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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  no.34 Canoas abr. 2011

 

ARTIGOS DE PESQUISA

 

Práticas parentais de mães adultas e adolescentes com bebês de um a doze meses

 

Parental practices of adults and adolescents mothers with babies between one and twelve months

 

 

Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues; Elisa Rachel Pisani Altafim; Rafaela de Almeida Schiavo

Universidade Estadual Paulista – UNESP/Bauru

Endereço para contato

 

 


RESUMO

As práticas parentais possuem uma função primordial no desenvolvimento infantil e uma estreita relação com os seus repertórios comportamentais. O presente estudo objetivou analisar práticas de mães de bebês adultas e adolescentes, comparando-as com a idade dos bebês. Participaram 111 mães de bebês de um a doze meses de idade, sendo 59 adultas e 52 adolescentes. As participantes responderam a um inventário de estilos e práticas parentais. Considerando a idade dos bebês, foram encontradas diferenças significativas em relação a algumas práticas. Ao comparar as mães, adultas e adolescentes, não foram encontradas diferenças significativas. Este trabalho mostra a importância de se conhecerem as práticas parentais de mães de bebês, para fornecer subsídios na elaboração de programas de intervenções.

Palavras-chave: Comportamento materno, Práticas parentais, Mãe adolescente.


ABSTRACT

Parental practices have a primordial role in the children development and is closely related to with behavioral repertoires. The study aimed at examining of mothers, both adult and adolescent ones considering also their babies'age. It identified the parental practices of 111 mothers of babies between one and twelve months, of whom 59 were adults and 52 adolescents. They participated in the study answering an inventory of parental practices. When the age of the babies was taken into consideration, some practices showed significant differences, but when adult mothers' practices were compared to those of the adolescent ones differences were not significant. Results show the importance of understanding the nature of these mothers of babies' practices, as foundation for the development of interventionist programs.

Keywords: Maternal behavior, Parental practices, Adolescent mother.


 

 

Introdução

O processo de socialização é fundamental para a aprendizagem de habilidades que facilitam o convívio social (Rodrigues & Miranda, 2001). Por meio desse processo as pessoas adquirem comportamentos, crenças e atitudes que são usadas em diferentes contextos sociais (Durkin, 1995). A família tem um papel fundamental na socialização, desde o nascimento do bebê, pois constitui o primeiro núcleo social da criança, além de ser responsável pela consolidação de seus repertórios comportamentais atuais e futuros, tanto por modelação, quanto por modelagem (Rodrigues & Miranda, 2001). Pesquisas têm demonstrado que a história de interação da criança com seus cuidadores durante os primeiros anos é a base para suas futuras relações sociais (Gomide, 2004). Nesse âmbito, fica evidente a necessidade de se atentar para as diversas estratégias utilizadas pelos pais para orientar o comportamento de seus filhos (Piccinini, Frizzo, Alvarenga & Tudge, 2007). As práticas parentais têm uma função primordial no desenvolvimento das crianças, visto que se constituem como o “alicerce" para a aquisição dos repertórios comportamentais dos filhos (Gomide, 2004).

As formas como os pais interagem e educam seus filhos podem, tanto promover comportamentos socialmente adequados, como favorecer o surgimento e/ou a manutenção de comportamentos inadequados. Uma das variáveis preditivas de problemas comportamentais é o relacionamento entre pais e filhos envolvendo as práticas parentais utilizadas (Bolsoni-Silva & Marturano, 2008; Silva & Marturano, 2002).

Ao conjunto de práticas educativas parentais ou atitudes parentais utilizadas pelos cuidadores com o objetivo de educar, socializar e controlar o comportamento de seus filhos, Gomide (2006) define como Estilo Parental. A autora descreve, em seu modelo teórico, sete práticas educativas que compõem o Estilo Parental, sendo duas relacionadas ao desenvolvimento de comportamentos pró-sociais e cinco de comportamentos antissociais. As práticas consideradas positivas são: monitoria positiva e comportamento moral. A primeira descreve a atenção para a localização dos filhos, para suas atividades e formas de adaptação dos mesmos em diferentes contextos (Dishion & Mcmahon, 1998). A segunda implica em promover atitudes de justiça e responsabilidade, implicando a aquisição e o exercício de valores culturalmente aceitos. As práticas consideradas negativas são: negligência, abuso físico e psicológico, disciplina relaxada, punição inconsistente e monitoria negativa. A primeira envolve a ausência de atenção e afeto; a segunda compreende o uso de ameaça, chantagem e castigos físicos; a terceira implica o não cumprimento das regras preestabelecidas; a quarta depende do humor para punir ou reforçar comportamentos e, a quinta, compreende o excesso de regras que resulta no não cumprimento das mesmas, criando um clima de hostilidade.

