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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  no.37 Canoas abr. 2012

 

ARTIGOS DE PESQUISA

 

Crenças básicas e bem-estar pessoal em adolescentes brasileiros

 

World assumptions and personal well-being in Brazilian adolescents

 

Creencias básicas y bienestar personal en adolescentes brasileños

 

 

Jorge Castellá Sarriera; Eveline Favero; Ângela Carina Paradiso; Tiago Zanatta Calza

Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

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RESUMO

As crenças fazem parte de um sistema conceitual que se forma na infância e é refinado e estabelecido ao longo da vida. O presente estudo investiga associações entre crenças básicas e bem-estar pessoal em 1.588 adolescentes brasileiros, meninos e meninas com idade entre 12-16 anos (M= 14,13; DP=1,26). Utilizou-se um questionário contendo 16 itens da World Assumption Scale (WAS) como medida de crenças e o Personal Well-Being Index (PWI-7) para avaliar bemestar. A WAS apresentou alfa de Cronbach de 0,72 e, o PWI-7 de 0,81. As crenças explicam 30% do bem-estar, considerando os itens que versam sobre autovalor, sorte pessoal, autocontrole, bondade das pessoas, justiça e acaso dos acontecimentos. Verifica-se a necessidade de reavaliar os itens da WAS e discute-se a importância de promover ambientes saudáveis e práticas educativas que promovam o desenvolvimento de crenças positivas e fortaleçam o bem-estar adolescente.

Palavras-chave: Crenças básicas, Adolescentes, Bem-estar pessoal.


ABSTRACT

The world assumptions are part of a conceptual system developed during childhood which is refined and established throughout life. The present study investigates associations between world assumptions and personal well-being within 1.588 Brazilian adolescents, boys and girls, with ages between 12-16 years (M=14,13; DP=1,26). It was applied a questionnaire containing 16 items from World Assumptions Scale (WAS) as measure of beliefs and the Personal Well-Being Index (PWI-7) to evaluate well-being. The WAS had a Cronbach's alpha of 0,72 and the PWI-7, 0,81. The beliefs explain 30% of well-being, considering eigenvalue, self-control, kindness, justice and randomness items. It's noticeable the necessity to reevaluate the WAS items as well as the importance of promoting healthy environments and educational practices that stimulate the development of positive beliefs and strengthen the adolescent's well-being.

Keywords: Assumptions, Adolescents, Personal well-being.


RESUMEN

El estudio investiga las relaciones entre creencias básica y bienestar personal en 1588 adolescentes brasileños de ambos sexos, con edades entre 12-16 años (M=14,13, SD=1,26). Se utilizó como instrumento un cuestionario que contiene la World Assumption Scale (WAS), para medir las creencias (versión con 16 ítems) y el Personal Well-Being Index (PWI-7), para evaluar el bienestar. Un análisis de regresión lineal múltiple mostró que el 30% de bienestar de los adolescentes se explica a través de las creencias básicas. Las creencias que predicen el bienestar están relacionadas al autovalor, a la suerte personal, al autocontrol, a la benevolencia de las personas, a la justicia y a la creencia de que las cosas no suceden por casualidad. Por lo tanto, se discute la importancia de la promoción de ambientes saludables que favorezcan el desarrollo de las creencias positivas en la adolescencia, especialmente aquellas relativas al valor y estima personal.

Palabras clave: Creencias básicas, Adolescentes, Bienestar personal.


 

 

Introdução

As crenças básicas têm recebido grande atenção na área de psicologia do trauma (Kaler et al., 2008) e, especialmente, em estudos com populações adultas (Arnoso et al., 2011; Elklit, Shevlin, Solomon, & Dekel, 2007; Harris & Valentiner, 2002; Jeavons & Godber, 2005; Magwaza, 1999; Mikkelsen & Einarsen, 2002). No entanto, são poucos os estudos sobre este construto na população em geral e ainda mais raros quando o objetivo é relacioná-lo com bem-estar na adolescência (Bègue & Muller, 2006; Calhoun & Cann, 1994; Franklin, Janoff-Bulman, & Roberts, 1990).

O conceito de crenças básicas deriva da teoria dos pressupostos fundamentais (Assumptive World Theory), que postula haver um sistema conceitual desenvolvido ao longo do tempo, o qual nos fornece expectativas sobre o mundo e sobre nós mesmos (Janoff-Bulman, 1992). Esse sistema é representado por pressupostos gerais que refletem e guiam nossas interações no mundo, sendo as crenças básicas um parâmetro que orienta diariamente nossos pensamentos e comportamentos, conforme explica Jannoff-Bulman. A autora afirma que a estrutura mental que sustenta o sistema de crenças seria formada na infância por meio das experiências precoces, refinada e estabelecida ao longo da vida.

