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Temas em Psicologia

versão impressa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.22 no.4 Ribeirão Preto dez. 2014

http://dx.doi.org/10.9788/TP2014.4-11 

ARTIGOS

 

Impactos da seca no bem-estar psicológicode agricultores familiares do sul do Brasil

 

Impacts of drought on the psychological well-being of family farmers in southern Brazil

 

Impactos de la sequía en el bienestar psicológico de los agricultores familiares en el sur de Brasil

 

 

Eveline FaveroI; Jorge Castellá SarrieraII

IUniversidade Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, Paraná, Brasil
IIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O estudo analisou o grau de associação entre diferentes níveis de impacto da seca e a percepção de bem-estar psicológico em agricultores familiares do estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Participaram 198 agricultores (104 do sexo masculino e 88 do sexo feminino), com idade entre 18 e 77 anos (M=44,38; DP=10,04). Como instrumentos, foram utilizados o Questionário de Saúde Geral com 12 itens (QSG12) e uma escala ad hoc para avaliar os impactos da seca na família nos seguintes aspectos: financeiro/endividamento, psicológico, lazer, vestuário, sono, estudos, relacionamento familiar e rotina familiar. Análises de ANOVA indicaram que existe um efeito significativo da seca no bem-estar, confirmando a hipótese para este estudo, ou seja, de que à medida que aumentaria o impacto do desastre aumentaria a percepção negativa de bem-estar psicológico na população estudada. No entanto, a diferença entre as médias de bem-estar do grupo de baixo e alto impacto da seca demonstrou que o desastre necessita causar alto impacto na família para que de fato exerça influência significativa sobre o bem-estar. Análises de Regressão Linear indicaram que impacto da seca no vestuário e a renda são as variáveis que mais contribuem para a percepção negativa de bem-estar. Conclui-se que não é o desastre em si, mas os recursos de que os agricultores familiares dispõem para enfrentá-lo que irão determinar a gravidade dos seus impactos quanto a influência da seca no bem-estar psicológico.

Palavras-chave: Bem-estar psicológico, seca, agricultores familiares.


ABSTRACT

The study aimed to analyze the degree of association between different levels of impact of drought and perception of psychological well-being in family farmers in Southern Brazil. Participated in the study 198 farmers (104 men and 88 women), aged 18-77 years (M = 44.38, SD = 10.04). As instruments we used the General Health Questionnaire (GHQ-12) and an ad hoc scale with eight items, dealing with the impact of drought on the following aspects: Financial/indebtedness, psychological, leisure, clothing, sleep, study, family relationships, and routine. The hypothesis was that, as the impact of the disaster on family increases, the negative perception of psychological well-being also increases. ANOVA analysis demonstrated that there is a significant effect of drought on the well-being and the linear trend also was significant confirming the research hypothesis. However, the difference between means of low and high impact group demonstrated that the disaster needs cause a high impact to have significant influence on the well-being. Regression analysis revealed that the impact of the drought on clothing and income are the variables that most contribute to a negative perception of well-being. Results indicated that it is not the disaster itself, but the resources that the farmers have to face it that will determine the severity of its impacts and influence of drought on psychological well-being.

Keywords: Psychological well-being, drought, family farmers.


RESUMEN

El estudio examinó el grado de asociación entre diferentes niveles de impacto de la sequía y la percepción de bienestar psicológico de los agricultores familiares en el estado de Rio Grande do Sul, Brasil. Participaron 104 hombres y 88 mujeres (N = 198), con edades de 18 a 77 años (M = 44.38, SD = 10.04). Se utilizó como instrumento el General Health Questionnaire (GHQ-12) y una escala ad hoc para evaluar el impacto de la sequía en los siguientes aspectos: financiero/endeudamiento, psicológico, ocio, ropa, sueño, estudios, relaciones familiares y rutina familiar. La hipótesis era que a medida que aumenta el impacto de la catástrofe, también aumentaría la percepción negativa de bienestar. Análisis de ANOVA indicó que existe un efecto significativo de la sequía sobre el bienestar y que la tendencia lineal fue significativa. Sin embargo, la diferencia entre las medias de los grupos de bajo y alto impacto demostró la necesidad del desastre causar un alto impacto para ejercer influencia significativa en el bienestar. El análisis de regresión reveló que el impacto de la sequía en la adquisición de ropa y los ingresos son las variables que más contribuyen para una percepción negativa de bienestar. Los resultados indicaron que no es el desastre en sí, sino los recursos que los agricultores tienen para hacer frente que van a determinar la gravedad de sus impactos y la influencia de la sequía en el bienestar psicológico.

Palabras clave: Bienestar psicológico, sequía, agricultores.


