SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.20 número1A experiência da paternidade frente à separação conjugal: sentimentos e percepçõesControle de estímulos e história comportamental: uma replicação de Freeman e Lattal (1992) índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.20 no.1 Ribeirão Preto jun. 2012

 

ARTIGOS

 

Exemplos sobre a importância do amor: estudo com crianças no contexto da moralidade

 

Examples on the importance of love: a study with children in the context of morality

 

Ejemplos sobre la importancia del amor: estudio con niños en el contexto de la moralidad

 

 

Ariadne Dettmann Alves; Heloisa Moulin de Alencar; Antonio Carlos Ortega

Universidade Federal do Espírito Santo - Vitória, ES, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Esse estudo investigou juízos de crianças sobre as escolhas dos exemplos de amor mais e menos importantes. Entrevistamos individualmente 40 escolares de 6 e 9 anos, utilizando o método clínico proposto por Piaget. Foram considerados mais importantes, principalmente, "amor por determinada(s) pessoa(s)", que aumentou com a idade, "ações de amor para outrem" e "ações com amor". A maioria das justificativas para essa escolha foi relacionada à "consequência positiva para si próprio", que aumentou com a idade. Sobre os exemplos de amor menos importantes, principalmente os escolares de 9 anos afirmaram não existir, e os de 6 anos elegeram as "ações com amor". Os argumentos para a escolha desses exemplos foram, especialmente, pela sua "pouca importância", que apresentou um acréscimo com a idade. A partir dessas considerações, este artigo amplia a discussão sobre a importância do amor no desenvolvimento, contribuindo com subsídios para propostas de intervenção na educação em valores morais.

Palavras-chave: Desenvolvimento moral, Juízo moral, Virtudes, Amor.


ABSTRACT

This study investigated children's judgments about the choices of most and least important examples of love. We interviewed 40 school children aged 6 and 9 years old, individually, using the clinical method proposed by Piaget. On the most important examples chosen, were considered, above all, 'love for particular(s) person(s), which increased with age', 'actions of love to others' and 'actions with love'. Most of the justifications for this choice were related to 'positive results for oneself', which increased with age. On the least important examples of love, the students aged 9 mainly, said they did not exist, and the 6-years old elected the 'actions with love'. The arguments for the choice of these examples were, especially, for their 'minor importance', which showed an increase with age. From these considerations, this paper extends the discussion on the importance of love in the development by contributing with support for proposals to intervention in education in moral values.

Keywords: Moral development, Moral judgments, Virtues, Love.


RESUMEN

Este estudio investigó juicios de niños sobre las elecciones de los ejemplos de amor más y menos importantes. Entrevistamos individualmente a 40 escolares de 6 y 9 años, utilizando el método clínico propuesto por Piaget. Fueron considerados más importantes, principalmente, el 'amor por determinada(s) persona(s)', que aumentó con la edad, 'acciones de amor al prójimo' y 'acciones con amor'. La mayoría de las justificaciones de esta elección estaba relacionada con una 'consecuencia positiva para sí mismo', que aumentó con la edad. Sobre los ejemplos de amor menos importantes, principalmente, los escolares de 9 años afirmaron que no existían, y los de 6 años eligieron las 'acciones con amor'. Los argumentos para la elección de estos ejemplos fueron, especialmente, su 'poca importancia', lo que mostró un aumento con la edad. A partir de esas consideraciones, este artículo amplía la discusión sobre la importancia del amor en el desarrollo contribuyendo con elementos para propuestas de intervención en la educación en valores morales.

Palabras clave: Desarrollo moral, Juicio moral, Virtudes, Amor.


 

 

Introdução

Com o objetivo de compreender a concepção de amor de crianças, investigamos o grau de importância dos exemplos de amor, ou seja, quais exemplos de amor citados pelos participantes seriam considerados mais e menos importantes. Para isso, primeiramente analisaremos os conceitos e a importância do amor, de acordo com alguns autores, e sua relevância na área da moralidade.

Para definir o amor, Comte-Sponville (1999) propõe três formas: eros, philia e ágape. Eros é a paixão amorosa, sendo caracterizado pelo desejo do que falta, assim é sofrimento e carência; é amar o outro para nosso próprio bem. Por sua vez, philia é o amor da amizade, é a vontade de fazer o bem um ao outro. Godbout (1999) também discorre sobre o amor philia, relacionando-o à ação, ou seja, é capacidade de dar e retribuir. Para Comte-Sponville (1999), há ainda o amor ágape, no qual não se espera nada em troca, sendo, portanto, gratuito. É o amor sublime, pois é amar a todos, inclusive os desconhecidos e os inimigos.

Keleman (1996) discorre sobre estágios do amor, nos quais as crianças passariam no processo de se tornarem adultas, são eles: cuidar, importar-se com alguém, compartilhar e cooperar. Na relação da criança com os pais, essas atividades geram sentimentos que são associados a cada fase. Assim, aprenderíamos (ou não) o que é o amor na família, entretanto, o modo como amamos não é apenas repetição do modo como fomos amados ou como fomos ensinados a amar. Com base em Keleman (1996), Macedo (2010) afirma que essas ações (cuidar, importar-se, compartilhar e cooperar) são necessárias para o amor florescer. Questiona, entretanto, se ao realizarmos esses atos, estaríamos fazendo pelo outro ou por nós mesmos.

