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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.21 no.3 Ribeirão Preto dez. 2013

http://dx.doi.org/10.9788/TP2013.3-EE07PT 

ARTIGOS

 

Uso de Camisinha no Brasil: um olhar sobre a produção acadêmica acerca da prevenção de HIV/Aids (2007-2011)

 

 

Thiago Félix PinheiroI; Gabriela Junqueira CalazansII; José Ricardo de Carvalho Mesquita AyresIII

IFaculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil
IICentro de Referência e Treinamento em DST/AIDS da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil
IIIFaculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Desde o início da epidemia de aids, a camisinha tem sido a principal estratégia de prevenção das políticas brasileiras. Este estudo apresenta um ensaio reflexivo sobre a produção acadêmica a respeito do uso da camisinha como método de prevenção de HIV/aids no Brasil, com base em artigos publicados em periódicos científicos entre 2007 e 2011 e indexados na Biblioteca Virtual de Saúde. Delineia-se um panorama dos estudos realizados e dos resultados e conclusões encontrados. A despeito da diversidade da produção analisada, identifica-se concentração de estudos realizados com jovens e grande atenção dada às questões de gênero. A partir de uma análise conjunta dos objetivos e do aporte teórico-metodológico dos artigos, são identificadas seis vertentes de produção de conhecimento sobre o assunto: estudos epidemiológicos; estudos de conhecimentos e comportamentos; estudos de contextos específicos; estudos de significados e sentidos; estudos de atividades; e estudos de revisão. A literatura analisada apresenta-se de forma difusa, de modo a entrelaçar abordagens e direcionamentos, o que demanda um amadurecimento epistemológico e metodológico dos referenciais utilizados.

Palavras-chave: Preservativo/camisinha, prevenção de aids, sexo seguro, infecções sexualmente transmissíveis.


 

 

Prevenção de HIV/Aids e Uso de Camisinha

A epidemia de aids, pelo caráter incurável da doença, apresentou-se como um importante desafio para a Saúde Pública. Nesse cenário, a redução de danos e a prevenção se destacaram como estratégias fundamentais para o enfrentamento da epidemia. No Brasil, desde o início das políticas relativas à aids, a camisinha foi, e continua sendo, a principal aposta no campo da prevenção (Paiva, Venturi, França, & Lopes, 2003). A promoção de uso da camisinha fez parte de uma perspectiva não supressiva da prevenção, que caracterizou a maioria das respostas nacionais bem sucedidas à epidemia de HIV, diferentemente de outros contextos, onde os trabalhos preventivos persistiram na ideia de abstinência sexual (Kalichman, 1993).

A proposição original da adoção do uso da camisinha, como estratégia de prevenção de HIV/aids, data da primeira década da epidemia, nos anos 1980, a partir de iniciativa do movimento gay organizado nos EUA. Esse grupo se recusou a adotar as propostas provenientes da Saúde Pública, que preconizavam o "isolamento sanitário" dos grupos populacionais nos quais, de acordo com os estudos epidemiológicos da época, a chance de se encontrar pessoas com a doença era maior do que na chamada população geral, os chamados grupos de risco. Foi resistindo a esse conceito e às estratégias de abstinência e isolamento, que se propôs a centralidade do conceito de comportamento de risco e, com base nele, a incorporação da camisinha como uma forma de prevenção que possibilitasse a manutenção das práticas sexuais (Ayres, Calazans, Saletti, & França, 2006).

Dessa forma, a promoção do uso de camisinha articula-se, numa historiografia dos conceitos operativos da prevenção da aids, à superação da ideia de grupos de risco por uma concepção comportamentalista da prevenção, articulada em termos de comportamentos de risco versus práticas seguras. Tal processo produziu uma tendência à universalização da preocupação com a aids, sendo possível trabalhar mais abertamente e com maior legitimidade as informações e orientações a respeito das práticas de sexo (mais ou menos) seguras e divulgar e ensinar como usar camisinha. Imprimiu-se na prevenção a lógica do mar-keting, que enfatiza a propaganda da camisinha em associação com as práticas e comportamentos que também se quer vender (Paiva, 2000).

Posteriormente, como tentativa de responder à percepção de que a chance de exposição das pessoas ao HIV e ao adoecimento pela aids não resulta apenas de um conjunto de aspectos individuais, foi elaborada a perspectiva da vulnerabilidade, que propõe a análise de aspectos individuais, mas também coletivos e contextuais, que acarretam maior suscetibilidade à infecção e ao adoecimento, e, de modo inseparável, maior ou menor disponibilidade de recursos de todas as ordens para se proteger de ambos (Ayres et al., 2006). De acordo com Paiva (2000), a perspectiva da vulnerabilidade tornou evidentes as limitações das campanhas de divulgação da camisinha, feitas de forma descontextualizada, não suficientemente explícita ou específica para cada grupo com seus valores próprios, preferências sexuais singulares e linguagens diferentes para tratar da sexualidade.

A adoção do conceito de vulnerabilidade como norte das políticas de prevenção e cuidado no contexto nacional, articula-se à "incorporação da perspectiva de gênero e à garantia dos direitos humanos ... [como] condições fundamentais para a redução das vulnerabilidades e para prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e ao HIV/aids" (Ministério da Saúde [MS], 2009). No Brasil, a ideia de sexo protegido pelo uso da camisinha integra-se, como vemos, à perspectiva dos direitos humanos, sendo identificada no uso da camisinha uma possibilidade de atrelar o trabalho preventivo a um conceito positivo dos direitos sexuais, que para além de garantir a proteção (contra violações e doenças) promove o direito ao prazer, à vida sexual satisfatória e segura (Petchesky, 1999).

Com a disponibilização gratuita e universal da terapia antirretroviral no Brasil desde meados da década de 1990 e com o consequente aumento da população vivendo com HIV, emergiu a questão do cuidado às pessoas em tais condições, sobretudo no âmbito da saúde sexual. Nesse contexto, o sexo protegido se fortaleceu como uma possibilidade de garantir a continuação da vida sexual dessas pessoas e a proteção contra (re) infecção.

Por outro lado, desde o final dos anos 1990 e ao longo dos anos 2000, têm sido frequentes queixas e constatações sobre o que se convencionou chamar de "fadiga do preservativo" ou "fadiga da prevenção", como podemos observar em artigos da mídia internacional1 e no âmbito de introduções e justificativas de alguns artigos científicos que se embasaram neste fenômeno social para pesquisar a prevenção da aids (Adam, Husbands, Murray, & Maxwell, 2005; Ostrow et al., 2008).

Não parece casual, neste sentido, que estejamos entrando na quarta década de enfrentamento da epidemia presenciando um forte investimento, em todo o mundo, em formas de prevenção biomédica do HIV, tais como microbicidas, profilaxia pré-exposição (PrEP, do inglês pre-exposure prophylaxis), profilaxia pós-exposição (PEP, do inglês post-exposure prophylaxis), testar e tratar, tratamento como prevenção e vacinas. No entanto, mesmo mostrando-se promissoras, tais estratégias têm sido encaradas, por muitos programas, como ferramentas que devem se integrar à estratégia de promoção do uso da camisinha nas políticas de prevenção de HIV/aids de grande alcance populacional. Acredita-se que só assim será possível fazer desta quarta década a última da epidemia de aids (Joint United Nations Programme on HIV/AIDS [UNAIDS], 2012; Organização das Nações Unidas, 2011).

Tomando como perspectiva a centralidade da camisinha no enfrentamento da epidemia de aids, a atualidade do debate e a diversidade da produção acadêmica a esse respeito, apresentamos, no presente artigo, um ensaio reflexivo sobre a produção acadêmica acerca do uso da camisinha como estratégia de prevenção de HIV/aids no Brasil. A análise é empreendida com base em estudos publicados em periódicos científicos nos últimos cinco anos. Partimos do pressuposto de que a reflexão e a compreensão desses estudos, de seus referenciais teóricos e desenhos metodológicos podem contribuir para a compreensão dos desafios atuais no campo da prevenção e para o direcionamento de novos estudos comprometidos com a transformação dos contextos de vulnerabilidade ao HIV enfrentados no país.

