SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.5 issue1O ensino da leitura e escrita a um sujeito adultoModelos interativos de categorização difusa multidimensional: construção do software e testagem do instrumento author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Temas em Psicologia

Print version ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.5 no.1 Ribeirão Preto Dec. 1997

 

PROCESSOS BÁSICOS E PROCEDIMENTOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM

 

Instruções: efeito sobre solução de problema e formulação de regras1

 

 

Lorismario Ernesto Simonassi2; Cláudio Ivan de Oliveira3; Cristiane Scolari Gosch4; André Vasconcelos da Silva5; M árcio Mujali6; Alessandra Viana de Souza7

Universidade Católica de Goiás

 

 

INTRODUÇÃO

Em situações nas quais humanos são expostos a uma situação problema é possível para o experimentador analisar o comportamento do sujeito de solucionar problemas e o comportamento de descrever as contingências. Esta estratégia tem sido freqüentemente utilizada nos estudos sobre relatos verbais (Nisbett e Wilson, 1977; Ericsson e Simon, 1980; Wulfert, Dougher e Greenway, 1991; Horne e Lowe, 1993; Eysenck e Keane, 1995; Simonassi, Oliveira e Sanabio, 1994; Simonassi, Fróes e Sanabio, 1995; Simonassi, Oliveira, Carvalho, Murta, Gosch e Sazonov, 1995; Simonassi, Oliveira, Gosch, Carvalho, Sazonov e Nascimento, 1995). Esses estudos também forneceram importantes demonstrações de que é possível a solução de problema sem que haja a formulação da regra que descreve a contingência programada pelo experimentador.

Apesar das contribuições fornecidas por esta estratégia de pesquisa, alguns questionamentos devem ser analisados. Quando os relatos verbais são pedidos durante a exposição às contingências e não após o término do experimento, o experimentador tem que apresentar mandos do tipo: "Diga como você está fazendo para resolver este exercício", "Quantas vezes você deve apertar a tecla para ganhar um ponto?", "O que você deve fazer para ganhar pontos?". Nesses casos é possível que o conteúdo da instrução apresentada para pedir relato tenha efeito sobre o comportamento de solucionar o problema e sobre o comportamento de descrever as contingências. Esta questão foi teoricamente investigada por Ericsson e Simon (1980) e é fundamental para a análise da relação entre regras e contingências. Estudos experimentais sobre a questão têm sido realizados por Simonassi, Mota, Nalini e Barreto (1993), Simonassi, Mota, Barreto e Nalini, (1993), Simonassi, Oliveira, Gosch, Carvalho, Sazonov e Nascimento (1995). Os resultados demonstraram que a manipulação do conteúdo das instruções afetou o desempenho quanto à solução do problema e também as descrições que os sujeitos fizeram acerca das contingências às quais foram expostos.

O presente estudo teve por objetivo continuar esta linha de investigação. Pretendeu-se investigar o efeito de diferentes conteúdos de instruções sobre o comportamento de formular regras e solucionar problemas. O conteúdo das instruções apresentadas para pedir relato diferiu quanto ao número de palavras que descrevem a contingência que especifica o problema. Dito de outra forma, perguntou-se se o grau de especificidade da instrução utilizada para pedir relato afeta o comportamento de formular a regra e solucionar o problema. No presente estudo, denominou-se de instrução específica aquela que contém palavras que descrevem alguns dos estímulos e a resposta relacionados à contingência programada. Ao passo que a instrução denominada de genérica não faz especificação de qualquer termo da contingência programada.

 

MÉTODO

Sujeito

Foram utilizados 30 sujeitos universitários de ambos os sexos do curso de Psicologia da Universidade Católica de Goiás.

Material

Utilizou-se um microcomputador Buli Z-Station 486 DX, para a apresentação dos estímulos, além de uma folha de registro e diversos cartões contendo instruções.

