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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.19 no.2 Ribeirão Preto dez. 2011

 

Revisão de pesquisas sobre criatividade e resiliência

 

Review of researches on creativity and resilience

 

 

Maria Antonia de Oliveira; Tatiana de Cássia Nakano

Pontifícia Universidade Católica de Campinas - Campinas, SP - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Considerando a criatividade e a resiliência como importantes características pessoais, que, aliadas, poderiam ser utilizadas pelo indivíduo como recursos para a busca de respostas mais eficazes e soluções mais adaptadas na presença de um ambiente desfavorável, o presente trabalho teve por objetivo realizar um levantamento das pesquisas que enfocaram a relação entre os dois construtos em duas importantes bases de dados. Sete artigos foram encontrados, publicados entre 2005 e 2008, três desenvolvidos por pesquisadores nacionais e quatro por pesquisadores internacionais. As investigações focam principalmente estudantes, sendo que os instrumentos utilizados não se encontram validados para uso na população brasileira. Devido ao pequeno numero de estudos sobre a temática, muitas lacunas ainda se encontram presentes e merecem ser investigadas em novos estudos.

Palavras-chave: Estado da arte, Criatividade, Resiliência.


ABSTRACT

Considering creativity and resilience as important personal characteristics which, combined, could be used as resources by the individual to search for more effective responses and best adapted solutions in the presence of an unfavorable environment, this study aimed to conduct a survey of the researches that focused on the relationship between the two constructs in two important databases. Seven articles were found, published between 2005 and 2008, three developed by national researchers and four by international researchers. Researches focus mainly students, inasmuch as the instruments used are not validated for use in the population. Due to the small number of studies on the subject, many gaps are still present and deserve to be investigated in further studies.

Keywords: State of the art, Creativity, Resilience.


 

 

Será possível relacionar os conceitos de criatividade e resiliência? Caso a resposta seja afirmativa, o que tem sido estudado sobre a ligação entre estes dois fenômenos? Embora as duas temáticas venham recebendo atualmente bastante atenção por parte do meio científico, devido principalmente ao fato de serem consideradas mecanismos favoráveis ao desenvolvimento sadio do indivíduo (Pesce, Assis, Santos & Oliveira, 2004; Wechsler, 2008; Yunes, 2003), o que se tem notado é uma carência de estudos que investiguem essa relação, de forma que a presente pesquisa constitui-se em um estudo exploratório inicial de levantamento da produção científica sobre a temática. Sabe-se que pesquisas com esta finalidade têm sido cada vez mais reconhecidas pelo meio científico, uma vez que muitas descobertas e avanços no conhecimento acumulado estão sendo feitos não somente por aqueles que fazem estudos de investigação primária, mas também por aqueles que usam as revisões de literatura como um método para descobrir o significado da produção existente (Martins, 2001), analisando-a e apontando os pontos deficientes em determinada temática.

A importância de um olhar voltado para os aspectos sadios do indivíduo justifica-se diante da constatação que, durante muito tempo, o foco das contribuições da Psicologia baseou-se no estudo, compreensão e tratamento das patologias e enfermidades mentais (Yunes, 2006). Entretanto, esta ênfase da Psicologia clássica na enfermidade acabou por provocar um descuido em relação aos aspectos positivos e os recursos internos do indivíduo, tais como bem-estar, satisfação, esperança, otimismo e felicidade, que acabaram por serem negligenciados, ignorando-se os benefícios que estes trazem às pessoas (Greco, Morelato & Ison, 2006). Neste sentido, o movimento da Psicologia Positiva emergiu como uma reação à abordagem psicopatológica que predominava até então, propondo-se a estudar os comportamentos humanos, não em relação aos déficits e sintomas, mas sim em uma perspectiva focada nas potencialidades e habilidades, a fim de compreender a saúde mental (Taboada, Legal & Machado, 2006). As contribuições trazidas por essa abordagem mostram que as potencialidades humanas têm papel relevante na prevenção da doença, não só física, como psicológica, de forma que a Psicologia Positiva passou a ser definida como o estudo científico das experiências, traços individuais positivos e das instituições que seriam facilitadoras do desenvolvimento (Barros, Martín & Pinto, 2010). Ela acaba tendo por objetivo a descoberta de novos conhecimentos que visam ajudar as pessoas e os grupos a entender e fortalecer os fatores que permitem a redução da incidência e a prevenção de patologias que surgem das condições de vida adversas (Contreras & Esguerra, 2006), de modo a proporcionar melhora na qualidade de vida (Fiorentino, 2008).

No leque da iniciativa de criação de uma ciência que tenha como foco as potencialidades e qualidades humanas, alguns fenômenos indicativos dessa faceta saudável do indivíduo podem ser destacados, dentre eles, a criatividade e a resiliência. Nesse sentido, antes de tentar responder às questões levantadas inicialmente, torna-se importante compreender cada um dos conceitos.

