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Temas em Psicologia

versión impresa ISSN 1413-389X

Temas psicol. vol.26 no.3 Ribeirão Preto jul./set. 2018

http://dx.doi.org/10.9788/TP2018.3-04Pt 

ARTIGOS

 

Atributos desejáveis de parceiro ideal: podem variar segundo o sexo e o lugar de residência?

 

Atributos deseables de la pareja ideal: ¿Pueden variar según el sexo y el lugar de residencia?

 

 

Marina Pereira GonçalvesI; Valdiney Veloso GouveiaII; Thiago Medeiros CavalcantiIII; Cássia de Castro BezerraIV; Émerson Diógenes de MedeirosV; Gislene Farias de OliveiraVI; Igor Gomes MenezesVII; João Carlos AlchieriVIII; Joilson Pereira da SilvaIX; Letícia Coelho de OliveiraX; Maria Luiza Pontes de França-FreitasXI; Rosana Mendes Éleres de FigueiredoXII; Tatiana Nunes CavalcantiXIII; Walberto Silva dos SantosXIV

IOrcid.org/0000-0002-6344-7059. Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, PE, Brasil
IIOrcid.org/0000-0003-2107-5848. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil
IIIOrcid.org/0000-0002-4646-0761. Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Brasil
IVOrcid.org/0000-0002-0757-0845. Universidade Federal de Alagoas, Maceió, AL, Brasil
VOrcid.org/0000-0002-1407-3433. Universidade Federal do Piauí, Teresina, PI, Brasil
VIOrcid.org/0000-0001-5373-2326. Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, CE, Brasil
VIIOrcid.org/0000-0002-0767-6535. Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil. University of Lincoln, United Kingdon
VIIIOrcid.org/0000-0002-4150-8519. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil
IXOrcid.org/0000-0001-9149-3020. Universidade Federal de Sergipe, Aracajú, SE, Brasil
XOrcid.org/0000-0002-5299-9894. Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina, PE, Brasil
XIOrcid.org/0000-0003-1173-1530. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN, Brasil
XIIOrcid.org/0000-0002-5262-3467. Universidade Federal do Maranhão, São Luís, MA, Brasil
XIIIOrcid.org/0000-0002-8276-0534. Universidade Maurício de Nassau, Recife, PE, Brasil
XIVOrcid.org/0000-0001-6816-0105. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Compreender a escolha por parceiros amorosos é relevante no sentido de minimizar possíveis problemas decorrentes de relacionamentos conflituosos. Este estudo objetivou conhecer em que medida a preferência por atributos desejáveis de um parceiro ideal varia segundo o sexo e o local de residência das pessoas. Participaram do estudo 3.124 indivíduos residentes em capitais (n = 1.583) ou cidades do interior (n = 1.541) dos nove estados do Nordeste brasileiro, com idade média de 23,6 anos (dp = 6,72), sendo 63,6% do sexo feminino. Estes responderam a Escala de Atributos Desejáveis do Parceiro Ideal e perguntas demográficas. Os resultados (Manova) mostraram diferenças nos atributos desejáveis de um parceiro ideal segundo o sexo: os homens deram maior importância ao componente atlética, enquanto as mulheres pontuaram mais alto no componente realizada. Observou-se ainda efeito do lugar de residência, onde os homens residentes no interior apresentaram maior média no atributo tradicional, ao passo que as mulheres residindo nesta localidade deram mais importância ao atributo realizada. Concluiu-se que o lugar de residência e, sobretudo, o sexo foram importantes para explicar as variações na preferência por atributos de um parceiro ideal, na direção prevista na literatura.

Palavras-chave: Atributos desejáveis, parceiro ideal, sexo, lugar de residência.


RESUMEN

Comprender la selección de parejas sentimentales es importante para minimizar los problemas potenciales que surgen de las relaciones románticas en conflicto. El objetivo de este estudio ha sido conocer en qué medida la preferencia por los atributos deseables de una pareja ideal varía según el sexo y el lugar de residencia de las personas. Participaron de la investigación 3.124 personas residiendo en la capital (n = 1.583) o ciudades del interior (n = 1.541) de los nueve estados del Noreste de Brasil, con una edad promedia de 23.6 años (de = 6.72), (63.6% mujeres). Éstos contestaron a la Escala de Atributos Deseables de una Pareja Ideal y cuestiones demográficas. Los resultados (Manova) indicaron diferencias en los atributos deseables de una pareja ideal según el sexo: los varones han dado mayor importancia al componente atlético, mientras que las mujeres puntuaron más alto en el componente realizada. También se ha observado efecto del lugar de residencia, en que los varones residentes en el interior dieron mayor importancia al atributo tradicional, mientras que las mujeres residiendo en esta localidad consideraron más importante el atributo atlético. Se concluyó que el lugar de residencia y, sobre todo, el sexo han sido importantes para explicar las variaciones en las preferencias por atributos de una pareja ideal, coherente con la literatura.

Palabras clave: Atributos deseables, pareja ideal, sexo, lugar de residencia.