Procedimento

O sujeito sentava-se frente a uma tela de computador. Atrás do sujeito ficavam dois experimentadores. Um deles conseqüenciava as respostas do sujeito dizendo certo ou errado e apresentava os estímulos com o auxílio do mouse. O segundo experimentador registrava os acertos e erros do sujeito.

Após o sujeito sentar-se, recebia a seguinte instrução por escrito:

"Você pode ganhar até meio ponto na média de NI na disciplina participando desse experimento. Quanto melhor for seu desempenho na tarefa, mais você ganhará. Boa Sorte!"

Em seguida a instrução geral foi lida pelo experimentador:

"Você tem a sua frente uma tela de computador apresentando três elementos. Sua tarefa é apontar com o dedo primeiro o elemento que está na parte superior da tela e depois em uma das caixas que estão abaixo da tela. A cada vez que você assim fizer lhe será dito 'certo' ou 'errado' Tente acertar o máximo possível. Quando o estudo terminar você será avisado."

Depois de receber a instrução geral o sujeito iniciava a tarefa. Cada tela apresentada para os sujeitos continha três estímulos, um deles, que podia ser um número ou uma letra, ficava ao centro da parte superior da tela. Os outros dois estímulos foram figuras de caixas. Uma verde, que ficava à esquerda do estímulo central e uma vermelha, que ficava à direita. A tarefa do sujeito foi apontar primeiro para o estímulo central e depois para uma das caixas apresentadas nas laterais. Os números e as letras para os quais o sujeito deveria apontar apareceriam na seguinte seqüência: B, 72, 44, v, 31, U, a, 16, 29, 43, T, 64, n, h, 95, X, 79, G, 60, w, 65,17, q, e, 14, D, 40, M, 22, P, b, 66, 0, 52, 93, W, 75, y, 89, x, A, 74, 98, R, 51, f, 97, 48, c, 85, 82, E, 45, Y, 62, m, o, 15, z, K, 18, 69, g, s, J, 88, 68, N, 25, 91, u, F, p, 36, 53, 37, Z, 94, r, H, k, 34, C, 84, 70, S, V, 21, 46, 13, t, Q, 27, 83, d, j. Independentemente de o estímulo apresentado na parte superior da tela ser número ou letra, as figuras de caixas (verde ou vermelha) estavam sempre presentes na mesma posição.

A cada resposta do sujeito o experimentador dizia certo ou errado de acordo com a contingência programada. As respostas de apontar deveriam relacionar números pares e letras minúsculas à caixa verde e números ímpares e letras maiúsculas à caixa vermelha.

Após as tentativas 1, 2, 3, 4, 5, 10, 15, 25,40, 55, 70, 85, 100, 115, 130, 145, 160, 175, 190, 205, 220, 235 e 250 a tela ficava branca e relatos foram solicitados. O relato também foi solicitado em tentativas não determinadas, após o sujeito cumprir o critério de encerramento da sessão.

Caso o sujeito pertencesse à condição Instrução Específica, a instrução era:

"Escreva nesta folha como você está distribuindo os números e as letras em relação às caixas verde e vermelha."

O nome Instrução Específica justifica-se pelo fato de tal instrução descrever os estímulos: números, letras, caixa verde, caixa vermelha, bem como a resposta de distribuir.

Caso o sujeito pertencesse à condição Instrução Genérica recebia a seguinte instrução:

"Escreva nesta folha como você está fazendo para resolver este exercício".

A Instrução Genérica não especifica qualquer estímulo presente na tela.

As instruções foram apresentadas por escrito. Após o relato, a tarefa de apontar era reiniciada.

Foram registrados dois tipos de resposta:

1- Resposta de apontar para uma das caixas;

2- Os relatos por escrito.

De acordo com o procedimento do experimento havia uma tríplice contingência programada:

1- Estímulos antecedentes (números, letras maiúsculas ou minúsculas);

2- Resposta de apontar para uma das caixas;

3- Conseqüências (certo ou errado).

A regra que descrevia esta contingência pode ser assim enunciada:

"Números pares e letras minúsculas na caixa verde. Números ímpares e letras maiúsculas na caixa vermelha."