Como um caleidoscópio que nos surpreende com uma configuração diferente a cada movimento, também a criatividade pode nos parecer por demais imprecisa para ser abarcada em uma única definição, situação apontada por diversos autores, tais como Wechsler (2008), ao apontar que "este é um fenômeno complexo e com múltiplas facetas" (p.19), Piaget (1972/2002), que em outras palavras também salientou o aspecto intangível da criatividade ao afirmar que "a origem da criatividade permanece misteriosa mesmo que esteja presente em todos nós" (p.11) ou ainda Boden (1999), segundo a qual "o caráter aparentemente imprevisível da criatividade parece excluir qualquer explicação sistemática, seja ela científica ou histórica" (p.81).

A partir do famoso discurso de Guilford (1950), ao assumir a presidência da Associação Americana de Psicologia (APA), o descaso em que a área estava sendo tratada é exposto quando o autor apresenta dados mostrando que, na ocasião, em 121 mil trabalhos indexados no Psychological Abstracts, menos de 0,2% dos estudos realizados durante o período de 23 anos enfocavam a questão da criatividade. A partir desse momento, um grande aumento no número de produções científicas ligadas à criatividade teve início, o qual se prolongaria até os anos de 1970, período em que se poderia notar uma média de 250 publicações por ano (Morais, 2001). A partir desse momento, a temática passa a ser tema de grande interesse para a comunidade científica, interesse que se mantém até os dias atuais (Wechsler, 2008).

Entretanto, o interesse latente pelo construto da criatividade acabou resultando na falta de um conceito único, devido ao grande número de definições formuladas. Esse fato fez com que dois desafios tivessem que ser superados para a consolidação da área: o estabelecimento de uma definição precisa e satisfatória do termo e a criação de uma forma útil e confiável de se realizar a avaliação do constructo (Nakano, 2006; Roazzi & Souza, 1997; Wechsler, 1999). Mesma percepção é compartilhada por Lubart (2007) e expressa em alguns questionamentos: "pode-se definir a criatividade? existe uma definição clara, única e definitiva desse conceito? pode-se, ao menos, chegar a uma definição consensual da criatividade?" (p.9).

Algumas dessas questões que foram levantadas em relação à possibilidade de avaliação adequada, ou não, da criatividade, resultaram em grandes avanços para a área e adquiriram importância fundamental, na medida em que incentivaram a realização de pesquisas que buscaram comprovar, cientificamente, a validade dos instrumentais disponíveis. Desta forma, frente a tantos posicionamentos e definições do termo, confirmadas por levantamento realizado por Taylor (1976), que encontrou mais de cem definições distintas e às vezes até mesmo opostas, e com a finalidade de garantir um entendimento entre os vários pesquisadores da área, a realização da Conferência Internacional de Buffalo, em 1990, possibilitou aos pesquisadores a elaboração de uma definição bem abrangente para a criatividade, a qual passa a ser vista como uma característica multidimensional: "A criatividade passa a ser entendida como o resultado da interação entre processos cognitivos, características da personalidade, variáveis ambientais e elementos inconscientes" (Wechsler, 2008, p. 91). Esta definição parece ter sido bem aceita no meio científico por permitir que as dificuldades percebidas pelos pesquisadores em relação à indefinição do conceito fossem minimizadas (Wechsler, 1995), embora ainda permaneça algum impasse entre os pesquisadores acerca da definição do construto e sua possibilidade de mensuração (Nogueira & Bahia, 2007; Pereira, 2000).

Considerando a amplitude do tema e a necessidade de se organizar o foco das investigações, diferentes aspectos associados à criatividade passaram a ser objetos de inúmeras investigações, os quais têm sido tradicionalmente classificados em quatro categorias: o processo criativo, o produto criativo, a pessoa criativa e o ambiente criativo (Eysenck, 1999; Kneller, 1971). O processo criativo, cuja análise visa identificar as habilidades que são envolvidas durante o processo de criação, seria decorrente de influências cognitivas, motivacionais, de personalidade, históricas/ecológicas, desenvolvimentais, biológicas/químicas e também do acaso e da sorte (Wechsler, 2008), de forma a englobar, segundo Alencar, Fleith e Bruno-Faria (2010), "estudos a respeito de operações e estratégias que a pessoa utiliza para gerar e analisar ideias, resolver problemas, tomar decisões e gerenciar seu pensamento durante o processo criativo" (p.13). O produto criativo, cujo estudo quer avaliar os produtos resultantes dos processos criativos, seria julgado principalmente em relação à sua originalidade, inovação e relevância, seria determinado pelos valores do momento histórico, social e cultural, visto que uma obra pode, muitas vezes, não ser considerada criativa em certa época e, anos depois, ganhar grande destaque (Wechsler, 2008), sendo muito frequentes exemplos desta situação na História da Arte. A análise da pessoa criativa incluiria estudos referentes às características pessoais e os traços que as distinguem, como por exemplo, habilidades cognitivas, traços de personalidade, motivação, estilos de aprendizagem e estilos de criatividade (Alencar et al., 2010; Wechsler, 2008). Por sua vez, o ambiente criativo seria marcado pelo contexto que favorece a criatividade, a personalidade e o potencial criativo (Amabile, 1983; Moreno, 2006), de forma a se verificar que o desenvolvimento e a expressão da criatividade não dependem somente dos esforços do próprio indivíduo, sendo importante também o contexto em que ele se encontra inserido (Alencar, 1995).

