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Aletheia

Print version ISSN 1413-0394

Aletheia  no.33 Canoas Dec. 2010

 

ARTIGOS DE PESQUISA

 

Experiências de vida e os processos de visibilidade social de mulheres que amam mulheres

 

Experiences of life and the process of social visibility of women who loves women

 

 

Yáskara Arrial PalmaI; Aline da Silva PiasonI; Ana Cláudia Menini Bezerra; Marlene Neves StreyI

I Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

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RESUMO

O presente estudo apresenta reflexões acerca de duas pesquisas, que tiveram como objetivo conhecer as experiências de vida de mulheres que amam mulheres, e mais especificamente de conhecer a percepção das mesmas quanto à sua orientação sexual e os enfrentamentos quanto à visibilidade ou invisibilidade dessa orientação sexual na família e sociedade. Ambas as pesquisas tiveram um delineamento qualitativo, diferenciando-se quanto à forma de análise dos dados. As participantes dos estudos foram respectivamente oito mulheres que se identificam como lésbicas, com idades entre 22 e 44 anos, residentes na capital do estado e seis com idades entre 22 e 33 anos, residentes no interior do estado, totalizando 14 entrevistadas. Para compor o corpus do estudo, as entrevistas foram gravadas e transcritas e para sua análise, o primeiro estudo utilizou o método da análise de discurso e o segundo, o método da análise de conteúdo. Os resultados apontam que tanto no interior, quanto na capital, as vivências dessas mulheres se assemelham e que apesar de estar havendo uma mudança social na forma de pensar e agir diante da homossexualidade feminina, essa parece ser ainda lenta e gradual. A partir de um olhar dos estudos de gênero, considera-se que a sociedade, ainda predominantemente heterossexista e patriarcal, necessita ampliar seus espaços para expressão da diversidade e investir em esforços para mudança desse paradigma.

Palavras-chave: Gênero, Lésbicas, Família.


ABSTRACT

The present study presents a reflection concerning two researches that have had as an aim, a way of knowing the processes of recognizing the life experiences of women who love women, and more specifically to know the perception of these women in relation to their sexual orientation and encountering visibility or invisibility of the sexual orientation in family and society. Both researches have had a qualitative delimitation, differing from each other in the way of data analysis. The participants of the studies were eight women, who identify themselves as lesbians, with ages between 22 and 44 years old, living at the suburb of the state, Rio Grande do Sul and six women with ages between 22 and 33 years old, from the inner city, totaling 14 interviewees. To take part on the corpus of the study, the interviews were taped and transcribed for the analyses, on the first study it was used the method of discourse analyses, and the second the method of content analyses. The results show that at the country side and at the capital, the experiences of these women are similar, and show that apart from having a social change at the ways of thinking and perceiving female homosexuality, it still is a slow and gradual process. From a gender studies point of view, it is considered that society still is predominantly heterosexist and patriarchal, needing to enlarge its spaces for the expression of diversity and investment in efforts to a change of paradigms.

Keywords: Gender, Lesbians, Family.


 

 

Introdução

O artigo apresentado é produto do encontro de reflexões presentes em duas pesquisas que tratam da mesma temática, que é conhecer as experiências de vida de mulheres que amam mulheres, e mais especificamente de conhecer a percepção das mesmas quanto à sua orientação sexual e os enfrentamentos quanto à visibilidade ou invisibilidade dessa orientação sexual na família e sociedade.

Os dois estudos referem-se respectivamente a uma pesquisa de mestrado realizada na PUCRS, com a participação de oito mulheres que se identificam enquanto lésbicas residentes na capital do Rio Grande do Sul, com idades entre 22 e 44 anos. O outro estudo trata-se de um trabalho de conclusão de curso na UCS, realizado em uma cidade do interior do estado, com a participação de seis mulheres que também se autoidentificam enquanto lésbicas, com idades entre 22 e 33 anos. A integração dos dois estudos possibilitou que ampliássemos a compreensão do universo dessas mulheres e alcançássemos com maior eficácia os objetivos propostos.

