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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  n.21 Canoas jun. 2005

 

ARTIGOS DE PESQUISA

 

Redes sociais na investigação psicossocial

 

Social networks in psychosocial research

 

 

María Piedad Rangel Meneses1, I, II ; Jorge Castellá Sarriera2, III

I Universidade Luterana do Brasil ULBRA Canoas
II Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões- Frederico Westphalen
III Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo, de caráter teórico, apresenta uma discussão sobre as redes sociais. Para isto, comenta diversos organismos de pesquisa, publicação e divulgação sobre a temática, assim como faz uma apanhado geral de revistas e livros dedicados a explicação e conceitualização destas. Depois de apresentados estes assuntos e determinar como é definida a rede social no presente trabalho, ilustra uma série de pesquisas realizadas em diversos contextos do desenvolvimento humano tais como trabalho, educação, família, comunidade, saúde, religião e processos migracionais.

Palavras-chave: Redes sociais, Investigação psicossocial.


ABSTRACT

This theoretical paper presents a quarrel on the social nets. So, it comments a number of research, publication and diffusion of the theme organisms, as well as makes a gathering of magazines and books devoted to the explanation and conceptualization of these. After presented these subjects and defined the social net, it presents a series of researches carried through in many contexts of the human development such as work, education, family, community, health, religion and migrating processes.

Keywords: Social networks, Psychosocial research.


 

 

Introdução

A discussão sobre redes sociais é vasta. Atualmente, essa discussão tem sido expandida em função de que as redes sociais estão sendo utilizadas nos mais variados campos das ciências, como uma forma interdisciplinar de compreender como se organizam e funcionam as redes sociais em diversas áreas da vida. Já não basta um olhar unidirecional, mas sim uma diversidade de visões e posicionamentos que contribuem para a configuração das redes sociais em uma aproximação, cada vez maior, à realidade.

Os campos e disciplinas que na atualidade estudam sobre as redes sociais pertencem tanto às chamadas ciências duras, quanto às ciências brandas. Assim, encontramos pesquisas e discussões na informática, na matemática, na física, na antropologia, na sociologia, na psicologia, na lingüística, na medicina e na ecologia, dentre outras. Passemos então a compreender como se podem definir as redes sociais, nas ciências humanas e sociais.

Podemos definir as redes sociais como um sistema aberto em permanente construção, que se constroem individual e coletivamente. Utilizam o conjunto de relações que possuem uma pessoa e um grupo, e são fontes de reconhecimento, de sentimento de identidade, do ser, da competência, da ação. Estão relacionadas com os papéis desempenhados nas relações com outras pessoas e grupos sociais (Montero, 2003) constituindo-se nas práticas sociais que no cotidiano não se aproveitam em sua totalidade (Rangel, 2003).

Na pesquisa sobre redes sociais encontramos dois grandes focos de estudo. O primeiro observa especialmente o aspecto estrutural das redes, utilizando um referencial metodológico gráfico e de caráter quantitativo para sua análise. O segundo é sobre a funcionalidade das redes sociais. Esta compreensão geralmente se realiza mediante metodologias qualitativas, visando descrever as funções que presta a rede social, assim como caracterizar os vínculos com que estas se entretecem.

 

As organizações e eventos sobre redes sociais

Em 1978 criou-se a associação profissional INSNA (International Network for Social Netwok Analisys) para os investigadores interessados na análise de redes sociais, sediada nos Estados Unidos, a qual mantém informações permanentes para seus associados através do Connections, boletim oficial da entidade. Foi fundada por Barry Wellman em 1978 sendo ele ainda o presidente atual. A principal função da instituição é manter informados os usuários sobre aspectos relacionados com as redes, os quais abrangem os mais variados temas e assuntos sociológicos, religiosos, educativos, médicos e tecnológicos. Na sua forma, Conections é concebido como um site de ciências sociais.

Outra das funções da INSNA é manter a conferência anual de Sunbelt, que existe desde 1979. Nos últimos anos tem se realizado no Canadá, Hungria, Estados Unidos, México e em 2004 na Eslovênia. Na conferência no México em 2003, as temáticas trabalhadas obedeceram tanto à análise estrutural quanto ao funcionamento das redes, e os conteúdos foram desde estudos de comunidades até as formas de realizar análises matemáticas.

Assim como estão formalizadas a associação e a conferência, encontramos revistas especializadas. Talvez a mais importante delas seja Social Networks que é publicada desde 1979, um ano depois de criada a INSNA e no mesmo ano que se estabeleceu a conferência de Sunbelt, tendo publicado até 2005 vinte e sete volumes, contendo um pouco mais de 100 revistas, com publicação trimestral. As temáticas que são divulgadas na revista abrangem matemática, informática economia, sociologia, antropologia, história, geografia, psicologia, ciência política e a grande área das ciências sociais. Além de abordar estudos sobre a estrutura e função das redes, também publica metodologias específicas para sua análise, sobretudo de ordem quantitativa e gráfica, não deixando de lado metodologias explicativas, compreensivas e interpretativas, de cunho qualitativo.

Uma revista eletrônica – fazendo jus à possibilidade de conectarmos-nos virtualmente e de já não mais ser obrigatória a presença ou proximidade física para exercer as funções da rede social – é a revista Journal of Social Structure, (JoSS), que como já indica seu nome, dedica-se ao estudo estrutural das redes vinculada, também, à INSNA. A revista está na sexta edição, tendo iniciado suas publicações eletrônicas em 2000.