O sistema de pressupostos fundamentais tende a ser positivo e, consequentemente, gera emoções também positivas, tendo implicações sobre a nossa motivação na medida em que favorece o envolvimento em comportamentos proativos (Janoff-Bulman, 1992). A teoria propõe três dimensões para as crenças básicas. A primeira delas, denominada Benevolência do Mundo, estaria relacionada às crenças na bondade do mundo e das pessoas, as quais seriam basicamente boas e agradáveis. A segunda, Significação do Mundo, abarca as crenças a respeito da distribuição dos acontecimentos bons e ruins. Três aspectos guiariam a nossa compreensão sobre esses acontecimentos: justiça (recebemos aquilo que merecemos), controlabilidade (os acontecimentos são determinados pelos nossos comportamentos) e aleatoriedade (os acontecimentos negativos são uma questão de puro acaso). A terceira dimensão é denominada Autovalor e também inclui três aspectos centrais: autovalor (a percepção das pessoas de que são boas e decentes), autocontrole (as pessoas se autoavaliam como precavidas e capazes de controlar as consequências dos seus comportamentos) e sorte (percepção das pessoas de que são afortunadas, têm sorte) (Janoff-Bulmann, 1992).

Diversos pesquisadores consideram que eventos negativos possam ter impacto sobre as crenças causando mudanças significativas neste sistema conceitual (Attin, 2002; Elklit et al. 2007; Janoff-Bulman, 1992; Magwaza, 1999; Parkes, 1991). No entanto, pesquisas realizadas com vítimas de eventos considerados traumáticos quando comparadas com não vítimas nem sempre sustentam estes resultados (Kaler et al., 2008). Por exemplo, se por um lado Mcgeorge (1995) encontrou crenças similares quando comparou esses dois grupos, por outro lado Owens e Chard (2001) apontam que vítimas e não vítimas diferem significativamente em suas crenças no que diz respeito às dimensões autovalor e benevolência do mundo. Sobre este aspecto, Kaler et al. (2008) justificam que diferentes estudos podem ter falhado em apontar diferenças entre esses dois grupos pelas seguintes razões: problemas com a teoria dos pressupostos fundamentais, teste inapropriado da teoria ou problemas com o instrumento utilizado, a World Assumptions Scale (WAS).

Quanto aos estudos que relacionam crenças e bem-estar a tendência é que eles também utilizem grupos comparativos tendo como referência a ausência de um fator de estresse como, por exemplo, o divórcio dos pais (Franklin et al., 1990) ou o diagnóstico de câncer de mama (Tomich & Helgeson, 2002). Em nenhum deles são encontrados resultados que sustentam mudanças significativas nas crenças dos grupos com algum fator de estresse, sendo que Franklin et al. (1990) não encontraram diferenças entre as crenças do grupo de filhos de pais divorciados em relação ao grupo de filhos de pais não divorciados. Do mesmo modo, Tomich e Helgeson (2002) verificaram que as crenças sobre controle pessoal parecem ser fundamentais para a qualidade de vida tanto de mulheres com diagnóstico de câncer de mama quanto de mulheres sem este diagnóstico.

Feist, Bodner, Jacobs, Miles e Tan (1995) compararam, a partir de pesquisa longitudinal, dois modelos estruturais de bem-estar subjetivo (Top-Down e Bottom-Up) a fim de verificar em qual deles os dados das variáveis saúde física, crenças básicas, aborrecimentos diários e pensamento construtivo melhor se ajustavam. No modelo Top-Down estas variáveis funcionariam como causa do bem-estar enquanto que no modelo Bottom-up elas seriam consequência deste último. O bem-estar foi medido pelas escalas Purpose in Life, Environmental Mastery e Self-Acceptance. No que diz respeito às crenças básicas, apenas as dimensões benevolência do mundo e autovalor entraram no modelo. Os resultados mostraram que ambos os modelos possuem boa adequação aos dados e os autores sugerem um modelo bidirecional de causalidade para o Bem-estar.