Dada a relevância da temática, alguns autores têm ressaltado a importância da criatividade como um recurso para enfrentarmos os riscos e desafios da época em que vivemos. Se considerarmos, por exemplo, a situação da maior parte dos países do terceiro mundo, veremos que a globalização tem feito com que progressivamente suas consequências comecem a ser sentidas através do empobrecimento e exclusão da população, que passou a vivenciar situações de desemprego, aumento da ineficácia dos sistemas de proteção social, a deterioração dos contextos relacionados à educação, família, saúde e justiça, de forma que esta situação tem contribuído para o aumento da percepção de um futuro incerto entre a população, situação que incide negativamente nas expectativas de realização e progresso (Fiorentino, 2008). Nestes contextos, "o processo criativo poderia ser estudado, não como produto de uma doença, mas como representação do mais alto grau de saúde emocional, a expressão própria de pessoas normais, no ato de atingir a própria realidade" (May, 1975, p. 39), de forma que as pessoas poderiam fazer uso da criatividade como forma de superar as dificuldades impostas pelo meio. Sakamoto (2000) exemplifica bem em seu texto os benefícios de se valorizar essa característica, pois, segundo ela, através da criatividade os seres humanos podem alcançar consciência sobre suas potencialidades, desvendar a condição genuína de sua liberdade pessoal e alcançar sua autonomia.

Seguindo a mesma linha de argumentação, De La Torre (2005) afirma que a criatividade é um bem social, assim como a saúde e a educação, sendo todas condições básicas para o bem estar pessoal, de forma que, para o autor, "um povo sem criatividade é como um grupo humano preso pela imobilidade, preso à escravidão e submetido a sociedades com maior potencial criativo" (p. 17). A mesma opinião pode ser visualizada na fala de Virgolim (2007) ao afirmar "que a maior riqueza de um país repousa na produção de novos conhecimentos, na capacidade de gerar e gerir novas ideias e na crescente inovação de serviços" (p. 30), justificando a importância social e pessoal dessa característica.

Nesse mesmo sentido de recurso para o desenvolvimento pleno do indivíduo, a resiliência é outra temática que vem recebendo bastante foco por parte dos estudos em Psicologia Positiva visto que, assim como a criatividade, também tem sido considerada como a busca por soluções que proporcionem condições de manutenção da saúde mental e o desenvolvimento pleno do indivíduo, diante de situações desfavoráveis. Considerada um conceito ainda recente na Psicologia, a resiliência é um tema que "vem sendo pesquisado há cerca de trinta anos, mas só nos últimos anos os encontros internacionais têm trazido este constructo para discussão" (Yunes, 2006, p. 49).

Embora este termo tenha surgido de outra área de estudo, a Física, na qual é definido como "a capacidade de um determinado material recobrar sua forma original depois de submetido a altas pressões para modificá-lo" (Uicich, 2006, p. 250), vemos que profissionais das áreas de Engenharia, Ecologia, Física e até mesmo Odontologia revelam certa familiaridade com a palavra, quando ela se refere à resistência de materiais (Yunes, 2003). Ainda de acordo com o autor, por outro lado, embora a Psicologia, a Antropologia, a Sociologia, o Direito e as áreas Sociais tenham se beneficiado com o desenvolvimento desse enfoque e das estratégias implementadas nesta área do conhecimento, o que se pode notar é que a palavra foi introduzida há poucos anos nas Ciências Sociais, vinculada à capacidade de algumas pessoas reagirem e recuperarem-se diante de determinadas vivências traumáticas e impactantes, tendo como precursores os termos invencibilidade e invulnerabilidade. Garassini (2008) comenta que muitos autores propõem a visualização da experiência traumática dentro de um modelo mais saudável, que, baseado em métodos positivos de prevenção, considere a habilidade natural dos indivíduos de enfrentar, resistir e inclusive aprender a crescer nas situações mais adversas, devendo-se considerá-la ainda como um processo a ser desenvolvido e promovido (Infante, 2005). Neste sentido,

resiliência é considerada como a possibilidade de uma adaptação com êxito e funcionamento positivo apesar das desvantagens sociais e econômicas que produzem alto risco biológico e social, situação que podem superar e sair fortalecidos transitando por caminhos culturais e eticamente válidos. (Uicich, 2006, p. 25).

