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Temas em Psicologia

versión impresa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.17 no.2 Ribeirão Preto  2009

 

ARTIGOS

 

Reorganização de classes de estímulos equivalentes: uma revisão crítica de estudos experimentais

 

Reorganization of stimulus equivalence classes: a critical review of experimental studies

 

 

João Henrique de AlmeidaI; Verônica Bender HayduII

IUniversidade Estadual de Londrina - PR - Brasil
IIUniversidade Estadual de Londrina - PR - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Classe de estímulos equivalentes pode ser definida como um conjunto de estímulos que são substituíveis ou intercambiáveis em certos contextos e apresentam as propriedades de reflexividade, de simetria e de transitividade. Estudos sobre o modelo da equivalência de estímulos têm demonstrado grande abrangência em sua aplicação tanto ao contexto clínico, como ao educacional, mas investigações relativas à reorganização desse tipo de classe apresentaram resultados controversos. Este artigo revisou a bibliografia de estudos que investigaram variáveis que afetam a reorganização de classes de equivalência, visando esclarecer a questão de serem ou não as classes passíveis de reorganização quando as contingência são rearranjadas. Algumas implicações teóricas desses estudos são discutidas e algumas questões de pesquisa para estudos futuros são sugeridas.

Palavras-chave: Equivalência de estímulos, Relações de equivalência, Reorganização de classes de estímulos equivalentes.


ABSTRACT

Stimulus equivalence class may be defined as a set of stimuli that are interchangeable or substitutable in certain contexts and show the proprieties of reflexivity, symmetry and transitivity. Studies about the stimulus equivalence paradigm have proven great reach in its application to the clinical and educational context, but investigations involving reorganization of equivalence classes had shown controversial results. This study reviewed studies that had investigated relevant variables to the demonstration of equivalence classes' reorganization, in order to clarify the question of whether or not the classes are capable of reorganization when the contingency are rearranged. Some theoretical and applied implications of the results are discussed and some research questions for future studies are suggested.

Keywords: Stimulus equivalence, Equivalence relations, Reorganization of stimulus equivalence classes.


 

 

Dada a importância para a ciência do comportamento e a compreensão de comportamentos humanos complexos, como o comportamento conceitual, a emergência de comportamentos novos e o comportamento simbólico, o tema responder relacional tem recebido grande atenção dos analistas do comportamento. Na bibliografia da Análise do Comportamento pode ser encontrada uma grande quantidade de estudos empíricos que foram desenvolvidos sobre o comportamento de responder a relações entre estímulos, tendo-se destacado os diferentes aspectos referentes à formação de classes de equivalência. Esse fenômeno se caracteriza como o responder a relações condicionais arbitrárias entre estímulos que são substituíveis entre si.

O ensino de relações condicionais é feito, comumente, por meio do procedimento de escolha de acordo com o modelo matching to sample (MTS, que consiste em reforçar a respostas diante dos estímulos discriminativos com base no estímulo-modelo presente. Isso pode ser realizado da seguinte forma: se o estímulo-modelo for A1 e os estímulos de comparação forem B1 e B2, a escolha de B1 será reforçada e a escolha de B2 não; se o estímulo-modelo for A2 e os mesmos estímulos de comparação forem apresentados, a escolha de B2 será reforçada e a escolha de B1 não. Assim, após algumas tentativas, é provável que o participante passe a relacionar, condicionalmente, os estímulos A1 e B1, e A2 e B2. Essas relações condicionais, de forma geral, são especificadas como as relações A1B1 e A2B2 ou simplesmente como relação AB. Além disso, se esse procedimento for repetido com outros pares de estímulos, por exemplo, B1C1 e B2C2, mantendo-se um elemento em comum (B1 é comum às relações A1B1 e B1C1; B2 é comum às relações A2B2 e B2C2), têm-se os pré-requisitos para a formação de duas classes de estímulos equivalentes (A1B1C1 e A2B2C2).

A demonstração de formação das classes de equivalência é feita por meio de testes das propriedades de reflexividade, de simetria, de transitividade e de transitividade simétrica (denominada também de propriedade de equivalência), conforme propuseram Sidman e Tailby (1982). Para comprovar se uma relação condicional é reflexiva, deve-se demonstrar que cada estímulo é relacionado a ele mesmo. Assim, mediante a apresentação de um estímulo-modelo, espera-se que o participante escolha o estímulo de comparação idêntico, isto é, escolher A1 perante o estímulo-modelo A1 e escolher B1 perante o estímulo-modelo B1. Para confirmar que uma relação condicional é simétrica, deve-se demonstrar que há reversibilidade das funções de modelo e de comparação. Se o participante tiver aprendido a relação A1B1, é provável que ele escolha o estímulo de comparação A1 diante de B1. A transitividade é demonstrada se o participante escolher A1 perante C1. A transitiva simétrica consiste em escolher C1 perante A1. Resumidamente, considera-se que uma classe de equivalência foi formada quando os estímulos que a integram se tornam funcionalmente substituíveis, ou seja, se as relações entre eles apresentam as propriedades de reflexividade, de simetria, de equivalência (dependendo do arranjo de treino, não se distingue a transitividade da transitividade simétrica).