 

Percurso Metodológico

O levantamento da produção acadêmica acerca do tema investigado foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica conduzida em março de 2012, na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS)2. Esse portal reúne as principais bases de dados da área da saúde (LILACS, MEDLINE, COCHRANE, SciELO), configurando uma opção abrangente e prática para a pesquisa de artigos disponíveis por meio de acesso online e aberto ao público.

Selecionamos os trabalhos que apresentam, no título, os descritores camisinha, preservativo, sexo seguro, prevenção de aids. A pesquisa também foi feita com os mesmos descritores em inglês (condom, safe sex, AIDS prevention), acrescidos do termo Brazil. Dos trabalhos encontrados, mantivemos apenas os artigos disponíveis como texto completo, publicados no período referente aos últimos cinco anos (de 2007 a 2011). Foram excluídos os estudos realizados em outros países, os que não tratavam do uso de camisinha como método de prevenção de HIV/aids ou de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) de forma geral e aqueles cujo endereço online não estava ativo, não podendo ser acessado pelo link fornecido pela BVS nem por outras plataformas de pesquisa (por exemplo, Google). Por fim, um total de 38 artigos foi selecionado para compor o material de análise.

O recorte temporal foi necessário, dada a grande quantidade de artigos encontrados nos primeiros passos da busca. Todavia, representa uma limitação deste estudo, uma vez que abrange apenas a produção mais recente sobre a temática.

Esses artigos receberam uma primeira análise com vistas a traçar um panorama da produção acadêmica sobre a adoção da camisinha como estratégia de prevenção de HIV/aids, a partir de características como fonte e ano de publicação, participantes e região em que a pesquisa foi realizada. Em seguida, realizamos uma análise mais detalhada a partir dos objetivos, do aporte teórico-metodológico e dos resultados dos artigos. O processo analítico foi composto, então, por leitura exploratória, seletiva e analítica dos artigos.

 

Panorama da Literatura: Contextos de Produção e Difusão do Conhecimento

Os artigos analisados (Tabela 1) foram publicados ao longo dos 5 anos investigados, seguindo uma distribuição não linear, de modo que não podemos depreender um crescimento ou decréscimo das publicações acerca do uso da camisinha como estratégia de prevenção de HIV/aids nesse intervalo de tempo. Identificamos poucos estudos de abrangência nacional, sendo a grande maioria realizada em locais específicos do Brasil. Há estudos em todas as regiões do país, com menor expressividade de estudos desenvolvidos no Centro-Oeste e no Norte.

De acordo com a classificação dos periódicos científicos presente na BVS, os artigos analisados concentram-se em periódicos vinculados à Saúde Pública e à Enfermagem, o que mostra um afunilamento da discussão a esse respeito em tais áreas. Em seguida, com menor proporção, encontramos artigos publicados em periódicos referentes à Medicina e a outras áreas da Saúde, com destaque para a área das IST. Chama a atenção a presença de um único artigo publicado em periódico de Psicologia.

A maioria dos artigos se detém no estudo da camisinha masculina, porém alguns incluem ou estudam exclusivamente a camisinha feminina. Aqui não operamos uma separação a partir desse critério, por estarmos considerando o uso da camisinha de forma geral. Em alguns artigos, a camisinha como método de prevenção de HIV/aids é o tema central. Em outros, esse assunto aparece inserido no tema mais amplo da prevenção de IST. Há ainda artigos em que essa temática articula-se a outras discussões, como iniciação sexual, contracepção, violência, racismo, uso de serviços de saúde etc.

Na literatura analisada, encontram-se os termos camisinha, preservativo e condom, utilizados na busca das bases bibliográficas. Na presente descrição, no entanto, utilizamos de modo uniforme o termo camisinha, mesmo quando no texto original se lança mão de outras expressões3. Esse termo nos parece estar mais associado a abordagens que valorizam os aspectos sócio-culturais das práticas sexuais e a perspectivas de prevenção orientadas pelo quadro da vulnerabilidade e dos direitos humanos, em contraposição a termos que tendem a compor discursos de corte mais estritamente biomédico da infecção, centrados nas estratégias preventivas de proteção específica4.

 

Conhecimento Produzido: Sistematização dos Estudos e Apresentação dos Resultados

Os artigos apresentam uma significativa diversidade em relação ao que se propõem a investigar e ao desenho das pesquisas e, logo, são diversos no que diz respeito ao tipo de conhecimento produzido. Desse modo, para apreciação e discussão dos estudos encontrados e de seus resultados, nos pareceu útil agrupá-los a partir da análise conjunta dos objetivos e do aporte teórico-metodológico. Identificamos, então, seis vertentes de estudos acerca da adoção da camisinha como estratégia de prevenção das HIV/aids (Tabela 2).

Tal sistematização atende ao propósito de discutir que tipo de conhecimento tem sido produzido no campo em questão e como ele está embasado; não dá conta, no entanto, de todos os elementos que caracterizam os estudos e que poderiam levar a outras formas de analisá-los.

A partir dessas vertentes, que expressam lógicas diferentes na construção do conhecimento no campo investigado, passamos à apresentação dos estudos e de seus resultados.

Estudos Epidemiológicos

Dentre os estudos voltados à prevalência do uso de camisinha, destacamos os de abrangência nacional. Nessa direção, dois artigos analisados apresentam dados da pesquisa Comportamento Sexual e Percepções da População Brasileira sobre HIV/aids, coletados em 1998 e 2005, com amostras representativas da população urbana do país.

Berquó et al. (2008) apresentam dados acerca do uso de camisinha por pessoas de 16 a 65 anos nos 12 meses anteriores à pesquisa e apontam para um aumento substantivo de 1998 para 2005. Esse aumento é verificado entre as pessoas que têm apenas parcerias eventuais (de 63,5% para 78,6%), as que têm apenas parceria estável (de 19,1% para 33,1%) e as com ambos os tipos (de 24,5% para 46,3%). Como vemos, a prevalência de uso no primeiro grupo é superior a dos outros. De forma geral, em 2005, 21% das pessoas afirmam ter feito uso consistente da camisinha, isto é, em todas as relações sexuais nos 12 meses investigados. Os jovens (de 16 a 24 anos) destacam-se como o segmento que mais se protege.

Paiva et al. (2008) se detêm especificamente aos participantes jovens dessa pesquisa (segmento de 16 a 19 anos) e investigam especificamente o uso de camisinha na iniciação sexual. Em direção semelhante aos resultados do estudo anterior, identificam um aumento tanto para o caso da primeira experiência ter ocorrido em relacionamento estável (de 48,5% para 67,7%), quanto para o caso de parceria eventual (de 47,2% para 62,6%). Esse incremento não ocorre para alguns jovens em função da religião (protestantes e sem religião), da renda familiar e de terem tido a primeira relação sexual antes dos 14 anos.

Os demais artigos dessa vertente apresentam pesquisas realizadas com segmentos populacionais determinados e em locais específicos do país. A maior parte deles é voltada à investigação do uso de camisinha entre jovens, como o estudo de Cruzeiro et al. (2010), que apresenta pesquisa realizada em domicílio com amostra representativa do segmento de 15 a 18 anos, residente na zona urbana de Pelotas/RS. Nesse estudo, é investigada a ocorrência de "comportamentos sexuais de risco", definidos em função da quantidade de parceiros sexuais nos últimos 12 meses e do uso de camisinha nas três últimas relações. No que se refere a esse segundo indicativo, o uso de camisinha foi constante para 56,3% dos participantes. Para as moças, o risco de usar camisinha apenas ocasionalmente aumenta em 21%, em comparação com os rapazes. Os autores observam uma tendência linear com relação à escolaridade materna, já que o uso ocasional se mostra tanto maior quanto menor os anos de estudo da mãe.

Costa et al. (2009), Ribeiro et al. (2011) e Viana et al. (2007) também investigam o uso de camisinha na população jovem; nesses casos, porém, exclusivamente com jovens inseridos no sistema educacional. Os dois primeiros comparam o uso de camisinha na primeira e na mais recente relação sexual.

