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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia  no.47-48 Canoas dez. 2015

 

ARTIGOS EMPÍRICOS

 

Problemas externalizantes e pró-socialidade em adultos

 

Externalizing problems and prosociality

 

 

Nancy Ramacciotti de Oliveira-Monteiro; Rodolfo Eduardo Scachetti; Stephanie Frabetti; Maria Aznar-Farias

Universidade Federal de São Paulo

Endereço para contato

 

 


RESUMO

Este estudo investigou problemas externalizantes e pró-socialidade em adultos de diferentes condições psicossociais. Usando Adult Self-Report (ASR) e Escala de Medida de Pró-socialidade (EMPA), foram avaliados 239 sujeitos, idades de 18 a 59 anos. As análises descritivas não mostraram tendências a problemas externalizantes na amostra. Por sua vez, condutas pró-sociais referentes à 'ajuda', 'partilha', 'cuidado' e 'empatia' foram autorreferidas com tendência de graus médios e altos. Análise inferencial não indicou diferenças significativas nos dados levantados. Também não foi encontrada correlação entre os dados dos instrumentos aplicados. O trabalho contribui para os estudos sobre pró-socialidade na idade adulta, num cenário de poucas pesquisas sobre a temática.

Palavras-chave: Adultos, Problemas do comportamento, Recursos sociais.


ABSTRACT

This study investigated externalizing problems and prosociality among adults in different psychosocial conditions. Two hundred and thirty nine subjects aging 18-59 years were evaluated using Adult Self-Report (ASR) and Prosociality Measurement Scale (EMPA). Descriptive analysis did not display tendency to externalizing problems in the sample. At the same time, prosocial behavior related to 'help', 'sharing', 'care' and 'empathy' were self-reported with medium and high level tendencies. Inferential analysis did not indicate significant difference in surveyed data. No correlations was found among data acquired from applied instruments. This article contributes to studies regarding the theme of adulthood and prosocial behavior, in a scenario of rare publications about it.

Keywords: Adults, Externalizing problems, Prosociality.


 

 

Introdução

É expressivo o número de estudos da área do desenvolvimento humano voltados para a infância e adolescência, e também para a velhice. Embora na literatura científica brasileira recente, na área da Psicologia evolutiva, sejam encontrados trabalhos de pesquisa com adultos, em estudos direcionados para grupos profissionais (Oliveira, & Cardoso, 2011; Santos et al, 2011), estudantes (Faria, Gandolfi, & Moura, 2014), e também grupos clínicos (Basso, & Marin, 2010; Ely, Nunes, & Carvalho, 2014), no tocante a estudos de pró-socialidade, os mesmos são incipientes.

Erikson (2000) destaca-se entre os estudiosos que refletiram sobre o desenvolvimento humano em todo o ciclo vital, incluindo a vida adulta. Após ter passado pela adolescência e atingido uma identidade estabelecida (fortificada e mais segura), o adulto seria capaz de alcançar relacionamentos com mais intimidade. Entretanto, segundo Erikson, seria preciso também que o adulto tivesse, em alguns momentos, comportamentos de isolamento, para que pudesse se dedicar ao trabalho e a si mesmo e, então, compartilhar sua vida com outra pessoa. Por isso, para o autor, a etapa da idade adulta seria caracterizada por um conflito de ego entre a intimidade e o isolamento.

Numa etapa posterior, a da maturidade, o conflito mais expressivo do ego, ainda segundo Erikson, ocorreria entre a generatividade e a estagnação. A generatividade relaciona-se com o 'cuidado' com a próxima geração – com os filhos, a comunidade e a sociedade. Em oposição, aqueles que não conseguem estabelecer a generatividade, concentram-se em sua própria vida, acabando por permanecer na estagnação, não colocando em prática o 'cuidado' para com o outro.

Em termos cronológicos, o indivíduo adulto é aquele com idade superior a 18 anos e inferior a 60 anos (idoso), ainda que existam diferentes marcadores na consideração da vida adulta que abrangem dimensões biopsicossociais e jurídicas. É comum haver uma subdivisão da vida adulta em 'adultos jovens' (de 18 a 39 anos) e 'adultos de meia idade' (de 40 a 59 anos).

Osório (2001) entende o período do 'adulto jovem' como marcado pela criatividade e também pela ruptura com os pais, já que nessa etapa esses 'adultos jovens' se tornam, em geral, pais ou mães, e encontram um lugar mais estabelecido no campo do trabalho. Nessa fase, o indivíduo pode criar scripts e cenários (internos e externos) para sua vida, o que o aproxima mais de imagens do que da realidade. Na vida adulta, muitas pessoas estão em sua plenitude de força, energia e resistência. Por outro lado, esse momento da vida também pode ser um período com altos índices de estresse, incidência de transtornos esquizofrênicos e uso de drogas.

