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Cadernos de psicanálise (Rio de Janeiro)

versão On-line ISSN 1413-6295

Cad. psicanal. vol.42 no.42 Rio de Jeneiro jan./jun. 2020

 

ARTIGOS

 

Uma revisão sobre o conceito de ego na clínica contemporânea

 

A review of the concept of ego in contemporary clinic

 

 

André Soares Pereira Avelar*

Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle - SPID - Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O propósito deste trabalho é, a partir da concepção ferencziana do ego, empreender uma reflexão a respeito de alguns aspectos da subjetividade contemporânea. Busco articular determinados aspectos do psiquismo com a questão da virtualidade, de modo a tentar circunscrever a especificidade do funcionamento psíquico na atualidade, onde a economia desejante é problematizada. Irei me valer da expressão "ego-rede" como uma hipótese, cujo objetivo é propor uma costura entre algumas características do ego ferencziano e a temática da virtualidade, tão relevante em nossa cultura hoje.

Palavras-chave: Ego, Virtualidade, Introjeção.


ABSTRACT

The purpose of this paper is to carry out, based on the Ferenczian concept of ego, considerations on some aspects of contemporary subjectivity. I have aimed at articulating certain aspects of psychism with the subject of virtuality in an attempt to circumscribe the specificity of the psychic operation nowadays, a time when the economics of desire is questioned. I will employ the expression "net-ego" as a hypothesis, whose purpose is to propose a link between some features of the Ferenczian ego and the theme of virtuality, which is currently a very relevant issue of our culture.

Keywords: Ego, Virtuality, Introjection.


 

 

O propósito deste trabalho é, a partir da concepção ferencziana de ego, empreender uma reflexão a respeito de alguns aspectos da subjetividade contemporânea. Tais aspectos abordam a relação do psiquismo com a questão da virtualidade e também com uma especificidade do funcionamento psíquico contemporâneo, em que a economia desejante passa a ser problematizada. No tocante ao primeiro aspecto - a virtualidade -, irei me valer da expressão: "ego-rede" como uma hipótese, cujo objetivo é propor uma costura entre algumas características do ego ferencziano e a temática da virtualidade, tão relevante na cultura hoje.

Acredito que há profunda reverberação de determinadas dinâmicas da vida contemporânea na vida psíquica como um todo. Quero dizer com isso que, mesmo em quadros psiconeuróticos propriamente ditos, os efeitos de determinados imperativos da lógica contemporânea não deixarão de ser notados. Estes caracterizam-se como uma espécie de coação. Se a repressão presente na era vitoriana (ligada ao negativo e à interdição) influenciou na produção intrapsíquica do recalcamento, o movimento que aqui denominamos como coação (atrelado ao positivo) é a consequência psíquica de um novo imperativo da cultura.

Nesse sentido, entendo que a concepção ferencziana do ego será importante por duas razões: primeiramente, para compreender o ego como uma rede, (associando-o à lógica da virtualidade); em segundo lugar, nos ateremos a uma hipótese subjetiva desatrelada da experiência da falta. Vamos, então, pensar todas essas questões de modo a lapidar uma escuta sobre o contemporâneo, com o objetivo de sustentar a atualidade da prática psicanalítica.

 

A introjeção: a hipótese ferencziana do ego

Meu ponto de partida é o conceito ferencziano de introjeção (FERENCZI, 1912/2011), base para sua hipótese da constituição egoica. Ferenczi utilizará o complexo jogo de projeções e introjeções para pensar esse processo. Irá inicialmente pensar a projeção como a via inaugural para a percepção da realidade. Sobre esse ponto, comenta: "(...) quando distingue, pela primeira vez, o percebido objetivo (Empfindung) do vivenciado subjetivo (Gefühl) está efetuando, na realidade, a sua primeira operação projetiva (...)" (FERENCZI, 1912/2011, p. 96).

Nesse momento de sua obra, o autor coloca o processo projetivo como anterior ao processo introjetivo, caracterizando-se exatamente como uma oposição à ação projetiva. Neste aspecto, assinala: "(...) uma parte maior ou menor do mundo externo não se deixa expulsar tão facilmente do ego, mas persiste em impor-se, como que por desafio: ama ou odeia-me (...)" (Idem, p. 96).

E, logo adiante, acrescenta: "E o ego cede a esse desafio, reabsorve uma parte do mundo externo e a incluirá em seu interesse: assim se constitui a primeira introjeção, a introjeção primitiva " (Idem, p. 96).