A aplicabilidade e a abrangência do modelo de classes de estímulos equivalentes têm sido repetidamente comprovadas em diversos contextos: no educacional, com o ensino de leitura, de escrita, de línguas e de habilidades monetárias, por exemplo (Hanna, de Souza, de Rose, & Fonseca, 2004; Medeiros & Silva, 2002; Rossit & Ferreira, 2003; Sidman & Cresson, 1973); e no clínico, com estudos sobre ansiedade, dependência de drogas e estereotipias sociais (DeGrandpre, Bickell, & Higgins, 1992; Augustson & Dougher, 1997; Kohlenberg, Hayes, & Hayes, 1991). Além de pesquisas aplicadas, um grande número de pesquisas básicas foi realizado, por meio das quais foram investigados os efeitos de diversas variáveis envolvidas na formação, fusão, manutenção e expansão de classes de estímulos equivalentes (Dube, McIlvane, Maguire, Mackay, & Stoddard, 1989; Haydu & de Paula, 2008; Saunders, Wachter, & Spradlin, 1988; Sidman, Kirk, & Wilson-Morris, 1985).

Revisões bibliográficas de estudos sobre esse fenômeno comportamental (por exemplo: Barros, Galvão, Brino, Goulart, & McIlvane, 2005; de Paula & Haydu, no prelo; de Rose, Kato, Thé, & Kledaras, 1997) permitem constatar que, comparado ao número de estudos sobre processos como a formação e a expansão de classes de equivalência, há um pequeno número sobre a reorganização desse tipo de classes. Além disso, os resultados dos estudos realizados são controversos, pois, em alguns, observou-se que a reorganização prevista ocorreu (Garotti & de Rose, 2007, Experimento 2) e em outros não (Pilgrim & Galizio, 1995). Assim, pretende-se, no presente artigo, além de caracterizar o que vem a ser reorganização de classes de estímulos equivalentes, apresentar uma revisão da bibliografia referente à questão de ser ou não possível reorganizar classes de estímulos equivalentes.

 

Reorganização de classes de estímulos equivalentes: caracterização do fenômeno

Reorganizar classes de estímulos equivalentes consiste em recombinar os estímulos das classes, formando novas classes de equivalência. Para que seja possível tal reorganização, é necessário rearranjar as contingências de linha de base, reforçando relações condicionais diferentes daquelas que foram originalmente estabelecidas. O procedimento encontrado com maior frequência na bibliografia é a reversão das contingências de uma das discriminações condicionais (Pilgrim & Galizio, 1990). Por exemplo, em contingências que envolvem dois estímulos de comparação, tem-se, como condição que estabelece a linha de base original, o reforço da resposta de escolher B1 perante o estímulo-modelo A1 (A1: B1 B2) e escolher B2 perante o estímulo-modelo A2 (A2: B1 B2). Com a reversão da contingência, o reforço passa a ficar contingente à escolha de B2 perante o estímulo-modelo A1 (A1: B1 B2) e à escolha de B1 perante o estímulo-modelo A2 (A2: B1 B2).

Outro procedimento encontrado na bibliografia e que foi usado para alterar as classes de estímulos equivalentes é a reversão dos reforçadores. A utilização de reforçadores específicos para cada classe de estímulos em procedimentos de MTS por identidade mostrou ser eficaz para expandir classes de estímulos equivalentes, conforme demonstraram Dube, McIlvane, Mackay e Stoddard (1987) e Goyos (2000). Além disso, a reversão dos reforçadores, enquanto as relações entre os estímulos-modelo e de comparação permanecem inalteradas, produziu reorganização das classes formadas (Dube et al., 1987 - Experimento 3; Dube et al., 1989).

A eficácia na produção da reorganização de classes de equivalência por procedimentos de ensino de relações condicionais diferentes dos que se caracterizam como MTS também foi demonstrada em estudos com o procedimento go/no go usado por Smeets, Barnes-Holmes e Strifel (2006). Nesse procedimento, são apresentados pares de estímulos e o participante aperta um botão somente quando um par apresentado for uma relação condicional correta, de acordo com as especificações dos experimentadores. Smeets et al. (2006) demonstraram a reorganização das classes de equivalência no Experimento 6 por eles desenvolvido. Além desse procedimento que difere do MTS, Smyth, Barnes-Holmes e Forsyth (2006) demonstraram a reorganização das classes previamente estabelecidas após a reversão das relações entre os pares de estímulos, o Stimulus Pairing Observation Procedure (SPOP), em que pares de estímulos são apresentados, mas o participante não emite uma resposta de escolha. Ele apenas observa os estímulos sendo apresentados, não havendo, portanto, reforço diferencial para repostas abertas.

O processo de reorganização de classes de estímulos equivalentes é, portanto, considerado como uma modificação no responder nos testes pós-reversão, coerente com as modificações efetuadas nas contingências. Isto é, mediante o estabelecimento de uma classe, o experimentador rearranja as contingências e caso as respostas do participante, nos testes subsequentes, sejam coerentes com esse rearranjo, pode-se afirmar que ele reorganizou as classes previamente formadas. De forma resumida, o procedimento envolve a seguinte sequência de etapas: o ensino e os testes de relações de equivalência; uma ou mais alterações nas contingências de reforço; e a reapresentação dos testes para verificar se ocorrem modificações no responder coerentes com as alterações efetuadas.

