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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994

 

DESENVOLVIMENTO

 

Velhice: uma questão psico-social

 

 

Maria de Fátima de Souza Santos1

Universidade Federal de Pernambuco

 

 

O estudo do envelhecimento no domínio das Ciências Humanas é recente, sobretudo no Brasil onde apenas nos últimos anos começam a surgir trabalhos científicos sobre este tema nas áreas da Psicologia, Sociologia etc. A população idosa (com mais de 65 anos), entretanto, cresce significativamente no pais. Em 1991, a população com mais de 65 anos já representava 4,61% da população brasileira (IBGE,1993).

O envelhecimento humano é, antes de tudo, um processo biológico, logo, natural e universal. O homem, como os outros animais, passa por um contínuo processo de desenvolvimento que o leva necessariamente à velhice e à morte. No entanto, ele se diferencia dos outros animais por uma série de características, entre as quais pode-se destacar o fato de que ele é ao mesmo tempo produtor e produto de uma sociedade, de uma cultura e que tem a consciência de si enquanto ser finito, isto é, ele tem consciência de seu processo de envelhecimento e de sua própria morte.

A velhice é também uma convenção sócio-cultural sendo, conseqüentemente, representada de modo diverso nas diferentes culturas. Segundo Diop (1989), em alguns países da África os idosos têm ainda um papel de prestígio na medida em que são responsáveis pela salvaguarda dos valores tradicionais, eles são os "guardiões da herança coletiva". No Brasil, sobretudo nas zonas urbanas, há, no mínimo, uma grande ambivalência com relação aos velhos. Se, por um lado, acentua-se o respeito, a experiência e a sabedoria dos sujeitos idosos, por outro lado é a juventude, a força física, a saúde e o novo que merecem a valorização social. Deste modo, a velhice parece ser representada como decadência, inutilidade, logo, desvalorização do ponto de vista social. Não parece haver lugar para os sujeitos idosos, nem papéis sociais que possam mantê-los como sujeitos e cidadãos.

A idade torna-se, assim, ao mesmo tempo, uma realidade biológica e uma convenção sócio-cultural, onde a cada etapa do desenvolvimento correspondem papéis sociais específicos, valores e expectativas que têm uma grande influência sobre a percepção que tem o sujeito do mundo e sobre sua própria definição enquanto sujeito que interage com este mundo.

Numa pesquisa realizada em 1986 sobre a crise de identidade na aposentadoria (Santos, 1990), 75% dos sujeitos entrevistados consideraram que os outros têm uma imagem negativa dos aposentados. Face à questão "Na sua opinião, como os outros vêem as pessoas aposentadas?", as respostas mais freqüentes eram: "inúteis",,, e sociedade não valoriza os aposentados", "eles vêem como aleijados", "como gente que não serve pr'á nada" etc.

Em geral, do ponto de vista psicossocial, a aposentadoria é o ponto de partida para a velhice. Os dois fenômenos se confundem como se fossem um só. No Brasil, onde a população começa a sua vida profissional antes mesmo dos 15 anos, a idade média da aposentadoria é em torno dos 50-60 anos (Santos, 1990). Mesmo se em certas profissões- por exemplo, naquelas associadas às atividades intelectuais e políticas - a idade é sinônimo de sabedoria e experiência, para a maior parte dos trabalhadores, a aposentadoria é o "atestado oficial da velhice" do qual fala (Guillemard, 1972), é a perda da capacidade produtiva, a inutilidade do ponto de vista social.

Tais conceitos parecem fazer parte da representação social da velhice que circula em nossa sociedade. As representações sociais correspondem às imagens, normas, modelos de comportamento, modelos de pensamento e de explicação da realidade social. As representações produzidas numa dada sociedade são conhecimentos compartilhados coletivamente e reconstruidos pelo sujeito nas relações que ele estabelece com os outros e com as instituições sociais. Como afirma (Jodelet, 1989), ao fazer referência ao conceito de representação social, deve-se levar em conta ao mesmo tempo o fato de que elas são geradas e adquiridas pelo sujeito. Trata-se de compreender não mais a tradição mas a inovação, não mais uma vida social já construída, mas em construção" (p. 82). É fundamental se levar em conta o fato de que as representações sociais são elaboradas durante as trocas nos processos interativos.

