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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  n.27 Canoas jun. 2008

 

ARTIGOS DE PESQUISA

 

Imagem corporal em crianças institucionalizadas e em crianças não institucionalizadas

 

Physical image in institutionalized children and non institututionalized children

 

 

Lorena Emilia Zortéa*; Carla Meira KreutzI,II,**; Rejane Lúcia Veiga Oliveira JohannII***

I Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Pós-Graduação em Transtornos do Desenvolvimento
II Universidade Luterana do Brasil - Gravataí. Curso de Psicologia

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O presente estudo investigou, por meio de desenhos da figura humana e de entrevistas, a imagem corporal e as idéias sobre si mesmas de crianças institucionalizadas e não institucionalizadas, de ambos os sexos e com idade entre cinco e sete anos. A produção gráfica investigou a imagem corporal e foi avaliada pela Escala de Indicadores Emocionais de Koppitz (1966). As entrevistas visaram examinar as idéias que as crianças tinham sobre si mesmas e foram analisadas através da análise de conteúdo de Bardin (1977). Os resultados do Estudo I apresentaram um número de indicadores emocionais muito semelhantes entre os dois grupos, possivelmente devido a qualidade do atendimento oferecido às crianças institucionalizadas e a pouca atenção e tipo de cuidados oferecidos às crianças não institucionalizadas. Os resultados do Estudo II sugerem que as crianças de ambos os grupos mostram semelhanças em seus relatos. Uma particularidade do grupo das crianças institucionalizadas é uma insegurança quanto às suas qualidades.

Palavras-chave: Imagem corporal, Autoconceito, Institucionalização.


ABSTRACT

The study in question investigated, through human figure drawings and interviews, the body image and self-concept in institutionalized and non institutionalized children, of both genders and age between five and seven years old. The graphic production aimed to investigate the physical image and it was evaluated by the emotional indicators scale, of Koppitz (1966). The interviews targeted to examine the self-concept and were analyzed by content analysis, of Bardin (1977). The results of the study 1 show a few significant differences between the two groups, proving that non institutionalized children, the ones living with their parents, show a number of emotional indicators that are very similar to the institutionalized children, probably because they are receiving quality attention at the institution. The results of the study II suggest that children in both groups show similarities in their accounts. A peculiarity of the institutionalized children group is insecurity when it comes to their qualities.

Keywords: Physical image, Self-concept, Institutionalization.


 

 

Introdução

Uma das formas de se analisar o desenvolvimento emocional tem sido o estudo da imagem corporal do indivíduo. Num sentido amplo, a imagem corporal refere-se à experiência psicológica relacionada ao corpo, portanto está interligada a sentimentos e atitudes do indivíduo (Pasian & Jacquemin, 1999).

A imagem corporal é constituída a partir da integração entre ego e id, num interjogo contínuo das tendências egóicas com as tendências libidinais. Para Capisiano (1992) a estrutura do modelo de corpo é resultante da reunião de representações de várias procedências, o que resume as diferenças em um só conhecimento: o corpo. Diz ainda o autor que a imagem do corpo não é estática, e sim, passível de tranformações vinculadas à modificação contínua do psiquismo.

Uma das formas de conhecer a imagem corporal do indivíduo é através do desenho da figura humana, onde ele projeta o conceito de si mesmo (Vankolck, 1984). As crianças fazem os desenhos de figuras humanas refletindo a imagem mental que possuem de seu corpo. Dessa forma, projetam formas isoladas e desconexas, de acordo com sua capacidade criativa, motora, intelectual e da própria visão de si, incluindo em sua formação desde contribuições anatômicas, fisiológicas, neurológicas até aspectos sociológicos (Capisiano, 1992).

Em torno de 5 a 7 anos, uma criança é capaz de dar uma descrição bastante completa de si mesma em uma série de dimensões (Bee, 1997). Através de seu relato verbal, "a criança expressa produtos de percepções, sua representatividade psíquica em sua forma, distúrbios, funções e seu próprio desenvolvimento" (Capisiano, 1992, p.182).