Embora esse processo de introjeção seja chamado de primitivo, entendo que tal visão sofre alterações ao longo de sua obra. Quatro anos mais tarde (FERENCZI 1913/2011), passa a localizar o processo introjetivo em uma etapa anterior ao processo projetivo:

Chamei antes fase de introjeção do psiquismo o primeiro desses estágios, quando todas as experiências ainda estão incluídas no ego, e fase de projeção o estágio que se lhe segue. De acordo com essa terminologia, poderíamos designar os estágios de onipotência como fase de introjeção, e o estágio de realidade como fase de projeção do desenvolvimento do ego (FERENCZI 1913/2011, p. 53).

E, bem mais adiante, ao retomar o tema em um texto de 1926 (FERENCZI, 1993), no tocante às fases do desenvolvimento psíquico, assinala o seguinte:

(...) designei a primeira fase, aquela em que só existe o ego em que este se apropria de todo o universo da experiência, como o período da introjeção; a segunda fase, aquela em que a onipotência é atribuída a potências exteriores, como o período de projeção (...) (FERENCZI, 1993, p. 309).

Dessa forma, em um primeiro momento, (quando há um bom encontro com o objeto materno) a libido se espalharia indiscriminadamente sobre o mundo objetal a partir de um primeiro movimento introjetivo. E, apenas em um segundo momento, se dará um processo projetivo, onde haveria uma expulsão dos elementos outrora percebidos como pertencentes ao sujeito. Em seguida, se daria um segundo momento introjetivo que se refletiria na recusa de determinados elementos serem expulsos do ego. Poderíamos assim afirmar que, na perspectiva ferencziana, estaria em jogo uma sequência marcada por uma introjeção, projeção e - novamente - introjeção. E esta última ação projetiva constitui a atividade de representação propriamente dita. Entendo que há, nesse ponto, um paralelo possível com o processo descrito por Freud como fort-da (FREUD, 1920/1974).

E esse aspecto mais primário da dimensão introjetiva não deixa de apresentar seus efeitos em momentos posteriores da constituição psíquica: "(...) quanto ao último estágio de desenvolvimento, pude concebê-lo como o período em que os dois mecanismos são utilizados em partes iguais e compensam-se mutuamente " (FERENCZI, 1993, p. 399).

E, em outro trabalho a respeito, acrescentou:

(...) o neurótico procura incluir em sua esfera de interesses uma parte tão grande quanto possível do mundo externo, para fazê-lo objetos de fantasias conscientes ou inconscientes. Esse processo, que se traduz pela süchtigkeitdos neuróticos, é considerado um processo de diluição, mediante o qual o neurótico procura atenuar a tonalidade penosa dessas aspirações livremente flutuantes. Proponho que se chame introjeção a esse processo inverso da projeção (FERENCZI, 1912/2011, p. 95).

Ou seja, estamos entendendo que há no início do movimento introjetivo uma tendência a uma espécie de espalhamento, de derramamento, que nos permitiria caracterizar o ego como uma espécie de rede, de malha, que se alargaria a partir da experiência objetal. Conforme Mezan (1996) assinalara em seu trabalho sobre a introjeção, o diferencial do ego ferencziano em relação ao ego freudiano é que o primeiro aumenta de perímetro - e não apenas de densidade - a partir de cada experiência erótica.

Este aspecto mais primitivo do trabalho introjetivo - responsável pela diluição - seria então uma parte fundamental do funcionamento psíquico mais desenvolvido possível, coexistindo com seu outro aspecto (relativo ao trabalho de representação). Ambos os funcionamentos (em conjunto com a ação projetiva) são partes indispensáveis do funcionamento de Eros: são movimentos de ligação e de representação. Quero, porém, destacar este aspecto, mais do que primitivo, primordial, da atividade introjetiva. Acredito que esse aspecto de Eros é de grande importância para entender as novas formas de subjetivação.

O importante, porém, é assinalar que esse aspecto do processo introjetivo nos auxiliará a pensar o ego sob uma nova perspectiva. Para Ferenczi, portanto, o ego seria uma instância marcada por um processo contínuo de ampliação, atravessado por um permanente devir. Dessa forma, o próprio processo de análise comporta um aspecto de inauguração e não apenas de transformação de uma dada realidade psíquica. Ferenczi, inclusive, salienta a importância que, ao final do processo de análise, a própria experiência psicanalítica seja revisitada, como um fragmento real da vida do analisando (FERENCZI, 1928/2011).