Com base na contingência programada definiu-se tentativa como a resposta de apontar para o número ou uma letra e em seguida apontar para uma das duas caixas e a respectiva conseqüência "certo" ou "errado".

O critério de encerramento da sessão foi que o sujeito obtivesse 25 acertos consecutivos. Caso esse critério não fosse atingido a sessão encerrava-se com 250 tentativas.

Havia 96 telas confeccionadas e a possibilidade de os sujeitos emitirem 250 respostas. Caso o sujeito necessitasse de mais de 96 tentativas, a seqüência de telas era reapresentada na mesma ordem.

Após ter-se encerrado a sessão foi entregue ao sujeito uma folha com instruções para que marcasse a alternativa que melhor correspondesse a seu interesse durante a sessão. As alternativas listadas foram: Completamente desinteressado, pouco interessado, medianamente interessado, bem interessado e extremamente interessado.

 

RESULTADOS

1- Verificar a relação entre a instrução utilizada para pedir o relato e a solução do problema.

A Tabela 1 mostra o número médio de tentativas realizadas até a solução do problema para as duas condições. As tentativas de número 250 referem-se ao critério de encerramento da sessão sem a solução do problema. Na condição Instrução Específica o número médio de tentativas utilizadas até a solução do problema foi de 120, 066 e na condição Instrução Genérica foi de 159, 066. O teste de t Student para diferenças entre médias mostrou que a diferença não é estatisticamente significativa entre as duas condições (t = 1,290; p 0,05).

 

 

A Tabela 1 mostra também que 3 sujeitos (sujeitos 13, 14 e 15) não solucionaram o problema na condição Instrução Específica. Na condição Instrução Genérica 6 sujeitos (sujeitos 10, 11, 12, 13, 14 e 15) não solucionaram o problema.

2- Verificar a relação entre o conteúdo da instrução utilizada para solicitar o relato e o comportamento de formular a regra.

A Tabela 2 mostra tanto o número de sujeitos que formularam a regra como os que não formularam. Também mostra a tentativa em que houve formulação da regra nas duas condições. As tentativas de número 250 referem-se ao critério de encerramento da sessão indicando que não houve formulação de regra. Na condição Instrução Específica 12 sujeitos formularam a regra, enquanto na condição Instrução Genérica 9 sujeitos formularam a regra.

 

 

Na Tabela 2 a média de tentativas utilizadas para a formulação da regra na condição Instrução Específica foi de 97,86 tentativas. Na condição Instrução Genérica a média foi de 146 tentativas. O teste t de Student para diferenças entre médias mostrou que a diferença não é estatisticamente significativa entre as condições de Instrução Específica e Genérica (t = 1,408; p > 0,05).

Vale salientar que, mesmo a diferença entre as médias de tentativas utilizadas para a formulação da regra não tenha sido significativa, na condição Instrução Especifica, dos 12 sujeitos que formularam a regra, 9 sujeitos (Sujeitos 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 11) formularam até a Tentativa 55, enquanto que, na condição Instrução Genérica, dos 9 sujeitos que formularam a regra, 4 sujeitos (sujeitos 1, 2, 3 e 4) formularam até a Tentativa 55. Verificou-se portanto que na condição Instrução Específica mais sujeitos formularam a regra e mais sujeitos formularam até a Tentativa 55.

Na Figura 1 foram selecionados, dentre as palavras redigidas pelos sujeitos das condições Instrução Específica e Genérica, aquelas que são idênticas às palavras contidas na instrução específica (considerando-se as palavras: distribuir, números, letras, caixas, verde e vermelha).

 

 

A Figura 1 permite analisar o efeito da instrução específica sobre o comportamento de redigir. A tentativa 1 é especialmente interessante porque neste momento, os sujeitos fizeram o relato com um mínimo de efeito de exposição às contingências (apenas uma exposição). Observou-se que nos relatos após a tentativa 1 o total de palavras idênticas às palavras da instrução específica na condição Instrução Específica foi 27. Na condição Instrução Genérica o total de palavras foi 5. O teste t de Student para diferenças entre médias mostrou que a diferença é estatisticamente significativa entre as duas condições (t = 3,0 77; p > 0,05).

