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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)

On-line version ISSN 1413-6295

Cad. psicanal. vol.36 no.31 Rio de Jeneiro Dec. 2014

 

ARTIGOS

 

As mutações na cultura, no narcisismo e na clínica: o que muda e o que faz falar os pacientes limítrofes?

 

Mutations in culture, in narcissism and in the psychoanalytic clinic: what changes and what makes the borderline patients speak?

 

 

Natasha Mello Helsinger*

Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos - EBEPRJ - Brasil
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Investigaremos a questão narcísica nos estados limítrofes de analisabilidade (GREEN, 1975), situando-os no contexto da cultura do narcisismo (LASCH, 1979). Apresentaremos algumas transformações vividas pelo estatuto do narcisismo na obra freudiana, contemplando-o em sua dimensão constituinte, como também, patogênica. Em seguida, partiremos das propostas greenianas, para articular o narcisismo de morte à patologia limítrofe que, por sua vez, é caracterizada pela fragilidade narcísica e pelo desinvestimento objetal. Poderemos compreender, assim, de que formas as mutações na cultura e nas experiências narcísicas podem produzir e exigir mutações na clínica.

Palavras-chave: Sociedade contemporânea, patologia limítrofe, narcisismo, narcisismo de vida e de morte, trauma.


ABSTRACT

Investigaremos a questão narcísica nos estados limítrofes de analisabilidade (GREEN, 1975), situando-os no contexto da cultura do narcisismo (LASCH, 1979). Apresentaremos algumas transformações vividas pelo estatuto do narcisismo na obra freudiana, contemplando-o em sua dimensão constituinte, como também, patogênica. Em seguida, partiremos das propostas greenianas, para articular o narcisismo de morte à patologia limítrofe que, por sua vez, é caracterizada pela fragilidade narcísica e pelo desinvestimento objetal. Poderemos compreender, assim, de que formas as mutações na cultura e nas experiências narcísicas podem produzir e exigir mutações na clínica.

Keywords: Contemporary society, borderline pathology, narcissism, narcissism of life and death, trauma.


 

 

Podemos observar que, depois da Segunda Grande Guerra, muitas transformações foram se dando no cenário sociopolítico e, como sabemos, o "estado de coisas" de determinado contexto incide nos processos de subjetivação e nos modos de sofrimento dominante (GARCIA, 2010). Por exemplo, para Alain Ehrebenrg (2000), a exigência de desempenho e de iniciativa pessoal tornaram-se vetores significativos do campo social e, a contrapartida disso, foi a disseminação da sensação de insuficiência, correlato paradigmático da experiência da depressão contemporânea que, por sua vez, passou a ser caracterizada pela vergonha e pela paralisação subjetiva.

Além disso, a sensação de insuficiência pode ser um signo da expressão do narcisismo negativo que faz com que o sujeito busque a satisfação pela não-satisfação, isto é, o nada objetal: "O rebaixamento da tensão ao grau zero, esmagamento no próprio local de toda diferença abolindo a ausência do objeto, recebem uma consagração nos tempos da auto-suficiência" (GREEN, 1966-1967, p. 131). Como sabemos, o prejuízo na constituição narcísica afeta as relações objetais que, por sua vez, seriam cruciais para a delimitação dos limites psíquicos, o que parece estar no bojo dos ditos casos-limites (GARCIA, 2010). Além disso, por apresentarem um comprometimento na atividade representacional e uma precariedade no nível das palavras, esses pacientes acabam operando uma mutação, pois a angústia deles corta a palavra, seu silêncio torna-se a própria respiração e o corpo começa a falar (GREEN, 1979).

Com isso, o presente artigo pretende investigar a questão narcísica nos estados limítrofes de analisabilidade (GREEN, 1975), situando-os no contexto da dita cultura do narcisismo (LASCH, 1979), da performance (EHRENBERG, 2000; CASTEL, 1987) e do consumo (BAUDRILLARD, 1991; BAUMAN, 2000, 2004), em que a esfera do mundo privado parece ter triunfado em relação ao espaço público (SENNET, 1988).

 

Sociedade de consumo: a mercantilização do tempo e o excesso do descartável

Em relação à dita sociedade de consumo, Baudrillard (1991) defende que as mercadorias tornaram-se signos e que elas passaram a ganhar um significado quando reunidas a outras. Frente a isso, o indivíduo é impulsionado a comprar, não pelo desejo, mas, sim, pelo medo de falhar por não adquirir algo, de forma que ele é assediado por uma intensa curiosidade, que o faz buscar todas as possibilidades de vibração e de gratificação.

No entanto, essa exploração generalizada é realizada de forma individualista, o que faz com que os indivíduos estejam mais próximos dos objetos do que das outras pessoas: "(...) começamos a viver (...) mais sob o olhar mudo de objetos obedientes e alucinantes que nos repetem sempre o mesmo discurso - isto é, o do nosso poder medusado, da nossa abundância virtual, da ausência mútua de uns aos outros" (BAUDRILLARD, 1991, p. 15). O autor ressalta, também, que a lógica capitalista influencia a relação que estabelecemos com o corpo, a imagem e o tempo que, por sua vez, passaram a serem concebidos como objetos de troca. Neste sentido, embora o tempo tenha um valor mítico de igualização das condições humanas, na sociedade de consumo, ele tornou-se um capital, fazendo com que a democracia do tempo livre se tornasse inviável: "O tempo constitui uma mercadoria rara, preciosa e submetida às leis do valor de troca.(...) o tempo "livre" é tempo "ganho", capital que pode render (...)" (BAUDRILLARD, 1991, p. 187-188). Neste sentido, o tempo e a nostalgia (enquanto apropriação do passado no presente), tornaram-se meros produtos comerciais e, para Lasch (1979), uma das resultantes disso foi a dissolução do sentido de continuidade histórica que fez com que os indivíduos passassem a viver em um perpétuo presente e, ainda, assumissem uma indiferença em relação à alteridade. Desse modo, a sociedade de consumo corroeu a possibilidade de se estabelecer um mundo durável, comum e público e, dentre os diversos efeitos disso, encontramos a fragilização dos recursos internos e um medo de separação que é vivido como esmagador, o que propicia as compulsões e o sentimento de angústia (LASCH, 1984).

Ademais, em um mundo que se assemelha a uma vitrine de produtos e de possibilidades identitárias, o excesso de ofertas nos impulsiona a substituir constantemente os objetos de consumo o que, segundo Bauman (2004), instaura um sistema de relações passageiras e descartáveis, o que se reflete, também, nas relações interpessoais. O autor acrescenta que a ausência de amparos simbólicos, que poderiam direcionar a realização de escolhas, faz com que vivamos em um eterno descontentamento (BAUMAN, 2000). Afinal, nada é suficiente e durável, tampouco a noção de identidade que, por sua vez, também passou a ser concebida como descartável, o que pode intensificar os sentimentos de vazio e de inautenticidade (GARCIA, 2010).

 

Mutações na tecnologia, no estatuto da imagem e do corpo

Com o desenvolvimento tecnológico e da comunicação, as imagens assumiram uma posição estratégica nas relações interpessoais, pois elas podem, a qualquer momento, ser capturadas, "(...) registradas e simultaneamente transmitidas a uma audiência invisível, ou armazenadas para minucioso escrutínio posterior. "Sorria, você está sendo focalizado". A intrusão na vida cotidiana deste olho que tudo vê (...)" (LASCH, 1979, p. 73).