Assim, utilizando o desenho da figura humana e entrevistas, o presente estudo visa identificar o papel dos pais na construção da imagem corporal e idéias sobre si mesmas em crianças de cinco a sete anos, comparando crianças institucionalizadas e não institucionalizadas. Foram investigadas eventuais diferenças e similaridades na imagem corporal entre crianças que convivem com os pais desde o nascimento e crianças que vivem em instituição durante parte de sua vida, visando identificar similaridades e eventuais particularidades quanto às idéias de si mesmo, ou seja, o autoconceito, entre os dois grupos pesquisados.

O desenvolvimento da imagem corporal

Segundo Schilder (1999), a imagem corporal é uma experiência básica na vida de qualquer um, uma experiência vital, lábil e mutável. O autor diz tratar-se de uma reconstrução constante daquilo que o indivíduo percebe de si e das determinações inconscientes que ele traz de seu diálogo com o mundo. Todas as experiências vivenciadas estão marcadas no corpo/história do homem, e elas estão presentes e sendo desveladas nas inter-relações estabelecidas com os outros e com o meio (Kleinubing & Kleinubing, 2002).

Inúmeras condições sociais e psicológicas influenciam positiva ou negativamente o desenvolvimento de uma criança. Ela necessita que os pais supram suas necessidades básicas, tais como alimentação, calor, abrigo e proteção, e, em segundo, que proporcionem um ambiente no qual possa desenvolver ao máximo suas capacidades físicas, mentais e sociais. Para Bowlby (1988), uma atmosfera de afeição e segurança na vida inicial do indivíduo por parte das figuras parentais é fundamental. É esse clima de segurança que vai possibilitar a formação de um apego seguro. Moretti (1992) assinala que para o bebê ter uma imagem saudável de seu corpo, deve passar por estímulos sensoriais sob a forma de afagos, toques, embalos, massagens e brincadeiras na água. No princípio, a criança não conhece seu corpo, tem sensações físicas de conforto, desconforto, raiva, dor, tem uma dependência da figura materna, só conseguindo por volta de um ano de vida diferenciar a sua imagem corporal do corpo da mãe e dos outros (Blaesing & Brockhaus, citados por Moretti,1992).

De acordo com Blaesing e Brockhaus (citado por Moretti, 1992), a criança, no decorrer do crescimento e do desenvolvimento interpessoal, cria um conceito de seu próprio corpo como resultado das suas experiências sensoriais e afetivas, da maneira como vê o mundo e seu domínio do mesmo. Por ter uma imagem corporal plástica, o indivíduo organiza e adapta seus limites corporais de acordo com sua interação com o meio ambiente, podendo ser identificada nos seus valores e sentimentos a respeito de si mesma, do seu grau de organização, da personalidade e força do ego.

Nesse sentido, Mahler (1993) destaca que os três primeiros anos de vida são determinados por dois fatores. O primeiro deles, a dotação genética, que o impulsiona para o vínculo com o meio ambiente, permite perceber e aceitar os cuidados proporcionados pela mãe. O segundo fator é a maternagem, ou seja, a presença de uma mãe que proporcione verdadeiramente estes cuidados. Bowlby (1984) refere que crianças seguramente apegadas, aos seis anos, são aquelas que tratam seus pais de uma forma relaxada e amigável, que estabelecem uma intimidade de forma mais fácil e sutil. Em idade escolar, segundo Bee (1997), a autopercepçãode uma criança também está ligada às características visíveis, como sua aparência, o quê ou com quem joga, onde mora, o que sabe fazer bem ou não, ao invés das qualidades mais internas, constantes como traços de personalidade.

Crianças institucionalizadas

Segundo Loos, Ferreira e Vasconcellos (2002), a violência dentro das famílias e as situações de risco são apontadas como causas principais que promovem a institucionalização infantil. Subtraídos do lar, há um rompimento brusco com seus vínculos anteriores que, mesmo perturbados, serviam de referencial para a criança. Para os autores, crianças com seqüelas sociais e emocionais apresentam características de atitudes defensivas contra ambientes ameaçadores, desconfiança básica, agressividade, sentimentos de culpa, baixa auto-estima.

Silveira (2002) refere que, no processo de institucionalização, meninos chegam com pertences individuais e outros objetos significativos, buscando, de alguma forma, preservar relíquias particulares para não perder pedaços de sua história e subjetividade. Para a autora, o sistema institucional, ao mesmo tempo em que ampara e protege, desrespeita o eu digno da criança, pois o convívio em coletividade delimita a identidade individual.

