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Aletheia

versión impresa ISSN 1413-0394

Aletheia  no.30 Canoas dic. 2009

 

ARTIGOS DE ATUALIZAÇÃO

 

Psicologia Comunitária e Biodança: contribuições da categoria vivência

 

Community Psychology and Biodance: contributions on experience category

 

 

Ana Maria Melo de Pinho; Geísa Sombra de Castro; Verônica Morais Ximenes; Carolina Pinheiro Moreira; Gabriela Pimentel Barreto

Universidade Federal do Ceará

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A Psicologia Comunitária pode ser definida como uma área da Psicologia Social da Libertação (Góis, 2005), voltada para a compreensão da atividade comunitária como atividade social significativa e consciente e para a compreensão dos seus reflexos nas dimensões objetivas e subjetivas. O presente artigo busca compreender como a abordagem da Biodança pode dialogar e contribuir para a construção do marco teórico-metodológico da Psicologia Comunitária.Ametodologia utilizada foi a pesquisa teórica. Fundamentar-se no paradigma da complexidade representa a possibilidade de legitimar um conhecimento que se reconhece essencialmente transdisciplinar. Esse artigo possibilitou um avanço na sistematização e legitimação do diálogo transdisciplinar entre Biodança e Psicologia  Comunitária,  integrando a categoria vivência no arcabouço teórico-metodológico da Psicologia Comunitária e na formação dos psicólogos comunitários.

Palavras-chave: Psicologia comunitária, Biodança, Vivência.


ABSTRACT

Community Psychology can be defined as an area of the Social Psychology of Liberation (Góis, 2005), dedicated to the understanding of community activity as a significant and aware social activity and to the understanding of its impacts on the objective and subjective dimensions. This article aims to understand in which way the approach of Biodance can dialogue and contribute to the construction of the theoretical and methodological framework of Community Psychology. The methodology used was theoretical research. Supporting on the paradigm of complexity represents the chance to validate a knowledge that is recognized primarily as transdisciplinary. This article has allowed a breakthrough in the systematization and legitimacy of the transdisciplinary dialogue between Biodance and Community Psychology, integrating the category experience in theoretical and methodological framework of Community Psychology and training of community psychologists.

Keywords: Community psychology, Biodance, Experience.


 

 

Introdução

A Psicologia Comunitária pode ser definida como uma área da Psicologia Social da Libertação (Góis, 2005), voltada para a compreensão da atividade comunitária como atividade social significativa e consciente e para a compreensão dos seus reflexos nas dimensões objetivas e subjetivas, inclusive, no modo de vida comunitário. Tem por objetivo principal, através de um esforço interdisciplinar, a construção do indivíduo como sujeito histórico e comunitário, no sentido da construção da sua consciência crítica, do seu valor e poder pessoal, da sua capacidade de lutar comunitariamente para uma nova realidade social do lugar onde vive (Góis, 1993).

A sistematização teórica e prática da Psicologia Comunitária no Brasil têm se desenvolvido nos últimos anos em função de experiências de acordo com a singularidade das realidades estudadas (Lane, 1996), emergindo essencialmente a partir de experiências de campo. A cada mergulho na realidade vem trazendo novas questões, novas problematização, novos arranjos e enlaces teórico-metodológicos que possam afirmar seu compromisso com a conscientização e a mudança social.

No contexto nordestino é que desde 1982, através principalmente do professor Cezar Wagner de Lima Góis1 e dos trabalhos do NUCOM2, a Biodança (Toro, 2005) vem representando para esse campo um dos cinco marcos teórico-metodológicos que embasa a Psicologia Comunitária, compartilhando ainda com a Psicologia da Libertação (Martin-Baró), a Educação Libertadora (Paulo Freire), a Teoria Histórico-Cultural da Mente (Vygotsky) e a Teoria Rogeriana (Carl Rogers).

O presente artigo busca compreender como a abordagem da Biodança (Toro, 2005) pode dialogar e contribuir para a construção do marco teórico-metodológico da Psicologia Comunitária, especificamente sobre a importância da categoria vivência para o trabalho em comunidades. A relevância desse estudo está presente nas contribuições que a Biodança traz para Psicologia Comunitária, tendo em vista há pouca presença de trabalhos científicos com essa temática, apesar de muitos trabalhos práticos desenvolvidos no NUCOM.

