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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)

On-line version ISSN 1413-6295

Cad. psicanal. vol.41 no.40 Rio de Jeneiro Jan./June 2019

 

ARTIGOS

 

Sándor Ferenczi e a análise entre duas crianças

 

Sándor Ferenczi and the analysis between two children

 

 

Daniel Migliani Vitorello*

Universidade de São Paulo - USP - Brasil
Université Paris VII - França

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Trata-se de um artigo que aborda, através da noção de criança traumatizada de Ferenczi, a dissimetria entre analista e analisante e seus possíveis efeitos retraumatizantes. A partir do pressuposto que a hipocrisia do adulto pode se repetir na análise através da hipocrisia profissional, o objetivo do artigo é discutir que a situação analítica requer uma relação diferente daquilo que outrora fez adoecer.

Palavras-chave: Sándor Ferenczi, Clínica psicanalítica, Criança, Trauma, Autenticidade.


ABSTRACT

This article approaches the imbalance between analyst and analysand and its possible retraumatizing effects, taking into consideration Ferenczi's concept of the traumatized child. Assuming that the adult hypocrisy can be repeated in the analysis through the professional hypocrisy, the purpose of this article is to discuss that the analytical situation requires a different relation from the one that once made the analysand ill.

Keywords: Sándor Ferenczi, Psychoanalytic clinic, Child, Trauma, Authenticity.


 

 

Quem mente para quem?

Farto das repetições em que se encontra acorrentado, o paciente vem nos pedir para sair exatamente desse ciclo que o aprisiona. Não cabe mais pensar ser suficiente o uso da interpretação para que ele tome consciência e saia da repetição que sempre retorna, ainda mais quando o que se repete são as formas das primeiras relações que estabeleceu com o Outro. Como romper, portanto, com essa repetição? Como aponta Roustang (2000), se isso não ocorre apenas pelas palavras, ainda que por vezes eficazes, não dependeria, antes, de uma relação diferente? Ou seja, as palavras não seriam mais eficazes dentro de uma outra relação? Pois, caso contrário, não é a transferência, ela mesma, que faz repetir? Ou seja, quando se fala para um Outro não se corre o risco de repetir a mesma relação que o fez adoecer? E o que realmente faz adoecer?

Uma das maneiras de se compreender melhor essas questões é a partir da transferência que nos dá os recursos para (re)construir as bases da situação relacional e arcaica que constitui um sujeito. A transferência reinstaura as demandas inconscientes de uma imemorável relação, de modo a revelar, portanto, os complexos e os representantes psíquicos da cena fundamental infantil da relação da criança com o Outro. Mas fundamentalmente, ao reconduzir à situação arcaica inscrita nas bases dessa relação, uma das coisas que a transferência nos revela - e Ferenczi foi um dos mais sensíveis a isso -, é a extraordinária relação de poder que liga a criança a esse Outro autorizado a nomear a verdade do sujeito.

No entanto, como nomear a verdade desse sujeito se a linguagem, raiz do recalque originário, precipita uma falta de palavra que impede de dizer a verdade? Essa falta só poderá ser supostamente preenchida com uma mentira. Mentira que podemos chamar, psicanaliticamente, de fantasia. Trata-se, para Ferenczi (1928b/2011), "da estrutura fantasmática, automática e inconscientemente produzida" (p. 19) e que Freud chamava de realidade psíquica.

Ferenczi (1928b/2011) faz a exposição de um caso no qual um paciente tinha uma tendência para a mentira, de modo a induzir seu analista ao erro sobre alguns dados, no caso, de natureza financeira. Ocorre que, no decorrer da análise, certa vez o paciente faltou à sessão, sem mesmo mencionar posteriormente sua omissão. Ferenczi ao retomar o ocorrido, percebe juntamente com o paciente, que este não somente não se lembrava de sua falta, como também de todos os acontecimentos do dia em questão. Portanto, no momento em que Ferenczi obteve a prova irrefutável da sua tendência para a mentira, adquiriu também a convicção que o sintoma de "clivagem da personalidade, pelo menos nele, era apenas o sinal neurótico dessa tendência de caráter. Assim, nesse caso, o surgimento de provas de uma mentira tornou-se um evento que favoreceu a compreensão analítica" (FERENCZI, 1928b/2011, p. 18).

Nesse contexto, ele chega inclusive a propor que o "neurótico não pode ser considerado curado enquanto não renunciar ao prazer do fantasiar inconsciente, ou seja, à mentira inconsciente" (Id., ibid., p. 19). Portanto, Ferenczi constata, como já demonstra o caso relatado, que há uma mentira, mas que na mentira a verdade se mostra: a mentira levou à verdade da clivagem da personalidade. Mas também, trata-se de reconhecer, pelo menos neste momento, que o sujeito, impulsionado a inventar uma ficção na operação da fantasia, mente para si mesmo. Estamos no âmbito da constituição da fantasia à maneira freudiana.

