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Imaginário

versão impressa ISSN 1413-666X

Imaginario v.12 n.13 São Paulo dez. 2006

 

EDITORIAL

 

Maria de Lourdes Beldi de Alcântara*

Núcleo Interdisciplinar do Imaginário e Memória/Laboratório de Estudos do Imaginário

 

Trânsito e deslocamento significam movimento, mudança. A palavra trânsito, no entanto, atribui um sentido de passagem efêmera, de não permanência; enquanto a palavra deslocamento associa-se a um sentido de mudança com um caráter mais permanente: tirar do lugar em que se encontrava, fazer mudar de lugar, afastar, desviar, desconjuntar, desarticular1.

Essas duas definições agregam-se para dar sentido aos recentes movimentos de populações humanas, formando um novo conceito que, se pudéssemos dar-nos a liberdade de ser neologistas, chamaríamos de transdeslocamentos.

Esses movimentos de mudança e constituição de novos vínculos nos remetem a comportamentos e representações ambíguos na tentativa de criação de lugares de pertencimentos. Tempos e lugares vão sendo re-semantizados para alimentar um imaginário de permanência e pertencimento e, portanto, de reelaboração identitária.

A palavra Deslocamentos, associada ao trânsito de pessoas, de pensamentos, de valores, em um mundo em que a desmaterialização das fronteiras territoriais transforma a dinâmica da identificação do indivíduo com o seu contexto sociocultural, foi escolhida como tema deste ano para compor a Revista Imaginário, pois remete a um dos principais problemas do século XXI. Segundo dados das Nações Unidas, essa população em trânsito é de grande proporção, alcançando o número de 191 milhões de pessoas em 2005, dos quais 115 milhões são dos países em desenvolvimento e 75 milhões dos países desenvolvidos, sendo que metade dessa imigração é de mulheres2.

Grandes teorias são reinventadas para justificar essas movimentações remetendo a temas como guerras, questões econômicas e questões étnicas; enfim, fatores políticos e demográficos que tentam explicar os motivos que levam certos indivíduos, grupos ou etnias a transdeslocarem-se voluntária ou involuntariamente de seus lugares.

O resultado desses transdeslocamentos são pessoas que vivem/ convivem e transformam espaços em lugares tanto em relação aos seus referenciais culturais/identitários quanto em relação aos olhares dos outros que os recebem. Essa vivência cria um jogo de representações com múltiplas projeções, reconstruções e recriações.

Foi para abarcar esse conjunto de questões que os números 13 e 14 da Revista Imaginário foram elaborados.

 

 

* Editora da Revista Imaginário. Doutorada em Antropologia (USP) e Pós-doutoranda em Psicologia (USP). Coordenadora científica do NIME/LABI. Coordenadora da pesquisa: A Reserva indígena de Dourados e seus dilemas com a sociedade abrangente. Direção do Curso de Psicologia
1 Dicionário Aurélio Buarque de Hollanda. (www.dicionarioaurelio.com.br)
2 Un-habitat. (www.unhabitat.org)

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