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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.4 no.1 Ribeirão Preto abr. 1996

 

PSICOLOGIA E SAÚDE

 

A prevenção da AIDS entre estudantes universitários: a resposta da UFSCAR

 

 

Maria da Gloria G. GimenesI,1; Elisete PedraziniII; Ana Flávia T. BassoIII; Angela C. PontesII; Clayton dos Reis MarqueII; Daniela M. X. de SouzaII; Daniela P. A. MaldonadoII; Elaine C. BertusoII; Elaine L. da SilvaII; Elenice B. ConsonnniII; Denise de C. RomãoIV; Elizabethe BanhosIII

IUniversidade Federal de São Carlos. Departamento de Psicologia
IIUniversidade Federal de São Carlos. Departamento de Enfemiagem
IIIAlunos do curso de graduação em psicologia - UFSCar
IVAlunas do curso de graduação em enfermagem e obstetrícia - UFSCar

 

 

Com o tempo aprendemos que a AIDS não atinge apenas os grupos tradicionalmente chamados de risco (homossexuais, drogados e hemofílicos), mas sim, que ameaça toda a população sexualmente ativa. No Brasil, o número total de casos de AIDS diagnosticados entre os anos de 1980 e 1995 atinge 61.980 pessoas, entre as quais se encontram muitos jovens na faixa etária que compreende o final da adolescência e o início da vida adulta (Ministério da Saúde AIDS, 1995). Estes dados parecem estar de acordo com os cálculos da OMS (Organização Mundial da Saúde), que sugere que quase a metade de todos os infectados por HIV, no mundo, tem menos de 25 anos de idade.

A população jovem passa a ser alvo privilegiado de atenção, não somente pela alta incidência da infecção nessa população, mas também pelo fato de estudos recentes levantarem a possibilidade de que a maioria dos adultos hoje infectados tenham contraído o HIV na juventude.

Diante da expansão da doença, da falta de opções terapêuticas ou de uma vacina eficaz com a possibilidade imediata de utilização, a prevenção ainda se apresenta como a principal arma no combate à doença.

Segundo Bayès (1992), ao adotarmos estratégias eficazes de modificação do comportamento de risco, bem como programas eficientes de prevenção e informação, poderemos, segundo cálculos da OMS, evitar até um terço dos novos casos de contaminação.

Shayer (1994), após ter estudado 449 jovens universitários na cidade de São Paulo, na faixa etária entre 16 e 20 anos, sugere que qualquer tentativa de instalação e manutenção de comportamentos preventivos exige intervenção no sentido de promover mudança de atitude do grupo referencial com relação ao uso do preservativo, de tal forma que venha a maximizar a probabilidade de sua ocorrência. Isto implica que programas efetivos de caráter preventivo precisam ser implementados no contexto sócio-cultural no qual o jovem está inserido.

A universidade, por contar com um grande número de alunos jovens, em plena fase de atividade sexual, chama nossa atenção e torna-se o principal alvo para um programa de intervenção.

Na cidade de São Carlos foram diagnosticados, no período de 1987 a junho de 1995, um total de 332 casos de HIV positivo/AIDS. Um dado preocupante é o número de 150 casos registrados na faixa etária entre 15 e 29 anos, que corresponde a 45,2% do total, segundo os dados do ambulatório de doenças infecciosas - Ambulatório Regional de Especialidades de São Carlos.

Considerando que São Carlos é uma cidade composta por uma expressiva população universitária, a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), através do Departamento de Psicologia, propôs a organização do Serviço de Orientação e Aconselhamento em AIDS (SOA/AIDS) e, atualmente, em conjunto com o Departamento de Enfermagem, vem consolidando a implementação desse serviço com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UFSCar.

Além da relevância de desenvolvermos esse tipo de serviço em nossa comunidade, cabe ainda ressaltar a natureza curricular do curso de psicologia e do curso de enfermagem, que privilegiam a participação do aluno em projetos de intervenção desde o início do processo formativo. Assim, nada mais oportuno do que tentarmos adequar as exigências curriculares de nossos alunos às necessidades e interesses da comunidade universitária.