Ainda no que diz respeito às origens da vida psíquica, Ferenczi (1913/2011) salienta a importância da vida intrauterina como metáfora privilegiada para pensá-la. O autor toma tal experiência como marcada por uma radical ausência de desejo, visto que, em condições normais, o sujeito - fusionado ao corpo materno - não teria que exercer nenhuma atividade, não tendo o que desejar. Essa condição do não desejo - similar ao que Freud (1920/1974) pensa a respeito do inanimado, em meu ponto de vista, - é fundamental para se pensar a especificidade da teoria clínica de Ferenczi,1 formulada já no início de seu pensamento. A vida intrauterina é, portanto, uma metáfora da ausência do desejo e que não deixaria de produzir efeitos sobre a vida psíquica posterior. A etiologia ferencziana é marcada pela ausência da condição desejante, não tendo como pano de fundo uma experiência de privação (conforme ocorre no pensamento freudiano).

Freud (1895[1950]/1974) parte do pressuposto de uma experiência de desamparo para pensar a primeira experiência de satisfação. Sua metáfora do encontro com o seio - vivência mítica para sempre perdida - tem como pano de fundo o desamparo decorrente do trauma de nascimento. Isso quer dizer que o ponto de partida freudiano para pensar o psiquismo é o nascimento e, consequentemente, a experiência da privação que dela decorre. Ferenczi, sem negar a angústia decorrente do nascimento, entende que o psiquismo se constitui a partir de uma experiência anterior, marcada pela ausência de necessidades, e haveria uma tendência intrínseca ao psiquismo a retornar a essa condição. O psiquismo freudiano parte, portanto, do seguinte pressuposto: do desamparo, enquanto o psiquismo ferencziano parte do amparo. Não queremos dizer com isso que a questão do desejo não se apresentaria na perspectiva ferencziana, mas o autor constrói, neste momento, uma hipótese relativa aos primórdios da constituição psíquica que se remete, em última instância, à falta da falta. que nos leva, sem dúvida, a outra perspectiva da prática clínica, não ancorada no confronto com a castração. Sem, de modo algum, abolirmos a última perspectiva (acredito que tais acepções podem e devem ser includentes em nossa prática como psicanalistas), o modelo ferencziano aqui proposto problematiza premissa da realização do desejo. Assim, podemos dizer que o desejo, em questão, é marcado por um caráter realístico, onde a experiência de satisfação é tomada - e vivida - como uma experiência passível de ser recuperada. Dessa forma, estamos nos referindo a um caráter muito mais dramático no que se refere à perda da onipotência.

Isso não quer dizer, contudo, que Ferenczi não pense sobre experiências originárias de desamparo, tanto na perspectiva intrauterina como no ambiente familiar que o antecede. Pensará, inclusive, em crianças que optarão - literalmente - em deixar de viver exatamente por conta de um cenário pouco afeito a sua chegada; tal problematização, todavia, surge em um período posterior de sua obra (FERENCZI, 1929/2011). Nesse momento, o autor parte dessa perspectiva do amparo para pensar essa particular condição, de ausência de necessidades, na gênese do psiquismo.

A relevância dessa investigação resume-se na seguinte proposição: quais as consequências clínicas de um sujeito que não seja atravessado por uma experiência originária de desamparo, mas de amparo, por essa falta da falta? Se, conforme assinalamos, a experiência originária de fusão seria anterior à experiência de desamparo, que insere o sujeito no campo da linguagem, estaremos aludindo a uma concepção subjetiva mais arcaica (em comparação à premissa freudiana); levando-nos a esboçar outra cartografia do desejo. E, conforme assinalamos, tal condição, por mais primitiva que seja, não deixa de exercer seus efeitos na vida psíquica posterior.

Sobre esse ponto, assinala Ferenczi:

(...) se o ser humano tem uma vida psíquica, mesmo inconsciente, no corpo materno - e seria absurdo acreditar que o psiquismo só começa a funcionar no momento do nascimento -, ele deve ter, pela própria circunstância de existir, a impressão que é realmente onipotente. Pois o que é onipotência? É a impressão de ter tudo o que se quer e de não ter mais nada a desejar. É o que o feto poderia pretender no que lhe diz respeito, já que possui constantemente tudo o que lhe é necessário à satisfação de suas pulsões, portanto, nada tem a desejar, é desprovido de necessidades (FERENCZI, 1913/2011).

Estamos aludindo, então, a uma experiência originária de onipotência que não apresenta como pano de fundo a experiência da falta; ao contrário: trata-se de uma onipotência referida à satisfação radical das pulsões, marcada pela ausência da condição desejante.