Costa et al. (2009) identificam, entre universitários com idade média de 23,6 anos, a prevalência de 71,4% na primeira relação e de 61,4% na última. Quanto aos fatores associados, essa pesquisa mostra que ter candidíase é um fator de proteção para uso de camisinha na primeira e na última relação sexual. Além disso, a relação marital não-estável e possuir parceiro do curso da área da saúde associam-se positivamente ao uso de camisinha na última relação sexual. Já o pertencimento a um curso da área da saúde não foi associado significativamente ao uso de camisinha.

Ribeiro et al. (2011), por sua vez, observam, entre estudantes de escola pública (de 12 a 20 anos), que a ausência de camisinha diminui para o sexo masculino (de 35%, na primeira relação, para 21%, na última) e aumenta para o sexo feminino (de 39% para 43%). Tomando como referência todas as relações sexuais, a diferença por sexo também é significativa nesse estudo. A maioria dos meninos (53%) afirma usar camisinha sempre, enquanto a maioria das meninas (54%) afirma usá-la algumas vezes. Para os pesquisadores, essa diferença pode estar relacionada com o fato de a maioria dos relacionamentos fixos (68%) ser expressa pelas mulheres e de parte dos homens (38%) afirmar ter tido quatro ou mais relacionamentos sexuais. No entanto, os demais dados relativos ao tipo e à quantidade de relacionamentos não são apresentados no artigo.

Outros fatores associados ao uso de camisinha entre jovens são encontrados por Viana et al. (2007). Esses pesquisadores identificam, entre estudantes sexualmente ativos de escolas públicas com idades entre 10 e 19 anos, que ser do sexo masculino e ter envolvimento de profissionais de saúde no ensino estão associados positivamente a todos os indicadores de sexo seguro investigados, assim como ter mãe com mais de oito anos de escolaridade está positivamente associado com uso de camisinha com parceiro fixo ou casual; ser aluno do Ensino Médio (em comparação com ser aluno do Ensino Fundamental) e ser mais velho associam-se negativamente com uso consistente de camisinha com parceiro ca-sual e fixo, respectivamente.

O uso de camisinha entre outros grupos também é investigado nos estudos dessa vertente. A população idosa, por exemplo, é foco da pesquisa de Maschio et al. (2011), que investigam as medidas de prevenção de IST/aids adotadas por frequentadores de uma instituição que desenvolve programas para a melhoria da qualidade de vida na terceira idade. Nesse estudo, a maioria dos participantes (87,7%) expressa a necessidade de utilização de medidas de prevenção, entre as quais o uso de camisinha se destaca como a mais conhecida (apontada por 70% dos participantes). No entanto, apenas 42,8% afirma a adoção de alguma medida preventiva, dentre os quais, 64,2% fazem referência ao uso da camisinha.

O estudo de Kalckmann et al. (2009) volta-se especificamente para o uso da camisinha feminina. Em monitoramento do uso dessa camisinha em serviços públicos de saúde (que participaram de um projeto de implantação de tal insumo), os pesquisadores identificam a continuidade do uso por um período de 12 meses em apenas 14,4% das mulheres pesquisadas. As mulheres com maior frequência de relações sexuais por mês usam por um maior período de tempo, assim como aquelas que utilizam os serviços de saúde de projetos comunitários (em comparação às que utilizam unidades básicas e serviços especializados). O fato de adotarem alguma prática contraceptiva e o método escolhido não se mostram associados à continuidade de uso.

O estudo de Lima et al. (2008) é dedicado aos homens que fazem sexo com homens (HSH) e investiga, dentre outros aspectos relacionados ao uso de serviços de saúde (voltados às IST), a aquisição da camisinha. A esse respeito, os pesquisadores identificam que, dentre os participantes, os homens mais jovens compram camisinha com uma frequência expressiva, porém menor em relação a homens de mais idade. Em relação à classe econômica, os homens com menor poder aquisitivo demonstram ter menor acesso à camisinha, sobretudo em "locais de encontro gay". De acordo com a tabela que apresenta as formas de acesso à camisinha, é possível identificarmos que, de modo geral, a compra de camisinhas ou sua aquisição em "locais de encontro gay" e eventos é mais expressiva do que a aquisição em serviços de saúde e organizações não governamentais.

Estudos de Conhecimentos e Comportamentos

Os estudos de conhecimentos e comportamentos costumam utilizar-se de modelos teórico-metodológicos baseados em abordagens comportamentalistas e sócio-cognitivas, tais como Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas (Alves & Lopes, 2008; Marta et al., 2008; Nicolau & Pinheiro, 2010); Teoria de Estágios de Mudança (S. M. Barbosa et al., 2008); Teoria do Comportamento Planejado (Matos et al., 2009); e The Behavioral Risk Factor Surveillance System (Saldanha et al., 2008).

Também nessa vertente, a maior parte dos artigos se destina à investigação do uso de camisinha entre jovens. Cada estudo, no entanto, apresenta particularidades em função do segmento investigado e do desenho da pesquisa.

Os estudos de Alves e Lopes (2008) e Marta et al. (2008) propõem análises que abrangem Conhecimentos, Atitudes e Práticas de jovens. Alves e Lopes (2008), em pesquisa com universitários entre 18 e 19 anos acerca da pílula anticoncepcional e da camisinha, identificam que os participantes possuem conhecimento elevado e atitudes positivas em relação ao tema, mas, no relato das práticas, verifica-se a inadequação de procedimentos, como a inserção da camisinha apenas no momento da penetração, quando, segundo as autoras, "o mais adequado seria seu uso durante todo o intercurso sexual, antes de qualquer contato genital" (p. 15). Embora o estudo tenha como foco a contracepção, aborda também a prevenção de IST/aids quando trata do uso de camisinha. A esse respeito, praticamente todos os participantes afirmam a necessidade de uso da camisinha em todas as relações sexuais; um número expressivo (65,1%) não teria relações sexuais se o/a parceiro/a não quisesse utilizá-la, porém uma parcela (17,6%) teria relações sem proteção se conhecesse bem o/a parceiro/a. Além disso, 46,1% dos universitários consideravam que a camisinha não interfere nas relações sexuais e 23,1% afirmam que gera diminuição do prazer sexual.

Já a pesquisa de Marta et al. (2008) se propõe a delinear o perfil de estudantes do curso de graduação em Enfermagem frente à aids. Nesse estudo, a maioria dos participantes apresenta informações corretas acerca das formas de transmissão do HIV. A camisinha destaca-se como o método preventivo mais referido (91,7%). Dentre os participantes sexualmente ativos, 58,8% afirmam ter usado camisinha na primeira relação sexual. Entretanto, essa medida é dispensada por 48,5% após um mês de namoro, quando a relação passa a ser considerada estável e sem riscos.

Outros estudos detêm-se, mais especificamente, nos comportamentos relativos ao uso de camisinha como estratégia de prevenção de IST/aids. Entre eles, o artigo de Saldanha et al. (2008) descreve o comportamento sexual e "perfis de vulnerabilidade" à aids entre estudantes de 13 a 18 anos. Para as pesquisadoras, a iniciação sexual precoce com parceiro mais velho e a multiparceria configuram fatores que aumentam a vulnerabilidade e são agravados pelo uso não sistemático de camisinha. Nesse sentido, 54% parecem afirmar que usam camisinha sempre5. O estudo investiga o conhecimento dos jovens apenas em relação aos métodos anticoncepcionais, o que é expresso por 56% dos participantes, sendo a camisinha o mais citado (64%).

Em direção semelhante, Carvalho et al. (2007) realizam pesquisa com jovens de 18 a 50 anos6, frequentadores de casas noturnas. Nesse contexto, as pesquisadoras, além de investigar a prática do sexo protegido, verificaram o porte e o acondicionamento de camisinha entre os participantes. De acordo com os resultados, 58,8% dos entrevistados afirmaram usar sempre a camisinha e 38,4% a portavam na ocasião da pesquisa, sendo que 40,7% dos que a portavam acondicionavam-na na carteira. Observou-se relação entre o acondicionamento e as condições da embalagem, todas as camisinhas que estavam amassadas encontravam-se em carteiras. Entre os motivos para a não adoção do uso de camisinha, destacam-se a utilização de contraceptivo hormonal (43,2%) e a queixa de que a camisinha diminui o prazer (29,6%).