O trabalho será organizado a partir da relação da Psicologia Comunitária com o Paradigma da Complexidade, que ajudará a compreensão de um novo olhar sobre a construção do conhecimento. Em seguida, serão apresentados os pressupostos da Psicologia Comunitária e sua articulação com a Biodança, como também, a importância da categoria vivência para os trabalhos comunitários.

 

Psicologia Comunitária e um olhar complexo para a realidade

Fundamentar-se no paradigma da complexidade (Morin, Ciruana & Motta, 2003) representa, para a construção da Psicologia Comunitária, a possibilidade de legitimar um conhecimento que se reconhece essencialmente interdisciplinar, comprometido com o resgate da postura ético-humanista na construção e aplicação do conhecimento, comprometido com a indissiociabilidade entre práxis e teorização (Góis, 1993). Principalmente para o propósito desse artigo, representa a possibilidade de legitimar o diálogo epistemológico desde o qual a Psicologia Comunitária (Góis, 2005) se constrói, evidenciando razões e necessidades para a interlocução com o marco teórico-metodológico da Biodança3.

Os pressupostos da cultura pós-moderna caracterizam-se fundamentalmente por uma nova relação com o saber (Chevitarese, 2001). A contradição, a ambiguidade e a incerteza são traços marcantes da ordem do novo século. Os fundamentos da ciência moderna passam a ser questionados e suas verdades absolutas e totalizadoras relativizadas. O reconhecimento da complexidade da realidade exige reformulações nos modos de construção do conhecimento, na forma de estruturação do pensamento e de apreensão do real. Surge o paradigma da complexidade, como uma tentativa de aproximação dos aspectos qualitativos, holísticos, dinâmicos e humanos da realidade.

Nesse sentido, Morin e cols. (2003) evidenciam que o pensamento pós-moderno sofre uma crise de percepção e entendimento, provocada, dentre outros fatores, pela problematização da desvinculação que a ciência moderna defendeu entre conhecimento e sentimento. A superação dessa dicotomização exige uma mudança de postura do pesquisador, propondo-lhe uma relação dialética e dinâmica maior entre mudanças no interior e no exterior de si, de modo a que este possa acompanhar o devir da realidade, fazendo emergir o conhecimento também de suas próprias percepções sensíveis.

A investigação de uma realidade a partir da sua complexidade permite a emergência do cotidiano no âmbito do estudo e a implicação e submersão mais profunda do pesquisador na realidade a qual investiga. Emergem desde aí aspectos tais como determinismos, acasos, incertezas, ordem e caos, que impõe a necessidade de construir novas maneiras de assumir o conhecimento científico, diante de um horizonte complexo, sistêmico, dialógico e dialético (Goméz, 2007). Surge, então, a necessidade da transdisciplinaridade, como uma possibilidade de diálogo entre diferentes ciências para abarcar a complexidade dos fenômenos.

A prática da transdisciplinaridade exige um exercício crítico e dialógico, que deve estar alerta à contextualização dos conceitos, não fazendo a conversão de um domínio científico para outro, mas multiplicando os ângulos sobre o objeto, complexificando o olhar. Esta prática pressupõe um exercício de questionar, problematizar valores e ideologias que sustentam os saberes, religar conhecimentos, articular e integrar visões múltiplas da diversidade e da complexidade.

Nessa perspectiva, o sujeito assume papel ativo na construção do conhecimento, onde a imersão na realidade, a conjugação do conhecimento e do sentimento, permitem que ele crie novos nexos a partir de suas vivências e percepções. A promoção da transdisciplinaridade exige um paradigma que permita a comunicação, o diálogo entre diferentes domínios científicos sem a sua redução. Este paradigma é o da Complexidade (Prieto, 2003), pois tem como princípio a reconstrução da noção de totalidade e do sentido holístico, rejeitando a atomização e compartimentalização do conhecimento.

O paradigma da complexidade, nesse movimento de aproximar cada vez mais o investigador da realidade em investigação, num processo de imersão mais profunda e comprometida, embasa-se no pressuposto da reflexividade, que define que o objeto só é definível na relação com o sujeito, numa construção intersubjetiva da realidade. Nesse processo, se faz necessário um resgate da postura ético-humanista na construção do conhecimento, incluindo os valores e opções ideológicas como elementos do pensamento científico (Garcia, 2003).

