saúde, tratamento e reabilitação, o que ocorre tanto nas dependências da clínica quanto nos espaços da comunidade. A Psicologia atua em parceria com as áreas de Fisioterapia, Fonoaudiologia, Serviço Social e Assistência Jurídica.

Serviços e Pesquisa em Psicologia Escolar (SEPPE). Presta assessoria escolar à comunidade, tanto em nível individual quanto grupal, contemplando equipe diretiva, professores, alunos, funcionários e familiares.

Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (NAVIV). Presta atendimento integral às vítimas de violência da comunidade de Canoas, com o aporte das área de Serviço Social e Direito.

Serviços e Pesquisa em Psicologia Organizacional e do Trabalho (SPPOT). Desenvolve pesquisas e intervenções no campo da Psicologia Organizacional e do Trabalho, em diferentes contextos, visando promover a saúde e qualidade de vida de indivíduos, grupos e organizações.

b) Laboratórios de ensino

Os laboratórios visam oferecer suporte ao Ensino, Pesquisa, e prestação de serviços no desenvolvimento de atividades docentes, discentes e profissionais; incentivar e favorecer a busca da investigação e da produção e divulgação do conhecimento, na e com a comunidade, visando à integração teórico-prática; promover a integração entre docentes, discentes e pesquisadores no desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa, extensão.

Laboratório de Ensino Aprendizagem em Instrumentos de Avaliação Psicológica – LabIAP. Enfoca a avaliação psicológica, como área de saber e de intervenção. Atua na validação de instrumentos psicológicos e desenvolve instrumentos de investigação específicos para a avaliação das intervenções propostas pelos serviços.

Laboratório de Ensino e Pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento – LEPePD. Enfoca os aspectos do desenvolvimento humano em nível de pesquisa e desenvolve ações junto à comunidade na prevenção de problemas no desenvolvimento humano e promoção da saúde.

Laboratório de Psicologia da Saúde (LAPS). Desenvolve pesquisas no campo da saúde e estressores psicossociais. Desenvolve e avalia intervenções psicossociais que objetivem a promoção, prevenção e reabilitação em saúde.

Etapa 4. Propostas dos Serviços para as necessidades levantadas

De acordo com as necessidades inicialmente levantadas, a implantação do projeto deverá ocorrer por módulos, sendo que cada módulo contempla um grupo alvo (crianças e adolescentes, mulheres, trabalhadores desempregados e idosos), identificado como prioritário para as ações interventivas. Os módulos são apresentados a seguir:

 

 

Para o módulo I, as equipes do NAVIV, SEPPE e SPPOT possuem propostas de intervenções com suporte do LAPS e LEPePD. Nos módulos II, III e V, as intervenções iniciais serão propostas pela Clínica-escola com suporte de todos os laboratórios. E relativo ao módulo IV, o SPPOT é responsável pelas ações com suporte do LAPS.

Etapa V. Avaliação das intervenções

As intervenções serão avaliadas de acordo com sua efetividade em termos de aprendizagem (considerando as práticas dos alunos do curso de Psicologia), bem como de efetividade dos serviços prestados.

A avaliação deve contemplar um mapeamento dos pontos fracos que possam, no decorrer do trabalho, afetar na obtenção final de objetivos e metas, de maneira a contemplar o maior número possível de aspectos necessários para reestruturar a intervenção, mesmo quando esta ainda estiver em execução. Essa avaliação baseia-se no entendimento de que embora exista uma situação prevista na programação das intervenções, existe uma realidade, caracterizada temporal e espacialmente, que, muitas vezes, é mais complexa que o planejamento inicial. A idéia é que sempre se possa estabelecer critérios comparativos entre essas duas abordagens, a fim de que seja realizada a manutenção necessária para uma intervenção produtiva (Vergara, 1993).

Uma avaliação final também é de extrema relevância, ou seja, que se possa efetivamente afirmar se uma ação programada está conforme com as necessidades a que se propunha trabalhar. Essa avaliação final, no caso de nosso projeto, é a base para a implantação definitiva dos serviços.