Por sua vez, Bauman (2004) descreve um amor possessivo e egoísta. Para ele, se investimos numa relação, esperamos um retorno: o apoio quando se precisa, o socorro na aflição, a companhia, o consolo, o aplauso, por exemplo. Discute sobre um "amor líquido", uma vez que apaixonar-se e desapaixonar-se seria algo que, para alguns, acontece de forma fácil. Além disso, as pessoas não buscariam mais um "relacionar-se", uma vez que pode haver a possibilidade de um relacionamento indesejável e difícil de romper. Com a era digital, os "relacionamentos" estariam sendo substituídos por relações mais frágeis, permitindo maior facilidade em seu rompimento. Essas reflexões consideram, portanto, a existência da fragilidade dos vínculos humanos.

Betto e Cortella (2007) refletem sobre o amor, mas discutem que nossa cultura estimula nosso egoísmo, dificultando o desenvolvimento do próprio amor. La Taille (2009) também evidencia uma busca de interesses próprios, na qual as pessoas não se preocupam com quem está ao redor; outrem é, portanto, invisível. Além disso, esse autor afirma que a prioridade das pessoas hoje é a busca de divertimento e constantes prazeres. Apesar dessas influências, concordamos com La Taille (2009), quando ele afirma que a educação deve contribuir para a formação de uma cultura do sentido, tendo a verdade como valor e incentivando as virtudes.

Godbout (1999) reflete sobre a dádiva, que corresponderia ao ato de dar algo, espontaneamente, sem garantia de retorno. No entanto, a retribuição pode acontecer mesmo não sendo desejada. Para ele, a relação com a família e com os amigos contribuem para essa prática. Comte-Sponville (1999) afirma que a virtude do dom (dádiva) é a generosidade. La Taille (2006a) discute que na ação generosa não se dá o que é de direito, mas o que é de necessidade. Esse autor ressalta que, além do beneficiário do ato generoso ser outrem, há sacrifício por parte da pessoa que pratica a virtude.

A partir dessas reflexões, gostaríamos de mencionar o estudo de Vale e Alencar (2008) sobre generosidade, devido à sua proximidade com a virtude do amor. Elas investigaram a presença dessa virtude em contraposição à satisfação de um interesse próprio, em crianças e adolescentes (7, 10 e 13 anos). Descrevem que a maioria de seus participantes optou pela ação generosa, entretanto alguns entrevistados (26,7%) tentaram inicialmente conciliar a generosidade com o autointeresse. Assim, as autoras afirmaram que a generosidade faz parte do universo moral infantil e adolescente.

Retomando a discussão sobre o amor, constatamos, a partir das considerações anteriormente mencionadas, que suas definições são variadas. Diante dessa diversidade, indagamos: dentro do conceito que as crianças têm do amor, qual concepção elas considerariam mais importante? E qual seria a menos importante?

Podemos citar a pesquisa de Alves, Alencar e Ortega (2010) que, investigando a respeito da concepção de amor, questionaram sete pessoas com idades entre 5 e 70 anos sobre o exemplo de amor mais e menos importante. Os exemplos eleitos como mais importante foram principalmente "ações de amor para outrem" (participantes de 5, 10 e 15 anos), "amor à pessoa da família" (20 e 70 anos) e "amor a Deus" (30 anos). As justificativas das escolhas dos exemplos de amor relacionam-se à consequência positiva, importância, característica própria, sentimento e necessidade própria.

Sobre o exemplo de amor menos importante, Alves, Alencar e Ortega (2010) afirmaram que alguns entrevistados (15 e 20 anos) não conseguiram eleger, pois acreditavam na relevância de todos os exemplos de amor. Os que escolheram, mencionaram o amor por amigo (10 e 70 anos), a coisas materiais (30 anos) e ação com amor (5 anos). As justificativas remetem para a pouca durabilidade e quantidade do objeto de amor, possibilidade de substituição e a futilidade do exemplo escolhido, indicando uma fragilidade da relação com o objeto de amor citado.

Por sua vez, Souza e Ramires (2006) investigaram a concepção de amor nos vínculos de relacionamento. Entrevistaram 85 crianças e adolescentes entre 5 e 15 anos. Seus dados ressaltaram a importância da família, da amizade e do namoro. A relação entre pais e filhos foi considerada a mais forte, caracterizado pela irreversibilidade. Os adolescentes de 15 anos complementaram afirmando ser esse amor a base para outros amores e vínculos. Em segundo lugar estaria a amizade, e, em terceiro, o vínculo amoroso romântico. Para alguns participantes, a importância da amizade foi equivalente ao vínculo familiar.

Realizadas as considerações sobre o amor, passemos para a discussão da relação do tema com a moralidade. Segundo Comte-Sponville (1999), nós necessitamos da moral porque nos falta amor, sendo assim, o dever só aparece pela ausência de amor. Entretanto, o autor ainda afirma que só é possível desenvolvermos moralmente devido ao "pouco de amor, ainda que a nós mesmos, que nos foi dado, que soubemos conservar, sonhar ou reencontrar" (p. 245). O amor é, portanto, anterior à moral.