 

 

O número de casamentos, apesar de ter diminuído nos últimos anos (de 49,4% em 2000 para 42,9% em 2010), não significou que as pessoas desistiram de ter companheiros (as), uma vez que houve também aumento de uniões estáveis (de 28,9% em 2000 para 36,4% em 2010; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE], 2010). Entretanto, aliado ao aumento das uniões, houve também um aumento no número de divórcios nos últimos anos no Brasil, passando de 1,7% em 2000 para 3,1% em 2010, sendo que parte deles foi de natureza não consensual (litigiosa), nos quais geralmente é a mulher quem o solicita, alegando a traição como uma das causas principais. Dados mais recentes indicam aumento de 161,4% de divórcios em uma década, passando de 130,5 mil (2004) para 341,1 mil (2014; IBGE, 2014). Tais dados sugerem que os relacionamentos íntimos ocupam lugar de destaque na vida das pessoas, sendo que os problemas relacionados à conjugalidade se tornaram cada vez mais evidentes, talvez em razão de dispositivos legais que tornaram menos burocráticos o casamento e o divórcio, mas, principalmente, do afeto ter recebido papel de destaque na manutenção ou dissolução destas relações (Ferraz, Leite, & Leite, 2011).

Barbosa (2008) aponta que entre os diversos pacientes que buscam ajuda psicoterápica, direta ou indiretamente, são verificados relatos de dificuldades associadas com relacionamentos com o outro, ao amor romântico e à sexualidade. Destaca-se que o amor não é uma invenção da sociedade ocidental, pois pessoas de todas as culturas têm a chance de vivenciar este sentimento e o atribuem palavras específicas, indicando que o amor, com seus componentes-chave de compromisso, intimidade e paixão, é inevitável à experiência humana e está ao alcance de todos (Andrade, 2011; Buss, 2003; Cassepp-Borges, 2010; Gouveia, Carvalho, Santos, & Almeida, 2013; Sternberg & Weis, 2006). Pode-se dizer, então, que a motivação ou o interesse sexual (ou até mesmo por companhia) pode ser o primeiro passo para o início de um relacionamento amoroso, consagrando a relevância deste tema.

A propósito, esta temática tem chamado atenção de pesquisadores de diversas áreas, como sociologia, antropologia e biologia, encontrando-se no âmbito da Psicologia menção especial a partir de estudos em Psicologia Evolucionista (e.g., Buss, 1989, 2003, 2007; Castro & Lopes, 2011; Kamble, Shackelford, Pham, & Buss, 2014; Perilloux, Fleischman, & Buss, 2011; Sbruzzi, 2009) e Psicologia Social (e.g., Furnham, 2009; Little, Jones, DeBruine, & Caldwell, 2011; Myers, 2005). De forma geral, estes pesquisadores buscaram explicações sobre como as pessoas escolhem seus parceiros, baseando-se em diversas variáveis, como genética, traços de personalidade, religião, ideologia política e escolaridade.

Diante do exposto, compreender como se configuram os relacionamentos amorosos tem sido um dos interesses na psicologia. Particularmente, tem-se procurado conhecer o processo de escolha de um parceiro, ou seja, o que as pessoas buscam no outro com quem pretendem manter um relacionamento amoroso. Buss (1989, 2003) há duas décadas vem tentando responder a esta indagação; suas pesquisas consistem em identificar se, de fato, as escolhas que as pessoas fazem de seus parceiros são um produto da evolução humana, fazendo mais provável identificar achados similares sobre relacionamentos íntimos em diferentes países. Um de seus estudos mais citados sobre a escolha do parceiro foi realizado em 37 países, tentando conhecer diferenças entre os sexos nas preferências que norteiam o relacionamento sexual humano, considerando concepções evolucionistas de investimento parental, seleção sexual, capacidade reprodutiva e assimetrias sexuais (Buss, 1989). No Brasil, este autor identificou que os homens deram mais importância à boa aparência, enquanto as mulheres acentuaram mais a sociabilidade enquanto característica mais desejável do parceiro.

É importante compreender os relacionamentos íntimos entre as pessoas, sobretudo buscando identificar como os indivíduos escolhem seus parceiros. Isso pode influenciar várias facetas de sua vida, como o trabalho, os estudos e o lazer. Nesta direção, procurou-se identificar os estudos realizados a respeito. No âmbito internacional, introduzindo o termo desirable attributes (atributos desejáveis) na base APA PsycNETTM, encontraram-se 22 textos. Entretanto, apenas quatro se referiam diretamente a atributos desejáveis do parceiro. Realizou-se, então, uma nova busca considerando o termo romantic partner (parceiro romântico), que produziu 35 publicações, porém apenas 13 tratavam especificamente de relacionamentos amorosos. No contexto nacional, usando os mesmos termos em português (i.e., atributos desejáveis e parceiro romântico) na base PEPSIC, surgiu apenas um texto com temática aproximada (Guedes & Assunção, 2006); a mesma busca no SciELO revelou nove textos, mas apenas um de interesse, que avaliava a relação entre atributos desejáveis do parceiro e valores humanos (Gouveia et al., 2010); e, por fim, ampliando-se a busca ao Google Acadêmico com os mesmos termos, identificaram-se 80 publicações, porém apenas uma relacionada ao tema, correspondendo à previamente citada.

