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Aletheia

versão impressa ISSN 1413-0394

Aletheia vol.54 no.1 Canoas jan./jun. 2021

http://dx.doi.org/DOI10.29327/226091.54.1-4 

DOI 10.29327/226091.54.1-4

ARTIGOS EMPÍRICOS

 

Validação do inventário de compensação de Young para a população campinense

 

Validation of Young Compensation Inventory for the Campinense Population

 

 

Hugo Barbosa Pereira 1; Karla Carolina Silveira Ribeiro 2

Faculdade Maurício de Nassau – CG

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo dessa pesquisa foi de adaptar e analisar se o YCI apresenta validade psicométrica para aplicação na cidade de Campina Grande - Paraíba. Para o estudo, contou-se com a participação de 480 adultos com idade média de 24,49 anos (DP = 7,296). Os dados foram coletados na cidade de Campina Grande através de um questionário online. Todos os itens apresentaram cargas fatoriais acima de 0,30. A escala apresentou KMO = 0,846 e x² = 6094,745 p<0,000 e o percentual de variância cumulativa foi 35,66%. A versão para o inventário foi composta pelos fatores: (I) Ordem excessiva/Individualidade (α = 0,79); (II) Busca de reconhecimento/Manipulação (α = 0,81); (III) Agressão/Hostilidade (α = 0,70); (IV) Rebelião (α = 0,70). Conclui-se que a versão adaptada apresenta parâmetros psicométricos adequados. Porém, salienta-se que ainda são necessários estudos posteriores com populações de diferentes regiões e com amostras clínicas e não clínicas.

Palavras-chave: Validação; Inventário de compensação; Terapia dos Esquemas.


ABSTRACT

The objective of this research was to adapt and analyze if the YCI has psychometric validity for application in the city of Campina Grande - Paraíba. For this study, we counted on the participation of 480 adults with a mean age of 24.49 years (DP = 7,296). The data were collected in the city of Campina Grande through an online questionnaire. All items had factorial loads above 0.30. The scale had KMO = 0.846 and x² = 6094,745 p<0,000 and the percentage of cumulative variance was 35.66%. The version for the inventory was composed by the factors: (I) Excessive Order/Individuality (α = 0,79); (II) Recognition-seeking/Manipulation (α = 0,81); (III) Aggression/Hostility (α = 0,70); (IV) Rebellion (α = 0,70). We conclude that the adapted version presents adequate psychometric parameters. However, it should be noted that further studies are still needed with populations from different zones and with clinical and non-clinical samples.

Keywords: Validation; Compensation Inventory; Schema Therapy.


 

 

Introdução

No final da década de 60 e início da década de 70, Aaron Beck resolveu realizar experimentos com pacientes depressivos para que as teorias psicanalíticas tivessem validação e aceitação pela comunidade médica. Porém, os resultados foram contrários ao esperado, fazendo-o ir em busca de outras explicações para depressão. Como resultado, desenvolveu o que conhecemos hoje por "Terapia cognitiva" (Beck, 2013). Ao longo do tempo, várias terapias cognitivo-comportamentais surgiram e atualmente segundo Duarte, Nunes e Kristensen (2008), contamos com mais de vinte abordagens que foram gradualmente se estabelecendo - e que podem ser utilizadas em diferentes transtornos mentais.

Young, Klosko e Weishaar (2008) pontuam que os pacientes caracterológicos descumprem alguns pressupostos da terapia cognitiva tradicional, como por exemplo: cumprimento de um protocolo de tratamento, rápido acesso a pensamentos e emoções com um pouco de treinamento, mudança de cognição e comportamento através da experimentação, exposição, etc. Ainda segundo o autor, geralmente esses pacientes possuem pouca flexibilidade psicológica, logo possuem dificuldade em passar por mudanças realmente significativas em um curto espaço de tempo.

Na tentativa de compreender e tratar os distúrbios de personalidade surgem algumas modificações e atualizações da terapia cognitiva de Beck. Jefferey Young amplia a TCC tradicional incluindo, segundo Callegaro (2005), técnicas das mais diversas escolas de terapia como a psicanalise e Gestalt. Além de dar um foco maior as origens infantis dos problemas psicológicos, técnicas emotivas e estilos de enfrentamento desadaptativos, com o objetivo de preencher as lacunas terapia cognitiva de Beck no que se refere ao tratamento de pacientes caracterológicos, formando-se assim a Terapia do Esquema (TE) (Young et al., 2008).