 

O problema de pesquisa e o método de investigação

As relações de equivalência descrevem um fenômeno comportamental observável e as unidades emergentes são previsíveis e passíveis de descrição como qualquer fenômeno dessa natureza (Sidman, 2000). Como tal, uma alteração nas contingências de reforço das relações condicionais entre os estímulos deve levar à modificação no responder em testes subsequentes de relações emergentes para que se possam atribuir as relações condicionais ao treino prévio e não a fatores extraexperimentais (Spradlin, Cotter, & Baxley, 1973). Assim, a reorganização das classes de acordo com a reversão das contingências é considerada como uma demonstração de que as classes podem realmente ser tidas como unidades comportamentais. Diante dessas colocações, espera-se que, por razões lógicas, as relações condicionais das classes de equivalência possam ser alteradas como um todo, quando as contingências são rearranjadas (Folsta & de Rose, 2007). Todavia, os resultados dos estudos em que foi investigada a reorganização de classes de estímulos equivalentes são conflitantes, podendo-se observar que alguns deles estão de acordo com esta previsão e outros não. Por exemplo, há relatos de resultados em que a reorganização de classes ocorreu (Castro & Haydu, 2009; Dube et al., 1987; Dube et al., 1989; Dube & McIlvane, 1995; Folsta & de Rose, 2007; Garotti & de Rose, 2007 - Experimento 2; Garotti, de Souza, de Rose, Molina, & Gil, 2000; Roche, Barnes, & Smeets, 1997 - Experimento 4; Saunders, Drake, & Spradlin, 1999; Spradlin et al., 1973 - Experimentos 1 e 2; Smeets, Barnes-Holmes, Akpinar, & Barnes-Holmes, 2003) e relatos de resultados em que a reorganização prevista não ocorreu (Garotti & de Rose, 2007 - Experimento 1; Goyos, 2000 - Experimento 2; Michael & Bernstein, 1991; Pilgrim & Galizio, 1990, 1995; Pilgrim, Chambers, & Galizio, 1995; Roche et al., 1997 - Experimentos 1 a 3; Spradlin et al., 1973 - Experimento 3; Spradlin, Saunders, & Saunders, 1992; Saunders, Saunders, Kirby, & Spradlin, 1988).

A seguir, serão descritos alguns dos estudos em que o procedimento de rearranjo das contingências foi estabelecido e a reorganização das classes de equivalência foi testada. Os artigos aqui revisados foram localizados pelo sistema de busca do Portal de Periódicos da CAPES e o Portal de Dissertações e Teses da CAPES, pelas bases de dados disponíveis livremente na internet, por sites de revistas focalizadas em publicar artigos de análise do comportamento e por meio das listas de referência dos artigos inicialmente encontrados. Essa busca permitiu localizar 24 artigos, publicados no período de 1973 a 2009, listados na Tabela 1. Em uma parte desses artigos, todos os experimentos envolveram um procedimento de rearranjo das contingências para a reorganização de classes de equivalência, chegando a ser feitos até sete experimentos (Smeets et al., 2003). Em outros, foram realizados diversos experimentos, mas nem todos voltados para investigar essa questão (Smeets et al., 2006). Na Tabela 1, estão especificados os dados da referência, o número e tipo de participante, o tipo de equipamento, algumas características do procedimento e se foi ou não demonstrada a reorganização das classes de equivalência dos experimentos em que as contingências de reforço foram rearranjadas para a reorganização das classes de equivalência.

 

Estudos empíricos sobre reorganização de classes de equivalência

O primeiro estudo encontrado na bibliografia da análise do comportamento em que as contingências foram rearranjadas para verificar se haveria a reorganização das classes de equivalência é o de Spradlin et al. (1973), em que foram desenvolvidos três experimentos e ensinadas relações condicionais entre estímulos a três participantes com desenvolvimento atípico em cada um. Após os testes das relações emergentes em que foi demonstrada a formação de duas classes de equivalência, foram revertidas todas as relações de linha de base. Nos Experimentos 1 e 2, três e dois participantes, respectivamente, reorganizaram as classes de forma coerente com as alterações realizadas. Esse resultado levou os autores a concluírem que as classes de estímulos equivalentes demonstradas estavam provavelmente relacionadas às contingências de reforço vigentes nos treinos e não à variáveis extraexperimentais. No Experimento 3, a reorganização não foi observada. Os dados dos participantes são bastante variados, tendo sido considerados não conclusivos.