 

 

As secas são desastres que se manifestam tanto em forma de declínio econômico e rápida mudança ambiental, quanto através de consequências prolongadas e devastadoras no estilo de vida e bem-estar das comunidades rurais (Boyd, Quevillon, & Engdahl, 2010). O bem-estar psicológico está associado a processos positivos relacionados à saúde (Machado & Bandeira, 2012) e a capacidades essenciais para o enfrentamento dos desafios da vida (Siqueira & Padovam, 2008). Dentre essas capacidades estão a autoaceitação, relações positivas com os outros, autonomia, domínio sobre o ambiente, propósito na vida e crescimento pessoal (Ryff, 1989; Ryff & Keyes, 1995; Ryff & Singer, 2008).

A relação entre as mudanças no ambiente e a saúde humana é um tema que compete também ao campo da psicologia, uma vez que diz respeito ao bem-estar (Doherty & Clayton, 2011).

Em atividades humanas como a agricultura, existe uma elevada dependência das condições climáticas e da disponibilidade de recursos naturais, ao mesmo tempo em que está presente a dificuldade de controlar as condições ambientais (Adger, 2000). Nesse sentido, o domínio sobre o ambiente pode mostrar-se prejudicado, especialmente para aquelas populações com menor acesso a recursos e tecnologias, como é o caso dos agricultores familiares.

A agricultura familiar trata-se de um termo genérico que abarca uma grande diversidade de formas sociais as quais têm em comum entre si o fato de que a família, ao mesmo tempo em que detêm a propriedade dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo (Wanderley, 1996). Nesse sentido, a produção agrícola não é apenas um negócio de empresas (agronegócio), mas a base da vida de muitas famílias rurais, o sustento e a sobrevivência por meio de uma atividade com alta dependência das condições climáticas.

Estudos evidenciam que a seca apresenta reflexos no bem-estar psicológico através dos sentimentos de desânimo, insegurança quanto ao futuro, impotência, tristeza, preocupação, estresse e prejuízos no sono (Coêlho, Adair, & Mocellin, 2004; Favero & Sarriera, 2012; Favero, Sarriera, Trindade, & Galli, 2013; Sartore, Kelly, & Stain, 2007; Sartore, Kelly, Stain, Albrecht, & Higginbotham, 2008). Por outro lado, as secas estão entre os desastres que apresentam impactos psicossociais significativos (Doherty & Clayton, 2011) e que vão desde a necessidade de adaptação frente à escassez de recursos, até consequências crônicas no longo prazo. São exemplos de impactos, a escassez de água e alimentos, prejuízos agrícolas e mudanças na rotina diária, os quais requerem estratégias adaptativas como o corte de gastos com vestuário, lazer, produtos industrializados e estudos, bem como racionamento de água e restrições na dieta alimentar (Favero et al., 2013). Dentre as consequências crônicas estão o endividamento e a dificuldade de fazer reserva de recursos para enfrentar futuras secas (Favero & Diesel, 2013).

Embora, os desastres sejam eventos com potencial para danos na saúde (Davidson & McFarlane, 2006; Noal, Vicente, Weintraub, & Knobloch, 2013; Norris, Stevens, Pfefferbaum, Wyche, & Pfefferbaum, 2008; Reyes, 2006), estudos têm evidenciado que a resiliência psicológica é uma resposta comum e esperada em desastres (Dass-Brailsford, 2010; Watson, Brymer, & Bonano, 2011). Desse modo, que fatores podem contribuir para uma maior vulnerabilidade psicológica aos desastres? Que fatores podem contribuir para uma maior resiliência aos impactos dos desastres na saúde psicológica?

De acordo com Norris et al. (2008), a vulnerabilidade a desastres de um modo geral ocorre quando os recursos não são suficientemente fortes, abundantes ou rápidos para criar resistência ou resiliência a um estressor, resultando em disfunção persistente no funcionamento do indivíduo ou comunidade. Quanto mais severo, duradouro e surpreendente o estressor, mais fortes devem ser os recursos de enfrentamento. O termo recursos compreende os "objetos, condições, características pessoais e energias que adquirem valor para a sobrevivência, direta ou indiretamente, ou que servem como meio para atingir esse fim" (Hobfoll, 1998, p. 54). Em circunstâncias normais, indivíduos e comunidades geralmente dispõem de uma gama de recursos psicossociais que contribuem para o bem-estar de seus membros. Déficits nestes recursos podem resultar em diminuição da capacidade de enfrentamento e otimismo, mediando assim os efeitos negativos dos desastres (Davidson & McFarlane, 2006; Favero et al., 2013; Watson et al., 2011).

