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Estudos de Psicologia (Natal)

versão impressa ISSN 1413-294Xversão On-line ISSN 1678-4669

Estud. psicol. (Natal) vol.26 no.3 Natal jul./set. 2021

http://dx.doi.org/10.22491/1678-4669.20210025 

10.22491/1678-4669.20210025

PSICOLOGIA SOCIAL DO TRABALHO

 

Sobre o sentido da prática clínica em tempos de pandemia: reflexões de psicoterapeutas brasileiros

 

On the meaning of clinical practice in pandemic times: reflections of Brazilian psychotherapists

 

Sobre el significado de la práctica clínica en tiempos de pandemia: reflexiones de psicoterapeutas brasileños

 

 

João Carlos Caselli MessiasI; Vera Engler CuryI

IPontifícia Universidade Católica de Campinas

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O sentido do trabalho constitui fenômeno polissêmico que abrange diversas áreas. A pandemia causada pela disseminação do novo coronavírus em escala mundial repercute em todas e altera a realização das atividades laborais, demandando dos trabalhadores adaptações. Neste estudo foram realizadas entrevistas virtuais com 15 psicoterapeutas experientes, representantes de todas as regiões brasileiras e que adotam orientações teóricas distintas: psicanálise, comportamental e humanista. A questão norteadora foi "qual é o sentido do trabalho para você"? Efetivou-se análise fenomenológica a partir da construção de narrativas, após cada encontro. Posteriormente, elaborou-se uma narrativa síntese contendo elementos significativos que estruturam o fenômeno. Os psicoterapeutas percebem uma quebra de paradigma nos atendimentos virtuais; referem impacto emocional nos clientes em função da perda de privacidade; sentem cansaço maior decorrente de longos períodos sentados frente ao computador. A autonomia que valorizam na atuação clínica está preservada, mas são desafiados a flexibilizá-la face a demandas emocionais emergenciais.

Palavras-chave: trabalho; psicologia clínica; estudo fenomenológico; pandemia; coronavírus.


ABSTRACT

The meaning of work is a polysemic phenomenon covering various areas. The pandemic caused by the spread of the new coronavirus on a worldwide scale has repercussions in all of those areas and alters the performance of work activities, requiring adaptations from workers. In this study, virtual interviews were conducted with 15 experienced psychotherapists, representatives from all Brazilian regions and who adopt different theoretical approaches - psychoanalytic, behavioral and humanistic. The guiding question was "what does work mean to you"? A phenomenological analysis was performed, and it was based on the construction of narratives after each meeting. Subsequently, a synthesis narrative was elaborated containing significant elements that structure the phenomenon. Psychotherapists perceive a paradigm shift in virtual care; refer emotional impact on clients due to loss of privacy; feel more tired from long periods of sitting in front of the computer. The autonomy they value in clinical practice is preserved, but they are challenged to make it more flexible due to emergency emotional demands.

Keywords: work; clinical psychology; phenomenological study; pandemic; coronavirus.


RESUMEN

El significado del trabajo es un fenómeno polisémico que cubre varias áreas. La pandemia causada por la propagación del nuevo virus corona a escala mundial tiene repercusiones en todas y altera el desempeño de las actividades laborales, lo que requiere adaptaciones de los trabajadores. En este estudio, se realizaron entrevistas virtuales con 15 psicoterapeutas experimentados, representantes de todas las regiones brasileñas y que adoptan diferentes enfoques teóricos: psicoanalítico, conductuales y humanísticos. La pregunta guía fue "¿cuál es el significado del trabajo para usted"? Se realizó un análisis fenomenológico basado en la construcción de narrativas después de cada reunión. Posteriormente, se elaboró una narrativa de síntesis que contiene elementos significativos que estructuran el fenómeno. Los psicoterapeutas perciben un cambio de paradigma en la atención virtual; referir el impacto emocional en los clientes debido a la pérdida de privacidad; sentirse más cansado de largos períodos de estar sentado frente a la computadora. La autonomía que valoran en la práctica clínica se conserva, pero tienen el desafío de hacerla más flexible ante las demandas emocionales de emergencia.

Palabras clave: trabajo; Psicología clínica; estudio fenomenológico; pandemia; coronavirus.


