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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  no.32 Canoas ago. 2010

 

ARTIGOS DE PESQUISA

 

O conceito de identificação no processo de escolha profissional

 

The concept of identification in the process of the professional choice

 

 

Dulce Helena Penna SoaresI; Fernando AguiarII; Beatriz da Fontoura GuimarãesIII

I Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Grupo de Pesquisa em Psicologia Comunitária
II Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Psicologia
III Complexo de Ensino Superior de Santa Catarina. Curso de Psicologia

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este artigo busca ampliar a reflexão a respeito da escolha profissional de jovens, assentado na premissa de que novos sentidos e compreensões heurísticas se descortinam com a consideração do conceito de identificação, conforme sua formulação em Freud e em Lacan. Considerando a adolescência, período em que comumente ocorre a escolha profissional, como um tempo de reordenação dos processos identitários no qual a situação edípica é recolocada em cena, torna-se relevante a consideração dos aspectos inconscientes que compõem o universo do sujeito e que determinam suas escolhas, inclusive a profissional. Para contextualizar a discussão, são apresentados alguns fragmentos de relatos de casos que tratam da escolha profissional de jovens, retirados da pesquisa de doutorado – da qual não se tem aqui a intenção de relatar – realizada por um dos autores deste artigo.

Palavras-chave: Identificação, Psicanálise, Orientação profissional.


ABSTRACT

This article aims to amplify the reflection concerning youngsters' professional choice, settled on the premise that new meanings and heuristic comprehensions unfold through the concept of identification, according to its formulation in Freud and Lacan. Considering adolescence, period when professional choice usually emerges, as a time of reordering of the identity processes, in which the edipian situation is replaced in scene, it becomes relevant to consider unconscious aspects that compose the subject's universe and which command his choices, including the professional one. In order to contextualize the discussion, some fragments of case reports that deal with youngsters' professional choice are presented, all derived from doctoral research – of which there is no intention to report here – accomplished by one of the authors.

Keywords: Identification, Psychoanalysis, Professional guidance.


 

 

Introdução

Este artigo busca ampliar a reflexão sobre a escolha profissional de jovens, assentado na premissa de que, também nesta área, novos sentidos e compreensões heurísticas se descortinam com a consideração do conceito de identificação, conforme sua formulação em Freud e em Lacan. Na psicanálise o termo identificação refere-se ao processo pelo qual o sujeito se constitui e se transforma, assimilando de forma inconsciente traços ou atributos das pessoas significativas de seu entorno.

Vamos discutir como os conceitos de identificação em Freud e Lacan podem auxiliar na compreensão da escolha profissional de jovens. Alguns trechos de falas, coletados durante pesquisa de doutorado1 (Soares, 1997), serão apresentados com o objetivo de propormos um diálogo entre os conceitos teóricos e alguns indicadores das marcas identitárias trazidas nas falas de alguns adolescentes durante o processo de escolha profissional. Apenas um dos casos será aprofundado neste artigo, sendo que os demais, apresentados sob a forma de fragmentos, constituem um traçado significante que sugere ao leitor a trama entre o teórico-conceitual e a experiência vivida pelos sujeitos. Não é o objetivo, deste artigo, apresentar os resultados da pesquisa, nem relatar como ela foi desenvolvida. Sem nos atermos aos modelos convencionais do artigo, optamos por fazer um ensaio teórico.

Ora, a adolescência, quando mais comumente ocorre a escolha profissional, é um momento de transição no qual se efetua uma reorganização da identidade, e a passagem do mundo da infância ao mundo adulto. A situação edipiana é então recolocada em cena – em particular, as identificações da primeira infância. Esse tempo de transformação, acompanhado de dúvidas e angústia, é também aquele em que – em nosso país, no contexto do vestibular ao ingresso na universidade – o adolescente busca saídas que lhe permitam conquistar como adulto um lugar próprio.

Para Kestemberg (1962), "assistimos, na adolescência, a um jogo de movimentação extrema entre o vivido e o conhecido, entre o que o adolescente sabe e o que ele sente, entre o que ele quer e como se vê, entre, enfim, os pais que ele quer ter e os pais que tem, ou acredita ter" (p.453). Nesta oscilação entre suas imagens e seus desejos, ele experimenta apreender o seu eu e o mundo, podendo aceitar sua imagem e suas imagos, ou as recusar.

Apresentamos a seguir alguns fragmentos de casos2, relativos à escolha profissional de jovens, oriundos da pesquisa de doutorado realizada por um dos autores deste artigo. São adolescentes inscritos no vestibular de uma universidade federal, provenientes de escola pública, que se dispuseram livremente a participar da entrevista.