Em relação aos fatores que contribuem para uma maior resiliência às consequências dos desastres, Norris e Kaniasty (1996) constataram que as pessoas que enfrentaram melhor as consequências dos furacões Hugo e Andrew foram aquelas que também percebiam ter apoio social disponível, pessoas com quem conversar e com quem resolver problemas. Isso porque, o apoio social pode nos auxiliar a interpretar um fato como menos estressante e mesmo quando interpretamos algo como muito estressante, esse tipo de recurso nos auxilia a enfrentá-lo (Snyder & Lopez, 2002). Autores como García-Renedo, Beltrán e Valero (2007) consideraram o apoio social como uma variável mediadora em desastres. As variáveis mediadoras atuam de modo a fazer com que as reações ao evento sejam mais ou menos intensas e suas consequências mais ou menos devastadoras.

Considerando o exposto, não há dúvidas de que desastres como a seca têm consequências significativas para o bem-estar e que fatores como o apoio social podem contribuir para minimizar suas consequências. No entanto, faz-se necessário esclarecer quais dos impactos da seca estão diretamente relacionadas à saúde psicológica e em que medida eles de fato exercem influência sobre o bem-estar.

Por outro lado, as populações geralmente afetadas por esse tipo de desastre, ou seja, aquelas que desenvolvem atividades dependentes das condições climáticas como os agricultores, são ainda pouco investigadas no âmbito da psicologia. O fato de serem populações mais escassas, com pouca escolaridade e residentes em locais remotos não são justificativas suficientes para não estarem recebendo atenção científica. Do contrário, demandam atenção para as suas necessidades ainda pouco conhecidas, incluindo-se aqui aquelas relacionadas ao campo da psicologia como o bem-estar psicológico.

Com base nessas considerações, o estudo foi desenvolvido com o objetivo de analisar qual o grau de associação entre o bem-estar psicológico e diferentes níveis de impacto da seca em agricultores familiares de um município da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Buscou ainda identificar quais das variáveis de impacto podem ser consideradas preditoras de bem-estar, bem como, se a variável renda exerce ou não influência sobre a saúde psicológica dessa população. A hipótese construída foi de que à medida que aumentaria o impacto da seca na família, aumentaria também a percepção negativa de bem-estar psicológico na população investigada (agricultores familiares), havendo então diferenças nos níveis de bem-estar entre os grupos de agricultores e sendo essa diferença devido ao efeito do desastre.

O estudo contribui para ampliar o rol de pesquisas da psicologia com populações afetadas por desastres no Brasil, especialmente no que se refere a estudos empíricos, e para fomentar discussões sobre a importância social da seca para as famílias rurais. Não resta dúvida de que a psicologia necessita avançar na produção de conhecimento sobre a saúde psicológica em populações como as rurais, contribuindo com subsídios para as políticas públicas direcionadas a esse contexto.

 

Método

Participantes

Participaram 198 agricultores familiares com idade entre 18-77 anos (M= 44,38; DP= 10,04), sendo 104 (52,5%) do sexo masculino e 88 (44,4%) do sexo feminino, com faixa de renda entre um e quatro salários mínimos nacionais. Foram utilizados os seguintes critérios de inclusão: ser maior de 18 anos, residir nos últimos cinco anos no município selecionado (onde houve registro de secas nos cinco anos anteriores ao estudo, ou seja, entre 2006 e 2011), bem como trabalhar na agricultura, sendo esta a principal fonte de renda da família. O município selecionado está localizado na região Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), 5.510 pessoas residem na zona rural do município de Frederico Westphalen, RS. Do total, 2.893 são homens e 2.617 são mulheres. As famílias desenvolvem atividades como o cultivo de grãos, frutas, produção de leite, suinocultura, bovinocultura e agroindústrias familiares (IBGE, 2010).

Instrumentos

Escala ad hoc de Indicadores de Impacto da Seca na Família (IISF). O instrumento foi criado para medir, neste estudo, diferenças no grau de impacto da seca entre grupos de agricultores. Os itens foram selecionados a partir do estudo de Favero (2006), realizado com a mesma população e que identificou os principais impactos da seca em diferentes aspectos da vida familiar.

Numa escala tipo Lickert de cinco pontos onde 0= nada e 4= totalmente, os participantes marcaram o quanto se consideram afetados pelas secas nos seguintes aspectos: financeiro/endividamento, psicológico, lazer, vestuário, sono, estudos (seus ou de seus filhos), relacionamento familiar e rotina familiar.

Questionário de Saúde Geral (QSG-12) de Goldberg (1972). O instrumento possui 12 itens, que avaliam o grau de desvio no comportamento normal relacionado ao estado de saúde de uma pessoa, a partir de uma comparação de seu estado atual com o usual. Foi validado no Brasil por Sarriera, Schwarcz e Câmara (1996), com uma amostra de 563 participantes, fornecendo três fatores básicos subjacentes ao conceito de bem-estar psicológico: Autoestima, Depressão e Autoeficácia Percebida. Os três fatores explicaram 52,7% da variância total das respostas dos participantes. Estas são dadas partindo de "menos que o de costume" até "muito mais que o de costume", sendo atribuída a pontuação de 0-12-3 a cada uma das possibilidades de resposta, respectivamente. Quanto menor for o escore do indivíduo, melhor será o seu nível de bem-estar psicológico.