A mentira já havia sido objeto de reflexão de Ferenczi em outros momentos. Para ele, qualquer mentira de criança são mentiras por necessidade, uma vez que é mais confortável ser franco e sincero. A seguinte imagem é usada por Ferenczi (1928b/2011): no início, tudo o que tem gosto bom é considerado pela criança como algo bom. Deve, então, aprender a considerar e sentir que algumas coisas que tem gosto bom são ruins. Descobre também que a obediência aos preceitos que demandam renúncias se transforma, por vezes, em fontes de satisfações extremas.

De modo mais contundente, no texto A adaptação da família à criança (1928a/2011), encontramos as seguintes ideias. Para ele, o ego, suscetível de adaptação, deve se adequar ao meio. No entanto, como os humanos também fazem parte desse meio, Ferenczi especifica algo que torna tal adaptação difícil: "o homem é o único ser vivo que mente" (p. 12).

As primeiras opiniões da criança se defrontam com uma série de opiniões diferentes. Assim, a sua vivência efetiva se opõe às ideias e aos ideais à sua volta, obrigando a criança a mentir. Ou seja, as crianças mentem em decorrência da relação com a moral. E nas palavras de Ferenczi (1928a/2011), encontramos

Podemos com segurança caracterizar qualquer mentira por necessidade; (...) O que designamos por nomes de bela sonoridade, como ideal, ideal de ego, superego, deve seu aparecimento a uma repressão deliberada de moções pulsionais reais, que cumpre, pois, demitir ao passo que os preceitos e os sentimentos morais, impostos pela educação, são enfatizados com uma insistência exagerada. Mesmo que os professores de ética e os teólogos da moral fiquem desolados, não podemos nos impedir de afirmar que mentira e moral têm algo a ver uma com a outra (p. 20).

Nesse sentido, a moral convoca a mentira como reposta e, da mesma forma, o que é a moral senão uma estrutura simbólica? E ainda, isso não remete ao que Lacan chamou de Outro? Pois, esse grande Outro descrito como o lugar da verdade, é também, como nos lembra Safouan (2013), o lugar da mentira, porquanto ele só permite ao sujeito o acesso aos significantes filtrados pelo desejo do Outro, como também, pela censura primária na qual se reconhecem os efeitos do recalque freudiano.

No entanto, caso seja possível esvaziar o Outro da estrutura, uma vez que, estando aquém e além, o simbólico nos convida a enxergar o encontro com o Outro pela via do transpessoal, para Ferenczi não é tão simples assim. Para ele há espaço para um encontro, por vezes traumático, entre uma criança e um adulto, já que este inevitavelmente vem encarnar o lugar do Outro. E sendo assim, se o humano é o único ser vivo que mente, uma outra pergunta começa a se esboçar: quem mente para quem? Ou seja, o Outro que impõe a mentira como resposta seria somente o Outro da estrutura?

Esta concepção que até agora mostramos, começa a vacilar, já que esse Outro que impõe a mentira como resposta, não é somente o Outro da estrutura, é também o outro semelhante. Desse modo, a responsabilidade dessa mentira, poderia ser simplesmente imputada ao sujeito devido a sua mentira inconsciente, ou ainda, devido a sua construção fantasmática?

Talvez fosse algo parecido que Ferenczi tinha em mente ao retomar a concepção de trauma e reabrir outras possibilidades para esses temas. Tal retorno implica não se tratar apenas de que o sujeito mente para si mesmo, mas que por vezes, é o outro que mente. Tal mudança imputa a falta no outro: "As histéricas não mentem" (FERENCZI, 1930/2011, p. 73).

E é neste ponto que a psicanálise separa Freud e Ferenczi. Mas não só, também é aqui que ela se divide. A partir daí, como escolher? Uma concepção inviabilizaria a outra? Onde enxergar a falta? Trata-se de imputar a falta ao sujeito na sua construção fantasmática ou ao outro primordial que acolheu mal? Quem convoca a mentira como resposta: o outro do traumatismo ou o Outro da estrutura?