Margis e Cordioli (2001), autores de linha psicodinâmica, caracterizam a 'meia-idade' como um período de reavaliação e consolidação dos ganhos anteriores da vida. A reavaliação pode estar relacionada à família, aos parceiros, aos filhos e à profissão. Nessa fase, podem aparecer crises por frustrações frente a metas pouco alcançadas ou não realizadas. Nessa etapa da vida, iniciam-se mudanças físicas associadas à velhice, com alterações hormonais, perda do vigor e da agilidade, além de preocupações estéticas associadas às alterações corporais. Os autores sugerem que os indivíduos de meia-idade tenderiam a maiores problemas de ordem interna do que externa. Esses problemas seriam provenientes, em geral, de altas exigências consigo próprios, além de redução da autoestima, desesperança e, em alguns casos, presença de quadros depressivos.

Uma classificação bastante utilizada por autores norte-americanos e europeus em estudos sobre problemas psicológicos que podem ser desencadeados durante o ciclo vital é a de 'problemas internalizantes' e de 'problemas externalizantes' (Hinshaw, 1992; Jacob et al, 2014; Reef, Diamantopoulou, Meurs, Verhulst, & Ende, 2010). Problemas internalizantes são aqueles referentes aos processos psicológicos internos do indivíduo, como medo, tristeza, insegurança, e podem ser percebidos como comportamentos de ansiedade e depressão. Já os problemas externalizantes, ou de externalização (que terão destaque neste estudo), são os voltados para o ambiente externo do indivíduo, como comportamento agressivo, agitação e quebra de regras (Achenbach & Rescorla, 2010).

Em todas as etapas do desenvolvimento, a presença de problemas psicológicos, internalizantes ou externalizantes, não significa necessariamente uma ausência de recursos sociais, de funcionamento adaptativo, como alertado pelos parâmetros da Psicologia Positiva (Solano, 2010). Por essa linha de pensamento, embora condutas próprias das manifestações dos problemas externalizantes sejam por vezes entendidas como opostas aos comportamentos socialmente adaptados, as expressões comportamentais de problemas externalizantes e de funcionamento adaptativo podem conviver em diferentes dinâmicas nas interações sociais.

Comportamentos pró-sociais são comportamentos próprios do funcionamento adaptativo. Embora existam debates sobre a definição de 'conduta ou comportamento pró-social', seus elementos constitutivos podem ser caracterizados como ações que visam satisfazer necessidades de outra pessoa, de uma forma não exatamente coincidente com condutas de natureza altruística; a motivação para o altruísmo pode ser relacionada ao próprio bem estar (necessidades de autossatisfação), enquanto que o comportamento pró-social é baseado em condições empáticas, aquelas centradas no outro (Auné, Blum, Abal, Lozzia, & Horacio, 2014).

Roche (2007) entende que a pró-socialidade configura-se como um conjunto de comportamentos que, sem buscar recompensas externas ou materiais, favorece outras pessoas ou grupos, aumentando a probabilidade de gerar reciprocidade positiva de qualidade solidária nas relações interpessoais ou sociais consequentes, mantendo identidade, criatividade e iniciativa daqueles implicados. Em sua tese, Kanacri (2011) revisa autores que consideram os comportamentos pró-sociais como ações voluntárias que têm a intenção de beneficiar outros, seja ajudando, compartilhando, doando, cuidando ou confortando. Alguns estudiosos também entendem que uma ação pró-social poderia ser resumida em um comportamento que beneficia efetivamente o outro, tal como este quer ser beneficiado (Escotorín & Cirera, 2010).

Em sua maioria, os instrumentos de avaliação de pró-socialidade são configurados em escalas, inventários e questionários, muitos deles baseados em autorreferência, aspecto bastante comum em investigações de adolescentes e de adultos na área de desenvolvimento humano. Todavia, especialmente a avaliação de comportamentos, como a conduta prósocial, é necessário levar em conta uma possível distância entre a autoavaliação e a realidade desses comportamentos (Batson & Thompson, 2001).