O desenvolvimento moral, de acordo com Piaget (1932/1994), constitui-se em duas fases: heteronomia e autonomia. A heteronomia é caracterizada pela relação de coação e pelo respeito unilateral, assim a criança considera correto todo ato que seja uma obediência à regra imposta pela figura de autoridade, não compreende as regras e nem as elabora. A criança heterônoma obedece às regras por medo e amor: medo das punições e de perder o amor e proteção dos pais, e devido ao apego e admiração que tem por eles. Há, portanto, menção ao amor, mas o que sobressai é o medo. Assim, obedecer às regras seria determinado "pelo amor" do outro ou "pelo medo de perder o amor". Logo, a entrada no mundo da moral se dá pela coação, pois se desenvolve o sentimento de obrigatoriedade. Por sua vez, na autonomia, a criança, além do referido sentimento, passa a agir por reciprocidade, predominando a cooperação e o respeito mútuo. Começa a compreender as regras, e assim faz suas próprias avaliações morais.

Desta forma, é na interação com outras crianças, que as relações de coação podem ser substituídas pelas relações de cooperação e de respeito mútuo (Piaget,1932/1994). Além disso, estando o desenvolvimento cognitivo relacionado ao moral, a diminuição do egocentrismo possibilita o desenvolvimento da cooperação, e, por conseguinte, da autonomia. Ressaltamos que, segundo Piaget, o egocentrismo se manifesta de uma forma particular em cada período do desenvolvimento cognitivo (sensório motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal). Justificamos que, para os objetivos desse nosso trabalho, nos limitaremos a apenas citar o egocentrismo característico do pré-operatório (de 2 a 7 anos, aproximadamente), devido a sua relação com o pensamento autônomo, uma vez que se caracteriza pela dificuldade de a criança diferenciar seus pensamentos dos pensamentos de outrem, e, assim, impossibilitando-a de se colocar na perspectiva do outro (Piaget, 1964/2004; Wadsworth, 1999).

A partir das considerações sobre o desenvolvimento, La Taille (2006b) afirma que, para a realização da ação moral, são necessárias tanto a dimensão intelectual (o saber fazer), quanto a dimensão afetiva (o querer fazer). Esse autor elege seis sentimentos que inspiram um "querer agir moral": medo, amor, confiança, simpatia, indignação e culpa. Assim, o medo e o amor seriam indissociáveis para o sentimento de obrigatoriedade presente na ação moral. Esse binômio explicaria o "querer fazer" heterônomo.

Dessa forma, diante da importância do tema do amor e sua relação com o desenvolvimento moral, nosso objetivo foi investigar e comparar os juízos de crianças sobre os exemplos de amor considerados o mais e o menos importante, contribuindo para ampliação dos estudos sobre a concepção de amor das crianças.

 

Metodologia

Entrevistamos 40 crianças de classe média de uma escola particular do município de Vila Velha- ES, sendo metade com 6 anos e metade com 9 anos, e, ainda, igualmente divididos quanto ao sexo.

Selecionamos os participantes por sorteio e realizamos entrevistas individuais, de acordo com o método clínico proposto por Piaget (1926/2005, 1932/1994). Solicitamos que os escolares citassem exemplos de experiência de amor, e, a partir desses exemplos, investigamos qual seria considerado o mais e o menos importante, e as justificativas. Ressaltamos que, diante do objetivo desse artigo, não analisaremos todos os exemplos citados1.

Destacamos que esta pesquisa segue os padrões éticos da Resolução Nº 196/1996 do Ministério da Saúde - MS (1996) e da Resolução Nº 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia - CFP (2000). Assim, obtivemos a permissão da direção da escola e dos pais dos alunos, por meio de assinatura dos termos de consentimentos. Além disso, as crianças foram esclarecidas verbalmente sobre os objetivos, procedimentos da pesquisa e sigilo das informações, e os escolares de 9 anos, ainda, assinaram um termo de assentimento.

As entrevistas foram gravadas na íntegra para fins, exclusivamente, de pesquisa. Priorizamos a análise qualitativa dos dados, utilizando referências quantitativas em números e percentuais para o auxílio na apresentação e discussão dos resultados. Realizamos a categorização, como propõe Delval (2002), com base na teoria piagetiana. Desta forma, elaboramos categorias detalhadas para as respostas e justificativas dos participantes. Em seguida, agrupamo-las em categorias resumidas, para uma análise por questão do instrumento.

Para nos referirmos ao participante respeitando o anonimato, utilizamos no decorrer do artigo nomes fictícios, seguidos da idade, entre parênteses. Escolhemos nomes iniciados com a letra "A" para as crianças de 6 anos, e com a letra "F" para os de 9 anos.

 

Resultados e discussão

Em relação a exemplos de amor citados pelas crianças, foram mencionados: "ações de amor para outrem" (n= 48; 22,7%), "amor por determinada pessoa" (n= 47; 22,3%), "ações com amor" (n= 45; 21,3%), "relacionamento amoroso" (n= 13; 6,1%), "ausência de ação de desamor" (n= 9; 4,3%), "amor à natureza e animal" (n= 17; 3,8%), "amor a Deus" (n= 7; 3,3%) e "outros" (n= 17; 8,1%). A partir dessas respostas, foi pedido para que o entrevistado elegesse o mais e o menos importante. Dessa forma, neste artigo, analisaremos os exemplos escolhidos.

Sobre a escolha do exemplo de amor mais importante, cada participante elegeu um exemplo, com exceção de quatro crianças que selecionaram dois como sendo mais importantes (Antonieta, Fabrícia, Felícia e Fábio); temos, portanto, 44 exemplos escolhidos. Analisemos as respostas conforme apresentadas na Tabela 1.