Procedimentos

O estudo foi desenvolvido após autorização do Comitê de Ética do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sob o número 2010/003 e com o consentimento expresso dos participantes por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O questionário foi preenchido de forma individual.

Os 30 primeiros questionários foram aplicados na casa dos participantes para fins de estudo piloto. Após verificação da adequação dos instrumentos, os demais questionários e termos de consentimento foram entregues aos alunos das escolas municipais e estaduais do município estudado (somente os filhos de agricultores). Isso ocorreu após concordância formal da secretaria da educação e da direção das escolas onde foram entregues os questionários. Os alunos entregaram o questionário para seus pais ou responsáveis para que estes respondessem e, após, devolvessem à escola juntamente com TCLE assinado. Os questionários foram recolhidos pela pesquisadora. O procedimento de entregar os questionários nas escolas facilitou o acesso aos agricultores residentes nas áreas mais remotas do município escolhido.

Para abranger o município como um todo e considerando possíveis diferenças regionais, durante a aplicação dos questionários foi feito um zoneamento da área do município, dividindo-o em zona mais distante da sede, zona mais próxima e zona intermediária, buscando obter participantes em um número mais ou menos equivalente entre as três zonas. Do total, 19,7% da amostra pertencia à zona mais próxima da sede (n= 39), 31,8% pertencia à zona intermediária (n= 63) e 43,9% pertencia à zona mais distante (n= 87). O fato de haver um menor número de participantes residentes na zona mais próxima à sede se deve ao fenômeno chamado rurbano (Schneider, 1995; Silva, 1997), onde muitas pessoas utilizam essas zonas apenas como residência/dormitório enquanto se dedicam a atividades não agrícolas, de modo que não preencheram o critério para participar nesta pesquisa, ou seja, trabalhar na agricultura. Do contrário, áreas mais distantes da zona urbana ainda permanecem quase que essencialmente agrícolas e por isso foi possível obter uma maior representatividade na amostra.

Análise dos Dados

Primeiramente foi analisada a adequação das escalas para uso no estudo por meio da análise fatorial exploratória. Posteriormente, a escala ad hoc foi utilizada para criar uma medida de três níveis de percepção de impacto da seca, a partir dos tercis do somatório dos seus itens, sendo denominados grupo de baixo impacto, grupo de médio impacto e grupo de alto impacto. Na sequência, foram realizadas análises de ANO-VA, tendo como variável dependente a soma dos itens do QSG-12 e variáveis independentes os três grupos de agricultores por nível de impacto da seca. O teste de Tuckey foi utilizado para comparar diferenças entre as médias de cada grupo de agricultores. Posteriormente, empregou-se a análise de ANCOVA sendo introduzida a renda como covariável no modelo, de modo a verificar se a diferença observada entre os grupos de agricultores era de fato um efeito da seca. Conduziu-se ainda a análise de regressão linear, método Stepwise com o objetivo de compreender quais variáveis de impacto da seca são preditoras de bem-estar. A variável renda foi acrescentada ao modelo. Por fim, foi realizada a análise de correlação bivariada, de modo a compreender a relação entre todas as variáveis do estudo.

Análise da Adequação dos Instrumentos

Para verificar a adequação dos instrumentos para uso neste estudo foram empregadas análises fatoriais exploratórias, a partir do método de extração dos eixos principais (Principal Axis) e rotação oblíqua (Direct Oblimim). O critério de inclusão dos itens foi apresentar carga fatorial igual ou superior a 0,30 no fator extraído e não apresentar cargas maiores cruzadas em outros fatores. O critério para exclusão de itens foi apresentar carga fatorial inferior a 0,30 nos fatores extraídos. As escalas mostraram-se adequadas para os critérios estatísticos mencionados. Na análise fatorial do QSG-12 pelo método de extração dos eixos principais (Principal Axis Factoring), os itens da escala agruparam-se em um único fator, que apresentou Alfa de Cronbach de 0,91 e variância explicada de 51,77% (KMO= 0,919 e Teste de Bartlett < 0,001). A solução unifatorial pode estar relacionada ao controle do viés de redação dos itens negativos, os quais foram invertidos durante as análises.

A Tabela 1 apresenta a escala ad hoc (IISF) criada para ser utilizada neste estudo, a fim de avaliar e discriminar os grupos de agricultores por nível de impacto da seca em diferentes aspectos da vida familiar. O instrumento mostrou-se adequado com Alfa de Cronbach de 0,83 e variância explicada de 46,21%.