Outros dois estudos de reorganização das classes de equivalência foram realizados por Dube et al. (1987 - Experimento 3) e Dube et al. (1989). Nesses experimentos, foi investigada a possibilidade de reorganizar classes de equivalência por intermédio da reversão do estímulo reforçador. No experimento de Dube et al. (1989), participantes com desenvolvimento atípico foram submetidos, inicialmente, ao procedimento de escolha de acordo com o modelo por identidade, usando-se dois tipos diferentes de reforçadores. Foram treinadas as relações A1A1, B1B1, C1C1 e D1D1 com um tipo de reforço (R1) e as relações A2A2, B2B2, C2C2 e D2D2 com outro tipo de reforço (R2). As relações condicionais arbitrárias foram treinadas subsequentemente, também, com os dois tipos de reforços: no ensino das relações A1B1 e B1C1, a consequência R1 e no ensino de A2B2 e B2C2, a consequência R2. Foi demonstrada a formação das duas classes de equivalência nos testes das relações emergentes. Em seguida, as relações D1D1 e D2D2 foram treinadas com os reforços revertidos. Essa reversão nos treinos ocasionou uma mudança na forma com que os participantes responderam, sendo observadas as classes A1B1C1D2 e A2B2C2D1. Diante disso, os pesquisadores concluíram que a inclusão do estímulo D nas classes e a reorganização dessas ocorreram por intermédio da relação do estímulo D com o reforçador. Esses resultados foram semelhantes aos observados por Dube et al. (1987) e foram corroborados por Dube e McIlvane (1995), mas não por Goyos, (2000 - Experimento 2).

Um estudo realizado, também na década de 1980, apresentou resultados diferentes dos que foram citados no parágrafo anterior. Saunders, Saunders, Kirby e Spradlin (1988) realizaram três experimentos, nos quais investigaram a formação e expansão de classes de estímulos equivalentes. Apenas no segundo experimento, foi realizada a reversão das relações de linha de base. Nesse experimento, três participantes com desenvolvimento atípico foram submetidos ao procedimento de escolha de acordo com o modelo, tendo sido ensinadas as relações condicionais BA, CA e DA. Testes de equivalência demonstraram a formação de duas classes - A1B1C1D1 e A2B2C2D2. Em seguida, foram ensinadas as relações FE, GE e HE e, nos testes subsequentes, foi demonstrada a formação de outras duas classes - E1F1G1H1 e E2F2G2H2. Na etapa seguinte, após tentativas em que as relações FA eram apresentas sem reforço explícito para as repostas dos participantes, observou-se a fusão das classes anteriormente formadas em duas classes com oito membros - A1B1C1D1E1F1G1H1 e A2B2C2D2E2F2G2H2. Posteriormente, as contingências das relações FA foram revertidas, tendo sido reforçadas a escolha de A1, quando o estímulo-modelo era F2 e a escolha de A2, quando o estímulo-modelo era F1. Os experimentadores esperavam que ocorresse uma nova fusão, com a reorganização das classes de oito membros, mas dois dos três participantes mantiveram as classes originalmente treinadas, o que levou Saunders et al. (1988) a sugerirem que classes de estímulos equivalentes podem ser extremamente resistentes a alterações.

A questão de ser ou não viável alterar as classes de equivalência assumiu status polêmico a partir das publicações dos experimentos de Pilgrim e Galizio (1990, 1995) e de Pilgrim et al. (1995) e do artigo de revisão de Pilgrim e Galizio (1996). Para que seja possível uma descrição sucinta desses experimentos, são citadas, a seguir, algumas características de procedimento todos eles: (1) o treino era realizado com um Wisconsin General Test Apparatus (WTGA) modificado; (2) os estímulos utilizados eram figuras geométricas tridimensionais; (3) as consequências contingentes às respostas eram moedas de 1 centavo no experimento com crianças e fichas pretas e brancas naqueles com adultos (as brancas valiam 1 centavo e as prestas representavam a perda de 1 centavo); (4) todas as tentativas de treino e de teste envolviam dois estímulos de comparação.

Cinco estudantes universitários participaram do estudo de Pilgrim e Galizio (1990), os quais inicialmente foram submetidos ao ensino de dois conjuntos de relações condicionais (A1B1 e A2B2; A1C1 e A2C2). Após a verificação do critério de aprendizagem e da apresentação de um bloco misto, a taxa de reforço foi reduzida de 100% para 50% nas demais fases de treino. Em seguida, foi realizado um teste com tentativas de relações de linha de base com reforço intermitente e tentativas de testes das relações emergentes de reflexividade, de simetria e de transitividade, sem reforço diferencial. Após a verificação da emergência de duas classes de estímulos equivalentes com três membros cada (A1B1C1 e A2B2C2), os participantes foram submetidos a um conjunto de tentativas de treino em que as contingências foram alteradas de três formas diferentes, em condições não sinalizadas. Nenhum dos participantes passou por todas essas três condições. As condições foram: (a) reversão da relação AC (A1C2 e A2C1), (b) relação AC randômica (de acordo ora com o treino original ora com o treino revertido) e (c) reversão completa (A1B2, A1C2 e A2B1, A2C1). No final do procedimento, houve o retorno à condição da linha de base original. Como resultado, observou-se que o desempenho nos testes de simetria foram consistentes com as alterações na linha de base para três dos quatro participantes. Contudo, os resultados dos testes de transitividade mantiveram-se sempre consistentes com o treino original. Esses resultados levaram os autores a concluir que, após as classes de estímulos equivalentes terem sido formadas, dificilmente elas são reorganizadas.