Em suma, esses achados indicam que no contexto brasileiro ainda são escassos os estudos acerca de atributos do parceiro ideal em relacionamentos amorosos (Castro & Lopes, 2011; Gomes, 2011; Gouveia et al., 2010), apesar de serem encontrados outros que consideram estratégias que homens e mulheres empregam para escolher seus parceiros (Castro, Hattori, & Lopes, 2012), expectativas sobre os parceiros desejáveis (Castro, Hattori, Yamamoto, & Lopes, 2013), idealização de parceiro (Hattori, Castro, & Lopes, 2013) e percepção social como parceiro romântico (Castro, Hattori, Yamamoto, & Lopes, 2014; Mafra, Castro, & Lopes, 2015; Mafra & Lopes, 2014). Contudo, como se observou previamente, poderá ser interessante conhecer o que as pessoas preferem quanto aos atributos que consideram ideais em seus parceiros, inclusive se tais preferências têm alguma relação com o sexo daquele que escolhe ou avalia o parceiro.

Diferenças de Gênero e Atributos Desejáveis do Parceiro Ideal

A explicação para diferenças entre homens e mulheres pode ser encontrada no passado evolutivo, quando ambos viveram papéis específicos (Buss, 2003). Sendo assim, as pressões exercidas pela seleção podem não ter sido as mesmas sobre um e outro sexo, levando à evolução de tipos diversos de especialização afetiva e cognitiva, pois o que era conveniente para um sexo, podia não ser para o outro. Aliadas a aspectos biológicos, questões sociais e culturais também foram relevantes na determinação de padrões comportamentais que homens e mulheres passaram a adotar na vida em sociedade ao longo dos tempos. Portanto, presume-se que homens e mulheres se diferenciem em sua forma de pensar, sentir e se comportar, o que, presumivelmente, influencia na preferência e escolha de um parceiro com quem se pretende manter relacionamento amoroso. A propósito, é importante reconhecer que há uma relação entre gênero e atributos de um parceiro ideal (Burriss, Welling, & Puts, 2011; Meltzer, McNulty, Jackson, & Karney, 2014).

No modelo de investimento parental, de Trivers (1972), as preferências por um parceiro seriam afetadas pela biologia da reprodução, focando no investimento feito na prole. As mulheres, tendo um número limitado de descendentes, costumam investir mais em cada um deles, escolhendo parceiros com capacidade de recursos que possam maximizar as possibilidades de sobrevivência de sua prole. Por outro lado, os homens, podendo potencialmente engravidar um número grande de mulheres ao mesmo tempo, consideram, principalmente, sinais visuais (e.g., juventude, atratividade física), que podem indicar a capacidade de reproduzir. De fato, no curso da evolução os homens têm mostrado mais interesse na variedade de parceiras sexuais do que as mulheres, garantindo maior disseminação de seus genes (Kokko & Jennions, 2012).

Neste sentido, Feingold (1992) fez uma busca por estudos com esta temática, utilizando as palavras-chave mate selection, dating e interpersonal attraction e, em seguida, comparando os resultados de homens e mulheres nas preferências dadas em relação a alguns atributos desejáveis mensurados tanto a partir de estudos com questionários quanto por meio de análise de conteúdo de anúncios de parceiro. Os resultados indicaram que as mulheres pontuaram mais do que os homens em atributos como status socioeconômico e ambição. Entretanto, não foram encontradas diferenças entre sexo no que se refere à preferência por características não relacionadas com a sobrevivência dos descendentes, como, por exemplo, senso de humor e personalidade.

Nesta mesma direção, Buss (2007) identificou que, para relacionamentos de longa duração, a mulher escolhe o parceiro que demonstra mais recursos para investir nela e em seus filhos, assim como aquele que possua habilidade de protegê-los fisicamente e que mostre potencial para ser um bom pai. Corroborando tais achados na realidade brasileira, Silva et al. (2005) realizaram um estudo no estado do Rio de Janeiro com 225 mulheres entre 31 e 60 anos, a maioria casada ou convivente, procurando conhecer os atributos que consideravam importantes para um parceiro ideal. Dentre os atributos que as mulheres não consideraram importantes figuraram a aparência física e a relação sexual; quanto àqueles mais importantes, estavam bom caráter, sincero, fiel, asseado e que dialogue, seguindo estas respostas, embora em menor proporção, que o parceiro fosse compreensivo, carinhoso, inteligente, trabalhador, que dividisse as tarefas domésticas e tivesse vida social. Existem também evidências de que as mulheres de hoje, principalmente aquelas que atuam no mercado de trabalho, demonstram ser mais exigentes com relação ao comportamento masculino, seja na área social, afetiva, sexual ou profissional (Perlin & Diniz, 2005).

Há, porém, características ou atributos que parecem ser comuns para ambos os sexos na busca do parceiro, como amabilidade, inteligência, compreensão, gentileza e estabilidade emocional (Buss, 2003; Verweij, Burri, & Zietsch, 2014). No geral, estima-se que tais atributos podem funcionar como preditores positivos em relação ao trato com crianças frente ao perigo, práticas de socialização adaptadas e habilidade na percepção de mudanças, que seriam características evoluídas do que se poderia considerar um bom parceiro.