Matos et al. (2009) também se ocupam dos comportamentos, mas com foco nos fatores que motivam a prática de sexo seguro em jovens estudantes de 18 a 19 anos. Nessa direção, buscam identificar os antecedentes da intenção de uso de camisinha entre os participantes e concluem que a formação da intenção não é tão dependente de atitudes, mas de normas sociais e de percepções de controle comportamental, isto é, da crença pessoal a respeito do grau de facilidade em realizar o comportamento. Nesse sentido, a obrigação moral de usar a camisinha é mais expressa pelos homens do que pelas mulheres. Porém, elas se mostram menos suscetíveis à tentação de fazer sexo sem camisinha e manifestam menor dificuldade em impedir que o sexo aconteça nessa condição. Em relação à pressão social, médicos e mães destacam-se como as influências mais expressivas sobre a intenção de usar a camisinha, especialmente entre as mulheres.

Leite et al. (2007), por sua vez, enfatizam o processo de escolha do método contraceptivo e de prevenção de IST/aids entre universitários da área de saúde. Identificaram, entre esses, a quase unanimidade da escolha pela camisinha como método contraceptivo. Entre os meninos, a escolha é justificada, sobretudo, pela praticidade e baixo custo; entre as meninas, pela ausência de efeitos colaterais. De modo geral, no entanto, tal escolha não se mostra vinculada à prevenção de IST/aids, o que chama a atenção das autoras por se tratar da perspectiva de futuros profissionais de saúde.

Os profissionais de saúde também são investigados por Oliveira et al. (2008), que averiguam, entre médicos e enfermeiros de instituições públicas de referência para o tratamento de IST, o conhecimento a respeito da camisinha feminina e a dinâmica de promoção desse método. Os resultados apontam para um déficit de conhecimento em relação às características básicas e ao modo de colocação entre os profissionais das duas categorias. Conhecer os passos de colocação, no entanto, se mostra associado ao sexo feminino. Além disso, é verificada pouca promoção do uso de camisinha feminina, justificada por esses profissionais com base no preço elevado, na não disponibilidade nas unidades de saúde, no desconhecimento e na falta de adesão das mulheres, em contraposição ao maior acesso à camisinha masculina.

O estudo de S. M. Barbosa et al. (2008) abordou pais de adolescentes, estudantes de escola pública. As pesquisadoras investigaram Estágios de Mudança de Comportamento em relação à comunicação com os filhos sobre sexualidade e medidas preventivas de HIV/aids. Os resultados indicam que a maioria dos pais conversam ou têm interesse em conversar com os filhos sobre a temática. No entanto, alguns expressam dificuldades para isso, sobretudo a necessidade de maior esclarecimento sobre medidas preventivas de HIV/aids ou gravidez indesejada.

O comportamento de idosos em relação à prevenção de IST/aids é estudado por Laroque et al. (2011), que identificaram diversos fatores que contribuem para a pouca adesão desse segmento populacional ao uso da camisinha, sobretudo no período pós-reprodutivo. Entre eles, está a vergonha em falar sobre sexualidade e de propor o uso da camisinha; a resistência e o preconceito em relação à camisinha, dado que esse segmento da população iniciou a vida sexual antes da epidemia de aids; e o fato de a prática sexual nessa fase da vida já implicar em algumas limitações, às quais se soma a inserção da camisinha. Além disso, segundo as autoras, a prevenção voltada para essa população esbarra na dificuldade que os profissionais de saúde têm em abordar a sexualidade dos idosos.

Por fim, nos textos analisados, encontramos nota prévia de Nicolau e Pinheiro (2010), que divulga pesquisa a ser realizada com presidiárias sobre Conhecimentos, Atitudes e Práticas relativos às camisinhas masculina e feminina.

Estudos de Contextos Específicos

Entre os estudos dessa vertente, que se caracterizam pela abordagem de contextos específicos com recurso aos aspectos socioculturais, destaca-se a atenção dada às mulheres e às relações de gênero no recorte dos contextos investigados. Diferentes técnicas de coleta de dados foram adotadas: Moura et al. (2009) realizaram entrevistas e observação participante; C. B. Reis e Bernardes (2011) e Riscado et al. (2010) utilizaram a técnica de grupos focais; M. C. P. Sousa et al. (2008), por sua vez, agregaram essas três técnicas em sua investigação.

M. C. P. Sousa et al. (2008) circunscrevem o contexto de mulheres adultas, vivendo relações conjugais estáveis, em uma região de baixa renda, na periferia de Teresina/PI. Para identificar a vulnerabilidade dessas mulheres ao HIV, os pesquisadores se debruçam sobre o uso ou não de camisinha por elas, as relações de gênero que vivem com seus parceiros e a atuação do Programa de Saúde da Família (PSF) em tal contexto. Percebem que a maioria das mulheres não faz uso contínuo da camisinha, sobretudo por dificuldades relacionadas à negociação dessa prática com o parceiro; a camisinha é mais facilmente inserida na prática sexual, quando encarada como contraceptivo. Em relação à assistência prestada pelo PSF a essas mulheres, os pesquisadores ressaltam que a mesma se restringe ao trabalho de educação em saúde da mulher, centrado no acompanhamento pré-natal e nas medidas de redução do câncer ginecológico, de forma que as equipes de saúde não incorporam a discussão sobre sexualidade e relações de gênero, o que agrava a vulnerabilidade das mulheres nesse contexto.

Na mesma direção, Riscado et al. (2010) realizam pesquisa com mulheres em comunidades remanescentes de Quilombos em Alagoas, entre as quais encontraram um expressivo desconhecimento da importância da utilização da camisinha, assim como resistência à adoção dessa prática e dificuldades relacionadas à necessidade de permissão do parceiro para tal. Para os pesquisadores, o alto grau de vulnerabilidade dessas mulheres às IST/aids está atrelado ao contexto marcado por condições precárias de vida, ocorrência acentuada de violência doméstica e de racismo (vivenciado em diferentes contextos de relações sociais e institucionais), dificuldades de acesso aos serviços de saúde, ausência de uma política de saúde mais efetiva e de um trabalho educativo em tais comunidades.

O estudo de Moura et al. (2009) também enfoca as mulheres, em um cenário de prostituição e pobreza no interior do Ceará, no qual a prevenção esbarra em diferentes obstáculos. Os pesquisadores percebem que as prostitutas investigadas enfrentam dificuldades na aquisição das camisinhas, de forma que sua utilização fica a cargo do cliente. Em geral, a camisinha acaba sendo usada apenas nas relações com clientes desconhecidos e recentes, sendo dispensada nas relações com os clientes antigos e conhecidos, assim como com seus parceiros fixos (às vezes casados ou em relacionamento com outras mulheres). Além disso, o contexto de submissão da prostituta ao freguês legitima que ele exija a relação sexual sem camisinha, podendo inclusive colocar em dúvida a saúde da profissional se ela não consentir nessa prática.

C. B. Reis e Bernardes (2011), por outro lado, se debruçam sobre o contexto das penitenciárias, para investigar a adoção de estratégias para prevenir a infecção e a disseminação de IST/aids. Percebem que os/as participantes, internos/as das cadeias públicas de cidades do Mato Grosso do Sul (que interagem com a comunidade por meio de familiares, visitantes, servidores prisionais e das diversas reincidências) reconhecem a importância da prevenção e apontam os principais métodos preventivos, dentre os quais destacam o uso consistente de camisinha como o mais eficiente. No entanto, tendem a usá-la apenas esporadicamente, devido à dificuldade em sua aquisição, à falta de orientação da equipe de saúde local sobre a temática e ao desinteresse dos/as próprios detentos/as, justificado pelo envolvimento em relação estável com parceria fixa. As pesquisadoras chamam a atenção para a precária assistência à saúde dos/as presos/as, atrelada ao preconceito e à discriminação da sociedade.

Estudos de Significados e Sentidos

Nessa vertente, os artigos se apoiam em diferentes conceitos e perspectivas teóricas para a compreensão de sentidos e significados atribuídos ao uso da camisinha como estratégia de prevenção de HIV/aids. Aqui também é recorrente o recurso às questões de gênero para compreensão dos aspectos relacionados ao uso da camisinha, especialmente no âmbito das relações afetivo-sexuais.

