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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)

On-line version ISSN 1413-6295

Cad. psicanal. vol.40 no.39 Rio de Jeneiro July/Dec. 2018

 

ARTIGOS

 

Função analítica da mãe, função poética do analista

 

Analytical function of the mother, poetic function of the analyst

 

 

Celso GutfreindI*

ISociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre - SBPdePA - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Neste artigo, o autor realiza uma ponte entre a função do analista e a função poética. A partir de autores da teoria da literatura como Jakobson e Berardinelli, o conceito de função analítica é trabalhado, sobretudo, em suas conexões com a poesia. A poesia e a arte em geral aparecem como condições necessárias para a qualidade das primeiras interações pais-bebês, cujos principais autores também são arrolados. Complementa o artigo uma breve descrição clínica em que esses excertos se fazem presentes.

Palavras-chave: Poesia, Psicanálise, Primeiras interações pais-bebês.


ABSTRACT

In this article, the author bridges the analyst's function to the poetic function. Starting from authors of the theory of literature like Jakobson and Berardinelli, the concept of analytic function is worked, above all, in its connections to poetry. Poetry and art in general appear as necessary conditions for the quality of the early parent-infant interactions, whose main authors are also listed. A brief clinical description in which these excerpts are present completes the article.

Keywords: Poetry, Psychoanalysis, Early parent-infant interactions.


 

 

"Poesía
perdóname por haberte ayudado a comprender
que no estás hecha solo de palabras"
Roque Dalton

"A poesia é um grande disciplinador para a escuta analítica"
Thomas Ogden

 

 

Função da linguagem, função poética

A tradução do exercício parental na descrição de funções recebeu a devida atenção nos últimos anos. Isso coincide com os estudos abundantes - e, de certa forma, convergentes - da psicologia do desenvolvimento e da psicanálise do bebê dentro de um contexto psicanalítico mais amplo.

Referimo-nos ao bebê descoberto em suas competências nas décadas recentes. Ou ao fim da visão do bebê autista como Mahler (1983) o considerava. Ou ao começo do bebê relacional, de Winnicott (1951/1969), Stern (1997) e de todos nós ao constatarmos que um vazio marcado pelo desconhecimento dos séculos não cessa de ser preenchido com a descoberta de novas competências dos recém-nascidos e sua capacidade de se relacionar com os já crescidos.

Conta aqui, igualmente e como certo mote glosado neste trabalho, a importância de vasculhar nas análises os bebês escondidos - ou nem tanto - em crianças, adolescentes e mesmo pacientes adultos.

Sobre as funções parentais propriamente ditas, diversos autores vêm trazendo noções importantes para o aporte teórico e, portanto, para a clínica, no embate aqui e agora da acolhida às famílias. Podemos destacar desde a necessidade de marcar as diferenças entre as gerações, proposta por D. Houzel (1999), à necessidade de ser impopular nessas relações, sublinhada por S. Lebovici (2004).

A listagem interminável de funções parentais parece confirmar a tão estafante e mesmo impossível tarefa de ser mãe e pai (FREUD, apud BEN SOUSSAN, 2004), além do quanto ela transcende qualquer teoria que a tente antecipar.

Tal noção, equiparada à da poesia, com a qual nos implicamos sem poder explicar (tão somente sentir, acolher), soa fundamental para trabalhar com pais na clínica psicanalítica da infância (CICCONE, 2007).

Entre tantas colaborações consistentes, nenhum autor parece ter, ao mesmo tempo, adentrado tanto o tema como D. W. Winnicott, talvez o mais poeta dos psicanalistas em um assunto que não poderia ser abarcado sem poesia. A sua vasta obra pode ser lida no todo como a proposta de um verdadeiro arsenal de funções parentais que interessam ao clínico, entre as quais podemos destacar a capacidade materna de iludir, desiludir, conter, sustentar, configurando, a partir dessas possibilidades, um cenário descrito com densidade e benevolência - e possível em oposição à impossibilidade aventada por Freud - como o de uma mãe suficientemente boa (WINNICOTT, 1965/2002).