Com base na perspectiva da aprendizagem social, Little et al. (2011) indicaram que as preferências por parceiros podem ser generalizadas em determinada população, sugerindo que certos atributos podem se tornar desejáveis por pessoas de determinado grupo, de modo que estas passariam a "copiar" as preferências de indivíduos que demonstram alto status social. Buss, Shackelford, Kirkpatrick e Larsen (2001), buscando verificar mudanças ao longo dos anos quanto aos atributos desejáveis em um parceiro, encontraram que para homens e mulheres parece ter havido um aumento global de 1939 a 1996 na avaliação de atração mútua, amor, educação, inteligência, sociabilidade e boa aparência. Em contraste, houve diminuição geral na avaliação de refinamento, limpeza e castidade, independente do sexo de quem escolhia.

Buss et al. (2001) ainda indicam que, além de mudanças ocorridas para ambos os sexos, algumas mudanças geracionais pareceram ter sido exclusivas de determinado sexo. Nesta direção, para os homens houve aumento global na valorização por uma formação educacional semelhante a sua e por uma boa perspectiva de situação financeira, enquanto se constatou diminuição global na avaliação de boa cozinheira e do lar. Por outro lado, para as mulheres houve uma diminuição global na avaliação de ambição e diligência. Contudo, houve convergência entre homens e mulheres em seus valores de acasalamento ao longo das últimas três décadas. Mas, apesar destas mudanças, os homens de 1939-1996 apontaram mais importância do que as mulheres em parceiras fisicamente atraentes, e as mulheres indicaram maior importância do que homens em parceiros com boas perspectivas financeiras; estas são diferenças de sexo que parecem transcender culturas e gerações (Buss, 1989). A estabilidade das diferenças de sexo, em conjunto com a relativa convergência entre os sexos nas preferências de companheiro na metade do século passado, sugere o valor de uma abordagem interacionista, que contemple fatores evolutivos e culturais.

Atributos Desejáveis do Parceiro Ideal no Nordeste Brasileiro

Uma forma de compreender diferenças entre culturas nacionais e regionais é considerar as orientações de variação cultural, como o individualismo e coletivismo (Hofstede, 1984; Triandis, 1995). Segundo Gouveia e Clemente (2000), o individualismo descreve um tipo de orientação em que, no âmbito interpessoal, os indivíduos são considerados como discretos, autônomos, autossuficientes e respeitosos quanto aos direitos dos demais. Acrescentam estes autores que, do ponto de vista social, tais indivíduos são concebidos como entidades abstratas e universais; seus status e papéis são definidos por seus êxitos (e.g., educacional, econômico) e sua interação com os demais se baseia em princípios racionais, como igualdade e equidade (justiça). Por outro lado, conforme descrevem estes autores, o coletivismo enfatiza o bem comum e a harmonia social acima dos interesses individuais; cada qual é animado a colocar os interesses do grupo por diante dos seus próprios. Em relação aos aspectos sociais, os deveres e as obrigações são prescritos por papéis, onde os indivíduos perdem prestígio se falham em cumpri-los, sendo a ordem social mantida quando cada um cumpre com seus papéis e deveres. As instituições são uma extensão da família, e o paternalismo e moralismo legal (i.e., os valores morais institucionalizados) são imperativos.

Em culturas individualistas, as pessoas com objetivos similares tomam parte em seus respectivos grupos; nesses contextos, cada pessoa é encorajada a ser autônoma, autodirigida, única e assertiva, e a valorizar a intimidade e a liberdade de escolha. Por outro lado, em culturas coletivistas, as pessoas são encorajadas a suprimir alguns de seus desejos individualistas e hedonistas. Como resultado, a interdependência, o apoio social, o destino comum e o cumprimento são alguns de seus aspectos mais importantes. Como um todo, isto é, em termos de região, o Nordeste é evidentemente mais coletivista do que individualista (Gouveia & Clemente, 2000; Hofstede, De Hilal, Malvezzi, Tanure, & Vinken, 2010). Porém, estima-se que internamente também haja variação; as pessoas que residem em áreas urbanas são mais individualistas, enquanto as que vivem na zona rural são mais coletivistas (Hofstede, 1984, 1991; Triandis, 1995), e estas variações de tipos de orientação podem ter impacto sobre os atributos que se apreciam em um parceiro ideal.

Alguns estudos foram realizados sobre os atributos desejáveis de um parceiro ideal no Nordeste brasileiro. Por exemplo, Gouveia et al. (2010), contando com uma amostra da população geral (n = 421) de João Pessoa (PB), com idade média de 25 anos, verificaram que as mulheres valorizaram mais a dimensão social na escolha de um parceiro, enquanto os homens apreciaram em maior medida a aparência física. Nesta mesma direção, também contando com uma amostra da capital paraibana (n = 205), Gomes (2011) verificou que os homens deram mais ênfase a dimensão atlética e as mulheres àquelas denominadas como afetuosa e batalhadora. Portanto, eles priorizaram a capacidade reprodutiva da parceira potencial, enquanto elas apreciaram atributos de orientação familiar, além daqueles que se referiam a possibilidade de ganho, recursos e bens materiais (Buss, 2003, 2007; Gouveia et al. 2010).