Uma retomada histórica, feita por Infante (2005), mostra que o primeiro interesse dos pesquisadores sobre o tema tem origem na investigação das qualidades pessoais que permitiriam superar a adversidade (tais como autoestima e autonomia) e que se volta, em um segundo momento, para um interesse maior em estudar os fatores externos ao indivíduo (nível socioeconômico, estrutura familiar, presença de um adulto próximo), dentro de um modelo triádico de resiliência: atributos individuais, os aspectos da família e as características dos ambientes sociais a que as pessoas pertencem. De acordo com a autora, o foco de pesquisa desta segunda geração retoma o interesse da primeira em inferir que fatores estão presentes nos indivíduos com alto risco social, buscando-se entender a resiliência como um processo dinâmico em que as influências do ambiente e do indivíduo interagem, de maneira que essa compreensão possibilitaria a criação de estratégias dirigidas à promoção da resiliência e qualidade de vida. Assim, Souza e Cerveny (2006) sintetizam a evolução do conceito ao afirmarem que "a definição do conceito evolui do indivíduo (traços de personalidade), para a família (construção relacional) e redes sociais mais amplas (visão ecológica)" (p.7).

De acordo com Cardozo e Dubini (2006), os estudos sobre resiliência indagam por que alguns indivíduos que crescem em situações adversas parecem viver de forma saudável e produtiva, enquanto outros parecem não conseguir superar as adversidades experimentadas. Neste sentido, o estudo da resiliência possibilitou a compreensão dos fatores intervenientes envolvidos na superação das situações traumáticas, sendo que, inicialmente, a maioria das investigações foram focadas nas crianças nascidas e criadas em condições de extrema pobreza (Valdebenito, Loizo & Garcia, 2007), corroborando percepção de Vergara (2008), segunda a qual, a maior parte dos estudos sobre resiliência tem sido realizada por psicólogos, médicos, pedagogos e tem tido como foco crianças e jovens.

Destacando os dois tipos de capacidades envolvidas na resiliência, Rodriguez, Horuta e Chiburque (2007) apontam para os recursos e estratégias de enfrentamento, entendendo por recursos as características de um sistema em particular e por estratégias de enfrentamento as intenções ou ações que uma pessoa aciona com a finalidade de diminuir as exigências que o contexto apresenta. Os recursos seriam aquelas habilidades utilizadas na prevenção de possíveis crises, facilitando a resolução de conflitos e o enfrentamento das situações difíceis. Desse modo, os autores compreendem que os recursos permitem que cada indivíduo consiga enfocar seus esforços em si mesmo, identificando e reconhecendo as habilidades próprias que possui para enfrentar dificuldades, conscientizando-se das relações que pode construir à sua volta. Assim, Sapienza e Pedromônico (2005) complementam afirmando que "na medida em que o resiliente lança mão de seus recursos positivos para enfrentar as adversidades, a resiliência pode ser considerada fator de proteção para a adaptação do indivíduo às exigências cotidianas" (p. 213).

Vista dessa forma, Pesce et al. (2004) apontam que grande parte dos autores define de forma didática três tipos de fatores de proteção: (1) fatores individuais: autoestima positiva, autocontrole, autonomia, características de temperamento afetuoso e flexível; (2) fatores familiares: coesão, estabilidade, respeito mútuo, apoio/suporte; (3) fatores relacionados ao apoio do meio ambiente: bom relacionamento com amigos, professores ou pessoas significativas que assumam papel de referência seguro ao indivíduo e o faça sentir querido e amado. Assim, Taboada et al. (2006) apontam que a resiliência não pode ser pensada como um atributo que nasce com o sujeito, nem que ele adquire durante seu desenvolvimento. É um processo interativo entre a pessoa e seu meio (Flach, 1991; Vergara, 2008), considerado como uma variação individual em resposta ao risco, sendo que os mesmos fatores causadores de estresse podem ser experenciados de formas diferentes por pessoas diferentes, não sendo a resiliência um atributo fixo do indivíduo, sendo ainda influenciado pelo apoio recebido de alguma pessoa significativa (Grotberg, 2005; Melillo, 2005).

Dessa maneira, o que se pode ver é que a resiliência tem sido reconhecida como um suporte para a promoção de saúde mental, uma vez que esta tem se mostrado enriquecedora do potencial humano e já que a realidade mostra que a maior parte das pessoas acometidas por situações críticas acabam por sofrer enfermidades e quadros psicopatológicos, sendo que, ao contrário, outras conseguem superá-las e transformá-las em vantagem ou estímulo para seu desenvolvimento (Díaz, Giraldo & Buitrago, 2006). Qual seria a diferença entre elas? Essa dúvida faz com que a detecção e análise das variáveis que permitem a essas pessoas saírem enriquecidas frente à adversidade se torne importante de ser investigada.