O IISF foi então utilizado para criar uma medida de três níveis de percepção de impacto da seca, a partir dos tercis do somatório dos seus itens, o qual variou de 0,5 a 3,5, com corte em 1,5 separando o Grupo 1 do Grupo 2 e 2,5, separando o Grupo 2 do Grupo 3. Os grupos foram caracterizados por Grupo 1= Baixo Impacto (n=67; 33,8% da amostra), Grupo 2= Médio Impacto (n=61; 30,8%) e Grupo 3= Alto Impacto (n=70; 35,4%). A distribuição dos grupos no histograma de frequência mostrou-se normal (N=198; M=2,02; DP=0,83).

 

Resultados

A partir da análise de ANOVA, conforme Tabela 2 (tendo como variável dependente a soma dos itens do QSG-12 e variáveis independentes os três grupos de agricultores por nível de impacto da seca), constatou-se que existe um efeito significativo da seca no bem-estar dos agricultores [F= 7,11 (2,195), p < 0,001]. A tendência linear foi significativa [F = 14,22 (1, 195), p < 0,001] confirmando a hipótese para este estudo, ou seja, de que à medida que aumenta o impacto do desastre na família, aumenta na mesma proporção a percepção negativa de bem-estar psicológico.

O teste de Levene ou de homogeneidade de variâncias foi utilizado para verificar a hipótese nula, ou seja, de que as variâncias dos grupos são iguais. Constatou-se que as variâncias não são significativamente diferentes (F= 0,061, p = 0,941), estando este resultado adequado para proceder a análise. O teste de Tukey revelou que as diferenças entre as médias são significativas entre o grupo de baixo impacto e o grupo de alto impacto (M= 4,52; DP= 1,19; p = 0,001), não sendo significativas quando comparados os grupos de baixo e médio impacto (M= 2,42; DP= 1,24; p = 0,127) e os grupos de médio e alto impacto da seca (M= 2,10; DP= 1,22; p = 0,204).

De modo a assegurar que a diferença observada entre os grupos de agricultores é de fato um efeito da seca e não um simples reflexo de uma diferença de renda, foram empregadas análises de ANCOVA onde a renda foi inserida como covariável. A análise de ANCOVA confirmou que existe diferença significativa entre os grupos [F= 7,03 (1,326), p = 0,001]. No entanto, quando a renda foi incluída como covariável no modelo o teste de Levene não resultou significativo (F= 0,334, p = 0,71), indicando que as variâncias dos grupos são iguais, portanto, a hipótese de homogeneidade das variâncias não foi violada. Observando os valores das significâncias, ficou confirmado que a covariável renda não prevê significativamente a variável dependente, ou seja, o bem-estar psicológico [F= 7,03 (1,326), p = 0,009]. Portanto, as diferenças entre os grupos de agricultores se deve ao impacto da seca e não a um simples reflexo da diferença de renda.

Em relação à distribuição de renda dos grupos de agricultores por impacto da seca, verificou-se que os participantes do Grupo de Alto Impacto (M= 1,92; DP= 0,82) e do Grupo de Médio Impacto (M= 1,98; DP= 1,25) possuem renda familiar média inferior a dois salários mínimos. Já o Grupo de Baixo Impacto possui renda familiar média superior a dois salários mínimos (M= 2,22; DP=1,26), sendo esta possivelmente composta também por aposentadoria rural de algum membro da família.

Com o objetivo de identificar quais variáveis de impacto da seca (financeiro/endividamento, psicológico, lazer, vestuário, sono, estudos, relacionamento familiar e rotina familiar) são preditoras de bem-estar, conduziu-se a análise de regressão linear, método Stepwise. A variável renda foi acrescentada no modelo. O coeficiente de determinação ajustado (R 2adj= 0,127; Durbin-Watson= 1,97) indica que o impacto da seca no vestuário bem como a renda configuram-se em preditores de percepção negativa de bem-estar psicológico na população estudada, explicando 12,7% da variância.

A Tabela 3 evidencia que o impacto da seca no vestuário influencia positivamente na percepção negativa de bem-estar dos agricultores (p= 0,001; Beta= 0,319), enquanto que a renda familiar influencia negativamente sobre a percepção negativa de bem-estar (p = 0,017; Beta= -0,181). Isso se deve ao fato de que quanto maior o escore do QSG-12, menor o nível de bem-estar psicológico.

Por fim, de modo a verificar a relação entre as diferentes variáveis avaliadas no estudo, empregou- se a análise de correlação bivariada. A Tabela 4 apresenta os resultados das associações entre as diferentes variáveis, onde é possível verificar correlações significativas entre impactos da seca e bem-estar, especialmente nas variáveis lazer, vestuário, impacto psicológico e na rotina diária. A variável renda relaciona-se negativamente com o bem-estar, uma vez que o QSG-12 está aqui medindo a sua ausência.