Diante do exposto, apesar de alguns estudos acerca da escolha do parceiro ideal no Nordeste brasileiro, estes foram realizados na mesma cidade, correspondendo a uma capital, não havendo qualquer estudo a respeito que comparasse residentes de capitais e cidades do interior, o que motivou o presente estudo. Seu objetivo principal foi conhecer que atributos homens e mulheres priorizam em um parceiro ideal, e se suas escolhas variam segundo seu lugar de residência (capital ou interior), considerando pessoas do Nordeste. Em função dos objetivos antes descritos, algumas hipóteses referentes às diferenças na escolha do parceiro entre homens e mulheres foram formuladas:

Hipótese 1. Homens e mulheres diferirão quanto à importância conferida aos atributos desejáveis do parceiro ideal.

Hipótese 1.1. Os homens darão mais importância que as mulheres a atributos que destacam qualidades físicas e reprodutivas (dimensão atlética) de sua parceira ideal.

Hipótese 1.2. As mulheres darão mais importância que os homens a atributos que destacam qualidades sociais (dimensão afetuosa) de seu parceiro ideal.

Hipótese 1.3. As mulheres darão mais importância que os homens a atributos que destacam possibilidades de ganhos, recursos e bens materiais (dimensão realizada) de seu parceiro ideal.

Hipótese 1.4. Os homens do interior darão mais importância que aqueles de capitais a atributos que retratam aspectos mais tradicionais (dimensão tradicional) de sua parceira ideal.

Hipótese 1.5. As mulheres do interior darão mais importância que aquelas de capitais a atributos que destacam possibilidades de ganhos, recursos e bens materiais (dimensão realizada) de seu parceiro ideal.

 

Método

Amostra

Participaram deste estudo 3.124 pessoas de todos os Estados do Nordeste brasileiro, sendo 10,6% de Alagoas, 10% da Bahia, 12,1% do Ceará, 10,8% do Maranhão, 12,7% da Paraíba, 11,3% de Pernambuco, 11% do Piauí, 10% do Rio Grande do Norte e 11,5% de Sergipe. Incluindo residentes de capitais [n = 1.583 (50,7%)] e cidades do interior [n = 1.541 (49,3%)], cujas idades variaram de 18 a 73 anos (m = 23,6, dp = 6,72). Consideraram-se apenas pessoas que se declararam heterossexuais, sendo a maioria do sexo feminino (63,6%) e estudante universitário (83,4%), 53,9% das quais afirmaram estar em um relacionamento fixo (namoro, noivado, casamento ou convivente) no momento em que a pesquisa foi realizada. Tratou-se, portanto, de amostra de conveniência (não probabilística), participando as pessoas que, convidadas, concordaram em colaborar.

Instrumentos

Os participantes responderam um livreto contendo perguntas demográficas (idade, lugar de residência, ocupação, orientação sexual, sexo e status de relacionamento) e três instrumentos que faziam parte de um projeto maior de pesquisa, entre os quais o que é foco deste estudo: Escala de Atributos Desejáveis do Parceiro Ideal. Esta escala foi elaborada por Gouveia, Gonçalves, Gomes, Freires e Coelho (2014), compondo-se por 20 atributos que descrevem uma pessoa com quem se pretende ter uma vida em comum. Cada item representa um atributo, respondido em escala de cinco pontos, variando de 1 (Nada importante)a 5(Totalmente importante). Por meio de análises fatoriais exploratória e confirmatória, Gouveia et al. (2014) observaram que tais atributos se agruparam em cinco componentes (alfa de Cronbach e atributos figuram entre parênteses): afetuosa (α = 0,80; carinhosa, bom caráter, amável e companheira), tradicional (α = 0,61; de boa família, sensível, caseira, solidária), atlética (α = 0,80; sexy, sarada, boa forma, bonita), sociável (α = 0,68; atenciosa, determinada, tolerante e gentil) e realizada (α = 0,60; estudiosa, culta, bem-sucedida e decidida).

 

Procedimento

Primeiramente, contataram-se pesquisadores de diferentes Estados do Nordeste, residentes ou trabalhando em cidades do interior ou capitais, a maioria professor de instituições de ensino superior, pública e/ou particular, os quais foram solicitados a colaborar com a coleta dos dados1.

Após seu aceite, os questionários foram enviados por Correios, indicando as instruções sobre a coleta, que poderia ser feita em sala de aula contando com a participação individual dos respondentes. Todos foram informados do caráter anônimo e voluntário da colaboração no estudo, devendo previamente assinar termo de consentimento livre e esclarecido em que constavam os objetivos do projeto e a informação de que poderiam deixar o estudo a qualquer momento sem penalização. Seguiram-se os procedimentos éticos de pesquisa com seres humanos, conforme a Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde (aprovado pelo CEP/HULW Nº 257/10). Em média, 15 minutos foram suficientes para concluir a participação no estudo.