 

Desmentido, hipocrisia e trauma

A partir do princípio de laissez-faire que culminou na análise pelo jogo, Ferenczi levou seus pacientes a adotarem um relaxamento muito mais profundo. Ou seja, enquanto Freud privilegiou o par rememoração-interpretação, Ferenczi privilegiou o par relação-regressão e o jogo compartilhado. Isso o fez perceber que quanto mais verdadeiramente livre era a associação, tanto as falas, quanto outras manifestações dos pacientes se tornavam cada vez mais ingênuas, isto é, infantis. Como ilustração desse princípio, o próprio Ferenczi nos relata um caso clínico: "Se, na situação analítica, o paciente sente-se ferido, decepcionado, abandonado, põe-se às vezes a brincar sozinho, como uma criança desesperada. Tem-se nitidamente a impressão de que o abandono acarreta uma clivagem da personalidade" (FERENCZI, 1931/2011, p. 87). Portanto, esses jogos o levaram a perceber também uma grave realidade, ou seja, os choques traumáticos da infância. Trata-se dos elementos de malevolência, de arrebatamento passional e de perversão aberta que "são, na maioria das vezes, consequências de um tratamento desprovido de tato, por parte do ambiente" (FERENCZI, 1931/2011, p. 85).

Ferenczi considera, no entanto, que o trauma se tornaria propriamente patogênico, devido à junção de alguns elementos a mais: o desmentido (Verleugnung) e a hipocrisia. Diz ele (1931/2011):

O pior é realmente a negação (Verleugnung), a afirmação de que não aconteceu nada, (...) é isso, sobretudo, o que torna o traumatismo patogênico. Tem-se mesmo a impressão de que esses choques graves são superados, sem amnésia nem sequelas neuróticas, se a mãe estiver presente, com toda a sua compreensão, sua ternura e, o que é mais raro, uma total sinceridade (p. 91).

Isso leva a perceber o que foi considerado essencial para Ferenczi na produção desse traumatismo, ou seja, o abandono devido "a insinceridade e a hipocrisia que o paciente deve ter frequentemente observado em seu ambiente, sob a forma de demonstração ou de presunção de amor, ao passo que dissimula as suas críticas a todos e, mais tarde, a si mesmo" (Id., ibid., p. 86).

Por vezes, há a denegação dos fatos, da realidade, dos sentimentos e dos atos. O resultado é uma imposição feita à criança de modo a obrigá-la a uma escolha impossível: ou se "contesta o dito parental onipotente respeitando a realidade percebida ou bem se submete ao dito mentiroso e nega a existência mesmo de seu sentimento, de sua sensação e do seu pensamento" (FLORENCE, 1987, p. 174). O efeito não pode ser outro a não ser rejeitar uma parte vivente de sua própria subjetividade. A discordância traumática do discurso, ou se quisermos, da linguagem, abala a posição subjetiva desejante "porque ela oblitera o prazer e o poder de pensar, ou seja, de desejar, e abre as vias aos recalcamentos, às torturas da culpabilidade e da angústia, fazendo do sujeito a presa da demanda do Outro e de sua violência impossível de denunciar" (Id., ibid., p. 175).

Nessa descrição, reconhece-se, portanto, o que Ferenczi (1931/2011) chamou de "autoclivagem narcísica" (p. 88). Ocorre que devido ao choque traumático e ao abandono, um primeiro mecanismo de defesa se produz, isto é, seu precário ego se divide em duas partes: uma "parte sensível, brutalmente destruída, e uma outra que, de certo modo, sabe tudo, mas nada sente" (p. 88). Tudo se passa como se uma parte de si mesmo se cindisse na forma de uma instância autoperceptiva para acudir a outra em ajuda. Esse comportamento ele chamou de "estado de alienação traumática infantil" (p. 90) que, segundo nossa hipótese, transformou-se na figura da criança traumatizada.

Independente dos nomes, esta criança não é mais somente a criança sexualmente seduzida ou abusada pelo adulto. É também, segundo Guyomard (2007), uma criança terrificada, domesticada, submetida à violência, aos abatimentos interiores, submissão inconsciente na qual a identificação ao agressor se repete sob a forma de identificação ao analista. Diz Ferenczi (1933/2011)

Os pais e os adultos deveriam aprender a reconhecer, como nós, analistas, por trás do amor de transferência, submissão ou adoração de nossos filhos, pacientes, alunos, o desejo nostálgico de libertação desse amor opressivo. Se ajudarmos a criança, o paciente ou o aluno a abandonar essa identificação e a defender-se dessa transferência tirânica, pode-se dizer que fomos bem-sucedidos (...) (p. 119).