 

Discussões

Os resultados do estudo levam à compreensão de que os impactos da seca de fato exercem influência sobre o bem-estar psicológico dos agricultores familiares, sendo essa relação linear, ou seja, na medida em que aumenta o impacto da seca aumenta em igual medida a percepção negativa de bem-estar. Quando os participantes do estudo foram separados em grupos por nível de impacto, constatou-se que a diferença na percepção de bem-estar somente é significativa entre o grupo de baixo impacto e o grupo de alto impacto. Assim, a seca necessita causar um alto impacto na família para que possa exercer influência sobre a saúde psicológica dessa população.

QSG-12 foi o instrumento utilizado para medir o bem-estar psicológico por meio de variáveis que versam sobre autoestima, depressão e autoeficácia. No que diz respeito à depressão, um estudo de Norris et al. (2002) constatou haver relação desta com a desmoralização social que acompanha prolongados períodos de exposição a dificuldades após um desastre. A desmoralização social, de acordo com os autores, decorre do não atendimento das necessidades básicas do indivíduo, do descaso do poder público para com as dificuldades dos afetados e da falta de reconhecimento social do desastre, por meio da responsabilização individual pelas suas consequências. Tais elementos incidiriam ainda sobre a autoestima pessoal, segundo os autores, o que é também um dos aspectos avaliados pelo QSG-12. Embora autores como Norris et al. (2002) tenham estudado especialmente desastres de início súbito e com potencial traumático, constata-se que a seca, ou seja um desastre de desenvolvimento lento, também possui efeito sobre a saúde psicológica na população investigada. Além das dificuldades impostas no cotidiano e na rotina familiar, o não reconhecimento social do desastre e, consequentemente, o não atendimento adequado das necessidades dos afetados, pode configurar-se em um fator que contribui para que a seca exerça influência sobre a percepção de bem-estar.

As secas, assim como a fome, acidentes radioativos e outros processos são desastres que apresentam consequências muito tardiamente, o que prejudica o reconhecimento e a atenção social às populações afetadas (Pereira, Cordery, & Iacovides, 2002). Quanto às populações rurais, as quais são geralmente escassas, a dificuldade de reconhecimento pode ser ainda maior por questões de representatividade, diminuindo a atenção pública para os seus problemas (Favero, 2006). No entanto, as secas e outros eventos climáticos são de grande importância para essas populações devido a sua real dependência da agricultura (Adger, 2000), sendo essencial que haja a preocupação política e social para com as suas consequências.

A dependência direta de uma população ou grupo social a determinado recurso, como os provenientes da agricultura, exerce influência sobre sua resiliência social e sua capacidade para lidar com crises, especialmente aquelas relacionadas a eventos climáticos. A resiliência social depende da diversidade de recursos em um ecossistema, bem como da forma como um sistema social administra tais recursos em benefício de um coletivo (Adger, 2000).

O esgotamento de recursos psicossociais foi apontado por Davidson e McFarlane (2006) como um fator mediador para a saúde, pois interfere na capacidade de enfrentamento e otimismo em desastres, diminuindo a percepção de autoeficácia pessoal. A autoeficácia é um construto que se refere à crença do indivíduo na sua capacidade para produzir determinadas realizações, como colocar em prática comportamentos específicos que irão conduzi-lo aonde ele quer chegar (Bandura, 1997). Desse modo, a crença na autoeficácia é um determinante para o sucesso no enfrentamento de dificuldades extremas, de maneira que a ausência desta crença, a qual é também dependente dos recursos de enfrentamento disponíveis, pode levar indivíduos que atravessam situações de desastres a diminuírem seus esforços de coping e, consequentemente, à desesperança em relação ao futuro (Davidson & McFarlane, 2006; Sartore et al., 2008).

Quando comparadas as médias de bem-estar psicológico entre os grupos de agricultores, constatou-se que as diferenças são significativas entre os grupos de baixo e alto impacto, sendo este último o grupo que apresenta maiores níveis de percepção negativa de bem-estar. Pode-se inferir que quando a seca causa um alto impacto na família ela passa a ter influência no bem-estar, o que sugere ser o nível (gravidade) dos impactos do desastre um indicativo de maior ou menor risco à saúde psicológica e não o desastre em si. No entanto, o nível de gravidade dos impactos de uma seca não se deve apenas a sua magnitude, mas especialmente às suas consequências, as quais podem ser mais ou menos intensas de acordo com a disponibilidade de recursos de enfrentamento, incluindo-se aqui tanto os recursos familiares como os sociais, bem como as características do desastre.

Cabe considerar que no contexto em estudo, as secas costumam ser frequentes dificultando para que as famílias se recuperem entre um evento e outro e façam reservas de recursos como os financeiros para enfrentar situações futuras (Favero & Diesel, 2013), fator esse que pode estar contribuindo para uma maior vulnerabilidade ao desastre e menor percepção de controle sobre o ambiente.