Considerando as tentativas apresentadas na Figura 1, verificou-se que o total de redações de palavras da instrução específica foi sempre maior para a condição Instrução Específica que para a condição Instrução Genérica. Diferenças estatisticamente significativas foram encontradas nas Tentativas 1, 2, 3, 4 e 5.

A Figura 1 ainda permite visualizar que para as duas condições o número de palavras da instrução específica elevou-se à medida que aumentou a quantidade de exposição às contingências. No entanto, não se observa tendência de igualar os valores das duas condições. Vale lembrar que está afirmação vale para primeira a quadragésima tentativa analisadas na Figura 1.

A Figura 2 mostra uma análise de palavras da instrução geral redigidas pelos sujeitos das condições Instrução Genérica e Específica.

 

 

Vale colocar que a instrução geral foi apresentada para os sujeitos das duas condições experimentais. Após a apresentação da instrução geral as condições diferiam quanto às instruções apresentadas (Instrução Específica ou Genérica).

Selecionou-se, dentre as palavras redigidas pelos sujeitos das duas condições as seguintes palavras da Instrução geral: tela, computador, elemento, parte superior, abaixo, apontar, dedo e primeiro.

Na Tentativa 1 da Figura 2 verificou-se que o total de palavras da instrução geral redigidas pelos sujeitos da condição Instrução Genérica foi 31, enquanto que, na condição Instrução Específica o total foi 5.0 teste de t de Student para diferenças entre médias mostrou que a diferença é estatisticamente significativa entre as condições Instrução Específica e Genérica (t = 2,803; p > 0,05).

Verificou-se que em todas as tentativas apresentadas na Figura 2, as palavras da instrução geral ocorreram com maior freqüência na condição Instrução Genérica. Diferenças estatisticamente significativas ocorreram nas Tentativas 1, 2 e 3.

A Figura 2 mostra ainda que para as duas condições a freqüência de palavras da instrução geral redigidas, diminuiu da Tentativa 1 para a Tentativa 40 à medida que elevou -se o número de exposições às contingências programadas.

Apesar desta redução, os valores apresentados não chegaram a igualar-se.

Para entendimento da Figura 3 (A, B, C e D) é necessário recordar alguns aspectos do procedimento. Em qualquer das duas condições experimentais (condição Instrução Genérica ou condição Instrução Específica ), antes de receber a instrução genérica ou a instrução específica, os sujeitos receberam a instrução geral.

 


 

A Figura 3 (A, B, C e D) mostra o número de palavras da instrução geral e palavras críticas redigidas por quatro sujeitos da condição Instrução Genérica, em todas as tentativas que tiveram oportunidade para relato.

Denominou-se palavras da instrução geral as mesmas selecionadas na Figura 2. Tais palavras foram selecionadas pelo fato de serem descrições genéricas do contexto experimental. Descrevem aspectos gerais como tela, computador ou descrevem os estímulos números, letras e caixas com o termo geral elementos (esse termo não especifica as propriedades às quais o sujeito deve responder para solucionar o problema.). As palavras parte, superior e abaixo especificam a posição dos elementos. As palavras apontar, dedo e primeiro são descrições da resposta a ser emitida pelo sujeito.

Denominou-se palavras críticas aquelas que descrevem as propriedades da situação experimental que são cruciais para a solução do problema. Isso pode ser demonstrado pelo fato de que tais palavras compõem a regra que descrevia a contingência programada. Considerou-se como palavras críticas: números, pares, ímpares, letras, maiúsculas, minúsculas, caixa, verde (ou direita) e vermelha (ou esquerda). Vale lembrar que a regra formulada pelo experimentador e que descrevia a contingência programada foi:

"Números pares e letras minúsculas na caixa verde. Números ímpares e letras maiúsculas na caixa vermelha."