Diante da importância exposta, das características criativas e dos recursos resilientes, para a qualidade de vida e o desenvolvimento sadio do indivíduo, um conhecimento de grande valia pode ser gerado a partir da investigação da relação que pode ser estabelecida entre esses dois construtos. Isso porque a construção de um conhecimento teórico que garanta, aos profissionais da saúde e educação, um embasamento para a elaboração de projetos e programas orientados para a recuperação de saúde, da dignidade e da condição humana de milhares de pessoas que sofrem situações de adversidade, pode facilitar a promoção e expressão de aspectos positivos individuais. Aliado à compreensão dos fenômenos psicológicos associados à criatividade, o estudo dessa relação torna-se interessante, tanto para o indivíduo, como para a sociedade, uma vez que a criatividade pode representar um papel positivo na vida cotidiana de cada um, ajudando, por exemplo, a resolver os problemas das relações que se pode encontrar na vida afetiva ou profissional (Lubart, 2007). Assim poderemos ver que, no plano social, a criatividade, aliada à resiliência, poderia ser um recurso utilizado como forma de encontrar as respostas mais eficazes e soluções mais adaptadas na presença de um ambiente desfavorável.

Por este motivo, podemos considerar que a Psicologia Positiva é condizente com os estudos sobre criatividade por ter um caráter de rompimento de paradigmas e propor um novo olhar para os estudos psicológicos, mais voltado ao potencial de cada indivíduo, relacionando-se de forma direta com o termo resiliência uma vez que este também visa identificar nas pessoas seus pontos positivos, tendo um olhar voltado não para limitações e doenças e sim para suas manifestações saudáveis e fortalecidas. Neste sentido, alguns autores, tais como Yunes (2006), têm apontado um "consenso a respeito de algumas características fixas da resiliência, sendo a criatividade apontada como uma delas" (p. 51). Neste mesmo sentido, Bragotto (2009) reafirma a relação próxima entre os dois conceitos, ao expressar que "as circunstância adversas, ou seja, aquelas contrárias à nossa vontade, que, de imediato trazem desconforto e infortúnio, podem ser o mote para um salto inovador" (p.73). Entretanto, De La Torre (2005) aponta para necessidade de maior estudo sobre estes dois conceitos ao chamar a atenção para o fato de que "as teorias atuais sobre criatividade apresentam um vazio conceitual em relação às experiências vitais fortes e impactantes" (p.194).

Gregerson (2007) faz um relato significativo, relacionando criatividade e resiliência, na sua experiência como testemunha ocular e terapeuta das vítimas do 11 de Setembro de 2001, nos Estados Unidos. Conta como o uso de recursos criativos (arte terapia, caixa de areia, poesia, meditação e escrita de diário) auxiliaram as vítimas a superarem seus próprios traumas e os de outras pessoas atingidas pelos ataques terroristas. Nas palavras do autor, os ganhos se relacionaram ao fato de que "a criatividade transformou minha vida desafiada pela calamidade. O que começou como um inesperado suplício se tornou uma surpreendente descoberta e uma recompensa inesperada. Criatividade me fez crescer" (p. 597).

Tendo como foco as habilidades, autores como Greco et al. (2006), Pinheiro (2004), Oliveira, Reis, Zanelato e Neme (2008) apontam algumas características pessoais, tais como empatia, autoeficácia, assertividade, habilidades sociais, comportamento direcionado para metas e habilidade em resolver problemas, flexibilidade cognitiva e habilidades para resolver problemas interpessoais, que funcionariam como fatores de proteção e resiliência, visto que atuariam no sentido de reduzir o impacto de risco e de reações negativas. Também apontam fatores de proteção relativos a otimismo, flexibilidade, apoio social, autoestima, enfrentamento, controle dos impulsos, domínio, espiritualidade, que teriam como função amenizar o efeito e as consequências negativas esperadas pela maioria das pessoas.

Ainda nesse sentido, Sequeira (2009), por sua vez, afirma que uma revisão da literatura apontou que ambientes facilitadores de resiliência teriam regras e funcionamento coerentes e flexíveis, respeito, reconhecimento, tolerância às mudanças, empatia, comunicação aberta, tolerância aos conflitos, valorização e incentivo a agir e interagir com o meio, a buscar soluções para seus problemas e desafios a serem superados, existência de atividades culturais que promovam o desenvolvimento de um repertório de expressão e, principalmente, incentivo a planos para o futuro, sonhos e à construção de caminhos para realizá-los. Outras características são salientadas por Sapienza e Pedromônico (2005), tais como competência social (habilidade para demonstrar suas emoções, bom nível de comunicação e uso de humor), competência para resolver problemas (capacidade de pensar de forma crítica e elaborar alternativas, buscando soluções para suas necessidades; quando não consegue encontrar uma solução, busca ajuda), autonomia (forte senso de identidade e autoestima positiva, independência e autocontrole, propósitos com confiança no futuro (metas realistas, aspirações educacionais elevadas, é persistente, esforçada, otimista, vê o futuro com oportunidades e sucesso).

A partir dessas descrições, o que se pode notar é que boa parte das características descritas como características pessoais protetoras, também são descritoras da pessoa criativa. Essa ligação encontra-se expressa na visão de Bruder (2005, 2007), afirmando que entre os pilares da resiliência se podem destacar, entre outras características, o humor (capacidade de encontrar o cômico no meio da tragédia) e a criatividade (capacidade de criar beleza a partir do caos e da desordem), assim como em Greco et al. (2006), para os quais a ampliação cognitiva, gerada pela capacidade para experimentar emoções positivas teria influência sobre as habilidades cognitivas de solução de problemas, na criatividade e no autoconceito, visto que, frente a uma situação problema, o indivíduo resiliente tende a gerar pensamentos alternativos e encontrar soluções criativas que resultem em adaptação.