A relação entre práticas parentais inadequadas (ou ineficazes) e comportamentos inadequados e/ou delinquentes, por parte de seus filhos tem sido demonstrada em diversos estudos (Löhr, 2003; Silva & Marturano, 2002). Outros estudos apontam, também, uma correlação positiva entre práticas parentais negativas (negligência, abuso físico, punição inconsistente, disciplina relaxada e monitoria negativa) e a presença de depressão, estresse e baixo repertório em habilidades sociais de crianças (Gomide, Salvo, Pinheiro & Sabbag, 2005). Baseando-se nas práticas educativas parentais, Gomide (2006) propôs um Inventário de Estilos Parentais com o objetivo de realizar o diagnóstico de famílias de risco e de não risco social. Em caso de famílias de risco social é possível a implementação de intervenções e, posteriormente, a avaliação de mudanças. O diagnóstico de famílias de risco social deve ser realizado o mais cedo possível, possibilitando a organização de ambientes propícios para o desenvolvimento infantil.

Um relacionamento adequado entre a mãe e o bebê deve prevalecer a presença marcante de práticas parentais positivas, a ausência das práticas negativas, a presença de características responsivas no comportamento materno, assim como uma relação afetiva estável que proporcione condições necessárias para o desenvolvimento do bebê (Piccinini e cols. 2007). No recém-nascido a necessidade de cuidados é indispensável para a sobrevivência. Assim, o reconhecimento, por parte da mãe, dos comportamentos do bebê (choro, vocalização, toque, expressão facial e necessidade de colo, dentre outros), é fundamental para o desenvolvimento da criança e para o estabelecimento do vínculo afetivo (Pedro, Botene, Motta, Ribeiro & Lima, 2007; Piccinini e cols. 2007).

Patterson, Degarmo e Knutson (2000) salientam que o nível de responsividade dos pais ao comportamento dos seus bebês seria um forte preditor do tipo e da eficácia das práticas educativas que serão utilizadas no futuro. Pais mais sensíveis ao comportamento de seus bebês, que se mostrem presentes e que atendam as suas necessidades, estabelecem interações sincrônicas e mutuamente recompensadoras entre os elementos da díade, tendendo a ser mais hábeis na regulação do comportamento dos filhos em etapas posteriores do desenvolvimento. Ao contrário, pais menos hábeis e pouco responsivos tendem a apresentar maior dificuldade em regular o comportamento de seus filhos, no futuro, empregando, com maior frequência, práticas coercitivas, severas e pouco eficazes (Alvarenga & Piccinini, 2007).

A adolescência corresponde a uma fase em que ocorrem profundas mudanças físicas, psicológicas e sociais. As experiências sexuais ocorrem entre os adolescentes e a gestação, nesse período, vem como consequência a essa prática, sem a presença de repertórios comportamentais fundamentais para uma relação sexual segura (Borges, Latorre & Schor, 2007).

Silva, Nakano, Gomes e Stefanello (2009) ressaltam que quando a gravidez ocorre na adolescência, há riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. A adolescente, muitas vezes, não está preparada física, socialmente e psicologicamente para assumir esse papel que envolve, principalmente, o cuidado de um recém-nascido. No decorrer do tempo, pode apresentar dificuldades no cuidado dos filhos e risco de comportamento negligente (Gama, Szwarcwald & Leal, 2002; Pedro e cols. 2007). Ao analisar os processos de interação entre a mãe adolescente e seu filho de quatro meses, Bigras e Paquette (2007) constataram que a falta de conhecimentos sobre o desenvolvimento e a natureza dos cuidados dispensados à criança está associada a trocas maternas insensíveis com a criança nessa idade.