Nesse sentido, ainda que se julgue mais ou menos verdadeira ora a hipótese do poder das fantasias ora a hipótese do poder do traumatismo na gênese da neurose, resta ao menos o fundamental que se repete na transferência: os efeitos da estrutura inicial que encontramos na base da relação arcaica na qual se constitui um sujeito. Ou seja, o trabalho de análise, com a regressão que provoca às demandas mais primordiais, "atualiza a relação de submissão às significações acusadas pelo Outro. A análise reconduz às fontes de autoridade, às fontes do que autoriza o sujeito a dizer e ao lugar umbilical de seu desejo" (FLORENCE, 1987, p. 175). Essa relação de poder não escapa, portanto, à hipótese da fantasia ou do traumatismo. Seja um Outro da estrutura, ou um outro que acolheu mal e provocou um traumatismo, ambos e cada qual à sua maneira, impõem a mentira como resposta e autorizam o que pode e o que não pode ser dito: "A neurose é fruto de uma mentira que não passa de uma falta de palavra, que só nasce pela falta de uma palavra, e é quase sempre uma mentira piedosa imposta pela hipocrisia geral e pela educação bem-pensante, ou seja, aquela que proíbe pensar" (MILLOT, 2001, p. 16).

O que insiste, portanto, é esta relação de poder que se repete sobre o infans. Ou seja, ainda que se resolva escolher entre o outro do traumatismo e o Outro da estrutura, o que insiste é a relação de dominação que não escapa entre a criança e o adulto ou entre o infans e sua submissão ao enigma potencialmente traumático do desejo do Outro. Portanto, reconhece-se que se trata ao menos de uma inevitável relação de poder, marcada por uma hipocrisia, que está na base do trauma relacional. Trauma que condiciona o sujeito e que se inscreve na memória e na história que só pode ser aquela entre a criança e o adulto, ainda que este último seja apenas mais um termo de uma série maior, e cuja estrutura seja o Outro. Diz Ferenczi (1933/2011) "a situação analítica, essa fria reserva, a hipocrisia profissional e a antipatia a respeito do paciente que se dissimula por trás dela, e que o doente sente com todos os seus membros, não difere essencialmente do estado de coisas que outrora, ou seja, na infância, o fez adoecer" (p. 114).

Ora, se a análise atualiza a relação de submissão às significações acusadas pelo Outro, tudo está em lugar então, pela transferência mesmo, para que uma situação potencial de exercício de poder se repita com seus efeitos iatrogênicos porquê retraumatizantes. A partir daí, o que dizer de uma dessemelhança e disparidade entre analista e analisante? Como escapar dessa dissimetria, permitir a associação livre e autorizar realmente o sujeito a dizer? Ou, como dizia Ferenczi, permitir o "solta-lhes a língua?" (1933/2011, p. 121). Seria possível não repetir essa relação de poder através das posições outrora do adulto e da criança e agora do analista e do analisante? Talvez não, pois se o analista dirige o tratamento por si só se instala uma relação de poder. Mas, e quanto à hipocrisia profissional? Como não deixar que ela reproduza a hipocrisia do adulto? Ou seja, qual funcionamento psíquico deve o analista adotar para estar a serviço da liberdade do paciente?

Colocar o método da psicanálise em prática e possibilitar o poder falar - não obviamente o absoluto, a verdade da fala, mas as condições para uma fala possível que não estavam lá antes - talvez tenha sido uma das últimas lições de Ferenczi. Ele levou esses questionamentos as suas últimas consequências, de modo que com ele podemos perguntar se não seria antes com duas crianças que se faz uma análise.

 

Autenticidade do analista

Da dissimetria entre o adulto e a criança que se reconhece repetir-se na análise, Ferenczi enxergou a figura da criança traumatizada. E é sobre esta criança que ele insistiu e recebia em seu consultório mesmo quando analisava um adulto. Nesse sentido, se a hipocrisia profissional da situação analítica não difere daquilo que outrora fez adoecer, esta criança que não cessa de ir no encalço do adulto, talvez requeira, do lado do analista, na sua escuta e na condução da análise, alguma coisa de autêntico. Mais ainda, o que se requer é uma relação diferencial. Ao retomar esse tema no Diário clínico e que se tornou uma constante no final de suas pesquisas, diz Ferenczi (1932/1990) "Os pacientes sentem o que há de hipócrita no comportamento do analista, descobrem-no a partir de centenas de pequenos indícios. (...) O remédio, mesmo que as coisas tenham 'evoluído' até tal ponto, é a 'contrição' autêntica do analista" (p. 247).

Portanto, parece existir uma condição para a análise que aponta para a autenticidade do analista, de modo que a partir daí a pergunta que se coloca é a seguinte: o que entender por autêntico, ou mais exatamente, por autenticidade do analista?