Análises de Dados

Os dados foram tabulados e analisados com o PASW (versão 18). Além de estatísticas descritivas (média, desvio padrão, frequência) para caracterização dos participantes, foram realizadas análises de variância multivariadas (Manova) para conhecer os efeitos do sexo e lugar de residência dos participantes nas dimensões de atributos desejáveis do parceiro ideal.

 

Resultados

Inicialmente, procurou-se verificar diferenças entre homens e mulheres quanto à importância dos atributos desejáveis do parceiro ideal. Realizou-se uma Manova, considerando como variável antecedente o sexo e como critério as dimensões de atributos desejáveis do parceiro ideal. Os resultados desta análise corroboraram a variabilidade nas pontuações dos participantes quanto aos atributos priorizados, segundo o sexo deles [Lambda de Wilks = 0,84; F (5, 3.111) = 122,44, p < 0,001; n2 = 0,16]. Os detalhes a respeito podem ser observados na Tabela 1 a seguir.

 


Tabela 1 - Clique para ampliar

 

Conforme esta tabela, os homens apresentaram maior média (m = 3,3, dp = 0,84) do que as mulheres (m = 2,7, dp = 0,83) apenas na dimensão atlética, que retrata atributos físicos da parceira [F (1, 3.116) = 346,86, p < 0,001]. Quanto à dimensão realizada, as mulheres pontuaram mais alto (m = 3,8, dp = 0,62) do que o fizeram os homens (m = 3,7, dp = 0,59) [F (1, 3.116) = 38,72, p < 0,001]. Este padrão foi também observado quando as mulheres foram comparadas com os homens nas dimensões afetuosa [F (1, 3.116) = 48,60, p < 0,001], sociável [F (1, 3.116) = 45,84, p < 0,001] e tradicional [F (1, 3.116) = 14,65, p < 0,001].

Embora pareça evidente a diferença entre homens e mulheres na priorização dos atributos que consideram desejáveis em um parceiro ideal, resta saber o que ocorre quando se consideram as respostas dos participantes em razão do lugar onde residem. Neste caso, realizou-se uma Manova tendo como variáveis dependentes as dimensões de atributos do parceiro (afetuosa, atlética, realizada, sociável e tradicional) e como variáveis independentes o sexo e o local de residência (capitais e cidades do interior do Nordeste). Os resultados indicaram efeito multivariado das variáveis sexo e local em que os participantes residem [Lambda de Wilks = 0,01; F (5, 3.110) = 74.471,51, p < 0,001; η2 = 0,99], sendo os detalhes mostrados na Tabela 2 a seguir.

 


Tabela 2 - Clique para ampliar

 

No que se refere à dimensão afetuosa, foi verificado que as mulheres da capital (m = 4,7, dp = 0,01) e do interior (m = 4,7, dp = 0,01) pontuaram mais do que os homens da capital (m = 4,5, dp = 0,02) e do interior (m = 4,6, dp = 0,02) [F (1, 3.113) = 5,90, p < 0,05]. Achados semelhantes foram encontrados para a dimensão sociável, apontando que as mulheres, independente do local de residência [capital (m = 4,3, dp = 0,02) e interior (m = 4,3, dp = 0,02)] pontuaram mais alto do que os homens [capital (m = 4,1, dp = 0,02) e interior (m = 4,2, dp = 0,02)] [F (1, 3.113) = 9,17, p < 0,05].

Quanto à dimensão tradicional, os homens e as mulheres do interior e as mulheres da capital pontuaram mais alto do que o fizeram os homens da capital [F (1, 3.113) = 7,34, p < 0,01]. No caso da dimensão realizada, tanto as mulheres da capital quanto do interior apresentaram maiores médias que os homens da capital e do interior [F (1, 3.113) = 3,73, p < 0,05]. Portanto, independente do local de residência, as mulheres pontuaram mais alto em atributos desta dimensão do que os homens. Finalmente, em relação à dimensão atlética, não foram encontradas diferenças em função do sexo e local de residência dos participantes [F (1, 3.113) = 0,64, p = 0,42].

 

Discussão

De forma geral, esperava-se que homens e mulheres se diferenciassem quanto aos atributos desejáveis do parceiro, o que de fato ocorreu, corroborando a Hipótese 1; isso indica que a preferência por alguns atributos do que seria um parceiro ideal é influenciada pelo sexo de quem é indagado (Buss, 1989, 2003; Gomes, 2011; Gouveia et al., 2010; Silva et al., 2005, Silva, Menezes, & Lopes, 2010). Tais diferenças podem refletir estratégias que foram evolutivamente desenvolvidas ao longo de gerações, mas também indicar papéis sociais que homens e mulheres vêm exercendo na sociedade (Perlin & Diniz, 2005). Por exemplo, o fato de as mulheres darem mais importância às dimensões de atributos afetuosa e sociável parece refletir a ênfase que costumam dar à orientação social, evidenciando um raciocínio empatizador, preocupadas mais com o outro do que o fazem os homens (Baron-Cohen, 2004).