 

 

A necessidade humana de atribuição de sentido às próprias vivências constitui um dos pilares centrais do pensamento existencialista, evidente nas obras de Frankl (2008) e Sartre (1978). A vida não tem sentido a priori e caberá a cada ser humano atribuir-lhe o seu próprio à medida que vive e faz escolhas, balizadas pela concretude de suas ações. A Psicologia Humanista, nascida no contexto norte americano da segunda metade do século XX, a partir de um rompimento com as escolas tradicionais em Psicologia, em especial a psicanálise freudiana e o behaviorismo skinneriano, em função exatamente de constatações advindas da prática clínica em instituições e na comunidade, incorporou tais premissas ao privilegiar a experiência vivida pelos clientes. A mais significativa abordagem que se desenvolveu na cena humanista naquele contexto – com repercussão nos meios acadêmicos e no campo das intervenções psicológicas clínicas e sociais - foi a Abordagem Centrada na Pessoa, criada pelo psicólogo Carl Rogers. Posteriormente, cerca de duas décadas mais tarde, um dos principais colaboradores de Rogers, Eugene Gendlin, desenvolveu a Abordagem Experiencial, também conhecida como Filosofia do Implícito (Messias & Cury, 2006), que enfatizou o processo pelo qual cada pessoa realiza sua singular atribuição de sentido ao vivido.

A base conceitual da Abordagem Experiencial encontra-se no Modelo Processual (Gendlin, 2018), que consiste numa ampliação da Experienciação e da Criação do Significado (Gendlin, 1962). De acordo com esse referencial, a questão do sentido é tratada de maneira fenomenológica, fiel às concepções de intencionalidade da consciência que remontam a Franz Brentano e Edmund Husserl, bem como compatível com o existencialismo de Viktor Frankl e Jean Paul Sartre.

Abordar a questão do sentido no âmbito do trabalho implica considerar uma pluralidade de perspectivas, a partir de variados referenciais conceituais e epistemológicos que parecem manter consenso apenas em relação à centralidade do trabalho na vida das pessoas nas sociedades atuais. Colomby e Costa (2018) elencaram dez categorias, a saber, fisiológica, cultural, religiosa, espiritual, ideológica, econômica, política, legal, psicológica e social, com o propósito de apresentar um abrangente panorama acerca do tema e convidar à superação de barreiras de interlocução, praticamente as mesmas do estudo de Colomby, Oltramari, e Rodrigues (2018).

Bendassolli e Gondim (2014) constataram que os estudos dedicados a discutir significados e sentidos do trabalho limitavam-se a compreendê-lo como uma produção coletiva – no caso do significado – ou como uma produção individual – no caso do sentido. Para superar tal restrição, propõem uma tríade que inclui o caráter mediador do trabalho como atividade que situa a pessoa no mundo. Outra perspectiva de mediação do sentido do trabalho foi investigada por Akgunduz, Alkan, e Gök (2018) nas relações entre personalidade proativa, criatividade e suporte organizacional percebido. Tomando como fator de análise o modelo JD-R de demandas e recursos no trabalho, Anthun e Innstrand (2016), por sua vez, verificaram diferenças em relação ao impacto desses elementos no sentido do trabalho de acordo com distintas faixas etárias de trabalhadores, sendo que nas pessoas mais velhas o sentido de comprometimento se destaca.

Diversos estudos acerca do sentido do trabalho vêm sendo desenvolvidos considerando distintos grupos de profissionais, como os ligados à cultura Hip Hop (Bispo, Dourado, & Amorim, 2013), mulheres em ambiente financeiro (Spinelli-de-Sá, Lemos, & Cavazotte, 2017), peritos criminais (A. L. Rodrigues, Barrichello, Irigaray, Soares, & Morin, 2017), artistas de circo (Medeiros, Lima, Paiva, & Araújo, 2018), grupos étnico religiosos (Sharabi, 2018), pessoas com deficiência (Galvão, Lemos, & Cavazotte, 2018) e trabalhadores migrantes (Comin & Pauli, 2018), entre outros. Contudo, estudos específicos a respeito do sentido que psicoterapeutas têm a respeito de seu próprio trabalho são raros. Pode-se afirmar que psicoterapeutas são profissionais acostumados a trabalhar os sentidos que seus clientes atribuem às diversas facetas de suas vidas, dentre elas, a profissional. Hill et al (2015) identificaram que psicoterapeutas experientes sentem-se realizados, conectados e satisfeitos a partir da ajuda aos outros e à contribuição para um mundo melhor, em consonância com os achados de Kernes e Kinnier (2007), que descrevem uma percepção de vida significativa associada a amor, ajuda e compaixão, sustentada por relações íntimas com família e amigos.