Ao se referir a uma "metapsicologia da técnica", Ferenczi (1928c/2011) chama a atenção para o fato de o processo de cura consistir em o paciente colocar o analista no lugar do pai, numa espécie de superego analítico. Assim, "uma verdadeira análise de caráter deve pôr de lado, pelo menos passageiramente, toda espécie de superego, inclusive a do analista" (p. 40). Por outro lado, importante notar a partir daí e no desdobrar da obra ferencziana, todo o seu esforço em livrar o lugar do analista da figura de um pai superegoico, a começar pela sua própria relação transferencial com Freud.

Na passagem da primeira infância para a civilização e através da relação com o Outro, a criança, por amor aos pais, adapta-se a esse novo e difícil código. Mas ela consegue isso através de um modo particular que Ferenczi (1928a/2011) ilustra com um caso. Um de seus pacientes, enquanto apanhava, pensava: "como será bom quando eu for pai e tiver que corrigir meu filho". Para ele, "tal identificação significa uma mudança em parte da personalidade" (p. 13), como também, uma internalização da autoridade que, por sua vez, desemboca na constituição do superego. É nesse sentido que uma análise deveria levar o paciente a "desembaraçar-se de toda espécie de superego" (FERENCZI, 1928c/2011, p. 42), mais especificamente, contra aquela parte que se tornou inconsciente.

Mas não só; em outro momento, Ferenczi (1932/1990) aponta para outro efeito da análise

A análise fornece às pessoas, aliás, bastante inibidas, cuja autoconfiança e potência estão perturbadas, chegar sem qualquer dificuldade a esses sentimentos de grandeza que compensam suas capacidades insuficientes de amar. A análise desse estado conduz, por uma desilusão salutar a seu próprio respeito, ao despertar de um verdadeiro interesse pelos outros. Assim, uma vez vencido o narcisismo, não tardamos em adquirir essa simpatia e esse amor pelos seres humanos, sem os quais a análise é apenas um processo de corte prolongado (p. 241-242).

Assim, se somente aquela "espécie de desconstrução do superego pode levar a uma cura radical" (FERENCZI, 1928c/2011, p. 40), por outro lado, encontramos também outra condição em termos da análise do analista: superar o narcisismo. Condição que permitiria um verdadeiro encontro e interesse pela alteridade. Essa concepção foi detalhadamente trabalhada no texto Elasticidade da técnica psicanalítica (1928c/2011).

Ferenczi, ao longo desse texto, lista diversas tendências que se não fossem no mínimo controladas por parte do analista, funcionariam como resistência dele próprio para o trabalho de análise. Essas tendências são, por exemplo, a falsa modéstia, não limites ao saber, egoísmo, onipotência e onisciência. Diz ele

A modéstia do analista não é, portanto, uma atitude aprendida, mas a expressão da aceitação dos limites do nosso saber. Assinale-se, aliás, que talvez seja esse o ponto onde, com a ajuda da alavanca psicanalítica, começa a realizar-se a mudança na interior atitude do médico. Compara-se a nossa regra de 'sentir com' à presunção com que o médico onisciente e onipotente tinha até agora no hábito de enfrentar o paciente (FERENCZI, 1928c/2011, p. 36).

Mais ainda, a posição do analista exige, por fim, o rigoroso controle do seu próprio narcisismo. Ou seja, apesar da divisão que ele faz dessas tendências egoicas e de colocá-las em paralelo, entendemos que todas elas podem ser postas sob a égide de um único nome: o narcisismo.

Ora, se para Ferenczi a única base confiável para uma boa técnica analítica é a análise terminada do analista, e uma vez que este final de análise corresponde, na época, à assunção espontânea do tato psicológico como resolução da equação pessoal, pode-se supor que isso se conquista com esta espécie de superação do narcisismo e desconstrução do superego, enquanto condição para ocupar a posição do analista. Por sua vez e avançando no texto, a análise possibilitaria ainda outra coisa

A motilidade livre da libido, após uma análise terminada, permite, em compensação, deixar governar, se necessário, o autoconhecimento e o autocontrole analíticos, mas sem ser impedido por outro lado, de maneira nenhuma, de desfrutar simplesmente a vida. O resultado ideal de uma análise terminada é, pois, precisamente, essa elasticidade que a técnica exige também do psiquiatra (Id., ibid., p. 40).