Os vínculos são um referencial primordial na elaboração da concepção de si e do mundo. Laços afetivos conturbados trazem conseqüências futuras para o repertório comportamental dos indivíduos, inclusive para sua auto-estima, que pode definir sua forma de relacionamento com o outro e com o mundo em geral (Weber & Kossobudzki, 1996).

A impossibilidade de manter e formar vínculo numa instituição de internamento é determinada por vários fatores, tais como: o elevado número de crianças, o tratamento massificado e despersonalizante, a rotatividade de funcionários, as transferências dos internos para outras instituições e o desligamento da criança de sua família e comunidade, dentre outros (Weber, 1999).

Lewis e Wolkmar (1993) comentam que bebês criados em instituições apresentam, com maior freqüência, o hábito de agarrar-se a alguém e/ou o comportamento de seguir uma pessoa, mostrando-se menos capazes de manter relações duradouras, profundas e menos vinculadas do que as crianças de quatro anos de idade criadas em família. Para Costa (1993), crianças institucionalizadas são crianças tristes, deprimidas, angustiadas, de futuro incerto, sempre à procura de migalhas de amor e ternura. Muitas crianças vão a óbito, não só por deficiência de cuidados, mas, sobretudo pela baixa resistência imunológica, provocada pela carência afetiva das crianças abrigadas na instituição.

 

Método

Participantes

Participaram do estudo 24 crianças na faixa etária de 5 a 7 anos. O grupo não institucionalizado foi composto por 13 crianças, com escolaridade contínua de 3 anos na educação infantil de uma escola estadual de ensino fundamental da capital do estado, que atende uma população em situação econômica desfavorável. Moravam com a família nuclear, freqüentavam um turno na escola e desenvolviam atividades preestabelecidas para a faixa etária, ligadas ao desenvolvimento das áreas socioafetivas, linguagem, psicomotora, participando também de passeios, gincanas e festas.

O grupo institucionalizado foi composto por 11 crianças, com escolaridade entre 1 e 3 anos na escola infantil, internas em fundação não-governamental de abrigo de menores. Os pais perderam o poder familiar em função de maus tratos físicos, psicológicos, negligências com a saúde, alimentação, educação, envolvimento com drogas, abuso sexual, não tendo nenhum contato com as crianças. O atendimento da instituição era feito em duas unidades. Uma na capital do estado, onde as crianças eram abrigadas em apartamentos, divididos por sexo, compreendendo um total de 20 crianças de diferentes idades. Na outra unidade, localizada em uma cidade próxima da capital, as crianças eram agrupadas em casas, possibilitando que irmãos permanecessem juntos, totalizando 22 crianças, onde havia a organização de agendas pessoais. Freqüentavam escolas públicas e seguiam uma rotina de atividades ligadas à faixa etária, tais como passeios pela quadra e praças públicas. Havia crianças em atendimento psicológico, fonoaudiólogo e dentário.

Instrumentos

Foram utilizados os seguintes instrumentos e materiais: Termo de Consentimento Informado entregue e assinado pelos pais e pela responsável técnica da instituição. Na escola foi feito uma reunião, com a presença da direção e do SOE, visando clarificar os objetivos da pesquisa e sigilo. Também foram utilizados o desenho da figura humana, folhas de papel branco, lápis preto e borracha, bem como uma entrevista semi-estruturada composta por sete questões, na qual utilizamos gravador e fita cassete.

Procedimentos

Foi utilizado o delineamento de grupos contrastantes (Nachmias & Nachmias, 1996). Os participantes foram contatados somente quando confirmados os critérios de inclusão para participar da pesquisa. Foram marcadas as entrevistas com a coordenação das instituições e escola, onde foram coletados dados relativos à população atendida, serviços e atividades oferecidas. Em uma nova visita, após breve interação com as crianças, foram realizadas as entrevistas e o desenho da figura humana, individualmente com cada criança, em uma sala reservada especialmente para a coleta de dados da pesquisa.

O desenho da figura humana foi avaliado quanto à freqüência dos 30 indicadores emocionais de Braile (1973), cuja autora realizou uma adaptação dos indicadores emocionais de Koppitz (1966) para a América do Sul. As entrevistas foram gravadas e transcritas posteriormente. Realizou-se a análise de conteúdo desse material, buscando investigar as idéias sobre si mesmas das crianças entrevistadas (Bardin, 1977).