A TE é fundamentada em quatro conceitos básicos: esquemas iniciais desadaptativos (EIDs), e os três estilos de enfrentamento desadaptativos, que são: processos de manutenção do esquema, processos de evitamento do esquema e processos de compensação/hipercompensação do esquema (Gouveia & Rijo, 2001).

O conceito de esquemas iniciais desadaptativos foi utilizado para definir pensamentos, crenças e regras que surgem durante a infância e adolescência (Karaca, 2014; Young et al., 2008). Esses esquemas, são estruturas estáveis e duradoras que são reforçadas ao longo da vida e está associada aos mais diversos tipos de psicopatologias (Cazassa & Oliveira, 2008). Se originam de necessidades não satisfeitas no período da infância, são elas: 1- Vinculo seguro com os outros, 2- autonomia, competência, sentimento de identidade, 3- liberdade de expressão, necessidades e emoções válidas, 4- espontaneidade, laser, 5- limites realistas e autocontrole (Young et al., 2008).

Young et al. (2008) propõem a existência de dezoito Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs), que são agrupados em cinco categorias, denominadas de Domínios Esquemático (DEs). O domínio 1 (Desconexão e rejeição) está ligado a forte dificuldade em estabelecer relações afetivas satisfatórias, pois pacientes com esses esquemas acreditam que suas necessidades de cuidado, proteção e estabilidade não serão atendidas. Os esquemas ligados a este domínio são os de abandono/instabilidade; desconfiança/abuso; privação emocional; defectividade/vergonha; isolamento social/alienação (Young et al., 2008).

Já no domínio 2 (Autonomia e desempenho prejudicados) os indivíduos não conseguem perceber que conseguem viver de forma independente (Wainer, Paim, Erdos & Andriola, 2016). Esses pacientes quando crianças, geralmente tinham todas as suas vontades satisfeitas ou no extremo oposto, quase nunca eram cuidados (Young et al., 2008). Dificultando assim o desenvolvimento de um senso de confiança e autonomia. Os esquemas ligados a esse domínio são: dependência/incompetência; vulnerabilidade; emaranhamento/self subdesenvolvido; fracasso.

No que se refere ao domínio 3 (Limites prejudicados) os pacientes possuem dificuldades em seguir regras e normas, respeitar os direitos de outros, cooperar e cumprir metas pessoais. Os esquemas desse domínio são: merecimento/grandiosidade, autocontrole e autodisciplina insuficiente. (Wainer et al., 2016; Young et al., 2008).

Em relação ao domínio 4 (Orientação para o outro) O indivíduo concentra-se em atender as solicitações do outro em detrimento de suas próprias necessidades, com o objetivo de ganhar aprovação ou evitar represálias. Os esquemas envolvidos neste domínio são os de subjugação, autossacrifício, busca de aprovação/busca de reconhecimento. Finalmente, no domínio 5 (Supervigilância e inibição) o paciente tem dificuldade de expressar suas emoções e acabam suprindo seus sentimentos para cumprir regras rígidas relacionadas ao seu próprio desempenho. Os esquemas abarcados por esse domínio são: negativismo/pessimismo; inibição emocional; padrões inflexíveis/postura crítica exagerada; postura punitiva. (Young et al., 2008).

Young et al. (2008) definem que ao longo da vida o indivíduo desenvolve estilos e respostas de enfrentamento desadaptativas para se adaptar aos esquemas. Porém, estes estilos não pertencem a um esquema específico, mas desenvolve-se como resposta a ele. Ou seja, são provocados pelos esquemas, mas não são parte deles. Logo, um mesmo esquema pode ter como estilos de enfrentamento desadaptativo: a resignação, a evitação, a hipercompensação ou ainda pode variar entre estes estilos de enfrentamento.