Sampaio et al. (2010) e Sampaio et al. (2011) recorrem ao modelo teórico-metodológico das práticas discursivas e investigam a prevenção de IST/aids no contexto da assistência a adolescentes em Unidades de Saúde da Família. O primeiro estudo (Sampaio et al., 2010) discute as produções de sentido de adolescentes e equipes de saúde a respeito de gênero e sexualidade e suas implicações para a prevenção de IST/aids. As pesquisadoras identificam, entre os adolescentes, concepções machistas e um desconhecimento em relação às formas de prevenção das IST/aids. Mais especificamente, destacam produções de sentido sobre amor romântico, fidelidade e monogamia, presentes em jovens e adultos, homens e mulheres, que se vinculam a uma suposta proteção, configurando como desnecessário o uso de camisinha em relações conformadas a partir desses elementos. Entre os profissionais de saúde, observam uma "expressiva dificuldade em trabalhar a sexualidade na adolescência, sendo primordial repensar o discurso biorreducionista e a educação bancária, como estratégias de enfrentamento das DST/aids" (p. 173).

Já o segundo artigo (Sampaio et al., 2011) enfoca a vulnerabilidade das mulheres jovens às IST/aids e, em especial, os sentidos atribuídos às relações de gênero na configuração da dificuldade que as adolescentes enfrentam para negociar o uso da camisinha com seus parceiros. Entre esses sentidos, destacam-se a identificação da iniciativa de propor a camisinha como atribuição do homem, o estranhamento em relação às meninas que propõem a relação sexual ou o uso da camisinha e a "culpabilização" delas diante dos casos de IST ou de uma gravidez não planejada.

O estudo de Madureira e Trentini (2008b) utiliza a noção de atitude e se detém à perspectiva de homens heterossexuais em relação ao uso da camisinha. Os resultados apontam que, na prevenção de IST/aids, "emaranham-se aspectos vinculados às crenças, aos mitos, aos estereótipos em saúde e às características dos relacionamentos homem-mulher" (p. 1807). Entre as justificativas para a reconhecida resistência masculina ao uso da camisinha, as pesquisadoras identificam a expressão de que ela é incômoda, implica uma interrupção do desenrolar da cena sexual, reduz o prazer e gera o temor de perda da ereção ou de mau desempenho sexual. Além disso, destaca-se, como motivo central do não uso de camisinha, a associação que se estabelece entre a prática preventiva e a desconfiança ou a infidelidade.

A partir dessas constatações, essas autoras produzem um ensaio (Madureira & Trentini, 2008a) no qual relacionam a prevenção de IST/aids à configuração das relações afetivo-sexuais no contexto conjugal heterossexual. Nesse sentido, elaboram três modelos de relação, nos quais se articulam de diferentes formas os elementos amor, desejo, prazer e fidelidade. Cada modelo está atrelado a uma construção particular da masculinidade e têm repercussões diferentes para a adoção de práticas sexuais protegidas. Embora essa formulação apresente modelos estanques, que categorizam a participação das pessoas nas relações, elabora achados comuns a outras pesquisas, como o fato de a camisinha como método preventivo ser considerada desnecessária nas relações estáveis, nas quais se presume a fidelidade; sendo utilizada em especial em relações eventuais, neste caso, extraconjugais.

Maksud (2009), por sua vez, investiga representações sociais de casais sorodiscordantes em relação às práticas sexuais e ao uso da camisinha. Compreende que tais representações conformam lógicas que, em geral, não são acompanhadas pelo discurso oficial da prevenção. A partir da tentativa de "compreender os significados do comportamento sexual e os sentidos sociais do desejo" (p. 355), a autora identifica construções como a relativização da doença e do risco de soroconversão e dificuldades relacionadas à própria situação de conjugalidade, como a imprevisibilidade das práticas sexuais e a justificativa, expressa pelos homens, de que não gostam de usar camisinha porque querem "sentir a pele". Nesse sentido, parece ocorrer um processo de rotinização da intimidade e uma suspensão do sexo seguro.

Em direção semelhante, R. K. Reis e Gir (2009) realizam estudo com portadores do HIV/aids que convivem com parceria sorodiscordante, atendidos em um serviço público ambulatorial, referência para o atendimento a portadores de HIV/aids. Dos significados identificados nos depoimentos dos participantes, delineia-se uma ideia de naturalização da infecção do HIV/aids como doença controlável por medicamentos, a crença de que a terapia antirretroviral e principalmente a carga viral indetectável impedem o risco de transmissão do vírus e um sentimento de invencibilidade que surge com o tempo de convívio entre o casal. Essas construções configuram-se como fatores que interferem na manutenção do uso de camisinha e, portanto, aumentam a vulnerabilidade da parceria sexual soronegativa à infecção pelo HIV.

Assim com os dois estudos anteriores, o artigo de Maliska et al. (2007) problematiza a prevenção no âmbito das relações entre casais sorodiscordantes. Nesse caso, no entanto, a discussão é feita na perspectiva da feminização da epidemia da aids e da "vulnerabilidade das mulheres". Os resultados apontam que as participantes, usuárias de um serviço de assistência especializada em IST/aids, acreditam estar protegidas em relações estáveis e, mesmo após a infecção, enfrentam dificuldade para negociar com seus parceiros o uso da camisinha. Em contraposição à requisição do uso de camisinha pela equipe de saúde, emerge a resistência dos homens a esse método preventivo, sustentada pela crença de que eles não transmitirão para suas parceiras soropositivas uma infecção mais grave do que a que elas possuem, pelo "mito" de que a mulher não transmite HIV para o homem e por uma possível motivação transgressora em relação à normatização imposta pela prevenção.

Por fim, Gomes et al. (2011) propõem-se a identificar as percepções de casais jovens heterossexuais de 20 a 27 anos, acadêmicos de um curso de graduação em Enfermagem e seus(suas) parceiros(as), acerca do uso da camisinha feminina e os fatores que propiciam ou dificultam a adoção dessa prática de forma rotineira. As pesquisadoras concluem que os participantes conhecem a eficiência desse método, mas ressaltam a dificuldade das mulheres para a negociação, a pequena divulgação sobre a camisinha feminina e seu alto custo. Em relação ao uso, expressam, por um lado, praticidade, confiabilidade, prazer e, por outro, desconforto, dor e aparência grotesca. A falta de familiaridade e o desconhecimento parecem ser os principais desencadeadores de dificuldades.

Estudos de Atividades

Primeiramente, apresentamos estudos que se debruçam sobre atividade(s) relacionada(s) à prevenção de HIV/aids, tomando-as como objeto de investigação ou de relato. Em seguida, descrevemos um estudo que utiliza atividades de promoção do uso da camisinha como parte de uma investigação específica.

Entre os primeiros está a descrição de uma intervenção de base comunitária para o controle das IST/aids na região amazônica, apresentada por Benzaken et al. (2007). Desenvolvido no âmbito do Sistema Único de Saúde, com a participação de pesquisadores, agentes governamentais, profissionais de saúde e comunidade, o programa de intervenção abrangeu desde o levantamento de dados locais (dinâmica da prostituição, venda de camisinha e características comportamentais), até ações de prevenção e assistência às IST na rede pública de saúde e capacitação de trabalhadoras do sexo, assim como avaliação das ações e do processo. São relatados diversos resultados positivos da experiência. No que se refere à camisinha, observa-se o incremento da venda de forma geral e do uso entre trabalhadoras do sexo, assim como uma redução das IST bacterianas e estabilização da ocorrência de infecção pelo HIV/aids e sífilis congênita.

Também nessa direção, o artigo de Ferraz e Nemes (2009) apresenta avaliação da implantação de atividades de prevenção de IST/aids em uma Unidade de Saúde da Família. Segundo as autoras, o perfil tecnológico da unidade investigada se assemelha ao dos tradicionais serviços da atenção básica no Brasil, apresentando limitado potencial de concretização do princípio da integralidade. Nesse sentido, as atividades de prevenção implantadas, dentre as quais consta a dispensação de camisinhas, mostram-se fragmentadas e "esvaziadas de importantes sentidos tecnológicos, como o diálogo e a atenção à singularidade dos usuários" (p. S249).