Pode ter faltado ao autor descrever mais explicitamente a função poética, se é que essa não tenha sido outra de suas artimanhas formais, poéticas, metafóricas: dizer com disfarce. Todavia, no cerne de sua obra, encontramos a capacidade e, em decorrência dela, a função (não premeditada como todas as demais) de a mãe poder criar junto ao bebê uma espécie de terceiro espaço, construído entre o eu e o não-eu, verdadeira porta de saída da simbiose (tão bem descrita por Mahler) e entrada no mundo exterior (mas também interior), desenhada pelo autor como um espaço transicional, marcado por fenômenos (ou funções) igualmente transicionais ou "entre dois" (WINNICOTT, 1951/1969, 1971/1975).

O autor reconhece tal lugar como nem interno nem externo, confundido ainda entre o bebê e a mãe, mas podendo e até devendo ser preenchido por elementos do patrimônio cultural da humanidade - a poesia, por exemplo -, ressaltando a importância de sair de uma relação dual e nele penetrar para poder sair como "si mesmo":

"Sorri de dentro pra fora
Não fica nem vai embora
é o estado de poesia"

Pensamos que ali se configura uma importante função poética, também descrita e defendida por Winnicott, sobretudo, através do brincar. Para ele, diversas vezes, a poesia foi uma metáfora. Para nós, nesse momento, ela é o conteúdo, a coisa em si, cabal, substantiva.

Se o brincar winnicottiano - e hoje nosso - evoca a noção de prazer, recordamo-nos das definições poéticas do poeta e esteta Sidney (2002, p. 188), em sua Defesa da poesia, publicado há cinco séculos e já localizando a experiência prazerosa no primeiro plano: "A geração e a certeza do prazer nesse sentido mais elevado são a verdadeira utilidade. Aqueles que geram e preservam esse prazer são poetas ou filósofos-poetas".

Ou pais - acrescentamos. Interessante que Sidney traz a ideia em um texto no qual defende a poesia do ataque de seus contemporâneos diante da sua ociosidade (o "inútil") e já a coloca além do que a ciência pode contemplar ("o utilitarismo contemporâneo"). A propósito, uma das expressões que utiliza é "sabedoria soberana", alçando a poesia ao mais alto patamar, justamente por escapar da utilidade. Os poetas a serviço da verdadeira inutilidade pública: "Só a inutilidade é suficientemente vazia para a presença de tantos usos..." (AMMONS, apud OGDEN, 2013, p. 212).

Para nosso propósito, a noção é exemplar, pois estamos pensando a poesia ou a capacidade poética como um aspecto essencial de saúde, um verdadeiro precursor da subjetividade, da imaginação, da brincadeira e da empatia. Ou, como preconizava o esteta Benedetto Croce (1967), a possibilidade de, muito além da imitação, chegar à transfiguração do sentimento.

O nosso propósito - logo, não de todo poético - consiste em fazer uma analogia da noção winnicottiana de espaço potencial com o conceito de função poética, defendido pelo teórico da literatura, Roman Jakobson (1975).

Esse autor a define como uma entre as outras funções da linguagem. Para ele, a função poética não é fática, emotiva, conotativa, referencial, metalinguística. Não é utilitária. Sem retomar cada um dos atributos em pormenores, importa-nos dizer que essa linguagem não "se destinaria a" como nas demais funções. Ela é em si e aqui estaria o seu valor maior. Por não ser deliberadamente transitiva, é que se torna mais ainda. Substantiva.

A sua principal característica é paradoxalmente, em termos de linguagem, nada comunicar (emoção, pedido, atenção, o que quer que seja) que esteja fora do alcance de apenas praticar a comunicação. Novamente, em si. A coisa (Das ding).

Em outras palavras, em meio a tantas necessidades úteis, não haveria intenção no gesto materno (em parte substancial desse gesto) que seria nada utilitário, mas sim poético e todo lúdico para realmente poder repercutir na constituição do outro, assim como acolher momentos de "não intenção" nos gestos contrários (é interação). Por mais que - o paradoxo - esteja em plena lida do que é prático. "Como se" e como se perdesse tempo, perdendo tempo de fato para ganhar expansão de uma subjetividade que não nasce na frieza dos protocolos ou na melhor das intenções. É preciso tempo de não tempo, ou sem intenções.