Young et al. (2008) pontuam que na resignação, o paciente aceita o esquema como verdadeiro e age de forma a confirmá-lo. Estes indivíduos possuem uma atenção tendenciosa, além de supervalorizar e distorcer as informações equivalentes aos esquemas (Wainer et al., 2016). No estilo evitativo, os pacientes tentam de todas as formas fazer com que o esquema nunca seja ativado. Para isso, evitam pensar nele e bloqueiam qualquer pensamento que o ative. Wainer et al. (2016) defendem a existência de três formas de evitação: a evitação cognitiva, que pode ser observada através de verbalizações como "Não quero pensar sobre isso", a evitação afetiva, observada por exemplo, através do bloqueio dos sentimentos, e a evitação comportamental, onde o paciente pode evitar frequentar lugares ou encontrar pessoas que possam ativar o esquema.

Finalmente, o estilo compensatório/hipercompensatório, que é o foco deste estudo, é definido por Wainer et al. (2016) como uma tentativa de compensar os EIDs se comportando de uma forma completamente oposta ao esquema que possui. Alguns pacientes que tiveram experiências de privação emocional na infância, por exemplo, podem se tornar narcisistas quando adultos (Rijo, 2009). O autor ainda pontua que frequentemente a compensação de esquemas ocorre através do desenvolvimento de um "esquema compensatório", ou seja, pacientes com um EID de defectividade/vergonha, podem desenvolver um esquema de grandiosidade. A afirmativa é confirmada por Karaca (2014), pois o autor defende que os indivíduos compensam os seus EIDs através da busca de status, controle, rebelião, contradependência, manipulação, intolerância a críticas e egocentrismo.

Os autores Callegaro (2005), Gouveia e Rijo (2001) e Karaca (2014), parecem concordar que em certa medida o estilo compensatório pode ser funcional e parece o mais benéfico para o bem-estar do paciente se comparado aos outros estilos de enfrentamento. Porém, Gouveia e Rijo (2001) salientam que a compensação do esquema pode vir a falhar, e ocasionar um efeito contrário ao esperado. Já Callegaro (2005) afirma que é saudável lutar contra esquemas disfuncionais de forma proporcional à situação, porém a compensação excessiva de um esquema é muitas vezes desproporcional à realidade.

Para auxiliar na identificação e compreensão deste modelo de enfrentamento, Jeffrey Young desenvolveu o inventário de compensação (Young Compensation Inventory – YCI-1). Esse instrumento é composto de 48 itens que avalia as estratégias de enfrentamento hipercompensatorias utilizadas pelo paciente. Assim, todas as afirmativas com pontuação 5 ou 6 devem ser consideradas como estratégias hipercompensatorias (Wainer et al., 2016).

A literatura a respeito dos modelos de enfrentamento e acerca do inventário é bastante deficiente. No Brasil, a terapia do esquema, e consequentemente os Inventários de Young ainda necessitam de adaptação para as várias idades e regiões. É sabido da importância de realizar adaptações para contextos específicos, visto que o Brasil possui uma grande variação social. Além disso, também contamos com uma grande variação linguística, e segundo Garcia (2009), o contexto geográfico, a idade e sexo são fatores importantes em relação a essa variante. Tal afirmativa confirma a importância e a necessidade da adaptação dos instrumentos que serão utilizados primordialmente no contexto clínico, onde é necessário que o mesmo proporcione dados fidedignos para a confirmação ou refutação de hipóteses diagnósticas. Nesse sentido, o objetivo do estudo é de adaptar e analisar se o YCI apresenta validade psicométrica para aplicação na cidade de Campina Grande – Paraíba.

 

Método

Delineamento

Esta pesquisa foi de natureza básica e caracteriza-se por um estudo de campo de cunho transversal quantitativo e descritivo.

Participantes

A pesquisa foi realizada com adultos de ambos os sexos - idade mínima de 18 anos – residentes da cidade de Campina Grande, entre os meses de abril a outubro de 2018, através de um questionário online.

Para o estudo, foi selecionada uma amostra por conveniência. Cozby (2003) ressalta que uma das vantagens deste tipo de seleção é que o pesquisador pode obter participantes sem ser necessário despender muito tempo. O autor ainda destaca que quanto maior o tamanho da amostra, maior é a acuracidade. Para seleção do tamanho da amostra, seguimos o critério recomendado por Pasquali (1999) onde pontua que no processo de validação de instrumentos pode ser coletado dados de 10 sujeitos para cada item. Portanto, visando atender o proposito desta pesquisa e levando em consideração que o YCI é composto por 48 itens, foi selecionada uma amostra de 480 adultos.