Apesar de vários estudos indicarem os riscos de ser mãe adolescente e, ainda que ela seja considerada frequentemente incapaz de cuidar de uma criança, há controvérsias quanto ao resultado final do seu desempenho e as consequências para o seu filho (Vieira, Bicalho, Silva & Barros Filho, 2007). Scappaticci, Iacoponi e Blay (2004) compararam a interação mãe / bebê, entre mães adultas e adolescentes e encontraram que as mães adolescentes oferecem mais o seio para amamentação e estimulam mais os seus bebês. Vieira e cols. (2007) correlacionaram o crescimento e o desenvolvimento de filhos de mães adolescente com os de mães adultas, não encontraram diferenças entre os dois grupos, sugerindo que a adolescente é capaz de cuidar com sucesso de seu filho.

Existem diversas maneiras de viver a maternidade e, para algumas adolescentes, essa experiência é desejada e plena de significados positivos (Andrade, Ribeiro, Silva, 2006; Silva & Salomão, 2003). A maternidade, também, pode ser um importante fator na constituição pessoal e social de adolescentes, trazendo interferências sobre novas formas de relacionamentos e reconhecimentos sociais e de atuação em seu cotidiano (Gontijo & Medeiros, 2004; Tomeleri & Marcon, 2009). Mas, apesar disso, em muitos casos, as avós maternas acabam fazendo o papel de mãe substituta do filho de sua filha adolescente, pois nem sempre a jovem vive com o pai do bebê e sim, com sua família de origem, ficando, na maior parte dos casos, os avós maternos exercendo o papel dos jovens pais (Falcão & Salomão, 2005). A maternidade precoce estabelece a seguinte condição: ainda que não totalmente preparados, adolescentes se veem às voltas com a necessidade de cuidar e educar seus filhos. Educá-los passa pela utilização de práticas parentais.

Com a constatação de que, na adolescência, a gravidez ocorre muito frequentemente, os possíveis problemas a ela associados justificam a preocupação com mães adolescentes e seus filhos. A identificação e descrição das práticas parentais que estão presentes no repertório dessa população ampliarão o conhecimento que se tem a esse respeito, auxiliando na elaboração de projetos, visando à orientação das mães adolescentes em relação a seu comportamento parental. Intervenções que promovam a otimização das práticas parentais, ou seja, a aquisição e/ou manutenção das práticas parentais positivas e a diminuição das negativas a fim de que estas sejam extintas, podem auxiliar no desenvolvimento adequado de seus filhos.

A identificação de mudanças nas práticas parentais, a partir de um programa de intervenção desenvolvido junto a mães adolescentes, além de permitir a verificação da sua pertinência, poderá fornecer subsídios para a elaboração de outros programas com a mesma finalidade, o que poderá ser um grande avanço no estudo das práticas parentais de mães adolescentes e de mães em geral. Piccinini e cols. (2007) ressaltam a importância de compreender o momento inicial de socialização da criança na família, pois ao se investigarem as práticas educativas no início da infância, pode-se contribuir para a elaboração de estratégias de intervenções precoces que previnam futuros problemas no desenvolvimento infantil e familiar.

Os resultados obtidos por Altafim, Schiavo e Rodrigues (2008) mostraram que a maioria das mães adolescentes apresentou estilo parental ótimo ou bom e, dessa forma estariam estimulando seus filhos a terem comportamentos considerados adequados socialmente. No entanto, as práticas negativas apareceram no relato da maioria das participantes sugerindo a importância de se detalhar o estudo dos estilos parentais.