Admitindo-se a concepção da dimensão complexa da realidade, a inserção numa dada comunidade exige uma postura estratégica para lidar com as incertezas, com as situações surgidas do acaso e todas as contradições que a perpassam. O método exige, nessas condições, certa flexibilidade do sujeito-pesquisador em relação às estratégias adotadas por ele. O método-caminho, como propõe Morin e cols. (2003), não ignora o erro, não precede a experiência, mas emerge dela.

O método complexo supera a noção mecanicista de causa-efeito. A partir dele não se pode contar com a certeza de que os mesmos resultados planejados serão os obtidos. Num contexto comunitário, cuja dinâmica é complexa, o erro pode surgir explicitando a diversidade e ampliando possibilidades de desenvolvimento. A partir desse contato mais profundo e genuíno com a realidade, num processo onde o pensamento e os sentimentos estão intrinsecamente vinculados, é que surgem caminhos e formas de caminhar, implicando uma postura ativa e reflexiva de um sujeito concreto imerso numa realidade concreta e significativa.

Não é possível um método prévio para ser aplicado, mas a humildade de caminhar na investigação, encontrar a expressão da verdade (Morin & cols., 2003) e explicitá-la como fenômeno das dimensões reais do ser que, por si só, pode ser apreendido por um movimento vivencial e integrado (Vecchia, 2005). Isso não significa uma entrega ao caos ou o abandono de qualquer fundamento. Busca-se, sim, uma forma de conhecer caminhando com abertura para apreender as distintas dimensões da realidade, porém embasando-se em determinados princípios e guiando-se por objetivos específicos.

Nesse processo, se faz necessário um resgate da postura ético-humanista na construção do conhecimento, incluindo os valores e opções ideológicas como elementos do pensamento científico (Prieto, 2003). Essa leitura que se faz do método a partir da complexidade, requer também uma relação entre o método e a teoria. Na história da Psicologia Comunitária, vê-se uma teoria que emergiu de uma prática e que também a fundamentou e reformulou. Uma teoria que adquire vida a partir da atividade reflexiva do sujeito e que se recria constantemente em contato com a dinâmica da realidade, assumindo um compromisso ético e político com a transformação positiva dessa. O conhecimento dar-se, então, nessa relação indissociável entre teoria, método e compromisso social, embasando uma prática coerente com seu ideal de transformação.

 

Pressupostos da Psicologia Comunitária

Nessa nova postura de construção do conhecimento científico pautada no paradigma da complexidade, busca-se compreender e evidenciar os pressupostos fundamentais e o processo histórico pelo qual a Psicologia Comunitária (Góis, 1993) vem se construindo mediante o desafiante diálogo com a Biodança (Toro, 2005), considerando-a como um dos seus referenciais teóricos e metodológicos. Goméz (2007) também propõe que na construção teórica e metodológica da Psicologia Comunitária, além do seu domínio temático, prático e conceitual e do conhecimento da própria Psicologia como disciplina, faz-se necessário o conhecimento de outras disciplinas para, numa ação transdisciplinar, propor novos problemas teóricos, novas condições de intervenção, novas interpretações.

Psicologia Comunitária no Ceará surgiu em 1980, orientada para o comprometimento com as questões sociais, numa perspectiva de construção de uma práxis libertadora, estando desde o princípio consciente da indissociabilidade entre teoria, prática e compromisso social (Bellaguarda, Soares, Moreira, Coelho & Ximenes, 2008). Desse modo, esta vertente buscou inicialmente priorizar sua imersão profunda e prática no modo de vida comunitário, de modo a dar visibilidade e compreender a dimensão marcadamente psicológica da dinâmica comunitária.

Góis (2005) considera que a comunidade representa a instância da vida de um povo que reflete uma dinâmica própria, sendo esta um lugar de permanência duradoura e de interações diretas. Para este autor, a comunidade significa para o ser humano um espaço de crescimento, orientação e proteção da individualidade frente à natureza e à sociedade, representa as condições primordiais para o processo de hominização e humanização.