No trabalho desenvolvido por Marlene Strey (2004), foram levantadas hipóteses, a partir de pesquisa realizada por Eicher (1978), de que as mulheres, em um período pré-histórico datado entre os anos 12.000 e 8.000 ac, poderiam ter vivenciado e gozado de plena liberdade sexual. Porém, tal fato permanece como hipótese sem comprovação. O que se reconhece historicamente é a presença do controle e da repressão dos impulsos sexuais femininos, principalmente diante do modelo proposto de uma família patriarcal, transformada em pilar de nossa sociedade. O que percebemos, então, é que essa visão misógina tem sido perpetuada na história da humanidade e transmitida de geração em geração até os nossos dias.

Ainda segundo Marlene Strey (2004), as mulheres foram historicamente descritas e narradas a partir da representação, dos desejos e do imaginário masculino. Seu corpo se produz nesse imaginário e adere às práticas que se articulam em espaços definidos, ritmos, formas de se vestir, gestos, olhares permitidos e proibidos. É fruto de um contexto social, que cria, esquadrinha ou exclui.

Fixadas em seus corpos e suas produções, as mulheres simbolizam a reprodução humana e a afetividade. Aparecem, durante muito tempo, não como sujeitos, mas como seres apropriados e utilizados socialmente frente ao poder e à dominação masculina. Assim, permanecem silenciadas no mundo da vida privada e familiar, sendo impossibilitadas de expressar outras formas de criação (Colling, 2004; Strey, 2004; Swain, 2008).

Garcia (2003) realizou uma pesquisa em Florianópolis com 10 mulheres que mantinham a prática sexual com outras mulheres, mas se identificavam como heterossexuais, por também possuírem parceiros sexuais do sexo oposto. Os resultados apontaram que a primeira experiência sexual com outra mulher ocorreu, para grande parte delas, aos 24 anos (40%) sendo esta descrita por 40% das participantes como razoável e por 60% como ótimo, apesar da sensação de estar fazendo algo errado. Para 60% das participantes a vida sexual era considerada ruim, tendo em conta somente o relacionamento heterossexual.

Esses dados nos remetem à heteronormatividade, referenciada por Rich (1980), que ainda é vigente na contemporaneidade. Muitos gays e lésbicas não conseguem viver de maneira plena seus desejos em função do estigma que carregam por fazerem parte de uma posição "desviante", pois uma orientação sexual diferente da esperada por vezes ainda é vista como patológica. Esse fato intensifica-se quando é proveniente de profissionais das ciências psicológicas e/ou de instituições tais como escola, igreja, representativos da sociedade. O estigma prevalece apesar de em 1993 a Organização Mundial de Saúde ter retirado a homossexualidade de sua lista de doenças.

Diversos estudos, como o de Heilborn (2004), vêm sendo realizados com o propósito de romper este estigma. A autora, ao falar sobre o par igualitário enfatiza a importância do companheirismo e da amizade na relação, sem esquecer a dimensão sexual. O casal de mulheres aparece bastante marcado por um intenso companheirismo, com forte ênfase no apoio psicológico mútuo, deslizando da conjugalidade para a amizade. Porém, temos que ter presente que não existem identidades nem papéis fixos, logo essas reflexões não dizem respeito a todo o universo de mulheres que se identificam como lésbicas.

Portinari (1989) comenta que o discurso da homossexualidade funciona como crítica e ultrapassagem do sentido estabelecido, apontando para a intraduzibilidade da ideia de lesbiandade e da ideia de mulher em geral. Tal ideia é corroborada por Swain (2004) dizendo que não há uma sexualidade lesbiana, pois não há um modelo a ser seguido. Há uma busca e um conhecimento do próprio corpo, que é utilizado no prazer de outrem e de si mesmo.