Verificamos que os exemplos escolhidos como mais importante foram "amor por determinada(s) pessoa(s)" e "ações com amor". "Amor por determinada(s) pessoa(s)" se refere ao amor por alguma pessoa, podendo ser à família de uma forma geral (n= 5), aos pais (n= 3), ao amigo (n= 3) ou ao próximo (n= 1). Ressaltamos que essa explicação foi mais mencionada pelos escolares de 9 anos. Eis um trecho da entrevista de Fernando (9 anos): "Qual desses você acha que é o mais importante? -Acho que é amar a família".

Sobre essa relevância do amor a outrem, podemos relacionar nossos dados à pesquisa de Alves, Alencar e Ortega (2010). Eles afirmam que, assim como nossos participantes, dois dos sete entrevistados (com idades de 20 e 70 anos) elegeram o amor à família como o mais importante exemplo de amor. Por sua vez, o estudo de Souza e Ramires (2006) ressalta a importância, mais especificamente, do vínculo dentro da família seguido dos amigos. Seus participantes (5 a 15 anos) descrevem o vínculo entre pais e filhos como mais forte, mencionando as funções de cuidar, proteger, ensinar e dar limites. Em segundo lugar estaria o vínculo da amizade, sendo que alguns entrevistados consideraram equivalente ao vínculo familiar. Esses dados estão consoantes aos nossos, uma vez que, se somarmos o amor à família de forma geral (n= 5) e aos pais (n= 3) temos um total de oito referências ao vínculo familiar, seguido da amizade (n= 3). Constatamos, portanto, a importância da família, principalmente dos pais, e dos amigos na concepção de amor, constituindo importante referência tanto em crianças quanto em adultos.

Além disso, Godbout (1999) discute que esses vínculos (familiares e da amizade) contribuem para a prática da dádiva. Podemos verificar também a importância da relação familiar e da amizade no desenvolvimento da heteronomia e autonomia. Como vimos, Piaget (1932/1994) afirma que as relações de coação permitem o desenvolvimento da heteronomia. Dessa forma, a criança, ao respeitar os pais por medo e amor, desenvolve o sentimento de obrigatoriedade e o respeito às regras. Por sua vez, o relacionamento com outras crianças permite a manifestação de relações de cooperação, necessárias à autonomia. Portanto, esses vínculos são fundamentais para o desenvolvimento moral. O aumento desses exemplos com a idade pode estar relacionado com a diminuição do pensamento egocêntrico característico do período pré-operatório, permitindo à criança se colocar no lugar do outro e, assim, mencionar exemplos relacionados a outra pessoa.

Agrupamos em "ações com amor" atos realizados com amor como, por exemplo, fazer alguma coisa com carinho, brincar ou abraçar. Nestes exemplos, o foco não está no outro, mas na ação em si, ou seja, o outro é o meio para realização do ato, como é demonstrado no depoimento de Felícia (9 anos): "fazer alguma coisa com que ama como sair e brincar". Entretanto, na pesquisa de Alves, Alencar e Ortega (2010), nenhum entrevistado elegeu esse exemplo como mais importante, mas ressaltamos que eles entrevistaram apenas sete pessoas de 5 a 70 anos, sendo assim, consideramos importante que outros estudos possam ser realizados, investigando a relevância destes exemplos.

Por sua vez, "ações de amor para outrem" se refere a atitudes que beneficiem outra pessoa, como: ajudar, cuidar, partilhar e doar. O objetivo da ação de amor é direcionado ao outro, sendo uma prática virtuosa. A explanação de Fabrícia (9 anos) ilustra esse exemplo: "dar as coisas que a gente não usa mais para as pessoas que precisam". Alves, Alencar e Ortega (2010) afirmam que seus participantes de até 15 anos também elegeram esse exemplo como mais importante. Esse exemplo é semelhante à philia, que segundo Comte-Sponville (1999) é a vontade de fazer o bem um ao outro. Godbout (1999) também discute que philia é ação, ou seja, capacidade de dar e retribuir. Podemos relacionar essas ações à generosidade, uma vez que é fazer o bem ao outro. La Taille (2006a) ressalta que, além do beneficiário do ato generoso ser outrem, há sacrifício por parte da pessoa que pratica a virtude. Refletimos, portanto, que as "ações de amor para outrem" se assemelham à generosidade.

Se somarmos as duas respostas, "ações com amor" (27,3%) e "ações de amor para outrem" (20,4%), verificamos que 47,7% dos exemplos de amor considerados mais importantes se referem a ações, ressaltando sua relevância na concepção das crianças. Keleman (1996) e Macedo (2010) salientam a influência dessas ações no desenvolvimento das relações de amor. O primeiro autor, discorrendo sobre os estágios de amor (cuidar, importar-se, compartilhar e cooperar), afirma que a criança desde o nascer recebe o amor por meio de ações, e, posteriormente, também o demonstraria por meio de atitudes. Por sua vez, Macedo (2010) discute que esses atos são necessários para o amor florescer.

A categoria menos citada foi "amor a Deus". No estudo de Alves, Alencar e Ortega (2010), apenas o participante de 30 anos elegeu esse exemplo como mais importante. Evidenciamos, assim, a importância de outros estudos para maior investigação dessa concepção, analisando a relação entre o amor e o conceito que têm sobre Deus, e ainda, pesquisar em outras faixas etárias.