 

Estudo I

A imagem corporal - Produção gráfica

Apresentação e discussão dos resultados - desenho da figura humana

O grupo de crianças institucionalizadas, que não vivem com os pais, está identificado com a sigla "CI", e o grupo de crianças que vivem com suas famílias está identificado como "CF". A tabela abaixo descreve o número de componentes de cada grupo de amostra "CI" e "CF", indicando também o número de meninas e meninos que participaram.

 

 

A média de idade das crianças institucionalizadas é de 6,3 anos (DP=0,83) e das crianças não institucionalizadas é de 6,5 anos (DP=0,32).

A tabela seguinte indica a freqüência das classes dos indicadores emocionais de Koppitz nos desenhos das crianças institucionalizadas (n=11) e crianças que vivem com suas famílias (n=13).

 

 

A freqüência das crianças institucionalizadas (n=11) e das crianças que vivem com suas famílias (n=13), em função de total de indicadores emocionais de Koppitz, detectados em seus desenhos da figura humana é demonstrada na tabela 3.

 

 

A tabela 4 aponta o número médio de indicadores emocionais detectados nos desenhos de figura humana das crianças institucionalizadas (n=11) e das crianças que vivem com suas famílias (n=13).

 

 

Através do teste t, ao nível de significância de 5%, verificou-se não haver diferença significativa do número médio de sinais da escala de indicadores emocionais e de suas subescalas em relação à variável Grupo. Assim, para a escala de indicadores emocionais e para a dimensão Psicopatologia, o grupo institucionalizado apresentou um número médio de sinais menor do que o grupo não institucionalizado. Para as dimensões Qualidade e Omissão, o grupo institucionalizado apresentou um número médio de sinais maior do que o grupo não institucionalizado, porém, estas diferenças não foram significativas através do teste t ao nível de significância de 5%.

Os indicadores emocionais discutidos a seguir estão definidos como aqueles que refletem ansiedades e preocupações não esperados para o desenvolvimento típico. Segundo Koppitz (1968), para que estes sinais realmente se configurem como indicadores de problema emocional é preciso que obedeçam a alguns critérios, dentre os quais está a exigência de que o item não seja usual, isto é, deve ocorrer com freqüência reduzida (inferior a 16%) em crianças com desenvolvimento típico.

Não apareceram os itens emocionais 4 (sombreamento das mãos e/ou pescoço), 8 (figura grande), 20 (monstro ou figura grotesca), 21 (desenho de três ou mais figuras), 24 (omissão dos olhos), 26 (omissão do corpo), 27 (omissão dos braços) e 30 (omissão do pescoço) como sinalizadores de dificuldades afetivas nas crianças dos dois grupos.

A tabela aponta a distribuição de freqüência simples dos sinais de transtorno emocional (indicadores emocionais de Koppitz) nos desenhos da figura humana das crianças institucionalizadas (n=11) e das crianças que vivem com suas famílias (n=13).

 

 

Através do Teste Exato de Fisher, ao nível de significância de 5%, verificou-se, em geral, não haver associação significativa entre a presença dos indicadores e a variável grupo com exceção dos indicadores "Assimetria grosseira de membros" e "Cabeça pequena/grande", em que a presença destes indicadores está associada ao grupo institucionalizado e da presença dos indicadores "Mãos grandes" e "Nuvens" estar associada ao grupo não institucionalizado.

O indicador emocional 1 (integração das partes de figura), apareceu em 02 crianças institucionalizadas, sugerindo sérias perturbações emocionais, personalidade pobremente integrada, dificuldade de coordenação ou impulsividade. Porém, de modo geral, pode-se dizer que não houve diferenças significativas entre os grupos deste estudo quanto a sua imagem corporal.

Em ambos os grupos, apareceram dois indicadores emocionais que sugerem dificuldades socioafetivas. O primeiro, assimetria grosseira de membros (indicador emocional 5), revela dificuldades de coordenação e impulsividade, indícios de disfunção neurológica, falta de coordenação, controle muscular fino, sentimentos de desequilíbrio com lateralidade e inadequação física encontrado em 5 crianças do grupo institucionalizado. Um segundo indicador emocional que apareceu foi o de número 10 (cabeça pequena/grande), o qual tem sido associado ao esforço intelectual/imaturidade, agressão, retardo mental e preocupação com o rendimento escolar, encontrado em 4 crianças do grupo institucionalizado.