Por fim a Redes, revista hispânica para o estudo das redes sociais, do mesmo modo, em formato eletrônico iniciou suas publicações em 2001 e, em 2005, publicou seu sétimo volume. É uma revista focada nomeadamente nas temáticas que acontecem nos países latino-americanos e Espanha, onde está radicada a edição da mesma.

Também encontramos vários manuais dedicados ao estudo das redes sociais, entre eles podemos mencionar Degenne e Forsé (1999), Scott, Jhon (1991-2000) e Wasserman e Faust (1994).

Na base de dados da CAPES (2004), ao procurar redes sociais, tomando como ano de base o de 2000, para defesa de dissertações e teses em todas as áreas do conhecimento, encontramos 80 títulos de trabalhos finais para pós-graduação. Dentre as páginas de qualidade científica que encontramos na rede e que permite ter acesso a artigos científicos, localizamos Scielo (2005) que, na procura por redes sociais, nos permite capturar três artigos, sendo esta página, a data, limitada para contribuir com as pesquisas sobre o tema.

Finalmente, nas buscas diretas pela Google, ao escrever social network, nos deparamos com mais de 600.000 páginas. Obviamente neste tipo de busca os dados fornecidos são de variedade ímpar, não só pelos conteúdos temáticos, mas também pela diferença da qualidade do exibido ali. Ao acrescentar à busca and psychology, o número cai para 44.000 páginas, o qual não ganha importância nem, por isto mesmo, incrementa a qualidade.

Como vemos, as pesquisas em redes sociais acabam por adquirir uma grande complexidade. Além das questões relativas à própria complexidade do tema, nos deparamos com a dificuldade de acessar materiais relevantes e atualizados sobre o tema no Brasil.

Por outro lado, as publicações sobre redes sociais fora do país, nos permitem a possibilidade de estudar às mesmas, assim como conferir algumas pesquisas sobre redes sociais nos contextos de desenvolvimento humano, como apresentamos a seguir.

 

O estudo das redes sociais

Antecedentes

Um dos pioneiros na temática das redes sociais é Jacob Moreno, com seus trabalhos publicados em 1934. Podemos entender isto devido a que ele propõe estudar a maneira como se conectam as pessoas que pertencem a um grupo, descreve os lugares de centralidade pelo qual algum membro é diferenciado do grupo e propõe formas gráficas para a compreensão da estrutura grupal conhecidas como sociogramas (Freeman 1996). Uma das características destes gráficos é que permite visualizar as formas como se conectam entre si os membros de um grupo. Bem conhecidos são os sociogramas aplicados na educação, utilizados por psicopedagogos e psicólogos escolares, inclusive para formar turmas.

Anos antes, o professor Almack, publicou na revista School and Society, em 1922, o artigo The influence of intelligence on the selection of associates. Neste artigo discute o desenvolvimento de um instrumento para avaliação sociométrica, com crianças entre 4 e 7 anos, que incluía questões sobre com quem gostava brincar e com quem gostava realizar tarefas escolares. As medidas de centralidade obtidas pelos alunos mais votados foram relacionadas ao Q.I. das crianças.

No Journal of Educational Research encontramos que Wellman em 1926 publicou o artigo The school child's choice of companions. Seguindo o modelo de Almack, estudou as duplas de eleição das crianças e introduziu modos de observação longitudinais com meninas e meninos de segundo grau. Ela observou como estas crianças se comportam nos períodos de tempo livre. Através desta observação, tipificou além do Q.I., a posição que os professores dessas crianças lhes davam, em uma escala de introversão – extroversão.

Nos Archives de Psychologie, Chevaleva-Janovskaja publicou em 1927, o artigo Groupements spontanés d'enfants à l'age préscolaire. Este autor estudou amplamente a estrutura grupal, a partir do desenvolvimento de um programa de observação para pré-escolares, onde visava avaliar o tempo que as crianças interagiam juntas. A escala foi preenchida pelos professores de 888 grupos os quais proporcionaram dados para o estudo do impacto da formação grupal e a homogeneidade destes em relação com a idade e o sexo.

Outro autor que encontramos nos primórdios dos estudos sobre a temática é Bott que, em 1928 no Genetic Psychology Monographs, publicou Observation of play activities in a nursery school, artigo considerado, também, precursor do trabalho atual em e com redes sociais. Estudou crianças na pré-escola observando com quem elas falavam, como interferiam nos outros, como eram vistas pelos outros e como cooperavam com seus colegas. Neste estudo ela utiliza o sampling method analysis. Bott tabulou a freqüência de todas as instancias de cada forma de comportamento, junto a informações a respeito de que outra criança tinha manifestado o mesmo tipo de comportamento.

O capítulo Some New Techniques for Studying Social Behavior, no livro editado por Dorothy Swaine Thomas, A method of studying spontaneous group formation, foi escrito por Hubbard em 1929. Neste capítulo ela focalizou seu estudo nas interações, examinando sistematicamente os padrões de interação em crianças pré-escolares.

The companionships of preschool children foi escrito por Hagman, em 1933, quando trabalhava na University of Iowa. Nesse livro apresentou os resultados das acuradas observações realizadas durante aproximadamente 40 anos. Neste período observou a freqüência das interações entre colegas de jogos, tanto nos jogos que realizavam no passado como aqueles que jogavam no presente, encontrando que através desta atividade as pessoas mantinham redes de interação.