Piccinini e cols. (2007) ressaltam que as práticas educativas utilizadas pelos pais passam por mudanças significativas ao longo do desenvolvimento da criança, decorrentes de modificações no comportamento infantil. Em outra análise conduzida por Altafim (2007), foi realizada uma comparação dos estilos parentais das mães adolescentes após a participação em um programa de práticas parentais e observou- se que as mães de bebês de quatro a cinco meses de idade apresentaram estilo parental ótimo (75%) e bom (25%). Já as mães de bebês com idade acima de sete meses apresentaram estilo parental ótimo (40%) e estilo parental regular (60%). Estes resultados sugerem que pode haver uma relação entre a idade do bebê e o estilo parental, mostrando que há uma tendência a utilizar mais práticas parentais negativas com o aumento da idade dos bebês que se manifestam mais e passam a exigir mais atenção e disponibilidade das mães. Esses resultados remeteram a alguns questionamentos relacionados às mães adolescentes: suas práticas parentais seriam diferentes de práticas parentais de mães de bebês mais velhos? A idade do bebê determinaria a qualidade das práticas parentais utilizadas, independente da idade da mãe?

O presente estudo é parte de um projeto maior “Mães adolescentes e suas práticas parentais". O presente projeto objetivou analisar práticas de mães de bebês adultas e adolescentes, comparando-as com a idade dos bebês. Os objetivos específicos foram: a) descrever e comparar as práticas parentais de mães adolescentes com bebês de um a quatro meses, de cinco a oito meses e de nove a doze meses; b) descrever e comparar as práticas parentais de mães adultas com bebês de um a quatro meses, de cinco a oito meses e de nove a doze meses e, descrever e comparar as práticas parentais de mães adolescentes e adultas com bebês de um a doze meses, considerando, também, a idade.

 

Método

Participantes

Participaram 111 mães de bebês, sendo 52 adolescentes e 59 adultas. Das adolescentes, 20 eram mães de bebês de um a quatro meses, 20, com bebês de cinco a oito meses e 12 tinham bebês de nove a 12 meses. Das adultas, 22 eram mães de bebês de um a quatro meses, 18, com bebês de cinco a oito meses e 19 tinham bebês de nove a 12 meses. As mães adolescentes tinham de 14 a 19 anos, com idade média de 16 anos e oito meses e, as adultas tinham de 20 a 41 com idade média de 27 anos. Todas moradoras da zona urbana de Bauru e participantes do projeto de extensão “Acompanhamento do desenvolvimento de bebês de risco: avaliação e orientação aos pais", que funciona no Centro de Psicologia Aplicada, da UNESP, Bauru.

Instrumentos

A aplicação do Inventário foi realizada em sala para atendimento individual, do Centro de Psicologia Aplicada (CPA), da UNESP, campus Bauru. Essa sala contém uma mesa, duas cadeiras e uma poltrona e é livre de ruídos externos e outros estímulos.

Foi utilizado o instrumento elaborado previamente para esta pesquisa (adaptado de Gomide, 2006), chamado de “Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês" (IEPMB).

Gomide (2006) elaborou o Inventário de Estilos Parentais para a aplicação em pais de crianças a partir de cinco anos de idade, analisando sete práticas educativas, sendo duas relacionadas ao desenvolvimento dos comportamentos pró-sociais e cinco dos comportamentos antissociais. Para esse trabalho, considerando a faixa etária dos filhos das mães participantes, bebês até 12 meses, houve a necessidade de uma adaptação do instrumento original. Duas das práticas, uma positiva (comportamento moral) e uma negativa (monitoria negativa) foram eliminadas por não se enquadrarem nas idades das crianças. Ainda a respeito das demais práticas, alguns itens foram eliminados e outros foram reescritos, adaptando-os à realidade daquela população. Desta forma, o atual que se denomina “Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês" (IEPMB), consta de 25 itens, sendo cinco de cada um dos conjuntos de práticas acima identificados. No instrumento, os 25 itens foram alocados de forma a misturá-los, evitando que dois itens da mesma área fiquem próximos. A Tabela 1 mostra a distribuição das práticas no inventário.

 

 

Procedimento de coleta de dados

Após a obtenção do aceite das participantes ou dos responsáveis, foi aplicado o “Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês" (adaptado de Gomide, 2006), que foi respondido pelas participantes individualmente.

Procedimento de análise dos dados

A tabulação dos dados foi feita utilizando a folha de resposta que contém as cinco práticas parentais avaliadas. Cada resposta NUNCA recebeu a pontuação zero; ÀS VEZES, pontuação 1 e SEMPRE pontuação 2. Portanto, cada prática educativa poderia ter a pontuação máxima de 10 pontos. Quando alguma questão não foi respondida recebeu a pontuação zero.