A revisão sobre a investigação pró-social de Auné, Blum, Abal, Lozzia e Horacio (2014) mostram que os estudos de pró-socialidade são, em geral, voltados para crianças e adolescentes, havendo escassez de trabalhos sobre comportamentos pró-sociais na juventude, vida adulta e velhice. Como já colocado, as avaliações da área do desenvolvimento humano adulto também não são tão frequentes quanto aquelas voltadas para crianças e adolescentes, na circunscrição da literatura brasileira, e em geral não se direcionam a amostras aleatórias. Nesse contexto, a proposta do presente estudo foi investigar problemas externalizantes e comportamentos pró-sociais em adultos.

 

Método

Trata-se de um estudo exploratório, no qual participaram 239 adultos numa amostra aleatória. Foram critérios de inclusão: a) ser adulto na faixa etária de 18 a 60 anos (incompletos); b) ser alfabetizado; e c) aceitar participar da pesquisa. Os participantes foram triados numa Clínica Psicológica que realizava exames psicotécnicos para obtenção de Carteira Nacional de Habilitação (CNH), localizada num município da Baixada Santista, região metropolitana do litoral do Estado de São Paulo. A Baixada Santista inclui nove municípios (Santos, Guarujá, Bertioga, São Vicente, Cubatão, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe) e a clínica onde foram levantados os dados atendia adultos de toda essa região.

Os instrumentos utilizados foram o Inventário de Autoavaliação para Adultos de 18 a 59 anos/Adult Self-Report (ASR), da Bateria ASEBA (Achenbach & Rerscorla, 2010), e a Escala de Medida de Pró-socialidade (EMPA) (Caprara, Steca, Zelli, & Capanna, 2005).

O ASR é um instrumento de autorrelato, com 126 itens, para avaliação de funcionamento adaptativo e de problemas psicológicos de adultos, que é apresentado em duas escalas. Uma delas faz triagem de problemas psicológicos internalizantes e externalizantes. Resultados do ASR são considerados nas faixas denominadas 'não clínica' (ou 'normal'), 'clínica' e 'limítrofe', indicando, ou não, a sugestão de preocupações clínicas e prováveis necessidades de intervenção. Esses resultados são apresentados em perfis obtidos com uso do software ADM, da Bateria ASEBA. O instrumento encontra-se em processo de validação multicultural (Ivanova et al, 2014; Ivanova et al, 2015; Rocha, Gauy, & Silvares, 2012). Estudo de análise fatorial de escalas do ASR foi conduzido no Brasil por Lucena-Santos, Moraes e Oliveira (2014).

A EMPA é uma escala de 16 itens composta por afirmações autorreferidas sobre comportamentos pró-sociais em seus componentes 'partilha', 'ajuda', 'cuidado' e 'empatia'. Cada item tem numeração de cinco pontos na escala do tipo Likert, variando de 'nunca/quase nunca verdadeiro' (1) a 'sempre/quase sempre verdadeiro' (5). A escala vem sendo aplicada em trabalhos de pesquisadores europeus (Caprara, Steca, Zelli, & Capanna, 2005; Roche, 2010). A tradução da escala e sua validação semântica foram conduzidas por Oliveira-Monteiro e Aznar-Farias (2011), junto ao Laboratório de Investigación Prosocial Aplicada (LIPA) da Universidade Autônoma de Barcelona (Espanha). A validação incluiu estudo de tradução cruzada do instrumento em Italiano, Inglês, Espanhol e Português.

Após convites e aceites para a participação, a coleta de dados aconteceu tanto de forma individual quanto em pequenos grupos, conforme condições de viabilidade, em salas reservadas da clínica psicológica que realizava exames psicotécnicos para obtenção da CNH. Os convites para a participação foram realizados após os exames psicotécnicos, com explicitação de que os instrumentos da pesquisa não faziam parte do exame psicotécnico, e que levariam cerca de meia hora para serem respondidos. Alguns dos convidados não aceitaram a participação. Quatro estudantes quintanistas de curso de graduação de Psicologia, devidamente treinados e supervisionados, foram os aplicadores dos instrumentos. Os dados foram coletados dentro de um período de quatro meses, estipulado no cronograma do projeto.

Os dados do ASR foram transcritos para o software de correção do inventário para sistematização em perfis nas categorias 'não clínicas', 'clínicas' e 'limítrofes' de problemas externalizantes. Os dados da EMPA foram tratados por distribuição das respostas dentro da escala do tipo Likert.

Os dados dos instrumentos foram submetidos à análise estatística descritiva e inferencial, de acordo com os objetivos da pesquisa. A avaliação de problemas externalizantes e de comportamentos pró-sociais ocorreu através de comparações por: a) sexo; b) classes econômicas avaliadas pelo CCEB, nos agrupamentos de classes A/B e C/D/E, respectivamente correspondentes a faixas de classes econômicas mais altas e mais baixas; c) faixa etária (18-39 anos; 40-59 anos), e d) escolaridade, nos subgrupos de baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto), média escolaridade (ensino fundamental completo/ensino médio incompleto) e escolaridade mais alta (ensino médio completo/ensino superior).