Nos casos anteriormente comentados, e mencionados por Freeman (1996), observamos que prioritariamente foram desenvolvidos com crianças e no contexto escolar. Uma das explicações possíveis é que na época em que aconteceram estas pesquisas a metodologia em Psicologia era realizada com o Método Científico Experimental, o qual, como sabemos era o único aceito pela comunidade científica, e que obrigava a ter mecanismos estritos de controle de variáveis para a realização de pesquisas de cunho experimental. Assim, podemos compreender que os grupos de escolares eram aqueles que poderiam oferecer mais garantias de observação fora do laboratório e com condições de estabilidade, já que normalmente as salas de aula eram as mesmas, existia um professor único por cada turma e ele mesmo era, geralmente, treinado pelo pesquisador para a coleta de dados, o que propiciava que os comportamentos da criança se modificassem menos do que se existisse a interferência de um observador externo, como seria o caso de uma pesquisa quase experimental ou que utilizasse metodologias participativas e construcionistas como as que utilizamos na atualidade.

Desse modo, na época, realizar pesquisas de redes sociais na Psicologia, como conhecemos hoje em dia, certamente seria improvável pelas condições de mobilidade, instabilidade e interferência de todos os estímulos, variáveis, imprevistos e irreversibilidades, todos eles ordinários no convívio social, que escapam do controle no Método Científico Experimental.

Simultaneamente a estes estudos levados a cabo no âmbito escolar, efetuaram-se outros em outros âmbitos do desenvolvimento humano e por outros pesquisadores das ciências sociais, além de psicólogos. Apresentaremos, a seguir, algumas destas pesquisas sobre redes sociais, segundo os focos de investigação.

Foco de estudo

De maneira geral, foco de estudo das redes sociais não é o comportamento nem o estado de uma pessoa, família, grupo, organização, comunidade ou sociedade. O que estudamos é a interação e as inter-relações dos nódulos3 ou nós4 da rede, assim como os vínculos que se geram entre os diversos nódulos.

Redes sociais na família

Encontramos na revisão sobre redes sociais o livro escrito pela antropóloga Elizabeth Bott, Família e rede social. Este livro é produto de uma pesquisa interdisciplinar que se efetuou antes de 1957, data da publicação do mesmo. Na pesquisa participaram um médico psicanalista, uma psicanalista não-médica, um psicólogo social e a autora do livro. O objetivo principal foi investigar como os papéis conjugais exercem uma função de conectividade das redes sociais (Bott, 1957/1976). Na época, os esposos mantinham seus relacionamentos sociais basicamente atrelados à família de origem, morando perto, trabalhando junto e considerando seus parentes também como seus amigos. A partir da rede individual de cada cônjuge, se entretecem as duas redes que, pela conectividade entre alguns membros, vão se formando tecidos comuns da família. Nos resultados observaram que, quanto mais diferentes eram os papéis do casal, mais estreita era a malha homofílica de relações, ou em outros termos mais densa era a rede social de cada cônjuge. Isto acontecia porque as redes das esposas geralmente eram tecidas com outras mulheres que, de forma geral, exerciam os mesmos papéis entre elas, e da mesma forma os homens teciam suas redes pelos papéis comuns ao gênero masculino.

Na primeira metade do século XX, a distinção de papéis por gênero era muito mais diferenciada. Na medida em que a mulher começou a ocupar lugares que eram quase que exclusivos dos homens, principalmente na educação e no trabalho, o tabu social que existia ao redor das funções femininas e masculinas, até então excludentes, foi aproximando suas fronteiras e dispersando seus limites (Hintz, 2001). Hoje em dia, apesar de ainda termos estas diferenças entre papéis de gênero, têm acontecido rupturas importantes e, cada vez mais, podemos observar que tanto homens como mulheres compartilham tarefas e funções dentro dos lares e ainda, fora deles.

Outro livro dedicado exclusivamente ao estudo das redes familiares foi escrito por Speck e Attneave, publicado originalmente em 1973-2000. Não que neste meio-tempo não houvesse pesquisas nesta mesma temática. Mas para efeitos deste artigo, vamos nos deter unicamente em alguns dos livros que abordam este tópico.

O questionamento principal desse livro surgiu a partir do êxito limitado, percebido por psicoterapeutas de terapias individuais com esquizofrênicos e de experienciarem uma potência maior no tratamento quando nele era envolvida a rede familiar. Nesse tipo de patologia, terapeutas observaram que as relações estabelecidas entre todos os membros de uma família, inclusive da família extensa, amigos e parentes não próximos, estavam relacionadas sistematicamente com a aparição e permanência da esquizofrenia. Assim sendo, observaram que do mesmo modo como existem redes normais, ou melhor, propiciadoras da saúde, também podem existir redes disfuncionais e patologizantes. Consideravam que ao redor de uma pessoa esquizofrênica estabelecia-se uma patologia social comum, limitando formas de interação diferentes de aquela que mantinha um estigma imposto a um integrante de uma família (Speck & Attneave, 2000). Com base nestas observações compreenderam que o sentido dado à ajuda para a mudança deve fazer parte do contexto social da pessoa portadora da sintomatologia.

Foi com estas compreensões que os autores iniciaram uma proposta de intervenção na rede e com a rede social, não só para modificar o que eles denominaram como patologia social, mas, também, aproveitar os vínculos, as experiências comuns e a regularidade e cotidianidade que os participantes das redes mantêm para propiciar mudanças nesses padrões de relacionamentos, levando-os a uma retribalização5.