Para avaliar o efeito do rearranjo das contingências de linha de base nos testes das relações emergentes, Pilgrim e Galizio (1995) realizaram uma replicação sistemática do estudo anterior com algumas alterações metodológicas e com o treino de relações condicionais para a formação de classes com um número maior de estímulos. Quatro estudantes universitários foram submetidos ao procedimento de ensino das relações AC e BC. Após o critério de aprendizagem ter sido atingido, foi treinada a relação AD. Em seguida, foram realizadas sessões com blocos de testes de simetria e de equivalência (sem reforço diferencial), e de relações da linha de base (com 50% de reforço para as respostas corretas). Esse primeiro teste de equivalência não incluiu as relações CD e DC, que só foram avaliadas em uma fase posterior do experimento. Nessa fase, confirmou-se a formação de duas classes de estímulos equivalentes (A1B1C1D1 e A2B2C2D2). Após atingirem o critério nos testes, os participantes foram expostos a tentativas de treino da relação condicional AD revertida (A1D2 e A2D1), em um bloco de treino misto, que continha as relações de linha de base originais. Ao atingirem o critério de acerto nesse bloco misto, os participantes foram submetidos a testes com todas as relações, incluídas as relações CD e DC. Nesse teste, não havia um critério de composição das classes, bastava haver estabilidade no responder. Foi então ensinada uma nova relação condicional, a relação DE e foram realizados novos testes. Na fase seguinte, os participantes foram submetidos a um bloco que apresentava a reversão da contingência de outra relação da linha de base, a relação BC (B1C2 e B2C1). Todas as relações da linha de base original foram retreinadas e os participantes responderam de acordo com o treino original na última fase do experimento, além disso, todas as relações revertidas foram alteradas nos testes de simetria, de acordo com as alterações nas contingências. Porém, os resultados dos testes de equivalência não foram alterados, corroborando os resultados do estudo anterior (Pilgrim & Galizio, 1990).

A generalidade dos resultados de Pilgrim e Galizio (1990, 1995) foi testada com outro tipo de população (crianças, de 5 a 7 anos de idade) no experimento desenvolvido por Pilgrim et al. (1995). A metodologia desse experimento foi muito semelhante à do estudo de 1990. Nos testes de transitividade, após a reversão, todos os participantes apresentaram um responder ora em conformidade com as contingências originais, ora com as revertidas. No teste de simetria, três dos cinco participantes responderam de forma semelhante ao ocorrido nos testes de transitividade e os outros dois responderam somente de forma coerente com o treino original. O resultado encontrado foi que o comportamento das crianças foi muito variável, sofrendo algumas modificações com as alterações feitas nas relações de linha de base, mas não se observou que tivesse ficado sob o controle das novas contingências. Esses dados levaram Pilgrim et al. (1995) a concluir que o desempenho das crianças é mais "frágil" do que "maleável".

O fato de ter havido reorganização das relações de simetria, mas não das de equivalência, nos estudos de Pilgrim e Galizio (1990, 1995), foi inusitado, pois contradiz as previsões feitas com base no modelo de equivalência de Sidman (2000). Se confirmados, esses resultados levam ao questionamento que visa saber se as classes de equivalência podem ser consideradas como um fenômeno delimitado pela coesão entre as propriedades de reflexividade, de simetria e de transitividade. Diante disso, Pilgrim e Galizio (1996) propuseram uma ampliação do conceito de equivalência, sugerindo que "uma definição de equivalência que permitisse a correspondência entre três relações independentes de estímulos poderia produzir uma maior generalidade, enquanto mantivesse a precisão e o rigor desse quadro teórico" (p. 191).

A polêmica gerada pelos resultados obtidos por Pilgrim e Galizio (1990, 1995) levaram ao desenvolvimento de três estudos subsequentes, sendo um deles (Smeets et al., 2003) replicação do experimento de Pilgrim e Galizio (1990), e os outros dois replicações do experimento de Pilgrim e Galizio (1995), os quais foram desenvolvidos por Garotti et al. (2000) e Garotti e de Rose (2007). Esses estudos são descritos a seguir.

No estudo desenvolvido por Smeets et al. (2003), foram realizados sete experimentos distribuídos em duas partes. Na Parte 1, foram realizados três experimentos em que foram controladas variáveis como a duração do experimento, a localização do experimentador em relação ao participante e a topografia da resposta, e foi comparado o efeito de dois tipos de procedimento de reversão. Um em que os estímulos de comparação são do mesmo conjunto - procedimento padrão (A1:B1B2 e A2:B1B2) e o outro em que os estímulos de comparação são de conjuntos diferentes - procedimento não padrão (A1:B1C1 e A2:B1C1). Na Parte 2, foram realizados cinco experimentos em que as variáveis experimentais foram o mais parecido possível com as do experimento de Pilgrim e Galizio (1990). Os resultados dos experimentos de Smeets et al. (2003) não corroboram os do estudo replicado. As variáveis manipuladas não produziram efeitos expressivos sobre o desempenho dos participantes, tendo sido demonstrada a reorganização das classes de equivalência em todos eles.