Para Baudrillard (1991), a relação que uma cultura estabelece com o corpo indica o modo pelo qual os outros tipos de relações vão se constituir e sua hipótese é que a valoração da imagem é um correlato do estatuto que o corpo ganhou na pós-modernidade. Por exemplo, se na sociedade tradicional, as camponesas não se investiam de forma narcísica - por conceberem o próprio corpo como um instrumento de trabalho e algo da ordem da natureza - o corpo, na atualidade, tornou-se um objeto de salvação, um capital e um feitiço e, por isso, deve ser belo e funcional. Em sua perspectiva, a rapidez das imagens na era virtual pode provocar, ainda, a diluição dos limites:

Vídeo, tela interativa, multimídia, Internet, realidade virtual: a interatividade nos ameaça de toda parte. Por tudo, mistura-se o que era separado; por tudo, a distância é abolida: entre os sexos, entre os pólos opostos, entre o palco e platéia, entre os protagonistas da ação, entre o sujeito e o objeto, entre o real e seu duplo.(...) Pela abolição da distância, do "pathos da distância", tudo se torna irrefutável (BAUDRILLARD, 1997, p. 145).

Ou seja, a possibilidade de trocar, expor e manipular as imagens incrementa a dificuldade de se delimitar os espaços e é, neste sentido, que Featherstone (1995) aponta que a intrusão dos veículos de comunicação de massa constituiu um mundo simulacional que oferece uma vertigem da realidade que nos distancia do mundo real. Ademais, a possibilidade de estarmos sendo constantemente observados - semelhantemente ao modelo do panóptico que visa forjar corpos dóceis e úteis (FOUCAULT, 1975) - fez com que passássemos a ter controlada a própria imagem e modeladas, as próprias condutas. Um desdobramento disso é a espetacularização da própria existência (BIRMAN, 2000) e a "estetização da vida cotidiana" (FEATHERSTONE, 1995) que fazem com que os traços narcísicos, a autocritica e a insegurança sejam intensificados (LASCH, 1979).

 

Narcisismo e espaço público: as mutações das fronteiras na cultura do culto ao eu

Richard Sennet (1988) defende que, na atualidade, as questões relativas ao âmbito privado ganharam significação em detrimento das finalidades sociais, o que se difere da sociedade burguesa do século XIX, na qual havia uma delimitação clara entre as esferas pública e privada: "O mundo dos sentimentos íntimos perde suas fronteiras; não se acha mais refreado por um mundo público onde as pessoas fazem um investimento alternativo e balanceado de si mesmas" (SENNET, 1988, p. 19).

Para Garcia (2011), a inflação da esfera privada, em detrimento do âmbito público, prejudica a constituição psíquica na medida em que a primeira, ao se desarticular das suas matrizes sociohistóricas, fracassa em sua função de meio ambiente estruturante. A autora salienta, ainda, que uma sociedade marcada pelo declínio dos sustentáculos simbólicos e pela ausência de um código de conduta moral obriga os indivíduos a estabelecerem seus próprios limites, o que pode propiciar a errância simbólica, a experiência de desenraizamento e a sensação de estar à deriva, um dos correlatos das situações traumáticas.

Como vimos, Ehrenbeg (2000) também demonstra como as mutações que ocorrem no âmbito sociocultural trazem repercussões a nível individual. Por exemplo, a transição do paradigma normativo do permitido/proibido para a do possível/impossível (que remete ao domínio privado) foi acompanhada pelo imperativo da iniciativa pessoal que fez com que os indivíduos se tornassem responsáveis pelo próprio sucesso e fracasso, o que gerou uma sensação de insuficiência. É, nesse sentido, que os psicofármacos ganharam uma relevância tático-estratégica na atualidade, pois eles são paulatinamente buscados por aqueles que, ao se sentirem aquém do imperativo da performance, tentam alcançar uma maior eficiência via objetos técnicos ( Castel, 1987).

Como afirma Sennet (1988), o narcisismo ganha diversas expressões de acordo com os diferentes contextos socioculturais, sendo assim, às vezes "(...) pode parecer cansativo, em outras, patético, ou em outras ainda, uma aflição compartilhada comum" (SENNET, 1988, p. 272). Tudo se passa como se, na atualidade, essa aflição compartilhada comum se apresentasse como aquilo que Birman (2012) denomina de desqualificação ou desvalorização do sujeito em relação a si próprio. Essas teriam como resultantes a sensação de abismo e de insegurança psíquica, que faz com que o sujeito sinta-se incapaz de dar conta de si e de suas relações, de forma que o medo de perder o controle pode desembocar na sensação de despossessão de si, experiência paradigmática do quadro da depressão contemporânea, segundo o autor.

Essas perspectivas vão ao encontro da formulação de Lasch (1979), na qual ele afirma que o narcisismo não está relacionado, como muitos pensam, ao amor-próprio e à autoadmiração, mas, sim, ao ódio voltado para o próprio indivíduo: "O novo Narciso olha para seu próprio reflexo, não tanto por admiração, mas por uma incessante procura de imperfeições, sinais de fadiga, decadência" (LASCH, 1979, p. 123). Com isso, podemos entrever que há uma espécie de paradoxo em relação ao projeto performático, pois, por um lado, ele visa maximizar a produtividade e o potencial humano (CASTEL, 1987) mas, por outro lado, faz com que as subjetividades sintam-se sempre aquém e se paralisem (BIRMAN, 2012). Ou seja, a "(...) cultura organizada em torno do consumo de massa estimula o narcisismo (...) não porque torna as pessoas gananciosas e agressivas, mas porque as torna frágeis e dependentes" (LASCH, 1984, p. 24). É, neste sentido, que Lasch (1979) concebe o narcisismo como uma tentativa de sobrevivência psíquica frente a uma sociedade pós-industrial, em que a incerteza do futuro e um meio cultural aparentemente ingovernável fazem com que o sujeito volte-se para si mesmo.

Desse modo, o autor propõe uma reflexão sobre o que seria a sociedade narcisista, que condições desta propiciam o surgimento de traços narcísicos e quais as características que marcam a figura do narcisista. No que concerne a isso, ele destaca a hipocondria, a experiência subjetiva de vazio e afirma que, com o intuito de compensar os impulsos agressivos contra si mesmo, os narcisistas tendem a criar fantasias de onipotência. Ademais, seus superegos são dominados por elementos sádicos e punitivos, enquanto que seus anseios são vivenciados como perigosos e, para se defenderem destes, acabam usando defesas primitivas. Em vez de recalcarem, sublimarem e simbolizarem seus conflitos tendem a atuar e exprimi-los para fora. Evitam relações íntimas, apresentando desinteresse e desvalorização acerca do outro, do qual se diferenciam com muita dificuldade, afinal, o "narcisista não consegue identificar-se com alguém, sem ver o outro como uma extensão de si mesmo (...)" (LASCH, 1979, p. 117). Com isso, ressurgem alguns componentes vividos na infância, como a desproteção, a impotência, a falta de autonomia e a ausência de autoconfiança. Nesse sentido, o narcisismo remete a um eu que está constantemente ameaçado por uma iminente desintegração, fragilidade e dependência (LASCH, 1984).