A partir de uma experiência de psicoterapia em grupo, Correia e Moreira (2016) perpassam esse tema ao explorar significados da relação intersubjetiva psicoterapeutas-clientes-mundo, evidenciando que o sentido se produz nessa dimensão de troca, permitindo aos psicoterapeutas terem, eles próprios, maior abertura e possibilidade de transformação. Palma e Gondim (2019), por sua vez, procuraram compreender as relações entre orientação epistêmica, o estilo pessoal e as estratégias de regulação emocional de psicoterapeutas. Nesse interessante estudo comprometido com uma perspectiva da experiência ancorada na prática, foi possível identificar razões que explicam o modo de atuar desses profissionais, elemento que pode estar relacionado ao sentido do trabalho para eles.

Em um conjunto de dois artigos, Carvalho e Matos (2011a; 2011b) discutem o desenvolvimento pessoal e profissional presente no desenvolvimento da prática clínica de 20 psicoterapeutas portugueses considerados experientes e que atuavam segundo diferentes orientações teóricas. No primeiro grande tema – experiências relacionais – são analisadas vivências profissionais (com seus impactos positivos e negativos) e pessoais (abordando escolhas e relação terapêutica). No segundo grande tema – etapas e mudanças – foram analisados elementos relativos ao domínio sobre cada aspecto, profissional e pessoal.

O contexto atual mostra-se relevante e desafiador para estudos que tenham como foco a vivência subjetiva das pessoas em relação ao trabalho que desenvolvem. Com o advento da pandemia da Covid-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), mudanças vêm impactando de maneira inusitada a forma como as pessoas desenvolvem suas atividades profissionais. Diante do fato de, num primeiro momento, ainda não haver vacinas ou medicamentos comprovadamente eficazes para prevenir ou tratar a doença e, por tratar-se de uma enfermidade altamente transmissível por meio de fluidos corporais, ou seja, por contato próximo entre pessoas (Wang, Wang, Ye, & Liu, 2020), o isolamento social foi a medida mais adotada na maioria dos países ao redor do mundo objetivando impedir ou retardar a contaminação em massa da população.

Trabalhadores diretamente ligados aos cuidados com clientes acometidos por essa doença têm apresentado sintomas de depressão, ansiedade, insônia e estresse (Lai et al., 2020). Agravos à saúde psicológica da população como um todo incluem transtorno de estresse pós-traumático, confusão, raiva e ansiedade. Esses sintomas têm sido potencializados pelo isolamento social, medo da própria morte ou da perda de pessoas próximas, pela disseminação de notícias falsas (fake news), pela frustração e pelo tédio (Brooks et al, 2020; Jung & Jun, 2020). Em função deste cenário alarmante, refletir sobre o sentido do trabalho e as condições em que ele passará a ser exercido merecem destaque (Oliveira, Oliveira-Cardoso, Silva, & Santos, 2020), bem como as iniciativas que propõem novas alternativas para as intervenções psicológicas, visando tanto a população em geral quanto os profissionais da área de saúde (Schmidt, Crepaldi, Bolze, Neiva-Silva, & Demenech, 2020).

Repentinamente, inúmeros trabalhadores ao redor do mundo tiveram que passar a exercer suas atividades de maneira remota a partir de onde estavam confinados, o que não foi diferente em relação aos psicólogos clínicos. Em março de 2020, o Conselho Federal de Psicologia publicou a Resolução 04/2020 flexibilizando o atendimento psicológico por meio de tecnologias da informação e da comunicação, previamente regulamentado pela Resolução nº 011/2018. Para tanto, em caráter emergencial, o registro via "Cadastro e-Psi" (link: https://e-psi.cfp.org.br/) passou a ser suficiente para o exercício da psicoterapia.