Escutando André

André gosta muito de natação. Por causa deste esporte, em que foi inclusive campeão, inscreveu-se no vestibular de educação física. Seu pai, criado à beira-mar (o avô de André trabalhava no porto), gostaria de ter feito paraquedismo ou de ter sido instrutor de voo, mas abandonou a ideia quando soube da morte de um amigo num acidente aéreo. É o que por sua vez André faz agora: primeiro, desiste do esporte preferido (natação), demonstrando sentir-se endividado com sua família, que veio de um meio pobre e teve de "batalhar" para sobreviver. Em seguida, e embora seu pai lhe diga sempre para estudar e não se preocupar com trabalhar, ele privilegia a busca de um emprego para se reunir à "batalha familiar".

Escutando Cenira

Cenira pensa em estudar veterinária, mas sua mãe diz para seguir a enfermagem, curso que ela própria faria se pudesse ter estudado. Criada na fazenda, a mãe de Cenira foi a filha mais velha de uma família de doze irmãos, que ficaram aos seus cuidados, quando contava apenas quinze anos, após a morte por suicídio de sua própria mãe. Somente ao casar-se, ela pôde sair da fazenda – para onde jamais retornou – e morar na cidade. Cenira, ao contrário, adora os animais e a fazenda do avô, e sempre que pode vai visitar e ajudar o tio, veterinário e responsável pelo cuidado dos animais. A escolha da veterinária, no entanto, causa temor a sua mãe, manifestado em dois argumentos: "A veterinária não tem saída na cidade", e "eu não quero que você saia de casa". A enfermagem, ao contrário, é o que podemos depreender, só tem saída na cidade, não havendo, portanto, a saída de casa. Ao escolher a veterinária como profissão, que pressupõe por vontade própria morar no campo, de alguma forma ela refaz, pelo inverso, uma história de rupturas dramáticas envolvendo as mulheres que lhe antecedem na família: sua avó, que na fazenda, sem ao menos o cuidado de uma enfermeira, rompeu com a própria vida; e sua mãe que, menos mal, rompeu com a vida na fazenda. Mas escolhendo a veterinária, profissão que também "cuida da saúde", ao mesmo tempo Cenira não deixa de se aproximar do desejo da mãe.

Escutando Umberto

Umberto é o filho do meio de uma família de cinco irmãos. O mais velho, auditor fiscal, lhe diz para seguir a carreira do direito, pois, com sua influência, teria muitas oportunidades e posterior colocação profissional. O irmão mais jovem é artista plástico, e vive dos quadros que nem sempre são vendidos – mas nem por isso se estressa. Seu pai preocupa-se com o "ser bem sucedido", frase que repete na entrevista como imposição superegoica. Gostaria de ser do jeito do irmão pintor, e ter uma atividade profissional mais livre e relaxada, mas seus pais lhe dizem: "Não seja como ele, que não foi bem sucedido e é sem ambição". Admite um gosto pela "criatividade" e também pensou em cursar engenharia mecânica, mas, confuso entre ser como o irmão mais moço (pintor e "relaxado") e o irmão mais velho (jurista e "estressado"), por fim, acaba escolhendo o Direito: "Eu não me importo de ser advogado", diz sem convicção e, aparentemente, também sem estresse.

Sobre a identificação e seu entorno conceitual

O conceito de identificação, introduzido por Freud, permite percorrer várias noções fundamentais relativas à constituição do sujeito psíquico. Nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, em 1905, o fundador da psicanálise havia utilizado o termo autoerotismo, de Havelock Ellis, para descrever um estado inicial da libido e designar o movimento libidinal em direção ao próprio corpo do infans.3 Mas no artigo de 1914, Introdução ao narcisismo, lemos que uma unidade comparável ao eu não existe na origem. E não se encontrando presente desde o início no sujeito por advir, o eu necessita desenvolver-se, enquanto que as pulsões autoeróticas, ao contrário, estão lá desde o começo. Ainda não existe neste tempo primeiro uma noção de corpo, logo, do eu, antes de tudo corporal, como se organizarão posteriormente; mas encontram-se ali os alicerces desta construção.

Em 1914, Freud propõe o termo "narcisismo" para nomear esses tempos de constituição do eu. Tempo mítico, em que supostamente fomos completos e perfeitos: trata-se do narcisismo primário. Esta imagem de uma completude e perfeição provém da megalomania infantil, e é fruto da relação dos pais com o bebê e da identificação com a mãe onipotente da primeira infância, identificação estruturadora do eu ideal.