Estimava-se que no Nordeste as mulheres apresentariam maior interesse por parceiros que retratassem afetividade e possibilidades de recursos do que os homens (Hipóteses 1.2 e 1.3; Gomes, Gouveia, Silva, Coutinho, & Santos, 2013), coerente com os estudos realizados em diversos contextos (Buss, 1989; Buss & Barnes, 1986; Hatfield & Sprecher, 1996). Por outro lado, esperava-se que os homens apresentassem maior média do que as mulheres em atributos que retratassem uma pessoa com boa aparência física, sendo os resultados nesta direção, corroborando a Hipótese 1.1. Especificamente, os homens deram preferência a parceiras que demonstram maior atratividade física e juventude, que podem ser indicativos de sua capacidade de reprodução (Buss, 1989, 2003; Gouveia et al., 2010; Hatfield & Sprecher, 1996).

Quanto às diferenças entre homens e mulheres residentes nas cidades do interior e das capitais do Nordeste, esperava-se que as mulheres residentes no interior tivessem maior média em relação a atributos relacionados com a sobrevivência e estabilidade econômica do que aquelas residentes em capitais, refletindo a hipótese de escassez (Inglehart, 1990), que parece mais preponderante em cidades do interior desta Região. Embora tenha crescido a participação das mulheres no mercado de trabalho em cidades de pequeno porte ou interioranas, ainda parece ser menor do que entre as mulheres residentes em cidades maiores ou capitais (IBGE, 2010). De acordo com o último censo deste Instituto, realizado em 2010, mais de 30 milhões de mulheres economicamente ativas, isto é, com 16 ou mais anos, estão na zona urbana, quantitativo seis vezes superior àquelas que se encontram na zona rural (cerca de 5 milhões). Isso poderia explicar que as mulheres com menos recursos buscassem um parceiro de maior status socioeconômico (Sbruzzi, 2009). Entretanto, no presente estudo não foram encontradas diferenças em realizada entre mulheres do interior e da capital, o que não confirma a Hipótese 1.5, ainda que estas tenham apresentado maior média nesta dimensão do que os homens, o que é coerente com a literatura (Buss, 1989, 2003).

Estes resultados podem sugerir que, independente do contexto social e/ou da dependência financeira que as mulheres apresentem, a busca por um parceiro com possibilidades de recursos tem sido recorrente entre elas. Talvez isso se explique em razão de as mulheres possuírem maior investimento na prole, o que pode ser importante contar com parceiro exitoso; por exemplo, elas consideram relevante escolher um parceiro que possa se comprometer e ajudá-la a cuidar de seus filhos, mesmo que já possuam recursos financeiros para isso (Buss, 1989; Feingold, 1992; Li & Kenrick, 2006). Existem, ainda, evidências de que as mulheres do mundo contemporâneo, sobretudo as que atuam no mercado de trabalho, são mais exigentes com relação ao parceiro (Perlin & Diniz, 2005).

Em relação aos homens, não houve diferença entre os residentes na capital e no interior quanto à dimensão relacionada com a aparência física, mas ocorreu quanto àquela que retrata atributos de tradição. Estes achados suscitam que, independente do local em que os homens residem, isto é, capital ou interior, suas pontuações são altas na dimensão atlética, coerente com os achados da psicologia evolucionista, que assinala a busca dos homens por mulheres jovens e de aparência saudável, que podem ser indicativos de maior capacidade de reprodução, aumentando a perpetuação de seus genes (Buss, 1989, 2003). Destaca-se, ainda, explicações com base em aspectos sociais, onde pesquisas indicam que homens buscam mulheres atraentes para reforçar seu status e poder, demonstrando sua habilidade em atrair parceiras valorizadas (Michener, DeLamater, & Myers, 2005; Sibley, Wilson, & Duckitt, 2007).

Os homens residentes no interior apresentaram maior média na dimensão tradicional do que os residentes nas capitais, confirmando a Hipótese 1.4. Esta diferença pode ser explicada por características de relações de gênero, talvez evidência de maior machismo em culturas de honra, como pode ser o Nordeste (Gouveia, Guerra, Carvalho, Sousa, & Souza, 2013), sobretudo, em cidades do interior, que podem ver as mulheres como mais submissas ou atendendo a papéis pré-determinados. Portanto, é possível que os homens escolham parceiras que possuam atributos mais tradicionais, valorizando características como "boa esposa", ou seja, uma mulher caseira e de boa família (Johannesen-Schmidt & Eagly, 2002; Travaglia, Overall, & Sibley, 2009), que também reforça o coletivismo característico desta Região (Hofstede et al., 2010), que acentua o apego das pessoas a normas sociais e a padrões definidos por seus ancestrais (Gouveia & Clemente, 2000).

Apesar de este estudo ter alcançado seus objetivos principais, não há que obviar suas potenciais limitações. Por exemplo, a amostra que não foi aleatória ou representativa da população brasileira ou mesmo do Nordeste, uma vez que considerou estudantes universitários, que são apenas parte de seus habitantes. Contudo, o número de participantes pareceu suficiente para as análises estatísticas levadas a cabo, e os achados descritos foram, no geral, coerentes com o que tem sido observado na literatura (Buss, 1989, 2003; Buss & Schimitt, 1993; Castro & Lopes, 2011; Kenrich, Sadalla, Groth, & Trost, 1990; Silva et al., 2010).