Essa motilidade livre da libido, ou se quisermos, essa elasticidade inclusive perante a vida e que a técnica também exige, parece ser uma constante em sua obra quando ele se refere aos efeitos esperados de uma análise terminada. Em outro momento, Ferenczi (1928b/2011) já havia se expressado nesses termos, quando dizia ser necessário, a respeito da análise, "que tudo volte a ser fluido, por assim dizer, para que em seguida, a partir desse caos passageiro, uma nova personalidade mais bem adaptada possa constituir-se em condições mais favoráveis" (p. 20). Trata-se, para ele, da "dissolução da estrutura cristalizada de um caráter", que se constituiu através de identificações, "para uma nova estrutura certamente mais adequada" (p. 21). Nesse sentido, a dissolução dessa estrutura cristalizada não passaria também pela desconstrução do superego e pela superação do narcisismo? Que permitiria, por sua vez, a motilidade livre da libido? Diz Ferenczi (1932/1990) "expresso na linguagem da teoria da libido, seria possível dizer, portanto, que é necessário chegar ao estabelecimento de uma potência realmente completa, móvel em relação a todos, se se quer terminar análises" (p. 172).

Nossa hipótese é que essa superação do narcisismo e essa desconstrução do superego que, por último, trata-se de uma dissolução das identificações narcísicas, é uma das exigências que permitirá a assunção de algo mais autêntico enquanto condição para a posição do analista. Condição que permitiria, ainda, um verdadeiro encontro e interesse pela alteridade. Enfim, este ser, desembaraçado do seu narcisismo e do seu superego, seria, portanto, autêntico. Mais ainda, a criança autêntica do analista, uma vez que reconhecer a criança do adulto significa reconhecê-la presente no analista também. Ou seja, porquanto um analista é fruto de sua análise, após o percurso de uma, trata-se de encontrar a criança: "Grattez l'adulte et vous y trouverez l'enfant" (1909/2011, p. 111). Mas realmente, não mais aquela tomada por um "sentimento de inautenticidade" (KUPERMANN, 2011, p. 330), mas, como dito, a criança autêntica, isto é, aquela que poderia ter sido, mas não foi, aquela que carrega uma potência, como ficará mais claro adiante.

Nesse sentido, podemos entender a criança traumatizada enquanto fruto de uma hipocrisia que precisa ser atravessada para que se encontre, na análise, uma autenticidade perdida. É como se a criança, ao se destituir, por exemplo, em nome do agressor e sua hipocrisia, necessitasse se reconquistar através do trabalho analítico. Podemos ilustrar essa criança autêntica que operaria no analista, com uma outra, ou seja, a criança que denunciou o rei do conto de Hans Christian Andersen, As novas roupas do imperador.

 

Entre duas crianças as condições para a associação livre

Crítica à mentira e à vaidade, este conto não deixa de ser também uma crítica ao adulto submetido às mascaras do narcisismo e aos imperativos superegoicos. Mas fundamentalmente é uma criança que desmascara a cena. O lugar da verdade provém da criança não corrompida pela hipocrisia, livre do falatório e, portanto, livre para poder falar uma linguagem autêntica.

Esta criança, única em sua autenticidade, denuncia os embustes da hipocrisia e através dela, outrem pode falar e denunciar, também, a hipocrisia dominante. Como não associar aqui, que a raiz do traumatismo psíquico é precipitada por uma falta de palavra, pela negação dos fatos e dos sentimentos, mas também pelo desmentido impossível de denunciar? A criança traumatizada não é aquela que por não poder contestar a onipotência do dito parental se submete ao dito mentiroso negando mesmo os seus sentimentos, as suas sensações e a realidade percebida? Presa da demanda do Outro e de sua violência impossível de denunciar, ela se cala. "Os pacientes são como crianças, não se atrevem a contradizer" (FERENCZI, 1932/2011, p. 257).

Ler o Diário clínico é perceber, então, que Ferenczi tenta, a todo custo, dissipar o adulto do analista para, além de poder emergir sua própria criança, poder se aproximar, de modo inofensivo, da criança que permanece no paciente. Mais ainda, trata-se de possibilitar uma verdadeira associação livre cuja condição é o encontro entre duas crianças. Diz Ferenczi "nós, psicanalistas, também consideramos, como tenho dito com frequência (...) a situação infantil muito mais - e demais - do nosso ponto de vista de adulto, e esquecemos a autoplasticidade da infância e a natureza semelhante ao sonho de toda a sua existência psíquica" (FERENCZI, 1932/1990, p. 256-257). E para entendermos melhor a citação acima, lançamos mão de algumas notas que Ferenczi nos apresenta no decorrer do seu Diário clínico, a começar pela nota de 17 de agosto de 1932, na qual ele relata um pequeno fragmento do caso G.