O estudo revela que o impacto da seca no vestuário é o principal preditor de percepção negativa de bem-estar nesta população, somando-se a variável renda. Considerando o resultado cabe questionar-se de que modo o impacto da seca no vestuário exerce influência no bem-estar psicológico dessa população? Pode-se inferir que o vestuário esteja relacionado com a autoestima e a autoeficácia na população estudada. Os agricultores estão acostumados a utilizar roupas simples para o desenvolvimento das atividades agrícolas, sendo a aquisição de boas vestimentas um fator essencial para a interação deste grupo em diferentes ambientes sociais. Em virtude dos prejuízos agrícolas, as famílias de agricultores adotam estratégias como cortar gastos sendo que essa estratégia incide primeiramente sobre a aquisição de bens de consumo como roupas e calçados, conforme apontaram Favero et al. (2013) em estudo sobre as estratégias de enfrentamento da seca no contexto da agricultura familiar do sul do Brasil. Assim, o impacto da seca no vestuário configura-se na materialização da frustração das expectativas e projetos, o que pode estar influenciando para que essa variável adquira maior peso frente as demais na predição do bem-estar psicológico. Em outras palavras, a cada frustração de safra há também uma frustração de sonhos e projetos e consequentemente, consequências negativas para a saúde psicológica. Cabe considerar que a maioria dos participantes do estudo possuía renda inferior a dois salários mínimos, de modo que não são agricultores que almejam realizar grandes aquisições com a safra. Nesse sentido, a compra de vestimentas e outros bens de consumo pode adquirir maior peso em termos de impacto para essa população, o que se reflete também na economia do município, especialmente com prejuízos no comércio local em épocas de seca.

Cabe considerar que dentre as dimensões do bem-estar psicológico estão a autonomia e o domínio sobre o ambiente (Ryff, 1989; Ryff & Keyes, 1995; Ryff & Singer, 2008). A seca é um desastre que acarreta uma série de desafios para as famílias rurais, testando a sua capacidade de garantir a o seu próprio sustento e exercer controle sobre o ambiente. Os impactos objetivos do desastre são limitadores, restringindo as possibilidades de enfrentamento da família e, mais ainda, quando essa possui condições financeiras desfavoráveis. Os resultados indicaram que a renda constitui-se num preditor de bem-estar e, de certo modo, ela está relacionada ao vestuário, pois a aquisição desse tipo de bem de consumo é dependente da disponibilidade de recursos financeiros.

Relativo à condição financeira e desastres, autores como Norris et al. (2002) apontaram que um baixo status socioeconômico associado a outros fatores como a severa exposição ao desastre e viver numa comunidade altamente afetada, são fatores de risco para a saúde psicológica. Assim, a garantia de uma renda mínima na agricultura familiar em épocas de seca configura-se num fator de proteção para a saúde e necessita ser considerada pelas políticas públicas em desastres. Do mesmo modo, quando uma seca ocorre toda a rede de relações dos agricultores é afetada (como por exemplo, as relações de vizinhança), interferindo na disponibilidade de apoio social, aspecto tão importante para a manutenção da percepção de bem-estar psicológico.

 

Considerações Finais

O estudo confirmou haver relação entre os impactos da seca e a percepção negativa de bem-estar psicológico. Em relação às variáveis de impacto da seca que predizem bem-estar em agricultores familiares chama atenção a importância do vestuário. Num primeiro momento poderá parecer que se trata apenas da dificuldade de aquisição de bens de consumo devido ao prejuízo financeiro do desastre. No entanto, a relação poderá ir mais além quando analisamos o vestuário sob a ótica da imagem social do agricultor familiar. Um estudo de Naiff, Monteiro e Naiff (2009) sobre a representação social de agricultor revelou que a mesma está associada a características positivas como produtores de riqueza e de desenvolvimento no campo. Assim, quando ocorre uma frustração de safra, ocorre também a frustração das expectativas da família e, ainda, a frustração de uma expectativa que é social e que pode apresentar reflexos na autoestima dos agricultores, na percepção de autoeficácia e na saúde psicológica. Desse modo, o estudo contribuiu para agregar à relevância social e à importância econômica da seca, as suas consequências psicossociais.

Em relação à influência da renda na percepção de bem-estar psicológico, o estudo aponta para a necessidade de garantir renda mínima na agricultura familiar em épocas de seca, uma vez que este tipo de desastre produz declínio nos rendimentos agrícolas, e havendo declínio de renda haverá também mudança nas condições de enfrentamento dos seus impactos. No entanto, sugere-se que essa garantia de renda seja proveniente de fontes que possibilitem aos agricultores maior autonomia e controle sobre o ambiente, de modo a contribuir efetivamente no aumento do seu bem-estar psicológico. Controle sobre o ambiente não diz respeito apenas à questão climática, mas a outros fatores como os relativos ao mercado agrícola sobre os quais o agricultor familiar geralmente não tem controle.