Portanto, na medida em que o narcisismo tornou-se uma modalidade de refúgio e de proteção (LASCH, 1984) e, ainda, que o investimento no público cedeu lugar para um superinvestimento no privado, a própria sociedade tornou-se narcísica (GARCIA, 2011). Para Birman (2000), o autocentramento e a exterioridade têm dialogado de forma paradoxal na cultura do narcisismo, pois os desejos têm tangenciado mais o âmbito da exibição e a privilegiarem mais o eu. Em sua perspectiva, isso contraria uma das matrizes da experiência analítica, a saber, a desconstrução da exaltação narcísica do espetáculo do eu, como condição de possibilidade para a emergência do desejo:

Conduzir o sujeito ao encontro incerto e imponderável de seu desejo faz com que ele, necessariamente, siga trilhas opostas ao projeto mundano do espetáculo e da perfomance (...). Para que a psicanálise funcione, pois, é preciso romper com as amarras narcísicas do indivíduo, em que o gozo e a predação do outro são soberanas (...) (BIRMAN, 2000, p. 170).

Ou seja, a experiência analítica caminha na direção oposta do que está sendo orquestrado na cultura do narcisismo e da exigência de performance, pois ela exige que o sujeito, em sua dimensão pulsional e desejante, sustente sua singularidade e se desvencilhe da máscara social forjada por um espetáculo narcísico de massa.

 

Narcisismo e espaço psíquico: contribuições psicanalíticas

É importante salientar que, para discutirmos as contribuições psicanalíticas acerca do narcisismo, partiremos da premissa de que, apesar do texto freudiano não ter explicitado a articulação entre o narcisismo e as pulsões de vida e de morte (FREUD, 1920), ela se encontra implicitamente presente. Dito de outro modo, de acordo com a posição de Green (1983), tentaremos localizar, em diferentes momentos da obra de Freud, como o estatuto do narcisismo foi se diferenciando da primeira postulação de 1914, onde é concebido como algo constituinte e estruturante e se aproximando de concepções em que predominam os aspectos agressivos e destrutivos.

Primeiramente, é pertinente revisitarmos, brevemente, o próprio mito para compreendermos o que possibilitou a construção do conceito de narcisismo no texto freudiano que se refere ao personagem como: "(...) um jovem que preferia sua própria imagem a qualquer outra, e foi assim transformado na bela flor do mesmo nome" (FREUD, 1910, p. 92). A lenda mais conhecida é contada por Ovídio. Nela, Narciso é filho da ninfa Liríope e de um rio, chamado Céfiso. Ele nasceu muito belo, em uma época em que a beleza era virtude exclusiva dos deuses, o que fez com que sua mãe, preocupada, buscasse Tirésias que, a partir de um oráculo, afirmou que a vida do rapaz perduraria, se ele nunca visse sua própria imagem. Eco - figura feminina que falava bastante - tinha o costume de dar sempre a palavra final em tudo. Em um dia, Zeus estava acompanhado por ninfas e pediu que Eco distraísse sua esposa Hera. No entanto, esta percebeu e puniu Eco de maneira que ela só poderia falar quando alguém se dirigisse a ela e, ainda, só poderia repetir as últimas palavras pronunciadas. Desse modo, a mulher frustrada por essas condições refugiou-se nos campos. Narciso, coincidentemente, passou por esses caminhos e Eco - que havia sido punida por Hera e só podia repetir as últimas palavras que lhe eram dirigidas - apaixonou-se por sua beleza. Certa vez, Narciso sentiu a presença de alguém e iniciou uma conversa, porém, Eco somente podia repetir as últimas palavras dele. O fato de estar ouvindo tudo aquilo que desejava, isto é, seu próprio eco, estava, inicialmente, agradando Narciso, no entanto, depois, isso acabou por atormentá-lo e, por isso, ele fugiu de Eco. A moça parou de comer e deixou-se desfalecer, tornando-se pedra e restando apenas o eco de sua voz: "(...) não absorve mais nenhum elemento, até não ser mais do que uma voz. Quando a forma incompleta não pode mais se alimentar de forma desejada, a voz fica sendo o único traço da vida, o visível se apaga" (GREEN, 1988, p. 83).

Já o esbelto rapaz, por ter provocado esse triste fim de Eco, sofreu uma punição dos deuses. Enquanto corria, Narciso viu um lago transparente e, com intensa sede, pôs-se na posição para pegar água, mas quando movimentou seu corpo, deparou-se com a imagem de uma beleza rara, que sorria quando ele sorria, que repetia todos seus movimentos, mas que se esvaziava quando ele tentava apreendê-la. Ficou contemplando aquela imagem, que na realidade era seu reflexo, apaixonou-se por ela e foi ao seu encontro afogando-se:

Depois da anorexia de Eco, eis a sede de Narciso. Mas, de quê? Do rio - paterno - e não de mulher, eco da mãe. A fonte (a origem) lhe devolve uma imagem que ele não reconhece, e pela qual se apaixona: "Se você não me ama, você se amará até a morte, sem se reconhecer", deveria estar se dizendo Eco (GREEN, 1988, p. 83).

Para o psicanalista Zeferino Rocha (2008) o desenvolvimento do conceito de narcisismo, no texto freudiano, pode ser entendido a partir de três momentos fundamentais. O primeiro consiste na articulação do narcisismo com a questão da homossexualidade e da relação narcísica como especular, contextualizado no texto de 1910 sobre Leonardo da Vinci. No segundo momento, o narcisismo seria definido por estar em uma posição intermediária entre o auto erotismo e o amor objetal, como apresentado nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), Introdução ao narcisismo (1914), Pulsão e seus destinos (1915) e na Conferência 26 - Teoria da libido e narcisismo (1916-1917), caracte-
rizando-se também por sua função constituinte e estruturante. O terceiro momento, por sua vez, corresponderia a um aspecto mais biológico, à hipótese de um estado muito inicial denominado anobjetal, onde há um fechamento sobre si e a ausência de uma interação com o mundo externo (ROCHA, 2008).

 

Narcisismo e homossexualidade

Ao lançar a hipótese de que a homossexualidade deveria ser compreendida como uma relação narcísica e especular, em seu ensaio sobre Leonardo da Vinci, encontramos a primeira vez em que Freud (1910) utilizou de forma mais consistente o termo narcisismo, ainda que não o tenha sistematizado como conceito.