A partir dessa compreensão é que a Psicologia Comunitária objetiva principalmente facilitar, através da atividade comunitária, o aprofundamento da consciência e o desenvolvimento dos indivíduos como sujeitos históricos e comunitários, como agentes ativos no processo de transformação da sua realidade interna e externa (Vieira & Ximenes, 2008). Desse modo, busca criar condições de humanização, autonomia e liberdade para os moradores da comunidade, a partir das condições reais e concretas, de seus atuais potenciais, tanto da comunidade, quanto dos moradores. Ou seja, busca contribuir com a facilitação da atividade comunitária, compreendendo esta última como "um sistema complexo de interações instrumentais e comunicativas que, ao mesmo tempo em que se encontra cada interação limitada a seus objetivos específicos, estão organizadas e orientadas pela integração entre o sistema necessidades-motivos-objetos-objetivos e o sistema de significados-sentidos-sentimentos decorrentes da vida comunitária" (Góis, 2005, p. 87).

Góis (1993) concebe que o ato de realizar a leitura da atividade comunitária e ao mesmo tempo fomentá-la como diálogo e como vivência num contexto de cooperação entre agentes externos e internos, é um pressuposto fundamental para a transformação da realidade social dos sujeitos: para uma práxis de libertação.

O compromisso da Psicologia Comunitária com uma práxis de libertação advém, em primeira instância, do reconhecimento da existência de indivíduos e de um povo negados, coisificados, subordinados e submetidos a uma condição de dominação e opressão (Góis, 2008). Esta realidade de fome e miséria atua na construção do mundo psicológico do oprimido como desdobramento das relações de dominação e de dependência com que convive, as quais geram uma identidade negada, sofrida, desamparada e frágil (Góis, 2008), ou seja, uma identidade de oprimido e de explorado decorrente da dominação e da produção da pobreza.

A identidade de oprimido e explorado está relacionada com a ideologia de submissão e resignação (Góis, 2008), que atua no sentido de manter o oprimido afastado da vida e descrente no seu potencial de realização humana e de agir com consciência e autonomia, tornando-o cada vez mais alienado, hostil e/ou servil. Esta identidade de oprimido e de explorado, expressa através da marginalização, do fatalismo, da dependência, entre outros, é um modo de sobrevivência social, de resistência, construído pela classe oprimida a fim de enfrentar o sofrimento vivenciado frente à miséria e à violência, que impedem o crescimento pessoal e social.

É diante dessa realidade que a Psicologia Comunitária assume o compromisso com uma práxis de libertação, que possa levar os indivíduos e comunidades, a partir dessas condições mesmas de opressão, a um processo de superação, de construção do ser livre e ser cidadão, de ser seres-para-si e auto-determinados (Nepomuceno, Ximenes, Cidade, Mendonça & Soares, 2008). Nesse sentido, a práxis de libertação e cidadania deve romper com os valores anti-vida e com a organização sócio-ideológica e histórica das sociedades latino-americanas.

Como afirma Góis (1993), a utilização de modelos teóricos inadequados servirão apenas para manter - ou quem sabe até reproduzir - as mesmas condições de dominação e exploração nos rótulos da Psicologia. Justamente, diante desse desafio teórico e metodológico, o autor propôs que a Psicologia Comunitária pudesse avançar na compreensão da subjetividade desde o paradigma materialista-histórico dialético para uma visão do ser humano como corporeidade vivida e amorosa, baseando-se no Princípio Biocêntrico proposto pela Biodança.

O Princípio Biocêntrico é proposto por Toro (1991) como o paradigma que orienta o Sistema Biodança. Segundo esse princípio tudo o que existe se organiza em função da vida, o universo como um todo e cada uma de suas pequenas partes, desde partículas-onda e florestas a emoções e atitudes, são um único e complexo sistema vivo, que existe porque existe vida.

Diante dessa visão, é que o método na Psicologia Comunitária vem se construindo historicamente pautado no diálogo e na vivência, na busca de dar respostas mais profundas e efetivas para as problemáticas da população e para sua práxis de transformação social. Além de propor uma imersão no cotidiano dos moradores, através dos espaços de interação social, veio propondo espaços diferenciados de diálogo e vivência4, articulando a construção de uma metodologia que se denomina dialógica e vivencial.