Outro pesquisador que realiza estudos sobre a função das redes sociais na família e da rede social familiar é Elkaim (1995) que tem se dedicado ao estudo da terapia de rede, propondo uma técnica específica para este tratamento psicoterapêutico. A proposta consta de seis fases, iniciando pela retribalização permitindo à família uma reorganização ou construção de uma rede primaria, caso não exista ou for precária. Termina com a fase de plenitude a qual é conseguida uma vez atingidas as mudanças nos padrões de relações tanto no microssistema familiar quanto na própria rede social que está inserida na matriz social.

A família e a rede social familiar vêm sendo estudadas e investigadas, também, por Sluzki. O autor, em 1997, propõe uma nova forma de conceituar as redes sociais e relata vários casos de clínica familiar em que trabalhou junto com as redes sociais e familiares. As contribuições principais consistem em propor um gráfico com quatro quadrantes: família, amizades, trabalho-escola e comunidade. Desta forma, podemos estudar os âmbitos de relações das famílias, permitindo intervir especificamente num ou vários dos contextos para otimizar o funcionamento da rede. A outra contribuição importante consiste em desenhar o no mapa com três círculos concêntricos para estabelecer a proximidade ou afastamento com que a família percebe as relações que estabelece com os nódulos da sua rede, indicando o mais central a percepção de proximidade e o periférico, distância da relação.

Dentre os artigos publicados, pelo mesmo autor, sobre redes sociais e famílias encontramos um, que discute a transformação da rede social pessoal dos idosos (Sluzki, 2000). Neste artigo, mostra como vai mudando a rede social destas pessoas em diversos contextos, tais como trabalho, família e amizades, analisado a influência recíproca entre os membros constituintes da rede. Na medida em que as pessoas passam pelas transições do ciclo vital, as redes sociais vão se reestruturando e os quadrantes vão sendo esvaziados ou densificados. Nos idosos ocorre uma perda da rede social no contexto de trabalho, devido à aposentadoria, e o quadrante comunidade vai ganhando nódulos. Podemos apreciar isto na medida em que as atividades que estruturam o tempo e as relações dos idosos mudam de foco. As horas destinadas ao trabalho devem ser utilizadas de outras formas, ganhando espaço as atividades de lazer e serviços voluntários, por exemplo.

Advertimos, ainda, na revisão sobre redes sociais e famílias, que se trata de compreender como a formação da rede social inicialmente parte da família, no momento em que dois indivíduos que pertencem a duas redes sociais diferentes as associam pelo casamento e começam a entretecer os laços sociais possibilitando o que Sluzki (1997) denomina rede de redes. Também estudou, o autor, a importância da compreensão do funcionamento das redes para a saúde da família, no que tange especificamente a saúde mental de seus membros, do sistema familiar e do contexto social em que se desenvolve esta, achando que quando as famílias pertencem a redes funcionais, que prestam variedade de funções, se propicia a saúde familiar.

Redes sociais na escola

Como observamos nos antecedentes sobre redes sociais, o contexto escolar possibilitou estudar as redes desde começos do século passado. Na escola, se passou do foco de estudo intergrupal, para um foco mais abrangente: A rede social dos alunos e suas famílias. O foco de estudo varia desde a compreensão da adaptação e rendimento acadêmico até as relações das escolas com as famílias, o entorno e as comunidades.

Entre as pesquisas realizadas podemos mencionamos algumas. Dabas (1998) problematiza a relação da rede formada entre a escola, a família e a comunidade. Sugere que dois nódulos em que a criança se desenvolve, a família e a escola, às vezes agem como se apenas se tocassem através do estudante e não fizessem parte de uma mesma estrutura de rede. O foco de estudo desta pesquisadora é em relação com as relações favorecedoras para a aprendizagem de crianças na idade escolar. Observou que, em muitas oportunidades, quando acontece o fracasso escolar, os dois sistemas se culpabilizam mutuamente, sem considerar que poderiam ou deveriam coordenar ações para o bem-estar do aluno.

Dentre os artigos publicados recentemente sobre a temática de redes sociais e escola, encontramos o publicado por Caballero e Ramírez (2004) no qual descrevem a estrutura da rede social de estudantes mexicanos de segundo grau, nos Estados Unidos. Comparam as médias acadêmicas com medidas de centralidade da rede, encontrando que ser mulher e dedicar-se ao estudo são preditores de alto desempenho acadêmico. Na densidade da rede, encontrou-se que estava formada basicamente por relações homofílicas6 , evidenciando a presencia de subculturas na escola.

O estresse e ajuste social de estudantes latino-americanos foi pesquisado por Alván, Belgrave e Zea (1996), concluindo a importância da constituição da rede no bem-estar destes estudantes, bem como diminuição do racismo nestes estudantes insertos numa rede social na cultura de chegada.

Redes sociais no trabalho

No contexto do trabalho, igualmente nos deparamos com pesquisas que têm como foco de estudos as redes sociais. Dentre elas podemos mencionar a investigação de Brough e Frame (2004), que apresenta como preditor da satisfação laboral, o apoio que os funcionários recebem do supervisor. Na mesma pesquisa, os autores encontraram que a satisfação intrínseca foi preditora da intenção de mudança laboral.

Outra pesquisa realizada por Falp e Wölker (2001), buscou determinar até onde a satisfação no trabalho pode ser explicada como um retorno do capital social, considerando a rede social como capital social. Encontraram os autores que quando o conteúdo e os laços da rede social dentro do trabalho resulta em bem-estar material e aprovação social, aumenta a satisfação com os diversos aspectos do trabalho e, finalmente, a especificidade de objetivos do capital social. Isto é, uma rede com uma estrutura e um conteúdo dados vai ter diferentes impactos em diversas formas de satisfação no trabalho. Para isto colheram dados através de questionários escritos em duas agencias do governo holandês, uma com 32 e a outra com 44 empregados. Concluíram, na investigação, que a especificidade de objetivos do capital social tem conseqüências tanto para a estrutura como para o conteúdo das redes sociais. Alcançar um objetivo particular, como satisfação no trabalho, requer não somente redes com uma certa estrutura ou laços com um conteúdo particular como redes especificamente estruturadas.