O estudo de Borba (2011) refere-se à análise de intervenções, nas quais ativistas de uma organização não-governamental distribuem camisinhas entre travestis que se prostituem. Com ênfase na relação entre linguagem e construção interacional de identidades sociais, o pesquisador examina as dinâmicas discursivas emergentes nas interações entre interventoras e travestis e argumenta a favor da importância e utilidade da compreensão desses elementos no trabalho de prevenção entre grupos considerados marginalizados e no combate à disseminação de IST/aids.

A. A. Sousa et al. (2009) apresentam breve relato do projeto que realizam trimestralmente em Suzano/SP. Trata-se de um sarau temático destinado a artistas, professores e membros da comunidade em geral, no qual atividades artísticas e musicais são atreladas à disponibilização de camisinhas e materiais informativos, que fomentam discussões acerca da sexualidade à luz das práticas sexuais seguras. O evento tem gerado o incentivo à leitura e à arte erótica, a divulgação e ampliação do acesso aos serviços de saúde.

Por sua vez, o estudo de Albuquerque e Villela (2011), a respeito da camisinha feminina, realizado com mulheres, em um serviço de Saúde da Família, apresenta a intervenção como parte da pesquisa. Nesse caso, a coleta de dados propriamente dita é articulada com atividades educativas, experimentação do insumo em consultório de enfermagem e uso em domicílio. Os resultados mostram que, após o espanto inicial com a camisinha feminina, a maioria das usuárias relata impressão positiva e expressa dificuldades de manuseio e introdução devido à excessiva lubrificação. Embora o foco da pesquisa seja a contracepção, a prevenção de IST aparece como motivo relevante na escolha desse método. De forma geral, no entanto, a adoção da camisinha feminina esbarra nas dificuldades de negociação com o parceiro.

Estudos de Revisão da Literatura

No grupo de artigos analisados, apenas dois se encaixam nessa vertente. O artigo de Brisighelli et al. (2009) apresenta de forma abreviada uma revisão sobre a eficácia da camisinha como método de prevenção de IST. A partir dos estudos levantados, os autores ressaltam que a camisinha não configura uma barreira completamente eficaz, uma vez que seu material é permeável a pequenos vírus, que ela não cobre toda região perineal e que o transporte e armazenamento podem alterar sua qualidade. Além disso, a falta de conhecimento e familiaridade com o uso correto desse método é um importante fator de diminuição de eficácia.

Em outra direção, a revisão produzida por Rebello et al. (2011) enfatiza a relação entre homens e prevenção de aids. A partir dos estudos encontrados, os autores apontam, entre outros aspectos, a centralidade da camisinha na prevenção. No entanto, esse elemento aparece na literatura especialmente a partir da problematização da aceitação de seu uso por parte dos homens. Nesse sentido, os autores ressaltam o consenso de que os motivos para o não uso da camisinha são estruturados a partir de modelos de crenças presentes no imaginário social. Ao longo da revisão, são identificadas diferentes construções características desses modelos: as relações de poder entre homem e mulher; a associação da camisinha com o sexo ilícito e, portanto, com a infidelidade; a ideia de que a camisinha não combina com casamento; de que a camisinha pode ser dispensada nas relações que envolvem compromisso efetivo; a crença de que o uso da camisinha pode fazer mal ao homem, porque retém algo que deveria ser solto, e à mulher porque impede que seu útero seja molhado pelo sêmen; a crença de que as mulheres não podem transmitir o HIV; a recusa ao uso de camisinha como demonstração de que não se teme o risco; a associação entre a satisfação no sexo anal e a identidade dos homens que fazem sexo com homens. Argumentam, por fim, que essa discussão avança à medida que se articula o papel de tal medida preventiva em si com os sentidos associados à camisinha.

 

À Guisa de Discussão: Destaques da Literatura e Considerações Sobre as Vertentes

A despeito da diversidade dos estudos acerca do uso da camisinha como estratégia de prevenção de HIV/aids, podemos identificar alguns destaques, notadamente a atenção dada aos jovens e às questões de gênero. Os estudos com esses direcionamentos podem ser compreendidos à luz da ênfase dada aos segmentos jovens nas políticas de prevenção (Paiva et al., 2008) e da centralidade das discussões acerca da "negociação" do uso da camisinha entre os parceiros (Madureira & Trentini, 2008a, 2008b). Trata-se, todavia, de dois destaques de naturezas diferentes.

O primeiro dirige-se a um segmento populacional e é predominante entre os estudos mais quantitativos. Podemos notar que o grupo denominado de jovens (ou adolescentes) é definido de modos distintos nos estudos, com diferentes recortes etários e abrangendo participantes dentro e fora do sistema educacional.

No que diz respeito aos outros grupos presentes na literatura pesquisada, ressaltamos a escassez de estudos que discutem o uso de camisinha entre HSH, usuários de drogas injetáveis e profissionais do sexo, grupos nos quais a epidemia de HIV e aids no Brasil mantém-se concentrada desde o seu início (Malta et al., 2010). Neste sentido, destacamos, que, entre os homens jovens, os gays têm se mostrado como segmento mais atingido pelo HIV nos últimos anos (MS, 2011). Da mesma forma, são poucos os trabalhos que englobam o contexto da prostituição e não são incluídos os homens trabalhadores do sexo. Também é pouco presente ou ausente a consideração de outros marcadores sociais da diferença na definição dos participantes e no delineamento das pesquisas, como raça/etnia (são escassas ou inexistentes investigações com populações negras, indígenas etc.).

Já o segundo destaque é temático, diz respeito às relações de gênero, que têm configurado alguns desafios à adoção do uso de camisinha, dados o caráter relacional das práticas sexuais, a dimensão do poder que se articula às relações de gênero e os valores culturais associados às construções de masculinidades e feminilidades. Esse destaque aparece mais claramente nas investigações de desenho qualitativo; tanto em pesquisas que discutem diretamente as relações entre casais, quanto nos estudos realizados com homens ou com mulheres especificamente. De modo incipiente, as relações de gênero são articuladas a outros aspectos sociais relevantes, de modo que podemos encontrá-las em estudos com casais sorodiscordantes, com mulheres quilombolas, pobres, jovens e prostitutas.

A emergência das relações de gênero como importante determinante da epidemia de HIV/aids ocorre a partir da identificação da tendência de feminização da epidemia ocorrida desde o início da década de 1990 com crescimento do número de casos de aids no Brasil e no mundo (MS, 2009). Nessa esfera, é importante atentarmos para a complexidade de tais configurações sociais, sob o risco da reprodução de clichês frequentes nas discussões de gênero, que dificultam a reflexão sobre nuances e circularidades características da relação de gênero com sexualidade e, mais especificamente, como o uso de camisinha. Lembramos, assim, da crítica e relativização da ideia de negociação do uso da camisinha no âmbito das desiguais relações de gênero feitas já na década de 1990 por R. M. Barbosa, Villela e Uziel (1995) que questionavam certa simplificação da complexa equação estabelecida entre as ideias de negociação e adoção ou não de práticas sexuais mais seguras.

Em relação a outros temas, abordados de forma menos expressiva ou ausentes no conjunto de estudos analisados, seria inesgotável a lista de questões que podem e merecem ser consideradas no âmbito do tema investigado. Frisamos, dentre elas, a falta de reflexões na produção acadêmica nacional a respeito da "fadiga da camisinha" e a necessidade de que se aprofundem as discussões sobre a atuação dos serviços de saúde nesse contexto, cuja relevância é marcada pelo reconhecimento da dimensão programática da vulnerabilidade ao HIV/aids e, nesse sentido, do suporte disponível à prevenção. Ademais, sobretudo nos estudos de significados e sentidos, seria profícuo um aprofundamento na reflexão acerca da medicalização do uso da camisinha e do discurso preventivo7, assim como a investigação da possível aproximação desse discurso com a dimensão do erótico, sugerida, por exemplo, por Parker (1994).