Nesse sentido, a noção evocaria igualmente a psicanálise, quando é percebida bem mais como um processo de autoconhecimento (poético) em sentido amplo do que terapêutico no sentido utilitário (prosaico). No mesmo rumo, ainda que vago, poderíamos apontar os insights como epifanias (poéticas) em meio à continuidade de uma prosa.

A poesia, mesmo na contemporaneidade, continua sendo evitada. Poucos leem poesia diretamente e a suportam em si mesma, preferindo as suas doses amenizadas em outras artes como a ficção e a prosa em geral. Ou o cinema ou a dramaturgia das séries. Dissemos "continua", porque desde a Grécia, em que pese a leveza de seus grandes poetas líricos e épicos, bem como de seus teóricos (a poética de Aristóteles), poetas com frequência eram mal vistos e até mesmo expulsos da República e sua "Comunidade ideal" (PLATÃO, 2003).

Lembremos que sequer havia uma palavra específica para chamar a poesia (dizia-se techné, que é técnica) e nada parece ter melhorado substancialmente ao longo dos Séculos seguintes: na Idade Média, ainda não havia o termo "poesia" para designar algo específico e ela foi oficial e historicamente atacada por muita gente batuta. No Século XVI, Agrippa acusou os poetas de mentirosos e devassos e a poesia, de um desperdício de tempo - ataques cujo conteúdo e forma assemelham-se aos dirigidos a psicanalistas. Foi preciso esperar a chegada de um Boccaccio e da Renascença para vermos a defesa da influência benéfica da poesia sobre a humanidade e a civilização, por mais que parecesse alheia ao mundo (apud SIDNEY; SHELLEY, 2002): "Pois recebemos o teor poético não em imagens sensíveis, pretensamente sugeridas pela linguagem, mas sim na própria linguagem e nas composições peculiares que apenas ela pode criar" (ADORNO, 2012, p. 110).

De certa forma, encontra-se aqui a alma desse texto: a importância que a poesia ocupa na vida mental ao contrário do seu ancestral e contemporâneo descrédito.

No início de sua Defesas da poesia, escrita no Século XIX, o poeta Shelley escreve: "Na juventude do homem, os homens dançam e cantam e imitam objetos culturais, obedecendo nessas ações, como em todas as outras, a um certo ritmo ou ordem. E embora todos os homens obedeçam a uma ordem semelhante, ela não é sempre idêntica nos movimentos da dança, na melodia da canção, nas combinações da linguagem, no conjunto de suas imitações de objetos naturais" (SHELLEY, 2002, p. 172).

Além de propor uma definição da poesia, Shelley oferece à nossa leitura a sua aplicabilidade na vida mental como talvez a única e mais verdadeira ponte de diversidade ou subjetividade, sem a qual não haveria um desenvolvimento emocional mais profundo. Para ele, é preciso certo equilíbrio entre o racionalismo e a imaginação, também imprescindível diante do que é "mecanicista". E mais ainda: "seria ocioso explicar como a suavidade e a exaltação espiritual ligadas a essas sagradas emoções podem tornar os homens mais amáveis, mais generosos e sábios e tirá-los das enlanguecedoras emanações do pequeno mundo do eu" (SHELLEY, 2002, p. 188).

Impressiona o quanto o poeta como crítico relaciona a poesia e seus efeitos ao despertar da subjetividade (e alteridade), essa capacidade de diferenciação entre o eu e o outro, fundamental para Winnicott e todos nós. Assim, acreditamos que tudo o de mais importante da relação entre a mãe e o bebê passa pela poesia: "Na infância da sociedade, todo autor é necessariamente um poeta, porque a própria linguagem é poesia, e ser um poeta é aprender o verdadeiro e o belo, em suma, o bem que existe na relação e que vigora, em primeiro lugar, entre existência e percepção e, em segundo, entre percepção e expressão" (SHELLEY, 2002, p. 173).

Claro que as ideias de Shelley continuam encontrando as de Winnicott, quando este situou a poesia ("a origem de tudo", para Shelley) e o cultural no denominado espaço transicional, construído entre o bebê e a mãe, e indispensável para separá-los psiquicamente.