A outra replicação foi feita por Garotti et al. (2000), em que se observa que as principais diferenças entre o método desse experimento e o de de Pilgrim e Galizio (1995) foram: (1) a realização do experimento com um computador e não com o WGTA; (2) a manutenção de um esquema de reforço contínuo nos treinos originais e nos de reversão, e (3) a inclusão de blocos de treino de revisão das relações de linha de base, ou seja, blocos que apresentavam tentativas de treino misturadas aleatoriamente, antes das tentativas de testes, sem apresentação de reforço diferencial. Participaram desse estudo nove estudantes universitários. Oito dos nove participantes reorganizaram as classes de acordo com as contingências modificadas, estando os dados do teste de simetria e de transitividade coerentes com as alterações nas contingências. Segundo Garotti et al. (2000), como esse experimento diferiu, em diversos aspectos metodológicos, do experimento realizado por Pilgrim e Galizio, os resultados divergentes não poderiam ser explicados sem que fossem realizados estudos adicionais. Assim, para investigar o efeito de outros aspectos metodológicos, Garotti e de Rose (2007) desenvolveram dois outros experimentos.

O procedimento dos experimentos de Garotti e de Rose (2007) foi semelhante ao de Garotti et al. (2000), mas em todas as tentativas de treino e de teste foram apresentados sempre três estímulos de comparação em vez de dois. Além disso, o efeito do conjunto de blocos de revisões das relações de linha de base apresentado antes dos testes foi controlado. No Experimento 1, as tentativas de revisão de linha de base não foram apresentadas e no Experimento 2, sim. Isso foi feito porque Garotti e de Rose (2007) consideraram que o desempenho nos testes posteriores à reversão pode ser dependente de histórias de reforço conflituosas, de modo que uma dessas histórias poderia controlar o comportamento de forma preponderante se alguma variável fortalecesse uma delas em detrimento da outra. Portanto, um resultado desfavorável nos testes de reorganização, mediante modificações de relações de linha de base no Experimento 1, evidenciaria a importância dessas revisões. Verificou-se, nesse experimento, que os quatro participantes não reorganizaram as classes de equivalência. Do Experimento 2 participaram três estudantes universitários e uma estudante do Ensino Médio. O procedimento foi idêntico ao do Experimento 1, exceto que nesse foram incluídas as revisões das relações de linha de base antes dos testes. Os dados indicam que esse procedimento foi eficaz, já que todos os participantes apresentaram reorganização das classes de forma coerente com a reversão das contingências. Garotti e de Rose (2007) concluíram que a inclusão da revisão da linha de base foi uma variável importante na modificação de classes de estímulos equivalentes, visto que ela favoreceu a reorganização das classes.

A reaplicação do treino das relações de linha de base foi feito também em um estudo desenvolvido por Eccheli (2007), mas nesse caso esse treino foi posterior ao teste de relações emergentes e foi denominado "supertreino". A autora formulou a hipótese de que o supertreino poderia dificultar a reorganização de classes de equivalência, porque provavelmente reduziriam a variabilidade comportamental. O experimento envolveu três grupos de participantes: o Grupo 1 não foi submetido ao supertreino; o Grupo 2 teve supertreino com alta taxa de reforço; e o Grupo 3 foi submetido ao supertreino com baixa taxa de reforço. O Grupo 1 necessitou de um menor número de tentativas de treino para reorganização das classes em comparação aos Grupos 2 e 3, mas todos os participantes dos três grupos reorganizaram as classes de equivalência. Concluiu-se que o supertreino realizado após a emergência das relações de equivalência dificultou, mas não impediu a reorganização das classes, diferente do que foi observado por León (2006).

Outra variável que pode ser destacada como relevante para a reorganização de classes de estímulos equivalentes é o tamanho das classes em relação ao número de reversões, como foi demonstrado no experimento realizado por Folsta e de Rose (2007). O experimento foi realizado em um computador com o software MTS. Doze participantes foram distribuídos em dois grupos. Os participantes do Grupo 1 formaram duas classes com quatro membros cada, ao passo que os do Grupo 2 formaram duas classes com oito membros cada. Em seguida, todos os participantes foram submetidos a um treino com as contingências de uma relação da linha de base revertida e, finalmente, foram realizados os testes para a verificação da reorganização das classes. O grupo que formou classes com quatro membros, a reversão da contingência de uma das relações representou um terço do total de relações treinadas (duas não revertidas AB, AC e uma revertida AD). O grupo que formou classes com oito membros, a reversão da contingência de uma das relações representou um sétimo do total de relações treinadas (seis não revertidas AB, AC, AE, AF, AG, AH e uma revertida AD). Dos seis participantes do Grupo 1, quatro apresentaram a reorganização das classes, ao passo que, do Grupo 2, apenas um participante apresentou a reorganização esperada. Os resultados evidenciam, portanto, que o tamanho das classes pode modificar a probabilidade da reorganização das classes de estímulos equivalentes.