A partir das interações estabelecidas pelo sujeito ao longo de sua vida, ele não apenas reconstrói representações acerca de objetos sociais, mas também acerca de si próprio. (Berger e Luckman, 1973) referem-se ao processo de construção da identidade como tendo duas faces: a identidade objetivamente atribuída e a identidade subjetivamente apropriada. Assim sendo, os outros vão mediatizando e atribuindo significados ao sujeito diferenciando-o dos demais e este, por sua vez, vai se apropriando e reconstruindo tais significados para formar as representações, sentimentos, idéias e opiniões acerca de si mesmo, constituindo, assim, sua identidade.

Se a identidade se define pelo conjunto de representações, idéias e sentimentos que tem o sujeito a respeito de si enquanto sujeito que interaje com o mundo, ao se ter acesso às representações relativas a um objeto social qualquer, ter-se-á acesso às formas de pensar e de agir com relação a este objeto. Deste modo, pode-se compreender a influência destas representações sobre o comportamento e a identidade do sujeito. No entanto, o mais importante parece ser a compreensão que se tem da construção do mundo subjetivo a partir dos elementos objetivos da sociedade. Pode-se, então, vislumbrar a ponte entre o mundo individual e o mundo coletivo na perspectiva de um processo sempre em construção.

Assim, é a partir do estudo das representações sociais da velhice que se pode compreender o peso do envelhecimento para o sujeito, a criação do sujeito nos significados sobre envelhecimento e o peso da pressão social que encerra os idosos em um grupo de referência negativa.

Fazer face às mudanças iniciadas pelo envelhecimento numa sociedade que não valoriza o idoso, constitui-se num duplo esforço. A sociedade marginaliza o sujeito que só pode contar com seus recursos individuais para refazer sua identidade. Segundo Tap (1979", pag. 9),

"pela ação e produção de obras o indivíduo se valoriza aos olhos do outro e, em contrapartida a seus próprios olhos, isto ê tão verdadeiro que ele tem necessidade de ser reconhecido, amado, admirado, aceito pelo outro para confirmar seus próprios poder es e desenvolver o sentimento fundamental de ser causa assim como o sentimento de que é valorizado pelo outro e por si mesmo."

O sujeito deve valorizar a si mesmo e obter o reconhecimento do grupo social. A identidade se consolida na percepção que tem o sujeito de seu poder sobre si, sobre os outros e sobre os acontecimentos. Logo, o sentimento de ser rejeitado, desvalorizado pelo grupo social pode atingir a imagem de si, em resumo, a identidade pessoal. Tudo se passa como se fossem as duas faces da mesma moeda: realidade objetiva e realidade subjetiva, para utilizar a expressão de (Berger e Luckman,1973).

A identidade, entretanto, não se estrutura apenas sobre a necessidade de reconhecimento e de valorização. Ainda segundo Tap (1985), o sujeito constrói seu lugar, toma suas posições na sociedade a partir da apropriação da cultura, isto é, do que é proposto pela sociedade a qual pertence. Ter uma identidade é se perceber enquanto pessoa com um conjunto de características relativamente integradas, estáveis e constantes no tempo, o que implica unicidade e permanência.

Quando se fala em estabilidade e permanência não se quer afirmar que a identidade seja imutável. Uma série de variações pode ocorrer durante o curso de vida do sujeito. Ele poderá enfrentar novas situações que podem provocar uma mudança da identidade, uma transformação da estabilidade adquirida. Tais acontecimentos levam o sujeito a integrar um novo aspecto de si o que provoca uma mudança no conjunto que se chama identidade.

No que concerne às pessoas idosas, o problema torna-se mais difícil porque além da diminuição concreta de suas capacidades físicas, da possibilidade de doenças, do aumento da probabilidade de perdas de pessoas afetivamente ligadas ao sujeito - sobretudo seus pares - eles são obrigados a enfrentar o estigma social da velhice, a representação negativa do sujeito velho. No momento em que a dinâmica da reorganização da identidade entra em jogo, o sujeito deve se confrontar com a recusa coletiva da velhice. Se a identidade pessoal se constrói no jogo das relações sociais, uma representação social negativa do grupo ao qual o sujeito pertence poderá fazer eclodir uma representação negativa de si mesmo. Por conseqüência, pode-se se supor que uma representação negativa da velhice atinje, certas dimensões da identidade pessoal, tais como: a dimensão valor, a dimensão autonomia e a dimensão poder.