O interesse pela prática da psicoterapia online já existia antes de ser regulamentada e autorizada no Brasil pelos órgãos de regulação profissional. Pieta e Gomes (2014) concluíram que a psicoterapia por meio virtual é promissora em função de não prejudicar a relação terapêutica e configurar uma alternativa interessante em um país de dimensões continentais como o Brasil. Aspectos éticos, técnicos e normativos demandam, no entanto, atenção e reflexões, segundo pesquisas subsequentes (Pieta, Siegmund, Gomes, & Gauer, 2015; C. G. Rodrigues & Tavares, 2016; Siegmund, Janzen, Gomes, & Gauer, 2015). Em um estudo com 155 psicoterapeutas, Hallberg e Lisboa (2016) identificaram que esses profissionais reconhecem o uso cada vez maior da tecnologia na vida de seus clientes, bem como também são usuários, eles próprios. Contudo, o emprego de recursos provenientes de tecnologias da informação e comunicação nos atendimentos configurava exceção na amostra.

Por meio de uma Revisão Sistemática, Singulane e Sartes (2017) encontraram evidências de que a formação da aliança terapêutica na Terapia Comportamental Cognitiva realizada por videoconferência poderia ser equiparada à presencial. Roesler (2017), por outro lado, adverte acerca das limitações derivadas da perda de indícios não verbais, especialmente no caso de clientes com dificuldades de estabelecer relacionamento de confiança.

 

Método

Esta pesquisa de campo estruturou-se como um estudo qualitativo e fenomenológico e teve como objetivo compreender o sentido que psicoterapeutas de diferentes orientações teóricas e atuantes nas cinco regiões do Brasil atribuem ao seu trabalho. Para tanto, foram escritas Narrativas Compreensivas, estratégia metodológica desenvolvida por pesquisadores do grupo Atenção Psicológica Clínica em Instituições: Prevenção e Intervenção, vinculado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (Brisola, Cury, & Davidson, 2017) que consistem em um registro do encontro dialógico com cada participante no qual o pesquisador relata, a partir de suas próprias percepções e impressões, os elementos significativos compartilhados em relação ao foco de interesse da pesquisa. Desta maneira, inicia-se o procedimento de análise fenomenológica husserliana que prossegue, após a escrita de todas as narrativas individuais, com a construção de uma Narrativa Síntese contendo os elementos significativos das experiências dos participantes como um todo para que possa emergir a estrutura do fenômeno. No caso deste estudo, com o objetivo de atender aos critérios previstos no COREQ (Tong, Sainsbury, & Craig, 2007), um segundo encontro com cada participante foi realizado para validação da narrativa compreensiva.

Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, os participantes foram convidados por conveniência a partir das redes de contato dos pesquisadores de acordo como o método de "bola de neve". Dois encontros, o dialógico e o de validação, foram realizados com cada participante por meio de videoconferência. As datas, horários e plataformas virtuais adotadas (Zoom, Skype e WhatsApp) variaram de acordo com a conveniência dos participantes, durante os meses de abril e maio de 2020, período marcado pelo confinamento (total ou parcial) nas cidades em que atuam profissionalmente no momento. À época do final do trabalho de campo, o Brasil contava com mais de 390.000 casos confirmados e 24.500 mortes pela Covid-19.

A partir de 45 indicações iniciais, 15 psicoterapeutas, sendo quatro homens e 11 mulheres participaram do estudo, sendo pelo menos um representante de cada uma das principais abordagens teóricas - psicanalítica, comportamental e humanista - e que atuassem em cada uma das cinco regiões do país. Intencionou-se garantir representatividade das principais matrizes teóricas em Psicologia, diferenciando-as apenas entre elementos mais amplos (como a ênfase no psiquismo inconsciente ou no comportamento observável, por exemplo) e da maior parte dos estados do país, a saber: Acre, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe. Dos 15 participantes, apenas um possui título de doutor; cinco possuem títulos de mestre; cinco possuem diplomas de especialistas lato sensu reconhecidos pelo MEC (LS) e quatro são certificados por cursos de aprimoramento reconhecidos por sociedades científicas (AP), como a Sociedade Brasileira de Psicanálise, por exemplo (Tabela 1).