Além dos estudos descritos nos parágrafos anteriores desta seção, outros pesquisadores demonstraram reorganização das classes de equivalência, como, por exemplo, Michael e Bernstein (1991) que usaram diferentes tipos de procedimento (modelagem, modelação e instruções) no ensino das relações condicionais; Wirth e Chase (2002) que demonstraram que os efeitos da reversão são temporários; Castro e Haydu (2009), e Wilson e Hayes (1996) que visaram demonstrar a ressurgência de classes de equivalência; Smyth, et al. (2006) que obtiveram reorganização das classes com procedimento SPOP. Todos esses estudos confirmaram a previsão de que, mediante novos treinos com contingências modificadas, as classes de equivalência são reorganizadas.

 

Problemas de pesquisa ainda não investigados

A partir dos resultados dos estudos sobre reorganização de classes de equivalência é possível destacar alguns aspectos que provavelmente são relevantes para reorganização de classes. Em primeiro lugar, é possível citar o número de estímulos de escolha. Sidman (1987) advertiu sobre os problemas que podem surgir quando apenas dois estímulos de comparação são apresentados. Dentre eles, cabe citar que, em um treino de relações de linha de base de discriminações condicionais com essa característica podem ocorrer, com maior probabilidade, duas relações de controle diferentes: o controle por seleção e o controle por rejeição. O controle por seleção, ou tipo S, é aquele em que o desempenho é controlado pela relação entre o estímulo-modelo e o estímulo de comparação correto, ou seja, o participante seleciona o estímulo especificado pelo experimentador. O controle por rejeição, ou tipo R, é aquele em que o desempenho está sob controle da relação entre o estímulo-modelo e o estímulo de comparação incorreto, ou seja, o participante rejeita o estímulo incorreto, escolhendo por exclusão o estímulo de comparação correto. A importância dessa variável nos procedimentos com reversão é aumentada, já que ela pode, eventualmente, modificar o tipo de controle de S para R (Carrigan & Sidman, 1992). A ocorrência desses dois tipos de controle da resposta de forma alternada, ou seja, o controle ora do tipo S ora do tipo R caracteriza o controle heterogêneo. A utilização de apenas dois estímulos de comparação permite que escolhas ao acaso tenham uma probabilidade razoável de serem corretas, podendo levar o experimentador a inferir erroneamente a formação de classes de equivalência. Uma maneira de diminuir a escolha do tipo R e fortalecer a do tipo S é utilizar três ou mais estímulos de comparação. A maioria dos estudos sobre reorganização de classes usou somente dois estímulos de comparação, sendo exceções, os que foram desenvolvidos por Castro e Haydu (2009), Garotti e de Rose (2007) e Wilson e Hayes (1996). Esta variável ainda não foi diretamente investigada em nenhum estudo que tratasse de reorganização de classes e, devido à reversão que é realizada com os estímulos, ela pode ter uma participação importante nesse processo, por quanto afeta, conforme destacaram Perez e Tomanari (no prelo), a formação das classes de equivalência.

Um procedimento para isolar o tipo de controle, se do tipo S ou do tipo R, sem ter de aumentar o número de estímulos de comparação é o uso de máscara para cobrir os estímulos de comparação. Por exemplo, pode-se encobrir o estímulo de comparação positivo na maior parte das tentativas, favorecendo-se o controle exclusivo por rejeição ou encobrir o estímulo de comparação negativo na maior parte das tentativas e favorecer o controle exclusivo por seleção, conforme demonstrou Arantes (2008). Outro procedimento com o uso de máscara foi desenvolvido por Hamasaki (2009) e consiste em encobrir os estímulos-modelo e os de comparação com uma janela que pode ser aberta pelo participante por meio de uma resposta de observação. Nesse estudo, concluiu-se que o favorecimento de diferentes tipos de controle pode alterar o efeito do treino, pois os resultados levaram à conclusão de que as classes de equivalência dependem de ambos os controles.

Outra variável que pode afetar a reorganização de classes de equivalência, mas seu efeito não foi investigado de forma sistemática, é a estrutura de treino. Saunders e Green (1999) destacaram que muitos resultados diferentes observados em testes de equivalência poderiam ser atribuídos ao tipo de estrutura. A estrutura de treino pode ser definida como a ordem e o arranjo com que as relações condicionais de linha de base são ensinadas. Além disso, segundo esses autores, a estrutura de treino CaN (Comparison as Node) é o único tipo de estrutura em que se ensinam, nos treinos, todas as discriminações simples requeridas nos testes das relações emergentes. Apesar disso, essa estrutura é a menos utilizada nos estudos sobre reorganização de classes de equivalência. Ela foi empregada somente por Castro e Haydu (2009), Eccheli (2007), Saunders, Saunders, Kirby e Spradlin (1988) e Saunders et al. (1999). No experimento de Saunders et al. (1999), a comparação entre CaN (Comparison as Node) e SaN (Sample as Node) foi realizada, mas ocorreu juntamente com a manipulação de outras variáveis e a demonstração de seu efeito foi prejudicada pela distribuição desigual de participantes submetidos ao procedimento com cada uma dessas estruturas. Em outros estudos sobre reorganização de classes de equivalência foram usados, em sua maioria, estruturas mistas, não havendo dados que permitam formular qualquer tipo de conclusão em relação ao efeito da estrutura de treino sobre a reorganização de classes de equivalência.