Instrumentos

Para atingir o propósito da pesquisa, foram utilizados como instrumentos o Inventário de compensação de Young e elaborado um questionário sociodemográfico para se ter uma melhor descrição da amostra, como: idade, sexo, escolaridade.

Inventario de Compensação de Young (YCI): Para auxiliar na identificação e compreensão deste modelo de enfrentamento, Jeffrey Young desenvolveu o inventário de compensação (Young Compensation Inventory – YCI-1). Esse instrumento é composto de 48 itens que avalia as estratégias de enfrentamento hipercompensatorias. O participante deverá responder a afirmativas – por exemplo: "Descarrego as minhas frustrações nas pessoas que me rodeiam", "É importante para mim ser popular" - utilizando uma escala de seis pontos, onde 1 significa "completamente falso" e 6 "descreve-me completamente".

Procedimentos de coleta

Precedendo a coleta de dados, realizou-se o estudo piloto com o objetivo de analisar a semântica e compreensão dos itens. Para isto, o inventário foi respondido por 10 adultos – cinco do sexo masculino e cinco do sexo feminino – cuja a idade variou entre 18 e 23 anos. Foi solicitado a estes participantes que lessem cada um dos 48 itens e ao final informassem se conseguiram entender em sua totalidade ou se teriam alguma sugestão para alteração. O estudo piloto garante a uniformidade e a padronização na execução do projeto. Este processo é primordial para adaptação e posterirormente para a validação (Fontenelles, Simões, Farias & Fontenelles, 2009).

Após a adaptação, o inventário foi avaliado por um comitê de juízes-avaliadores que possuam domínio teórico específico na área da Terapia do Esquema. Os juízes avaliaram a alteração proposta pelos participantes (item 31) e pelo pesquisador (itens 4, 13, 19, 43), para verificar se os termos alterados possuíam o mesmo significado que a versão original e identificar qualquer escolha realizada de forma inapropriada, que pudesse acabar tornando o instrumento bastante complexo ou simplista. Após a avaliação, formou-se a versão preliminar que foi efetivamente aplicada aos participantes.

Os primeiros participantes foram convidados a participar por meio de conveniência e os posteriores através da técnica bola de neve, onde os participantes convidam novos participantes da sua rede de amigos e conhecidos. A coleta de dados foi realizada em sua totalidade através do questionário disponível online, onde os participantes deveriam a priori, marcar a opção onde concordava ou não em participar da pesquisa - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - confirmando seu consentimento. Após esse processo, o participante recebia as instruções necessárias para responder o Inventário de Compensação de Young e o questionário sócio demográfico. A duração média da aplicação foi de 10 minutos.

Procedimentos de análise de dados

Após a coleta de dados, a escala passou por um processo de análise fatorial exploratória, distribuição de frequência e teste t de Student. Também foi verificada a consistência interna (fidedignidade) da escala mediante cálculos de Alfa de Cronbach. O software SPSS na sua versão 21 foi utilizado para tabulação e análise dos dados.

Procedimentos éticos

Este trabalho possui aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto Campinense de Ensino Superior sob o número CAAE: 95101218.9.0000.5193 e seguiu as diretrizes e normas vigentes regulamentadoras sobre pesquisas envolvendo seres humanos da Resolução número 466/12 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde (Ministério da Saúde, 2012).

 

Resultados e Discussão

Dados Sociodemográficos

O instrumento-preliminar, resultante da fase piloto, foi aplicado em 480 adultos, residentes da cidade de Campina Grande - PB, com idade média de 24,49 anos (DP = 7,296), do sexo feminino (56,7%) e masculino (43,3%), com os níveis de escolaridade de ensino superior incompleto (40,5%), seguido de ensino médio completo (31,7%), médio incompleto (13,3%), superior completo (12,9%) e fundamental completo (1,5%).

Uma parcela significativa desta amostra é representada por participantes da classe média (72,2%). Ao serem questionados referente ao estado civil, 77,6% responderam que são solteiros, 12,9% casado/convivente, 7% viúvos, 3,3% separados e 5,5% estavam em outras configurações de relacionamento.

Validação do Instrumento

Seguindo os princípios apresentados por Tabachnick e Fidell (2001), para analisar questões como normalidade, multicolinearidade ou singularidade e presença de outliers (valores claramente afastados dos demais e da média), foram realizadas análises exploratórias e de distribuição de frequência. Não foi observado nenhum caso de multicolinearidade ou singularidade, porém foi detectada a presença de 12 outliers severos. Após serem eliminados, a amostra ficou constituída por 468 participantes.