Os momentos de avaliação, no que tange ao projeto integrado, dizem respeito a um mapeamento inicial da situação problema; uma avaliação periódica do formato ou delineamento das propostas apresentadas, avaliação do desempenho de cada intervenção, contemplando as tarefas e metodologia desenvolvidas, bem como os efeitos de cada intervenção na rede social da comunidade; e, por fim, uma avaliação do impacto das ações desenvolvidas, ou seja, sua efetividade em curto, médio e longo prazos, além da capacidade de irradiação dos efeitos positivos.

 

A implementação do projeto

O projeto será implantado por etapas, ou seja, as intervenções, bem como o suporte fornecido pelos laboratórios serão feitos de maneira programada.

O presente projeto firma-se por um compromisso permanente do Curso de Psicologia junto à comunidade de Canoas. Mais que a idéia de implantação das propostas apresentadas, o projeto prevê uma abordagem em que muitos dos objetivos serão definidos com o decorrer do próprio processo de inserção, no qual a participação da comunidade se faz mais presente.

Nesse sentido, o comprometimento do psicólogo constitui uma atuação que vai além do entendimento puro e simples das circunstâncias de vida na comunidade em questão, mas busca mapear as alternativas que já existem e que podem constituir-se em novas formas de atuação (Martín-Baró, 1989)

A proposta é, portanto, mais ampla do que, a princípio, se propõe. Uma vez identificados alguns focos de atuação, são formuladas algumas propostas, mas estas não se reduzem a seu campo específico. Visam a um maior nível de aprofundamento na realidade. Visam ao questionamento dos fenômenos que estão naturalizados.

Para o meio acadêmico, a inserção e o comprometimento com as causas sociais são mais que uma necessidade, é um dever de retribuição como parte dessa rede social, onde o conhecimento acadêmico entra para sistematizar as potencialidades daqueles que vivem os problemas mais básicos, buscam alternativas e, não raramente, já possuem soluções.

A comunidade, dessa forma, revela seu potencial e desenvolve os mecanismos que desconstróem uma realidade alienante, em prol de uma nova forma de apropriar-se de sua vida.

Quando falamos em universidade-comunidade, essa relação não deve ser entendida como dois sistemas separados que se unem em determinado momento. A comunidade e a universidade são parte de um mesmo sistema. O termo comunidade não refere-se unicamente aos ‘desprovidos do saber acadêmico’, mas sim a todos nós. Trabalhando juntos a reversão dos temas que nos afligem a todos.

Podemos falar de utopia nesse campo? Sim. Podemos. A utopia não é um lugar ao qual se chega. A utopia é um não-lugar, para o qual importa o caminho. Nas palavras do poeta António Machado: “Caminhante, não há caminho. O caminho se faz ao andar.”

 

Referências

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Endereço para correspondência
E-mail: dolores.ez@terra.com.br

Recebido em 10/2004
Aceito em 04/2004

 

 

1 Maria Dolores Gobbi – é Psicóloga; Especialista em Administração de Recursos Humanos (PUCRS), Professora e Coordenadora de Extensão do Curso de Psicologia - ULBRA/Canoas. Coordenadora do Serviço e Pesquisa em Psicologia Organizacional e do Trabalho (SPPOT) – ULBRA/Canoas
2 Sheila Gonçalves Câmara – Psicóloga; Mestre em Psicologia Social e da Personalidade e Doutora em Psicologia (PUCRS); Professora da área de Psicologia Social Comunitária do Curso de Psicologia - ULBRA/Canoas. Pesquisadora do Laboratório de Psicologia da Saúde (LAPS) – ULBRA/Canoas
3 Mary Sandra Carlotto – Psicóloga. Especialista em Gestão de Recursos Humanos (UCAM-RJ), Mestre em Saúde Coletiva (ULBRA-RS); Professora do Curso de Psicologia - ULBRA/Canoas. Pesquisadora do Laboratório de Psicologia da Saúde (LAPS) – ULBRA/Canoas
4 Antonieta Pepe Nakamura – Psicóloga; Doutora em Psicologia Social (USC-ES); Diretora do Curso de Psicologia - ULBRA/Canoas

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