Assim, resiliência pode ser definida como a construção de soluções criativas diante das adversidades presentes na sociedade atual, da qual resulta um duplo efeito: a resposta ao problema em questão e a renovação das competências e impulso vital dos indivíduos. A resiliência envolveria não somente o controle sobre a situação, mas um determinado reforço para que o indivíduo siga lutando por novos resultados pessoais (Barlach, Limongi-França & Malvezzi, 2008). Como forma de ilustrar a relação, podemos lembrar algumas pessoas resilientes e criativas famosas, por exemplo, Nelson Mandela, que permaneceu quase 30 anos preso, muitos dos quais em uma solitária. Ao sair, concorreu à presidência da África do Sul, foi eleito, e, embora enfrentando muitas dificuldades sociais e econômicas, governou com sabedoria e inovação de forma a obter respeito internacional. No Brasil, entre tantos, citaremos Machado de Assis, Aleijadinho, Chiquinha Gonzaga, Nise da Silveira. Cada um, à sua maneira e em sua época, viveu situações adversas e mesmo assim realizou trabalhos de indiscutíveis talentos criativos. Dentro dessa visão, González (2000) esclarece que a criatividade trataria-se de um potencial que todo sujeito pode desenvolver e que permitiria enfrentar as situações de vida cotidiana de modo singular.

Diante do exposto, na atualidade um grande desafio se apresenta: O que queremos com a criatividade? Quem desejamos criativos? Se a resposta a estas questões envolver um posicionamento amplo e de inclusão, poderemos supor que seja necessário estudar comportamentos resilientes e criativos, ou seja, daqueles que enfrentam com êxito e inovação as situações adversas. Nesse contexto, um fato vem chamando a atenção da comunidade científica: como alguns indivíduos, mesmo inseridos em um contexto de adversidade, conseguem se desenvolver de maneira saudável? A resposta a esta pergunta pode nos levar ao levantamento de uma hipótese relacionada à existência de recursos criativos e resilientes nos indivíduos que superam as dificuldades ambientais e alcançam um desenvolvimento sadio. Por este motivo, o presente trabalho tem por objetivo realizar um mapeamento, inicial e exploratório, acerca de quantos e quais estudos relacionam criatividade e resiliência, em duas importantes bases de dados.

 

Método

A fim de identificar trabalhos que enfocassem a relação entre criatividade e resiliência, uma pesquisa nas bases de dados Scielo (www.scielo.br) e Pepsic ( www.scielo.bvs-psi.org.br/scielo.php ) foi realizada, utilizando as palavras-chave "criatividade" e "resiliência" separadamente, uma vez que, ao se tentar a combinação dos termos, nenhum artigo foi encontrado. Importante salientar que as autoras optaram por não limitar o período de publicação devido à escassez de estudos e ao recente surgimento do segundo termo no meio científico.

Os resultados indicaram que, na base de dados Pepsic, 106 artigos retornaram a partir da palavra-chave criatividade e 29 a partir da palavra-chave resiliência. No Scielo, foram encontrados 132 relacionados à criatividade e 101 à resiliência. Assim, trabalhando-se inicialmente a partir de um total de 368 artigos, uma triagem foi realizada a partir da leitura dos resumos destes trabalhos, de forma a se identificar os artigos que trouxessem em seu título ou corpo alguma referência aos conceitos de criatividade e resiliência, de forma a abordar, necessariamente, as duas temáticas. Por esse método foram excluídos todos aqueles que enfocavam somente um dos construtos.

Desta forma, somente sete trabalhos atenderam a esse critério, tendo sido selecionados (quatro da base de dados Pepsic e três da base de dados Scielo), procedendo-se a leitura de todos na íntegra a fim de se identificar o ano de publicação, a autoria (filiação institucional), tipo de estudo (teórico ou empírico), método (quantitativo ou qualitativo), amostra e instrumentos utilizados, além de investigar a forma como a relação entre os construtos era abordada.

 

Resultados

O primeiro dado analisado referiu-se ao levantamento do ano de publicação dos artigos, e teve por objetivo verificar como o interesse pela temática vem aparecendo nas publicações científicas periódicas. O pequeno número de artigos encontrados (n=7) já fornece importante constatação da pouca atenção que vem sendo dispensada à investigação da relação entre criatividade e resiliência. O levantamento ainda mostrou que as primeiras publicações aparecem no ano de 2005 (n=3), mantendo-se no ano seguinte (n=2) e no ano de 2008 (n=2). Nenhum estudo mais atual (dos anos de 2009 e 2010) foi encontrado, de forma que nota-se uma grande carência de estudos e um interesse ainda pequeno por parte dos pesquisadores. Desse modo, lacunas para pesquisas futuras se fazem presente na temática.