Há certos analisandos que apresentam um notável apego a uma história de amparo e um particular sofrimento diante de seu fim. É para entender a especificidade dessa particular forma de padecimento - bastante atual, acredito - que contemplamos aqui a perspectiva ferencziana. A realidade do amparo é uma ficção de grande relevância para explicitar a radicalidade do sofrimento frente às frustrações inerentes à vida. Porém, não se trata de uma oposição à castração, mas de uma vivência particular do passado, marcada por uma complexa dimensão realística. A questão é pensar sobre qual a relação que o sujeito terá com tal experiência (mesmo que, em última instância, também mítica).

Sobre esse ponto, afirma Ferenczi:

Não é demais repetir: todas as crianças vivem na feliz ilusão de onipotência de que efetivamente vivenciaram outrora - ainda que isso ocorresse tão só no seio materno. Depende do "Daimon" e do "Tyche"2 elas poderem conservar esses sentimentos de onipotência e converterem-se em otimistas, ou irem engrossar o contingente dos pessimistas, que jamais aceitam renunciar a seus desejos inconscientes irracionais, sentem-se ofendidos e rejeitados pelas razões mais fúteis, e consideram-se crianças deserdadas da sorte - porque não podem continuar sendo seus filhos únicos ou preferidos (FERENCZI, 1913/2011, p. 57).

É difícil precisar as razões internas que definem tais vivências como experiências favoráveis ou desfavoráveis à vida; tal relação só é hipotetizada posteriormente, a partir da particular forma de sofrimento endereçada ao analista.

Cabe fazer o seguinte acréscimo no que se refere às consequências dessas divergências teóricas, a saber, a oposição entre as lógicas dualista e monista. Freud buscou sustentar a perspectiva dualista em prol da hipótese do conflito psíquico, em que existiriam forças em permanente oposição ao longo da vida do sujeito. Ferenczi, em contrapartida, enfocará a pulsão de morte como uma consequência das proporções de Eros no psiquismo (AVELAR, 2016). Dessa forma, o que está em jogo é uma lógica monista.

Enquanto para Freud (1920/1974) a experiência da compulsão à repetição, em última instância, revelaria princípio destrutivo autônomo (a atuar permanentemente na vida psíquica), para Ferenczi, a mesma experiência seria consequência de uma vivência traumática. Podemos ver o quanto Ferenczi é um pensador do trauma (AVELAR, 2011), da experiência da catástrofe. O destrutivo, para ele, seria derivado de experiências primitivas relativas à perda da paz de outrora.

Seja como for, acredito que, independentemente da preferência do leitor por uma ou outra leitura, o importante é o uso clínico das ficções aqui esboçadas e que isso faça mais sentido tanto para o exercício da prática psicanalítica quanto para a percepção dos fenômenos da cultura. Conforme salienta Gondar (2017), acredito também que a prática psicanalítica é uma experiência oportuna para compreender determinados aspectos do social, o que, por sua vez, amplia o alcance e a eficácia da própria prática psicanalítica.

E, retomando à temática do contemporâneo, assinalo a problemática do positivo, que vem a incrementar uma má relação com tal experiência. Iremos, em breve, aprofundar a temática do positivo. Cabe dizer, contudo, que tal sofrimento, no contemporâneo, vai se articular, sobremaneira, com certo aspecto da lógica superegoica que se atualiza como uma exigência tirânica, uma coação. Esse apego a uma crença na realidade da "falta da falta" pode ser articulado como uma forma de violência decorrente da ação de um superego tirânico. Nesse sentido, a certeza inabalável do ideal de amparo não deixa de servir para pensar a crueldade superegoica que, ao invés de auxiliar o confronto com a castração, inversamente, prejudica esse processo.

Nesse sentido, o caráter restaurador da pulsão de morte pode ser articulado (em uma de suas concepções) a um originário presente em um estágio primitivo da vida e não anterior a ela. Assim Ferenczi nos propõe um originário - marcado pela ausência da falta - presente na vida e não fora dela. E este não pode ser pensado como inanimado, (posto que há vida pulsante na experiência intrauterina), mesmo que se admita a hipótese da satisfação pulsional.

Ferenczi nos apresenta, então, uma leitura da pulsão de morte (na qual a tendência ao zero, a tendência à inércia, que se atualizou no pensamento freudiano a partir do princípio de nirvana) não levaria à extinção da vida, uma vez que remonta à vida e não à morte (FREUD, 1920/1974).