Segundo o autor, logo que Leonardo da Vinci nasceu, seu pai, Ser Piero da Vinci, casou-se com outra mulher e o menino acabou vivendo os primeiros cinco anos de sua vida apenas com sua mãe, com quem estabeleceu uma relação muito estreita. Uma de suas fantasias infantis era constituída por um abutre, cuja cauda penetrava-lhe a boca enquanto estava em seu berço. Ao analisá-la, Freud (1910) pôde compreender o que pode ocorrer com o amor da criança pela mãe, em situações caracterizadas por uma intensa proximidade para com ela e pela ausência da figura paterna: o menino pode colocar-se, via identificação, no lugar de sua mãe e passar a amar os outros rapazes da mesma maneira como essa costumava tratá-lo. Essa modalidade de amor, isto é, amar como foi amado, foi denominada narcisismo que, por sua vez, é o que possibilitaria, na idade adulta, a emergência de inclinações emocionais homossexuais e o retorno do autoerotismo. Portanto, o termo narcisismo designa, nesse momento, um dos modelos de escolha objetal no que tange à homossexualidade: "Uma intensa fixação ao tipo narcísico de escolha objetal deve ser incluída na predisposição ao homossexualismo manifesto" (FREUD, 1910, p. 497). Para Rocha (2008), este primeiro momento de reflexão sobre o narcisismo é caracterizado pelo fato de que o objeto que se ama é uma espécie de espelho: "(...) reflete a imagem daquele que não é capaz de amar senão a si mesmo, ou que ama o outro apenas como um duplo de si mesmo" (ROCHA, 2008, p. 42).

É interessante notar que a proximidade entre homossexualidade e narcisismo perdurou no pensamento psicanalítico. Por exemplo, Jurandir Freire Costa (1995), ao discutir algumas teorias sobre a homossexualidade - desde a pragmática da linguagem até as concepções pós-freudianas - apontou para a importância da interpretação freudiana acerca de Leonardo da Vinci. Em sua perspectiva, ela promoveu uma ruptura epistemológica no campo da homossexualidade, na medida em que essa, até então, era predominantemente concebida como uma defesa em relação ao temor da castração ou, ainda, uma posição perversa assumida durante o desenvolvimento libidinal.

 

Autoerotismo: anterior ao narcisismo ou seu correlato sexual?

Na segunda concepção de narcisismo, apontado por Rocha (2008), ele ocuparia uma posição intermediária entre o autoerotismo e o investimento objetal. Vale ressaltar que Freud assumiu duas posições distintas a respeito da relação entre o autoerotismo e narcisismo. Uma delas é que o autoerotismo é uma etapa anterior ao narcisismo (FREUD, 1911-1914) e a outra é que o autoerotismo é a atividade sexual do narcisismo.

A primeira concepção supõe que, inicialmente, há o autoerotismo e, a partir de uma nova ação psíquica, se constituirá um esboço egóico: "(...) as pulsões auto-eróticas estão presentes desde o início, e é necessário supor que algo tem ser acrescentado ao autoerotismo, uma nova ação psíquica, para que se constitua o narcisismo" (FREUD, 1914, p. 99). Essa leitura também está presente em Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranoia (1911), onde o narcisismo é definido como o momento que se dá entre o autoerotismo e o amor objetal, no qual o próprio corpo é colocado como um objeto amoroso exclusivo. Ainda dentro desta primeira concepção, em Totem e tabu (1913), afirma-se que apesar das pulsões sexuais se manifestarem desde um primeiro momento, elas não se dirigem logo para os objetos, mas, sim, para o próprio corpo: "O sujeito comporta-se como se estivesse amoroso de si próprio" (FREUD, 1913, p. 112). Já em 1916, Freud apresenta sua segunda concepção acerca do auto-erotismo:

(...) esse narcisismo constitui a situação universal e original a partir da qual o amor objetal só se desenvolve posteriormente, sem que, necessariamente, por esse motivo o narcisismo desapareça. (...) muitos instintos sexuais começam encontrando satisfação no próprio corpo da pessoa auto-eroticamente (...) O auto-erotismo seria, pois, a atividade sexual do estádio narcísico da distribuição da libido (FREUD, 1916, p. 485-486).

Dessa forma, passa-se a entender o autoerotismo, no qual o sujeito encontra as zonas erógenas em seu próprio corpo, como o correlato sexual do narcisismo, de forma que os objetos externos só atrairão os investimentos libidinais em um segundo momento. Mas, é importante ressaltar que os aspectos narcísicos permanecerão sempre presentes, na medida em que, a libido que é direcionada para objetos, pode retornar ao eu: "(...) temos motivos para suspeitar que essa organização narcisista nunca é totalmente abandonada. Um ser humano permanece até certo ponto narcisista, mesmo depois de ter encontrado objetos externos para a sua libido" (FREUD, 1913, p. 112). Com isso, podemos compreender com mais nitidez que o narcisismo nunca é abandonado e que ele é uma etapa, pela qual todos passam em determinado momento, pois tal como descrito em 1914, ele é essencial e constitutivo: "O narcisismo é condição de formação do eu, chegando mesmo a se confundir com o próprio eu." (GARCIA-ROZA, 1995, p. 42).

 

A concepção sobre o narcisismo em 1914

A partir da clínica, Freud (1914) percebeu que alguns pacientes não conseguiam estabelecer uma relação transferencial com seus analistas e, com isso, ele pôde desenvolver seu estudo sobre as neuroses narcísicas e o narcisismo. Diferente das neuroses de transferência, em que há o retorno da libido para os objetos da fantasia, na neurose narcísica a libido é retirada das pessoas e do mundo externo e é dirigida para o eu, sem que tenha havido uma substituição por outras fantasias: "A libido retirada do mundo exterior foi redirecionada ao Eu, dando origem a um comportamento que podemos chamar de narcisismo" (FREUD, 1914, p. 98).

Não podemos perder de vista que, até 1914, o autor acreditava que as neuroses de transferência resultavam de um conflito psíquico em que o eu recalcava os desejos sexuais, mas, nesse momento, ele sistematizou a possibilidade do próprio eu ser um objeto da pulsão. Por isso, foi necessário estabelecer uma diferenciação entre a libido narcísica e a libido objetal, que funcionam como vasos comunicantes, cuja relação é de proporcionalidade, afinal, quando uma se empobrece a outro se intensifica (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001). Ademais, Freud, em 1914, postulou a existência de dois tipos de escolha objetal, um deles é o tipo narcísico - no qual ama-se o que se é, o que se foi, o que se gostaria de ser e a pessoa que outrora fez parte de nós - e o tipo anaclítico, no qual os modelos são constituídos a partir do homem que protege e da mulher que cuida.

Em relação ao narcisismo primário, este é concebido como um momento em que o eu é o objeto de investimento constituindo-se, assim, um reservatório libidinal. Freud (1914) afirma que é menos viável depreendê-lo a partir de um dado empírico do que da atitude dos pais com os seus filhos que, por sua vez, apontam para a revivescência do narcisismo que já abandonaram. Nesta perspectiva, a libido narcísica transforma-se, em um segundo momento, em libido objetal, ou seja, passa a ser dirigida aos objetos externos, portanto o retorno dessa ao eu é denominado narcisismo secundário. Dessa forma, podemos compreender o narcisismo primário como uma tentativa de completude e de autossuficiência e o narcisismo secundário como o retorno do investimento objetal, como ilustra a seguinte descrição: "O narcisismo primário designa um estado precoce em que a criança investe toda a sua libido em si mesma. O narcisismo secundário designa um retorno ao ego retirado dos seus investimentos objetais (...)" (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 290).

