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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  n.29 Canoas jun. 2009

 

EDITORIAL

 

O processo de construção do conhecimento científico, cada vez mais, se estabelece na relação (formal ou não) com a escrita científica e no quanto esta (re)valida a experiência empírica ou o exercício de reflexão. Equivocadamente, no entanto, um elemento chave nesse processo acaba por ser obviado na relação autoral: o parecerista. Se lingüistas como Bakhtin tanto discutiram a importância da noção de audiência para a compreensão narrativa do quê, de quem e para quem se escreve, na escrita científica a noção de compartilhamento de certa comunidade de práticas (Wenger, 2001) tem no parecerista um tipo de audiência especial, com a qual o autor estabelece uma “metarrelação” diferenciada. Ainda que na maior parte das publicações científicas esse leitor diferenciado com o qual o autor compartilha anonimamente certos saberes seja de fato anônimo, através da relação estabelecida com a revista e seu corpo editorial compartilha-se a confiança de que nesta leitura de revisão crítica haverá um crescimento e aprofundamento da forma pela qual a escrita acadêmica se constrói, não apenas para, mas com seus pares.

O lançamento da Philosophical Transactions, em 1665, foi um marco da ciência. Não somente revolucionou a comunicação científica como também lançou as bases para a emergência de uma cultura, que se pode dizer “global”, de produção intelectual científica centrada na publicação de artigos. Associada à emergência dos periódicos científicos esteve a criação do que hoje conhecemos por “peer review system” ou sistema de revisão pelos pares. Este nada mais é do que o emprego sistemático de peers (ou colegas) na assessoria aos editores das revistas na seleção dos artigos. A expectativa é de que esse sistema seja suficientemente sensível para detectar aqueles trabalhos realmente originais, com metodologias e análises capazes de, efetivamente, somarem-se aos conhecimentos acumulados em um determinado campo da ciência. Espera-se ainda que os revisores sejam capazes de apontar erros, omissões, além de eventuais conflitos de interesse e desvios da ética (Coimbra Jr, 1998).

Muitos têm dito que, apesar do reconhecimento acerca das limitações do sistema, ainda não criaram nada melhor que pudesse substituí-lo. Por outro lado, o aumento vertiginoso do número de artigos publicados anualmente em todo o mundo, acrescido do surgimento constante de novas metodologias, técnicas e mesmo de especialidades, constitui desafio constante à manutenção da qualidade das publicações. Será que sempre poderemos contar com o trabalho altruísta dos colegas para rever cada vez mais originais? Estarão estes sempre disponíveis e em condições de atender aos prazos? Como evitar que eventuais conflitos de interesse interfiram no julgamento? (Coimbra Jr, 1998).

Muitos têm dito que, apesar do reconhecimento acerca das limitações do sistema, ainda não criaram nada melhor que pudesse substituí-lo. Por outro lado, o aumento vertiginoso do número de artigos publicados anualmente em todo o mundo, acrescido do surgimento constante de novas metodologias, técnicas e mesmo de especialidades, constitui desafio constante à manutenção da qualidade das publicações. Será que sempre poderemos contar com o trabalho altruísta dos colegas para rever cada vez mais originais? Estarão estes sempre disponíveis e em condições de atender aos prazos? Como evitar que eventuais conflitos de interesse interfiram no julgamento? (Coimbra Jr, 1998).

Infelizmente essas são questões para as quais as respostas não são fáceis e nem claras, uma vez que os próprios critérios das bases de dados nos quais são indexadas as publicações muitas vezes interferem – de maneira nem sempre construtiva – politicamente em como as publicações podem (ou devem) relacionar-se com seus pareceristas para que as próprias publicações sigam configurando-se como vetores reconhecidos para a divulgação e construção do saber acadêmico.

Nesse número, pudemos contar com o excelente trabalho de muitos revisores que contribuíram na (re)construção de novos saberes no âmbito psi, em um trabalho que – mesmo anônimo – se reflexa no enriquecimento das palavras dos autores. O número 29 da revista Aletheia abre com um estudo sobre a Prevalencia del síndrome de quemarse por el trabajo (Burnout) en una muestra de maestros portugueses. Transita, logo em seguida pela Percepção dos honorários na prática clínica por psicoterapeutas, e retrata uma análise sobre A experiência da maternidade em mães adotivas.

Além disso, em uma perspectiva no âmbito educacional, apresentam-se as Habilidades sociais e adaptação acadêmica: um estudo comparativo em instituições de ensino público e privado; A escuta do trabalhador estressado enquanto estratégia de aprimoramento da formação profissional; além de Expectativas e sentimentos de mães solteiras sobre a experiência do parto. Seguem ainda os artigos que analisam as Concepções de profissionais de saúde sobre humanização no contexto hospitalar: reflexões a partir da Psicologia Analítica; As dimensões do corpo e a topologia cultural; os Sistemas de gestão ambiental e comportamento ecológico: uma discussão teórica de suas possíveis relações e Pela transitoriedade (a temporalidade da psicanálise e sua relação com a feminilidade).

A revista ainda apresenta a Psicanálise de família e casal: principais referenciais teóricos e perspectivas brasileiras; As interfaces entre o público e o privado na produção do discurso da eficiência nas escolas de educação profissional; O corpo como objeto: considerações sobre o conceito de sublimação através da arte carnal de Orlan; a Psicologia, educação e análise institucional – perspectivas no campo da formação de educadores; o Estresse pós-traumático em pacientes vítimas de queimaduras: uma revisão da literatura; as Composições: experimentações do “ser-estagieiro(a)” em uma clínica escola e uma resenha sobre a Cultura e conhecimentos sociais no processo formativo da pessoa: teorias de psicologia do desenvolvimento revisitadas.

Neste número, além de apresentarmos tais produções, com o intuito de convidar os leitores à sua apreciação, gostaríamos de dirigir um especial agradecimento a nossos pareceristas – fundamentais para o desenvolvimento da qualidade de nossa publicação.

Uma boa leitura.

 

 

Os editores

 

Referências

Coimbra Jr., C.E.A. (1998). A confidencialidade no processo editorial. Cadernos de Saúde Pública, 14(2).        [ Links ]

Wenger, E. (2001). Comunidades de práctica: aprendizaje, significado e identidad. Barcelona: Paidos.        [ Links ]

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