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Interações

versão impressa ISSN 1413-2907

Interações v.7 n.13 São Paulo jun. 2002

 

RESENHAS

 

Marco Artur Constantino1

Universidade São Marcos

Endereço para correspondência

 

 

TREVISAN, Leonardo. Educação e trabalho: as receitas inglesas na era da instabilidade. São Paulo: SENAC, 2001. 246 p.

O livro é resultado da pesquisa de pós-doutorado de Leonardo Trevisan, jornalista do O Estado de São Paulo, professor do Departamento de Economia e de Pós-graduação em Administração de Empresas da PUC-SP. Nele, o autor analisa, com uma abordagem sócio-histórica, as grandes transformações ocorridas no trabalho e na educação da Inglaterra do pós-guerra até a década de 1980, comparando-as com as que estão em curso no Brasil. Trevisan busca avaliar criticamente a eficiência do modelo adotado no Rei-no Unido e explorar as semelhanças e contradições das mudanças enfrentadas em nosso país, decisivos para o trabalho e a educação – ou, como pretende o autor, dos desafios da educação voltada para o trabalho.

A questão colocada logo de início é: uma sociedade desenvolvida como a inglesa guarda semelhanças com a brasileira? Na apresentação são descritos os momentos históricos de semelhanças tais como a existência dos “bolsões de pobreza”; o aumento na taxação de impostos com a busca pela redução com gastos públicos; o incremento com “gastos sociais” desde que a saúde econômica não seja prejudicada; a estatização seguida pela privatização e a busca pela modernidade do sistema produtivo para a competitividade, dificultada pela capacitação dos recursos humanos.

No capítulo 1 descreve-se como o Mercado Comum Europeu preservou determinados setores produtivos em detrimento de outros na economia britânica, gerando uma migração de mão-de-obra para o se-tor de serviços e como a privatização mudou a perspectiva profissional da força de trabalho. Neste ambiente de expectativas difusas, a vida sindical foi atingida em cheio, promovendo uma confusão ideológica, tal qual ocorria no Brasil em meados de 1990.

No segundo capítulo é traçado um paralelo entre os novos temas tratados pelo sindicalismo inglês (em decorrência das crises promovidas pelas grandes mudanças no mundo do trabalho) com os temas da nova realidade sindical brasileira, na qual um professor e uma psicóloga, funcionários públicos, assumem a direção da Central Única dos Trabalhadores, um inquestionável reduto metalúrgico.

“Emprego e evolução tecnológica”, título do capítulo 3, mostra a busca pela competitividade, a chegada das novas tecnologias e suas conseqüências para o trabalho, tais como o “novo desemprego” ou o fechamento de indústrias antigas e mal administradas. Os “sistemas flexíveis de produção” e a automação implantada na Inglaterra exigiam um novo perfil de competências, um trabalhador com múltiplas habilidades. Surge a constatação de que a escola estava falhando em formar trabalhadores habilitados para os novos tempos.

O vínculo educação/empregabilidade como opção de política pública teve como fato gerador a constatação do governo de que as fábricas não fechavam por maquinário antigo ou práticas gerenciais ultrapassadas, mas pelo “duvidoso tratamento dado à questão do capital humano”. No capítulo 4 mostra-se como se constituiu a nova política pública para que se atendesse as exigências de capacitação para as novas estruturas produtivas britânicas.

A qualificação do mercado de trabalho – o desenvolvimento do sistema de competências – é o tema do último capítulo deste livro, no qual a construção do conceito de habilidade e a criação de um sistema de competências baseado no conceito de “qualificações pessoais” foram comparadas com manifesta vontade política do MEC de adaptar, à brasileira, diferentes propostas do modelo inglês de capacitação profissional.

Trevisan compreende que o simples transplante de modelos para outras realidades é pouco prudente. Entretanto, o autor afirma que “conhecer um pouco do método e da estrutura da solução inglesa pode nos ajudar a entender e antecipar problemas”, o que torna obrigatória a leitura deste livro por educadores interessados na gênese das mudanças educacionais brasileiras.

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: marco.constantino@estadao.com.br

 

 

1Pedagogo; Mestrando em Psicologia na Universidade São Marcos.