 

Narcisismo estruturante e patogênico

Até o presente momento, focamos nas concepções acerca do narcisismo que se referem à sua função constitutiva e estruturante para a unidade narcísica. Mas, por outro lado, se levarmos às últimas consequências as conceituações acerca das neuroses narcísicas, da melancolia, da dessexualização e da sublimação, podemos perceber que há alusões sobre a articulação entre o narcisismo e o desinvestimento característico da pulsão de morte.

Freud (1916) afirma que os casos em que a libido está represada no eu - e, portanto, não é direcionada para os investimentos objetais - representam grande dificuldade para o tratamento: "Não manifestam transferência, e, por essa razão, são inacessíveis aos nossos esforços e não podem ser curados por nós" (FREUD, 1916b, p. 521). Essa impossibilidade de estabelecer um vínculo transferencial é justificada devida a uma atitude distante do paciente, que exige um diferente modo de abordagem do analista. Afinal, nas neuroses de transferência é possível desconstruir algumas barreiras de resistências, porém, nas neuroses narcísicas elas são intransponíveis e por isso ele afirma que: "Nossos métodos técnicos, por conseguinte, devem ser substituídos por outros; e nem sequer sabemos se seremos bem sucedidos na busca de um substituto" (FREUD, 1916, p. 493). Essa enfática afirmação salienta que estamos pisando em outro terreno, quando estamos trabalhando com as neuroses narcísicas e, para compreendermos isso, é interessante destacarmos duas diferenças, uma a nível técnico e, outra, teórico: "(...) ordem técnica: dificuldade ou impossibilidade de transferência libidinal e de ordem teórica: retirada da libido sobre o ego" (LAPLANCHE; PONTALIS, 2001, p. 313).

Neste sentido, são os pontos fundamentais da Conferência XXVII (FREUD, 1916), a ênfase dada à importância da circularidade da libido e a distinção do que há de "normal" na retirada da libido dos objetos e quando isso se torna patológico. Como sabemos, há muitas situações em que a libido é retirada dos objetos e direcionada no eu - no sono, na doença orgânica, na hipocondria - e é importante lembrarmos que a "(...) retirada da libido objetal para dentro do ego não é diretamente patogênica" (FREUD, 1916, p. 491). O movimento de retirada da libido se torna patogênico quando ele se dá de maneira radical, ou seja, quando a libido não consegue retornar aos seus objetos, tornando-se exclusivamente narcísica.

Como vimos, na neurose de transferência, o vínculo entre o eu e os objetos é mantido, na medida em que os objetos reais são apenas substituídos pelos da fantasia, mas, nas neuroses narcísicas, há uma perda da realidade sem que a fantasia possa funcionar como um substituto, até porque, nesses casos, "(...) os pontos de fixação da libido remontam a fases muitos anteriores do desenvolvimento, em comparação com o que se observa na histeria e na neurose obsessiva" (FREUD, 1916, p. 491). Por exemplo, no quadro da melancolia, toda a agressividade é dirigida ao próprio sujeito, de forma que, "(...) o ressentimento do paciente atinge de um só golpe seu próprio ego e o objeto amado e odiado" (FREUD, 1916, p. 498). Afinal, apesar da libido ter sido retirada do objeto, este permanece identificado com o eu. Ou seja, nos casos em que a sombra do objeto recai sobre o eu, este passa a ser tratado de forma similar à forma que o objeto abandonado o era antes, por causa da identificação narcísica: "Esse investimento não é apenas temporário ou episódico, porque, mesmo depois quando é investida nos objetos, a libido continua investida no Ego. Um desinvestimento libidinal total do Ego seria a sua morte" (ROCHA, 2008, p. 66).

 

A patologia limítrofe e as mutações fronteiriças

Nesse momento, introduziremos a problemática narcísica nos estados limítrofes de analisabilidade (GREEN, 1975), embasando-nos nas postulações greenianas que indicam que esses quadros clínicos são predominantemente caracterizados pelo narcisismo negativo. Apresentaremos, primeiramente, as principais características referentes à patologia limítrofe e, em seguida, discutiremos os conceitos de narcisismo positivo, narcisismo negativo e dotrabalho do negativo (GREEN, 1988). Em um terceiro momento, articularemos o narcisismo negativo à dinâmica dos pacientes fronteiriços, quadros clínicos que têm apresentado sintomas como a sensação de desintegração do eu, de desvitalização, de vazio e de estar enlouquecendo (GARCIA, 2010).

Apesar de o psiquismo ser caracterizado por uma intricação pulsional (FREUD, 1920), a desintricação pulsional pode ocorrer, por exemplo, nas psicoses, em depressões graves e nos casos-limites. Mas, entre esses e as organizações narcisistas há uma diferença no que tange a problemática pulsional, pois, enquanto nos primeiros ela se dá a nível objetal, nas segundas ela se dá a nível do eu: "Uma maneira de delimitar o debate é englobar o conjunto nos casos-limites, os borderlines clássicos, pondo mais em jogo as pulsões orientadas para o objeto, enquanto as organizações narcisistas colocariam o problema dos investimentos orientados para o eu" (GREEN, 1979, p. 175).

É importante entendermos que a noção de limite, em sua dimensão positiva, deveria possibilitar uma comunicação entre os territórios "(...) sem se fechar no dilema da invasão e da evasão, isto é, da perda da vizinhança, da perda do próximo, do Outro" (GREEN, 1979, p. 175). Mas, segundo Green (1988), os estados fronteiriços de analisabilidade, que constituem a clínica do vazio, são caracterizados pelo prejuízo na constituição dos limites intrapsíquicos - deixando bastante permeável as fronteiras entre ego, id e superego -, como também, pela fragilização da delimitação das fronteiras entre o eu e o outro. Ou seja, tudo se passa como se os limites egóicos fossem organizados de forma "capenga" nos ditos casos-limites o que, por sua vez, prejudica a delimitação das fronteiras intersubjetivas, atinge a capacidade representacional e o investimento afetivo (GARCIA, 2010). Além disso, esses quadros não parecem ser regidos pelo complexo de castração, mas, sim, por uma dupla angústia de intrusão e de separação (GREEN, 1988) - que parece articular-se mais com um bloqueio na construção do pensamento do que com a dimensão desejante própria da neurose - e, por isso, não podemos perder de vista a dimensão traumática que se faz presente:

(...) nestas estruturas narcisistas e borderlines, onde o sujeito, na falta de representações, constatando a carência das palavras, opera uma mutação e passa para o plano dos objetos (...). Um vazio instituído contra o desejo de invasão pelo objeto pulsional que ameaça fazer desaparecer o Eu (GREEN, 1979, p. 168-169).

Segundo Garcia (2010), uma baixa intensidade vinculatória dificulta que o sujeito possa construir recursos para se proteger e lidar com a angústia, o que ocorre com os casos-limites. Dito de outro modo, o desamparo radical impossibilita a contenção do excesso pulsional incrementando a vulnerabilidade ao trauma, o que é uma marca, também, do sujeito contemporâneo:

(...) o sujeito na contemporaneidade apresenta enorme vulnerabilidade ao trauma, efeito de sua frágil capacidade de investimento e construção de vínculos libidinais. Temos, assim, um sujeito desavisado, pobremente vinculado e, consequentemente, a mercê das quantidades excessivas de excitação que continuamente o assolam, caracterizando uma situação traumática de desamparo (GARCIA, 2010, p. 73).