Os resultados encontrados por Feist et al. (1995) tem sido corroborados por estudos mais recentes, como o de Smedema, Catalano e Ebener (2010), o qual mostrou que sentimentos de autovalor estão positivamente associados com bem-estar subjetivo. Kaler et al. (2008), num estudo com adultos jovens (18-21 anos) também encontraram correlações significativas entre as subescalas de benevolência do mundo e autovalor (medidas pela WAS) e o bem-estar subjetivo (medido por afeto positivo, otimismo, satisfação com a vida e autoestima).

Dentre os estudos que investigaram as crenças básicas com amostra de adolescentes e adultos jovens, Calhoun e Cann (1994) avaliaram as crenças que estudantes de graduação norte-americanos têm a respeito de seu mundo pessoal e do mundo em geral. Os autores verificaram se esses pressupostos diferem entre estudantes de graduação oriundos de um grupo majoritário (European Americans) em relação a um grupo minoritário (African Americans, Asian Americans e Hispanic Americans). Comparado ao grupo minoritário, os resultados revelaram que os participantes do grupo majoritário acreditam mais na sorte pessoal e na benevolência do mundo e das pessoas e percebem o seu mundo como mais justo do que o mundo em geral. No entanto, o grupo minoritário tem uma alta percepção de valor pessoal em relação ao grupo majoritário.

Em outro estudo Bègue e Muller (2006) investigaram os efeitos protetivos da crença de que o mundo pessoal é justo e da crença de que o mundo é justo para as outras pessoas em relação à tendência de atribuição de hostilidade. Eles utilizaram uma amostra de 379 adolescentes com idades entre 10 e 16 anos e verificaram que a crença de que o mundo pessoal é justo funciona como protetora frente às experiências negativas e estressantes. Os autores apontam que esta crença contribui para a minimização da percepção de injustiça e está associada com confiança interpessoal.

No que se refere à relação entre crenças básicas e gênero não são muitos os estudos que abordam esta questão. Franklin et al., (1990), por exemplo, verificaram que estudantes universitárias mostraram-se mais prováveis do que seus colegas do sexo masculino a acreditar no acaso, enquanto os homens acreditavam mais no controle e na justiça do que as mulheres. Por outro lado, o estudo de Calhoun e Cann (1994) não revelou diferenças significativas nas crenças básicas quando comparou homens e mulheres.

Diante destas considerações este artigo tem por objetivo verificar se as crenças básicas estão associadas com o bem-estar dos adolescentes e se existem diferenças quando comparados meninos e meninas. Através da realização deste estudo esperase contribuir com conhecimentos sobre o papel das crenças básicas na percepção do bem-estar pessoal de adolescentes da população geral, considerando que a maioria dos estudos sobre crenças têm sido realizados com população adulta. O estudo adquire relevância na compreensão de como as crenças podem influenciar as atitudes dos adolescentes diante dos acontecimentos diários, bem como a percepção desses sobre a sua satisfação com diferentes domínios da vida, tais como: saúde, nível de vida, as coisas conquistadas na vida, segurança, a satisfação com os grupos de pessoas dos quais fazem parte, expectativa de futuro e relações interpessoais.

 

Método

Participantes

Participaram desse estudo 1.588 estudantes (548 meninos e 1.040 meninas) provenientes de cinco cidades do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, sendo elas a capital do Estado, Porto Alegre, e outras quatro cidades do interior similares entre elas em tamanho (Santa Maria, Passo Fundo, Rio Grande e Santa Cruz do Sul). A idade dos participantes variou entre 12 e 16 anos (M= 14,13; DP= 1,26). A seleção dos participantes foi feita através de amostragem estratificada. Partindo de uma lista obtida através da Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul foram escolhidas aleatoriamente, através de sorteio, 16 escolas das cidades do interior e 16 da capital, sendo metade de ensino público e a outra metade de ensino privado. A Tabela 1 descreve as características da amostra em termos de sexo, ano escolar e tipo de escola.

 

 

Instrumentos

World Assumptions Scale (WAS). A WAS foi elaborada por Ronnie Janoff-Bulman e originalmente consiste de 32 itens medidos por escala Likert de seis pontos (de 1=discordo plenamente até 6=concordo plenamente). Janoff-Bulman (1992) propôs avaliar as crenças básicas através de oito dimensões primárias – cada uma delas composta por quatro itens – as quais podem ser agrupadas em três dimensões secundárias. Sendo assim, as crenças na benevolência do mundo e na benevolência das pessoas compõem a dimensão Benevolência do Mundo; as crenças na justiça, controle e acaso dos acontecimentos formam a dimensão Significação do Mundo; as crenças no autovalor, autocontrole e sorte compõem a dimensão Autovalor (Eklit et al., 2007; Kaler et al., 2008). Janoff-Bulman originalmente encontrou coeficiente de consistência interna (alfa de Cronbach) de 0,74 para a dimensão Benevolência do Mundo, 0,82 para a dimensão Significação do Mundo e 0,77 para a dimensão Autovalor. Embora, a WAS tenha sido elaborada para avaliar as crenças em situações traumáticas, o objetivo do instrumento não é o de avaliar o trauma em si, de modo que se optou por usar esta escala numa amostra de adolescentes da população em geral.