O eu ideal (Idealich) é assim efeito do discurso dos pais e de uma imagem idealizada que é capturada e captura a criança a partir do olhar destes. Lacan designa esta imagem primordial como "matriz egoica", a partir do termo alemão Urbild (em português: original; protótipo; modelo). A Urbild, que é uma unidade comparável ao eu, funda-se "num momento determinado da história do sujeito, a partir do qual o eu começa a assumir suas funções. Isso equivale a dizer que o eu humano se constitui sobre o fundamento da relação imaginária" (Lacan, 1983, p.137).

No desenvolvimento do psiquismo, que não corresponde a nenhuma cronologia, mas, sim, à noção de ação psíquica, aparece algo novo cuja função é dar forma ao narcisismo: a introdução no circuito pulsional de um elemento externo, de algo que vem do campo do Outro4. O Outro, corporificado pelos pais, investe o bebê de suas projeções imaginárias, de seus ideais, sendo o seu próprio narcisismo a base dessas projeções.

As crianças são referidas por seus pais como tendo uma corporeidade e uma coesão, presentes no discurso destes, e inexistentes em sua realidade primitiva. A antecipação de um corpo simbólico para a criança, quando ela ainda não possui os meios de operá-lo psiquicamente, possibilita uma unificação corporal e egoica, constituindo os elementos fundamentais para sua estruturação psíquica. Este discurso dos pais a respeito da criança lhe permite identificar-se com a imagem projetada de si.

Para formalizar conceitualmente este tempo, Lacan escreve o artigo O Estádio do espelho como formador da função do eu [je] tal como nos revela a experiência psicanalítica. Baseado nas concepções de Henry Wallon (filósofo, psicólogo, neuropsiquiatra) sobre a importância do espelho para a aquisição da noção do corpo próprio, ele mostra que a prova do espelho especifica uma passagem do especular para o imaginário e do imaginário para o simbólico (Roudinesco & Plon, 1998). E descreve que

[...] a assunção jubilatória de sua imagem especular por esse ser ainda mergulhado na impotência motora e na dependência da amamentação que é o filhote do homem nesse estágio de infans, parecer-nos-á, pois, manifestar, numa situação exemplar, a matriz simbólica em que o eu [je] se precipita numa forma primordial, antes de se objetivar na dialética da identificação com o outro e antes que a linguagem lhe restitua, no universal, sua função de sujeito. (Lacan, 1998, p.87)

Situado entre o sexto e o décimo oitavo mês de vida, o estádio do espelho representa o momento psíquico em que a criança antecipa o domínio sobre sua unidade corporal, ao identificar-se com a imagem do semelhante e ao perceber a sua própria imagem no espelho. O corpo é assim percebido numa imagem unificada, destoante de sua fragmentação original. Esta imagem sobrepõe-se à própria maturação fisiológica e motora da criança.

O processo da sua maturação fisiológica permite ao sujeito, num dado momento de sua história, integrar efetivamente suas funções motoras e aceder a um domínio real de seu corpo. Só que é antes desse momento, embora de maneira correlativa, que o sujeito toma consciência do seu corpo como totalidade. É sobre isso que insisto na minha teoria sobre o estádio do espelho – a só vista da forma total do corpo humano dá ao sujeito um domínio imaginário do seu corpo, prematuro em relação ao domínio real. (Lacan, 1983, p.96)

O estádio do espelho permite ao sujeito estabelecer uma diferença entre o seu corpo e o mundo, possibilitando situar o que é e o que não é eu. A imagem corporal tem um efeito formador, sendo o reconhecimento da totalidade do corpo no espelho, por meio da identificação do sujeito com esta imagem unificada, que leva a criança a superar o momento pré-especular, de corpo fragmentado, e à constituição de uma subjetividade.