Baseada nestes conceitos teóricos, esta pesquisa busca compreender a representação social da velhice e suas implicações na identidade dos sujeitos idosos.

 

METODOLOGIA

SUJEITOS

Foram entrevistados 92 sujeitos dos dois sexos, na região urbana do Grande Recife. Os sujeitos forma divididos em dois grupos segundo a idade. O primeiro grupo (GI) foi constituido de 46 pessoas com idade entre 20 a 49 anos e o segundo (G2) foi formado por 46 sujeitos com idade acima de 50 anos. A idade de 50 anos foi estabelecida como limite mínimo por se considerar que no Brasil uma grande parcela da população, sobretudo do sexo masculino, encontra-se economicamente inativo na faixa de idade entre 50-60 anos (IBGE,1983), incluindo-se, evidentemente, todos os tipos de aposentadoria existentes.

Entre os sujeitos entrevistados, 66,3% moravam com suas famílias ou dividiam a casa com amigos; 10,9% moravam só e 22,8% moravam em abrigos. Tal distribuição evidencia a realidade nordestina no Brasil onde a família é ainda percebida como o espaço de afetividade e de sustentação social. Na maioria dos casos, mesmo os jovens, só saem da casa dos pais ao casar-se ou por exigência de estudo ou trabalho. Os velhos também são sustentados por suas famílias e o internamento em abrigos é ainda pouco freqüente, exceto nos casos em que o sujeito não tem laços de família.

PROCEDIMENTO

Todos os sujeitos foram entrevistados a partir de um roteiro pré-estabelecido onde constavam questões relativas aos sentimentos e opiniões sobre a velhice de modo geral, e questões referentes a fatos, sentimentos e opiniões sobre si próprios. Neste artigo serão analisadas algumas destas questões que suscitaram diferenças qualitativas com relação à forma de pensar a velhice.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Dois "modelos" de velhice parecem ser explicitados a partir dos dados obtidos. O primeiro caracteriza-se pela ênfase na experiência e realização. Tais elementos parecem fornecer o núcleo de um modelo de velhice onde o conhecimento da vida teria sido enfim alcançado. Como decorrência desta sabedoria adquirida ao longo dos anos, a velhice traria a ausência de dúvidas e conflitos. Seria, então, um período de calma, paz e tranqüilidade, onde a realização pessoal tendo sido alcançada resta apenas o tempo livre e uma situação econômica equilibrada que permite desfrutar as lembranças do passado e a transmissão do saber às novas gerações.

Neste caso, o momento de entrada na velhice remete aos aspectos cronológicos (50,60,80,90 anos, etc). A idade é marco de passagem para a terceira idade que pode ser vivida como qualquer outra fase do desenvolvimento, salvo no que se refere às atividades que exigem esforço físico.

O segundo modelo ressalta a velhice enquanto situação de perda. De fato, a velhice é aqui associada à perda da saúde (velhice = doença) e da valorização social (velhice = desvalorização, desprezo do outro).

Neste caso, a velhice é quase sempre sinônimo de dependência física ou mental. Vale ressaltar que apesar de não haver na amostra nenhum sujeito dependente fisicamente, mesmo entre o grupo de 50-90 anos, associou-se velhice à doença.

A incapacidade física ou mental ("caduquice", "esclerose" etc.) levaria à perda da autonomia e desvalorização social. O corpo velho é um corpo impotente que suscita o afastamento do outro. Inutilidade, perda de respeito, solidão, fragilidade, desprezo, proximidade da morte são elementos que compõem um modelo de velhice onde a marca fundamental é o sentimento de perda que ele acarreta.

A velhice traria uma série de sentimentos negativos, ou estados subjetivos "que têm um valor negativo em nossa sociedade. Conformismo, desatualização, mal humor e perda das relações afetivas seriam a marca desta fase da vida. Um dos sujeitos chegou mesmo a afirmar que a velhice era "uma forma mofada de ver a vida".