Se o conceito winnicottiano de espaço transicional encontra o de espaço lúdico, de Pavlovsky (1980), como aquele terreno psíquico construído entre camaradas nas brincadeiras da infância ou a zona abstrata onde poderemos nos refugiar e nos mantermos saudáveis a cada intempérie da vida e da morte, ambos os conceitos desembocam novamente na imagem da Defesas da poesia, de Shelley, quando expressa o poético como "nossos refrigérios neste lado da sepultura - e que seriam nossas aspirações para além dela..." (SHELLEY, 2002, p. 194).

A poesia, fundamental no começo, será depois aparentemente soterrada como um adolescente para de desenhar como se isso jamais tivesse sido importante, mas toda análise e relação humana a (re) encontrará onde esteve presente ou faltou e isso dá sentido ao nosso trabalho e o enriquece. Afinal, não somos arqueólogos tão somente de dores e traumas, mas também da poesia e da beleza: "A poesia, nesses sistemas de pensamento, está escondida pela acumulação de fatos e de processos de cálculo" (SHELLEY, 2002, p. 193).

Shelley imagina um mundo bárbaro e ainda menos civilizado se os grandes poetas não tivessem existido. Em nível individual ou diádico (afetivo), assim imaginamos o adulto se a poesia entre ele criança e a mãe tenha porventura escasseado:

Não fosse a intervenção desses estímulos, o espírito humano nunca poderia ter despertado para a invenção das ciências mais vulgares e para aquelas aplicações do raciocínio analítico às condutas reprováveis da sociedade que agora tenta enaltecer acima da expressão direta da própria faculdade inventiva e criadora (SHELLEY, 2002, p. 193).

O pensamento de Shelley, em prol do afeto e da poesia, impressiona tanto que parece compor uma profecia da contemporaneidade e aqui tentamos desenvolver, a partir dele, uma analogia. Se, para Shelley, as trevas evocavam a pouca poesia da Idade Média, transferimos essas "trevas" para a nossa época, reconhecida como narcisista e pouco poética, propícia às patologias do vazio (COSTA, 2010).

Os antídotos soam mais vagos e poéticos do que medicação e teorias: "O cultivo da poesia jamais deve ser tão desejável quanto em períodos em que, em virtude de um excesso do princípio egoístico e calculista, a acumulação dos materiais da vida exterior excede a capacidade de incorporá-los a leis internas da natureza humana. O corpo tornou-se desde então por demais desajeitado para aquilo que o anima", escreveu Shelley há dois séculos como se fosse hoje (SHELLEY, 2002, p. 194).

Para o teórico da literatura A. Berardinelli (2007) que, a partir de agora, tomamos igualmente como referência importante, trata-se de uma linguagem (a poética) que escorrega ou suspende o significado. Para nós, é como a expressão verbal da criança pequena, tartamudeando ou criando neologismos para se apropriar das palavras. Ou a dos loucos, ultrapassando barreiras (do significado novamente), o que também nos evoca a preocupação materna primária, preconizada pelo mesmo Winnicott (1956/1969) como o estado de uma "loucura normal", apresentado pela mãe desde o final da gestação.

Trata-se, no entanto, de uma linguagem plena de vitalidade, provavelmente a mais plena: "O trabalho do escritor analítico, - e, aqui, acrescentamos, o trabalho dos pais, do poeta e do analista - como o do escritor de poesia ou de ficção, começa e termina com esse esforço de criação na linguagem da experiência de vitalidade humana" (OGDEN, 2013, p. 23).

Parodiando-o, seria como um "estado de linguagem normal" e tão normal quanto a loucura dos poetas, da poesia e devaneios de uma criança que aprende a falar, fazendo-o poeticamente no mais das vezes ao provocar o estranhamento de uma linguagem mais em estado de vida do que de palavra. Substantiva. Não estaria aqui um recurso importante de convocação à alteridade para atingir a própria constituição como sujeito? E como fazê-lo sem poesia?

Não encontramos a resposta absoluta - só a poética, especialmente em torno de campos tão justapostos como a poesia e a psicanálise, mais afeitos, como vimos, a conviver com a "inapreensibilidade" do inconsciente (LISBÔA, 2017), a implicar-se do que a explicar (CICCONE, 2007), a abrir do que a fechar, a perguntar do que a responder: "Ora, a interpretação psicanalítica é, por excelência, interpretação dos desvios significantes, comparáveis às formas de 'audácia linguística' (linguistic audacity) que caracterizam a poesia" (RICOEUR, 2010, p. 94).