 

ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DO SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO E ACONSELHAMENTO EM AIDS

O início do planejamento teve como ponto de partida a organização de uma das disciplinas, Serviço e Intervenção em Psicologia (SIP), com ênfase em saúde, com carga horária de 60 horas semestrais, cujo objetivo foi oferecer oportunidade para a prática supervisionada em dois conjuntos de atividades: a intervenção primária (estratégias de prevenção à AIDS) e a intervenção terciária (estratégias de intervenção em psico-oncologia).

Cabe ressaltar que o Departamento de Psicologia já vinha ministrando, em seu curso de graduação recém-criado, a disciplina Psicologia da Saúde, com o objetivo de fornecer subsídios teóricos para as atividades práticas a serem realizadas nessa área. Além disto, projetos de pesquisa, enfocando a relação entre crenças, valores e comportamentos preventivos como modos de enfrentamento diante da perspectiva de diagnóstico de doença grave, vinham sendo desenvolvidos tanto com a participação de alunos da graduação quanto dos de pós-graduação do Departamento, pelo Programa de Pós-Graduação em Educação

Tratava-se, portanto, de enfrentar o desafio de se criar condições que permitissem aos alunos do segundo semestre do Curso de Psicologia vivenciar a prática em Psicologia da Saúde, pela realização da disciplina SIP.

O primeiro conjunto de atividades desenvolvido visava formar o aluno de psicologia, de modo que este viesse a atuar como multiplicador na área de AIDS junto a alunos de diferentes cursos da UFSCar. Esta seria, portanto, a primeira etapa para que pudéssemos iniciar a implantação do SOA/AIDS nessa comunidade universitária.

Posteriormente, o serviço seria implantado em caráter permanente no Serviço de Psicologia Aplicada da UFSCar, com atividades de fluxo contínuo, por meio da realização de workshops, de acordo com o calendário escolar. Além disto, seriam realizados atendimentos individuais visando aconselhamento, encaminhamento para exame de HIV e seguimento.

Programa de Treinamento para a Formação de Multiplicadores

A equipe multi-profissional do COA-Henfil (SP) foi especialmente convidada para ministrar o treinamento para alunos de psicologia da UFSCar. As atribuições centrais desta equipe têm sido o desenvolvimento de outros serviços e implantações de unidades que visem a prevenção da AIDS. Além disso, esses profissionais oferecem treinamento compatível com as normas do Ministério da Saúde, uma vez que esta unidade, vinculada à Prefeitura Municipal de São Paulo desde 1989, faz parte do Projeto COAS (Centro de Orientação e Apoio Sorológico de São Paulo), criado e administrado pelo Ministério da Saúde.

O Programa teve duração de 44 horas e abordou aspectos teóricos e práticos necessários à formação de multiplicadores, entre eles:

• aspectos epidemiológicos e clínicos da infecção pelo HIV;

• limitações, sensibilidade e valor preditivo dos testes (Elisa, IFI, Western Blot);

• testagem e aconselhamento como estratégias de prevenção;

• práticas de sexo seguro e suas implicações para orientação e aconselhamento;

• atuação da equipe multidisciplinar na prevenção da AIDS;

• a inserção do SOA/AIDS no sistema de saúde;

• o profissional de saúde e a AIDS.

O conteúdo foi desenvolvido por meio de aulas expositivas, dinâmicas de grupo, role-playing, discussões de temas importantes. Foi, também, organizada uma visita ao Centro de Orientação e Apoio (COA-Henfil - SP), com o objetivo de oferecer aos alunos e docentes envolvidos a oportunidade de observar a rotina de trabalho deste centro de triagem e encaminhamento de portadores do HIV. Assim, pôde-se observar todas as etapas dos serviços oferecidos neste centro, ou seja, a informação, a discussão em grupos, o atendimento individual, o encaminhamento para a realização do exame de HIV e, finalmente, a entrega do resultado do exame.

Este treinamento permitiu, entre outras coisas, focalizar questões frente a crenças, atitudes, sexualidade humana em geral e à AIDS em particular.

Cabe ressaltar que foram convidados para participar dessa programação docentes de outros departamentos da área da saúde, com o objetivo de estabelecer uma maior integração interdepartamental, facilitando, assim, a organização do SOA/AIDS em caráter multidisciplinar.