A análise das relações entre as variáveis do instrumento ASR e as outras variáveis investigadas utilizou o modelo de análise de variância (ANOVA) com quatro fatores fixos. Para análise da associação entre variáveis do ASR e variáveis componentes do EMPA, foi empregado o coeficiente de correlação linear de Pearson.

A investigação seguiu normas éticas de pesquisa com seres humanos, com aprovação por Comitê de Ética em Pesquisa (CEP/UNIFESP 0604/11).

 

Resultados

A amostra dos 239 adultos pesquisados foi assim tipificada: 140 (59%) eram mulheres e 99 (41%) homens, todos residentes em municípios da Baixada Santista (SP). Nessa amostra, 172 (72%) eram adultos jovens (com idades de 18 a 39 anos) e 67 (28%) eram adultos de meia idade (com 40 a 59 anos). Quanto à escolaridade, 19 (8%) participantes da pesquisa estavam cursando ou tinham alcançado o ensino fundamental incompleto, 36 (15%) ensino fundamental completo ou ensino médio incompleto, e 184 (77%) ensino médio completo ou ensino superior (completo ou incompleto). Com respeito a classes econômicas avaliadas pelo Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, 2016), 132 participantes (55%) situavam-se nas classes mais altas (A/B) e 107 (45%) em classes mais baixas (C/D/E).

A Tabela 1 expõe a distribuição da amostra pelas variáveis estudadas. Conforme a Tabela 1, a amostra aleatória não se apresentou bem equilibrada nas variáveis estudadas, tendo havido predomínio de adultos jovens, de classes econômicas A/B, e com maior escolaridade (ensino médio completo, ou ensino superior, completo ou incompleto).

 

 

A Tabela 2 apresenta resultados referentes a problemas externalizantes da amostra, avaliados pelo ASR.

 

 

Com relação aos resultados do ASR, conforme apresentado na Tabela 2, escores não clínicos (normais) para problemas externalizantes (menores de 60) foram presentes nos adultos jovens da amostra. Já faixas clínicas desses escores, como destacado na Tabela 2, apresentaram-se em adultos de meia idade, de ambos os sexos, com escolaridade média, e de classes econômicas mais altas (A/B). Também mulheres de meia idade, com baixa escolaridade e pertencentes a classes econômicas mais baixas (C/D/E) apresentaram esses indicadores clínicos de problemas externalizantes. Esses resultados de faixa clínica, entretanto não se mostraram significativos.

Na Tabela 3 encontram-se apresentados os níveis descritivos obtidos na aplicação do modelo de análise de variância aos dados.

 

 

Assim, como apontado na Tabela 3, a análise inferencial, através da ANOVA, não indicou relações significativas entre as variáveis do instrumento ASR e as variáveis independentes (sexo, faixas etárias, classes econômicas e escolaridade).

Por sua vez, dados descritivos de comportamentos pró-sociais avaliados pela EMPA, em seus componentes 'ajuda', 'partilha', 'cuidado' e 'empatia', foram indicados com predominância de graus médio e alto (médias variando de 2,94 a 4,5), conforme indicado nas Tabelas 4, 5, 6 e 7.

 

 

Pela Tabela 4, pode-se verificar que homens de meia idade apresentaram as maiores médias para o comportamento pró-social de Ajuda.

 

 

Pela Tabela 5, pode-se depreender que homens adultos jovens, de classes C/D/E com escolaridade de Ensino Fundamental completo/Médio incompleto apresentaram a menor média para o comportamento pró-social de Partilha.

 

 

A Tabela 6 per0mite verificar que homens de meia idade, de classes C/D/E com escolaridade de Ensino Fundamental completo/Médio incompleto apresentaram a menor média para o comportamento pró-social de Partilha.

 

 

Tabela 7 – Medidas descritivas da variável Empatia, segundo sexo, faixa etária, escolaridade e classe econômica, na amostra estudada.

Conforme a Tabela 7, pode-se verificar que homens de classes C/D/E com escolaridade de Ensino Fundamental completo/Médio incompleto apresentaram as menores médias para o comportamento pró-social de Empatia.