No referido fragmento, Ferenczi escreve que, em determinada sessão, tentou levar a paciente, com o auxílio da associação livre, a confessar os seus sentimentos inconscientes em relação ao seu pai. Ocorre que este, abandonado pela esposa, voltou-se para a filha "com solicitações afetivas. Tornaram-se amigos" (p. 252). No entanto, quando ela começou a ter relações de amizades marcadas por algum erotismo com rapazes da sua idade, o pai lhe fez graves advertências para que ela não se tornasse alguém como a sua mãe. E nesse momento da associação, Ferenczi faz a seguinte observação "No fundo era um casamento feliz entre você e o seu pai" (p. 252).

Ocorre que no dia seguinte, Ferenczi fica sabendo que a paciente tinha passado todo o dia numa depressão profunda e desesperada com o seu analista

Se também ele (eu) não me compreende, o que é que posso realmente esperar? Também ele chama a isso um casamento feliz, quer dizer, algo que eu teria desejado. Em lugar de ver que se pude, como criança, querer algo de semelhante em imaginação, nada estava mais longe de mim do que a ideia dessa vontade ou desse desejo realmente realizados (FERENCZI, 1932/1990, p. 253).

Ferenczi relata, ainda, os sonhos da paciente ocorridos na noite seguinte à sessão, sonhos que, para ele, foram característicos: "(1) analiso-a, mas estou deitado ao seu lado na cama. (2) O Dr. Brill analisa-a, debruça-se sobre ela, beija-a: pela primeira vez em sua vida ela tem um início de orgasmo após o beijo. Despertar súbito, sem conclusão do orgasmo" (FERENCZI, 1932/1990, p. 253). A partir daí, uma das interpretações abstraídas por Ferenczi, foi que sua afirmação, na sessão passada, mostrava que ele não havia entendido os sentimentos de sua paciente de um modo diferente ou melhor do que o pai dela. E, nesses termos, Ferenczi admite "preso às minhas hipóteses teóricas, eu tinha suposto, de maneira superficial e insensata, a forma de sentir de uma pessoa adulta e sexualmente madura onde, admissivelmente, só havia fantasias eróticas infantis irrealistas" (p. 243).

Ora, se as condições da análise não possibilitaram outra coisa senão a repetição do passado, isto é, se a mesma confusão de língua entre a paixão do adulto e a ternura da criança se repetiu, os ensinamentos extraídos por Ferenczi se tornam, para nós, proveitosos

(1) Que nós, analistas, projetamos nas crianças Deus sabe que parte de nossas teorias sexuais, mas não menos nos nossos pacientes na questão da transferência; não chegamos a apreender que os pacientes, embora adultos, tenham permanecido realmente crianças pequenas, que querem apenas brincar com as coisas, que mesmo na transferência estão assustados pela realidade, mas nada dizem com medo de nós e, para nos agradar, comportam-se como se estivessem perdidos de amor por nós; tudo isso, em grande parte, porque em nós, analistas, existem essas representações antecipadas ou mesmo cobiças inconscientes. (2) Não diferenciamos como convém as veleidades eróticas imaginárias e lúdicas das crianças (e, a esse respeito, comportamo-nos um pouco como o pai de B. que, seduzido pelo jogo sexual da filha, a violou) (Id., ibid., p. 253-254).

Mas fundamentalmente, para Ferenczi, o que está em jogo, para além da dimensão passional e para além dessa espécie de falta de compreensão, são os efeitos que esse tipo de relação traz para a análise. Ou seja, isso conduz a um "encalhe" (p. 254) que impede, por sua vez e como acabamos de ver no fragmento relatado, a associação livre. Encalhe no qual o analista interpreta como sendo a resistência do analisante ao invés de buscar o remédio alhures.

Nesse sentido, como diminuir a potencialidade, presente na dissimetria entre analista e analisante, de repetir a mesma confusão de língua entre um adulto e uma criança?

Ao relatar outro fragmento e de uma outra paciente, o caso B., Ferenczi (1932/1990) nos conta que em um determinado momento esta paciente começou, por si só, a dedicar-se à associação livre. Perguntando-se o que havia mudado para que ela se sentisse à altura dessa tarefa, a própria paciente lhe responde: "Neste meio tempo, a minha confiança em você aumentou de tal modo que, por esse fato, tornei-me capaz disso [de associar]" (p. 239). Confiança que, segundo Ferenczi, é plenamente justificada. Pois, apoiando-se nas regras fundamentais da Psicanálise, ele confessa que realmente, até um determinado momento, portava-se em relação à B. com "excessiva frieza" (p. 239). Ora, esta frieza que Ferenczi associa, em diversos momentos, com a hipocrisia profissional, ele não deixa, ao mesmo tempo, de associar com a hipocrisia do adulto

A confissão recíproca de seus próprios 'pecados', ou seja, uma sinceridade feita de ingenuidade pueril no lugar do querer ser superior e bom dos adultos (hipocrisia e fanatismo) confere à criança e ao analisando esse apaziguamento: "não é ele quem é ruim ou louco, quando dá livre curso a exigências pulsionais naturais, mas são os adultos que são desonestos e cegos" (FERENCZI, 1932/1990, p. 91-92).