Por outro lado, o Departamento de Enfermagem, em disciplinas do Curso de Graduação em Enfermagem, oferece estágio supervisionado relacionado à assistência a portadores de HIV/AIDS, tanto no âmbito ambulatorial quanto no hospitalar, atuando junto aos serviços de saúde da cidade de São Carlos.

Paralelamente a essa atividade, o Departamento desenvolve, juntamente com o Ambulatório Regional de Especialidades, um banco de dados, no qual são cadastrados todos os casos atendidos nesse serviço, que permite o conhecimento da situação epidemiológica local e fornece subsídios para a adoção de medidas de controle.

Especificamente em relação à comunidade universitária da UFSCar, foram desenvolvidos estudos (Cordeiro, 1994(2); Lescura, 1994) que têm contribuído para o conhecimento dessa população.

E, desta forma, o Departamento de Enfermagem, por estar desenvolvendo ações na área, passou a integrar o Programa do Serviço de Orientação e Aconselhamento em AIDS, proposto inicialmente pelo Departamento de Psicologia.

Organização de Workshops na UFSCar

Concluído o treinamento realizado pelo COA-Henfil/SP, os Departamentos de Enfermagem e de Psicologia organizaram o workshop: "O Preparo do Profissional de Saúde para atuar junto a Programas de AIDS". A preparação deste workshop envolveu reuniões para seleção de estratégias de abordagem dos temas a serem tratados, seleção de dinâmicas de grupo para a integração e descontração do grupo e organização do material a ser utilizado, além da divulgação e do recrutamento dos participantes. Seus objetivos, no que diz respeito à formação dos alunos, foram:

1. observar a atuação dos alunos de psicologia, enquanto agentes multiplicadores treinados pelo COA-Henfíl;

2. avaliar a adequação do treinamento oferecido a estes alunos, para que atendesse às necessidades da comunidade universitária,

3. promover o entrosamento entre alunos de psicologia e de enfermagem;

4. iniciar a ampliação e disseminação de informação acerca da prevenção da AIDS, na UFSCar. Além do ensino formal, os alunos de enfermagem receberam o primeiro treinamento oferecido pelos alunos de psicologia, como forma de se integrarem efetivamente à proposta.

A partir da integração de alunos de psicologia e de enfermagem, constituiu-se um grupo para organizar o trabalho de implantação do SOA/AIDS na comunidade. Assim, poderiam ser planejados, enquanto grupo multidisciplinar, os workshops subseqüentes: "Contágio, prevenção e sexo seguro" e "Sexualidade e preconceito em tempos de AIDS".

O conjunto de atividades desenvolvidas para a realização destes workshops, bem como o trabalho de revisão da literatura, as avaliações acerca do conteúdo e das estratégias utilizadas, resultaram na elaboração do roteiro do workshop: "Sexualidade e afeto em tempos de AIDS".

O roteiro deste workshop, como os demais realizados, foi elaborado tomando-se por base os dados obtidos em estudos que investigaram o impacto de variáveis de natureza psicossocial na adoção de diversos comportamentos preventivos para a redução da infecção pelo vírus HIV (Bayés, 1985; Taylor, 1986; Serafino, 1991). Destaque especial foi dado a estudos que avaliam a relação entre conhecimento, atitudes e comportamentos de adolescentes e jovens adultos, com relação à aquisição e ao uso de preservativos.

Cordeiro (1994), ao estudar alunos de diferentes cursos da UFSCar, identificou que a maioria dessa população possuía informações, tanto sobre a infecção pelo HIV quanto sobre a AIDS, e admitia usar preservativo. Entretanto, a autora sugere que a relação entre informação e prática preventiva necessita ser cuidadosamente investigada nessa população.

De modo geral, os resultados de estudos como esse apontam para a baixa relação entre conhecimento sobre a doença, suas formas de transmissão e a adoção de comportamentos preventivos.

Portanto, o conhecimento sobre o que é AIDS e seus modos de transmissão, embora seja importante, não é suficiente para promover as mudanças comportamentais necessárias para impedir o avanço da doença.