Procedimentos éticos

O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências, da UNESP, Bauru, SP. Todas as providências em relação às informações sobre o projeto, esclarecimento de dúvidas, ausência de qualquer ônus para a participação na pesquisa, sigilo das informações por ela fornecidas quando da apresentação de seus dados em eventos e publicações da área, assim como da manutenção dos demais serviços por ela usufruídos no Centro de Psicologia Aplicada, em caso de desistência, que pode ocorrer em qualquer fase deste projeto são tomadas por ocasião do convite para sua participação neste projeto. A partir do aceite, e redimidas todas as dúvidas, as participantes ou seus responsáveis assinam um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com a Resolução 196/96 do CONEP.

 

Resultados

O primeiro conjunto de dados se refere à descrição das práticas parentais das 52 mães adolescentes comparando-as com as idades dos bebês: Grupo 1 (G1a) , 20 mães de bebês de 1 a 4 meses, Grupo 2 (G2a), 20 mães de bebês de 5 a 8 meses e, Grupo 3 (G3a) com 12 mães de bebês de 9 a 12 meses.

Os resultados mostram que os três grupos relataram utilizar-se da prática parental Monitoria Positiva com alta frequência. Em relação às práticas parentais negativas a que apresentou a maior média nos três grupos foi a Disciplina Relaxada e a menor média foi a prática de Abuso Físico (Tabela 2).

 

 

Com o objetivo de verificar diferenças significativas entre os grupos para cada prática parental os dados foram comparados por meio do teste de Mann-Whitney. Foi verificada diferença estatisticamente significativa entre o G1 e o G3, na prática parental Negligência (p= 0,021), conforme mostra a Tabela 2. Considerando as médias, verificou-se que o G3 utiliza-se mais desta prática do que G1. Em relação às outras práticas não foi encontrada diferença significativa, ainda que se observe aumento na prática positiva e, também, o aumento em três das quatro práticas negativas analisadas.

O segundo conjunto de dados se refere à descrição e comparação das práticas parentais de 59 mães adultas, sendo o Grupo 1 (G1b), 22 mães de bebês de 1 a 4 meses, Grupo 2 (G2b) 18 mães de bebês de 5 a 8 meses e, Grupo 3 (G3b) 19 mães de bebês de 9 a 12 meses.

Os resultados mostram que as mães dos três grupos relataram utilizar-se da prática parental Monitoria Positiva com alta frequência. Em relação às práticas parentais negativas, a que apresenta a maior média nos três grupos é a Disciplina Relaxada e a menor média é a prática de Abuso Físico (Tabela 3).

 

 

Com o objetivo de verificar diferenças significativas entre os grupos para cada prática parental, os dados foram comparados por meio do teste de Mann-Whitney. Foram verificadas duas diferenças significativas entre o G1 e o G2 (p=0,0038) e entre o G1b e G3b (p=0,0995) na prática parental Disciplina Relaxada. As médias apontaram que o G2 e o G3 utilizam-se mais desta prática do que G1. Em relação às outras práticas não foi encontrada diferença significativa, ainda que se observe a diminuição da prática positiva e o aumento de algumas práticas negativas.

O terceiro conjunto de dados se refere à descrição e comparação das práticas parentais de mães adolescentes e adultas com bebês de um a doze meses, considerando, também, a idade. Examinaram-se, então, seis grupos: 1) 20 mães adolescentes de bebês de um a quatro meses (G1a); 2) 22 mães adultas de bebês de um a quatro meses (G1b); 3) 20 mães adolescentes de bebês de cinco a oito meses (G2a); 4) 18 mães adultas de bebês de cinco a oito meses (G2b); 5) 12 mães adolescentes de bebês de nove a doze meses (G3a) e, 19 mães adultas de bebês de nove a doze meses (G3b).

A Tabela 4 mostra os resultados obtidos pelas mães adolescentes e adultas, independentemente das idades dos bebês. Com o objetivo de verificar diferenças significativas entre mães adultas (GB) e mães adolescentes (GA), foi realizada uma comparação, por meio do teste de Mann-Whitney. Os resultados obtidos não apresentaram diferenças significativas entre os grupos, o que demonstra que as mães, adolescentes e adultas, utilizam práticas educativas muito parecidas.