O segundo dado analisado referiu-se à filiação institucional dos autores dos trabalhos, disponíveis na Tabela 1.

 

 

A Tabela indica que a temática vem sendo investigada, embora em um número reduzido de trabalhos, tanto por pesquisadores nacionais, quanto pesquisadores vinculados a univer-sidades internacionais. No Brasil, encontramos pesquisadores de cinco universidades (Universidade de São Paulo, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Católica de Brasília, Universidade Federal do Mato Grosso e Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Importante salientar que o número total de trabalhos, quando se analisa a filiação institucional dos autores, ultrapassa o número total de artigos selecionados visto que alguns artigos foram desenvolvidos em parceria por autores de diferentes instituições.

Os resultados demonstram que o reduzido número de trabalhos encontrados sobre o tema pode estar refletindo, na realidade, uma situação similar mundial, fato que poderia ser confirmado ou não, por buscas em bases de dados internacionais, trabalho que deverá ser realizado pelas autoras em um segundo momento, visto o caráter inicial e exploratório da presente pesquisa. O pequeno número de pesquisas pode ainda ser justificado, como já citado, devido ao surgimento recente do termo "resiliência".

O terceiro dado analisado se referiu ao tipo de estudo que vem sendo desenvolvido. Podemos verificar que a maior parte deles (n=5) se constituiu como estudo empírico, e somente 2 em estudo teórico, embora, devido ao pequeno número de trabalhos encontrados, não se possa afirmar uma tendência de investigação baseada em um ou outro tipo de pesquisa. Um dos trabalhos, embora empírico, utilizou-se de pesquisa-intervenção, sem especificar se houve utilização de algum tipo de instrumento. Dentre os estudos empíricos, um levantamento dos instrumentos que vem sendo utilizados e das amostras enfocadas mostrou que:

De acordo com a Tabela 2, podemos verificar que foram encontrados quatro diferentes instrumentos, todos investigando somente a questão da resiliência (variando entre questionário, inventário e análise de relato verbal). Somente um dos estudos (pesquisa-intervenção) enfocou ou avaliou a questão da criatividade. Nota-se ainda que nenhum dos instrumentos utilizados atende aos critérios psicométricos exigidos pelo Conselho Federal de Psicologia, provavelmente encontrando-se ainda em fase de estudos acerca da sua validade e precisão ou não se caracterizando como instrumento psicológico, e portanto dispensado da avaliação pelo Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (Satepsi). Neste sentido, torna-se importante salientar que, até o presente momento, não se encontra disponível no Brasil para comercialização nenhum instrumento psicológico aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia para avaliação da resiliência, havendo quatro atualmente para avaliação da criatividade: Pensando Criativamente com Figuras (Wechsler, 2004a), Pensando Criativamente com Palavras (Wechsler, 2004b), Escala de Estilos de Pensar e Criar (Wechsler, 2006) e Teste de Criatividade Figural Infantil (Nakano, Wechsler & Primi, 2011), embora nenhum tenha sido empregado nas pesquisas investigadas. Em relação à amostra, a maior parte dos estudos investigaram estudantes (de faixas etárias diversificadas: crianças, jovens e adultos), com apenas dois deles avaliando profissionais (executivos e professores).

Por fim, devido ao pequeno número de trabalhos encontrados, um aprofundamento de cada artigo referente à temática, à abordagem e à interface que realiza entre os construtos da criatividade e resiliência foi realizado. Dos trabalhos teóricos, o primeiro artigo, intitulado "Resiliência familiar e conjugal numa perspectiva psicanalítica dos laços" (Benghozi, 2005) enfoca a resiliência familiar como a capacidade da própria família de reconstruir os laços psíquicos, colocando a criatividade como uma alternativa para restaurar a credibilidade da capacidade familiar quando os laços são rompidos. O segundo artigo, "Contribuição de Viktor Emil Frankl ao conceito de resiliência" (Silveira & Mahfoud, 2006) trata de um estudo sobre resiliência que entende este construto como a capacidade do ser humano de enfrentar, sobrepor-se e ser fortalecido por experiências de adversidade, discutida de acordo com a visão de Frankl, fundador da terceira Escola Vienense de Psicoterapia (depois de Freud e Adler). Segundo sua teoria, a resiliência seria uma resposta criativa de superação de situações adversas.

Outro artigo, "O conceito de resiliência aplicado ao trabalho nas organizações" (Barlach et al., 2008) discute o termo resiliência como referencial teórico para pesquisa no campo da Psicologia do Trabalho. O recorte teórico do trabalho pressupõe que a resiliência pode ser definida como a construção de soluções criativas diante da adversidades presentes nas condições de trabalho e dos negócios da sociedade atual. Já o trabalho "Adolescentes e jovens em situação de risco psicossocial: rede de apoio social e fatores pessoais de proteção" (Amparo, Galvão, Alves, Brasil & Koller, 2008) investiga fatores sociais e pessoais que podem servir como proteção a adolescentes e jovens em situação de risco, enfatizando a compreensão contextual da adolescência e juventude no Brasil e a necessidade de implementação de políticas públicas neste sentido. No levantamento dos aspectos relevantes enquanto característica pessoal de proteção, a criatividade aparece associada à autoestima.