Berardinelli retoma a teoria literária, referindo-se à poesia ou, mais precisamente, à sua linguagem como uma arte pela arte, o que a afastaria radicalmente da prosa, mais concreta, utilitária, pragmática.

Outro aspecto nos parece de suma importância nas relações entre psicanálise e poesia: os romanos chamavam o poeta de vate, ou seja, ele era visto como visionário e profeta. Se o sentido nasceu de uma grande admiração pelo poeta, ele se torna outro em nossas reflexões, paradoxalmente mais científico, amparado pela psicanálise: se pensamos que a linguagem poética é mais arcaica, portanto, próxima do inconsciente, ela se localizaria num lugar onde presente, passado e futuro convivem. Como o sonho. Como analisar sem voltar a ele?

Em comum entre as linguagens poética e analítica a construção de símbolos e sentidos (ambas são meticulosas), assim como o interesse em desfazer recalcamentos ("reinventar uma linguagem esquecida"). Ambas lutam contra a pobreza dessa linguagem e, para tal, utilizam o filtro do pré-consciente (GUILLAUMIN, 1998).

Donald Meltzer (1994) enfatiza a qualidade primordial e a centralidade do sentido estético, começando com o bebê ao seio, sendo aquilo que separa a atividade "protomental" (nominativa, quantitativa, factual do ponto de vista externo) da experiência verdadeiramente mental, simbólica e qualitativa, carregada de significado e imaginação (MELTZER; WILLIAMS, 1994, p. 247).

Agora deixamos a metalinguagem ou a metapsicologia e vamos ao relato da clínica. Vale antes relembrar que Freud, ao preconizar a associação livre, estava sugerindo que o paradoxo atenção-distração, o mesmo que é necessário para a poesia, também o era para a análise como um descuido necessário para chegar ao verdadeiro conhecimento: "Pois a questão é saber o que instrui de modo mais eficaz: se a imagem fictícia da poesia ou o ensino metódico da filosofia" (SIDNEY, 2002, p. 105).

 

Antônia

Antônia é uma menina graciosa de sete anos, que já chegou à primeira consulta catalogada com o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade em comorbidade com Transtorno de Oposição Desafiante. Ou seja, crivada de uma linguagem muito assertiva e pouco poética.

De fato, Antônia vagava de desatenção em desatenção, sempre atenta a captar o propósito de seu interlocutor para se opor a ele e, em seguida, distrair-se. Era a sua forma expressiva de ser, de preservar-se: o seu teatro interior, externando a vida que poderia ter sido e ainda não era. Adorava fazer combinações para em seguida descumprir, "sempre do contra", segundo a expressão de seus pais, ou "uma criança difícil", segundo a expressão da escola, o que era revivido transferencialmente na relação com seu analista. Difícil era a contratransferência...

A mãe de Antônia, uma cientista reconhecida, apresentava dificuldades importantes de comunicação com a filha, atribuindo-as todas à "culpa" de seu marido, descrito como "impulsivo, verbalmente violento, ameaçador, ausente e irresponsável".

O marido "ausente" se fazia presente no tratamento e, nas consultas com os pais, devolvia as dificuldades da filha para a esposa, descrita como "controladora e manipuladora", incapaz de abrir espaços para a sua verdadeira e efetiva participação, mas também não era bem assim que a sentíamos.

Em situações como essa, relativamente frequentes na clínica da infância, eivada de conflitos da parentalidade e da conjugalidade, costumo acolher as queixas, postar-me como mediador e dar razão ao casal, mostrando que sensações como aquelas não se excluem e, como costumava expressar Pirandello, todos os pontos de vista estão corretos.

Tais sensações costumam apontar para a coexistência de verdades ou o princípio do paradoxo. Aqui, sim, há comorbidade na dificuldade de integração e tolerância. A simples presença dessa distonia poderia, aliás, ajudar a entender a natureza do sintoma que traduziria uma oposição permanente do próprio casal parental desde suas respectivas histórias (no passado, portanto). Assim, no presente, faltaria mãe no pai e pai na mãe, no contexto de uma posição mutuamente destrutiva ou esquizoparanoide, pensamento dissociado de sentimento, dificuldade de estar a dois (e, depois, a três), prosa dissociada da poesia. Esse, talvez, fosse o principal conteúdo de uma interpretação (familiar) a ser realizada no seu devido tempo.