No presente estudo foram utilizados 16 dos 32 itens da escala original, sendo selecionados dois itens de cada dimensão primária, tendo como referência para seleção das variáveis o estudo de Eklit et al. (2007) e Kaler et al. (2008). A opção por utilizar metade dos itens da WAS deve-se ao fato de que este instrumento foi incluído em um questionário composto por outras escalas, investigando variados aspectos relacionados ao bem-estar na adolescência. O questionário foi padronizado para uso em diferentes países e a opção por escalas reduzidas mostrou-se vantajosa, quando considerada a viabilidade do estudo.

Os itens selecionados da dimensão Benevolência do Mundo foram: "Se observar o mundo atentamente, verá que está cheio de bondade" e "No mundo acontecem muito mais coisas boas que ruins" (relativos à crença na benevolência do mundo); "As pessoas são basicamente boas e agradáveis" e "As pessoas não se preocupam com o que acontece aos demais" (relativos à crença na benevolência das pessoas). Os itens selecionados da dimensão Significação do Mundo foram: "A desgraça é menos provável entre as pessoas honradas" e "Geralmente as pessoas obtêm aquilo que merecem" (relativos à crença de justiça); "Através de nossas ações pode-se prevenir as coisas ruins que podem acontecer" e "As desgraças das pessoas são causadas pelos seus próprios erros" (relativos à crença de percepção de controle dos acontecimentos); "A vida está cheia de incertezas distribuídas ao acaso" e "Os acontecimentos negativos são distribuídos ao acaso entre as pessoas" (relativos à crença na aleatoriedade dos acontecimentos). Os itens selecionados da dimensão Autovalor foram: "Estou satisfeito/a com a boa pessoa que sou" e "Tenho uma baixa opinião de mim mesmo" (relativos à crença no autovalor); "Geralmente procuro obter o melhor para mim" e "Quase sempre realizo um esforço para prevenir as coisas ruins que podem me acontecer" (relativos à crença de autocontrole); "Tenho mais sorte do que o resto das pessoas" e "No fundo sou uma pessoa com sorte, afortunada" (relativos à crença na sorte pessoal).

Os participantes foram orientados a assinalar a opção que mais se aproximasse de sua opinião geral sobre a sentença correspondente ao item, tendo sido usada uma escala de 11 pontos (de 0=nunca até 10 = sempre). A utilização de uma escala de medida de 11 pontos fundamenta-se na ideia de que aspectos relacionados ao bem-estar podem ser mais bem avaliados por escalas com mais opções de pontos (Cummins & Gullone, 2000). Além disso, essa escala de pontuação é a mesma utilizada no sistema de avaliação escolar brasileiro, e por isso não parece oferecer dificuldades de resposta aos participantes.

Personal Well-being Index (PWI). O PWI (Cummins, Eckersley, Pallant, Van Vugt, & Misajon, 2003) avalia a satisfação das pessoas com aspectos gerais da sua vida e é apontado pelos seus autores como um instrumento potencialmente válido, confiável e sensível para monitorar o bem-estar. O PWI consta de sete itens que avaliam através de uma escala Likert de sete pontos a satisfação com os seguintes domínios da vida: saúde, o nível de vida, as coisas que se tem conquistado na vida, segurança, grupos de pessoas dos quais se faz parte, segurança em relação ao futuro e relações com as outras pessoas. Neste estudo os participantes foram orientados a informar até que ponto sentiam-se satisfeitos com esses aspectos através de uma escala de 11 pontos etiquetada apenas nos extremos (de 0=totalmente insatisfeito até 10= totalmente satisfeito). O PWI apresenta coeficientes de consistência interna entre entre 0,70 e 0,80 em pesquisas realizadas com a população australiana (Cummins, 1998).