 

Considerações Finais

Neste artigo foi apresentada uma conceituação do que vem a ser reorganização de classes de equivalência e foram revisados estudos em que as classes de estímulos equivalentes foram estabelecidas pelos experimentadores, em contextos de laboratório. Deve-se, no entanto, destacar que também são estudos sobre reorganização de classes de equivalência, aqueles em que foi investigada a possibilidade de formação de classes por participantes que entram para o experimento com um repertório comportamental conflituoso com as classes que o experimentador pretende estabelecer. Ou seja, estudos que investigaram o efeito de classes pré-experimentais, envolvendo relações entre estímulos diferentes daquelas que os experimentadores treinam ou diferentes daquelas que se espera que sejam apresentadas nos testes de equivalência. Um exemplo desse tipo de estudo seria o que foi realizado por Watt, Keenan, Barnes e Cairns (1991), do qual participaram cidadãos protestantes da Irlanda do Norte, que não demonstraram a emergência de classes de estímulos equivalentes que mesclavam nomes protestantes com nomes católicos. Os pesquisadores inferiram que classes pré-experimentais com uma longa história de treino impediram que fossem formadas as relações que estivessem de acordo com as contingências estabelecidas por eles, impedindo a formação das classes de estímulos equivalentes. Resultados semelhantes a esses foram obtidos em estudos sobre preferência alimentar de adolescentes (Straatmann, 2008) e de pessoas com diferentes Índices de Massa Corporal (Viana, 2006).

Os resultados dos estudos sobre reorganização de classes de estímulos equivalentes apresentam muitas diferenças metodológicas. Em alguns desses estudos não foi demonstrada a reorganização das classes de equivalência (Pilgrim e Galizio, 1995), porém, em outros, inclusive nos mais recentes, esse resultado foi observado (Folsta & de Rose, 2007; Garotti & de Rose, 2007). Na presente revisão bibliográfica, foram descritos os estudos que investigaram a possibilidade de serem as classes de estímulos reorganizadas e o efeito de diversas variáveis sobre esse processo comportamental. As variáveis investigadas foram a topografia da resposta, o tipo de equipamento, a reversão parcial ou total das relações condicionais; a revisão da linha de base e o momento em que ela é feita, bem como o efeito do supertreino; o tipo de participante, se crianças ou adultos; o número de estímulos de comparação nas tentativas do MTS; o tamanho das classes; a reversão padrão versus a reversão não padrão; o rearranjo das contingência pela alteração do tipo de reforço em cada classe. Essa revisão permitiu constatar que os efeitos de algumas dessas variáveis, como, por exemplo, a estrutura de treino e o número de estímulos de comparação requerem estudos adicionais.

A questão da reorganização de classes de estímulos equivalentes tem importantes implicações teóricas conforme apontam as discussões dos resultados dos experimentos descritos no presente estudo. Além disso, pode-se sugerir que há também implicações práticas aplicáveis a diferentes contextos, como, por exemplo, o clínico e o educacional. Com relação ao contexto clínico, pode-se citar a relevância de ser possível alterar relações de equivalência que fazem parte de comportamentos, como a depressão, as fobias, o pânico e inclusive a ideação de suicídio. Segundo Hayes e Wilson (1993), dada a habilidade para responder a relações entre estímulos, pode-se aplicar o rótulo "se... então..." a relações que nunca foram diretamente vivenciadas. Eles citam o caso de uma criança de 6 anos cuja mãe estava doente em estado terminal e que pulou na frente de um trem "para estar com os anjos e com a mamãe". Segundo esses autores, a dor, o alívio da dor e a morte podem adquirir funções tanto diretamente, como pela transferência das funções que podem ser positivas ou negativas. Portanto, a possibilidade de serem as classes de equivalência reorganizadas pode ser fundamental nesse contexto.

Com relação ao contexto educacional, destaca-se que, em situações novas, os organismos apresentam variabilidade comportamental e no contato com as contingências de reforço diferencial são selecionadas algumas respostas específicas. Essas respostas tendem a se tornar estereotipadas, econômicas e eficazes. Por isso, a variação comportamental é importante para que ocorra a seleção de comportamentos eficazes e a redução na variabilidade, à medida que o comportamento se torna eficaz, é importante dada a economia que isso representa. No entanto, os comportamentos podem tornar-se ineficazes, se não mudarem quando as contingências forem alteradas. Assim, a demonstração de que relações de equivalência uma vez formadas são passíveis de serem alteradas pelo rearranjo das contingências é um aspecto fundamental de qualquer situação que envolve processos de aprendizagem, como o comportamento simbólico e o conceitual.

 

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Endereço para correspondência:
João Henrique de Almeida
Rua Coronel Tamarindo, 126. Centro
São João del Rei, MG, Brasil. CEP.: 36300-000
E-mail: emaildojoaoh@yahoo.com.br

Enviado em Novembro de 2008
Texto reformulado em Março de 2010
Aceite em Abril de 2010
Publicado em Outubro de 2010

 

 

Sobre os autores:

João Henrique de Almeida. Mestrando em Análise do Comportamento pela Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina, UEL. Verônica Bender Haydu. Doutora em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo, Docente do Departamento de Psicologia Geral e Análise do Comportamento da Universidade Estadual de Londrina, UEL.

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