Com os pais de Antônia, ainda sem saber por que (aguardar mais o drama do que lançar a teoria?), optei por ouvir sem comentar (sem explicar), embora a pressão duplamente transferencial para assumir algum partido fosse grande. O tempo passava e eu não cedia a interpretar. Sentia, acolhia, mais próximo da poesia ou pelo menos à cata distraída de uma "função poética". Se os estudos da parentalidade sugerem mais reforço positivo do que interpretação, evocamos aqui a poesia (GUTFREIND, 2010).

Por outro lado, ao observarmos concretamente as funções parentais do casal, elas não pareciam carecer no que, ainda segundo Jakobson, atenderia às necessidades das diversas funções de uma linguagem. Como prosa, tudo funcionava. Afinal, recolhendo a dimensão verbal de suas expressões, havia nelas a apresentação constante de significados, a nomeação de limites ("diferença de gerações" de Houzel e "impopularidade" de Lebovici), cumprindo-se todos os demais itens da razão de dizer, salvo um: a função poética, comunicar por comunicar não importa o que, justamente a que mais nos interessava àquela época e interessa no momento.

Para os pais, havia sempre uma urgência de comunicação, de solução de problemas, de chegada à prosa denotativa. A iminência de dizer e encontrar significados, razão de ser importante de todo um lado da linguagem e até mesmo o seu propósito final ou justificativa para a sua própria existência. Mas onde estava a sombra do outro lado? A nuança? O estranhamento? A poesia, imprescindível para a prosa expressiva e para construção da subjetividade? A função poética, vista aqui como fundamental para a constituição do sujeito? Claro que estamos falando da subjetividade ou certa obscuridade presente nos paradoxos de uma vida mental verdadeira em razoável funcionamento.

No mesmo sentido, uma transferência difícil construía-se marcada pela necessidade de atender à demanda (urgente) de respostas (em prosa), a mesma que a medicação prescrita anteriormente não fora suficiente para trazer (por calar em demasia?) e trouxeram pais ruidosos (opositores?) ao analista em busca de respostas ou de um silêncio continente que eu tampouco oferecia até o momento.

O resultado era uma contratransferência igualmente ruidosa, complicada pela frustração de atendê-los no desejo de uma relação mais pacífica (banal, prosaica) com a filha. Retomando um provérbio, falávamos muito, dizíamos pouco.

Este escrito nasceu ali, porque senti uma necessidade muito grande de retomar a poesia em pleno momento de uma ebulição pessoal um pouco menos criativa em torno de uma prosa mais utilitária (era um artigo para uma Revista). E foi assim que retomei os textos de Jakobson, Berardinelli, Sidney e Shelley que agora mencionamos.

Poesias à parte ou inteiramente presentes, passei a responder com mais silêncio às demandas. Empático, porém silencioso. Talvez poético ou, pelo menos, em busca da poesia que me faltava no momento, mas, um dia, não faltara como um dia, nem que em ínfima intensidade, não faltara a eles. Às autocríticas ou às críticas dirigidas pelos pais a mim, por vezes intensas, reagi com acolhida e elogios, cavados nas entrelinhas como habitualmente no trabalho direto com a parentalidade, mesmo dentro do enquadre analítico (GUTFREIND, 2010). De certa forma, eu também me opunha em intervenções como esta:

- Tem algo que ainda não consegui entender. Vocês fazem tudo com tanta atenção e carinho e, mesmo assim, Antônia não se acalma. Para mim, há um grande mistério a ser desvendado.
- Talvez precisássemos não fazer - disse a mãe.

O pai consentiu.

- Não fazer também é importante - eu disse.

Ocorreu-me aqui (a posteriori de lá) uma frase extraída do próprio artigo do Berardinelli: "Tudo era possível em poesia, exceto dizer alguma coisa" (p. 16).