Já o indicador emocional 9 (transparências) pode sugerir, em função de sua freqüência, uma imaturidade, agressividade, impulsividade e conduta atuadora. Detecta-se através desse indicador uma angústia, conflito, medo muito intenso com respeito a aspectos sexuais do nascimento ou mutilação corporal, estando presente no grupo institucionalizado (04 crianças) e não institucionalizado (03 crianças).

O indicador emocional 12 (dentes) sugere agressividade manifesta e foi encontrado somente no grupo de crianças que vivem com os pais (03 crianças). Por outro lado, o indicador 13 (braços curtos) apareceu fortemente no grupo das crianças não institucionalizadas (04 crianças), o que poderia indicar dificuldades de relacionamento com o meio ambiente e com outras pessoas, tendências ao retraimento, timidez, falta de agressividade e inibição dos impulsos. O indicador emocional 16 (mãos grandes) foi detectado somente em crianças não institucionalizadas e está associado à conduta agressiva e atuadora.

Outro indicador emocional que foi encontrado no grupo de crianças não institucionalizadas é o 22 (nuvens, chuva ou neve), que revela dificuldade de adaptação e ansiedade por doenças psicossomáticas. Há um sentimento de ameaça pelo mundo adulto, especialmente pelas figuras parentais.

Conduta tímida e retraída, ausência de agressividade manifesta, pouco interesse social, pouca capacidade de progredir e avançar com segurança, tendência ao retraimento por timidez, às vezes, culpa por masturbação são sentimentos que podem ser encontrados no item 23 (omissão do nariz) e foi encontrado em 2 crianças do grupo de não institucionalizados, número superior ao grupo de institucionalizados.

Este estudo evidencia, portanto, que, mesmo em crianças possuidoras de uma família, com pai e mãe vivendo juntos e com escolaridade média de três anos, podem existir dificuldades em suas relações socioafetivas e na construção de sua imagem corporal.

A influência dos diferentes contextos sobre o processo de desenvolvimento infantil merece destaque e importância. Piaget (1993) refere que as influências do meio e da hereditariedade são recíprocas. Vicente (1998) reforça qu a criança, nos primeiros anos de vida, depende de ligações afetivas para crescer, carece de cuidados com o corpo, com a alimentação e com a aprendizagem, mas nada disso é suficiente para um desenvolvimento saudável se ela não encontrar um ambiente de acolhimento e afeto.

A realidade atual descrita por Silveira (2002) sobre as famílias originais, na qual muitos pais privam-se de convivência e passam distantes dos filhos buscando o sustento, pode estar evidenciando uma inversão de papéis. Dessa maneira, muitas vezes, os cuidados da casa e dos filhos, antes feitos pela mãe, hoje são delegados a outros cuidadores, fragilizando as relações entre os membros da família. Essa poderia ser uma explicação possível para justificar a presença de tantos indicadores emocionais nas crianças que vivem com suas famílias.

A família é o centro natural da afeição, conforto, cuidado e segurança de que a criança necessita para que possa crescer e se desenvolver integralmente. Pode-se pensar que, mais do que a presença dos pais, é importante o tipo de atenção e cuidados oferecidos. Este é outro fator que poderia explicar a ausência de diferenças significativas no presente estudo, onde parece que a qualidade dos serviços da instituição contribuiram no sentido de diminuir os possíveis efeitos negativos do ambiente inicial dessas crianças.

 

Estudo II

As idéias sobre si mesmas através das falas de crianças

Apresentação e discussão dos resultados - entrevistas sobre idéias a respeito de si mesmas.

Utilizou-se a análise de conteúdo (Bardin, 1977) a fim de examinar as respostas obtidas das crianças. Foram geradas três categorias, apresentadas a seguir. As crianças institucionalizadas, que não vivem com os pais, estão identificadas com a sigla "CI", e as crianças que vivem com sua família estão identificadas como "CF". Após a caracterização de cada tema, as respostas das crianças institucionalizadas e não institucionalizadas são comparadas, examinando-se eventuais semelhanças e particularidades.