Agrupamos em "outros" os exemplos que não poderiam ser incluídos nas categorias anteriores e foram mencionados cada um apenas uma vez. Foram eles: ausência de ação de desamor (não matar a natureza), sentimento, relacionamento amoroso, fé, harmonia, e respeitar as regras do sinal de trânsito.

Vejamos, na Tabela 2, as justificativas citadas pela escolha do exemplo de amor mais importante. Ressaltamos que os escolares de 9 anos mencionaram mais explicações do que os de 6 anos.

O argumento citado com maior frequência foi "consequência positiva para si próprio" que o exemplo de amor proporcionaria; eis o depoimento de Alice (6 anos) sobre a família ser o exemplo de amor mais importante:

"Porque é assim, a família dá presente para você, dá coisas que você sempre quer". Além de ser a explicação mais assinalada pelos dois grupos de escolares, aumentou com a idade. Os entrevistados mencionaram ainda a "ausência de consequência negativa", apesar de o foco ser a ausência de efeito negativo, consideramos que há a referência a uma consequência positiva. Vejamos um exemplo: "Porque a família não te trai, como o amigo" (Felipe, 9 anos). Nesse sentido, a família seria o exemplo de amor mais importante por não trair, ou seja, esse amor não tem resultado negativo. Ressaltamos que essas justificativas foram mais frequentes nos escolares mais velhos. Estes dados estão de acordo com Bauman (2004), uma vez que ele afirma que quando investimos em uma relação esperamos um retorno, que pode ser o apoio quando estivermos necessitando, a companhia da pessoa amada, entre outros. Logo, desejaríamos uma consequência positiva do relacionamento.

O argumento citado com maior frequência foi "consequência positiva para si próprio" que o exemplo de amor proporcionaria; eis o depoimento de Alice (6 anos) sobre a família ser o exemplo de amor mais importante: "Porque é assim, a família dá presente para você, dá coisas que você sempre quer". Além de ser a explicação mais assinalada pelos dois grupos de escolares, aumentou com a idade. Os entrevistados mencionaram ainda a "ausência de consequência negativa", apesar de o foco ser a ausência de efeito negativo, consideramos que há a referência a uma consequência positiva. Vejamos um exemplo: "Porque a família não te trai, como o amigo" (Felipe, 9 anos). Nesse sentido, a família seria o exemplo de amor mais importante por não trair, ou seja, esse amor não tem resultado negativo. Ressaltamos que essas justificativas foram mais frequentes nos escolares mais velhos. Estes dados estão de acordo com Bauman (2004), uma vez que ele afirma que quando investimos em uma relação esperamos um retorno, que pode ser o apoio quando estivermos necessitando, a companhia da pessoa amada, entre outros. Logo, desejaríamos uma consequência positiva do relacionamento.

Constatamos, portanto, um interesse próprio. Vale e Alencar (2008), em estudo sobre a generosidade na contraposição com interesse próprio, afirmam que a maioria de seus participantes escolheu a virtude, embora alguns entrevistados (26,7%) tenham tentado inicialmente conciliar a ação generosa com a satisfação do próprio interesse. Diante da impossibilidade de satisfazer o próprio interesse e ser generoso, eles decidiram pela virtude. Diferentemente dessas autoras, não tivemos o objetivo de analisar o interesse próprio em contraposição à virtude do amor, entretanto podemos afirmar que esse tipo de interesse está presente na escolha da justificativa de exemplo de amor como mais importante.

Podemos relacionar a "consequência positiva para si próprio" e a "ausência de consequência negativa", ou seja, as menções sobre interesse próprio, ao egocentrismo comum do período pré-operatório, devido à dificuldade de se colocar no ponto de vista do outro. No entanto, com o desenvolvimento e a diminuição desse tipo de egocentrismo, esses argumentos tenderiam a decrescer. Entretanto, nossos dados indicam o contrário: os escolares de 9 anos se referiram mais a esse motivo do que os mais novos.

Sendo assim, qual seria a explicação para o aumento desses argumentos? Seguindo as discussões de Betto e Cortella (2007), poderíamos refletir que esse interesse próprio estaria relacionado à influência da nossa cultura, que nos incentiva a ser egoístas. La Taille (2009) também destaca que hoje as pessoas não percebem as necessidades dos outros, uma vez que cada um busca seus próprios interesses, não se preocupando com quem está ao seu redor. Entretanto, para essa análise, sugerimos que outras pesquisas possam ser realizadas, compreendendo as faixas etárias posteriores do nosso estudo e com o objetivo de contrapor a virtude do amor e o interesse próprio.

Diferentemente da justificativa anterior, foi mencionada também "consequência positiva para outrem", sendo que o beneficiado do objeto de amor é a outra pessoa, como na afirmação de Fabrícia (9 anos): "doar as coisas para quem precisa é muito importante, porque as pessoas que não têm nada ficam felizes". Nesse sentido, Comte-Sponville (1999) afirma que há o amor gratuito, no qual nada se espera em troca, esse seria o amor ágape: amar o outro para o bem dele. Entretanto, não podemos afirmar que essas explicações se referem de fato ao amor ágape, pois ele é o amor universal, é amar até nossos inimigos.