Nesse sentido, se a poesia ainda seria recuperada (a minha na deles, a deles na minha), o mistério propriamente dito jamais seria desvendado. Ocorreu-me igualmente pensar na capacidade negativa do W. R. Bion (1970/2006) e a possibilidade de suportar não saber. Não saber é próprio da poesia (a mais enigmática das literaturas, mais próxima da música, do sentimento, do analógico), e suportá-lo pode significar não recorrer à primeira prosa messiânica que se apresente disponível. Não nos parece à toa que esse conceito, hoje um tanto científico, fora extraído de um poeta.

Ocorreu-me também evocar o paradoxo da psicanálise entre centrar as suas atividades na prosa da interpretação que, no entanto, costuma ser preparada por toda a poesia que a antecede. No mesmo sentido, recorri a um novo trecho de nosso teórico utilizado como referência ao afirmar: "As fronteiras da Literatura, entendida como máquina textual que devora a si mesma, dilatavam-se enormemente, impedindo que a ideia e a essência literária entrassem de fato em atrito com algo de diferente e estranho" (BION, 1970/2006, p. 16).

Berardinelli, como um teórico da literatura, mostra-se interessado em criticar a tendência contemporânea de privilegiar ensaios e outros textos teóricos, à poesia e à ficção, verdadeiras fontes, ainda segundo ele, do encontro consigo mesmo e com o outro. Haveria aqui uma analogia de alguma psicanálise contemporânea escrita e praticada mais à custa de sua metapsicologia do que de seu material clínico? Mais dinâmica e menos dramática? (POLITZER, 1998) Mais de vinhetas e menos de historiais? (BIRMAN, 1996).

Em nossa tradução, estendemos a ideia ao mesmo fenômeno que se passa no encontro verdadeiro entre a mãe e o bebê (ou entre o psicanalista e a criança, na transferência), precisamente quando se abre o espaço para uma linguagem poética, nada utilitária, toda lúdica, densa e leva e tensa de se defrontar com o diferente e o estranho do primeiro capítulo de uma vida em busca de (inter) subjetividade e autonomia.

Todavia, todo encontro opõe-se à repetição desde que a poesia inaugure o novo e detenha compulsão e pulsão de morte e, quando acontece, ele é novo e suficiente para relançar o indivíduo no interesse pelo seu próprio funcionamento mental (DIATKINE, 1994):

"Não era aparição,
era isto: uma travessia
ao longo do cenário
em que era aplaudido
efusivamente
pela consciência
dentro e fora.
Também pudera,
desviara
de uma fera,
encarara a poesia
e agora tivera a coragem
de interferir no rumo
de uma narrativa."

A propósito, recordamos a noção de "transparência psíquica", desenvolvida por M. Bydlowski (1997) em que o nascimento de um bebê afrouxaria a barreira pré-consciente, promovendo o encontro (ou reencontro) com o bebê (inconsciente, não representado) que há dentro da mãe. E, claro, o retorno do estranho, do mistério - o unheimliche (FREUD, 1919) como o infans, o arcaico, sem palavras, a quase poesia tão somente à espera de quem a ratifique, encontrando letras para a melodia.

Na transferência, no contexto do encontro entre o analista e o paciente, a mesma transparência psíquica se (re) faria presente. Dessa forma - e a expressão "forma" aqui se aplica -, todo poeta em seus devaneios não estaria em estado de transparência psíquica? E todo analista, em sua atenção flutuante, não se encontraria em estado análogo?

"No caminho lutamos, lutaremos
pela expressão mais livre
de mares
terras
eu e outro - amores
mas, no fundo,
calaremos a nossa mais profunda
amargura da viagem: o que é mesmo
não tem linguagem"

 

Epílogo, mas poético

Antônia vem fazendo progressos que se abrem e chegam a - sem ironia - se opor a seus diagnósticos, hoje rarefeitos da prosa utilitária inicial de suas relações familiares. A medicação foi suspensa há seis meses a pedido da própria família e os diagnósticos iniciais estão enfraquecidos. Passados dois anos de seu tratamento, certo dia, em uma sessão com os pais, a mãe comentou que a filha permaneceu com o pai durante toda a tarde na piscina do clube.

Ela contou ainda que ficou sentada a um canto e precisou fazer muita "vista grossa" para os saltos que a filha dava em "risco iminente de estrebuchar-se" nas bordas molhadas e escorregadias. Semanas depois, pai e filha foram ao cinema pela primeira vez. A mãe comentou na ocasião:

- Ela voltou toda suja de um sundae que comeu. Ele é meio irresponsável e eu, mais ainda, de deixar. Não sou?