Verificação da fatorabilidade da matriz

Primeiramente, procedeu-se à análise do poder discriminativo dos itens da escala, partindo-se do critério de mediana empírica (Mdn = 3) para definir os grupos-critério inferior e superior. Definidos tais grupos, calculou-se um teste t de Student (amostras independentes) para cada item, comparando estas médias nos dois grupos, observando-se que 44 itens discriminaram com a magnitude e direção esperada (t ≥ 6,84, p < 0,04), assim quatro itens não apresentaram esse critério, sendo eliminado da amostra final (Itens: 05, 25, 27 e 32).

A fim de se buscar um melhor aspecto metodológico em relação à validação psicométrica de instrumentos na área de psicologia, foram observados alguns critérios de acordo com os modelos de Freitas e Borges-Andrade (2004) e Albuquerque e Tróccoli (2004). Os seguintes critérios foram analisados:

- Tamanho da amostra – Este item foi atendido, visto que a recomendação é de utilizar de sete a dez sujeitos por item. O total de sujeitos foi 468, totalizando aproximadamente 10 sujeitos por item;

- Medida de adequação da amostra Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) – o índice alcançado KMO foi de 0,846, considerado válido (Pasquali, 2003). Concluímos assim que os dados são aptos para tratamentos estatísticos;

- Teste de esfericidade de Barlett – considerado significativo (6094,745) indicando possibilidade de avanço das análises.

Após a análise dos resultados parciais obtidos, a matriz foi considerada favorável e assim, foi dado prosseguimento às análises de exploração, como será descrito a seguir.

Número de fatores

Através do método de Análise dos Componentes Principais (PCA), foram realizadas as primeiras extrações fatoriais, considerando-se apenas os itens com cargas fatoriais de comunalidades iguais ou superiores a 0,20. Nesta primeira análise dos componentes principais, o critério utilizado foram os valores dos eigenvalues serem superiores ou iguais a um. Sendo assim, foram observados 4 fatores com este critério satisfeito.

O resultado da análise dos componentes principais, pelo critério de Kaiser indica a extração de 4 componentes com valores próprios superiores a 1, os quais explicam conjuntamente 35,67% da variância total, valor bastante significante. No entanto, observa-se que, não há diferença significativa no tamanho do valor próprio (Critério de Cattell) a partir do 4° componente, o que justifica a distribuição dos componentes para este estudo em quatro fatores.

A última análise realizada foi baseada no scree plot (Figura 1) obtido a partir do banco de dados. O resultado deste gráfico corroborou com as análises anteriores, pois indicou a possível existência de quatro fatores. A consulta à teoria do construto reforçou a ideia de se continuar com esta hipótese, pelo menos até análises fatoriais mais aprofundadas.

 

 

Análise fatorial

Observados os critérios de fatorabilidade da matriz do Inventário de Compensação de Young, foram conduzidas as análises dos componentes principais (PC) utilizando a rotação varimax, a qual se mostrou mais adequada. O percentual de variância explicada foi de 35,67% e a observação da matriz rotada indicou que os itens dificilmente se agrupavam em mais de um fator. Para a extração dos fatores, a teoria do YCI foi considerada. Foi definida uma saturação mínima de 0,30 para a distribuição dos itens nos fatores. A composição dos 4 fatores está descrita na Tabela 1, tanto quanto as cargas fatoriais e as comunalidades.

 

 

Após a confirmação do modelo, procedeu-se a interpretação dos fatores, considerando o conteúdo dos itens e a teoria de Jeffrey Young. Estão descritos nas Tabelas 2, 3, 4, 5 os quatro fatores que compõem a escala, contendo o item (frase) e os índices de carga fatorial de cada item em seu respectivo fator.

 

 

O primeiro fator é composto por 14 itens (tabela 2), cujas saturações variaram de 0,37 (item 33) a 0,68 (item 14), com um índice de confiabilidade (alfa de cronbach) de 0,79 e um percentual de variância de 16,82%. Considerando os itens apresentados na Tabela 2, surge a ideia de alguém que mantém ordem estrita, tem um alto nível de previsibilidade por meio de ordem e planejamento, adesão excessiva à rotina ou ritual e cautela indevida. Dedica tempo excessivo para encontrar a melhor maneira de realizar tarefas ou evitar resultados negativos.