McGoldrick (1995) sinaliza, a respeito de revelar a orientação sexual, que o relacionamento com a comunidade provavelmente será influenciado pela questão do tornar público. Esse é outro importante ponto para os casais de lésbicas, que precisam lidar com a consequente perda de status em resultado de sua orientação sexual. Marvin e Miller (2002) apontam que a decisão de ser franca, seja com um membro da família, amigos (as) ou colegas de trabalho, traz consigo o risco de perigo sempre presente para si mesma e para as pessoas amadas. No caso das mulheres, com o revelar do segredo, devem ainda ter uma cautela dupla contra aqueles (as) que as desvalorizam como lésbicas e também como mulheres.

Mott (1987) afirma que são poucas as homossexuais que conseguem a maturidade da autoaceitação e que chegam a revelar a sua inclinação homossexual para os familiares ou colegas. Por outro lado, a grande maioria das mães que têm filhas lésbicas assumidas espera que aconteça uma mudança de orientação sexual e são poucas as famílias que aceitam e convivem bem com um de seus membros que possua orientação homossexual. O que está mais presente é a intolerância e o inconformismo constituindo a família, para a grande maioria das lésbicas, a principal preocupação, seja como fonte de repressão, seja como cobradora de compromissos sociais heterossexuais.

As famílias de origem, na maior parte das vezes, operam a partir de uma crença de que todos os filhos serão heterossexuais e crescerão seguindo estilos de vida e experiências heterossexuais. Amigos (as) da família, das mães e dos pais e da própria criança (mesmo essa sendo gay ou lésbica) são escolhidos (as) sobretudo, com base no ajuste a um modelo heterossexual, além das interações ocupacionais e sociais estarem baseadas em um plano de vida heterossexual (Sanders, 1994).

No entanto, estamos percebendo uma mudança social com o aumento da visibilidade lésbica, assim como apresentado no estudo de Borges (2005). Segundo a autora, esta visibilidade passou a existir em função das contribuições dos movimentos feministas e da mídia. Destaca que a percepção da mulher como sujeito histórico e sexual está intimamente ligada à intensificação das lutas feministas, algo que ocorreu a partir do século XX. Mais especificamente, as décadas de setenta e oitenta são consideradas marcos na história do feminismo brasileiro. A partir deste período, aumentou a participação de mulheres autodeclaradas lésbicas e feministas, que pressionaram o movimento para a discussão da lesbiandade como pauta dos direitos sexuais.

Nesse sentido, reconhecemos a importância em visibilizar essa multiplicidade e diversidade, revelando as vivências pessoais, as relações familiares e sociais de mulheres que amam mulheres. Para alcançar este objetivo, consideramos que os estudos de gênero podem se mostrar uma ferramenta importante nessa tarefa, devido ao fato da abordagem de gênero ser amplamente reconhecida como facilitadora na produção de novos questionamentos para os estudos das mulheres. Promovem ainda, importantes contribuições para desnaturalizar preconceitos (Narvaz, 2005; Pereira, 2004).

Diante desta perspectiva, os estudos de gênero, apoiados em teorias pós-estruturalistas (Butler 1998, 2003; Nicholson, 2000; Rago, 1995/1996; Scott, 1990), procuram romper esta perspectiva essencialista e heteronormativa ao se propor contemplar e resolver o dilema binário do sistema sexo-gênero, ou seja, entre o natural (corpo) e o cultural (Narvaz, 2005; Pereira, 2004). Desta forma, o gênero se constituiu em um campo de estudos de concepções relacionais, fazendo emergir problematizações de outros sujeitos, uma vez que, nas últimas décadas esse campo tem descortinado e incluído outros sujeitos, como os homens, gays, lésbicas, bissexuais e transexuais (Pereira, 2004).

Os estudos que tratam dessas questões acabam rompendo com as normas heteronormativas ainda presentes na contemporaneidade e colaboram para que as lésbicas sejam cada vez mais visibilizadas. Pensando nisto, este artigo pretende contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, pois dá subsídios para reflexões acerca das experiências de vida e os processos de visibilidade social de mulheres que amam mulheres.