Vemos a importância desses primeiros tempos para a formação do eu que compreende a constituição do eu ideal (Idealich), a partir do investimento pulsional realizado sobre a imagem do bebê por seus pais, bem como a formação do ideal do eu (Ichideal). O ideal do eu é resultante da convergência de dois fatores: a idealização narcísica do próprio eu e a identificação aos ideais coletivos, mediados pelos ideais dos pais e seu narcisismo. O filho identifica-se não apenas à imagem dos pais, mas, sobretudo, aos seus ideais, ou seja, à imagem idealizada que estes têm de si mesmos, cuja efetivação esperam e desejam no sucesso dos filhos (Mezan, 1988). Uma distinção importante, estabelecida entre o eu ideal e o ideal do eu, é introduzida por Freud em 1914:

O amor por si mesmo que já foi desfrutado pelo Eu verdadeiro na infância dirige-se agora ao Eu-ideal. O narcisismo surge deslocado nesse novo Eu que é ideal e que, como o Eu infantil, se encontra agora de posse de toda a valiosa perfeição e completude. Como sempre no campo da libido, o ser humano mostra-se aqui incapaz de renunciar à satisfação já uma vez desfrutada. Ele não quer privar-se da perfeição e completude narcísicas de sua infância. Entretanto, não poderá manter-se sempre neste estado, pois as admoestações próprias da educação, bem como o despertar de sua capacidade interna de ajuizar, irão perturbar tal intenção. Ele procurará recuperá-lo na  nova forma de um ideal-de-Eu. Assim, o que o ser humano projeta diante de si como seu ideal é o substituto do narcisismo perdido de sua infância, durante a qual ele mesmo era seu próprio ideal. (Freud, 1914/2004, p.112)

A investigação sobre o tema das identificações, como vimos, inicia-se na obra de Freud no artigo Introdução ao Narcisismo (1914/2004), quando ele forja as noções de eu ideal e ideal do eu. Nestes estudos, ele sugere a existência de um terceiro "agente psíquico", base do que chamará de supereu, concepção introduzida posteriormente em O eu e o isso (1923/1974).

Em 1921, todo o capítulo 7 de sua obra Psicologia das Massas e Análise do Eu é dedicado ao tema da identificação, postulada como a expressão primária de uma ligação afetiva com outra pessoa. Propõe a existência de três tipos de identificação:

Primeiro, a identificação constitui a forma original de laço  emocional com um objeto; segundo, de maneira regressiva, ela se torna sucedâneo para uma vinculação de objeto libidinal, por assim dizer, por meio da introjeção do objeto no eu; e, terceiro, pode surgir sempre que o sujeito descobre em si um traço comum com outra pessoa que não é objeto de suas pulsões sexuais. Quanto mais importante for tal comunidade, mais perfeita e completa poderá chegar a ser a identificação parcial e constituir, assim, o princípio de um novo enlace. (Freud,1921/1974, p.136)

Este terceiro tipo de identificação, que implica em o sujeito reconhecer no outro a situação total e global em que vive, é denominado identificação histérica. Conforme Lacan (1962-1963), esta é a identificação que ocorre no nível do desejo.

No seminário sobre a Identificação, Lacan (1962-1963) propõe duas dimensões da identificação: a identificação à imagem e a do significante (S1), relativa ao traço unário. É no plano da relação especular com o Outro que Lacan retoma a relação do sujeito com o significante e com a identificação. Para ele, as identificações podem ser designadas da seguinte forma: identificação à imagem, podendo ser referida à Urbild, como efeito da percepção da imagem de si no estádio do espelho; e a identificação ao significante, ao traço unário, como efeito de um tempo no qual o objeto é perdido e o sujeito se vê afastado deste, identificando-se a um traço do objeto perdido ou à falta de objeto.

Lacan (1962-1963) acentua que a identificação ao objeto perdido não é total, mas parcial, sendo em relação ao traço (Einziger Zug) da falta do objeto – ou do objeto perdido, segundo Freud (1921/1974) – que o sujeito se faz representar. Freud indica, neste segundo modo de identificação, que esta se faz por ein Einziger Zug (um traço único). Não se faz propriamente com uma pessoa e sim com um único aspecto desta, com um traço isolado. Posteriormente, Lacan retomará esta noção freudiana, formulando-a como um conceito: traço unário. Esse é o tipo de identificação, designado por Freud como identificação regressiva, pois, ao abandono ou à perda de uma escolha amorosa edípica, o sujeito retorna à primeira forma de ligação objetal, tomando para si as propriedades do objeto.

Nesse tempo da dissolução do complexo de Édipo, a identificação ao traço permite ao sujeito situar-se na cadeia significante como desejante, inscrito na cultura, podendo operar a partir de uma posição sexuada, assumindo um lugar definido na sequência das gerações. Como herdeiro do complexo de Édipo, o supereu surge quando a criança substitui o investimento objetal dos pais por uma identificação com eles. Ao aprofundar epistemologicamente o conceito de supereu, Freud postula que em sua raiz encontra-se uma identificação ao pai, quando a autoridade é internalizada.

Escolha profissional, identidade, perdas...