Dentre as limitações do estudo está o tamanho da amostra que não permite generalizações para outros contextos. Além disso, nem toda a população que hoje reside no meio rural no município pesquisado tem sua renda oriunda da agricultura, de modo que essa parcela não atendia os critérios para participar do estudo.

O estudo contribuiu para evidenciar que, apesar da baixa escolaridade, do difícil acesso aos pontos mais remotos e da pouca familiaridade das populações rurais com a pesquisa, especialmente a quantitativa, é possível sim desenvolver estudos nesse contexto. Além disso, o QSG-12 e a escala de impactos da seca, elaborada para esse estudo, mostraram-se instrumentos válidos para serem utilizados nessa população.

Assim, o fato de haver dificuldades para viabilizar um estudo no meio rural não significa que o mesmo não seja possível. O envio de questionários através dos alunos filhos dos agricultores mostrou-se um caminho válido para abranger participantes de diferentes pontos da zona rural em estudo, sendo esses remotos ou não geograficamente.

Cabe também considerar que este estudo quantitativo não se trata de uma investigação isolada, mas de toda uma trajetória de pesquisa no meio rural da primeira autora, incluindo estudos qualitativos, que levou a uma compreensão do contexto a partir de diferentes instrumentos e a eleição do tema dos impactos da seca e o bem-estar psicológico como relevante de ser investigado a partir de um estudo quantitativo.

Por outro lado, as limitações são também um dado de pesquisa, uma vez que evidenciam dificuldades de acesso à educação, infraestrutura precária das estradas rurais e dificuldades de se manter no campo, fatores de ordem macrossocial e que afetam cotidianamente a vida dos agricultores, ampliando suas dificuldades para além das questões climáticas. Assim, quando uma população não é pesquisada, seus problemas e necessidades também são desconhecidos, recebendo, consequentemente, menor atenção política e social.

É importante considerar que se encontra no meio rural uma grande população de idosos aposentados que apenas residem na agricultura e de moradores que trabalham em empregos urbanos e que, por isso, não preencheram os critérios para esta pesquisa, mas que, no entanto, também merecem ser objeto de atenção científica e social. O desafio está em como contemplar uma população tão diversa como a do meio rural nas pesquisas.

Dentre as contribuições do estudo para a elaboração de políticas públicas está o entendimento de que a seca produz impactos que incidem sobre o bem-estar psicológico dessa população. Entende-se que a disponibilidade de recursos que trariam melhorias objetivas nas condições de vida e na renda das famílias rurais produziria também mudanças subjetivas positivas. Um menor impacto da seca na família se traduz em melhores níveis de bem-estar nessa população.

Cabe considerar que os impactos da seca são geralmente graduais e se estendem no longo prazo. Assim, um desastre não necessariamente precisa ser abrupto e causar grande destruição para afetar o bem-estar, pois não é a magnitude do desastre em si que está relacionada à saúde psicológica, mas a gravidade dos seus impactos, a qual depende também dos recursos de enfrentamento.

Outro fator que deve ser considerado neste contexto e que não foi objeto desse estudo é a fragmentação das comunidades rurais pela saída das famílias do campo em busca de melhores condições de vida. Nesse sentido, os agricultores passam a ter uma rede com um número limitado de relações, de maneira que quando acontece uma seca, todos os membros dessa rede são afetados podendo assim, diminuir a oferta de apoio social nessa população.

Dentre as contribuições desse estudo pode-se citar a ampliação das pesquisas com populações rurais no Brasil, as quais ainda são escassas quando se refere ao âmbito da psicologia. Vários fatores podem estar contribuindo para um número reduzido de estudos no meio rural, tais como as dificuldades de acesso e infraestrutura e a dispersão da população em uma área geográfica. No entanto, a carência de estudos necessita ser superada, de modo a trazer contribuições para as demandas específicas dessa população, diminuindo a disparidade nos estudos entre as populações rurais e urbanas e qualificando o olhar da psicologia para esse contexto social.

Conclui-se que variáveis contextuais como a ocorrência de desastres no meio rural, ou mesmo variações climáticas que incidam sobre os ganhos agrícolas, necessitam ser consideradas pelo psicólogo e outros profissionais que trabalham com a saúde dessa população. Tais variáveis exercem influência significativa sobre a percepção do bem-estar psicológico, especialmente no que diz respeito à autoeficácia, autoestima e depressão e necessitam ser integradas no trabalho de promoção de saúde das populações rurais.

 

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E-mail: evelinefavero@yahoo.com.br e jorgesarriera@gmail.com

Recebido: 23/12/2013
1ª revisão: 16/03/2014
Aceite final: 28/04/2014
Apoio financeiro: Agradecemos o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no desenvolvimento desse trabalho através da concessão de bolsa de Pós-Doutorado Júnior.

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