Desse modo, essa vertente da Psicologia Comunitária traz em seu cerne um fundamento epistemológico diferenciado, original, postulando a vivência como uma categoria chave, e sobre tudo, como um novo marco epistemológico que permeia a totalidade de sua compreensão de mundo, de ser humano e de práxis libertadora. Esse referencial foi integrado a partir do modelo teórico metodológico da Biodança.

 

Biodança e Psicologia Comunitária - importância da vivência

Ao fundamentar-se no paradigma da complexidade, o qual aponta como vimos, para a possibilidade da realização de uma transdisciplinaridade na ciência e a partir da problematização acima levantada, espera-se legitimar o processo histórico pelo qual a Psicologia Comunitária se constrói, em certa medida, mediante o desafio de um diálogo epistemológico (Brandão, 1999) com a Biodança. Esse caminho emerge da busca de uma interlocução com novos paradigmas, capazes de oferecer novas possibilidades para lidar com a subjetividade da realidade humana (Sawaia, 1995). A legitimação desse processo de articulação deve contemplar, portanto, a possibilidade de evidenciar e aprofundar as razões pelas quais a Biodança e a Psicologia Comunitária podem se encontrar e se complementar.

No Ceará, na década de 80, foi criada a primeira Escola de Biodança; iniciava ao mesmo tempo o movimento de Psicologia Comunitária no Ceará: ambos movimentos contaram com a presença do Prof. Cezar Wagner de Lima Góis e a educadora Ruth Cavalcante. A partir desse momento, houve uma espécie de integração e colaboração teórico-metodológica entre as duas abordagens, que se influenciaram fortemente (Brandão, 1999). Por um lado, a Biodança passou a representar um fundamental pressuposto conceitual e ao mesmo tempo instrumental que influenciou a "prática daqueles que adentravam os bairros periféricos, as localidades rurais e as favelas com o intuito de construir uma psicologia problematizadora e crítica (...)" (Brandão, 1999, p. 42-43). Ao mesmo tempo, a Escola de Biodança do Ceará foi profundamente marcada por um compromisso de ação social.

Foi diante da busca de respostas mais efetivas para o cumprimento do desafio da integração dos aspectos afetivos (emoções, sentimentos, motivações e necessidades) no trabalho social, que a Biodança passou a representar na história da Psicologia Comunitária uma abordagem distintiva. Ela era utilizada para facilitar o desenvolvimento da identidade pessoal, pois para além dos instrumentais reflexivos e intelectuais, envolve o corpo, a expressão estética, as emoções e o encontro humano nos processos de aprendizagem e crescimento.

Fundamentando-se na Biodança foi que Góis (1993) propôs que a concepção do fenômeno da identidade pudesse avançar para além dos seus aspectos representacionais, intelectivos e históricos-sociais, revelada unicamente como metamorfose de papéis, personagens, significados e noção de si mesmo. Segundo Góis (2002), essa compreensão deve estender-se a uma base biológica, compreendendo-a como um desdobramento de um esquema original fundamental próprio de todos os seres vivos (Amaral, 1987), cuja expressão mais original é a de ser-no-mundo como presença, como dimensão estética, como corporeidade vivida (Merleau- Ponty, 1991).

Desse modo, o desafio evolutivo da identidade relativo à superação do caráter oprimido - como processo de crescente complexidade e integração do ser como singularidade, como superação de si mesmo e da realidade social- pressupõe o desafio de sua expressão e emergência a partir das fontes originais da vida psíquica, que se encontram num solo emocional, corporal e estético, anterior a própria atividade reflexiva: encontram-se na vivência (Amaral, 1987).

Wilhelm Dilthey, citado por Amaral (1987), inaugurou o conceito de vivência, compreendendo-a, em oposição ao conceito de representação de Hume, como um fato da consciência, uma experiência psíquica forjada a partir das condições vivas e concretas da realidade do mundo e da própria realidade psíquica, guardando na sua constituição a totalidade dos aspectos empíricos e transcendentais. A vivência é, então, o princípio de totalidade da vida psíquica, o símbolo verdadeiro da experiência plena e não mutilada formada pela unidade entre eu penso, eu sinto, eu quero.

Essa concepção amplia a visão psicológica da realidade anímica até uma base biológica, histórica e concreta, dentro de uma perspectiva evolucionista, justificando uma estrutura funcional psíquica indissociável e integrada. Para Dilthey, citado por Amaral (1987), é nesta integridade que repousa a verdadeira natureza do psiquismo. Desse modo, o ser humano é compreendido como um ser vivente e a vida psíquica corresponde a um esquema original fundamental próprio de todos os seres vivos.