Procedimentos de coleta de dados e aspectos éticos

O estudo atendeu aos procedimentos éticos conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisa com seres humanos (Conselho Nacional de Saúde, 1996). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul sob o número 066/2008. Pesquisadores treinados explicaram aos alunos os objetivos da investigação e entregaram aos interessados o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para que seus pais/responsáveis tomassem conhecimento do estudo e autorizassem a sua participação. Somente responderam ao questionário aqueles alunos que aceitaram participar livremente e que trouxeram o TCLE assinado pelos seus pais e/ou responsáveis. Os instrumentos foram aplicados em sala de aula ou em espaço designado pela escola, no mesmo turno de estudo dos participantes.

Procedimentos de análise de dados

Inicialmente foi realizada análise de componentes principais dos 16 itens retirados da WAS. Após, foi realizada análise de regressão linear múltipla, método Stepwise, a fim de verificar as relações de predição das crenças básicas sobre o bem-estar pessoal.

 

Resultados

Os dados foram analisados utilizando-se o software Statistical Package for Social Sciences (v.17). Primeiramente, a análise de confiabilidade (Reliability Analysis) calculada para os 16 itens da WAS encontrou Alfa de Cronbach de 0,69 para a amostra de adolescentes. Procedeu-se então a análise de componentes principais, método Varimax, com os 16 itens da escala, com o objetivo de verificar se, para esta amostra, os itens se agrupariam em fatores correspondentes às três dimensões secundárias propostas por Janoff-Bulman (1992) (Benevolência do Mundo, Significação do Mundo e Autovalor). Numa primeira inspeção da matriz de componentes, verificou-se que o item "Tenho uma baixa opinião sobre mim mesmo" não contribuiu para nenhum dos fatores, sendo por isso excluído da análise. A análise de confiabilidade (Reliability Analysis) foi novamente calculada para os 15 itens da escala tendo sido encontrado Alfa de Cronbach de 0,72.

Uma nova análise de componentes principais com os 15 itens restantes da WAS foi conduzida, buscando-se novamente a solução para três fatores. A matriz de dados mostrou-se adequada para proceder à análise fatorial, conforme aponta o índice de Kaiser-Meyer-Olkin (0,773) e o teste de esfericidade de Bartlett (χ²=3442,784; p<0,001). A variância explicada acumulada foi de 42,33%. A distribuição dos itens por fator e seu respectivo coeficiente de consistência interna são apresentados na Tabela 2.

 

 

Conforme mostra a Tabela 2, os coeficientes de consistência interna (alfa de Cronbach) dos fatores 1 e 3 estão no limite inferior de aceitabilidade, o qual se situa entre 0,60 e 0,70 (Hair, Anderson, Tatham, & Black, 2005), enquanto o coeficiente do fator 2 está abaixo desse valor mínimo. Além disso, os itens não se agruparam nas três dimensões previstas (Benevolência, Significação do Mundo e Autovalor) por Janoff-Bulman (1992). Desse modo, optou-se por conduzir análises de regressão linear utilizando-se os 15 itens da WAS como variáveis independentes, ao invés dos fatores, pois os itens da escala têm se mostrado úteis em pesquisas que tratam da avaliação cognitiva das crenças (Arnoso, 2011; Cal Calhoun & Cann, 1994; Harries & Valentiner, 2002; Kaler et al., 2008; Mikkelsen & Einarsen, 2002; Magwaza, 1999; Smedema et al., 2010; Tomich & Helgeson, 2002). Inicialmente utilizou-se para estas análises a amostra geral, posteriormente a amostra foi separada por sexo, a fim de identificar possíveis diferenças dos preditores do bem-estar pessoal entre meninos e meninas.

Em relação ao PWI-7, o coeficiente de consistência interna foi de 0,81, tendo os sete itens carregado em um único fator. Usando esse mesmo instrumento, Casas et al. (2011) encontraram coeficiente de consistência interna de 0,81 para uma amostra de adolescentes espanhóis e 0,78 para adolescentes chilenos.