No que diz respeito às seis vertentes de estudos, ressaltamos que a categorização realizada não esgota as possibilidades de análise do conjunto de textos utilizado. Além disso, a caracterização das vertentes não é totalmente homogênea, considerando que alguns artigos, embora se encaixem melhor em um tipo de estudo, podem apresentar características de outra vertente. Assim ocorre com o artigo de Cruzeiro et al. (2010), do grupo dos estudos epidemiológicos, que opera, no entanto, uma lógica típica dos estudos de conhecimentos e comportamentos. Essa interseção parece acontecer mais nitidamente em relação ao debate a respeito de sentidos e significados, presente, de forma secundária, nos artigos de Ribeiro et al. (2011), dos estudos epidemiológicos; de M. C. P. Sousa et al. (2008), dos estudos de contextos específicos; de Matos et al. (2009) e de Saldanha et al. (2008), dos estudos de conhecimentos e comportamentos.

Embora todos os estudos analisados tenham em comum o propósito de produzir conhecimento útil ao enfrentamento do HIV/aids no campo da prevenção, mais especificamente por meio do uso de camisinha, cada vertente apresenta uma lógica particular na forma de se debruçar sobre a questão e um tipo específico de conhecimento produzido. Pensando de modo panorâmico, podemos ressaltar a complementaridade dessas diferentes abordagens, uma vez que todos os estudos acrescentam informações à literatura. Todavia, é fundamental atentarmos para os limites em que tais formas de produzir conhecimento têm esbarrado e para os cuidados necessários tanto na condução de pesquisas com determinados desenhos, quanto na leitura e uso das conclusões apresentadas.

Nesse sentido, vale pontuarmos que os estudos epidemiológicos possuem reconhecida relevância no que se refere à abrangência dos dados produzidos (por exemplo, são eles que possibilitam a estimativa do uso de camisinha na população) e à sua contribuição na indicação de prioridades para a elaboração de ações e políticas de prevenção. Entretanto, a construção de tal conhecimento implica em sucessivos processos de abstração conceitual, que lhe garantem manuseio formal e matemático de grande precisão, à custa de um afastamento de aspectos da realidade fundamentais para pensarmos a prevenção (Ayres, 2002). A história da produção de conhecimentos no campo da aids tem mostrado que o perigo desse afastamento, sobretudo na possibilidade de tomarmos uma associação probabilística [por exemplo, a indicação, presente na pesquisa de Berquó et al. (2008), de que pessoas de religião pentecostal usam menos camisinha que aquelas sem religião ou adeptas de outras religiões] de modo a generalizar determinada característica, produzindo identidades e rotulando pessoas e, nesses termos, orientar o desenho e a execução de ações preventivas (Ayres et al., 2006).

Já os estudos de conhecimentos e comportamentos, por sua vez, representam uma tentativa de identificar e/ou estruturar informações e práticas úteis para a prevenção de HIV/aids. Parecem ter como horizonte a(s) técnica(s) relevante(s) ao trabalho preventivo; por exemplo, buscam identificar quais informações são menos conhecidas e precisam ser mais divulgadas ou que orientações são mais efetivas em atividades educativas. No entanto, essa forma de produzir conhecimento pode incorrer na adoção de critérios naturalizados ou normativos a respeito das práticas sexuais, ao tomar, como parâmetro, conhecimentos e comportamentos considerados corretos independentemente dos contextos de intersubjetividade nos quais as identidades pessoais, os valores e as práticas são concreta e dinamicamente constituídos.

Como lembra Paiva (2000), a concepção comportamentalista da prevenção, embora tenha representado uma abertura no trabalho com as informações e orientações a respeito das práticas sexuais (mais ou menos) seguras, sobretudo em relação ao uso de camisinha, tende a desconsiderar o contexto social, tomando a mudança comportamental como uma responsabilidade individual e um processo intencional dos sujeitos "convencidos" pelos técnicos da sua necessidade.

De modo particular, os estudos dessa vertente que identificam que a maioria dos jovens tem conhecimento sobre aids e os meios de prevenção, em especial a camisinha (Alves & Lopes, 2008; Leite et al., 2007; Marta et al., 2008), nos levam a conclusões favoráveis no que se refere à divulgação de informações e orientações sobre prevenção e aos trabalhos de educação para a sexualidade. Esse quadro, no entanto, é contradito por pesquisas como a de Sampaio et al. (2010), dos estudos de significados e sentidos, que identifica um frequente desconhecimento de moças e rapazes a respeito de IST e da prevenção e, em contrapartida, a crença dos profissionais dos serviços de saúde de que os jovens têm tais informações, a despeito das quais tendem a não manter comportamentos preventivos por irresponsabilidade, o que inviabilizaria o trabalho de prevenção com esse público. Podemos pontuar, neste sentido, a necessidade de distinguir o acesso à informação de uma real possibilidade de comunicação entre os sujeitos envolvidos na prática preventiva com vistas a transformação dos contextos de intersubjetividade que conformam a vulnerabilidade ao HIV/aids (Ayres, França, Calazans, & Saletti, 2003).

Os estudos de contextos específicos e os estudos de significados e sentidos, pautados por uma lógica compreensiva sobre o uso da camisinha, parecem responder à percepção de que a aquisição do conhecimento a respeito das IST/aids e do uso de camisinha não é suficiente para a adoção do sexo protegido (referida, por exemplo, por Alves & Lopes, 2008), uma vez que tais práticas não estão descoladas dos contextos em que ocorrem e das construções sociais que neles operam. Nesse sentido, para além do uso de camisinha e do (re)conhecimento de sua importância, esses estudos permitem o avanço do conhecimento e da reflexão acerca das implicações dessa prática para os sujeitos, do que ela representa e aciona em determinadas situações.

Todavia, a consideração de contextos específicos e da construção de significados e sentidos, por si, não garante a produção de uma totalidade compreensiva útil a respeito das dificuldades e possibilidades a respeito do uso da camisinha como método de prevenção de HIV/aids. Nessa direção, há o perigo de incorrermos na falácia de abordar tais aspectos simplesmente como instrumentos para melhor "convencer" as pessoas a respeito do uso da camisinha, sem, de fato, buscar uma fusão de horizontes8 com tais contextos e construções.

Ainda acerca dos estudos de contextos específicos, lembramos que, em geral, eles operam com uma lógica em que os sujeitos são compreendidos como coletivos, em função das condições do entorno. Nesse caso, é necessário estarmos atentos para não perdermos a perspectiva da subjetividade e do modo singular como as pessoas se relacionam com tais condições. É particularmente importante que, no processo de compreensão, possamos observar como os diferentes contextos intersubjetivos conformam identidades e horizontes práticos que são centrais para o estabelecimento de diálogos que possam efetivamente propiciar mudanças nas relações e redução de vulnerabilidades.

Os estudos de atividades têm sua relevância demarcada pelo registro de experiências e pela possibilidade de articulação de pesquisa com intervenções. Isso é especialmente importante em um campo como o da prevenção de IST/aids, que mantém grande proximidade com a prática e cuja atuação, em especial as ações de promoção de uso da camisinha, encontram-se em construção, uma vez que ainda se impõem desafios significativos e o que temos acumulado são algumas lições, como mostram Ayres (2002) e Paiva (2000).

Cabe destacarmos, no universo estudado, a pouca expressividade das publicações voltadas ao desafio, nada insignificante, do "como fazer" referente às práticas de promoção do uso da camisinha. Considerando, dentro dos estudos de atividades, apenas os relatos e análises de experiências, notamos que são poucas as iniciativas que se dedicam a descrever e/ou avaliar proposições tecnológicas a respeito de como promover o uso da camisinha em determinados contextos. Parece-nos que este seja um campo a ser mais bem explorado, com base na descrição de inovações tecnológicas sobre as práticas articuladamente à reflexão densa sobre fundamentação teórica e as dificuldades/potencialidades identificadas em diferentes contextos e com diferentes grupos populacionais. Nesse sentido, considerando a centralidade da camisinha na política de prevenção de IST/aids no contexto nacional, trata-se de um tipo de produção fundamental quando se refere a um universo de práticas em saúde.