Não haveria, portanto, no pensamento ferencziano um princípio autodestrutivo autônomo, o que haveria seriam diferentes proporções de Eros na vida psíquica (FERENCZI, 1929/2011). E, mesmo na autodestruição, essa marca (de afirmação da vida) poderia se fazer presente, mas nem sempre (FERENCZI, 1933-1932/1985). A incidência de Eros poderia ser tão escassa que o sujeito poderia abandonar o próprio viver (FERENCZI, 1929/2011). Dessa forma, a destrutividade está atrelada a uma perspectiva ambiental. Ressalte-se que o ambiental em questão não é apenas um ambiente hostil, mas um mau encontro (AVELAR, 2014), ocasionado a partir da impossibilidade da constituição de um erotismo entre dois.

O autor, irá - ao final de sua obra (FERENCZI, 1932/2011) - propor uma revisão do próprio conceito ao pensar sobre o paciente traumatizado, marcado pela experiência da surpresa e despreparo. Sobre esse ponto, comenta:

Todo ser vivo reage provavelmente a uma excitação de desprazer com uma dissolução que começa com uma fragmentação (pulsão de morte?). Mas em vez de uma "pulsão de morte" seria preferível escolher uma palavra que exprima a completa passividade deste processo (FERENCZI, 1932/2011, p. 271).

Essa passagem é importante, pois nos permite compreender a especificidade da leitura ferencziana da pulsão de morte. Para o autor, a mesma é, sobretudo, efeito de uma experiência ambiental, cuja consequência é a fragmentação.

Vamos agora pensar sobre algumas questões relativas à vida psíquica contemporânea e articulá-las com as teorizações apresentadas até agora.

 

A questão contemporânea

Haraway (2009) irá propor um "manifesto ciborgue" como uma forma de pensar a subjetividade contemporânea. A autora refere-se a um homem-máquina, que será pensado como um ser híbrido, em que as fronteiras entre o humano e o inumano se encontram cada vez mais obscuras. Tadeu, a respeito de seu trabalho, faz o seguinte comentário:

Uma das características mais notáveis desta nossa era (chamem-na pelo nome que quiserem: a mim, "pós-moderna" não me desagrada) é precisamente a indecente interpenetração, o promíscuo acoplamento, a desavergonhada conjunção entre o humano e a máquina (HARAWAY, 2009, p. 11).

E sobre o tipo de patologia a habitar o contemporâneo - talvez seu paradigma -, Haraway afirma o seguinte: "Nesse universo a patologia privilegiada, uma patologia privilegiada que afeta todos os tipos de componentes, é o estresse - um colapso nas comunicações" (Idem, p. 62).

Voltamos aqui, então, à ideia do ego-rede: para pensá-lo, valho-me da primeira perspectiva ferencziana a respeito da introjeção, que se refere ao espalhamento. Proponho, com isso, sustentar a ideia de que haveria uma diluição sem representação na experiência da virtualidade hoje. Entendo por sinal o virtual hoje como o campo privilegiado das experiências de subjetivação. Mas uma subjetivação que ocorre mesmo com comprometimentos no trabalho de representação. Quero dizer, com isso, que há uma erotização sem representação ou poderíamos ainda dizer uma primeira experiência de introjeção, mas desacompanhada de seus processos subsequentes, a saber: a projeção e a posterior introjeção.

E, no tocante às patologias contemporâneas, o estresse aparece como um sintoma que decorre de uma sobrecarga. A partir desse momento, irei propor uma interlocução com Byung-chul Han, autor que considero de grande importância na investigação da subjetividade contemporânea. Essa interlocução, como veremos, é marcada por convergências e divergências. No que se refere às divergências, essas se darão principalmente no que se refere à visão do autor acerca do papel da psicanálise na atualidade Han assinala que o sofrimento contemporâneo não seria ligado à lógica do negativo, da proibição (expressa por uma interdição imposta pela cultura), mas sim à lógica do positivo, na qual o próprio sujeito seria o único responsável pela sua trajetória, não existindo um paradigma a orientá-lo em sua empreitada.

Um dos sintomas mais frequentes na atualidade, decorrentes dessa nova dinâmica, seria o estresse, sendo a síndrome do Burnout um dos diagnósticos mais utilizados atualmente para designá-lo.3

O autor irá pensar também na depressão e na hiperatividade4 como expressões do sofrimento contemporâneo, da ordem do positivo. Sobre esse ponto, comenta: "Tanto a depressão quanto o TDH ou a SB apontam para um excesso de positividade. A SB é uma queima do eu por superaquecimento (...)" (HAN, 2017, p. 20).