 

 

O TCLE foi enviado por e-mail previamente e somente após a assinatura digital do mesmo, o primeiro encontro foi agendado com cada um dos participantes. No início de cada encontro virtual, o pesquisador fez uma única pergunta norteadora "qual é o sentido do trabalho para você"? Então, os participantes puderam discorrer livremente sobre o tema. Após cada encontro, foi escrita uma narrativa compreensiva contendo os elementos significativos percebidos empaticamente pelo pesquisador durante o encontro dialógico, além de suas próprias impressões. As narrativas foram lidas e discutidas com os membros do grupo de pesquisa Psicologia e Trabalho: Abordagem Experiencial do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da PUC Campinas. No segundo encontro, foi validada junto a cada participante, que a lia em voz alta e tinha liberdade para alterar o conteúdo, se considerasse necessário. Poucas alterações foram solicitadas pelos participantes. Alguns pediram, por exemplo, para que fosse modificada a ordem de determinadas passagens. Após esta etapa da análise fenomenológica, foi elaborada uma Narrativa Síntese, contendo os elementos estruturantes da experiência em foco no estudo.

 

Resultados

A narrativa síntese que será incluída na íntegra, a seguir, expressa os principais elementos estruturais do fenômeno em foco no presente estudo. Assim, possibilita uma visão compreensiva e também interpretativa.

Os participantes, de um modo geral, iniciaram os encontros referindo-se a como ingressaram na profissão de psicólogos e como escolheram dedicar-se à prática clínica privada. A maioria exerce a função de psicoterapeuta como atividade principal a partir de um processo que envolveu uma tomada de decisão a respeito da importância que atribuíam a autonomia e liberdade de ação. O retorno financeiro é secundário e visto como consequência. Alguns dedicam parte do tempo de trabalho ao ensino universitário ou a cursos de formação de psicólogos. Referem-se à autonomia que a profissão proporciona com um sentimento de liberdade para trabalhar segundo suas próprias regras e sem chefia. Uma outra gratificação importante diz respeito à motivação e interesse em ajudar pessoas ou a aprender como funcionam ou como se estruturam as personalidades; este elemento apresentou variações em função da orientação teórica adotada. Com a pandemia provocada pelo novo coronavírus, foram surpreendidos pela necessidade de alterar rapidamente a forma de atendimento, uma vez que, após decretada a quarentena no país, não foi mais possível dar continuidade aos atendimentos presenciais. A mudança de paradigma em decorrência de atendimentos por meio de plataformas virtuais implicou numa adaptação por parte deles e dos clientes e numa flexibilização em relação a alguns aspectos do relacionamento profissional, anteriormente estabelecido. Referem-se a problemas decorrentes da falta de privacidade vivida pelos clientes (e por eles próprios) para poderem falar livremente sobre seus problemas em ambientes compartilhados com cônjuges, filhos ou outras pessoas da família. Por outro lado, adentrar pela primeira vez os lares dos clientes representou uma ruptura com o setting terapêutico estabelecido e exigiu alguns acertos em relação a regras e contratos de trabalho. Um outro elemento peculiar foi referido em relação ao fato de que alguns clientes precisam refugiar-se em banheiros ou quintais para conseguirem privacidade para conversar com o psicoterapeuta e isto provoca situações inusitadas no contato a distância, além de eventuais interrupções que não ocorreriam nos consultórios. As disparidades regionais fazem-se presentes em relação a dificuldades com a qualidade e disponibilidade de serviços de acesso à Internet. Para eles, a pandemia deflagrou novos conteúdos ou ampliou conteúdos já vivenciados pelos clientes, mas não lhes parece ter alterado significativamente o modo de ser das pessoas atendidas. No entanto, é flagrante o incremento de sintomas de ansiedade e depressão nos clientes como decorrência do medo da morte, da perda de entes queridos ou em função da falta de perspectiva financeira ou perda de emprego. Em decorrência, a maioria dos participantes apontou uma diminuição no número de atendimentos semanais, implicando em perda financeira que acarreta preocupação em relação ao futuro. Interessante perceber que os psicoterapeutas mais velhos parecem adaptar-se melhor às alterações na rotina e forma de trabalho. Todos reclamam de um novo tipo de cansaço motivado pelo desconforto de terem que ficar longos períodos sentados à frente de uma tela numa mesma posição; sentem falta da espontaneidade proporcionada pelas salas de atendimentos onde podiam usufruir de maior conforto e de um contato visual de corpo inteiro com os clientes. Também usufruíam de maior privacidade para exercer a atividade num ambiente profissional apropriado. Um elemento positivo apontado pelos participantes diz respeito à possibilidade de trocas e interlocuções mais frequentes com colegas e grupos de estudo durante este período em que todos permanecem em casa porque não se perde tempo com deslocamentos e viagens para este tipo de reuniões que também estão acontecendo a distância. Um último elemento que parece ser compartilhado por todos os participantes é a incerteza frente ao futuro: embora adaptados às novas condições de trabalho, perguntam-se sobre o que acontecerá após a pandemia; se haverá mudanças significativas nas relações com os clientes ou não. Grande parte dos clientes atendidos online já haviam iniciado a psicoterapia anteriormente. Todos manifestaram, no entanto, a certeza de que pretendem dar continuidade a atividade de psicoterapeutas, embora alguns sintam-se animados com a ideia de que outras formas de atenção psicológica poderão surgir e serão bem-vindas. Não foram constatadas diferenças importantes quanto às experiências comunicadas por homens e mulheres, embora o número de participantes do sexo feminino tenha sido consideravelmente maior. Quanto às diferenças regionais, fizeram-se mais presentes em função da disparidade conjuntural de expansão da COVID 19 no país e não pelo sentido atribuído ao trabalho especificamente. Por exemplo, psicoterapeutas das regiões mais atingidas pela pandemia no momento dos encontros, sudeste e norte, enfrentavam sentimentos de medo e angústia semelhantes aos dos clientes atendidos, fato que dificultava um pouco a capacidade para se concentrarem nas vivências dos clientes sem se identificarem, em alguma medida, com elas.