Ou seja, quando a camada protetora é constituída de forma frágil, o aparelho psíquico fica mais vulnerável às invasões das intensidades e, diante disto, o sujeito pode tentar se defender com defesas primitivas, como a clivagem e o desinvestimento libidinal.

 

As mutações do narcisismo: positivo ou negativo?

A partir da década dos anos 1960, o narcisismo recebeu um lugar estratégico na obra greeniana e, para o autor, esse conceito pode ser considerado como uns parênteses no texto freudiano até 1920, quando ele foi incorporado às pulsões de vida. Desse modo, ele se propôs a resgatar a discussão acerca do narcisismo filiando-se aos psicanalistas que promoveram o "(...) renascimento do interesse no narcisismo, após seu eclipse através do estudo das relações objetais (...)"(GREEN, 1975, p. 58).

Em seu livro intitulado Narcisismo de vida e narcisismo de Morte, Green (1988) demonstra, a partir de alguns autores (como Freud, Lacan, Klein,
Kohut e Winnicott), que a literatura psicanalítica apresenta o narcisismo de forma multifacetada, por ele ser "(...) uma verdade impossível de circunscrevem" (GREEN, 1976, p. 42) e, com isso, ele propõe uma leitura que situa esse conceito no domínio das pulsões objetais. Um primeiro ponto importante é que, diferente da concepção do narcisismo primário enquanto um estado,
Green (1988) o compreende como uma estrutura e foi, a partir disso, que ele pôde desenvolver sua hipótese sobre o narcisismo de morte:

O narcisismo primário não pode ser compreendido como um estado, mas sim como uma estrutura. A maioria dos autores não apenas tratam-no como um estado, mas também só falam dele como um narcisismo de vida deixando em silêncio - o próprio silêncio que o habita- o narcisismo de morte presente sob a forma de abolição das tensões até o nível zero (GREEN, 1966-67, p. 141).

Green (1967) afirma que o texto freudiano abarca duas possibilidades de concepção a respeito do narcisismo primário, uma que seria positiva, pois remete à reunificação das pulsões (ao bebê saciado), e a segunda, seria sua face negativa, relacionada à tendência ao nada objetal. Dito de outro modo, um dos modos de compreender esse conceito está relacionado à regressão pós-satisfação e o outro articula-se à satisfação pela não-satisfação na qual, face à falta da satisfação, o sujeito busca a inquietude mortífera. Ou seja, em sua perspectiva, há uma imprecisão na conceituação do narcisismo primário no discurso freudiano na medida em que, por um lado, ele aponta para a unidade dos impulsos auto-eróticos e, por outro, para uma catexia original do ego não-diferenciado. É por essa segunda leitura que Green (1975) se norteia, pois ela remete à busca pelo grau zero de tensão: "Nesta perspectiva, o narcisismo primário é Desejo do Um, aspiração a uma totalidade auto-suficiente e imortal onde o auto-engendramento é a condição, morte e negação da morte ao mesmo tempo" (GREEN, 1966-1967, p. 142).

Para Garcia e Damous (2009b), não podemos restringir a pulsão de vida à atividade de ligação e a de morte à de desligamento, por isso, elas valoram a concepção greeniana das pulsões a partir de suas funções. A função objetalizante da pulsão de vida é marcada pelas atividades de ligação e de união que, por sua vez, propiciam o investimento, a substituição de objetos, a construção da ausência como presença em potencial e a constituição dos limites intra-psíquicos que, por sua vez, possibilitam os processos de simbolização. Neste sentido, o narcisismo positivo é caracterizado pelo Eros unitário, isto é, pela função objetalizante que tem como função crucial sustentar o aparato psíquico, propiciar a criação de relações objetais, como também, modificar simples estruturas em objetos de investimento (GREEN, 1988). Já a função desobjetalizante da pulsão de morte, ao propiciar o desligamento, destrói não somente as relações objetais, como também, o investimento em si (GARCIA, 2010). Neste sentido, ela ilustra a tentativa de se alcançar um nível zero de tensão que guia o sujeito ao nada objetal, o que "(...) nos permite postular a existência de um narcisismo negativo, duplo sombrio do Eros unitário do narcisismo positivo, de modo que todo investimento do objeto, assim como do Eu, implica seu duplo invertido que visa um retorno regressivo ao ponto zero" (GREEN, 1976, p. 41). Portanto, esse desinvestimento objetal pode ser compreendido como uma estratégia defensiva frente à situação traumática, na qual o objeto desencadeador do trauma torna-se o alvo das metas de destruição (GARCIA, 2010). Desse modo, o narcisismo negativo, nas suas últimas consequências, provoca a aniquilação do objeto e do sujeito:

Assim, o objeto-trauma tornar-se-á um objeto-louco. Enlouquecido e enlouquecedor, contra o qual será tentada uma neutralização pelas pulsões de destruição. (...) Ou seja, o narcisismo, de positivo, se tornará negativo. Negativo em todos os sentidos do termo. Negativo no sentido de contrário do positivo: o bom torna-se mau, e negativo no sentido da nadificação onde Eu e objeto tendem para a anulação mútua (GREEN, 1966-1967, p. 158).

Para aprofundarmos essa discussão faz-se relevante retomarmos as postulações de Green (1988) acerca do trabalho do negativo, conceituação que articula de forma sistemática e pertinente a teoria pulsional freudiana ao estudo das relações objetais. Segundo o autor, a negativização é responsável pela delimitação dos espaços psíquicos e dos limites entre interno-externo, no entanto, ela pode se dar de forma estruturante, como também, patológica. Se o trabalho do negativo for bem sucedido na diferenciação entre eu e o objeto, o objeto primário se deixará apagar e os outros objetos poderão desempenhar suas funções, a saber: estimular e conter a atividade pulsional. Isso propiciará, também, a emergência de um vazio estruturante que, por sua vez, permitirá a construção de representações e, também, que o psiquismo crie objetos substitutos, mas, para isso, é fundamental que o ambiente se apresente, concomitantemente, como um continente e também como algo falível (GARCIA, 2011). Porém, quando o trabalho do negativo fracassa, torna-se impossível apagar o objeto primário o que, por sua vez, prejudica os investimentos afetivos e os processos de simbolização. Desse modo, o aparelho psíquico passa a ser regido por forças destruidoras tendendo, assim, para o desinvestimento objetal: tentativa de interromper a coalescência entre o sujeito e objeto que se deu por causa da impossibilidade do apagamento do objeto primário (GREEN, 1988). Dito de outro modo, o objeto passa a se apresentar como uma presença onipresente e, diante desse aprisionamento mútuo, o sujeito tenta se defender desinvestindo-se do objeto. A recusa ao investimento está estreitamente associada à função desobjetalizante, em que o desligamento e a indiferença passam a triunfar no espaço psíquico: "O que o narcisismo primário visa pela abolição das tensões ao nível zero é, ou a Morte, ou a imortalidade, o que dá na mesma. (...) A completude narcisista não é signo de saúde, mas miragem de morte. Ninguém é sem objeto" (GREEN, 1969, p. 211).