E referindo-se à análise mútua, Ferenczi (1932/1990) mostra, finalmente, as condições para se adquirir essa confiança e permitir uma associação livre dos ingredientes da hipocrisia. Segundo ele, em determinados momentos, a análise representa, tanto de uma parte como de outra, a renúncia completa a todo constrangimento e a toda autoridade, "a impressão que se tem é a de duas crianças igualmente assustadas que trocam suas experiências que, em consequência de um mesmo destino, se compreendem e buscam instintivamente tranquilizar-se" (p. 91). A partir daí e da consciência dessa comunidade de destino, "os parceiros se apresentam então como perfeitamente inofensivos, e em quem, portanto, se pode confiar com toda tranquilidade" (p. 91).

Por um lado, trata-se de uma relação inofensiva por que não mediada pela paixão do adulto, como foi no caso da paciente G. Por outro, se a frieza do adulto persiste na análise, produz-se uma espécie de revolta e distanciamento para com o analista cuja contrapartida é o impedimento da associação livre. Ou seja, a frieza, o distanciamento e a consequente revolta contra o analista, faz com que o paciente coloque um pedaço do superego no lugar da potência exterior. Mecanismo no qual a vingança contra a autoridade de cujas mãos são arrancadas as armas, encontra seu objetivo: "cumprir seu dever e obedecer, observar-se e controlar-se, parecem, apesar de tudo, mais suportáveis do que o fato de ser comandado por outros" (p. 91).

Portanto, como associar livremente sob essa vigilância? O efeito não pode ser outro senão a paralisia da associação. Quanto ao antídoto, Ferenczi nos mostra, outra vez, onde encontrar: "após a decepção sentida com relação aos pais, professores e outros heróis, as crianças ligam-se entre si e estabelecem vínculos de amizade" (p. 91). A criança traumatizada e desconfiada do adulto encontraria em outra criança uma confiança possível? Se assim for, a análise acontece longe do olhar de gente grande.

Nesse sentido, Ferenczi convidou (1932/1990) - no fim da sua obra, é verdade - todos os analistas a superarem as armadilhas, por vezes imaginárias, de ocupar na transferência o papel paterno ou materno que determinam, na história de cada um, as satisfações ou as frustrações. O primeiro, caracterizado pela técnica ativa, era sádico. O segundo, caracterizado pelo princípio de relaxamento era, por vezes, masoquista. Ferenczi insistiu, então, no "comportamento natural do analista" (p. 35), sem planos pré-concebidos, que visava preservar uma mobilidade e uma liberdade no jogo transferencial a fim de constituir, tanto o "clima mais adequado e mais favorável à situação analítica" (p. 32), quanto a oferecer "por si mesmo pontos de ataque para a resistência" (p. 35).

Ora, como não enxergar aí uma perspectiva da autenticidade? Como não enxergar a tentativa de dissipar as perigosas modalidades de respostas, sejam elas maternas ou paternas? Como apontou Granoff (2001), o analista não deveria se preocupar em responder "mais ou menos bem" às satisfações demandadas pelo paciente, mas de reconhecer, ou não, a presença de uma criança na sessão. Ora, responder "mais ou menos bem" significa responder ou pela via da frustração, caracterizada pela função paterna, ou pela via da satisfação, cujo paradigma é a função materna.

Portanto, é correr o risco de atender demandas cada vez menos satisfeitas pela gratificação, ou cair ainda na ilusória exigência da renúncia impossível do imperativo da frustração. Talvez seja necessário responder de outro lugar, através da relação de duas crianças que se ligam entre si e estabelecem outro tipo de vínculo. Relação marcada não pelos polos paternos ou maternos, ou ainda, pela potencial confusão de língua entre um adulto e uma criança, mas a partir de uma relação que perpassa o infantil e na qual o diálogo de inconscientes possa acontecer.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 17/01/2019
Aprovado para publicação em: 06/05/2019

Endereço para correspondência
Daniel Migliani Vitorello
E-mail: danielvitorello@yahoo.com.br

 

 

*Psicanalista. Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo (USP) e Université Paris VII, São Paulo, SP, Brasil.

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