No mesmo campo de trabalho, Krackhardt e Kilduff (2002) estudaram como grupos de indivíduos reforçam idiossincrasias culturais, inclusive a estrutura das relações em rede. A partir de díades Simmelianas amarradas, a pesquisa examinou as percepções relativas a conselhos e relações de amizade em três empresas. Os resultados mostraram que as díades Simmelianas amarradas (comparadas com as díades em geral) conseguem melhor entendimento em função de quem está relacionado com quem e quem está participando em tríades nas organizações.

Pesquisando os efeitos negativos que as redes podem ter no contexto laboral, Moerbeek e Need (2002) desenvolveram uma investigação para determinar até onde um adversário deteriora a posição de uma pessoa no trabalho e como impede sua mobilidade. Focaram os efeitos negativos do capital usando o enfoque de curso de vida e, explicitamente, a mobilidade na carreira. Os resultados desta pesquisa foram no sentido de que os adversários influem nas carreiras e mostram que quem é afetado está exposto a condições destrutivas.

Por fim, numa investigação desenvolvida por Baker e Faulkner (2003) fizeram um teste crítico dos efeitos protetores contra efeitos nocivos dos laços sociais, encontrando que o papel das redes sociais é teoricamente ambíguo no caso de negócios legítimo-fraudulentos. As redes sociais aumentam, diminuem ou não tem efeito nas probabilidades de perda de capital. As menores probabilidades de perda acontecem quando os investidores têm relações com pessoas da companhia além de atenção às dívidas, ainda no caso de negócios fraudulentos.

Nas pesquisas que acabamos de apresentar sobre o contexto do trabalho, podemos apreciar a influencia positiva e negativa que as interações entre os membros que formam a rede social produzem, reforçando, portanto, a afirmação de Speck e Attneave (2000) de que as redes funcionam de modo funcional ou disfuncional, o que produz efeitos propiciadores de bem-estar dos trabalhadores, ou pelo contrário levam a condições difíceis de vida sócio-laboral.

Redes sociais na saúde

Em estudos cujo objetivo é averiguar a influencia dos pares de adolescentes na saúde, no que diz respeito a consumo de substâncias (Kirke, 2004), encontrou que pertencer a uma rede pode influenciar o adolescente para iniciar o consumo, assim como o consumo pode levar os jovens a se incluírem num grupo. Como elemento importante diz que pertencer a estes grupos cria um padrão de comportamento similar.

Este achado evidencia a influencia mutua existente entre a rede social como um todo e cada membro participante dela. Podemos advertir como ao ser construída a rede social, de alguma forma também o sujeito é construído. Ao pertencer a uma rede pode se notar que os participantes compartilham padrões de comportamento e relacionamento.

As redes sociais como suporte no tratamento de substâncias aditivas foram estudadas por Sung, Belenko, Feng e Tabachnick (2004). Investigaram a potência da rede como prestadora de função de apoio no tratamento médico psicológico, encontrando que as pessoas com uma rede social pobre têm uma maior probabilidade de romper as regras propostas para o tratamento.

Outras pesquisas mostram a importância que as redes têm no tratamento, tanto na adesão como no êxito do mesmo (Perrone, Civiletto, Webb & Fitch, 2004). Êxito e/ou fracasso pode ser observado no campo de tratamentos que envolvem processos de saúde geral. É assim vista a importância da rede social no ajuste sócio-emocional e cognitivo de pacientes com câncer de mama (Schmidt & Andrykowski, 2004), onde nos apontam a importância das mesmas como suporte no êxito do processo cirúrgico em mulheres que passam por esta situação.

O fato das redes sociais propiciar o cuidado geral da saúde, a adesão ao tratamento e para o ajuste emocional, já foi estudado por Sluzki (1995). O que nos interessa discutir aqui é que estas pesquisas que apresentamos, como exemplos, nos levam a pensar na potência das diversas funções que prestam as redes sociais.

Pensemos que do mesmo modo em que um grupo pode influenciar uma família, um indivíduo ou até um grupo, este por sua vez vai ser influído por todos os outros membros da rede, criando-se, desta forma, redes facilitadoras e promotoras da saúde, ou pelo contrário perturbadoras do funcionamento. Isto dependerá da experiência adquirida e das formas de interação da rede. Uma rede pode levar a modificar um sistema de crenças em todos os participantes, a partir da experiência e a necessidade de auxiliar-se os membros entre si.

Redes sociais na religião

Na depressão e nos processos cirúrgicos foram pesquisados os efeitos da rede social no contexto religioso (Contrada, Idler, Goyal, Cather, Rafalson & Krause, 2004), mostrando conseqüências positivas nos pacientes estudados. As pessoas que estão vinculadas a grupos religiosos durante o processo cirúrgico (pré-operatório e pós-operatório) contam com o apoio das pessoas e da sua própria fé, tendo efeitos de recuperação mais confortáveis e rápidos.

No Brasil, também estão sendo realizados estudos envolvendo rede social e religião. Dentre eles encontramos os realizados por Burity (2004) e Scheunmann e Hoch (2003). No texto de Burity, o autor discute a função social que presta o contexto religioso encontrando que a motivação religiosa é um determinante importante nas ações de assistência e militância social. Por outro lado, a motivação religiosa também foi determinante nas pessoas pobres, na hora de enfrentar as condições de pobreza em que moram.