Por sua vez, em "consequência positiva recíproca", os escolares afirmam a consequência positiva, na qual ambos são beneficiadores do exemplo. A explicação de Flávia (9 anos) para a escolha de duas pessoas se beijarem como exemplo de amor mais importante evidencia a reciprocidade: "Porque aí eles vão saber que eles se gostam". Nomeamos "consequência positiva indefinida", quando o participante não definiu quem seria o beneficiador do exemplo de amor. Desta maneira, Fernanda (9 anos) afirma, ao escolher a amizade como mais importante: "Porque a amizade você sempre vai ter como amigo e daí, da amizade vai criando menino, e daí vai criando namorado e tal, casando". Assim, ela remete a uma consequência positiva, mas não define se será ela ou o amigo (ou ambos) o beneficiado.

Se somarmos todas as explicações que correspondem à consequência positiva do exemplo de amor ("consequência positiva para si próprio", "consequência positiva para outrem", "consequência positiva recíproca", e "consequência positiva indefinida") temos o total de 48,5% de todas as justificativas, ou seja, quase a metade. Desta forma, verificamos um interesse na escolha do exemplo de amor mais importante, voltado para a consequência positiva, principalmente para si próprio. Alves, Alencar e Ortega (2010) relatam que os participantes de 5 e 10 anos justificaram a escolha do exemplo de amor mais importante devido à consequência do objeto de amor, entretanto, diferentemente do nosso estudo, eles não analisaram se este seria um efeito positivo ou negativo e quem estaria se beneficiando.

Outra explicação mencionada foi pelo "sentimento", como declara Fabíola (9 anos) sobre a escolha da amizade como exemplo de amor mais importante porque "você adora ela [a amiga]". Logo, o amor se justifica pelo sentimento da entrevistada pela amiga. Com a mesma frequência geral de "sentimento", as crianças citaram "característica positiva do exemplo". Assim, o exemplo de amor é o mais importante devido às suas próprias características, e elas são positivas.

Podemos refletir que esse tipo de fundamento pode estar relacionado a uma consequência positiva para si próprio, sendo, portanto, um interesse pessoal. A explanação de Fernanda (9 anos) ilustra esse argumento: "Porque a amizade tem tudo aqui, cuidar, proteger, felicidade". Portanto, a amizade seria o exemplo mais importante pela característica de englobar o cuidado, a proteção e a felicidade. Ressaltamos que na pesquisa de Alves, Alencar e Ortega (2010) apenas a participante de 70 anos mencionou o "sentimento" e "característica positiva do exemplo" para justificar a escolha do exemplo de amor mais importante.

Em "observação de experiência vivenciada", consideramos tanto as explicações que falam da experiência própria, quanto a vivida por outras pessoas. Nesse sentido, Adão (6 anos) elege o partilhar como exemplo de amor mais importante "Porque, é o que eu falei, se o amigo não trouxer lanche para a escola e esquecer, eu já fiquei assim. Aí o amigo, ele, aí a professora fala 'o Adão não trouxe o lanche, tem que partilhar'. Aí os amigos partilham". Constatamos, portanto, a influência das experiências na formulação de seus conceitos.

Por sua vez, "necessidade", evidencia que alguém precisa do exemplo de amor. Fabrícia (9 anos) justifica doar coisas "Porque há pessoas que necessitam, que não têm nada". Desta forma, doar coisas é o mais importante, porque existem pessoas que precisam dessa doação. Alves, Alencar e Ortega (2010) também relatam que seus participantes de 15 a 30 anos justificam a escolha do exemplo de amor mais importante pela necessidade, entretanto, referem-se a uma necessidade própria. As crianças que entrevistamos falam da necessidade do outro em receber o amor. Diante dessa diferença, consideramos importante que outras pesquisas possam ser realizadas, abrangendo mais faixas etárias, para melhor analisar esse argumento.

Em "outros", agrupamos as justificativas pelo dever, argumento circular, e não soube responder, sendo que cada uma foi citada duas vezes.

Depois de investigado sobre o exemplo de amor considerado mais importante pelos participantes, perguntamos qual seria o menos importante. Cada criança mencionou apenas uma resposta. Os exemplos estão apresentados na Tabela 3.

Verificamos que as crianças elegeram, principalmente, "ações com amor" como exemplo de amor menos importante. Ressaltamos que a maior parte das respostas dos escolares menores foi para a escolha deste exemplo. Em seguida, os escolares afirmaram a "ausência de exemplo menos importante", ou seja, essas crianças não elegeram um exemplo de amor menos importante, declarando que todos eram importantes. Essa foi a principal resposta dos mais velhos.

Na pesquisa de Alves, Alencar e Ortega (2010), as participantes de 15 e 20 anos também disseram não haver exemplo menos importante. Evidenciamos, portanto, a importância dada ao amor por esses entrevistados. Lembrando que perguntamos qual o exemplo de amor, dentro dos citados, seria o menos importante. Assim, colocamos a questão: se tivéssemos questionado se havia exemplo de amor que fosse menos importante, o que responderiam? Será que um maior número de crianças optaria pela ausência de exemplo menos importante? Esse é um aspecto relevante a ser avaliado em futuras pesquisas.

As crianças citaram, ainda, "ações de amor para outrem", como: dar presente, ajudar, cuidar, proteger e partilhar. Outro exemplo escolhido foi o "amor por determinada(s) pessoa(s)", sendo citados irmãos e amigos. Ressaltamos que na pergunta sobre o exemplo mais importante essa categoria foi a mais citada (junto de "ações com amor"). Entretanto, naquela questão se referiram principalmente ao amor à família de uma forma geral, e aqui especificaram os amigos e irmãos. Os escolares elegeram, ainda, "relacionamento amoroso" mencionando o namoro, o que está de acordo com os dados de Souza e Ramires (2006), pois seus participantes consideram o namoro como vínculo menos importante do que a família e os amigos.