 

 

A análise a seguir foi realizada com o objetivo de verificar diferenças entre práticas parentais considerando a idade dos bebês, independentemente da participante ser adolescente ou adulta. Observa-se que duas das práticas negativas foram aumentando com a idade dos bebês (Negligência e Punição Inconsistente). As práticas negativas Disciplina Relaxada e Abuso Físico foram mais frequentes entre as mães de bebês de cinco a oito meses, assim como a Monitoria Positiva foi menos frequente também para esse grupo de mães, conforme mostra a Tabela 5.

 

 

A comparação entre os grupos, aplicando-se o teste de Mann-Whitney, apontou diferenças significativas entre G1 e o G2 (p= 0.0309), na prática parental Disciplina Relaxada. Por meio das médias (Tabela 5), verificou-se que o G2 (mães de bebês de crianças de 5 a 8 meses) utiliza mais esta prática. Também foi verificada uma diferença significativa entre o G1 e o G3, na prática Negligência (p=0,044) e, por meio das médias (Tabela 5) verificou-se que o G3 (mães de bebês com mais de 8 meses, adolescentes e adultas) a utilizou mais. Em relação às outras práticas não foi encontrada diferença significativa.

Ainda que não significativa, observa-se que o G2 apresentou uma frequência menor de Monitoria Positiva e maior de, pelo menos, duas das práticas negativas: Disciplina Relaxada e Abuso Físico, quando comparados com os demais grupos.

 

Discussão

Independentemente da idade dos bebês, as mães adolescentes utilizam práticas positivas mais do que negativas. Todavia, observou-se a presença de práticas negativas e, entre elas, a Negligência, significativamente mais frequente à medida que os bebês crescem. Para justificar esta prática, argumenta-se que o filho(a) fica com outras pessoas na maior parte do tempo, que este, quando chora, procura qualquer outra pessoa, pois a mãe está sempre ocupada e, também, não sabe dizer do que o filho gosta. Uma hipótese é que, nos primeiros meses, a mãe adolescente fica mais com o bebê, porém isso diminuiria à medida que o bebê cresce, pois muitas voltam a estudar e/ou trabalhar. Como as participantes acabam não ficando muito tempo com seus filhos, não sabem identificar do que eles gostam ou o que sentem, impelindo-os a preferir outros adultos presentes.

De acordo com Falcão e Salomão (2005), em muitos casos, as avós maternas passam a fazer o papel de mãe substituta do filho de sua filha adolescente. Desta forma, uma possibilidade é que as avós acabam ficando mais tempo com os netos do que a própria mãe, que perde a oportunidade de conhecer seus filhos e exercitar práticas parentais eficientes.

A família vem passando por modificações na sua constituição durante a história. Atualmente caracteriza-se por diferentes configurações familiares que implicam em redefinições de papéis e uma nova hierarquia. Sugere-se que novos estudos abordem o tema das práticas educativas no cenário da maternidade adolescente, especialmente no contexto brasileiro, considerando, também, as práticas educativas de outros membros da família, como as avós ou outros adultos significativos que façam parte da rede de apoio social presente.

As mães adultas utilizam mais as práticas positivas, ainda que se observe uma diminuição da sua frequência à medida que os bebês crescem. Entre as práticas negativas a Disciplina Relaxada é a mais utilizada pelas mães dos três grupos. Esta prática caracterizada pelo não cumprimento de regras estabelecidas, é mais utilizada por mães adultas de bebês mais velhos. Uma hipótese a ser considerada é que, quando os bebês são mais novos (de um a quatro meses de idade), as mães não precisam estabelecer muitas regras, porém, isso é modificado à medida que os bebês crescem e passam a interagir mais efetivamente no seu ambiente. As mães estabelecem as regras, ameaçam, mas, muitas vezes, não cumprem o que dizem, quando se confrontam com comportamentos opositores como o choro. Esses são comportamentos que resultam em reforço intermitente da mãe e reforçam, na criança, comportamentos de birra e choro que ela emite para obter atenção que nunca sabe quando vem.