 

Discussão

As repercussões da eclosão da pandemia da Covid-19 são imprevisíveis, de proporções globais e têm sido comparadas às duas Guerras Mundiais, à quebra da bolsa de Nova Iorque nos anos 1920, à gripe espanhola ou à peste negra. Inúmeros são os impactos sociais, políticos, financeiros e ecológicos, dentre outros. Se, por um lado, pessoas estão em confinamento e o mundo entra em recessão econômica, por outro há relatos de melhoras nos ecossistemas naturais, qualidade do ar, da água e da vida selvagem (Corlett et al., 2020). A afirmação existencialista de que quando uma pessoa faz uma escolha, decide por toda a humanidade (Sartre, 1978), ganha drástica concretude quando se observam tensões sociais e acaloradas discussões em função da necessidade de quebra da cadeia de contágio, uso de máscaras ou posicionamento pessoal diante do isolamento social.

Essa perspectiva é a base do Modelo Processual de Gendlin (2018). Ele propôs um modelo de compreensão sobre os fenômenos vitais que tem como pressuposto essencial uma interação primordial da natureza, como um todo. Assim, o ser humano é visto como parte integrante de um sistema complexo, carregado de uma trama intrincada de potenciais sentidos implícitos, numa compreensão totalmente oposta ao mecanicismo. Essa perspectiva condiz com as observações de Colomby e Costa (2018) e de Colomby et al. (2018) no tocante às múltiplas dimensões a serem consideradas para a compreensão do sentido do trabalho.

O contexto global exemplifica o argumento de que processos geram estruturas e não o oposto (Gendlin, 2012). Em nível macro, significa que as nações terão que responder à maneira como o mundo está configurado e repensar modelos de saúde, sociais, econômicos, produtivos, políticos, educacionais, culturais, entre outros. No nível micro, foi possível observar que os participantes do presente estudo também precisaram se reposicionar diante de novas contingências, como alertam Oliveira et al. (2020).

Da mesma forma, a busca por sentido em variadas esferas da vida pode configurar um elemento de proteção à saúde psicológica, ao passo que, a falta dele implica sofrimento angustiante, como enfatiza Frankl (2008). Notícias a respeito de ações solidárias, apoio aos profissionais da chamada "linha de frente" (especialmente os da área da saúde) são tão frequentes quanto às relativas ao aumento do estresse, ansiedade, depressão, corroborando as considerações de Brooks et al. (2020) e de Jung e Jun (2020). Os participantes deste estudo, de maneira geral, mostraram-se disponíveis e interessados no bem-estar dos seus clientes. No entanto, eles próprios foram pessoalmente afetados de maneiras diversas, em função da região onde residem. Aqueles que atuam nas regiões sudeste e norte foram mais demandados; outros expressavam maior apreensão à medida que os casos aumentavam em seu entorno. Esses elementos vão ao encontro das reflexões de Schmidt et al. (2020) e indicam a importância do cuidado, não só com a população em geral, mas também com os profissionais da saúde.