1- Percepção de si mesmo - características emocionais e físicas

Esta categoria refere-se as características emocionais e físicas relatadas pelos participantes da pesquisa, que mostraram através de seus relatos como se percebiam. Apareceram relatos desde uma percepção positiva de si e de acordo com seu próprio corpo até uma percepção ambivalente sobre si, com dúvidas sobre o quanto o seu jeito e o seu corpo agradam ao outro. Abaixo seguem alguns exemplos das falas das crianças sobre esta temática.

"Eu sou bonito, sou magro."(CI4)

"Eu se vejo bem. Às vezes eu me olho no espelho, tem gente que me acha feia, mas eu não e daí eu chamo a tia e pergunto: eu sou bonita? Às vezes ela me fala que sim." (CI12)

"Bem legal, bonita, amiga e gostosa." (CF21)

"Essa daí é difícil... Eu me acho bastante magro, meus pais também, alto e isso e só." (CF15)

Os relatos apontam que várias crianças dos dois grupos pesquisados se percebem de forma positiva e saudável, descrevendo-se como pessoas legais, charmosas e bonitas, evidenciando assim uma satisfação consigo mesmas. Ambos grupos definiram-se apontando mais características físicas concretas do que características emocionais, o que já era esperado para esta faixa etária.

No entanto, algumas crianças institucionalizadas referiram um sentimento de insegurança sobre as suas qualidades, não sabendo se os outros gostam de seu corpo ou de seu jeito (CI4), ou necessitando perguntar para a professora se é realmente bonita (CI12), ou ainda utilizando formas comparativas (CF15), em que o participante usa o elemento de comparação para a construção de sua imagem corporal e idéia sobre si mesmo. É possível que a ausência parental no dia-a-dia da criança seja um fator que influencie na sua valorização, insegurança e potencialidade.

O fato das crianças descreverem suas impressões sobre si mesmas baseadas nas características de seu próprio corpo corroboram a literatura, no que diz respeito à importância do corpo no desenvolvimento da imagem corporal e idéias de si (Vankolck, 1984; Moretti, 1992). Somente algumas crianças deste estudo apresentaram idéias negativas sobre si, podendo retirar-se do ambiente, o que se poderia esperar, uma vez que tiveram experiências familiares negativas anteriormente.

Loos, Ferreira e Vasconcellos (2002) referem que crianças institucionalizadas, ou vivendo em ambientes ameaçadores, apresentam características defensivas, tais como desconfiança básica, agressividade, baixa auto-estima e sentimento de culpa. Costa (1993) refere que crianças institucionalizadas são tristes, deprimidas e angustiadas, que estão sempre à procura de afeto e ternura. Estes aspectos referidos pelos autores acima citados também foram identificados de maneira pouco intensa nos participantes desse estudo. A busca de afeto e ternura apareceu na fala de algumas crianças institucionalizadas quando essas pareciam necessitar uma confirmação das suas qualidades, buscando possivelmente saber, assim, se são valorizadas e amadas. No entanto, essa característica não está ausente nas crianças não institucionalizadas.

Moretti (1992) realiza uma revisão bibliográfica na qual conclui que a imagem corporal está calcada nas experiências e atitudes positivas dos pais ou dos cuidadores, os quais devem proporcionar um sentimento de segurança e confiança fundamentais para passar pelas outras fases e aprender a enfrentar os desafios do ambiente. Parece que a semelhança entre os grupos de crianças não institucionalizadas e as crianças institucionalizadas pode ser devido ao cuidado adequado que os cuidadores lhes prestam. É possível que, apesar de algumas crianças institucionalizadas mostrarem insegurança quanto a suas qualidades, elas tenham apresentado uma percepção positiva de si mesmas por terem essa assistência adequada das instituições.

Os resultados apresentados sugerem que a instituição, através do seu trabalho, parece estar conseguindo minimizar os efeitos negativos da ausência dos pais, auxiliando de forma positiva no desenvolvimento dessas crianças, oferecendo a possibilidade de desenvolver modelos internos mais satisfatórios de funcionamento. Dentro do contexto observado, uma possível explicação para os resultados obtidos no estudo diz respeito às condições da instituição, pois esta se caracteriza por um padrão elevado de atendimento, diferenciando-se de muitas outras. O novo ambiente proporcionado pela instituição caracteriza-se por amplos espaços, boa alimentação, melhor qualidade das relações sociais, presença de cuidadores, atendimento médico, odontológico e psicológico, entre outros, parecendo agir no sentido de diminuir os possíveis efeitos do ambiente em que viviam anteriormente.