É interessante notar a importância da escolha profissional no que diz respeito à afirmação da própria identidade do adolescente, que, de um modo geral, resiste a associar sua escolha às influências familiares. O que se observa, no entanto, é que a escolha de uma profissão jamais prescinde deste suporte identificatório; e os estudos de casos evidenciam que os elementos constituintes de suas referências atravessam todo o processo.

Aproximaremos agora o foco para analisar um dos casos referidos no início deste artigo, com o intuito de tomar o estudo de caso como exemplar, nesse sentido, de abordá-lo tanto naquilo que o singulariza quanto no que o aproxima de outros (Mezan, 2001, p.157). Trata-se de André. Este caso delineia como um ideal familiar ("a batalha"), transmitido de pai (e mãe) para filho pode impedir a realização da profissão escolhida e desejada pelo jovem.

Apresentaremos a história familiar e, a seguir, a escolha profissional do jovem, analisando os temas mais importantes, especialmente as palavras ligadas a "batalha" para compreender a dinâmica familiar e sua relação com a escolha do adolescente. Enfim, apresentaremos a análise do discurso e a análise clínica do caso.

A história familiar e a escolha profissional

André tem 18 anos e é o filho mais moço de uma família de dois filhos. Apaixonado por natação, inscreveu-se para o vestibular de educação física. Seu pai, que trabalha numa agência de turismo há 26 anos, e também vende roupas para aumentar seu ganho mensal, gostaria de ter feito paraquedismo ou de ter sido instrutor de voo, mas abandonou a ideia quando ficou sabendo da morte de um amigo em um acidente aéreo. Sua mãe, morta há dois anos, trabalhava como telefonista e, anteriormente, como operadora de telex. Sempre, conforme André, sentia-se satisfeita com o trabalho que realizava. Seu irmão mais velho (23 anos) é funcionário na mesma empresa do pai desde os 18 anos – "ele não gostava de estudar e decidiu trabalhar". A avó paterna morreu quando seu pai tinha cinco anos: o pai de André foi assim criado pelo avô, que trabalhava no porto como responsável de um dos setores. O avô materno era eletricista e sua esposa trabalhava como cozinheira num hotel. É com esta avó que André mora juntamente com o pai.

Convém salientar alguns acontecimentos importantes ligados a mortes: o pai de André perdeu a mãe aos cinco anos de idade e André a sua aos dezesseis anos. Já havia antes perdido o avô paterno quando contava cinco anos.

História da escolha

André adora nadar, tendo sido duas vezes campeão. Por ocasião da troca de treinador, no entanto, termina por romper com o esporte preferido. O primeiro treinador não tinha diploma universitário, mas era um ótimo profissional. O novo treinador tinha diploma, mas "não era bom". Numa competição, André foi desclassificado por motivo injusto e seu novo treinador não o defendeu perante os jurados. André jamais o perdoou, e quis parar de treinar. Demovido da ideia, contudo, "vingou-se" no campeonato, ao não comparecer à competição. André adora também futebol e já ganhou diversas medalhas, mas sua escolha pela educação física deve-se antes de tudo à natação.

Problemática

A escolha de André pode muito bem refletir um sentimento de dívida a ser paga. Sua família veio de um meio pobre e teve que "batalhar" para sobreviver, e parece sentir-se culpado por não ter ainda entrado na "batalha familiar", com a qual se diz "atrasado" – embora seu pai lhe afirme não ser preciso trabalhar, e mesmo ache melhor que ele só estude. Ao mesmo tempo, André demonstra não estar com muita vontade de começar a trabalhar, sente-se "meio preguiçoso".

Depois da morte da mãe, ele recebe uma pensão, utilizada para seus gastos pessoais e "para ajudar seu pai e irmão quando eles precisam". Aos 21 anos, embolsará certa quantia em dinheiro relativo à herança, e se questiona se deve "pensar em si mesmo", comprando um apartamento, ou "ajudar o pai e investir nele". Em relação à mãe, diz que após sua morte resolveu fazer tudo aquilo que ela gostaria que ele fizesse, e "ainda melhor": o desejo de sua mãe é que ele "estudasse e seguisse o bom caminho".

Sobre o discurso

No nível das sequências do texto, foram distinguidas as seguintes cadeias associativas: 1) a batalha, a necessidade de trabalhar para ganhar a vida, ajudar o pai e o irmão; 2) a natação, a perda da mãe, o desejo do pai de ser paraquedista; 3) a solidão, ele "se explode" sozinho; 4) a dúvida: ajudar o pai ou comprar um apartamento para si; 5) o atraso em relação a seu pai e irmão que começaram a trabalhar cedo.