 

 

O segundo fator da escala (Tabela 3) é composto por 14 itens com saturações variando de 0,31 (item 24) e 0,69 (item 9), com alfa de cronbach de 0,81 e percentual de variância de 9,05%. O conteúdo desse fator demonstra indivíduos que buscam alto desempenho, status, atenção, e atende às necessidades próprias através de manipulação, sedução ou desonestidade.

 

 

O terceiro fator (Tabela 4) é composto por 8 itens com saturação variando de 0,40 (item 45) e 0,62 (item 36), com alfa de cronbach de 0,70 e percentual de variância de 5,45%. O conteúdo dos itens está relacionado com indivíduos que contra-atacam desafiando, abusando, culpando, atacando ou criticando os outros.

 

 

O quarto fator (Tabela 5) é composto por 8 itens com saturação variando de 0,37 (item 38) e 0,63 (itens 30), o percentual de variância de 4,34% e alfa de cronbach = 0,70. O conteúdo desse fator reflete indivíduos que parecem abertamente complacentes enquanto punem os outros ou se revoltam secretamente através de procrastinação, atraso, reclamações, rebelião, falta de desempenho, etc.

 

Considerações Finais

O presente estudo teve por objetivo adaptar o YCI-1 - instrumento de identificação do processo de hipercompensação - para o contexto campinense, verificando evidências de sua validade fatorial e consistência interna. O resultado obtido faz-nos concluir que as qualidades psicométricas comprovam a adequação da adaptação efetuada. A apreciação do poder discriminativo dos itens possibilitou mostrar que todos funcionaram adequadamente, discriminando participantes com pontuações próximas (Pasquali, 2003). Sua estrutura fatorial, inclusive mostrou-se com quatro fatores, divergindo de estudos anteriores, realizados em outros países, onde foram identificados três fatores (individualidade com 10 itens, controle social com 19 itens e controle pessoal com 4 itens) com boas propriedades psicométricas (Luck, Waller, Meyer, Ussher & Lacey, 2005).

No presente estudo, o alfa de Cronbach foi considerado adequado, com base na literatura, apresentando valor mínimo de 0,70 (Pasquali, 2001). Assim como identificado nas pesquisas de Karaosmanoğlu, Soygüt e Kabul. (2013), na Turquia; Mairet, Boag e Warburton (2014), na Austrália; e Sheffield, Waller, Emanuelli, Murray e Meyer (2009).

Constatou-se ainda que os quatro fatores (componente) reuniram itens que cumprem critérios de homogeneidade (Clark & Watson, 1995). Apesar desses achados, não se deve desconsiderar que as análises empreendidas foram eminentemente exploratórias, não sendo realizada qualquer avaliação que confirmassem a estrutura multifatorial, sendo necessários estudos confirmatórios posteriores.

É necessário salientar que os resultados não podem ser generalizados para a população da Paraíba ou do Brasil. Por não se tratar de um estudo de normatização, as médias e desvio-padrão não podem ser usados como normas brasileiras. Outra limitação do estudo, é o fato de ainda não haver instrumentos semelhantes que possam medir o mesmo construto, ficando a etapa de validação convergente e de construto à mercê da literatura proposta sem comprovação empírica.

É possível utilizar o inventário de compensação de Young em estudos subsequentes e no contexto clinico como auxiliar para os psicólogos que utilizam a abordagem da terapia dos esquemas. Porém ainda são necessários estudos posteriores com populações de diferentes regiões e com amostras clínicas e não clínicas para a confirmação da quantidade de fatores e distribuição dos itens.

 

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Endereço para correspondência
E-mail:hugo-bpe@hotmail.com

Recebido em: agosto de 2019
Aceito em: janeiro de 2021

 

 

1 Hugo Barbosa Pereira: Bacharel em psicologia pela faculdade Maurício de Nassau de Campina Grande (FMN)
2 Karla Carolina Silveira Ribeiro: Graduada em Psicologia pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB e Doutora em Psicologia Social – UFPB. Docente no curso de graduação de psicologia na Faculdade Maurício de Nassau – CG

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