A fé como suporte nas crises pessoais é estudada por Hoch (2003). Para o autor, ter uma ampla base de centro psicológico e espiritual fornece uma rede de apoio. Quando as pessoas estão abaladas na sua dimensão espiritual pode ocorrer um afastamento das crenças e perda de convicção nos valores. Porém, em outras ocasiões o que acontece é precisamente o contrário. Nos momentos de crise as pessoas podem vir a ter uma experiência benéfica que lhes permite uma mudança nas suas vidas.

Na nossa vida cotidiana podemos notar que as diversas congregações religiosas, especialmente as evangélicas, têm se tornado uma fonte de apoio para resolver as crises. Observamos vários meios de comunicação que, não somente são transmissores de fé e apoio, mas, também, servem como formas de expressão da dor e do conforto (Brasil, 2003). Muitas vezes estas redes são virtuais, no sentido de as pessoas compartilharem a dor, o alívio e a emancipação da fé sem a necessidade da presença nem o contato físico. Através da rádio, da Internet e da TV as pessoas se conectam, compartilhando penas e confortos.

Em processos de doença aparecem as correntes de oração. São correntes que unem pessoas que compartilham uma fé e que se vinculam por meio desta. Podemos pensar que sendo a fé um dos apoios mais abstratos, facilita nas pessoas esta conformação de redes invisíveis e sólidas.

Redes sociais na comunidade

Quiçá com o foco no contexto da comunidade e onde encontramos vastos estudos sobre redes sociais. Desta temática encontramos vários livros publicados, prioritariamente no idioma espanhol. Poderíamos pensar que, assim como na prática de psicólogos sociais surge a teoria da psicologia comunitária é também a partir da prática e da pesquisa que se teoriza sobre as redes sociais.

Talvez pelo fato das comunidades mais carentes precisarem de maior atenção por parte dos trabalhadores e profissionais das ciências sociais, humanas e da saúde, a problematização em torno das redes sociais é constante. Uma das funções mais estudadas é o apoio, a qual tem sido priorizada no estudo sobre as comunidades, observando sua influência em diversas dimensões do desenvolvimento comunitário, tais como educação, saúde, direitos cidadãos, colaboração, e responsabilidade civil.

Encontramos que um dos focos onde o trabalhador social centra seu trabalho é com a criança, a família e a adolescência. O trabalho desenvolvido por Sanicola (1996) oferece uma proposta de horizontalização da responsabilidade frente ao bem-estar do menor e de sua família. Nesta proposta, questiona a verticalidade do Estado no que tange à proteção do menor que, quando pensando na sua proteção, em ocasiões o que se faz é manter as pautas violentas, que tal dentro da família.

Destarte, a autora nos propõe estudar a importância da organização comunitária como forma de produção de bem-estar sócio-psicológico dos membros desta e trabalhar ao redor de fortalecimento de vínculos entre o saber popular e o saber científico, através dos profissionais da saúde, da educação, do poder judiciário, dos moradores das comunidades e finalmente das políticas públicas direcionadas à família, à criança e ao adolescente.

Na mesma direção de atender à criança e sua família, Chadi (2000) abordou a relação entre a rede primária, a rede secundaria e a rede institucional. No seu trabalho utiliza o conceito de Bronfenbrenner (1979-1987) sobre os contextos de desenvolvimento da criança: microssistema formado pela família, mesossistema constituído pela rede social pessoal e o macrossistema no qual se encentram redes sociais ampliadas, que a autora, em seu conjunto, interpreta como mapa de rede.

Considerando que o trabalho social visa atingir um contexto social amplo, Chadi (2000) concentra sua atividade na criação de laços que vinculem positivamente a criança, sua família, o contexto social ampliado e as instituições que assistem o sistema familiar. Na sua proposta de trabalho em rede social, considera que não e suficiente avaliar unicamente os recursos primários, secundários e institucionais que a comunidade possui, mas é preciso mobilizar as vias de contato entre cada membro da rede, com a finalidade de reorganizar o contexto em que a criança opera, de tal forma que se re-ordenem as pontes comunicacionais.

Associado ao estudo das redes sociais, nos deparamos com o questionamento sobre os movimentos sociais que constitui um foco de estudo em que se problematizam as relações Estado-Comunidade e se propõem formas de novos relacionamentos e auto-organização social. Ademais notamos que outra das preocupações dos profissionais do social (psicólogos social-comunitários, assistentes sociais, sociólogos, antropólogos, e educadores, entre outros) gira em torno da autogestão.

Os movimentos sociais são reconhecidos, no mundo ocidental, a partir de meados da década de 60, sendo 1968 uma data emblemática em que se organizam os movimentos estudantis, os novos movimentos antifeministas, os movimentos alternativos urbanos, os movimentos antinucleares, os movimentos ecológicos (mais tarde consolidados como Partido Verde) e os novos movimentos pacifistas (Riechmann & Fernández, 1994). Na realidade estes movimentos que iniciaram em pequenos grupos, geograficamente delimitados, foram se expandido pelo mundo inteiro, criando redes cada vez mais amplas. Apesar desta grande rede, movimentos locais continuam criando redes regionais com características próprias das culturas nas que se assentam. Neste sentido, também, seguindo o conceito de mencionado anteriormente, podemos entender que estes movimentos locais são redes que, a nível global, constituem uma rede de redes.