Para todos os 9 sujeitos que solucionaram o problema (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9) na condição Instrução Genérica, o número de palavras críticas aumenta à medida que eleva-se o número de exposição às contingências até o momento da formulação da regra (todos os 9 sujeitos que solucionaram o problema formularam a regra). Os dados dos sujeitos 3 (Fig. 3 A), 4 (Fig. 3 B) e 7 (Fig. 3 C) apresentados na Figura 3 (A, B, C e D) ilustram essa tendência.

Para os sujeitos 1, 6, 7 e 9 ocorreu um decréscimo no número de palavras críticas após a formulação da regra. Os dados do sujeito 7 (Fig. 3 C) mostra esse fenômeno.

A análise da redação de palavras da instrução geral tende a ser inversa à análise das palavras críticas. Para 8 sujeitos (1, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9) dos 9 que solucionaram o problema na condição Instrução Genérica o número de palavras da instrução geral tende a diminuir do início para o fim da sessão à medida que aumenta a quantidade de exposição às contingências. Essa tendência é ilustrada na Figura 3 (A, B, C e D) pelos sujeitos 3 (Fig.3 A), 4 (Fig. 3 B) e 7 (Fig. 3 C). Vale salientar que para o sujeito 7

(Fig. 3 C) ocorreu uma acréscimo do número de palavras da instrução geral nos dois últimos relatos dos sujeitos (uma e duas palavras respectivamente), no entanto, a maior concentração de palavras da instrução geral ocorreu nos 4 primeiros relatos (3, 4, 4 e 2 palavras respectivamente).

Dentre os sujeitos que solucionaram o problema somente o sujeito 2 apresentou um acréscimo no número de palavras da instrução geral do início para o fim do experimento.

A Figura 3 (A, B, C e D) mostra dados de um dos sujeitos (sujeito 10) que não solucionaram o problema. Verificou-se que para todos os 6 sujeitos que não solucionaram o problema (sujeitos 10, 11, 12, 13, 14 e 15) não ocorreu aumento significativo no número de palavras críticas à medida que elevou-se a exposição às contingências. Esse aumento, quando ocorreu, foi desprezível como ilustra o gráfico do sujeito 10 (Fig. 3 D).

No que se refere à redação de palavras da instrução geral, para 3 dos 6 sujeitos da condição Instrução Genérica que não solucionaram o problema (sujeitos 10, 12 e 14), o número de palavras da instrução geral decresceu até desaparecer completamente à medida que aumentou o número de exposição às contingências, como mostra o gráfico do sujeito 10 (Fig. 3 D)

 

DISCUSSÃO

Questões acerca do efeito de instruções sobre o comportamento de descrever as tarefas às quais se é exposto são importantes para a investigação de relatos verbais e foram recentemente levantadas por Ericsson e Simon (1980). Sempre que o experimentador expõem sujeitos humanos a tarefas e pede relatos sobre as contingências, ele é obrigado a apresentar um mando do tipo: "Diga como você está realizando a tarefa"; "Como você deve fazer para ganhar pontos?"; "Quando a luz amarela estava acesa, quantas vezes você devia pressionar a barra da esquerda para ganhar pontos?". Exemplos de tais mandos podem ser encontrados nos estudos de Wulfert, Dougher e Greenway (1991), em Horne e Lowe (1993), Simonassi, Oliveira e Sanabio (1994). É freqüente, em tais estudos, que permaneçam dúvidas sobre até que ponto os relatos verbais que os sujeitos fizeram das contingências foram afetados pelas instruções apresentadas pelo experimentador.