Para Vicente (2000), a família é a primeira e mais importante rede de apoio social, a qual pode apoiar a criança através de seus cuidados e compreensão. Porém, Neder e Kaloustian (2000) referem que o atual quadro das famílias enfrentando dificuldades econômicas, pais buscando trabalho num mercado capitalista competitivo, bem como a inserção/exclusão das mulheres neste contexto, produzem efeitos sobre a estrutura familiar e prejudicam a manutenção dos vínculos. Esta realidade pode ser agravada pela pouca disponibilidade, pela qualidade das interações familiares, pela falta de diálogo, autoritarismo e instabilidade vivida pelos pais. Isto também pode explicar as semelhanças encontradas nos relatos das crianças institucionalizadas e das crianças que vivem com as famílias, uma vez que as famílias podem estar deixando a desejar nas relações interpessoais com os filhos.

Por outro lado, o principal continente complementar é a escola, onde o vínculo pode ser estabelecido com outras pessoas que se ocupam das necessidades básicas da criança, sendo o espaço escolar uma importante oportunidade de resgate e superação das inúmeras carências do contexto familiar (Vicente, 2000).

2- Percepção de si mesmo - habilidades sociais

Esta categoria refere-se às habilidades sociais das crianças que se mostram através de suas brincadeiras, jogos e atividades de grupo de forma geral.

As crianças entrevistadas relataram sentimentos positivos em relação a suas habilidades sociais, a seus relacionamentos, suas trocas de experiências, mesmo diante de condição institucional imposta, interagindo e evidenciando satisfações pessoais, ora aparecendo sentimentos ambivalentes. Aparecem relatos de uma integração sadia, feliz, alegre, bem como uma percepção ambivalente sobre si, com manifestações de insegurança e agressividade frente a pequenos conflitos. Abaixo, alguns relatos dos participantes.

"Eu brinco com eles... de pega-pega, de não atirei o pau no gato, de viuvinha, canto musiquinhas com eles, brinco com eles de balanço, de pega-pega, de comidinha." (CI1)

"Eu brinco de quem dá em mim eu dô." (CI4)

"Bem,ah! eu não bato muito neles. Quando eles me batem, eu conto prá profe. Eu gosto muito de brincar com eles e só!." (CF15)

"Sim, eu sou capaz de virar estrelinha, dar cambalhota. Ah! brincar de olhar para o céu, olhar para o chão.Aã... chutar a bola e mais nada." (CF20)

Os relatos acima exemplificam as habilidades sociais, a forma de brincar e interagir com os colegas presentes na rotina dos participantes deste estudo. Diante da realidade tão diversa vivenciada pelos dois grupos, encontram-se semelhanças nos relatos das crianças (CI1 e CF20), podendo-se pensar em uma interação sadia e satisfatória com o meio.

No grupo de crianças institucionalizadas, aparece uma particularidade em especial, apontada através do relato de CI4. Através de sua fala, apresenta manifestações agressivas ao interagir com seu grupo, que pode estar demonstrando dificuldades oriundas da vivência de abandono familiar, uma vez que as crianças podem ter necessitado de brincadeiras mais agressivas para se defenderem das ameaças do mundo de maneira solitária.

Segundo Benjamin (1984), ao brincar, as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem. Sabendo que estão brincando, seus conhecimentos provêm da imitação de alguém ou de algo conhecido, da experiência vivida na família ou em outros ambientes, relatos de colegas ou cenas assistidas na televisão. É no ato de brincar que a criança estabelece os diferentes vínculos entre as características do papel assumido, suas competências e as relações que possuem com os outros papéis.

De modo geral, as crianças institucionalizadas demonstraram uma interação positiva com seus colegas. Neste sentido, o trabalho desenvolvido na instituição parece favorecer um ambiente físico e social, onde as crianças se sentem protegidas e acolhidas e, ao mesmo tempo, sentem-se seguras para arriscar e vencer desafios.