Os estudos de revisão, de forma geral, são oportunidades de levantamento, síntese e avaliação do conhecimento produzido sobre determinado tema. Em relação ao uso da camisinha como estratégia de prevenção de IST/aids, como vemos, esses estudos são escassos nos últimos cinco anos. Considerando que os dois trabalhos identificados nessa vertente referem-se a recortes temáticos determinados (eficácia da camisinha e prevenção e homens), notamos a ausência de uma trabalho mais amplo de sistematização dos estudos sobre o uso da camisinha como método de prevenção, tema central à política de enfrentamento das IST/aids no Brasil.

Orientando-se para a superação dessa lacuna, o presente ensaio representa a tentativa de criação de um panorama crítico dos estudos sobre o tema, que contribua com a compreensão a respeito de como temos pensado o uso da camisinha e a prevenção de HIV/aids e operacionalizado teórica e metodologicamente as pesquisas e práticas nesse campo. Nesse sentido, pretendemos que o estudo possa viabilizar novas análises e abordagens sobre o tema.

É evidente que este estudo esbarra em limites relevantes, tais como o recorte temporal na seleção dos artigos e os critérios que não puderam ser incorporados à análise, como a caracterização de autores e a vinculação de possíveis grupos de pesquisadores. Esses aspectos poderiam, por exemplo, viabilizar a problematização do que nos pareceu ser uma concentração das publicações sobre o tema em determinadas áreas, notadamente a Saúde Pública e a Enfermagem, destacando-se a escassez de artigos em periódicos de Psicologia. A concentração de tais publicações no campo restrito dessas áreas das Ciências da Saúde vai de encontro ao entendimento de que as ações de redução da vulnerabilidade às IST/aids não devem se restringir à esfera institucional da saúde, devendo ampliar seu escopo de ação de forma interdisciplinar e intersetorial com vistas a transformação dos contextos de vulnerabilidade (Ayres et al., 2003). A respeito da Psicologia, ainda, poderíamos considerar, em especial, que, dentre os autores dos artigos analisados, encontram-se pesquisadores/profissionais com formação em Psicologia e que alguns artigos ancoram-se em referenciais teóricos originários da Psicologia9. Na ausência de uma análise sistemática a esse respeito, cabe apenas nos questionarmos por que os psicólogos que pesquisam e estudam a prevenção de IST/aids têm buscado ou encontrado mais espaço em periódicos de outras áreas.

Além disso, a não ampliação do escopo desta pesquisa por meio da utilização de outras bases de dados configura uma limitação em função das restrições encontradas no portal utilizado para a busca de artigos, sobretudo no que diz respeito aos mecanismos de busca e à recuperação dos artigos a partir dos links disponibilizados no portal.

Por fim, lembramos que, dada a grande quantidade de estudos realizados sobre temas relacionados ao uso da camisinha, optamos por direcionar o foco deste trabalho para a prevenção de HIV/aids, deixando de abarcar aspectos relevantes, específicos das discussões referentes à contracepção e à prevenção de outras IST.

 

Considerações Finais

A análise empreendida neste artigo permite tirarmos algumas conclusões a respeito da produção acadêmica acerca do uso da camisinha como estratégia de prevenção de HIV/aids. Em primeiro lugar, a literatura da área pode ser descrita como concentrada na investigação de alguns grupos de participantes e na discussão de alguns temas em especial, deixando de fora sujeitos, contextos e questões que se mostram importantes no enfrentamento da epidemia de aids e na adoção das práticas preventivas. Isso vai de encontro à impressão de que se trata de uma literatura ampla e diversa, que podemos ter ao vislumbrarmos a quantidade de estudos publicados que abordam o assunto. Nesse sentido, é oportuna a produção de novos estudos que analisem e criem panoramas acerca dessa produção, de modo a delinear caminhos que precisam ser traçados ou fortalecidos na investigação no campo da prevenção de HIV/aids.

Outra característica observada é que a literatura estudada apresenta-se de forma difusa no que diz respeito às lógicas de produção de conhecimento. A despeito do valor inerente a uma produção que compreende diferentes aportes teórico-metodológicos, encontramos um entrelaçamento de abordagens e direcionamentos, que em alguns momentos, parece confuso. É o que vemos ao identificar a permanência de estudos que se embasam em uma abordagem comportamentalista da prevenção e a articulam com o quadro da vulnerabilidade que, na história dos conceitos operacionais das investigações no campo da aids, marca a crítica e a superação da perspectiva individualista dessa primeira abordagem.

Encontramos diversas referências à vulnerabilidade ao HIV no conjunto dos estudos analisados, abrangendo desde utilizações mais superficiais dos termos próprios desse quadro até apropriações mais substanciais de tal referencial, passando pelas articulações dele com a noção de risco ou com a abordagem comportamentalista. Presumimos, de um lado, o largo alcance das formulações e da terminologia do quadro da vulnerabilidade e, de certo modo, sua legitimidade [reconhecida, como vimos anteriormente, pela própria política pública nacional (MS, 2009)]. De outro, notamos a multiplicidade de direcionamentos na produção de conhecimento sobre o assunto em questão, o que aponta para a necessidade de um maior debate e amadurecimento epistemológico e metodológico tanto em relação ao quadro da vulnerabilidade, quanto ao conjunto de referenciais utilizados nos estudos sobre uso de camisinha como estratégia de prevenção de HIV/aids.

Vemos em tal amadurecimento uma tarefa inadiável, um compromisso histórico necessário ao enfrentamento da epidemia de aids, no sentido de: (a) reconhecer os grupos populacionais mais afetados; (b) buscar compreender suas complexas suscetibilidades socialmente configuradas; (c) desenhar abordagens vigorosas, criativas e potentes, capazes de envolver pessoas e grupos para se apropriarem e se mobilizarem de forma autêntica para encontrarem alternativas práticas que possibilitem superar as condições que conformam vulnerabilidades.

 

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Endereço para correspondência:
Thiago Félix Pinheiro
Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo
Av. Doutor Arnaldo, 455, 2º andar, sala 2213
Cerqueira César, São Paulo, SP, Brasil, 01246-903
E-mail: tfpinheiro@usp.br, gajuca@usp.br e jrcayres@usp.br

Recebido: 30/08/2012
1ª revisão: 07/09/2012
Aceite final: 13/09/2012
Agência de Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

 

 

1 Sobre "fadiga do preservativo" ou "fadiga da prevenção", conferir: (a) "Condom fatigue" may be behind STI rise: University of British Columbia. Retrieved June 10, 2012, from http://www.ctv.ca/CTVNews/Health/20070913/bc_sex_070913/; (b) "Condom Fatigue" Leading to More AIDS. Retrieved June 10, 2012, from http://www.goldtalk.com/forum/showthread.php?t=23956; (c) Condom Fatigue or Prevention Fatigue? Retrieved June 10, 2012, from http://ezinearticles.com/?Condom-Fatigue-OrPrevention-Fatigue?&id=5196308
2 http://brasil.bvs.br
3 Ao vertermos o título e Resumo deste artigo para o inglês e o espanhol, utilizamos, respectivamente, os termos condom e preservativo, consagrados nesses idiomas.
4 Para a comparação entre fundamentos e métodos dos principais quadros conceituais de prevenção, conferir: Ayres, Paiva e França (2011).
5 No artigo de Saldanha et al. (2008), há um desencontro entre algumas informações referentes à frequência do uso de camisinha, apresentadas em tabela e no resumo.
6 Embora seja incomum a denominação "jovens" a um grupo com esse recorte etário, as pesquisadoras, ao que parece, utilizaram este termo com base no fato de mais da metade dos participantes ter entre 18 a 23 anos, sendo a média das idades igual a 22,56, a moda, 18 anos e a mediana, 21 anos.
7 "Medicalização do uso da camisinha e do discurso preventivo" é compreendida aqui no sentido adotado nas discussões sobre "medicalização social", conferir: Tesser (2006).
8 Para uma discussão a respeito do conceito de fusão de horizontes, conferir Ayres (2008).
9 Por exemplo, as pesquisas sobre comportamentos ou mudança comportamental e sobre práticas discursivas, apresentadas na seção de Resultados.