A positividade é, portanto, o novo imperativo da cultura; que não se pauta na interdição, mas em um mandamento orientado exatamente na ausência da mesma, ancorada em uma - suposta - égide de liberdade: "A positividade do poder é bem mais eficiente que a negatividade do dever. Assim o inconsciente social do dever troca de registro para o registro do poder " (Idem, p. 25).

Perpetra-se a ideia de que as possibilidades do sujeito atual são infinitas (ou seja, a falta da falta é apresentada como possível), e a consequência é um quadro depressivo que deriva de uma experiência de exaustão causada pela cultura. A diferença, porém, é que não há uma lei externa a oprimir o sujeito; a opressão parte dele próprio, mas sempre com a roupagem da liberdade:

O explorador é ao mesmo tempo o explorado. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos. Essa autorreferencialidade gera uma liberdade paradoxal que, em virtude das estruturas coercitivas que lhe são inerentes, se transforma em violência (HAN, 2017, p. 30).

Porém o autor, em dado momento, faz uma afirmação a meu ver bastante equivocada a respeito do conceito-chave da psicanálise - o inconsciente - e do próprio alcance da prática psicanalítica na atualidade:

(...) o sujeito de desempenho neoliberal já não teria inconsciente. Seria um eu pós-freudiano. O inconsciente freudiano não é uma configuração atemporal. É um produto da sociedade disciplinar repressiva, da qual estamos nos afastando cada vez mais (HAN, 2017, p. 80).

Entendo que há uma visão nitidamente limitada de Han no que diz respeito ao conceito freudiano de inconsciente, principalmente sobre as contribuições do autor a partir da segunda tópica (FREUD, 1923/1925/1974). O aspecto irrepresentável do inconsciente é ignorado por ele. A respeito do mesmo, afirma: "O inconsciente deve sua existência à repressão " (Idem, p. 52).

E tal falha na compreensão de Han a respeito da teoria freudiana lhe faz, por conseguinte, ter também uma visão comprometida da própria prática psicanalítica, no que diz respeito a seu valor na atualidade.

Apesar desta divergência concordo com Han no que se refere à existência de um imperativo de desempenho a assolar o sujeito contemporâneo; e também com o caráter dessubjetivante de tal coação. O imperativo calcado no mandamento "seja você mesmo" é uma das expressões da falência de Eros na cultura contemporânea. Byung-Chul Han, a respeito de Eros, irá pensá-lo exatamente a partir da perspectiva da alteridade:

Não é apenas a oferta de outros outros que contribui para a crise do amor, mas a erosão do Outro, que por ora ocorre em todos os âmbitos da vida e caminha cada vez mais de mãos dadas com a narcisificação de si mesmo. O fato de o outro desaparecer é um processo dramático, mas fatalmente avança, de modo sorrateiro e pouco perceptível (HAN, 2017, p. 8).

Han irá pensar na depressão como um dos aspectos desta falência da dimensão alteritária. Sobre esse ponto, ressalta:

O que leva à depressão é uma relação consigo mesmo exageradamente sobrecarregada e pautada num controle exagerado e doentio. O sujeito depressivo-narcisista está esgotado e fatigado de si mesmo. Não tem mundo e é abandonado pelo outro. Eros e depressão se contrapõem mutuamente. O eros arranca o sujeito de si mesmo e direciona-o para o outro. A depressão, ao contrário, mergulha em si mesma (HAN, 2017, p. 10).

Sobre a problemática do negativo e do positivo no âmbito social, Han (2010), em outro trabalho, faz um interessante contraponto entre a lógica da sociedade do controle para a sociedade do desempenho. A esse respeito, comenta:

No lugar de proibição, mandamento ou lei, entram projeto iniciativa e motivação. A sociedade disciplinar ainda está dominada pelo não. Sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho produz depressivos e fracassados (HAN, 2010, p. 25).

Acredito que a ideia freudiana de um superego mortífero, onde há uma ligação do superego com o id - cuja expressão mais conhecida é a reação terapêutica negativa (FREUD, 1923/1925/1974) - é passível de articulação com a coação contemporânea presente na lógica depressiva. Para reforçar essa hipótese, cabe acrescentar a seguinte afirmação do autor:

Em vista do fato de que o eu ideal se torna inalcançável, ele se considera deficitário, fracassado, sobrecarregado com suas autorreprimendas. A partir do fosso que se abre entre o eu real e o eu ideal, desenvolve-se uma autoagressividade crescente (FREUD, 1930[1929]/1974).