No nível temático, observou-se que André introduziu o tema da morte de sua avó materna e na sequência a morte da mãe. Ao falar de si mesmo, de seu amor pelos esportes, acrescentava logo em seguida o seu desejo de "ajudar o pai ou o irmão", dizendo: "eu penso mais no meu pai e no meu irmão do que em mim mesmo". Constatou-se que ele não afirma o seu desejo sem falar logo em seguida de seu pai e da vontade de ajudá-lo. A palavra "batalha" (e seus sinônimos: luta, guerra) está sempre presente em seu discurso.

Deve-se ainda levar em conta a insistência significante: durante a entrevista, André referiu-se 75 vezes ao pai em seu discurso, tendo-o feito apenas duas vezes em relação à profissão escolhida (educação física). A palavra "batalha" e seus sinônimos foram mencionados 14 vezes, e a expressão "ajudar o pai", 10 vezes.

As identificações

A escolha profissional está sempre associada a "batalha/luta". A dimensão genealógica é primordial. O trabalho é transmitido nesta família sob a forma de uma batalha. Por exemplo, sua avó, cozinheira: "ela batalha", seu pai é "um velho guerreiro". Para as outras profissões não existe uma representação particular, talvez pelo fato de para ele e sua família o mais importante ser a "sobrevivência", e de menor valor a profissão escolhida. Quando fala sobre começar a trabalhar, diz que "meu pai vai me conseguir um emprego, pode ser qualquer coisa". Para ele, a Educação Física representa particularmente a natação. Ele se imagina um "professor" que "tem uma academia" e um "diploma".

A escolha da natação parece remeter a uma identificação ao pai. A natação é um esporte como o paraquedismo, que seu pai gostava quando era jovem. Mas, assim como ele, André também não pôde realizar seu sonho e abandona o esporte. Na mesma vertente identificatória, a natação remete ao avô paterno na medida em que há uma ligação entre a profissão escolhida, a água e o porto (onde o avô trabalhava).

A escolha de educação física (professor, diploma, academia) pode representar a realização social, o que o diferencia do resto da família que teve de "batalhar" para "sobreviver". Com a educação física ele pode vencer (ser campeão, ganhar medalhas). Ele nunca chegou a falar em "vencer" pela profissão, mas sempre em "sobreviver". Talvez em razão de seu feito (ser campeão), percebe-se diferenciado dos outros membros da família, e tenha se afastado do esporte com a desculpa (racionalizada) a respeito do novo treinador, sendo-lhe difícil suportar vencer numa família de "lutadores", e não de vencedores. Conforme escrevem Coutinho e cols. (2005),

[...] podemos supor que os ideais e as representações envolvidos na construção da autoimagem dos jovens, nas figuras de identificação compartilhadas por eles e nas suas perspectivas de futuro são pautados prioritariamente por valores pertencentes à esfera familiar e ao trabalho, pelo fato de que, possivelmente, estes representam para eles a conquista de estabilidade e segurança. (p.55)

Em relação à mãe, André porta o lugar na família que em vida correspondia a ela – como escutar o irmão, ajudando-o a resolver seus problemas, dando-lhe conselhos. Quando pensa em dar o seu dinheiro (que remete a sua mãe, uma vez que é por causa de sua morte que ele recebe esta pensão), assume um papel de "protetor" em relação ao pai, assim como a sua mãe tinha sido em relação a ele. No entanto, ele não tem ninguém com quem possa partilhar seus problemas, mas gosta de escutar aos outros.

Na via do significante, nesta família, o que é transmitido entre as gerações é a "batalha", a "luta" pela sobrevivência. Como ele ainda não entrou nesta batalha, ele "sabe" (um saber inconsciente) que está numa situação de "vantagem" em relação aos demais membros, e disso sobrevém o sentimento de culpa. Provavelmente para amenizá-lo, ele oferece ao pai e ao irmão o seu dinheiro, "investe neles". Parece que ele se sente excluído da batalha familiar por sua mãe (que o "protege" financeiramente).

A batalha que ele enfrenta em relação a si mesmo está ligada a um conflito do qual não pode falar a ninguém (ou não tem ninguém com quem falar), provavelmente relacionado à morte da mãe e ao rompimento desta primeira e fundamental relação. O luto, não elaborado, o impede de dar continuidade a projetos de vida e aos vínculos, e o mantém preso numa dinâmica de "ajudar o pai" e "batalhar".