Toro (2005) ao construir o sistema Biodança fundamentou-se nessa concepção, porém, construiu um conceito de vivência com o qual a Psicologia Comunitária também se embasa. Segundo o autor, a vivência é a percepção intensa e apaixonada de estar vivo aqui e agora. É a intuição do instante de vida capaz de estremecer harmonicamente o sistema vivente humano. O ponto de partida em Biodança é a vivência e não a consciência (...) (Toro, 1991, p. 11).

Resgatar a categoria vivência, na proposição da Biodança, representa realizar uma inversão epistemológica, pois o percurso seguido na facilitação deve caminhar da vivência aos significados, uma vez que os fatos antes mesmo de serem representados pela consciência, originalmente existem como experiência pré-reflexiva, corporal e cenestésica.

O resgate da vivência como método de facilitação implica na construção de uma nova compreensão de mundo, na qual não é mais o paradigma da racionalidade a lente para a leitura da realidade. Entende-se que a visão puramente racionalista dicotomiza o homem (corpo-mente), as relações (antropocentrismo) e a ciência (cartesianismo), a partir de seus ideais de neutralidade, objetividade e tecnicismo. Ao contrário, a visão biocêntrica coloca a vida como centro, percebendo a realidade de forma complexa e integrada, valorizando todas as formas de relação e de conhecimento possíveis a partir do Princípio Biocêntrico, afirmando novas propostas de pensamento, de relacionamento e de organização da cultura (Vecchia, 2004).

Quando se afirma que em Biodança o caminho vai da vivência ao significado, não significa também afirmar que há uma exclusão da função cognitiva, da consciência e do pensamento simbólico. Há somente ênfase numa outra forma de aprendizagem que envolve o organismo como um todo em seus níveis cognitivo, vivencial e visceral.

Assim, a Biodança busca fortalecer e revelar a identidade através da vivência original de sentir-se vivo, do sentimento de si. Segundo Góis (2002), a identidade, como fenômeno de totalidade, não é abarcada pelo conceitual, mas sim pelo vivencial, pois ela é constituída, para além dos processos subjetivos, por aspectos da cenestesia, das funções viscerais e emocionais. Segundo Góis (2002), a vivência é formada no entrelaçamento da vida instintiva com o mundo cultural, sendo o instante vivido o lugar no aqui e agora de aparição da identidade.

Toro (1991), a partir de sua experiência de facilitação em Biodança, sistematizou as características essenciais da vivência, as quais são: experiência original (unicidade), anterioridade à consciência (imediaticidade), espontaneidade, subjetividade (intimidade), intensidade variável, temporalidade (efêmera), emocionalidade, dimensão cenestésica (envolve todo o organismo), dimensão ontológica (percepção de estar vivo) e dimensão psicossomática (integração psíquico-orgânico).

Desse modo, a Biodança busca recuperar através da dança, como movimento expressivo, espontâneo e estético, como já foi explicado anteriormente na introdução, a sensibilidade adormecida, a exaltação do ser humano, o movimento de vida e de intimidade, o impulso de união à espécie: a vivência é a via privilegiada de acesso à dimensão vital da identidade. Como propõe Toro (2005), a natureza da consciência não se limita ao conhecimento racional, às funções do pensamento, da linguagem verbal, mas também abarca aspectos etológicos, místicos e estéticos: pré-reflexivos. De acordo com sua proposição para uma inversão epistemológica, "a vivência, com todas as suas conotações cenestésicas", constitui "um modelo de exploração da origem da consciência" (Toro, 2005, p. 32). Nesse sentido afirma que chegou a hora de pensar novamente sobre o amor, a liberdade e a transcendência não mais como conceitos abstratos, mas sim como alusões imediatas, como experiências corporais, como os nomes que podemos dar a nossas formas de participação existencial (Toro, 1991, p. 60).