A análise de regressão linear múltipla, método Stepwise, apresentou o valor Durbin- Watson de 1,97, o que indica um bom ajuste residual do modelo. Verificou-se que seis dos 15 itens da WAS são preditores de bem-estar (Tabela 3). O coeficiente ajustado de variância explicada de R2 0,303 indica que estas variáveis explicam 30% do bem-estar pessoal dos adolescentes da amostra geral. De acordo com os resultados apresentados, três itens da dimensão secundária Autovalor contribuem para o bem-estar pessoal dos adolescentes, seguido de um item da dimensão Benevolência do Mundo e de dois itens da dimensão Significação do Mundo. Em relação ao último item a entrar no modelo de regressão ("Os acontecimentos negativos são distribuídos ao acaso entre as pessoas") observa-se que a associação entre essa crença e o bem-estar é negativa. Dessa forma, interpreta-se que acreditar que os acontecimentos negativos são distribuídos ao acaso entre as pessoas é preditor de menor nível de bem-estar. Inversamente, não acreditar (ou acreditar menos) na aleatoriedade da distribuição dos acontecimentos negativos entre as pessoas é preditor de maior nível de bem-estar.

 

 

No que diz respeito às diferenças entre sexos, a análise de regressão linear múltipla apontou que as cinco variáveis de maior peso como preditoras de bem-estar, tanto para meninos quanto para meninas, correspondem aos resultados das análises para a amostra geral. Somente o sexto e último item a entrar no modelo apresentou diferenças entre meninos e meninas. Para os meninos, no lugar de "Os acontecimentos negativos são distribuídos ao acaso entre as pessoas" (p=0,02; Beta=-0,05) encontrado na amostra geral, entrou como preditor de bem-estar o item "Quase sempre faço um esforço para prevenir as coisas ruins que podem me acontecer" (p=0,029; Beta=0,09). Para as meninas a sexta variável a predizer bem-estar foi o item "A vida está cheia de incertezas distribuídas ao acaso" (p=0,05; Beta=-0,06). Desse modo, menores crenças no acaso para explicar os acontecimentos contribuem para o bem-estar das meninas, assim como a crença no autocontrole apresentou impacto estatisticamente significativo para o bem-estar dos meninos.

 

Discussão

Este estudo teve por objetivo verificar se as crenças básicas estão associadas ao bem-estar dos adolescentes e se existem diferenças quando comparados meninos e meninas. De acordo com os resultados encontrados as crenças que predizem bem-estar na amostra de adolescentes englobam as três grandes dimensões das crenças básicas (Benevolência do Mundo, Significação do Mundo e Autovalor), conforme proposto por Janoff-Bulman (1992). As crenças que mais contribuem para o bem-estar dos adolescentes são "Estou satisfeito/a com a boa pessoa que me considero ser", seguida de "No fundo sou uma pessoa com sorte e afortunada" e "Geralmente procuro obter o melhor para mim". Este resultado aponta relação positiva entre a crença no valor pessoal e os níveis de bem-estar dos adolescentes, corroborando os achados de outros estudos como o de Smedema et al. (2010) e de Kaler et. al (2008), que apontaram que crenças de autovalor positivo estão associados ao bem-estar subjetivo.

Do ponto de vista das práticas educativas e da intervenção junto a adolescentes, estes resultados reforçam a importância de que pais, educadores e profissionais estimulem os adolescentes a desenvolver uma percepção positiva sobre si mesmos, apoiando-os no desenvolvimento da autonomia e competência pessoal, a fim de promover melhores níveis de bem-estar. A crença no controle pessoal sobre os acontecimentos pode incentivar o exercício de práticas de protagonismo juvenil (Costa, 2000), as quais se referem às ideias e comportamentos que promovem tanto o desenvolvimento pessoal quanto o coletivo. Tais práticas implicam que os adolescentes atuem no contexto onde vivem por meio de ações proativas, o que favorece a manutenção das crenças no valor pessoal. Além disso, crenças no autovalor podem contribuir para que os adolescentes tenham comportamentos orientados a maximizar resultados de sucesso em suas vidas (Janoff-Bulman, 1992), o que também incide sobre a percepção positiva de bem-estar.

Ainda em relação ao autovalor, a crença que se refere à sorte ("No fundo sou uma pessoa com sorte, afortunada"), demonstra a tendência de nos avaliarmos como tendo mais sorte do que a maioria das pessoas que fazem parte do nosso mundo (Calhoun & Cann, 1994; Janoff-Bulman, 1992). Janoff-Bulman, quando descreveu essa dimensão primária das crenças básicas afirmou que nós acreditamos que a sorte prevalece sobre os infortúnios e somos otimistas em nossa visão de mundo quando utilizamos como referência nosso ambiente social e pessoal. Ela observou ainda que estudantes universitários subestimam a probabilidade de que eventos negativos possam lhes acontecer e superestimam os eventos positivos, fenômeno que Weinstein e Lachendro (1982) chamaram de "otimismo irrealístico". Tomich e Helgeson (2002) também encontraram relação entre a crença na sorte pessoal e afeto positivo, ou seja, um indicador de bem-estar subjetivo. Embora se encontre referência ao otimismo irrealístico como característica da adolescência, Jannof-Bulman (1992) afirmou que o sistema de crenças tende a ser positivo, o que, consequentemente, gera também emoções positivas, o que mantém viva a motivação para interagir com o mundo.