No presente estudo manipulou-se o conteúdo de instruções. A instrução denominada de Específica ("Escreva nessa folha como você está distribuindo os números e as letras em relação às caixas verde e vermelha") diferiu da Instrução Genérica ("Escreva nessa folha como você está fazendo para resolver este exercício") por fazer uma descrição dos estímulos presentes na situação experimental (números, letras, caixa verde e caixa vermelha) e a resposta (distribuir). Tais especificações não produziram diferenças significativas quanto ao número de formulações de regra nas duas condições experimentais (12 formulações na condição Instrução Específica e 9 na condição Instrução Genérica). Apesar das diferenças não serem significativas, os resultados do presente estudo replicam resultados de experimento realizado no nosso laboratório e ainda não apresentado. Os resultados desse experimento anterior concordam com os resultados do experimento aqui apresentado. No caso dos dois experimentos a instrução específica produziu uma menor média de tentativas para a formulação da regra e um número maior de formulações da regra que a instrução genérica, apesar de as diferenças não serem estatisticamente significativas.

A manipulação do conteúdo das instruções apresentou um efeito mais acentuado no comportamento de redigir palavras. Este resultado deve alertar os experimentadores para o fato de que as instruções que são usadas nos estudos sobre relatos verbais podem introduzir uma variável que, em grau maior ou menor, dependendo de sutilezas de conteúdo ou de estruturação (por exemplo), podem ser responsáveis pelas características dos relatos.

Outra observação possível no presente experimento diz respeito a uma interação entre instruções. Observou-se que a redação de palavras idênticas às palavras da instrução geral (considerando as palavras apresentadas na Figura 2) ocorreu sempre com maior freqüência na condição Instrução Genérica. Tais dados indicam que o efeito da instrução geral sobre o comportamento de redigir dependeu da instrução apresentada em seguida. Em experimentos nos quais há a apresentação de vários mandos em seqüência, como no caso de Horne e Lowe (1993), não se pode descartar o efeito interativo destes sobre as regras formuladas pelos sujeitos.

No que se refere à relação entre exposição às contingências e formulação de regras, a análise da condição Instrução Genérica mostrou que à medida que aumentou a quantidade de exposição às contingências, gradativamente aumentou a quantidade de palavras críticas para a formulação da regra (ver palavras consideradas na Figura 3). Vale salientar que o aumento de palavras críticas ocorreu até o momento da formulação da regra. Esses dados sugerem que a descrição dos termos da contingência é gradativa e parece acompanhar o processo de discriminação do sujeito em relação à contingência programada. O presente experimento não permite verificar essa questão, mas os dados de Simonassi e cols. (1994), Simonassi, Fróes e col. (1995) e Simonassi, Oliveira, Carvalho, Gosch, e cols. (1995) concordam com tal interpretação.

Conquanto a manipulação no conteúdo da instrução não tenha produzido diferenças estatisticamente significativas no número médio de tentativas para a solução do problema, é interessante salientar que na condição Instrução Específica ocorreu um número menor de sujeitos que não solucionaram o problema (três sujeitos) que na condição Instrução Genérica (seis sujeitos). Além disso, o menor número médio de tentativas para a solução do problema na condição Instrução Específica, apesar da discreta diferença, replica os resultados de experimento realizado anteriormente e não publicado. Tais dados parecem indicar que a Instrução Específica teve efeito no sentido de facilitar a solução do problema em relação a apresentação da Instrução Genérica.

O presente estudo alerta os pesquisadores interessados no estudo de relatos verbais para a necessidade de mais experimentos que investiguem os efeitos de mandos apresentados para produzir auto-relatos enquanto os sujeitos estão sendo expostos às contingências. Esta questão tem sido analisada diretamente por Ericsson e Simon (1980) e questões relacionadas são tratadas por Farber (1963), Simonassi, Oliveira e Sanabio (1994) e Cerutti (1989).