Portanto, o grande aporte que a Biodança traz a Psicologia Comunitária é a possibilidade de alcançar, em seus processos de facilitação, dimensões originais da consciência, dimensões vitais da identidade humana, possibilitando um processo de conscientização que se enraíza numa dimensão instintiva, emocional e intuitiva. Para Toro (2005), a patologia do Eu e do espírito ocidental se caracteriza pela cisão entre natureza e cultura. Por isso, esta abordagem se propõe, através do resgate dos gestos essências, transgredir valores culturais, inclusive os valores de opressão e exclusão, restaurar no ser humano o vínculo original com a espécie como totalidade biológica.

Nestas bases, a Psicologia Comunitária encontrou aportes para a construção de um método dialógico e vivencial (Góis, 2003). Em consonância com o Princípio Biocêntrico, em respeito à vida e suas potencialidades, é que ela se organiza metodologicamente. Procura facilitar o desenvolvimento comunitário e o modo de vida das pessoas no sentido de recuperar a expressão espontânea, criativa e amorosa na singularidade de cada sujeito dentro de uma dimensão comunitária, para além do enquadramento nos moldes sociais repressores.

A influência da Biodança na Psicologia Comunitária convergiu, portanto, por dois planos fundamentais (Brandão, 1999). Por um lado, ela se constituiu como uma abordagem de facilitação dos processos grupais e de desenvolvimento pessoal, voltada especialmente para os aspectos emocionais e relacionais. Por meio do grupo regular de Biodança pretende-se oferecer um espaço essencialmente vivencial, de cunho pedagógico e terapêutico, desde o qual se busca privilegiar a interação grupal, a expressão emocional e estética da identidade. Estando esse espaço articulado com uma rede de atividades que integra os modos de intervenção, inserção e facilitação do modo de vida comunitário (Bomfim, 1999), este grupo configurara-se como uma estratégia para o desenvolvimento comunitário e para o fortalecimento da vivência da atividade comunitária.

Por outro lado, a Biodança passou a se constituir como um pressuposto fundamental do trabalho comunitário, transpassando todos os espaços e possibilidades de facilitação do modo de vida comunitário. Seu aporte refletia-se na visão de mundo, de homem, de sociedade e de processos de transformação (Brandão, 1999), possibilitando compreender a sociedade e os indivíduos a partir de seus potenciais de vida: o Princípio Biocêntrico era então a possibilidade de aplicação viável a consecução de uma práxis de libertação. Desse modo, também em outras atividades de grupo, sempre que possível e indicado, eram utilizadas dinâmicas vivenciais, como: música, colagens, pinturas, escultura e dinâmicas de integração não verbais, que potencializavam, inclusive, processos cognitivos de reflexão crítica e de diálogo verbal.

Ainda mais, a Biodança trouxe a compreensão de que a intervenção do psicólogo comunitário, num sentido amplo, é eminentemente marcada pela com-vivência, na qual a sua proximidade emocional com a dinâmica comunitária permite a construção de processos de interação vivenciados tanto por ele quanto pelos moradores. A tradicional neutralidade científica é superada em direção ao compromisso ético, que ressalta o cuidado como uma relação amorosa com a realidade.

Enfim, como um marco teórico metodológico, essa abordagem aportou, a partir da integração da categoria vivência, princípios e fundamentos para o profissional enfocar um modo de facilitação que se configura como o que Góis (2002, p.42) denominou de tecer a vida: "Enfim, tecer a vida é construir um cotidiano de vínculo, um trabalho com sentido, com prazer, abrir-se ao encontro com as pessoas e lutar contra a opressão e a exploração simplesmente por que ama o outro e a vida. É aceitar e estimular a expressão dos corpos-combativos, dos corpos-estrelas, dos corpos-apaixonados, em todas as idades, em casa, nas ruas e nas praças"

 

Considerações finais

Considera-se que a produção desse artigo possibilitou um avanço significativo na sistematização e legitimação do diálogo transdisciplinar entre Biodança e Psicologia Comunitária, possibilitando uma nova proposição epistemológica para a Psicologia Comunitária: integrar a categoria vivência em seu arcabouço teórico-metodológico. Este aporte vem afirmar a dimensão vivencial como pressuposto para o alcance de dimensões afetivas e pré-reflexivas da identidade pessoal.

Tendo justificado a vivência dentro do método de facilitação dialógico e vivencial, se propõe também a lançar um desafio no tocante à formação do psicólogo comunitário. Esta deve, para além de pautada em questões teórico-metodológicas, realizar-se de forma integral, promovendo uma inversão epistemológica, com a inclusão da dimensão vivencial na própria formação acadêmica.