Shayer (1994) chama a atenção para o fato de que os jovens ao se relacionarem sexualmente, não só experienciam sensações físicas, mas precisam, paralelamente, lidar tanto com a expectativa do que seja um desempenho sexual adequado quanto com a necessidade de agradar o parceiro. Não obstante, o jovem tem de lidar também com a necessidade de negociar com o parceiro o uso de preservativo, como medida preventiva de contágio pelo HIV. Assim, qualquer programa preventivo, que vise minimizar o aparecimento de comportamentos de alto risco entre a população jovem, precisa não só abordar aspectos informativos, mas ser suficientemente abrangente em aspectos relevantes do desenvolvimento psico-sexual do jovem em seu contexto sócio-cultural.

Neste sentido, optou-se pelo delineamento de um roteiro que abordasse questões relacionadas à informação acerca da infecção pelo HIV e sobre a manifestação da AIDS, e que permitisse focalizar aspectos comportamentais e afetivos presentes no contexto da prevenção. Além disto, considerou-se importante chamar a atenção para as normas e valores que regem o comportamento preventivo do jovem universitário.

Workshop: "Sexualidade e afeto em tempo de AIDS"

Objetivos:

O roteiro elaborado teve por objetivo abordar o conjunto de comportamentos, crenças, valores e sentimentos que permeiam a instalação e a manutenção dos comportamentos preventivos desejados. Entendemos por comportamentos preventivos a identificação da necessidade do uso do preservativo nas relações de risco, a escolha de parceiros, a familiarização com práticas de sexo seguro e a compreensão das diferentes formas de contágio pelo HIV.

Com a finalidade de atingir estes comportamentos, delineou-se o roteiro a ser utilizado para a realização do workshop. Os conteúdos desenvolvidos, bem como as estratégias utilizadas são apresentados a seguir.

Roteiro

Esse roteiro foi planejado para ser desenvolvido por um período de seis horas, com um grupo de 20 a 25 participantes, em sua maioria jovens universitários, durante a programação da XXV Reunião da Sociedade Brasileira de Psicologia.

O programa foi organizado em dois módulos distintos, sendo que o primeiro apresentava como temas centrais o contágio, a prevenção e estratégias essenciais para a prática de sexo seguro. O segundo módulo enfocava conteúdos relacionados à sexualidade, à diferenciação de papéis masculino e feminino, ao impacto das normas sociais na prática do sexo seguro e aos diversos aspectos valorativos envolvidos no contexto da sexualidade humana.

Módulo 1

Esse módulo foi iniciado com a apresentação dos participantes e com uma estratégia de dinâmica de grupo, de modo a facilitar o levantamento de expectativas dos participantes em relação ao workshop. Em seguida, foi realizada uma exposição, com duração aproximada de 30 minutos, na qual foram abordados os seguintes tópicos: o que é AIDS, a atuação do vírus, as formas de contágio, os testes para detecção do HIV e informações epidemiológicas. A estratégia selecionada para o desenvolvimento desses conteúdos consistiu na utilização de slides durante apresentação oral, em sessão interativa. Esse tipo de estratégia permitiu não somente aos apresentadores responderem às questões dos participantes, como também provocarem comentários pertinentes aos tópicos abordados. Portanto, não se tratava de uma apresentação oral em que os participantes apenas recebiam informações passivamente e, sim, de uma oportunidade para expressarem dúvidas, comentários e reflexões que norteavam comportamentos relevantes à prevenção da AIDS.

Outra dinâmica foi realizada com o objetivo de descontrair os participantes e sensibilizá-los para a importância da prática do sexo seguro entre os jovens. Essa dinâmica consistiu em distribuir a cada participante bexigas coloridas contendo em seu interior figuras que despertavam atitudes e sentimentos frente a comportamentos sexuais, em geral, e à prevenção da AIDS, em particular.

A seguir, apresentou-se, de forma detalhada, a técnica de utilização do preservativo. A estratégia utilizada consistiu numa demonstração, na qual o preservativo era colocado num modelo (pênis de vinil). Além disto, informações detalhadas acerca da prática de sexo seguro foram fornecidas, num clima que permitiu esclarecimento de dúvidas e outros comentários.

