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Interações

versão impressa ISSN 1413-2907

Interações v.8 n.16 São Paulo dez. 2003

 

RESENHAS

 

 

Fátima Ali Zahra Iak1

Universidade São Marcos. Programa de Pós-graduação em Psicologia

Endereço para correspondência

 

 

CAPOVILLA, Alessandra G. S.; CAPOVILLA, Fernando C. Problemas de leitura e escrita: como identificar, prevenire remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Memnon,2000. 251 p.

O principal objetivo dos autores é propor o Método Fônico de Alfabetização, e neste sentido apresentam procedimentos que per­mitem a verificação do desempenho da consciência fonológica – que é a discriminação e automatização dos fonemas – e a intervenção a partir do ensino de correspondências grafo-fonêmicas a indivíduos em processo de alfabetização.

No capítulo inicial está contextualizada a evolução cultural da escrita desde o seu início no Oriente Próximo, em suas formas rudimentares de produção de pictogramas em argila úmida, a descrição do período de surgimento dos logogramas, o registro do momento de produção dos sistemas silábicos e o surgimento do alfabeto

Em seguida os autores fazem um paralelo entre a história do desenvolvimento da linguagem escrita pela humanidade e o processo de alfabetização – quando apresentam a evolução tanto no âmbito da filogênese quanto da ontogênese, passando pelas mesmas fases logográfica, alfabética e ortográfica.

As teorias sobre as habilidades envolvidas no processo de alfabe­tização são descritas e ilustradas por meio de um elaborado fluxogra­ma, que mostra o movimento das duas rotas de leitura – a fonológica e a lexical – verificadas experimentalmente pela nomeação de figuras e repetição de sons. Há uma explicação detalhada sobre o processo, tor­nando acessível a compreensão desse complexo sistema. Discutem as questões funcionais envolvidas nos processamentos auditivo e visual de identificação de palavras e não-palavras, assim como os de sons lingüísticos e não-lingüísticos, procedendo à detalhada explicação sobre o funcionamento das categorias indicadas nas rotas fonológica e lexical. Concluem que há correlação entre baixa capacidade de processamento fonológico e dificuldades de leitura e escrita.

Na busca de procedimentos de intervenção adequados à realidade da criança brasileira, os autores efetuaram quatro estudos pilotos tes­tando questões abrangentes implicadas na avaliação de habilidades lin­güísticas: leitura, escrita e consciência fonológica. Esses estudos foram efetuados com crianças matriculadas em escolas públicas e particula­res, do Maternal até Quinta Série, e tiveram como objetivo desenvolver testes para avaliação da consciência fonológica, de ditado e leitura.

A partir desses estudos, propõem atividades que permitem desen­volver a consciência fonológica, e apresentam o Modelo Fônico de Al­fabetização – um modo de alfabetização historicamente anterior ao modelo global, que é no momento o mais largamente utilizado no Brasil.É possível, por meio da observação dos gráficos apresentados no livro sobre as situações experimentais, deduzir que o modelo fônico pode favorecer a aquisição da leitura, escrita e aprendizagem da correlação grafema/fonema, e oferecer ganhos significativos para as crianças com déficit de aprendizagem da leitura e escrita.

Os autores propõem uma utilização generalizada do seu método, em substituição a outras formas consideradas bem sucedidas no ensino da leitura, como, por exemplo, o método construtivista. Este método encontra-se em um pólo oposto ao fônico, ao propor que as unidades de leitura sejam apresentadas no todo, colocando a criança em contato inicialmente com textos inteiros, em um momento seguinte com pala­vras, e finalmente com as letras.

Atualmente o método fônico é oficialmente adotado em alguns Estados americanos, em Cuba e na Inglaterra, entre outros países. No Brasil, o modelo de ação já está sendo posto em prática em alguns estabelecimentos de ensino.

Esta obra apresenta, pois, importante contribuição, ao oferecer uma proposta construída a partir das singularidades da nossa língua. Porém, há uma questão que precisa ser discutida: o professor possui o conhecimento preciso e necessário dos fonemas? Sendo a resposta positiva, o modelo fônico mostra-se como uma alternativa interessante, com resultados positivos documentados e com amplas possibilidades de aplicação no processo prático de alfabetização, e a leitura deste livro pode ser recomendada como ferramenta de trabalho.

Acrescento, porém, que o desenvolvimento das habilidades en­volvidas no processo de aprendizagem da leitura expande-se para além da decodificação de signos. Contribuir com a formação de bons leitores é uma tarefa que ultrapassa o ensino de técnicas de modo exclusivo e direcionado.

O autor é Mestre em Psicologia da Aprendizagem e Ph.D. em Psicologia Experimental Humana; a autora é Mestre e Doutora em Psicologia. Ambos desenvolvem estudos sobre reabilitação cognitiva de distúrbios da leitura e escrita.

 

 

Endereço para correspondência
E-mail: fatiz@uol.com.br

 

 

1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade São Marcos.