A análise dos dados do presente estudo corrobora pesquisas anteriores quanto à possibilidade de atendimentos psicoterápicos serem oferecidos a distância sem o comprometimento da sua qualidade, embora, na maioria dos casos, os profissionais entrevistados estivessem dando continuidade a processos terapêuticos já iniciados anteriormente de maneira presencial. A experiência dos participantes vai ao encontro das conclusões de Pieta e Gomes (2014) de que a psicoterapia por meio virtual é promissora em função de não prejudicar a relação terapêutica e configurar uma alternativa interessante em um país de dimensões continentais como o Brasil.

Na prática, eles estão tendo que inovar as maneiras de exercer a psicoterapia, o que atualiza as necessidades apontadas por diversos autores, dentre os quais, Pieta et al. (2015), Siegmund et al. (2015), C. G. Rodrigues e Tavares (2016), uma vez que a realidade atual impõe mudanças que não haviam sido previstas em estudos anteriores, realizados em um momento no qual a psicoterapia online era, apenas, uma possibilidade. Com o advento da pandemia e a necessária flexibilização das normas do Conselho Federal de Psicologia (Resolução nº 4, 2020), a exceção tornou-se regra em um brevíssimo espaço de tempo e sem que os profissionais tivessem, em sua maioria, se capacitado para esta modalidade de atendimento a distância.

Dentre as dificuldades apontadas pelos participantes, a falta de privacidade foi, sem dúvida, a mais relevante. Ficou mais evidente em relação aos clientes que não podem contar com um ambiente doméstico que lhes assegure espaço físico adequado para se sentirem seguros para compartilhar com o psicoterapeuta seus problemas emocionais. Essa constatação confirma as considerações de Roesler (2017) sobre as condições não serem favoráveis; porém, também encontra respaldo nos achados de Singulane e Sartes (2017), pois nos casos em que a privacidade não estava ameaçada, o processo terapêutico pôde prosseguir sem prejuízo. Alguns dos participantes manifestaram desconforto, também, em relação a terem que atender a partir de seus lares, implicando num esforço de adaptação. Paradoxalmente, porém, foi percebida uma melhora na relação com alguns clientes que pareciam apreciar este novo tipo de intimidade com o psicoterapeuta.

A mudança compulsória para o ambiente virtual também trouxe fatores positivos. Vários participantes relataram ter passado a considerar mais a possibilidade de atuar online e, diante disso, a perceber que essa pode ser uma alternativa mais viável para uma parcela dos clientes, especialmente em função da redução de custos com deslocamentos e, assim, poderem dispor de mais tempo para realizar as atividades cotidianas. Este dado sinaliza um avanço em relação ao constatado por Hallberg e Lisboa (2016), ainda que de maneira não planejada. Por seu lado, os próprios participantes demonstraram satisfação em poderem participar mais de grupos de estudos, fóruns, lives em redes sociais e discussões online, o que lhes trouxe um sentimento de pertencimento.

O valor atribuído à liberdade e autonomia foi muito enfatizado por todos. O suporte oferecido por uma organização para que seus trabalhadores possam ter uma atitude proativa no ambiente laboral foi constatada como algo capaz de promover maior sentido e criatividade no trabalho, de acordo com Akgunduz et al. (2018). Tal autonomia não é problema no caso dos psicoterapeutas, mas a sensação de isolamento ou solidão pode ser. Para eles, a nova realidade de contatos virtuais em salas de videoconferências surtiu um efeito inesperado e bem-vindo, mitigando tal distanciamento. Com efeito, permitiu a viabilidade desta pesquisa, que contou com participantes geograficamente muito distantes. Esses fatores também contribuem para um melhor equilíbrio entre recursos e demandas, conforme se avalia por meio do modelo JDR (Anthun & Innstrand, 2016).

Quanto à relevância social das psicoterapias num contexto de urgência sanitária mundial, parece interessante retomar o posicionamento de Bendassolli e Gondim (2014) no sentido de que se torna necessário superar a limitação trazida por uma discussão entre significados e sentidos do trabalho que distingue o significado como uma produção coletiva e o sentido como uma produção individual. Aqueles autores sugerem uma tríade que inclua o caráter mediador do trabalho como atividade que situa a pessoa no mundo. Esta perspectiva nos parece bastante pertinente à prática do psicoterapeuta como mediadora de um reposicionamento das pessoas num contexto de mudanças rápidas e inéditas que as obriga a rever as maneiras cotidianas de viver e relacionar-se. Constatação semelhante foi apontada por Hill et al. (2015) e por Kernes e Kinnier (2007), ao concluírem que psicoterapeutas experientes se sentem realizados, conectados e satisfeitos a partir da ajuda que conseguem disponibilizar aos clientes e à contribuição de seu trabalho para um mundo melhor.