A entrada na velhice é marcada por modificações subjetivas (sentimentos de inadaptação, incapacidade de produzir algo, falta de interesse pela vida etc) ou, prioritariamente, pela sinalização dada pelo outro (infantilização, desprezo, desrespeito, incompreensão etc). O outro parece exercer um papel fundamental nesse processo, na medida em que é a sua reação que estabelece o limite entre juventude e velhice.

É importante observar que o "modelo" da velhice como aquisição de experiência é mais freqüente entre os sujeitos com idade entre 20-49 anos (55,82 /0). Neste grupo o velho é "digno de respeito", "pessoa importante pela sua sabedoria" etc. Os sujeitos com idade acima de 50 anos, entretanto, explicitam prioritariamente (64,11 '*ò), o modelo de uma velhice mais negativa. Os velhos são percebidos como pessoas discriminadas, oprimidas pela sociedade em geral que não têm o afeto nem o respeito do outro.

A relação que tem o grupo com o objeto social (no caso, a velhice) parece ativar a predominância de um ou outro elemento. A relação entre representação e prática social é uma relação de mútua influência: tanto a representação social pode conduzir a mudanças em determinadas práticas com relação a um objeto social, como práticas sociais diversas podem modificar as representações. É, portanto, provável que ao fazer parte do grupo de idosos, os sujeitos sintam as reações dos outros face à velhice, o que os leva a definir a velhice de modo negativo, salientando aspectos relacionais, isto é, o desprezo, areieisâo etc.

Embora se possa fazer referência à existência de dois modelos de velhice o que se observa entre os sujeitos é a ênfase dada a um ou outro modelo. Na grande maioria dos casos encontram-se no mesmo discurso elementos de ambos. Parece mais preciso falarem facetas de um modelo de velhice que abrange elementos aparentemente contraditórios. De fato, a lógica que rege uma representação é uma "lógica natural", como afirma Moscovici (1981). Obedece a critérios sociais e não formais. A contradição explicitada pelos sujeitos revela de fato a contradição social relativa a esta etapa do desenvolvimento.

Alguns dados parecem bastante sugestivos quanto a essa questão (Tabelas 1 e 2). Os resultados apresentados na Tabela 1 demonstram uma semelhança na distribuição dos sujeitos no que se refere à percepção da opinião dos outros sobre os velhos.

 

 

Nos dois grupos a maioria dos sujeitos afirmou que os outros percebem o velho de forma negativa, isto é, como inúteis, frágeis, desprezados, infantilizados, rejeitados e sem poder. Essas respostas deixam claro que, ao referir-se à opinião das pessoas de modo geral, ressaltam-se aspectos negativos. Entretanto, quando a pergunta era colocada diretamente ao sujeito remetendo ao que ele pensa sobre os velhos, observaram-se diferenças entre os grupos.

 

 

Para o grupo 1, os velhos são percebidos de modo mais positivo, isto é, como "alguém que tem experiência", "digno de respeito", "importante pela sua sabedoria" etc. O grupo 2, porém, vê os sujeitos idosos de um modo mais negativo, sendo esta "negatividade" dada pelo outro. Suas definições fazem sempre referências à discriminação social, à opressão feita pela sociedade em geral e à falta de respeito e de afeto.

O que se ressalta desses resultados é a contradição mesmo da sociedade brasileira com relação aos idosos. Tudo se passa como se, por um lado, pudessem ser explicitados os elementos negativos sobre a velhice e o sujeito idoso na medida em que essa opinião é atribuída a outros. Aparece, então, mais claramente o estereótipo do velho inútil, desprezado, sem afeto etc. Por outro lado, há também a orientação social que prescreve o respeito aos idosos. Assim, se a pergunta é colocada diretamente ao sujeito ,isto lhe remete a tais prescrições onde a opinião socialmente aceita deve fazer referências positivas à sabedoria e à experiência dos mais velhos. Entretanto, quando o sujeito faz parte do grupo dos idosos, a velhice é percebida como lugar de perda de respeito, perda de autonomia e de solidão. Parece que o outro lhe dá a referência negativa do grupo ao qual ele pertence.