Neste mesmo escopo de investigação, localizamos o trabalho de Pucci (1998), que junto com uma comunidade de assentamento urbano desenvolveu uma proposta de assistência à autogestão comunitária. A autora discute os processos de segregação sócio-espacial que acontecem nas cidades latino-americanas. Centra seu estudo nos bairros da periferia, que emergem como bolsões de miséria. A partir destas observações trabalha em função da autogestão comunitária visando à melhora dos assentamentos populares utilizando a reflexão na problematização de políticas públicas, propiciando espaços para a participação comunitária.

Na mesma linha de estudos sobre espaços urbanos, nos deparamos com o trabalho de Moll e Fischer (2002), no qual abordam as relações dos grupos sociais com o Estado, na cidade de Porto Alegre, durante as últimas quatro décadas. Observaram que ao longo deste lapso, os agentes sociais foram passando de uma clandestinidade inicial, produto da ordem política de outrora, à criação de espaços de abertura democrática. Ressaltam a mudança governamental, na capital do Rio Grande do Sul, propiciando uma administração popular para a gestão, liderada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que culmina com a implantação de políticas públicas direcionadas aos interesses populares.

Como um exemplo do trabalho realizado na cidade, discutem a criação de oito unidades de reciclagem de lixo, composta por aproximadamente 200 famílias, que tecem relações com profissionais, que por sua vez têm relações com o poder público. Desta forma, para Moll e Fischer (2002), isto possibilitou a criação de redes de vida que compartilham interesses comuns, onde se dão interseções entre o poder público e ações civis.

Num trabalho mais teórico, Mance (2001) discutiu a forma como se constroem as redes solidárias destacando os aspectos, econômico, político e cultural que se entretecem formando uma rede que interage e mobiliza juntamente, sempre que um nódulo da rede impacta em outro. Através desta rede fluem recursos materiais, informativos e de valor, cujo objetivo é criar um mercado, de produtos, alternativo ao comércio capitalístico.

As células7 de rede produtiva se geram de forma espontânea, sempre que um grupo de pessoas é “movido pela livre iniciativa solidária” (Mance, 2001, p.50), cuja proposta seja criar uma célula produtiva geradora de um produto final que for utilizado pelos participantes da rede e que substitua um produto oferecido pelo mercado capitalista. Esta nova forma de organização do mercado deve tomar sempre o cuidado de produzir o que o autor denomina fissão8 (p.52) . Ou seja, sempre que uma célula de trabalho cresce aumentando turnos de trabalho e produção, deve romper-se produzindo novas células, de tal modo que com isto não se repita a forma da produção do capitalismo econômico.

Apreciamos como o estudo das redes sociais no contexto da comunidade abrange tanto os grupos pequenos quanto políticas e modos como é produzida a civilidade.

Redes sociais na migração

A existência de limites étnicos na rede de 20 estudantes foi testada por Baerveldt, Van Duijn, Vermeij e Van Hemert (2004), comparando a proporção de relações intra e interétnicas, enquanto se controla a distribuição de díades intra e inter étnicas nas redes de alunos. Investigaram se os limites são afetados pelas inclinações dos membros de rede a escolher relações intra-étnicas. Os resultados mostraram que as díades intra-étnicas propiciavam relações mais positivas do que as relações interétnicas.

Em uma pesquisa desenvolvida por Kim e Grant (1997), em que investigaram o processo aculturativo de imigrantes, concluíram sobre a necessidade de estes desenvolver habilidades sociais e de competência comunitária, familiar, e individual bem como propor estratégias de aculturação para famílias imigrantes.

Os países que acolhem imigrantes se deparam com o problema de criar espaços para receber e proporcionar bem-estar social aos estrangeiros. Martínez (1997) estuda a importância do apoio social no stress do processo migratório. A migração representa uma transição ecológica produtora de stress nas dimensões física, psíquica e social. O autor nos oferece um modelo para explicar o processo de adaptação dos imigrantes, que foi proposto inicialmente por Scott e Scott em 1989, o qual apresentamos a seguir.

 

 

Este modelo nos serve como referência para estudar os fatores preditores da satisfação vital dos imigrantes (Martínez, 1997). No novo país, os imigrantes devem estabelecer novas redes sociais. Sem perder os vínculos que deixaram para trás, constroem redes paralelas que, finalmente, podem se conectar com as anteriores. O principal apoio para os imigrantes é oferecido pelos membros das redes sociais às quais pertence, sejam elas as de origem ou as novas criadas na comunidade de acolhida. Porem, a reconstituição da rede social é uma das grandes dificuldades para o imigrante, como referido por Kim (1987).

O efeito amortecedor efetuado pelo apoio social na depressão que padecem imigrantes (Martinez, García & Maya, 2001) foi estudado numa pesquisa que investigou a relação entre estas duas variáveis, as que foram medidas com Questionário Mannhein de Apoio Social e a Escala CES-D, respectivamente. Os resultados obtidos demonstraram mediante a análise de regressão, que quando o apoio é percebido como amortecedor da depressão produzida pela migração.

Assim, nos processos migratórios encontramos pesquisas e teorias que nos explicam este evento. Também encontramos um modelo que mostra o processo de adaptação em um país estrangeiro e os fatores que com ele se co-relacionam.

 

Considerações finais

No percurso que realizamos sobre a temática das redes sociais, focalizamos nosso trabalho, principalmente, em algumas pesquisas desenvolvidas em diversos contextos do desenvolvimento humano. Apesar da discussão e estudo sobre redes sociais ter mais de um século, consideramos ele tão vigente como nos seus primórdios, fazendo-se cada vez mais importante a compreensão das mesmas, dada a complexidade com que na atualidade nos organizamos na matriz social.