Podemos verificar também a "ausência de ação de desamor", ou seja, são exemplos que não chegam a ser uma ação para o bem de outrem, mas referem-se à ausência de um ato realizado com desamor. Dessa forma, para Felício (9 anos), o exemplo de amor menos importante é "não bater". Além disso, agrupamos em "outros" os exemplos mencionados uma vez apenas, como: amor por um lugar (sala de estudar), amor à natureza e animal, coração e confiança.

Analisemos agora as justificativas para a escolha do exemplo menos importante. Como 22,5% (nove participantes) optaram pela ausência de exemplo menos importante, nós teremos os depoimentos de 31 crianças. Cada participante pôde dar mais de uma explicação, por isso temos um total de 35 argumentos, como demonstrado na Tabela 4.

As justificativas foram variadas. A explicação mais citada foi a "pouca importância" do exemplo, assim, este não é muito importante ou os outros citados são mais do que o escolhido. Ressaltamos que foi o argumento mais mencionado pelas crianças de 9 anos. Para ilustrar, vejamos a depoimento de Felipe (9 anos): "Porque o animal não é tão importante como uma pessoa que você ama muito".

Alguns escolares afirmaram não saber responder, sendo a maioria de 6 anos. Esse número evidencia a dificuldade das crianças mais novas de justificarem a escolha. Podemos relacionar esse fato à heteronomia. Segundo Piaget (1932/1994), nessa fase a criança percebe as regras como impostas pela figura de autoridade, assim ela as aceita e não desenvolve seu próprio conceito. Ressaltamos que a frequência desse tipo de argumento apresentou um decréscimo com a idade, uma vez que os escolares de 9 anos possivelmente estão desenvolvendo o pensamento autônomo e seus próprios conceitos, e assim facilitando nas justificativas de suas escolhas.

Outro argumento foi a "possibilidade de ausência de reciprocidade", ou seja, por uma possível falta da reciprocidade o exemplo de amor é considerado o menos importante. Andressa (6 anos) afirma que a amizade é o exemplo menos importante "porque eu gosto muito de uma pessoa, mas a pessoa não gosta muito de mim.... Porque eu gosto de uma pessoa, mas a outra pessoa não gosta de mim". Constatamos, com isso, que a reciprocidade é um fator importante na valoração do exemplo de amor, próximo à ideia de Bauman (2004), uma vez que afirma que se investimos em uma relação, esperamos o retorno, ou seja, ansiamos pela reciprocidade.

"Possibilidade de consequência negativa" foi afirmada com a mesma frequência que o motivo anterior. Aqui, a preocupação salienta para uma possibilidade do exemplo de amor provocar alguma consequência negativa. Flávio (9 anos), ao escolher o irmão como exemplo de amor menos importante, explica que "os irmãos às vezes brigam com a gente, às vezes batem e ficam enchendo o saco".

Os participantes explicaram ainda devido a "baixa intensidade de sentimento", ou seja, o exemplo de amor é o menos importante uma vez que o participante não teria tanto sentimento pelo exemplo. Vejamos: ir à praia com o colega é o exemplo de amor menos importante "porque eu não gosto muito de ir à praia" (Adriana, 6 anos).

Apenas os escolares de 6 anos argumentaram pela "baixa durabilidade", como afirma Alana (6 anos): "Porque o beijo... a gente também gosta de receber beijo, só que o beijo não é tão importante assim.... Porque só dá um beijo e pára". Além disso, somente os de 9 anos justificaram pela "possibilidade de substituição" do exemplo de amor. Eis o depoimento de Frederico (9 anos) para a escolha de partilhar como exemplo menos importante: "Porque ele pode pedir para outra pessoa". Referimo-nos novamente a Bauman (2004), que ressalta a fragilidade das relações, para ele as pessoas buscam relações mais fáceis de serem rompidas e, portanto, mais frágeis. Sendo assim, suas ideias remetem à concepção de "baixa durabilidade" e "possibilidade de substituição" do exemplo de amor.

Em "outros" agrupamos as explicações sobre a observação de experiência; sentimento negativo que o participante tem pelo exemplo; impedimento de realizar o exemplo, e o fato de o exemplo ser comprado e não ser feito com carinho. Apesar da utilização do método clínico, um menino de 6 anos não conseguiu responder à pergunta, com isso tivemos um "dado perdido".

 

Considerações finais

Podemos verificar que as crianças consideram importantes, especialmente, o amor por determinada(s) pessoa(s), ações com amor e ações de amor para outrem. Ressaltamos que as referências ao amor por determinada(s) pessoa(s) aumentam com a idade. A principal justificativa para a escolha do exemplo de amor mais importante foi devido à consequência positiva para si próprio que o exemplo proporcionaria, e apresentou um acréscimo com a idade. Outros motivos mencionados foram devido ao sentimento, a característica positiva do exemplo e a observação de experiência vivenciada. Dessa forma, há menção ao amor direcionado ao bem de outrem (amor por determinada(s) pessoa(s) e ações de amor para outrem), mas o interesse próprio está presente.

Sobre a escolha do exemplo de amor menos importante, as crianças, principalmente de 9 anos, afirmaram não existir. Para os escolares que elegeram um exemplo, citaram especialmente as ações com amor, sendo que essa escolha apresentou um decréscimo com a idade. Os argumentos para a menção desses exemplos foram, especialmente, pela sua pouca importância, que aumentou com a idade, e não soube responder, que apresentou uma redução.