As análises estatísticas dos dados da EMPA não indicaram diferenças significativas nos comportamentos pró-sociais, em suas quatro categorias. Entretanto, como mostrado nas Tabelas 5, 6 e 7, os homens de classes econômicas C/D/E, com escolaridade Fundamental completo/Ensino Médio incompleto constituíram o subgrupo com menores médias para os comportamentos pró-sociais de Partilha, Cuidado e Empatia.

Na Tabela 8 estão colocados coeficientes de correlação linear de Pearson calculados para os pares de variáveis de interesse (do ASR e da EMPA).

 

 

Os dados expostos na Tabela 8 permitem verificar que não foi encontrada associação, através do coeficiente de Pearson, entre resultados do ASR, referentes a problemas externalizantes, e resultados da EMPA, relativos a comportamentos prósociais.

 

Discussão

Esta investigação procurou verificar elementos autorreferidos para problemas externalizantes e comportamentos pró-sociais de adultos. O estudo teve limitações próprias de um trabalho preliminar com uma pequena amostra de população de adultos, sem oferecer comparações com amostras de grupos específicos. Além disso, houve limites próprios de instrumentos baseados em autorreferência, conforme Batson e Thompson (2001). Por fim, o objeto do estudo, que abarcou dimensões da pró-socialidade, pertence a uma temática ainda discreta na literatura nacional concernente à avaliação de comportamentos pró-sociais em adultos, e sua possível associação com problemas comportamentais e emocionais.

Nas fronteiras dessas considerações, alguns resultados puderam se destacar. Inicialmente, foi encontrada uma predominância de escores em faixas não clínicas para problemas externalizantes em adultos jovens investigados, subfaixa que foi preponderante na amostra, com mais do dobro do número de adultos de meia idade investigados. Embora não se tratasse de uma amostra clínica de adultos, esse dado causou certa surpresa diante de indicadores de violência, tal como o Mapa da Violência 2014 (Waiselfisz, 2014), que apontavam para uma alta incidência entre os jovens até 29 anos. Também em termos gerais da amostra foi indicada uma tendência a graus médios e altos em termos de comportamentos pró-sociais.

Os problemas externalizantes verificados, com indicativos suficientes para preocupações clínicas e prováveis necessidades de intervenção, situaram-se em dois subgrupos: 1) homens e mulheres de meia idade, de classes econômicas altas e com escolaridade média; e 2) mulheres também de meia idade, de classes econômicas mais baixas, e com baixa escolaridade. Quanto a esse dado, cabe reforçar que não houve presença de indicativos de problemas externalizantes em nenhum adulto da amostra que possuía escolaridade mais alta. Esse dado pode mostrar indicativos da escolaridade como elemento protetivos diante de problemas psicológicos externalizantes, o que merece aprofundamento.

A investigação não apontou associação entre comportamentos pró-sociais e problemas externalizantes. Esse dado deve ser dimensionado no limite da característica da amostra, que não se apresentou com uma distribuição equilibrada pelas variáveis estudadas. Não obstante, as informações levantadas, nesse limite de amostra, poderão apontar elementos para se desenhar trabalhos futuros, na temática da equiparação de comportamentos pró-sociais e problemas da ordem da externalização.

As contribuições do estudo abarcam o fato da proposta trazer em pauta a investigação da pró-socialidade em adultos, área ainda carente de trabalhos no Brasil. Além disso, a pesquisa validou pela primeira vez, de forma semântica, a escala EMPA, através do estudo do instrumento, de forma cruzada, em quatro idiomas.

Outros trabalhos ficam aqui sugeridos, como por exemplo, estudos de pró-socialidade que utilizem a EMPA em comparação com levantamentos de outros instrumentos que avaliam conceitos associados, como o de habilidades sociais.

 

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Endereço para contato
E-mail: nancy.unifesp@gmail.com

Recebido em setembro de 2016
Aceito em maio de 2017

 

 

Nancy Ramacciotti de Oliveira-Monteiro: Profa. Dra., psicóloga, professora associada da Universidade Federal de São Paulo, coordenadora do Laboratório de Psicologia Ambiental e Desenvolvimento Humano (LADH/UNIFESP-BS).
Rodolfo Eduardo Scachetti: Prof. Dr., sociólogo, docente da Universidade Federal de São Paulo, coordenador do Bacharelado Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia do Mar (BictMar/DCMAR/UNIFESP).
Stephanie Frabetti: Psicóloga, membro do Laboratório de Psicologia Ambiental e Desenvolvimento Humano (LADH/UNIFESP-BS).
Maria Aznar-Farias: Profa. Dra., psicóloga, professora afiliada junto ao Laboratório de Psicologia Ambiental e Desenvolvimento Humano (LADH/UNIFESP-BS).

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