Por outro lado, a tentativa de se defender de uma separação que não aconteceu, pode conduzir à união com o objeto idealizado que não decepciona, mas que despreza todos os outros. Estabelece-se, assim, um conflito entre o objeto persecutório e o objeto idealizado, o que é marcado por sentimentos de raiva, descentramento e desespero. Isso tudo redunda no narcisismo negativo pois, quando a fusão primária não é elaborada, há uma coalescência entre pulsão e objeto, prova de que o trabalho do negativo foi auto-circuitado, dando-se de forma desestruturante (GREEN, 1986; 1988).

Nesse sentido, percebemos que tanto o excesso de presença (intrusão) como o de ausência (idealização/inacessibilidade do objeto) irão interferir na constituição dos limites psíquicos e, consequentemente, na construção de pensamento e no reconhecimento da alteridade (GARCIA, 2010).

 

O narcisismo de morte na patologia limítrofe

O modelo utilizado por Green (1986) para discutir a patologia limítrofe resulta desse objeto que não se deixou apagar, culminando no desinvestimento objetal, como tentativa de romper a prisão recíproca entre sujeito e objeto. Assim, os pacientes fronteiriços parecem revelar os efeitos patológicos envolvidos no fracasso do trabalho do negativo, em que a radicalidade da pulsão de morte predomina no cenário psíquico, desempenhando sua função desobjetalizante, característica do narcisismo de morte.

Para Garcia e Damous (2009b), os processos que possibilitariam a constituição de uma economia narcísica - que viabilizariam, por sua vez, a construção da integridade egóica, a organização psíquica e o reconhecimento da alteridade - são afetados nesses pacientes. Por isso, eles apresentam sensações de desintegração do eu e de desmoronamento, devido ao prejuízo no processo de apagamento do objeto primário e, portanto, da própria capacidade de simbolização.

Podemos encontrar muitas implicações narcísicas nos pacientes fronteiriços, em que qualquer questionamento pode despertar uma falha narcisista ou um sentimento de fracasso (GREEN, 1979). Por exemplo, (1) a constituição do eu corporal se dá de forma comprometida, pois o corpo é vivido como uma materialidade difícil de suportar; vive-se uma sensação de (2) ameaça de aniquilação de si, já que há uma sensação de impregnação desse outro no próprio eu (GREEN, 1979). E, para lidar com essa (3) dependência ambivalente, o sujeito parece se refugiar dentro de si mesmo, para se proteger da (4) invasão e desintegração do eu (GREEN, 1975). Portanto, diante de todas essas ameaças, tenta-se preservar a integridade egóica para que esta não se despedace completamente:

(...) qualquer ataque profundo a esta unidade divide ou multiplica em n partes (despedaçamento). (...) É este o momento de lembrar a diferença entre o Eu e o sujeito. O sujeito persiste até mesmo sob a forma do n continuando a garantir as relações entre os n elementos, enquanto o eu unitário fica partido em estilhaços. A partir de então, a problemática da angústia compreende: a ameaça unitária; a duplicação; o infinito ilimitado; os estilhaços despedaçados; o aniquilamento = nadificação (GREEN, 1988, p. 176).

Ou seja, os casos-limites expressam temores de despedaçamento, indiferença, despersonalização, sintomas depressivos, "perda de controle", "sensação de estar ficando louco", isto é, trata-se de um corpo invadido por constantes ameaças de desintegração do eu (GARCIA, 2010). Além dos efeitos sintomáticos já descritos há, também, a paralisação psíquica devido à perda da capacidade de decidir e de representar o que, por sua vez, propicia a compulsão à repetição (GREEN, 2001).

Com isso, podemos concluir que o desinvestimento objetal, somado à fragilização dos limites intrapsíquicos e das fronteiras intersubjetivas, inviabiliza a construção de vínculos, efeito da coalescência entre a pulsão e o objeto que não se deixou apagar. Isso ocorre porque o sujeito, para se defender do excesso pulsional, retira seu investimento dos objetos, retraindo-se sobre si mesmo, criando uma carapaça narcisista (GREEN, 1988). Ou seja, é a partir das angústias catastróficas, das sensações de aniquilamento, de abismo e de desvitalização que a desintrincação pulsional se manifesta como, em última instância, um sentimento de morte psíquica (GARCIA, 2009).

Como vimos, o objeto, que não se deixa esquecer, torna-se onipresente, podendo provocar, tanto a sensação de invasão pelo objeto mau, como também de inacessibilidade pelo objeto idealizado (GREEN, 1982). A impossibilidade de fazer o luto desse objeto aponta para uma negativização que não foi operada de forma bem-sucedida: "(...) nos casos-limite, que evidenciam, por outro lado, um desvio na função do objeto, que ao invés de se mostrar falível, se apresenta como absoluto e onipresente, indicando a insuficiência da função negativizante" (GARCIA, 2009a, p. 75). E, diante da constante ocupação do objeto no espaço psíquico e da falta de experiências satisfatórias, a ausência como presença em potencial não pode ser elaborada (GREEN, 1975/1988). Por isso, na tentativa de defesa frente ao trauma, o sujeito faz um movimento de retração narcísica passando a não "precisar" mais do objeto, o que exigiria, por sua vez, uma relação de dependência: "No narcisismo negativo, o sujeito se empenha na satisfação narcísica da não satisfação do desejo objetal, considerada mais desejável do que uma satisfação submetida à dependência do objeto e suas manobras aleatórias." (GARCIA, 2010, p. 70). Ou seja, o desejo e a satisfação objetal não são característicos da dinâmica limítrofe, pois isso exigiria um narcisismo de vida. Pelo contrário, ela é marcada pelo triunfo da pulsão de morte que faz com que o sujeito desinvesta dos objetos e produza uma carapaça narcisista. Esta, por sua vez, cumpre dois papéis principais: (1) proteger o eu na medida em que "(...) alimenta a ilusão da onipotência da libertação do objeto, assegurando-o da auto-suficiência ideal (GREEN, 1979, p. 171)" e (2) defender-se da dupla angústia (intrusão/separação). Essa carapaça é, portanto, um mecanismo de defesa diante desse objeto ameaçador que não se deixa esquecer:

(...) tende a criar esta carapaça narcisista protetora e preventiva contra os traumas, mas ao preço de uma esclerose mortificante que mina o prazer de viver. A frieza, a distância, a indiferença tornam-se eficazes escudos contra os golpes vindos do objeto. (...) Em suma, o objeto é ou perdido, isto é, morto para o sujeito, ou um fantasma, isto é, transformado em vampiro sedento de sangue (GREEN, 1979, p. 171).

Ou seja, na tentativa de se proteger da intrusão do objeto, de se manter a integridade egóica e a continuidade dos limites psíquicos, o sujeito tenta conter o transbordamento pulsional e se automatizar do objeto, mas o preço pago pelo desinvestimento objetal é a vivência de uma "anorexia do viver", marcado por um estado de desespero (GARCIA, 2007).

Segundo Green (1975), essa constante luta com o objeto se apresenta no próprio tratamento com os pacientes fronteiriços, que costumam manifestar irrupções de agressividade, o que pode ser entendido como uma forma de se preservar alguma relação com o objeto, pois, ainda que ela seja "mau", é importante que ele exista. Ou seja, para não se confrontar com o vazio, o sujeito faz com que esse objeto reapareça repetidamente, embora isso se dê através de um investimento negativo que provoca nulidade e vacuidade.