A "batalha" é ainda a "batalha familiar", que não parece ter uma conotação agressiva, sendo principalmente um esforço para vencer uma dificuldade. Quanto à agressividade percebe-se que está recalcada. Ele se vê como um bom filho, que não gosta de incomodar a família, que não luta por aquilo que quer (a natação, por exemplo). Sua agressividade aparece nos momentos em que ele "se explode", e sente a falta de sua mãe para contar seus problemas. Mas ninguém sabe de seu sofrimento. É quando, "sentindo-se sozinho", sua agressividade se manifesta, mas contra si, e não na "luta" por um trabalho.

O conflito

A "batalha" representa também um conflito. Podemos pensar que, como efeito desta situação, André "se paralisa". De um lado, estão as expectativas dos pais (inclusive, fantasmaticamente, da mãe morta) de que ele continue estudando; de outro, a representação familiar que destina os seus ao trabalho pela sobrevivência. Nesta perspectiva, os estudos não representam uma batalha, estando mais próximos da "preguiça".

A herança pecuniária e a pensão, deixadas pela mãe, o "protegem financeiramente". Mais do que isso: do lado paterno (e masculino), elas parecem deixá-lo excluído da herança familiar. Optando pelo estudo, promessa feita à mãe, no mínimo ele adia tornar-se homem como seu irmão, seu pai e seu avô, alimentando assim o conflito com essa outra dívida a ser paga: inscrever-se na herança familiar do lado paterno.

 

Para concluir

Toda conflitiva subjacente ao processo de escolha da profissão pode ser desdobrada no trabalho de orientação profissional. É possível que esta rede significante venha a ser reconhecida pelo adolescente: mediante apropriação do que o constitui como sujeito, do "estrangeiro" que o habita, e dando-se conta de seu próprio desejo, viabiliza-se uma escolha talvez mais livre de culpabilidade.

Podemos dizer que as identificações são uma lenta hesitação entre o "eu" e o "outro" (Sedat, 1993), e esta hesitação manifesta-se na escolha da profissão. Escolher uma profissão é revelador das identificações do jovem com seus pais, e uma maneira de manifestar seu amor: nesta fase de hesitação, é para eles difícil reconhecer a sua própria motivação, em meio ao problema de escolhas, sem se sentir desagradando alguém.

A escolha da profissão muitas vezes se apresenta como um tempo de tensão, em que diversas representações inconscientes estão em conflito. Não é difícil compreender que sob o conteúdo manifesto do processo dramático de identificações – o qual, talvez como seu derradeiro avatar, se desenrola concomitantemente ao da escolha profissional – encontra-se algo bem mais complexo. Subjacente a ele, há um processo de luto. Parece de grande valia, na esteira da formulação freudiana, tomar ambos os processos – com tudo o que estrutural e contingentemente mobilizam no sujeito – recortados em sua configuração depressiva.

Impõe-se aqui lembrar a genial intuição de Freud nos seus estudos sobre o luto e a melancolia, ao explicar que as autoacusações do melancólico (ou do enlutado) são na verdade acusações dirigidas contra uma pessoa importante e "perdida", geralmente alguém do círculo familiar, de amigos etc. Ele escreve: "A esposa, que aos brados lamenta que seu marido esteja preso a uma pessoa tão incapaz como ela na verdade está acusando o marido de incapaz, seja lá o que for ela entenda por incapaz" (Freud, 2006/1917, p.107). Dito de outra maneira, quando essa mulher acusa a si própria dizendo: "Eu sou incapaz!", essa autoacusação resulta de uma acusação inconscientemente destinada a seu marido: "Você é incapaz!". Freud o exprime melhor na língua alemã, falando de seus pacientes: "Ihre Klagen sind Anklagen", isto é: "As queixas são queixas dadas contra", jogando assim com a condensação entre as palavras Klagen (queixas no sentido de "queixar-se") e Anklagen (antigo termo jurídico que significa "dar queixa" contra alguém) (Quinodoz, 2004). Prosseguindo sua intuição, Freud observa que as palavras utilizadas pelo paciente melancólico ao exprimir suas autoacusações – quando ele diz, por exemplo: "Eu sou incapaz!" – revelam a estrutura de seu conflito interior, e nos descrevem corretamente sua própria situação psicológica.