Na direção do anteriormente comentado, os resultados deste estudo contribuem para o conhecimento na área de relacionamentos íntimos. Além disso, favorece pensar em potenciais aplicações práticas. Por exemplo, no contexto da Psicologia Clínica, onde são recorrentes queixas acerca de relacionamentos amorosos conflituosos (Barbosa, 2008), é imprescindível conhecer o processo de escolha do parceiro a fim de minimizar os efeitos de uma escolha pouco consciente, pois de acordo com o princípio da homogamia em que os parceiros geralmente preferem no outro o que eles valorizam em si (Buston & Emlen, 2003), o processo terapêutico pode ajudar as pessoas a compreenderem melhor suas escolhas e assim evitar conflitos e frustrações advindos de escolhas pouco sucedidas.

Os resultados deste estudo poderão ainda ser úteis para agências de casamento, uma vez que seria importante se pautar em conhecimento cientificamente fundamentado para maximizar as chances de escolha de um parceiro mais compatível, ou seja, que compartilham de crenças, opiniões, gostos e aversões, indicando o desejo que as pessoas têm de estabelecer coerência cognitiva (Michener et al., 2005), uma vez que a importância da similaridade nos relacionamentos amorosos tem sido identificada em algumas pesquisas (Buss, 1989; Doosje, Rojahn, & Fischer, 1999; Figueredo, Sefcek, & Jones, 2006; Furnham, 2009; Silva et al. (2010). Além disto, contar também com medidas de estilos de amor parece relevante (Cassepp-Borges, 2010).

Por fim, novos estudos poderão ser pensados. Por exemplo, parece relevante conhecer em que medida valores e traços de personalidade podem contribuir para explicar a escolha do parceiro ideal (Gomes, 2011; Gonçalves, 2012; Gouveia et al., 2010). Também é relevante saber se esta escolha pode diferir em relação a pessoas que já foram casadas e se divorciaram ou ficaram viúvas. Nestes casos, talvez as pessoas tenham projetos de vida diferentes no momento de escolher um companheiro para o segundo casamento, sobretudo se já tivessem filhos, o que poderia influenciar sua escolha do novo cônjuge (Gouveia, Vione, Milfont, & Fischer, 2015). Caberia, ainda, conhecer a escolha do parceiro no contexto do poliamor e de relacionamentos virtuais; e, por último, replicar o presente estudo em outras regiões do país, avaliando as vicissitudes das escolhas em diferentes culturas.

 

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Endereço para correspondência:
Marina Pereira Gonçalves
Av. José de Sá Maniçoba, s/n, Centro
Petrolina, PE, Brasil 56304-917
E-mail: marinapgoncalves@gmail.com, vvgouveia@gmail.com, thiagomcavalcantii@gmail.com, cassiacastro@yahoo.com.br, emersondiogenes@gmail.com, gislenefarias@gmail.com, igorgmenezes@gmail.com, jcalchieri@gmail.com, joilsonp@hotmail.com, leticia-coelho@hotmail.com, mluizapf@gmail.com, rosanaeleres@ig.com.br, taticavnunes@hotmail.com e walbertosantos@gmail.com

Recebido: 28/06/2016
1ª revisão: 11/10/2016
2ª revisão: 12/02/2017
3ª revisão: 10/04/2017
4ª revisão: 24/05/2017
Aceite final: 27/07/2017
Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

 

 

Authors' Contributions
Contribuição substancial no conceito e desenho do estudo: (Marina Pereira Gonçalves; Valdiney Veloso Gouveia)
Contribuição na coleta de dados: (Cássia de Castro Bezerra; Émerson Diógenes de Medeiros; Gislene Farias de Oliveira; Igor Gomes Menezes; João Carlos Alchieri; Joilson Pereira da Silva; Letícia Coelho de Oliveira; Maria Luiza Pontes de França-Freitas; Rosana Mendes Éleres de Figueiredo; Tatiana Nunes Cavalcanti; Walberto Silva dos Santos)
Contribuição na análise e interpretação de dados: (Marina Pereira Gonçalves; Valdiney Veloso Gouveia e Thiago Medeiros Cavalcanti)
Contribuição para a preparação do manuscrito: (Marina Pereira Gonçalves; Valdiney Veloso Gouveia e Thiago Medeiros Cavalcanti)
Contribuição à revisão crítica, agregando conteúdo intelectual: (Cássia de Castro Bezerra; Émerson Diógenes de Medeiros; Gislene Farias de Oliveira; Igor Gomes Menezes; João Carlos Alchieri; Joilson Pereira da Silva; Letícia Coelho de Oliveira; Maria Luiza Pontes de França-Freitas; Rosana Mendes Éleres de Figueiredo; Tatiana Nunes Cavalcanti; Walberto Silva dos Santos).
Conflitos de interesse
Os autores declaram não ter conflito de interesse relacionado à publicação deste manuscrito.
1 O leitor interessado poderá escrever para um dos autores a fim de ter acesso às informações sobre sexo e estado civil dos participantes por Unidade da Federação.

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