3- Percepção de si mesmo - organização e autonomia

Esta categoria refere-se às características de organização e autonomia relatada pelos participantes da pesquisa que mostram, através de suas falas, como se percebem em sua organização e responsabilidade. Abaixo, seguem alguns exemplos das falas das crianças sobre a temática.

"... o que as tias mandam fazê eu faço. De noite arrumo prateleira, arrumo o bidê dos meus calçados, arrumo as camas de manhã, varro as casas às vezes." (CI8)

"Eu sei ir no banheiro, eu sei ir pro quarto, eu sei lavar a louça, sei varrer a casa, eu sei limpar as mesas, eu sei arrumar a casa e limpar o pátio, só." (CI 12)

"A eu limpo muito meus dentes ,eu lavo o meu rosto sempre na hora quando acordo de manha, depois vou tomar café. E ... eu sou muito legal." (CF16)

Percebe-se, nestes relatos, a capacidades de organização e cumprimento das tarefas que são solicitadas às crianças de ambos os grupos, não tendo sido encontradas particularidades quanto à forma de organização e autonomia para com as tarefas dessas crianças.

No grupo de crianças institucionalizadas, apareceu a possibilidade de organização e de autonomia. Portanto, os dados do presente estudo contradizem a literatura (Wagner, 2002), que aponta a institucionalização como produzindo historicamente crianças sem perspectiva de vida autônoma. Os dados sugerem que uma experiência de institucionalização, na qual a criança pode vivenciar relações mais positivas do que aquelas que vinham tendo dentro de seu ambiente familiar desfavorável, pode não trazer prejuízos tão severos ao desenvolvimento. Dessa forma, uma instituição com um atendimento adequado, no qual a criança dispõe de figuras cuidadoras que podem prover pelo menos algumas experiências gratificantes, apesar de distintas e não tão intensas como em um ambiente familiar continente, pode contribuir com o desenvolvimento da criança que antes estava em situação adversa, apesar de estar com sua família.

 

Considerações finais

O presente estudo aponta para a importância do trabalho realizado pelas escolas, com o objetivo de auxiliar pais e professores. O trabalho desenvolvido pelos cuidadores na instituição é fundamental para favorecer o desenvolvimento da imagem corporal e de aspectos socioafetivos. As idéias sobre si também podem ser mais positivas, ou seja, as crianças podem se enxergar hábeis, autônomas e com possibilidades de uma adequada interação social quando os cuidadores, ainda que em uma instituição, mostram-se disponíveis. Portanto, o trabalho de uma instituição que esteja atenta aos diversos aspectos do desenvolvimento infantil contribuirá para minimizar efeitos negativos de situações adversas relacionadas à falta parental. Além disso, o estudo contribui para que haja um questionamento sobre a forma como as famílias têm se colocado disponíveis para seus filhos.

O presente estudo aponta para a necessidade de intervenções nas escolas que visem aproximar as famílias dos seus filhos, uma vez que as semelhanças entre os grupos apontados por este estudo podem estar indicando não somente o fato de as instituições de acolhida serem adequadas, mas também o fato de as famílias estarem pouco ocupadas com seus filhos.

Limitações podem ser apontadas. O pequeno número de entrevistas e de participantes, além do fato de se ter comparado somente duas instituições, impedem que se possam realizar afirmações mais conclusivas.

Os instrumentos utilizados podem não ter sido suficientemente sensíveis às dificuldades que se esperava encontrar nas crianças institucionalizadas. Também não foi realizada avaliação do funcionamento familiar das crianças não institucionalizadas. Estudos que envolvam diferentes instituições com menos recursos do que a incluída nessa pesquisa poderiam contribuir para explicar os achados.

 

Referências

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Endereço para correspondência
E-mail: carla.kreutz@gmail.com

Recebido em julho de 2006
Aceito em outubro de 2007

 

 

* Lorena Emilia Zortéa: psicóloga graduada pelo Curso de Psicologia da ULBRA/Gravataí.
** Carla Meira Kreutz: psicóloga; doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento (UFRGS); professora do curso de Psicologia da ULBRA/Gravataí e do Pós-Graduação em Transtornos do Desenvolvimento (UFRGS).
*** Rejane Lúcia Veiga Oliveira Johann: psicóloga; doutora em Psicologia (PUCRS); professora do curso de Psicologia da ULBRA/Gravataí.

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