Dos artigos empíricos, o primeiro, intitulado "Espaço de criação criatividade e resiliência: formação docente numa perspectiva inter e transdisciplina" (Silva, Alves & Motta, 2005), trata de um estudo sobre formação de professores que ressalta a possibilidade de aprendizagem de atitudes resilientes e criativas nos espaços de criação, sendo que, dentre os sete artigos encontrados, este é o único que traz os dois termos enfocados no título do artigo, visto que os demais apresentam a relação somente no corpo do trabalho.

Dois dos trabalhos apresentam instrumentos para avaliação da resiliência. O primeiro, intitulado "Métodos e técnicas para medir resiliência: uma alternativa peruana" (Lévano, 2005), busca apresentar uma visão panorâmica das medidas de avaliação da resiliência, apontando os principais instrumentos psicológicos que têm sido desenvolvidos no Peru, propondo um novo instrumento construído e contextualizado para a realidade peruana. Este instrumento investiga fatores pessoais de resiliência, sendo um deles a criatividade. Os outros seriam autoestima, empatia, autonomia e humor. O segundo artigo, "Fatores resilientes associados ao rendimento acadêmico em estudantes universitários pertencentes a Universidade de Sucre" (Díaz, Giraldo & Buitrago, 2006), investiga a existência de fatores resilientes associados ao rendimento acadêmico de uma amostra de estudantes universitários colombianos. O instrumento utilizado para tal fim foi um questionário que se centra em explicar os fatores pessoais que servem como proteção e força para pessoas em situações difíceis e adversas. Entre estes fatores estaria a criatividade, sendo os demais: introspecção, iniciativa, humor, interação, independência, moralidade e pensamento crítico.

Como podemos observar, dos sete artigos encontrados, apenas um enfoca diretamente a relação entre criatividade e resiliência. Os outros seis são estudos que têm como foco a resiliência e consideram a criatividade como um aspecto relacionado com ela.

 

Considerações finais

Iniciamos o presente artigo questionando se é possível relacionar criatividade e resiliência e quais os estudos existentes neste sentido. Pelos dados obtidos, temos uma resposta afirmativa, uma vez que vemos vários autores, em diferentes abordagens, estabelecerem esta relação. Porém, consideramos que estes ainda são em pequeno número, fato que reforça a necessidade de outros estudos que busquem investigar especificamente como os dois conceitos interagem.

Embora a literatura venha apontando várias características como descritoras do indivíduo resiliente, sendo várias delas similares às características da pessoa criativa, pouco vem sendo investido pelos pesquisadores para a investigação de métodos e programas de incentivo a esses fatores de proteção. Embora as duas temáticas venham recebendo bastante atenção por parte do meio científico, uma carência de estudos que investigam os construtos em relação tem sido notada. Nota-se que pouco tem sido feito no sentido de voltar o olhar dos pesquisadores para o resultado da combinação entre aspectos criativos e resilientes nos indivíduos, os quais, se incentivados, poderiam atuar de forma facilitadora do desenvolvimento pessoal.

Nota-se ainda uma grande lacuna em relação a estudos sobre resiliência que investigam a criatividade, uma vez que somente um dos estudos investigou diretamente essa característica. Chama também a atenção a inexistência de instrumentos validados para avaliação da resiliência na população brasileira, e embora essa situação seja diferente daquela encontrada em relação à criatividade, nenhum dos instrumentais que avaliam este construto foi empregado nas pesquisas empíricas avaliadas.

Devido ao pequeno número de estudos disponíveis na temática, os levantamentos realizados no presente estudo apontaram uma área carente de pesquisas, sendo recomendada a realização de uma busca mais ampla, em mais bases de dados, nacionais e internacionais, a fim de que um panorama mais complexo da área possa ser traçado.

Os resultados dessas pesquisas tornam-se de grande valia para o processo de construção de conhecimentos, os quais podem ser usados como embasamento para a elaboração de projetos e programas orientados para a recuperação de saúde, da dignidade e da condição humana de milhares de pessoas que sofrem situações de adversidade.

 

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Endereço para correspondência:
Av. J. K. de Oliveira 1220, rua 1 casa 281
CEP 15092-259, São José do Rio Preto, SP
Email: poesiamaria@yahoo.com.br

Enviado em 18 de Junho de 2010
Reformulado em 16 de Maio de 2011
Aceite em 8 de Junho de 2011
Publicado em 31 de Dezembro de 2011
Instituição financiadora: CNPq

 

 

Sobre as autoras:

Maria Antonia de Oliveira: Discente do curso de mestrado em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Campinas
Tatiana de Cássia Nakano: Docente do curso de pós-graduação stricto sensu da Pontifícia Universidade Católica de Campinas

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