 

Método

O presente artigo apresenta reflexões acerca de duas pesquisas que investigaram questões relacionadas às experiências de vida e os processos de visibilidade social de mulheres que amam mulheres. Estas foram realizadas nas cidades de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, e de Caxias do Sul, situada no interior do Estado. A primeira pesquisa partiu de uma dissertação de mestrado em Psicologia Social (PUCRS) e a segunda se originou de uma monografia de conclusão da graduação em Psicologia (UCS). Estes estudos tiveram um delineamento qualitativo, diferenciando-se quanto à forma de coleta e análise dos dados. As participantes dos estudos totalizaram 14 mulheres homossexuais. Foram, respectivamente, oito mulheres que se identificam como lésbicas, com idades entre 22 e 44 anos, residentes na capital, e seis com idades entre 22 e 33 anos, residentes no interior do estado.

Procedimentos de coleta de dados

Para a obtenção dos dados dessas pesquisas foram utilizadas como recurso, na primeira pesquisa, entrevistas narrativas, e na segunda, entrevistas semiestruturadas. Ambas entrevistas abordaram questões sobre a visibilidade social e as experiências de vida dessas mulheres com o enfoque das teorias feministas de gênero. No primeiro estudo as entrevistas ocorreram nos meses de junho a novembro de 2008 e na segunda, no mês de setembro de 2006.

O contato com as participantes foi por meio de indicações, utilizando a técnica "Snowball Sampling" (amostragem por bola de neve) e teve como ponto de partida o contato com ONG's que defendem a livre expressão sexual, na cidade de Porto Alegre, e no interior se deu a partir da rede de relações da pesquisadora. O uso dessa técnica é sugerida em pesquisas anteriores (Cechin, 2005; Numan, 2003; Víctora, Knauth & Hassen, 2000), pois envolvem participantes que geralmente convivem em grupos cujos membros se conhecem entre si, como as comunidades de gays e lésbicas, e também pela dificuldade de identificação destas pessoas, uma vez que muitos ainda optam por invisibilizar sua orientação sexual.

A aplicação das entrevistas ocorreu nas residências e locais de trabalho, conforme disponibilidade e preferência das entrevistadas. As entrevistas narrativas tiveram em média quarenta minutos de duração e as entrevistas semiestruturadas, em média de vinte minutos.

A entrevista narrativa é indicada para pesquisas qualitativas, por ser considerada não estruturada e de profundidade. A ideia básica é reconstruir acontecimentos sociais a partir da perspectiva da informante (Jovchelovitch & Bauer, 2002). A entrevista narrativa necessita de uma situação que encoraje e estimule a entrevistada a contar a história sobre os acontecimentos de sua vida e seu contexto familiar e social. Portanto, a pesquisadora solicitou que as participantes relatassem suas experiências no processo de se reconhecer lésbicas, bem como suas vivências quanto à sua orientação sexual e a visibilidade social.

A entrevista semiestruturada permite que a entrevistadora explicite algumas questões no curso da entrevista, apesar de haver um roteiro prévio de questões a serem investigadas, reformulando-as para atender as necessidades da entrevistada. A flexibilidade deste tipo de entrevista possibilita um contato mais intimo entre a entrevistadora e a entrevistada, favorecendo assim a exploração em profundidade de seus saberes, bem como de suas representações, crenças e valores (Laville & Dionne, 1999). Assim, no segundo estudo o roteiro versou sobre as vivências pessoais e familiares e as possibilidades de visibilidade social quanto à orientação sexual.

Análise dos dados

Os estudos apresentados também se diferenciavam quanto à análise dos dados. No primeiro estudo, utilizou-se o método de análise de discurso e no segundo estudo, utilizou-se o método da análise de conteúdo, segundo Bardin (1977).

A análise de discurso é o nome dado aos diferentes enfoques no estudo de textos. Existem várias análises de discurso, porém todas partilham da questão da importância central do discurso na construção da vida social (Gill, 2002). No primeiro estudo foi utilizada a análise de discurso baseado nas teorias feministas de gênero (Butler, 2003; Louro, 2007) que apontam para uma reflexão sobre a heteronormatividade ainda vigente em nossa sociedade, interrogando os discursos presentes nas falas das entrevistadas, perguntando-se de que modo a linguagem é produzida e produz sentidos, determinando a existência daquele enunciado.