Voltemos, porém, à hipótese do ego-rede, esboçada no início de nosso percurso. A afirmação de Freud de que o ego seria uma "projeção sobre uma superfície corporal" (FREUD, 1915/1974) ganha um acréscimo: essa superfície não seria apenas o corpo do outro, mas a própria virtualidade. O virtual é um novo espaço da constituição psíquica. O problema é que há, na esfera virtual, não apenas a presença do outro (mesmo que ancorado em um suporte tecnológico), mas toda uma série de imperativos absolutamente massacrantes a serviço de uma lógica de consumo. Se a repressão da era vitoriana produzira uma metapsicologia do aprisionamento (a saber, o recalcamento, cuja tônica era a criação de representações aprisionantes), a repressão, na atualidade, produz o que tenho denominado como: "vazio psíquico " (AVELAR, 2014).

Há estreita ligação entre esse imperativo e a ausência de narrativa, apontando exatamente para a problemática da representação. Sobre esse ponto, comenta Han:

A desnarrativização geral do mundo reforça o sentimento de transitoriedade. Desnuda a vida. O próprio trabalho é uma atividade desnuda. O trabalho desnudo é precisamente a atividade que corresponde à vida desnuda (HAN, 2010, p. 45).

É sobre o efeito desta ausência de narrativa do paradigma contemporâneo na subjetividade que agora iremos nos deter.

 

Considerações finais

Acredito que, na acepção ferencziana a respeito do ego, há um aspecto primitivo do processo de constituição egoica - que denomino "introjeção primordial", correspondente ao processo de diluição. Entendo-o como uma parte do processo de constituição do eu, responsável por uma ligação, mas que é anterior ao processo de representação (essa etapa corresponde ao segundo momento do movimento introjetivo). Entendo que tal hipótese é útil para pensar o sofrimento contemporâneo, marcado, conforme assinalado, por uma ligação sem representação.

Posteriormente, recorri de sua concepção subjetiva não calcada na dimensão da falta. Para ele, o retorno ao inanimado - ao contrário da concepção freudiana - não se refere a um período anterior à vida, mas se localiza no período intrauterino. Essa metáfora do originário é de grande valia para entender determinados aspectos narcísicos do sofrimento contemporâneo. Acredito que o inflacionamento narcísico - incrementado pela lógica do consumo - produz uma crença narcísica da falta da falta. Entendo que essa crença é um pressuposto útil no abarcamento de determinadas formas de sofrimento na atualidade, nas quais determinadas experiências de frustração possuem um caráter marcadamente penoso. Nesse sentido, a proposta teórico-clínica pautada no confronto com a castração dá lugar à experiência da catástrofe - uma das premissas do pensamento ferencziano.

Meu propósito é pensar a respeito do valor da psicanálise como uma ferramenta teórico-clínica de grande valia frente à subjetividade contemporânea. Nesse sentido, concordo com a hipótese de Han no que concerne à proliferação das "patologias do esgotamento", expressão privilegiada do sofrimento psíquico na atualidade. Acredito, como vimos nas afirmações do autor, que tais diagnósticos são a consequência de um imperativo da ordem do "positivo", em que a ordem de outrora (atrelada à perspectiva do negativo) dá lugar a uma liberdade paradoxal que, ao mesmo tempo, oprime o indivíduo - submetendo-o a um sem-número de exigências - mas também o lança num radical isolamento.

A partir desse ponto, contudo, divirjo frontalmente de algumas considerações do autor quanto ao sofrimento contemporâneo e ao papel da psicanálise neste caso. Para Han, a psicanálise se localizaria exclusivamente no terreno do interdito. Sendo assim, acredita que a psicanálise nada poderia fazer frente ao sofrimento contemporâneo, na ordem do positivo. O autor não leva em consideração toda a problematização inaugurada por Freud (1920/1974), a partir dos fenômenos da compulsão à repetição, em que o sofrimento deixa de estar circunscrito ao princípio de prazer. O traumático leva o pensamento freudiano - e o saber psicanalítico produzido a partir daí - a um território não referido unicamente ao sexual, mas sim ao traumático (AVELAR, 2013) e, consequentemente, não atrelado ao interdito. Quero dizer com isso que o sofrimento neurótico, apesar de estar atrelado inicialmente à sexualidade (a partir do paradigma vitoriano), passa a - gradativamente - ser atravessado também pelo irrepresentável e pela dimensão intensiva.