Após um breve intervalo, dividiram-se os participantes em duplas e lhes foi solicitado que abrissem a embalagem, desenrolassem o preservativo e sentissem o contato nas mãos. Nesse momento, foram instruídos a entrarem em contato com os sentimentos e sensações despertados a partir dessa experiência. Finalmente, eles foram orientados a voltarem para seus lugares, relaxarem, fecharem os olhos e, através de visualização criativa, vivenciarem a situação de encontro com um parceiro em potencial, utilizando as informações apreendidas para a realização de sexo seguro. Cada participante deveria prestar atenção em seus sentimentos, ansiedades e temores frente à experiência, bem como à forma de resolução de problemas utilizada para atingirem com sucesso o objetivo proposto. Os participantes que desejaram puderam compartilhar com as demais pessoas essa vivência.

Após a apresentação e discussão de estratégias que viabilizam a prática do sexo seguro, passou-se a abordar a negociação do uso da camisinha com um parceiro em potencial, através de role-playing. Ênfase foi colocada nos tipos de argumentos e sentimentos envolvidos, durante a negociação do uso do preservativo. Além disto, foram incentivados comentários acerca dos direitos e deveres de cada parceiro e suas responsabilidades diante da prática sexual, entre jovens universitários.

Após um breve intervalo, iniciou-se o Módulo 2.

Módulo 2

O início desse módulo ocorreu a partir de uma dinâmica corporal, visando motivar os participantes nessa segunda parte da programação. Em seguida, realizou-se uma apresentação editada de vários filmes que focalizavam os valores, as crenças e as normas que nortearam o comportamento sexual dos anos 50 aos 80, e os atuantes na década de 90. Após a apresentação, os participantes foram divididos em grupos de cinco pessoas e orientados a discutirem os seguintes aspectos: a relação entre crenças, valores e comportamento sexual, a diferenciação entre papéis masculinos e femininos nas diversas épocas e os sentimentos e reflexões despertadas em cada participante durante a apresentação.

Durante a discussão, os elementos de cada grupo procuraram expressar, por meio de desenhos ou da escrita, suas opiniões e, a seguir, o grupo indicou um relator que apresentou um resumo dos mesmos. Assim, pôde-se obter em plenário uma síntese dos comentários e das observações de todos participantes.

Terminada a sessão plenária, foi apresentado, de forma condensada (30 minutos), o Histórico da Sexualidade Humana, desde a Antigüidade Grega até os dias atuais, enfatizando o papel da AIDS na mudança do comportamento

Após outro intervalo, reiniciaram-se as atividades com uma dinâmica que visava levar os participantes a experienciarem situações nas quais é necessário manter limites, percebendo suas necessidades, bem como a forma como esses limites são mantidos e comunicados a outros.

Este exercício enfocava o olhar e o trabalho com as mãos, sendo que este último procurava enfatizar que as mãos podem afastar e destruir o que é ruim, o que incomoda e o que ultrapassa os limites individuais de cada um, assim como podem aproximar o que é bom, permitir uma aproximação saudável.

Os participantes eram então instruídos a andar livremente pela sala, mantendo contato visual, experimentando o fato de observar e ser observado por todos, prestando atenção a quais sensações e sentimentos surgiram neste contexto.

Em seguida, era solicitado que cada um, pelo olhar, escolhesse um par. Diante do par escolhido o participante deveria observar por quanto tempo e de que maneira ele conseguia sustentar seu olhar, e se permitia ser olhado, na interação com uma única pessoa.

Dando continuidade à dinâmica, cada participante foi orientado a colocar suas mãos contra as mãos de seu par, pressionando-as para trás, de modo a evitar que este avançasse em sua direção, invadindo seu espaço de forma desconfortável.

Encerrada a dinâmica, o grupo foi novamente dividido em cinco, para discutirem o que a dinâmica teria a ver com sua sexualidade, o significado de escolher e ser escolhido, como também sentimentos de aceitação e rejeição decorrentes do processo.

Finalmente, foi sugerido ao grupo que definisse em qual contexto é importante afastar-se de um parceiro em potencial e a distinção entre situações nas quais a pessoa tem o direito de afastar alguém de seu contato, daquelas em que, ao fazê-lo, a pessoa está promovendo a discriminação e, conseqüentemente, perpetuando diversas formas de preconceito. O grupo também escolheu um relator para apresentar uma síntese das opiniões.

Após a apresentação dos relatores, foram entregues individualmente papéis para que cada participante respondesse às seguintes questões:

Considerando tudo o que foi apresentado neste workshop, indique o que você pode e o que não pode fazer em termos de escolha de parceiros e práticas sexuais.