Levando em conta o fato de que a estrutura de linguagem particular das autoacusações reenvia à organização do conflito interno do melancólico, Freud passa em revista, sistematicamente, os diferentes elementos que estão aí implicados, decompondo-os um após outro: descreve sucessivamente a introjeção oral do objeto perdido, a identificação com o objeto perdido por regressão do amor ao narcisismo, o retorno contra o próprio sujeito do ódio destinado ao objeto etc. A compreensão desses processos demanda muita atenção por parte do leitor desse texto de Freud, ainda mais que, como lembra Quinodoz (2004), a clínica a que ele faz referência resta mais implícita que explícita.

A forte tendência autodestrutiva do deprimido resulta de um reforço da ambivalência do amor e do ódio para com o objeto e o eu, afetos que se dissociam e sofrem destinos diferentes. O sujeito continua a amar o objeto, mas ao preço de um retorno a uma forma primitiva de amor que é a identificação na qual "amar o objeto" é "ser o objeto": "[...] a identificação narcísica com o objeto torna-se um substituto do investimento amoroso anteriormente depositado, permitindo que – apesar do conflito com o objeto de amor – não mais seja preciso renunciar à relação amorosa em si", escreve Freud (2006/1917, p.108).

Há de se considerar que a escolha de profissão pelo jovem inclui em alguma medida essa dimensão depressiva da perda definitiva da infância, da separação dos pais; bem como o reforço da ambivalência em relação a eles (no caso aqui apresentado, há ainda um luto a ser realizado pela perda real da mãe). Quer dizer, a ameaça sempre latente de dissociação entre o amor e o ódio pelos pais – inclusive, dadas as exigências muitas vezes subtendidas, e nesse momento revigoradas em seu ápice, de um ideal a atingir (entrar na universidade, ter uma profissão, ter sucesso na profissão e na vida).

O adolescente, que o "vestibulando" ainda é, vive mais uma vez a renúncia do investimento libidinal dos pais, renúncia que se faz pela identificação – a nossa mais antiga maneira de amar. O sujeito adolescente, como podemos verificar com André, continua a amar seus pais, mas ao preço de se identificar com eles ou com seus ideais. Continuar a amá-los é "ser" (como) eles. Esta imposição, tão inevitável quanto fantasmática, merece ser levada em conta em toda sua extensão no âmbito da orientação profissional.

 

Referências

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Endereço para correspondência
E-mail: dulce@cfh.ufsc.br

Recebido em março de 2010
Aprovado em julho de 2010

 

 

Dulce Helena Penna Soares: Psicóloga; Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de Strasbourg, França, professora do Departamento e do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFSC, bolsista Produtividade e PDS CNPq; Coordenadora do LIOP – Laboratório de Informação e Orientação Profissional; Pós-doutoranda em 2010 no Grupo de Pesquisa em Psicologia Comunitária da UFRGS.
Fernando Aguiar: Psicólogo; Doutor em Filosofia pela Universidade Católica de Louvain, Bélgica; professor do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFSC.
Beatriz da Fontoura Guimarães: Psicóloga; Mestre e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFSC, pesquisadora no Núcleo de Estudos em Psicanálise – CFH/USFC e da Rede Escritas da Experiência – CNPq; professora do curso de Psicologia do CESUSC.
1 Pesquisa realizada por Dulce Helena Penna Soares, intitulada "Escolha Profissional, Projeto dos pais & Projeto dos filhos", defendida na área de Psicologia Clínica, na Universidade Louis Pasteur, em Strasbourg, França, em dezembro de 1996, orientada pela Dra. Françoise Hurstel. O objetivo foi pesquisar a influência da família no processo de escolha profissional de jovens.
2 As vinhetas de casos foram obtidas através de entrevistas realizadas com jovens inscritos no vestibular do ano de 1993. Foram gravadas e transcritas, sendo utilizado a analise do discurso, em especial a analise da enunciação, como método de interpretação de resultados. Todos os preceitos éticos foram observados, embora, na ocasião da coleta de dados, ainda não existisse a Resolução nº 196/96 sobre a questão: esta pesquisa, portanto, não foi submetida ao Comitê de Ética. Sendo as histórias reais, os nomes aqui utilizados são obviamente fictícios.
3 Infans: termo utilizado por Lacan para designar aquele que ainda não adquiriu a linguagem.
4 Termo proposto por Lacan para assinalar um lugar simbólico (significante, Lei, linguagem, inconsciente, ou, ainda, Deus) que determina o sujeito. Lacan ressalta aqui a questão da alteridade, marcando uma posição em relação ao inconsciente freudiano como "uma outra cena", como "lugar terceiro que escapa à consciência". Este lugar Outro, conforme Roudinesco e Plon (1998, p.558-60), é distinto do campo da pura dualidade (outro) psicológica.

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