O autor também não leva em consideração os aspectos superegoicos não atrelados à interdição. Ao falar da submissão do sujeito à lei, reduz a questão superegoica ao complexo edípico. Nesse sentido, a própria atividade superegoica, (tão presente nas exigências impostas ao indivíduo contemporâneo) possui caráter mortífero, cuja violência se explicará pela desfusão pulsional e não pelos desejos sexuais inconscientes - da ordem do recalcado.

Apesar disso, acho relevante o mapeamento por parte do autor dos aspectos mortíferos na cultura na atualidade. E, no que se refere aos seus impactos no funcionamento psíquico contemporâneo, podemos dizer que há um sofrimento atrelado ao esgotamento, em função da intolerância aos limites do corpo e uma hipersensibilidade às vivências de frustração; em função disso faço alusão à mitologia ferencziana da catástrofe. Sua concepção subjetiva concede caráter realístico à completude perdida.

E, no tocante a outro aspecto de grande importância do contemporâneo - a ausência de filiação - produziria o que tenho chamado aqui de "vazio psíquico ". Este decorre do inflacionamento do primeiro aspecto da atividade introjetiva em detrimento de sua segunda ação. Desta forma o processo de diluição, de espalhamento (uma atividade erótica, por excelência) pode se dar sem sua ação subsequente: a saber, o processo de representação. O psiquismo se daria como uma rede, onde a ligação se opera sem o acompanhamento obrigatório do processo de simbolização.

Entendo essa rede como uma rede vazia, na qual vigoram, predominantemente, os aspectos mais primários da atividade introjetiva. Assim, trata-se de um psiquismo marcado por um processo de vinculação sem representação.

E a virtualidade, paradoxalmente, pode vir a ser o terreno da própria constituição psíquica contemporânea e, por que não dizer, do próprio setting analítico. Sessões de análise on-line, a escuta de mensagens de áudios e vídeos do whatsapp demandadas a nós analistas por nossos pacientes; tudo isso compõe nosso cotidiano clínico atualmente. O contato com as imagens do analisando e do analista se dá antes do encontro entre ambos, a partir de um território virtual. Eis algumas características de nossa prática clínica hoje.

Para finalizar, uma crítica muito frequente - minha inclusive - é o viés deficitário presente nas hipóteses construídas a respeito das novas formas de subjetivação. Se remontarmos aos primórdios do saber psicanalítico, acredito que não é possível dizer que o sofrimento das histéricas conversivas seria menor ou maior do que o sofrimento contemporâneo, mas apenas afirmar que seria diferente do mesmo. Todavia, o padecimento psíquico na atualidade exigiria uma torção da prática psicanalítica. Mais do que, simplesmente, fazer advir fantasias recalcadas previamente constituídas, o analista precisa estar poroso frente às novas formas de subjetivação e poder captar a natureza dos anseios, satisfações e angústias de seu analisando circunscritas nestas novas configurações subjetivas. Em suma, é preciso que o analista possa transitar no campo do irrepresentável e criar condições de possibilidade para a emergência da representação.

E, mais ainda, por que não pensarmos o próprio vazio como uma nova forma de narrativa? Mesmo que o trabalho de representação seja um dos objetivos da clínica psicanalítica (a própria natureza do pulsional pode ser definida como permanente exigência de representação, expressão como exigência de trabalho ao psíquico), não poderíamos tomar o próprio vazio como aberto ? Uma forma de erotismo (oriunda das pulsões de vida), mesmo que não submetida à representação? Eros não necessita da representação para se afirmar. A disponibilidade a tais fenômenos é um dos pressupostos éticos do psicanalista na atualidade.

 

 

Referências

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Artigo recebido em: 02/09/2019
Aprovado para publicação em: 29/03/2020

Endereço para correspondência
André Soares Pereira Avelar
E-mail: andreavelar73@gmail.com

 

 

*Psicanalista. Membro titular da Sociedade de Psicanálise Iracy Doyle (SPID). Doutor em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
1É importante dizer que estou priorizando este momento do pensamento de Ferenczi. O autor inaugura hipóteses distintas ao modelo freudiano, quanto à inauguração da constituição psíquica. Mas, em outros momentos, ele se mantém bastante fiel à metapsicologia freudiana. Mas, nesse momento de sua obra, é nítida a construção de novas possibilidades acerca da constituição do eu.
2Estou aqui me valendo da tradução livre de Daimon como "destino" e Tyche como "acaso".
3Han utilizará frequentemente a sigla SB para referir-se à Síndrome do Burnout.
4Quanto a tal quadro, o autor utilizará a sigla TDAH ao fazer-lhe menção.

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