Fazendo uma comparação entre as duas questões investigadas, evidenciamos que todas as categorias citadas como mais importantes, com exceção de amor a Deus, foram consideradas, também, menos importantes. Desta forma, amor por determinada pessoa, ações com amor, ações de amor para outrem, ausência de ação de desamor e relacionamento amoroso (essas duas últimas foram agrupadas em outros na primeira questão) foram mencionadas como mais e como menos importantes. Sendo assim, sugerimos que novas pesquisas possam ser realizadas investigando essa relação.

A partir dessa relevância dos relacionamentos pais e filhos, de ações com amor e ações de amor para outrem, refletimos sobre a influência da família e da escola na estimulação dessas vivências, incentivando práticas mais virtuosas. Ressaltamos, portanto, a necessidade de novos estudos nessa área, investigando principalmente a relação do amor e o interesse próprio. Além disso, este artigo amplia a discussão sobre a importância das virtudes, em especial o amor, no desenvolvimento, fornecendo subsídios para propostas de intervenção na educação em valores morais.

 

Referências

Alves, A. D., Alencar, H. M. de, & Ortega, A. C. (2010). Amor e moralidade: um estudo com participantes de 5 a 70 anos. Revista de Ciências Humanas, 44(2),363-380.         [ Links ]

Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos (C. A. Medeiros, Trad.). Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.         [ Links ]

Betto, Frei, & Cortella, M. S. (2007). Sobre a esperança: diálogo. Campinas, SP: Papirus.         [ Links ]

Comte-Sponville, A. (1999). Pequeno tratado das grandes virtudes. São Paulo: Martins Fontes.         [ Links ]

Delval, J. (2002). Introdução à prática do método clínico: descobrindo o pensamento das crianças (F. Murad, Trad.). Porto Alegre: Artmed.         [ Links ]

Godbout, J. T. (1999). O espírito da dádiva (P. C. F. X. Wuillaume, Trad.). Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas.         [ Links ]

Keleman, S. (1996). Amor e vínculos. Uma visão somático-emocional. São Paulo: Summus.         [ Links ]

La Taille, Y. (2006a). A importância da generosidade no início da gênese da moralidade na criança. Psicologia: Reflexão e Crítica, 19(1),9-17.         [ Links ]

La Taille, Y. (2006b). Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Porto Alegre: Artmed.         [ Links ]

La Taille, Y. (2009). Formação ética: do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed.         [ Links ]

Macedo, L. (2010). Para um amor florescer. Trabalho não publicado. Universidade de São Paulo, São Paulo. Recuperado em 4 maio, 2011, de http://paulofreirejundiai.blogspot.com/2010/09/artigo-do-prof-dr-lino-de-macedo.html.         [ Links ]

Piaget, J. (1994). O juízo moral na criança (2ª ed., E. Leonardon, Trad.). São Paulo: Summus. (Trabalho original publicado em 1932).         [ Links ]

Piaget, J. (2004). Seis estudos de psicologia (24ª ed., M. A. M. D. Amorim & P. S. L. Silva, Trads.). Rio de Janeiro: Forense Universitária. (Trabalho original publicado em 1964).         [ Links ]

Piaget, J. (2005). Introdução - Problemas e Métodos. In A representação do mundo na criança (A. U. Sobral, Trad., pp. 9-31). Aparecida, SP: Idéias e Letras. (Trabalho original publicado em 1926).         [ Links ]

Resolução 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas em Psicologia com seres humanos. (2000). Brasília: CFP.         [ Links ]

Resolução 196/1996 do Ministério da Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. (1996). Brasília: MS. Recuperado em 20 de abril de 2010, de http://www.conselho.saude.gov.br.         [ Links ]

Souza, R. M. de, & Ramires, V. R. R. (2006). Amor, casamento, família, divórcio... e depois, segundo as crianças. São Paulo: Summus.         [ Links ]

Vale, L. G., & Alencar, H. M. (2008). Generosidade versus interesse próprio: juízos morais de crianças e adolescentes. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 24(4),423-431.         [ Links ]

Wadsworth, B. J. (1999). Inteligência e afetividade da criança na teoria de Piaget (5ª ed.). São Paulo: Pioneira.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Ariadne Dettmann Alves
Av. São Paulo nº1270 apto 1002 Praia da Costa
Vila Velha, Espírito Santo CEP: 29101-300
Telefone: (27) 8802-4020 / (27) 3299-5110
E-mail: alves.ariadne@gmail.com

Recebido em 27 de Novembro de 2011
Texto reformulado em 18 de Abril de 2012
Aceite em 18 de Abril de 2012
Publicado em 30 de Junho de 2012

 

 

Sobre os autores:

Ariadne Dettmann Alves - Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES.

Heloisa Moulin de Alencar - Professora Doutora do Departamento de Psicologia Social e do Desenvolvimento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES.

Antonio Carlos Ortega - Professor Doutor Colaborador e Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFES.

 

 

Este artigo é derivado da dissertação de mestrado da primeira autora, sob orientação da segunda e co-orientação do terceiro. Os autores agradecem o apoio financeiro da CAPES e a todos aqueles que participaram dessa pesquisa.
1 Em outro artigo, que se encontra em fase de submissão, analisamos todos os exemplos de amor e justificativas citados por cada participante.