Já a análise de conteúdo, segundo Bardin (1977), é um método empírico, dependente do tipo de fala a que se dedica e ao tipo de interpretação que se pretende como objetivo. Este método de análise foi escolhido no segundo estudo a fim de estudar e analisar material qualitativo, buscando-se melhor compreensão da comunicação e aprofundando suas características ideológicas, além de extrair os aspectos mais relevantes das falas das entrevistadas.

Após as análises das informações obtidas, foi possível discutir os resultados e fazer um entrelaçamento entre estes estudos por se tratarem da mesma temática, possibilitando expandir a compreensão do fenômeno e chegar a algumas considerações apresentadas nesse artigo.

Considerações éticas

Os estudos tiveram aprovação nos Comitês de Ética em Pesquisa tanto da PUCRS quanto da UCS de acordo com Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – Ministério da Saúde.

Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a autorização da coleta e análise dos dados, cientes que as informações geradas serão divulgadas, via relatório e publicações, seguindo os princípios éticos da pesquisa em saúde. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas para a realização da análise das informações, com a preservação do sigilo sobre a identidade das participantes.

 

Resultados e discussão

A partir dos entrelaçamentos feitos neste estudo, podemos perceber semelhanças entre as experiências de vida das mulheres da capital e do interior do Estado, através das duas pesquisas realizadas, bem como uma maior caracterização dessas mulheres1 quanto as suas vivências e os processos de visibilidade social.

O presente estudo, com o propósito de revelar as experiências vivenciadas por lésbicas, investigou questões relacionadas aos aspectos que levaram a descoberta da lesbiandade, que foi evidenciada nas pesquisas como: atração por mulheres, não ter atração por homens e decepção pelo sexo masculino. Também tiveram participantes que relataram que não houve um fator específico para a escolha da orientação sexual: "[...] minha amizade com essa menina foi ficando cada vez mais intensa, era um amor (Maria). Eu tentei ficar com guris, só que não rolava desejo, mas vi que não era isso que eu queria (Clara). Isso aconteceu naturalmente, não foi um momento que eu decidi fazer isso (Flávia)".

Muitas mulheres já se acham diferentes desde crianças, mas só se definem e se sentem homossexuais quando se percebem atraídas sexualmente por pessoas do mesmo sexo (Fairchild & Hayward, 1996). Os achados da entrevista se confirmam com os estudos acima citados, pois algumas participantes referiram a homossexualidade não como uma opção, mas sim como algo que foi se revelando, a partir da percepção de diferenças em relação às amigas: "[...] As minhas experiências com meninas começaram muito cedo. Com uma amiga, uma vizinha de rua, que antes de vir para capital morava no interior, e acho que por brincadeira, como tu brinca de papai e mamãe. Só que aí eram duas meninas, brincando assim... Se for pensar que essa experiência pode ter me orientado para gostar de meninas, aí... até pode ser! (Alice)".

A participante segue comentando: "Eu tenho muito medo de dizer que eu nasci assim, porque a gente não nasce, a gente realmente vai se construindo pelas experiências que tu tem, o lugar onde tu vive, a época...". Esta fala nos remete à grande feminista Simone de Beauvoir (1949) com sua célebre frase: "não se nasce mulher, torna-se mulher", ou seja, não há um determinismo, mas algo que vai se construindo socialmente.

Em seu estudo, Marlene Strey (2004) mostrou que as concepções femininas de desejo estavam baseadas no imaginário masculino e que seus anseios acabariam sendo condicionados às ideias que partem desta perspectiva, como aparece na reflexão que segue: "[...] desde cedo eu já achava as mulheres interessantes. Algumas mulheres interessantes. Acho bom marcar isso porque existe um senso comum que considera que mulheres que amam mulheres acham todas as mulheres interessantes. Assim, como uma ideia machista de enxergar o mundo, não é?" (Taís).