Aqui o nosso escrito entra em pane de possibilidades de ser compreendido conforme as suas intenções obviamente utilitárias. Afinal, já estamos no livro, é prosa, não poesia. Ele agora está escrito e imune a qualquer tonalidade (nuança, musicalidade) disponível na oralidade da leitura. Porque foi na melodia (poética) com que a mãe descreveu a cena de entrada do terceiro, e no riso que sucedeu ao relato, que estava, a nosso ver, o essencial. Seria como uma interpretação que valorizasse mais o melódico (WALLERSTEIN, 1988).

A linguagem dessa mãe agora já não significava. Já não tinha compromisso com o denotativo, com a concretude. Com a resposta. Com a objetividade. Com o fim do mistério. Chegava mesmo a propor uma pergunta ("Não sou?"). Havia finalmente resgatado alguma poesia (subjetiva, portanto) de seus próprios primórdios, se tornado poética, escorregadia, não referenciada. Com sentimento transfigurado (CROCE, 1967). Aberta. Música com ênfase no sentido melódico das palavras e não no das ideias ou mesmo das imagens. Musical como as mães. Ela, afinal, escolhia o vocábulo pejorativo "irresponsável", mas, prosodicamente, regozijava-se com ele. O que dizia, ao final, estranhava, e o seu conteúdo, por um momento estruturante, era o que menos importava.

Essa linguagem era agora capaz de separar-se do "fluxo das experiências cotidianas" e "maravilhar" e "admirar antes de compreender", segundo as reflexões do poeta Armindo Trevisan, a partir do esteta Bachelard (TREVISAN, 2016, p. 166, 167 e 177).

Essa linguagem, utilizada de "modo vivo" (OGDEN, 2013), sem a menor das intenções e, talvez justamente por isso, é preciosa para o encontro da mãe (e do pai) com seu bebê e, na transferência, para todo analista com a parte sempre assídua do bebê - o do próprio analista - presente em cada paciente, mesmo adulto. Sobretudo adulto.

Assim, toda sessão analítica seria, no que mais importa, a aparição de um momento poético no sentido de valorizar onde não se "junta coisa com coisa" em busca da verdadeira expressão.

Winnicott já havia localizado na arte (poesia) o espaço a ser construído na separação entre o bebê e a mãe. Com poesia, é possível partir (não ficar), mas com a mãe (a melodia da) por dentro, portanto, de certa forma (na forma), não ir embora:

"Chega tem hora que ri de dentro pra fora
Não fica nem vai embora é o estado de poesia".

Antônia agradeceu com o recolhimento da parte barulhenta de seu sintoma e expressou-se igualmente com afetos sem palavras, permitindo-nos expressar quase tudo isso como logo abaixo numa mistura de prosa e poesia ou prosa sustentada pela poesia:

Entre a melodia
e o silêncio
como costuma ser
a parte mais intensa
e escondida de um poema
e de uma análise.

Logo se lê que, mesmo fora dos domínios do capítulo, voltei na época, ainda que espremido pelo prazo de uma prosa dita científica, a escrever poesia. Coisas (positivas) de uma contratransferência como essa; afinal, o analista também reencontrava o melhor de seus primórdios.

E haveria ciência sem poesia?

Se uma análise bem-sucedida traz crescimento ao paciente e ao analista, pode-se dizer aqui com sobras que esse analista havia reencontrado a função poética de sua própria mãe. O que de mais precioso podemos pedir a uma cura?

Ou, perguntando de forma mais poética e afeita ao nosso conteúdo, parodiando uma cantiga popular brasileira:

"Como pode a psicanálise
viver fora da poesia?
Como pode a psicanálise
viver fora da poesia?

Como poderei analisar
sem a tua
sem a minha
sem a nossa poesia?"

 

 

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Artigo recebido em: 30/05/2018
Aprovado para publicação em: 26/06/2018

Endereço para correspondência
Celso Gutfreind
E-mail: celso.gut@terra.com.br

 

 

*Psiquiatra e psicanalista da infância, filiado à Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA), doutorado em Psicologia/ Université Paris 13 (Paris-Nord), escritor.

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