Retomando os achados da pesquisa efetivada por Correia e Moreira (2016) que buscaram explorar os significados da relação intersubjetiva psicoterapeutas-clientes-mundo, nosso estudo também concluiu que o sentido do trabalho para os psicoterapeutas é construído numa dimensão de trocas mútuas. Estas possibilitam aos psicoterapeutas desenvolverem, eles próprios, maior abertura à transformação a partir de uma experiência vicariante com seus clientes, sem que necessariamente tenham vivido as mesmas situações. Este ponto reveste-se de importância num contexto como o atual, pois a maturidade adquirida pelos psicoterapeutas em decorrência de atendimentos a pessoas impactadas pelos efeitos da pandemia, diretos ou indiretos, habilita-os a estarem capacitados a um papel de suporte e matriciamento a profissionais que estão atuando na linha de frente do combate a COVID19. Sem dúvida, os participantes do nosso estudo demonstraram comprometimento e disponibilidade para contribuírem para minorar os efeitos psicológicos que ameaçam a saúde mental da população brasileira a partir da experiência vivida nas relações terapêuticas que funcionam como um microcosmo da sociedade.

 

Conclusões

Este estudo oportunizou um contato direto com mais de uma dezena de psicólogos experientes que atuam, predominantemente, como psicoterapeutas nas cinco regiões geográficas do Brasil num momento em que a pandemia causada pela disseminação do novo coronavírus já se apresentava alarmante por estar perfazendo uma curva ascendente em nosso país. Desenvolvemos uma pesquisa de campo que incluiu encontros dialógicos, conduzidos a distância com cada um dos participantes e que possibilitou a análise fenomenológica a partir da elaboração de narrativas compreensivas e de uma narrativa síntese, contendo os principais elementos significativos estruturantes em relação ao sentido que os participantes atribuem ao trabalho.

Considerando que todos os participantes estavam atendendo seus clientes de psicoterapia virtualmente, este tema surgiu espontaneamente nos diálogos, possibilitando que fossem exploradas as experiências recentes que as novas circunstâncias de isolamento social compulsório impuseram ao exercício profissional, suas decorrências para a relação psicoterapeuta-cliente e para o processo psicoterapêutico em si. As conclusões apontam para a manutenção da qualidade da relação terapêutica, a despeito das novas condições. Constatou-se, também, uma preocupação dos participantes em relação à preservação da dimensão ética na prática terapêutica, independente da abordagem adotada. Tal cuidado foi expresso na descrição de diversas adaptações que visavam preservar a privacidade do atendimento e o sigilo profissional, mesmo quando as sessões terapêuticas tiveram que passar a acontecer mediadas por dispositivos virtuais.

Foi possível perceber que o fato da formação do psicoterapeuta incluir o cuidado com sua própria saúde mental habilita-o a enfrentar esta fase de transformação na vida cotidiana das pessoas e em seus hábitos de convivência com serenidade e abertura a novas experiências. Este elemento é extremamente significativo no sentido de serem os psicoterapeutas capazes de contribuir para estratégias de enfrentamento aos efeitos da pandemia na saúde mental da população.

 

Referências

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Endereço para correspondência:
João Carlos Caselli Messias
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia
Avenida John Boyd Dunlop, s/n
Campinas, SP
CEP 13.060-904
Email: joao.messias@puc-campinas.edu.br / profjoaomessias@gmail.com.

Recebido em 31.mai.20
Revisado em 10.set.21
Aceito em 31.dec.21

 

 

João Carlos Caselli Messias, Doutor em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas), Docente permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). ORCID: http://orcid.org/0000-0002-6487-4407
Vera Engler Cury, Doutora em Saúde Mental pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Docente permanente do Programa Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas), é Coordenadora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas). Emails: vengler@puc-campinas.edu.br e/ou vency2985@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2721-3367

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