No que se refere aos fatores de visibilidade e invisibilidade social, as participantes das pesquisas relataram que vivenciaram experiências tanto positivas quanto negativas a partir da revelação da orientação sexual. Dentre os aspectos positivos, puderam-se observar questões tais como, felicidade, maior qualidade do relacionamento com a parceira e com suas famílias, possibilidade de ampliação de novos relacionamentos e a possibilidade de novas amizades.

Quanto aos aspectos positivos, consideramos que a fala de uma das participantes explicita a discussão feita por Heilborn (2004) sobre o par igualitário destacando a questão do companheirismo evidenciado nos casais do mesmo sexo "[...] então é a troca de carinho, o companheirismo, a mulher se autoconhece, então ela sabe como lidar, então é muito mais fácil tu lidar com a tua companheira" (Maria). Ainda sobre este aspecto, Marvin e Miller (2002) assinalam que casais de lésbicas consideram-se significativamente mais satisfeitas com os seus relacionamentos que casais heterossexuais.

Já os fatores relatados como negativos foram principalmente o preconceito e o isolamento: "o preconceito é muito grande, mostrar carinho é muito complicado [...] tem que ficar se segurando pra não fazer alguma coisa, as pessoas ficam olhando reparando [...] (Júlia). Ainda existe muito preconceito, ainda mais aqui no interior, que o povo é mais conservador [...] (Maria). [...] a gente vive num meio bem fechado, é complicado [...] (Paola)".

O preconceito pode ser considerado como uma frustração reprimida e deslocada para grupos mais fracos (Lacerda, Pereira & Camino, 2002). As participantes caracterizam o preconceito como prejudicial para o relacionamento afetivo homossexual, limitando e restringindo ações não restritas ao público heterossexual, como segue no diálogo relatado de uma delas com sua prima: "[...] a única coisa que eu queria te pedir era que tu não beijasse ela na nossa frente. Daí eu disse: Com certeza eu não vou beijar, mas eu acho muito estranho tu me pedir isso a medida que eu entro em casa e tu está com teu namorado no sofá, e eu nem sei quem é um e quem é o outro. Então, assim, eu nem estou dizendo que eu vou beijar, mas eu estou dizendo para ti pensar como é complicado tu te privar se tu está a fim de beijar, né?" (Roberta).

Autores como Fairchild e Hayward (1996) apontam que a maioria dos gays e das lésbicas enfrentou dificuldades ou reprimiu seus sentimentos, na tentativa de se moldar à sociedade. Essa tentativa gera diversos sentimentos e preocupações como nos é explicitado no relato que segue: "[...] comecei a namorar esse cara aos 21 anos. Aí se passaram 3 anos e com 25 anos eu finalmente decidi o que queria. Eu sou assim, sabe, nunca me preocupei muito, encarei numa boa. Quer dizer, só fiquei preocupada mesmo com o externo, com a minha família, com a opinião deles, se eles iriam me aceitar [...]"(Laura). No momento em que não há mais a repressão, os sentimentos são expostos e a felicidade vem ao encontro dessa liberdade e satisfação com a orientação sexual.

Além do preconceito da sociedade, muitas lésbicas também sofrem o preconceito advindo da família de origem, o que torna ainda mais penosa a revelação de uma orientação sexual diferente da esperada, como constatamos nos relatos: "[...] queria que eu desse neto. Ela queria muito ter netos. Foi uma experiência que, eu lembro que no início foi quando eu ainda era adolescente, imatura e tal, essas coisas ainda me tocavam, me preocupavam, fazia pensar se era mesmo isso o que eu queria? Mas na verdade eu tava transferindo as coisas, muito preocupada com a minha mãe, com a vontade dela e não comigo. Mas a minha vontade prevaleceu" (Laura).