O processo transferencial com os ditos casos-limites se dá, portanto, de maneira peculiar, na medida em que a dificuldade de simbolização faz com que esses pacientes utilizem-se de mecanismos de defesa precários como, por exemplo, a exclusão somática e a expulsão via ação (GREEN, 1975). Afinal, diante da frágil atividade representacional, o corpo precisa se expressar e, por isso, temos que conceber o próprio silêncio como uma possibilidade de se fazer falar: "A angústia, objetal ou narcisista,corta a palavra, faz o corpo falar (...). A tentação do silêncio, este significante zero da linguagem, é então grande. Mas o silêncio não é somente a suspensão da fala, é a sua própria respiração" (GREEN, 1979, p. 183).

Como podemos observar, esses quadros clínicos se configuram de maneira bastante distinta do que a clínica psicanalítica encontrava há mais de um século atrás, por exemplo, "(...) o analista se vê diante do impasse entre preencher o espaço analítico com interpretações - o que apenas agrava o sentimento de intrusão - ou suportar o silêncio e o vazio - o que pode se configurar como uma ameaça de morte (...)" (GARCIA, 2010, p. 75). Portanto, o objeto ocupa um lugar central na dinâmica limítrofe, o processo transferencial é "natimorto" e o analista encontra-se em um contexto de "exclusão objetal" (GREEN, 1988), o que gera impasses clínicos. Por isso, é fundamental operarmos mutações no manejo clínico clássico para trabalharmos com esses pacientes que operam mutações frente à carência das palavras (GREEN, 1979), ou seja, é necessário compreendermos o que os faz falar no corpo e no silêncio para, assim, possibilitarmos que eles se façam falar sem se desintegrar.

 

Conclusão

O artigo apresentou algumas condições socioculturais que caracterizam a sociedade contemporânea, articulando-as com a problemática narcísica presente nos ditos casos-limites, quadros clínicos que têm se apresentado na clínica atualmente.

Em um primeiro momento, discutimos algumas características que marcam o atual cenário contemporâneo, apontando as influências que elas exercem nos processos de subjetivação, nas expressões do mal-estar, como também, na emergência de traços narcísicos. Esses não parecem remeter à admiração, mas, sim, à sensação de imperfeição e de decadência (LASCH, 1979), o que pudemos articular com a formulação de Ehrenberg (2000) a respeito da exigência de performance que, por sua vez, pode provocar sensações de insuficiência e de vergonha. Discutimos, ainda, de que formas os dispositivos midiáticos e tecnológicos incrementam mutações no estatuto da imagem e do corpo que, por sua vez, parece ter se tornado um capital por excelência, o que pode provocar uma estetização da vida cotidiana (FEATHERSTONE, 1995). A partir da problematização acerca da dissolução das fronteiras entre esfera pública e privada, pudemos observar que o indivíduo opera um recuo em relação a si mesmo como tentativa de se proteger de um meio externo que não lhe oferece mais um amparo simbólico (SENNET, 1988; GARCIA, 2011), o que podemos articular com o desinvestimento objetal e a carapaça narcísica, defesas correlatas ao narcisismo negativo (GREEN, 1988).

Em um segundo momento, apresentamos de que forma o estatuto do narcisismo foi se modificando ao longo da obra freudiana, passando por sua importância constituinte e estrutural até se aproximar de seus aspectos agressivos e patogênicos. Para isso, discutimos a relação entre o narcisismo e a homossexualidade (FREUD, 1910), como também, com o autoerotismo (FREUD, 1914; 1916). Diferenciamos, ainda, o narcisismo primário do narcisismo secundário e as neuroses narcísicas das de transferência, entendendo que a fixação da libido no eu é o que a define como patogênica (FREUD, 1914).

Com isso, pudemos perceber que Freud insinuou, implicitamente, o que Green (1988) articulou explicitamente, a saber, o narcisismo com os investimentos objetais. Partimos de sua concepção do narcisismo primário, como uma estrutura e não como um estado, a fim de compreendermos as matrizes do conceito de narcisismo de morte. Observamos que esse é caracterizado por sua função desobjetalizante que parece trabalhar na busca por um nível zero de tensão. A partir disso, pudemos articular o narcisismo de morte à patologia limítrofe que, por sua vez, é marcada pela fragilidade narcísica, associada a uma dificuldade em definir os limites psíquicos e construir as fronteiras entre eu-outro, o que inviabiliza o investimento objetal. Vimos que, para Green (1988), esse desinvestimento é uma resposta radical diante de uma situação traumática e, por isso, a discussão acerca do fracasso do trabalho do negativo foi essencial para compreendermos a angústia de intrusão e de separação vivida por esses pacientes, que vivem a impossibilidade de esquecimento do objeto primário que se torna onipresente ou inalcançável.

Portanto, podemos depreender que o prejuízo na constituição dos limites entre eu-outro e dos próprios limites psíquicos podem ser concebidos como correlatos clínicos do que Sennet (1988) apontou em relação à dissolução de fronteiras entre o âmbito privado e o âmbito público, no qual o primeiro passou a triunfar sobre o segundo. Essa questão da diluição dos limites também foi abarcada a partir das contribuições de Baudrillard (1997) que defende que os meios de comunicação provocam uma série de indiferenciações e, ainda, que eles promovem uma espécie de espetacularização do indivíduo em relação a si próprio. Além disso, podemos perceber a semelhança entre a fluida "descartabilidade" dos objetos e das relações intersubjetivas (BAUMAN, 2004) com a dificuldade no investimento objetal presente na patologia limítrofe, onde a desobjetalização insiste em se fazer repetir como forma de defesa. Com isso, podemos concluir que estamos inseridos em uma sociedade consumista e individualista, na qual os sustentáculos simbólicos estão diluídos, os valores estão em crise e que o espaço público encontra-se desinstitucionalizado. Essa conjuntura prejudica os processos de constituição narcísica do sujeito provocando, assim, sentimentos de vazio e dificuldade nos processos de simbolização que, por sua vez, podem levar a uma experiência de errância simbólica e à sensação de estar à mercê da aniquilação (GARCIA, 2010).

Desse modo, problematizar as mutações socioculturais, como também, as mutações no que tange o narcisismo - por exemplo, da sua vertente positiva para a negativa - pode contribuir para a compreensão de algumas mutações que se deram no campo das expressões sintomáticas para, assim, pensarmos possíveis mutações técnicas que possam dar conta desse tipo de vulnerabilidade psíquica que se apresenta na clínica atual.

 

 

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Artigo recebido em: 11/07/2014
Aprovado para publicação em: 09/08/2014

Endereço para correspondência
Natasha Mello Helsinger
E-mail: nathelsinger@gmail.com

 

 

*Psicóloga, membro/Espaço Brasileiro de Estudos Psicanalíticos-EBEPRJ (Rio de Janeiro-RJ-Brasil), mestranda/Programa de pós-graduação em Teoria Psicanalítica-UFRJ (Rio de Janeiro-RJ-Brasil).

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