Sabe-se que parte do encontro entre essas duas disciplinas justifica-se historicamente pela caminhada de práxis de libertação convergente de autores referenciais que transitaram nas áreas da Psicologia, Biodança e Educação no Ceará. Porém, compreende-se que essa convergência se deu como algo necessário e legítimo, diante de um contexto singular, perpassado por condições e possibilidades que se apresentaram neste lugar. Nesse sentido, a Biodança trouxe respostas importantes e validas para que a proposta de libertação do povo nordestino não fosse apenas um sonho, uma ideologia, uma teoria, mas que encontrasse meios de realização concreta.

Acredita-se que, como afirma Lane (1996), no processo de sistematização da Psicologia Comunitária, experiências singulares que ocorrem no Brasil trazem cada uma delas representatividade para o delineamento histórico das grandes questões teórico-práticas desse âmbito. Sabe-se que na psicologia ainda predominam intervenções pautadas na palavra e na racionalidade, limitando as possibilidades de expressão e realização plena da identidade. Assim, constitui-se como um grande desafio para a Psicologia Comunitária seguir avançando nas suas investigações, pesquisas e sistematizações teórico-metodológicas, de modo a encontrar, a partir de uma transdisciplinaridade, abordagens tais como a Biodança.

Construir-se a partir da compreensão do ser humano como corporeidade vivida e amorosa (Góis, 2002), constitui-se um grande desafio para que esse âmbito da psicologia possa favorecer um desenvolvimento da identidade enraizado em suas dimensões instintiva, pré-reflexiva, emocional e intuitiva: em seu potencial vital, amoroso e criador. Vê-se nesse aporte da Biodança uma proposta verdadeiramente revolucionária e profunda para a facilitação do processo de libertação dos oprimidos. Afinal, como afirma Toro (1991, p. 35): "Sabemos que a consistência existencial não pode vir de uma ideologia, senão das vivências em ação. (...). Não nos interessa, portanto, a consistência ideológica de um homem, senão sua consistência afetiva, o exercício do movimento-amor (...)".

 

Referências

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Endereço para correspondência
E-mail: anamaria_ba35@hotmail.com

Recebido em agosto de 2008
Aceito em maio de 2009

 

 

Ana Maria Melo de Pinho - Psicóloga, mestranda em Psicologia (Universidade Federal do Ceará-UFC).
Geísa Sombra de Castro - Psicóloga, mestre em Psicologia (Universidade Federal do Ceará-UFC).
Verônica Morais Ximenes - Psicóloga, Doutora em Psicologia (Universidade de Barcelona), docente da graduação e da pós-graduação do Departamento de Psicologia (Universidade Federal do Ceará-UFC).
Carolina Pinheiro Moreira - Graduanda do curso de Psicologia (Universidade Federal do Ceará-UFC).
Gabriela Pimentel Barreto - Graduanda do curso de Psicologia (Universidade Federal do Ceará- UFC).
1 Professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará- UFC e fundador do NUCOM.
2 Núcleo de Psicologia Comunitária (NUCOM) é um projeto de extensão da UFC vinculado ao Departamento de Psicologia desde 1992. Abrange atividades de ensino, pesquisa e extensão em psicologia comunitária.
3 O chileno Rolando Toro (2005) criou o termo Biodança em 1978, usando-o para expressar a ideia fundamental da sua proposta: como uma dança da vida. Segundo Toro (idem.) a Biodança é um sistema voltado para o  desenvolvimento humano, a integração da identidade, a reeducação  afetiva, a renovação orgânica e a reaprendizagem das funções originárias da vida. Pode ainda ser compreendida como um sistema teórico, mas, sobretudo, como um método vivencial que visa o estudo e o fortalecimento da expressão dos potenciais humanos através da estimulação de vivências integradoras por meio da música, do canto, do movimento e de situações de encontro em grupo (Góis, 2002).
4 Vivência nesse estudo se refere ao conceito desenvolvido por Wilhelm Dilthey que se propõe a recuperar um princípio de totalidade da vida psíquica, considerando a experiência psicológica como uma unidade entre pensar, sentir e agir.

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