Esse preconceito também pode implicar as questões de autoaceitação, uma vez que provoca sentimentos de exclusão e estranhamento, como na declaração a seguir: "A minha irmã até falou: porque tu vai noivar com esse cara se não é isso que tu quer? A minha irmã já sabia, entendeu? As pessoas já enxergavam isso em mim. E eu lutei contra, na verdade contra o preconceito. Eu lutei contra o meu preconceito mesmo. Tava me forçando e não era o que eu queria, não era o meu desejo" (Priscila). Mott (1987) comenta que são poucas as lésbicas que atingem a maturidade da autoaceitação e que chegam a revelar a sua orientação homossexual para os (as) familiares e/ou colegas.

As falas a seguir são representativas da reação negativa que muitas famílias podem apresentar, denotando o preconceito vigente na sociedade: "Olha, ela ficou um pouco assustada, meio sem saber o que me dizer" (Júlia) "Escutei muitas coisas deles horríveis, tentei me expressar, só que não conseguia, foi bem ruim, o clima ainda não tá muito agradável [...] foi muito cruel" (Flávia) "A primeira coisa foi ela começar a chorar, eu lembro até hoje, ela disse ‘onde foi que eu errei?‘" (Maria).

Revelar sua orientação sexual para além das relações familiares torna-se uma experiência ainda mais desafiadora, pois há o medo da perda de emprego, do isolamento social e segregação, tal como se apresenta nos relatos: "[...] aí nos diziam: tem que ser mais discretas, porque vocês vão ser prejudicadas. [...] vocês tem que se darem conta que vai ser uma escolha muito difícil, que talvez nem consigam trabalhar. E quem é que vive uma situação sem poder se manter?" (Roberta). "[...] o único lugar que eu não me exponho de verdade é no meu trabalho. [...] é difícil de abrir, é difícil porque diariamente a gente escuta piadinhas, de ficarem debochando mesmo" (Priscila).

Todavia, como refere Borges (2005), é possível identificar a existência de uma maior visibilidade a partir das contribuições dos movimentos feministas e da mídia. Tal fato é igualmente reconhecido pelas participantes: "[...] se eu tivesse nascido hoje, certamente não seria a mesma coisa, é uma época totalmente diferente. Hoje tu tem a representação na mídia que eu não tive. Hoje se tu pega uma criança de 5 anos e pergunta o que é uma lésbica, ou o que é um gay, ou o que é um travesti? Ela te explica, porque isso aparece na televisão, no filme, na novela. A minha geração não teve isso." (Rosa).

A visibilidade social e a repercussão na mídia auxiliaram também no entendimento por parte das famílias, em relação a seus membros com orientação sexual gay ou lésbica. A participante a seguir exemplifica uma maneira positiva em relação à família lidar com a lesbiandade da filha: "Normal, como um casal hetero, eles lidam com a gente, minha mãe gosta muito dela também, trata como uma filha, normal" (Clara). Porém, ainda encontramos muito sofrimento relacionado à falta de aceitação e apoio por parte da família: "É um pouco complicado ainda, eles não falam muito sobre isso, eles fogem do assunto, fazem de conta que não é verdade, que eles não sabem..." (Flávia).

Apesar de todos os problemas e dificuldades enfrentadas pelas lésbicas frente à família e a sociedade, os sentimentos que se evidenciam nas vozes das próprias participantes são de felicidade e alegria ao estarem vivendo em maior congruência consigo mesmas. Demonstraram, assim como nos estudos de Fairchild e Hayward (1996), que a repressão não tem mais sentido em suas vidas e a felicidade vem ao encontro dessa liberdade e satisfação pessoal com sua orientação sexual: "Eu acho bem bom, assim, ter essa liberdade. E acredito que essa liberdade cresce muito mais dentro de ti do que fora, porque à medida que tu assimila isso pra ti, embora todas as pessoas venham dizer que não é viável, acaba sendo uma ética contigo mesmo, e tu vai assumir ela para ti, aí o resto... sei lá, deixa de ter tanta importância" (Roberta).

Contudo, como nos diz Swain (2004) existe um leque extenso de ser lesbiana, de ter visibilidade social, de reivindicar um estilo de vida e resistir às normas. E, assim, este estudo não pretende fazer generalizações, mas proporcionar uma maior visibilidade a essa diversidade de experiências vividas pelas mulheres que amam mulheres.