Em relação à crença no autocontrole ("Geralmente procuro obter o melhor para mim"), Janoff-Bulman (1992) argumentou que a ilusão de autocontrole é adaptativa e que além das emoções positivas que derivam dela, esta crença pode aumentar a motivação para explorar o mundo e iniciar novos comportamentos, o que pode ser positivo para os adolescentes. Desse modo, salienta-se a importância das intervenções psicossociais que têm como objetivo fortalecer o autocontrole e a assertividade nos adolescentes. Tomich e Helgeson (2002) também encontraram que as crenças no controle pessoal são preditoras de qualidade de vida numa amostra de mulheres com ou sem diagnóstico de câncer de mama, ou seja, não são as crenças de controle sobre as causas da doença, mas a maestria sobre a vida em seus diferentes domínios que apresentam relação com o bem-estar.

O item "As pessoas são basicamente boas e agradáveis" refere-se à crença na benevolência das pessoas. De acordo com Jeavons e Godber (2005), acreditar na benevolência do mundo e das pessoas nos protege do estresse e da ansiedade da vida diária, o que pode contribuir indiretamente para a promoção do bem-estar. Outros estudos encontraram relações entre crenças de benevolência e afeto positivo (Tomich & Helgeson, 2002) além de benevolência e bem-estar subjetivo (Feist et al., 1995; Mcgeorge, 1995). Uma vez que a estrutura mental que sustenta o sistema de crenças começa a ser formada desde a infância e perdura ao longo da vida (Janoff-Bulman, 1992), a qualidade das relações que os adolescentes estabelecem com pessoas significativas como pais, pares, professores e outros pode ser considerada como importante para o bem-estar dos adolescentes, porque interfere na formação do seu sistema de crenças.

O item que se refere à crença na justiça do mundo ("Geralmente as pessoas obtêm aquilo que merecem"), o qual faz parte da dimensão Significação do Mundo, também resulta como preditor de bem-estar na adolescência. As pessoas teriam necessidade de viver em um contexto previsível e coerente, o qual lhes permita planejar o futuro e sentir-se a salvo de injustiças e, assim, evitar as incertezas com relação ao mundo em que vivem (Barreiro e Castorina, 2005). Para Janoff-Bulman (1992) nós temos a tendência de fazermos uma avaliação seletiva dos eventos, os quais nos levam a acreditarmos que certos acontecimentos "fazem sentido" e, então, interpretamos nosso mundo como imbuído de significado. Em geral tentamos encontrar uma razão para os eventos que consideramos negativos e acreditamos que temos controle sobre certos acontecimentos através do nosso comportamento. De acordo com a autora, quando isso não é possível, nos sentimos como vítimas de infortúnios ou do comportamento ruim das outras pessoas. Considerando essas ideias, Bègue e Muller (2006) desenvolveram estudos cujos resultados apontam que as pessoas que acreditam em um mundo justo também apresentam maiores níveis de satisfação vital e autoestima, dentre outros aspectos relacionadas ao bem-estar.

Por fim, o item "Os acontecimentos negativos são distribuídos ao acaso entre as pessoas" também aparece como preditor do bem-estar, mas no sentido inverso, ou seja, quanto maior a crença de que a distribuição dos acontecimentos negativos entre as pessoas é fruto do acaso menor o nível de bem-estar dos adolescentes. Acreditar que os acontecimentos negativos são distribuídos ao acaso entre as pessoas faz com que nós nos sintamos profundamente ameaçados pela possibilidade de que eventos negativos aconteçam conosco (Lerner, 1980), o que justifica porque as crenças no autocontrole e na sorte apresentam relações positivas com o bem-estar e as crenças no acaso apresentam relações negativas.

Em relação à comparação dos preditores de bem-estar por sexo, os resultados desse estudo mostram que a influência das crenças básicas sobre o bem-estar dos adolescentes não parecem ter relação com o fato de ser menino ou menina. Mesmo que o último item do modelo de regressão tenha apresentado diferenças entre sexos, a variável contribui muito pouco para explicar o bem-estar. Ressalta-se a necessidade de estudos longitudinais para compreender se estas diferenças se mantêm ou se modificam com a idade e assim verificar se as crenças contribuem de maneira diferente para o bem-estar quando comparados meninas e meninas.