Acrescente ainda o que você faria convivendo com pessoas que têm opiniões divergentes das suas frente a estes dois tópicos.

Após a entrega das respostas, foi colocada no quadro negro a síntese das opiniões recolhidas, acrescentado-se, quando necessárias, informações adicionais referentes tanto a estratégias de escolhas de parceiros quanto a práticas sexuais (questão nº 1).

Finalmente, uma síntese do que os participantes fariam diante de opiniões divergentes (questão nº 2) foi apresentada. Discutiu-se, então, as implicações dessas atitudes assumidas para o preconceito e para o convívio social, em tempos de AIDS.

Desta forma foi encerrado o módulo 2, tendo como ponto de partida a importância da prática de sexo seguro e a discussão da questão do preconceito e da sexualidade no momento atual.

 

AVALIAÇÃO DOS WORKSHOPS

Após a realização de todos os eventos, procurou-se avaliar sua eficácia junto ao grupo de participantes em relação aos objetivos estabelecidos, bem como conhecer os resultados imediatos com eles alcançados. Para isto, foi elaborado um questionário semi-estruturado misto, composto por 12 perguntas, sete das quais fechadas e cinco abertas. Dentre as questões fechadas, seis buscavam obter respostas objetivas, por meio de uma escala Likert de cinco pontos, variando de "insatisfatório" à "ótimo", e tendo como pontos intermediários, "regular", "bom" e "muito bom". Essas questões visavam conhecer a opinião dos participantes quanto à duração, organização geral, conteúdo e didática do workshop. Além dessas, havia ainda uma do tipo Sim/Não, cujo objetivo era saber se a satisfação em relação ao evento levaria os participantes a recomendálo a outras pessoas.

Com relação às perguntas abertas, seu intuito foi conhecer os objetivos e expectativas dos participantes ao procurarem o workshop, além de saber como e por que essas expectativas foram atendidas ou não. Por último, o questionário solicitava aos respondentes que emitissem críticas, sugestões e outros comentários que julgassem pertinentes.

As informações obtidas com o questionário foram sistematizadas em categorias de respostas e analisadas qualitativamente, o que permitiu uma avaliação do interesse pelos workshops, da qualidade da transmissão das informações, da didática e estratégias utilizadas, do nível dos conteúdos apresentados e do motivo da escolha dos mesmos.

Todos os eventos realizados, na opinião dos grupos de participantes, foram de grande interesse e importância. Ainda segundo eles, as informações foram transmitidas de forma clara, direta e com linguagem adequada.

O material utilizado foi sempre avaliado como sendo apropriado e a preferência dos participantes recaiu sobre as dinâmicas, tendo como justificativa a descontração gerada e a facilidade para a realização dos trabalhos propostos.

Os conteúdos apresentados foram considerados excelentes para a reflexão, no que diz respeito à formação de uma atitude consciente frente a AIDS - a preocupação em mudar o comportamento de risco dos indivíduos.

Finalmente, a procura pelos workshops foi motivada pela necessidade, apontada pelos participantes, de obter novos conhecimentos sobre AIDS, sobre como esta doença vem sendo abordada, no que diz respeito ao trabalho do pessoai da área da saúde e sobre como agir frente a esse problema, principalmente na cidade de São Carlos. Neste sentido, pode-se dizer que as expectativas mencionadas foram plenamente atendidas, com a realização de todos os eventos.

 

Referências Bibliográficas

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Bayés, R. (1992) Aportaciones dei analisis funcional de la conducta al problema del SIDA. Revista Latino Americana de Psicologia, 24 (1-2), 35-56.         [ Links ]

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Lescura, Y. (1994) Doenças sexualmente transmissíveis: sífdis, gonorréia e AIDS no espaço de vida dos allows universitários. Tese de Doutoramento, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.         [ Links ]

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Taylor, S.E. (1986) Health Psychology. Toronto: Ed. Random House.         [ Links ]

 

 

(1) Endereço para correspondência: Rodovia Washington Luís, km 236 São Carlos - SP.
(2) Cordeiro, M.A. (1994) Conhecimentos e atitudes sobre meios de prevenção e transmissão do HIV/AIDS, em estudantes universitários. Monografia. Universidade Federal de São Carlos.