 

Considerações finais

Este estudo possibilitou que continuássemos a reflexão acerca das mulheres que se identificam como lésbicas, tanto na capital do Estado, quanto no interior, através das percepções advindas dos resultados das pesquisas realizadas. As falas das participantes criaram um espaço de intersecção, onde as questões referentes às experiências de vida e à visibilidade social pudessem ser compartilhadas e apresentadas para uma sociedade ainda permeada por preconceitos e estereótipos.

Embora morando em cidades diferentes, podemos perceber que os sentimentos das participantes frente ao enfrentamento de ser lésbica possuem grande semelhança, e que mesmo com todos os avanços referentes ao respeito pelos direitos humanos, a sexualidade ainda é controlada por uma heteronormatividade. Porém, essa proximidade também nos permitiu visualizar a satisfação expressada por sentirem-se respeitando os seus desejos, satisfeitas em suas relações lesbianas.

Também consideramos que a família continua tendo um papel fundamental para a qualidade de vida das participantes. Visto que com a existência do apoio e do carinho da família de origem, em relação à suas orientações sexuais, as participantes sentem-se fortalecidas para irem buscar seus ideais. Se a sociedade condena sua orientação, as mães e os pais dão a segurança necessária para que sigam a luta por seus direitos.

Apesar da invisibilidade social passada por muitas lésbicas, do impedimento da expressão dos desejos e afetos e dos rótulos colocados através dos papéis estereotipados, muitos avanços foram conquistados através dos tempos. As mulheres que se identificam como lésbicas articularam-se e organizaram-se através de movimentos sociais, para contribuir com a ampliação do modo de pensar que está ocorrendo na sociedade, mesmo com todos os empecilhos encontrados.

Espaços que possibilitam que essas mulheres visibilizem sua causa estão cada vez mais sendo construídos e utilizados de maneira com que homens e mulheres sejam valorizados nas suas diferenças, respeitados (as) na totalidade de seus seres. Para tanto, é fundamental que esses espaços continuem em expansão, seja através de ações propriamente ditas, seja através de produções acadêmicas.

A criação de outros estudos, que possam contribuir na visibilidade social das lésbicas é fundamental, para que as realidades possam ser conhecidas e, através desse conhecimento, respeitadas. O "amor que não ousa dizer seu nome", de Oscar Wilde, acaba ousando a dizer muitos outros nomes e expressões. Nossa sociedade, ainda regida pelo patriarcado, está em momento de ampliação de sentidos, possibilitando que outras maneiras de se relacionar afetivo e sexualmente possam existir.

À medida que os estudos com essa mesma temática se ampliam, maior será o espaço conquistado por essas mulheres, pois a visibilidade colabora para que exista uma reflexão em cima do instituído e possibilita que os sentidos possam ser ressignificados. Essa ressignificação vai ao encontro de uma sociedade mais justa, onde a diversidade seja respeitada e todas e todos sejam tratados de maneira igualitária.

 

Referências

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Endereço para contato
E-mail: yaskarapalma@yahoo.com.br

Recebido em 11/03/2010
Aceito em 20/11/2010

 

 

Yáskara Arrial Palma: Psicóloga graduada pela Universidade de Caxias do Sul – UCS, Mestranda em Psicologia Social, bolsista CNPq da PUCRS.
Aline Piason: Psicóloga graduada pela PUCRS, Diretora do Instituto Delphos de Psicologia Humanista, Doutoranda em Psicologia pela PUCRS, bolsa Capes.
Ana Cláudia Menini Bezerra: Psicóloga Graduada pela ULBRA Manaus, Mestranda em Psicologia Social, Bolsista Capes.
Marlene Neves Strey: Departamento de Psicologia PUCRS, Professora Titular PUCRS, Bolsista de produtividade CNPq.
1 O nome das participantes neste estudo é fictício, mantendo preservado o sigilo de identidade.