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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  n.25 Canoas jun. 2007

 

RESENHA

 

Síndrome de Burnout: uma doença do trabalho na sociedade de bem-estar

 

 

Mary Sandra Carlotto*; Sheila Gonçalves Câmara**

Universidade Luterana do Brasil, Canoas/RS. Curso de Psicologia

Endereço para correspondência

 

 


 

 

As mudanças produzidas no mundo do trabalho, principalmente as ocorridas devido ao incremento do setor de prestação de serviços, têm ocasionado uma nova patologia laboral, a Síndrome de Burnout. A legislação brasileira de auxílio ao trabalhador já contempla a Síndrome de Burnout no Anexo II &– que trata dos Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais &– do Decreto nº3048/99 de 6 de maio de 1996 &– que dispõe sobre a Regulamentação da Previdência Social &–, conforme previsto no Art.20 da Lei nº8.213/91, ao referir-se aos transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho (Grupo V da CID-10), o inciso XII aponta a Sensação de Estar Acabado (Síndrome de Burn-Out, Síndrome do Esgotamento Profissional) (Z73.0). O Burnout é um fenômeno psicossocial relacionado ao contexto laboral e que acomete trabalhadores que desenvolvem suas atividades de forma direta e emocional com público. Burnout se constitui de três dimensões, exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. Burnout vem recebendo crescente atenção por parte da comunidade científica, empresarial e sindical, devido às conseqüências negativas para as organizações e seus trabalhadores. A mídia tem divulgado a síndrome, fazendo com que a população em geral tenha acesso a informações básicas e principais fatores de risco. No entanto, ainda há confusões tanto no material divulgado, quanto na própria definição de Burnout. Este, muitas vezes, é tratado como sinônimo de estresse ou insatisfação no trabalho. Nesse sentido, sua configuração como uma síndrome mais ampla acaba restringida, eventualmente, a um processo individual sem a consideração dos inúmeros fatores contextuais envolvidos. Explorar este fenômeno no campo da pesquisa e intervenção psicossocial tem sido uma das propostas do autor da obra, Dr. Pedro R. Gil-Monte1, psicólogo e professor do Departamento de Psicologia Social do Trabalho da Universidade de Valência &– Espanha. Gil-Monte tem sido uma referência nos estudos de Burnout em todo o mundo, através de seus inúmeros estudos, publicados em revistas nacionais e internacionais, que vão desde a validação de seu instrumento para avaliar a síndrome até estudos aplicados sobre o tema.

Seu mais recente livro, publicado em 2005, traz um estudo completo sobre Burnout, indo desde aspectos conceituais até os avanços mais recentes na área em termos de intervenção. O livro está estruturado em seis capítulos. Inicialmente o autor discorre sobre a relevância e necessidade de estudar burnout, informando a respeito da origem do termo e o contexto onde essa patologia laboral se insere. Aborda os aspectos legais em diversos países, incluindo o Brasil. No segundo capítulo, contempla uma questão bastante discutida entre os estudiosos da síndrome, ou seja, sua delimitação conceitual e importância de se ter uma única linguagem para o entendimento da síndrome. Já há consenso de que a Síndrome de Burnout é uma experiência subjetiva de caráter negativo constituída de cognições, emoções e atitudes negativas com relação ao trabalho as pessoas as quais tem que se relacionar em função do mesmo. É uma resposta ao estresse laboral crônico.

Considerando a delimitação atual da síndrome, o autor apresenta os sintomas assim como as duas principais perspectivas da síndrome, a clínica e a psicossocial. A perspectiva clínica entende a SB como um estado atingido pelo sujeito como conseqüência do estresse no trabalho, e a psicossocial define Burnout como um processo desenvolvido pela interação das características do contexto de trabalho e as características pessoais do sujeito.

Nos dois capítulos seguintes são destacadas as variáveis relacionadas à síndrome, culturais, organizacionais, laborais e pessoais. O processo de desenvolvimento de burnout, seus principais modelos teóricos e a culpa, no sentido de vitimização, como variável psicossocial encerram essa seção.

No penúltimo capítulo, é exposta de forma explicativa a questão do diagnóstico e avaliação. Destaca a importância da entrevista associada ao instrumento para identificação da síndrome. Exemplos de casos enriquecem o texto, facilitando o entendimento das diversas facetas do fenômeno. O último capítulo é dedicado à prevenção e tratamento de burnout, onde são destacados os enfoques organizacional, grupal e individual. Nesses níveis, são apresentadas técnicas que capacitam o profissional a intervir, auxiliando trabalhadores e organização no manejo dos estressores do contexto laboral. Em todos os capítulos são apresentados resultados de estudos recentes realizados com várias categorias profissionais e delineamentos. Nesse sentido, o livro vai dirigido a todas as instâncias que, de alguma forma, podem estar relacionadas à síndrome. Isto é, organizações, empregadores, trabalhadores e profissionais de saúde. No campo da saúde, especialmente, o autor aborda a importância da síndrome devido a suas proporções epidemiológicas, o que passa de um fenômeno apenas verificável, para a categoria de um problema epidemiológico de saúde pública.

A obra alcança plenamente seus objetivos, cobrindo, de forma exaustiva, este importante tema, sendo a integração entre teoria, pesquisa e intervenção seu grande diferencial. Além disso, o leitor adquire uma nova perspectiva sobre Burnout, compreendendo essa patologia laboral como um fenômeno psicossocial.

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: mscarlotto@terra.com.br

 

 

* Mary Sandra Carlotto é psicóloga; Mestre em Saúde Coletiva (ULBRA Canoas/RS); Doutora em Psicologia Social (USC/ES); professora do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA Canoas/RS)
** Sheila Gonçalves Câmara é psicóloga, Mestre em Psicologia Social e da Personalidade; Doutora em Psicologia (PUCRS); professora do Curso de Psicologia e do PPGSC da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA Canoas/RS)
1 Gil-Monte, P.R. (2005). El síndrome de Quemarse por el Trabajo: una enfermedad laboral en la sociedad del bienestar. Madrid: Ediciones Pirâmide

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