 

Referências Bibliográficas

Cerutti, D. T. (1989) Discrimination theory of rule-governed behavior. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 51, 259-276.         [ Links ]

Ericsson, K. A.e Simon, H. A. (1980) Verbal reports as data. Psychological Review, 87,215-249.         [ Links ]

Eysenck, M. W. e Keane, M. T. (1994) Teorias da memória e da amnésia. Psicologia Cognitiva: Um Manual Introdutório. Porto Alegre. Artes Médicas.         [ Links ]

Farber, I. E. (1963) The things people say to themselves. American Psychologist, 18, 185-197.         [ Links ]

Glenn, S. (1987) Rules as enviromental events. The Analysis of Verbal Behavior, 5, 29-32.         [ Links ]

Horne, P. J. e Lowe, C. F. (1993) Determinants of human performance on concurrent shedules. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 59, 26-60.         [ Links ]

Nisbett, R. E. e Wilson, T. D. (1977) Telling more than we can know: verbal reports on mental processes. Psychological Review, 84, 231-259.         [ Links ]

Simonassi, L. E; Mota, H; Nalini, L e Barreto, M. Q. (1993) Um início de análise funcional do conteúdo das instruções. Trabalho apresentado na XXIII Reunião Anual de Ribeirão Preto.         [ Links ]

Simonassi, L. E; Mota, H; Barreto, M. Q. e Nalini, L (1993) Controle instrucional e contingências: o papel das instruções. Trabalho apresentado na XXIII Reunião Anual de Ribeirão Preto.         [ Links ]

Simonassi, L. E; Oliveira, C. I e Sanabio, E. T. (1994) Descrições sobre possíveis relações entre contingências programadas e formulações de regras. Estudos, 22 (3/4), 97-112.         [ Links ]

Simonassi, L. E; Fróes, A. C. Sanabio, E. T. (1995) Contingências e regras. Considerações sobre comportamento consciente. Estudos, (3/4), 71-81.         [ Links ]

Simonassi, L. E; Oliveira, C. I; Carvalho, M. V; Gosch C. S; Sazonov, G. C; Sanabio, E. T. e Fróes, A. C. (1995) Efeito da manipulação das propriedades dos estímulos de uma contingência tríplice sobre o comportamento de solucionar problemas e formular regras. Trabalho apresentado na XXV Reunião de Ribeirão Preto.         [ Links ]

Simonassi, L. E; Oliveira, C. I; Gosch C. S; Carvalho, M. V; Sazonov, G. C e Nascimento, V. (1995) Efeito de palavras chave como estímulo para a solução do problema e formulação de regra. Trabalho apresentado na XXV Reunião de Ribeirão Preto.         [ Links ]

Simonassi, L. E; Oliveira, C. I.; Carvalho, M. V.; Murta, S. G.; Gosch C. S. e Sazonov, G. C. (1995) Efeito da manipulação do conteúdo de instruções sobre o comportamento de formular regras. Trabalho apresentado na XXV Reunião de Ribeirão Preto.         [ Links ]

Wulfert, E; Dougher, M. J. e GreenWay, D. E. (1991) Protocol analysis ofthe correspondence of verbal behavior and equivalence class formation. Journal of Experimental Analysis of Behavior, 56, 489-504.         [ Links ]

 

 

(1) Trabalho apresentado sob forma de comunicação científica em painel. Tendo como coordenadores da sessão: Deisy das Graças de Souza, Universidade Federal de São Carlos e Lincoln da Silva Gimenes, Universidade de Brasília. O trabalho foi apresentado na XXVÍ Reunião Anual de Psicologia.
(2) Professor da Universidade Católica de Goiás. Endereço para correspondência: Rua: 27 A, Qd, 45, Lotes, 9/10, Apt, 302, Setor: Aeroporto, CEP, 74075 - 330 - Goiânia - Goiás. Telefones para contato: 233 - 47- 62 residência 227- 10-99 trabalho Apoio: CNPq - 301. 881.88-0
(3) Aluno do curso de mestrado da Universidade de Brasília.
(4) Aluna do curso de graduação da Universidade Católica de Goiás/Bolsista do PIBIC.
(5) Aluno do curso de graduação da Universidade Católica de Goiás/Bolsista do PIBIC.
(6) Aluno do curso de graduação da Universidade Católica de Goiás.
(7) Aluna do curso de graduação da Universidade Católica de Goiás.