Tais resultados chamam a atenção por referir-se à imagem social do velho, no sentido utilizado por Rodrigues-Tomé (1972), isto é, ao modo pelo qual o sujeito supõe que os outros o percebam. Este é um elemento importante de análise na medida em que remete à dimensão valor da identidade pessoal. Se a identidade passa pelo desejo de ser reconhecido, amado e aceito, o sentimento de ser rejeitado, desvalorizado pelo grupo pode atingir a identidade pessoal.

Ao analisar as respostas do grupo 2 a respeito da velhice, esperava-se encontrar entre os idosos uma representação negativa de si mesmo. Entretanto, os dados apontam exatamente o contrário. Face às questões relativas aos sentimentos e opiniões sobre si e sobre sua idade, o grupo de sujeitos com idade entre 50 - 90 anos expressou majoritariamente (80,44 /0) sentimentos positivos dizendo-se "satisfeitos", 'felizes", "aproveitando a vida" etc.

É importante destacar que quase a metade desses sujeitos (45,65%) não se definiam explicitamente como velhos, embora ao longo da entrevista ao falar da velhice eles fizessem inúmeras referências a si próprios enquanto parte do grupo de idosos.

Parece que ao definirem a velhice de modo negativo, esses sujeitos não se identificam com o estereótipo de velho e afirmam que "por ter um espírito jovem" não se enquadram nesse grupo. É interessante ressaltar que a idéia de um "espírito jovem" está sempre relacionada ao engajamento social, à motivação para realizar atividades diversas, ao interesse pela vida de um modo geral. Tais atributos parecem estar ligados à juventude, parte da "natureza" do jovem, ao passo que a velhice seria a negação de tudo isso. Ora, ao se sentir realizando atividades e construindo projetos, o sujeito nega a velhice considerando a existência de um "espírito jovem" que permanece apesar das mudanças físicas. A idéia de "espírito jovem" remete a afirmação do preconceito pela sua negação: o velho de "espírito jovem" traz em seu bojo o mesmo preconceito da expressão do "negro de alma branca".

Um outro tipo de observação se impõe. Os sentimentos è opiniões acerca de si mesmo, a identidade pessoal é, como afirma Zavalonni (1973,p.247) "o lugar privilegiado da expressão dos conflitos ideológicos próprios a uma sociedade". É fundamental, por conseqüência, estudar os processos individuais face a tais contradições para que se evidencie não apenas as alternativas de conduta oferecidas pela sociedade, mas sobretudo o processo individual de harmonização entre o eu, o outro e as instituições sociais.

Ao se analisarem tais facetas deve-se levar em consideração que a partir do momento em que o sujeito estabelece sua primeira relação interpessoal, ele é objeto de uma multiplicidade de transmissões, agindo como receptor e transformador do conteúdo que lhe é transmitido. O ser humano em desenvolvimento estabelece, assim, uma relação com o seu ambiente natural e com uma ordem cultural que é mediatizada pelo outro. Este outro é, decerto modo, um representante do ambiente social com suas características históricas, sociais, políticas e econômicas. Assim, este ambiente tem um sistema de representações e de valores que dão um significado à realidade e, por conseguinte, ao que se passa no sujeito. Este deve, então, não apenas compartilhar o significado dos acontecimentos, mas assumir o mundo como se fosse seu. Ele deve aprender na família e nas outras relações que estabelece o que a sociedade exige dos seus membros, isto é, as regras e normas de comportamentos concernentes ao grupo social ao qual pertence. Entretanto, apesar das pressões sociais, ele reelabora as regras e modelos de pensamento.

Se se quer estudar o sujeito é preciso sempre levar em consideração suposição e sua história com relação ao grupo social. Existem, de um lado, as exigências e as formas de autoridade de uma sociedade que são produtos de sua estrutura e de sua história. Por outro lado, existe o modo pelo qual o sujeito apreende essas exigências e essas formas de autoridade, o que é conseqüência da estrutura pessoal, e das relações sociais construídas ao longo da sua história.

 

Referências Bibliográficas

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LABINT - Laboratório de Interação Social Humana
(1) Departamento de Psicologia