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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  no.38-39 Canoas dez. 2012

 

RESENHA

 

Parentalidade e contemporaneidade: os desafios para a psicologia

 

 

Claudia Correa da Rocha; Aline Groff Vivian

Universidade Luterana do Brasil (ULBRA Canoas)

Endereço para contato

 

 

Os estudos sobre a maternidade e paternidade, bem como as repercussões da transição para a parentalidade e conjugalidade, para o desenvolvimento infantil e seu impacto na família vem sendo alvo de muitos estudos da área da Psicologia. As transformações decorrentes da inserção da mulher no mercado de trabalho ampliou também o interesse pelo papel do pai, bem como o número de pesquisas recentes sobre o tema, para além das investigações sobre a maternidade.

A obra aqui apresentada reuniu estudos teóricos e de pesquisa de autores ligados ao Centro Universitário Franciscano, Universidade Federal de Santa Maria, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Fundação Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, entre outros profissionais colaboradores. O livro aborda, em oito capítulos, alguns fenômenos relacionados à família, como o desejo de ser mãe, a importância do pai na educação dos filhos, o papel dos pais na separação conjugal, a percepção dos pais frente à doença de um filho, a infertilidade feminina, a função do cuidador social e os efeitos dos novos arranjos familiares na contemporaneidade.

No primeiro capítulo do livro, Jaeger e Strey tratam do papel da mãe, nos dias atuais, em situações de opressão e que envolvam violência. As autoras abordam a constituição histórica da noção de maternidade, discutindo os fatores de risco do contexto de violência estrutural que se repete em práticas punitivas violentas no exercício da maternidade. Por fim, sugerem o desenvolvimento de políticas públicas que forneçam atenção, através de equipes multidisciplinares, a famílias que vivem em situações de violência.

No segundo capítulo, Silva e Siqueira apresentam uma revisão da literatura sobre as dificuldades impostas à parentalidade, após a separação conjugal, decorrentes da síndrome de alienação parental, bem como as repercussões e o sofrimento psicológico causados no filho diante de tal situação, além do impacto na vida dos próprios pais separados. As autoras apontam que o maior conhecimento da SAP, bem como a interlocução entre profissionais do Direito e da Psicologia podem contribuir para construir conhecimento, formas de intervenção e assistência psicológica adequada tanto às vitimas como ao alienador, a fim de prevenir danos maiores ao desenvolvimento dos envolvidos.

No terceiro capítulo, Kruel e Lopes apresentam uma revisão da literatura sobre as repercussões do diagnóstico de malformação cardíaca congênita de um filho na parentalidade. As autoras indicam que o processo envolvendo o diagnóstico, a forma e o momento como a notícia é dada aos pais produzem um impacto na transição para a parentalidade, interferindo na dinâmica familiar. É necessário que os profissionais da área da psicologia estejam atentos e preparados para atender às demandas desses pais e mães, inclusive com acompanhamento dos casos após a alta hospitalar.

"Pai deve participar" é o título do quarto capítulo, em que Rodrigues e Gonçalves realizam uma pesquisa qualitativa, com a participação de sete pais, a fim de conhecer como os homens compreendem e exercem a paternidade com base na relação com seus filhos, as possíveis diferenças entre sua maneira de ser pai e a paternidade quer fora exercida pelo seu próprio pai. A partir dos resultados das entrevistas, as autoras apontam que os pais estão mais presentes desde o momento da gestação e cada vez mais preocupados em estarem mais próximos de seus filhos, bem como ressignificar a educação recebida de seus pais. O capitulo contribui para se conhecer as novas formas de perceber a paternidade contemporânea, a partir da ótica dos pais.

No quinto capítulo Cezne, Levandowski e Biazus tratam das vivências de mulheres inférteis. Através de uma pesquisa empírica, as autoras apresentam sentimentos, expectativas, medos e desejos de três mulheres em situação de infertilidade, que mantinham o desejo de engravidar e tornar-se mães. O material de blogs na internet, escrito pelas próprias participantes foi submetido à análise de conteúdo. As técnicas de reprodução assistida foram recursos utilizados pelas mulheres, gerando frustrações quando malsucedidos. As maiores expectativas quanto à concretização do desejo de gravidez e maternidade se destacaram em relação às expectativas quanto aos aspectos psicológicos e físicos dos filhos. As autoras ressaltaram a importância de os profissionais da psicologia compreenderem a constituição da feminilidade e da maternidade, bem como as repercussões da vivência de infertilidade no psiquismo e na conjugalidade.

Bottoli e Arpini, no sexto capítulo, objetivam compreender através de uma pesquisa empírica, a forma como o pai exerce a paternidade após a separação conjugal. A partir de uma entrevista semiestruturada com sete pais separados, aprofundaram a compreensão do papel paterno na contemporaneidade. Para as autoras, o processo de separação marca mudanças na relação pai e filho, porém, a boa relação entre o pai e a mãe, bem como a maneira como a mãe introduz o pai na vida do filho, pode ser um dos fatores para auxiliar a manutenção dos laços parentais. Sendo assim, conhecer a percepção do pai acerca de sua relação com os filhos, bem como distinguir o papel parental do conjugal pode contribuir para a compreensão desse exercício em uma nova configuração.

O sétimo capítulo trata-se de um estudo empírico, realizado com quatro mães com pelo menos um filho portador da Síndrome de Down separadas de seus cônjuges. A pesquisa de Vollbrecht e Smeha mostrou que a carga emocional e física são as maiores dificuldades dessas mães, bem como a ausência paterna, porém, no momento do conflito da separação, aumentou o vínculo com o bebê, diminuindo assim, as repercussões causadas pelo diagnóstico da doença. O estudo apresentou ainda a importância das redes de apoio social, nas quais se incluem os psicólogos, para proporcionar suporte nos cuidados à criança.

No último capítulo, Abaid, Dell´Aglio e Bitencourt contemplam os desafios da parentalidade para os educadores sociais, também chamados de pais e mães sociais, quando a criança se encontra em instituições de acolhimento. Neste estudo, podemos observar a importância de trabalhar a capacitação desses profissionais, que exercem os cuidados diretos de crianças e adolescentes e têm uma função preventiva que deve ser valorizada, a fim de que possam promover uma proteção real em contexto institucional. O livro apresenta de forma concisa e dinâmica, estudos empíricos e teóricos abordando diferentes aspectos ligados à parentalidade no contexto atual. Dessa forma, o leitor encontra reflexões contemporâneas acerca do papel do psicólogo e das pessoas envolvidas em diferentes configurações familiares, o que torna a leitura importante tanto para profissionais, como para professore e alunos da área da saúde.

 

Referências

Jaeger, F. P., Kruel, C. S. & Siqueira, A. S. (Orgs.) (2011). Parentalidade e contemporaneidade: os desafios para a psicologia. Santa Maria: Centro Universitário Franciscano.         [ Links ]

 

 

Endereço para contato
E-mail: claudiarocha-84@hotmail.com

Recebido em julho de 2012
Aceito em agosto de 2012

 

 

Claudia Corrêa da Rocha: Aluna do Curso de Graduação de Psicologia – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA Canoas).
Aline Groff Vivian: Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia (UFRGS). Professora do Curso de Psicologia (ULBRA Canoas).