 

Considerações finais

De modo geral, o estudo sobre crenças básicas possui relevância porque tanto a construção de crenças positivas como a modificação cognitiva das mesmas podem se refletir sobre as atitudes, a saúde e o bem-estar psicológico das pessoas (Foa, Ehlers, Clark, Tolin, & Orsillo, 1999). Mesmo que as crenças, na maioria das vezes, possam não corresponder exatamente à realidade, crenças na justiça do mundo, na bondade das pessoas, no controle sobre os eventos e na sorte estão relacionadas a sentimentos positivos (Janoff-Bulman, 1992) e, consequentemente, incidem positivamente sobre o bem-estar pessoal.

O estudo apresenta limitações, uma vez que o instrumento utilizado não foi capaz de reproduzir as dimensões secundárias das crenças básicas propostas por Janoff-Bulman (1992) através dos 16 itens retirados da WAS original. Por um lado, reconhece-se que a redução dos itens da escala original possa ter prejudicado o seu funcionamento. Por outro lado, a literatura na área, especialmente estudos mais recentes sobre as propriedades psicométricas da WAS, como os conduzidos por Elklit et al. (2007) e Kaler et al. (2008), apontaram que a escala apresenta problemas para comprovar a validade e confiança de algumas de suas subescalas, os quais apresentam índices razoáveis, mas não plenamente satisfatórios. Os autores desses estudos propõem que o conteúdo dos itens seja revisado e o seu número por subescalas seja ampliado, ressaltando que problemas com o funcionamento do instrumento não necessariamente indicam problemas com a teoria.

Uma outra justificativa para os índices de consistência interna insatisfatórios na WAS pode estar na interpretação dos itens por parte dos adolescentes. As sentenças do instrumento estão construídas de modo a requerer um certo nível de abstração cognitiva, habilidade que ainda não está plenamente consolidada na adolescência. Um exemplo de sentença que requer abstração é "A vida está cheia de incertezas distribuídas ao acaso". Desse modo, a apresentação dos itens necessita ser revisada e adaptada para esta faixa etária, sendo uma sugestão pertinente para novos estudos com a escala. Além disso, estudos futuros precisam considerar a utilização da escala em sua versão completa, na tentativa de investigar suas propriedades psicométricas e assim aperfeiçoar o instrumento para uso no contexto brasileiro, tanto com adolescentes quanto com adultos. No entanto, mesmo que o instrumento apresente limitações, não se pode deixar de ressaltar que a teoria das crenças básicas e a própria WAS têm sido úteis para avaliar as crenças há quase duas décadas.

Cabe ainda considerar a necessidade de realizar estudos longitudinais que avaliem as crenças durante a transição da adolescência para a idade adulta, a fim de analisar se ocorrem mudanças nesse sistema conceitual ao longo do ciclo vital. Nesse sentido, as crenças relacionadas ao controle e ao acaso dos acontecimentos, variáveis que mostraram diferenças na predição do bem-estar de meninos e meninas, necessitam ser mais bem investigadas.

Por fim, tendo constatado que as crenças básicas têm uma importante relação com o bem-estar, este estudo destaca a importância da promoção da saúde psicológica e da qualidade de vida dos adolescentes, oferecendo subsídios para a criação de ambientes que favoreçam o desenvolvimento do autovalor, da visão positiva sobre si mesmos, sobre o mundo e as pessoas. Ressalta-se ainda a importância da crença na justiça e no autocontrole sobre os acontecimentos de sua própria vida para o bem-estar pessoal na adolescência. Espera-se estar contribuindo para a discussão sobre o bem-estar pessoal no contexto brasileiro, indicando que aspectos ainda pouco considerados, como as crenças básicas, podem ser úteis na compreensão deste construto.

 

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Endereço para contato
E-mail: jorgesarriera@gmail.com

Recebido em julho de 2012
Aceito em outubro de 2012

 

 

Jorge Castellá Sarriera – Psicólogo, Doutor em Psicología Social pela Universidad Autónoma de Madrid (Espanha). Professor do Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil.
Eveline Fávero – Psicóloga. Pós-doutoranda em Psicologia pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Ângela Carina Paradiso – Psicóloga. Doutoranda em Psicologia pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Tiago Zanatta Calza. Psicólogo – Mestrando em Psicologia pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.