De acordo com Gomide (2003), se as mães, com frequência, estabelecem regras e não as cumpre, a criança desenvolverá basicamente três tipos de atitudes: a primeira é a aprendizagem de que regras não são para serem cumpridas; a segunda é a possibilidade de se desrespeitar a autoridade e, a terceira, é aprender a manipular emocionalmente a situação para não cumprir as regras estabelecidas. Piccinini e cols. (2007) ressaltam a importância das práticas parentais no desenvolvimento do repertório social das crianças destacando que práticas inadequadas podem resultar em comportamentos antissociais das mesmas em idades posteriores. Bolsoni-Silva e Marturano (2008) e Silva e Marturano (2002) desenvolveram estudos com crianças mais velhas e associaram a presença de problemas de comportamento com práticas parentais inadequadas. Há, então, a possibilidade de que tais problemas de comportamento começam mais cedo, no primeiro ano de vida da criança.

Considerando a variável idade materna não foram encontradas diferenças significativas entre mães adolescentes e adultas. Altafim, Schiavo e Rodrigues (2008), encontraram, em seu estudo, que mães adolescentes mesmo apresentando estilos parentais ótimo e bom, possuem em seus repertórios comportamentais práticas parentais negativas, porém, no presente estudo, comparando-as com as mães adultas, não foram detectadas diferenças significativas entre os grupos.

Foram encontradas diferenças significativas em relação à idade dos bebês, sugerindo que, à medida que o bebê cresce, as mães utilizam-se de mais práticas negativas. Tal resultado confirma o encontrado por Altafim (2007) que verificou que mães adolescentes pioram suas práticas parentais à medida que seus bebês crescem. A partir de modificações no comportamento do bebê, as práticas educativas utilizadas pelas mães também passam por mudanças, de acordo com os dados relatados por Piccinini e cols. (2007).

 

Considerações finais

Os resultados demonstraram que mães adolescentes de bebês mais velhos, quando comparadas com mães adolescentes de bebês mais novos, são mais negligentes. Porém, mães adultas de bebês mais velhos, quando comparadas com mães adultas de bebês mais novos, utilizam-se mais da prática Disciplina Relaxada. Todavia, no conjunto, não há diferenças significativas ente mães adultas e mães adolescentes. A partir dos resultados é possível concluir que a variável que apresenta maior influência é a idade dos bebês, que parece determinar a tipo de prática utilizada, pois, à medida que crescem pioram as práticas educativas de suas mães. Os resultados obtidos sugerem que é preciso investimentos que possibilitem às mães, desde a mais tenra idade, oportunidade para refletir quanto às práticas parentais utilizadas e as futuras consequências no comportamento de seus filhos. Esta pesquisa pôde contribuir para um maior entendimento acerca das práticas parentais maternas estabelecidas entre mães e bebês.

Uma limitação deste estudo é que foi realizado apenas com mães, não incluindo outros cuidadores, como pais e avós. Além disso, os dados foram obtidos a partir do relato verbal de mães e não necessariamente correspondem a como elas realmente agem nas práticas educativas com os filhos, sabendo-se que um dos motivos seria a dificuldade para se auto-observarem e, por fatores relacionados a desejabilidade social que pode ser considerada uma variável estranha, possivelmente interferindo nos resultados obtidos, portanto, pesquisas que acrescentem metodologia observacional poderiam suprir essas dificuldades (Bolsoni-Silva & Marturano, 2008).

Ressalta-se que o presente estudo realizou comparações entre as práticas parentais maternas e as variáveis idade materna e idade do bebê. No entanto, existem outras variáveis que podem ser investigadas, como número de filhos na família, ordem de nascimento e sexo, escolaridade materna, entre outras.

 

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Endereço para contato
E-mail: rachel_pisani@hotmail.com

Recebido em 23/05/2010
Aceito em 04/04/2011

 

 

Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues: Professora, Livre Docente do Programa de Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual Paulista – UNESP/Bauru.
Elisa Rachel Pisani Altafim: Psicóloga, Discente do Programa de Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual Paulista – UNESP/Bauru.
Rafaela de Almeida Schiavo: Psicóloga, Discente do Programa de Mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem da Universidade Estadual Paulista – UNESP/Bauru.