O contexto escolar foi discutido com maior amplitude, pois neste espaço se iniciaram as publicações sobre investigações que visavam à explicação da forma que as crianças se relacionam e dos fatores que influem nesses relacionamentos. Nos dois primeiros artigos que apresentamos, publicados por Alkman, (1922) e Wellman (1926) citados por Freeman (1996), notamos que aceitam o Q.I. como fator de explicação para as relações entre as crianças. Mais adiante, encontramos que o foco do estudo se desloca para a forma como se configuram os grupos de crianças, estudando a homogeneidade grupal quando relacionada com sexo e idade (Chevaleva-Janovskaja, 1927).

Com o decorrer do tempo, observamos que os objetivos de pesquisas começam a introduzir outros componentes da relação escolar. Já não mais se centram unicamente no intragrupo, mas saem dele ampliando o escopo de observação, até abranger a família e a comunidade (Dabas, 1998).

A reflexão sobre estas duas formas de pesquisar no contexto escolar nos permite considerar a importância da explicação, compreensão e interpretação das maneiras em que se estabelecem as interações, tanto nos microssistemas como nos mesossistemas de desenvolvimento.

Nas pesquisas realizadas no contexto familiar, Bott (1957-1976) investigou a função dos papéis conjugais na conectividade das redes pessoais de cada cônjuge. Mais tarde, Speck e Attneave (2000) incluíram a rede social da família para compreender a esquizofrenia, propondo intervenções não somente individuais, mas sociais. Estas pesquisas visaram as interações no mesossistema para a compreensão e explicação de como operam tipos de famílias sadias e disfuncionais. Vemos que estes dois focos podem ser complementares, na medida em que as redes sócio-familiares iniciam com a possibilidade de conectar as redes pessoais de cada um dos cônjuges, e que a partir dessa nova forma de relacionamento as pessoas que ingressam na rede podem contribuir para manter o bom funcionamento ou, pelo contrário à disfunção.

As pesquisas realizadas no contexto do trabalho constataram que as redes sociais funcionam como preditoras de satisfação laboral (Brougth & Frame, 2004), e para predizer os efeitos negativos no bem-estar, quando as interações entre trabalhadores são inadequadas (Moerbeek & Need, 2002). Ressalta-se que os resultados destas pesquisas permitem corroborar a importância da qualidade dos vínculos criados entre os componentes da rede na vida das pessoas. Estes efeitos também foram evidenciados nas pesquisas cujo objeto de estudo foi a saúde, tanto física (Sung & cols., 2004) quanto mental, no que faz referência a manter saúde, ter comportamentos nocivos (Kirke, 2004) e obter êxito nos tratamentos (Perrone & cols., 2004)

Sugere-se que a inclusão dos conceitos de Chadi (2002) de redes primárias (familiar), secundárias (mesossistema) e institucionais, tendo como base o modelo de desenvolvimento ecológico contextual de Bronfenbrenner (1979/1987) possa orientar a análise compreensiva das transições ecológicas das redes sociais na migração. E que os estudos de Mance (2001) e Moll e Fischer (2002) possam trazer a compreensão da influência do macrossistema no processo migratório.

Por fim, o modelo explicativo para a adaptação social dos imigrantes (Scott & Scott, citados em Martínez, 1997) nos permitirá a observação de características individuais, psicossociais e os papéis desempenhados pelos imigrantes que, junto com os estressores ambientais e as habilidades culturais, poderão nos orientar no entendimento do processo adaptativo.

 

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Endereço para correspondência
Rua Castro Alves, 19/201 - Independência
CEP 90430-131 Porto Alegre - RS
E-mail: piarangelm@gmail.com

Recebido em 04/2005
Aceito em 06/2005

 

 

1 María Piedad Rangel Meneses – Psicóloga. Especialista em Intervenção Sistêmica da Família, Universidad Santo Tomás. Bogotá (Colômbia). Mestre em Psicologia Social e da Personalidade. PUCRS. Doutoranda em Psicologia – PUCRS. Professora da Universidade Luterana do Brasil ULBRA Canoas e da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões- Frederico Westphalen
2 Jorge Castellá Sarriera – Doctor en Psicología (UAM-España). Profesor Adjunto de la Pontificia Universidad Católica, PUC/RS (Brasil). Coordinador del Grupo de Investigación en Psicología Comunitaria PUC-RS
3 Palavra com que se denomina cada elemento que participa e é percebido como membro de uma rede
4 Esta é outra palavra que encontramos freqüentemente tanto na teoria sobre redes sociais, com o mesmo sentido, nas pesquisas realizadas. Por tanto, de aqui em diante, poderão ser utilizadas como sinônimas
5 Este termo vem sendo utilizado pelos profissionais que trabalham com redes sociais, para denotar a possibilidade de criar um grupo primário. O conceito remete a tribo, clã. Neste sentido, retribalizar, então, significa reorganização dos membros pertencentes à tribo ou clã para sua organização primaria
6 O termo é utilizado por Caballero e Ramírez para designar relações de filiação estabelecidas entre pessoas do mesmo sexo. Assim, nesta pesquisa observaram a que as mulheres constroem suas redes sociais na escola basicamente com outras mulheres, e os homens também as constroem com outros homens
7 O autor utiliza o termo “célula” no mesmo sentido que utilizamos os termos nódulo e nó de rede
8 As itálicas são do autor

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